Uma ferramenta para notação musical
em braille
Arthur Piza Mosterio Tofani
Dissertação apresentada
ao
Instituto de Matemática e Estatı́stica
da
Universidade de São Paulo
para
obtenção do tı́tulo
de
Mestre em Ciências
Programa: Ciência da Computação
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Gomes de Queiroz
São Paulo, julho de 2012
ii
Esta é a versão original elaborada pelo candidato
Arthur Piza Mosterio Tofani, tal como submetida
à comissão julgadora.
Agradecimentos
Ao meu pai Roberto, pelo seu apoio incondicional, que sem dúvida foi fundamental para a
realização deste trabalho.
À minha mãe Carmen, por todo o carinho e atenção, e aos meus irmãos, Daniel e Kiko.
Ao Prof. Dr. Marcelo Gomes de Queiroz, orientador deste trabalho, por toda sua atenção, disposição, rigorosidade e assertividade.
Às pessoas incrı́veis que conheci durante a realização deste trabalho, e que contribuı́ram para
a sua realização: Lara Syaulis, Fabiana Bonilha, Isabel Bertevelli, Vilson Zattera, Rafael Vanazzi,
Raphael Ota, Fábio Bonvenuto, Profa. Lucia Filgueiras, Davi Batista e famı́lia, Lucas Sperandio e
famı́lia, Marcela Trevisani, Jacyra Almeida Prado, Gisele e Reginaldo.
Aos colegas do COMPMUS: Santiago Dávila, Leandro “Barba” Thomaz, Flavio Schiavoni, André Bianchi, Alexandre Porres, Danilo Bellini, Antônio, Márcio, Gilmar, DJ.
Agradeço também ao pessoal do CEPA: Alexandre, Brunno, Diego, Mary, Luciano e demais,
mas principalmente ao Ivan, por ser compreensivo, paciente e (por várias vezes) genial.
Às pessoas que acompanharam de perto este trabalho, torcendo e apoiando: Nicóli, Rodrigo
EBA!, Renato Spinosa, Gustavo Sarzi, Glauber de Bona, Gleyce Noda, Ricardo Separovic, Danton
Nunes, Ana Maria Barbosa (Rede Saci), Carlos Lopes, Dionysio, Benilton, Guilherme, Otavio, Vivi,
Rafael Carvalho, Bruno Donadio, Patricia Fincatti, Daniel e Simone Dantas, Chico e Elisa Pereira.
iii
iv
σον ζῇς φαίνου • μηδὲν ὅλως σὺ λυποὺ • πρὸς ὀλίγου ἐστὶ τὸ ζῆν • τὸ τέλος ὁ χρόνος ἀπαιτεῖ
σον ζῇς φαίνου
δὲν ὅλως σὺ λυποὺ
ὸς ὀλίγου ἐστὶ τὸ ζῆν
τέλος ὁ χρόνος ἀπαιτεῖ
Ὅσον ζῇς φαίνου
μηδὲν ὅλως σὺ λυποὺ
πρὸς ὀλίγου ἐστὶ τὸ ζῆν
τὸ τέλος ὁ χρόνος ἀπαιτεῖ
Ὅσον ζῇς φαίνου
μηδὲν ὅλως σὺ λυποὺ
πρὸς ὀλίγου ἐστὶ τὸ ζῆν
τὸ τέλος ὁ χρόνος ἀπαιτεῖ
o Caption - 16
Enquanto viver, brilhe
Não sofra por nada
Porque a vida é curta
E o tempo a conduz para o
final
Epitáfio de Seikilos
O mais antigo registro de notação musical
conhecido, foi grafado na pedra, em relevo.
v
vi
Resumo
TOFANI, A.P.M., Uma ferramenta para notação musical em braille, Dissertação de
Mestrado, Instituto de Matemática e Estatı́stica, Universidade de São Paulo, 2012
O presente trabalho investiga as dificuldades enfrentadas por deficientes visuais ao ingressarem
em um curso de nı́vel superior em Música, onde a troca de informação musical escrita é frequente e
se dá por meio de partituras impressas em tinta, e a conversão deste material para braille demanda
conhecimentos especı́ficos e disponibilidade de recursos. Igualmente problemática, a produção musical do aluno cego é feita em braille, seja para tomar nota de aulas como para realizar tarefas de
disciplinas como Contraponto, Harmonia e Análise Musical, ou mesmo para a realização de exames.
Claramente, esse material deve passar por um processo de conversão para que o professor possa
avaliar o aluno, entre outros motivos.
O foco principal da pesquisa realizada é a análise da musicografia braille sob a ótica das possibilidades de se produzir transcrições automáticas entre partituras em braille e tinta, a fim de prover
recursos tecnológicos direcionados à solução deste problema. Para tanto, foi desenvolvido um aplicativo capaz de receber informação musical em braille e convertê-la para o formato MusicXML,
adequado para a leitura a partir de outros aplicativos de notação musical e, consequentemente, a
impressão deste material em tinta. Este programa está sendo distribuı́do como software livre sob
licença LGPL, contrapondo-se às suas alternativas hoje existentes no mercado.
O aplicativo desenvolvido foi utilizado e avaliado por usuários deficientes visuais e com visão
normal por meio de um questionário. Os dados foram então analisados, buscando mapear as diferenças nas experiências de uso e verificar necessidades de melhorias e novas funcionalidades, buscando
com isso o aprofundamento nas questões pertinentes ao problema e dando suporte a novas pesquisas relativas ao assunto.
Keywords: musicografia braille, tecnologia assistiva, notação musical.
Abstract
vii
viii
Abstract
TOFANI, A.P.M., A tool for braille music notation, Master’s thesis, Instituto de Matemática e Estatı́stica, Universidade de São Paulo, 2012
This work researches visually-impaired person’s difficulties when studying music as a university
career, where musical information is usually forwarded as ink-printed sheet music and the translation of this material to braille involves specific skills and resource availability. In that sense, the
musical production demanded from a blind student is accomplished by using braille notation, for
taking notes or producing homework for disciplines like Harmony, Musical Analysis, or even to take
tests. Clearly the information produced has to be submitted to a conversion process, and finally it
can be reviewed by the professor or other students.
The main focus of this research is the understanding of braille music aspects and the problem of
generating automatic ink-printed sheet music transcriptions, providing assistive resource for music
students. For attaining this goal, an application was developed in order to receive braille music
input and translate it to MusicXML format, which can be read by any of the widely MusicXMLcompatible softwares available for reading, editing and printing music. The program is distributed
as free software under LGPL license, as opposed to currently available alternatives.
The resulting application was tested by visually-impaired and non-visually impaired users, and
reviewed trough the application of a survey. The collected data was analyzed, in search for variations on user experience and checking for software improvement needs, as well as uncovering further
relevant matters on this subject.
Keywords: braille music, assistive technology, music notation.
ix
x
Sumário
Lista de Abreviaturas
xiii
Lista de Figuras
xv
Lista de Tabelas
xvii
1 Introdução
1
1.1
Motivação e histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2
1.2
Inclusão do deficiente visual no ensino superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3
1.3
Conceitos fundamentais e desafios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4
1.4
Utilização de computadores por deficientes visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6
1.5
Grupos de pesquisa e trabalho relacionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7
1.6
Processos e ferramentas para conversão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8
1.7
Delius: um aplicativo de notação musical em braille . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.8
Princı́pios relacionados ao desenvolvimento do Delius . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2 A Musicografia Braille
15
2.1
Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2
A cela e o alfabeto braille . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3
Sı́mbolos Indicadores do braille . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4
Elementos musicais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5
Uso de indicadores no contexto da musicografia braille . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.6
Agrupamentos de sı́mbolos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.7
Aspectos regionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.8
Linhas vocais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.9
Diagramação e formatação da partitura em braille . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.10 Conclusão do capı́tulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3 Arquitetura do aplicativo
33
3.1
Interface do Usuário e Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.2
Entrada de Dados e Navegação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.3
Disposição da informação musical em uma partitura braille . . . . . . . . . . . . . . 40
3.4
Padrão de arquitetura utilizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.5
Demais componentes utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.6
Formatos de importação e exportação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.7
Conclusão do capı́tulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
xi
xii
SUMÁRIO
4 Modelos computacionais de representação musical e conversão
51
4.1
Principais formatos de representação musical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2
Outros formatos de representação musical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3
Definição do modelo de representação em objetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.4
Produção de informação musical no modelo de representação . . . . . . . . . . . . . 62
4.5
Cálculo de duração das notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.6
Questões em aberto relativas ao processo de tradução . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.7
Conclusão do capı́tulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5 Análise do aplicativo e discussão
71
5.1
Introdução
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.2
Análise de usabilidade e da experiência do usuário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.3
Testes de transcrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
6 Conclusão
83
6.1
Necessidades imediatas e passos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
6.2
Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
A Questionário aplicado
87
B Histogramas das respostas dos usuarios
97
B.1 Perfil dos entrevistados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
B.2 Tarefas realizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
B.3 Questões sobre navegação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
B.4 Questões sobre edição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
B.5 Qualidade visual e sonora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
B.6 Questões sobre erros do usuário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
B.7 Avaliações gerais da experiência de uso da ferramenta . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
C Testes de transcrição realizados
103
C.1 Teste 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
C.2 Teste 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
C.3 Teste 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
C.4 Teste 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
C.5 Teste 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
D Descrição das regras de musicografia braille no formato BNF
117
Referências Bibliográficas
123
Lista de Abreviaturas
BNF
Backus-Naur Form
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatı́stica
ISO
International Organization for Standardization
LGPL
Lesser General Public License
MIDI
Musical Instrument Digital Interface
MIMB
Manual Internacional de Musicografia Braille
MIR
Music Information Retrieval
NIFF
Notation Interchange File Format
SEESP/MEC
Secretaria de Educação Especial/Ministério da Educação.
TTS
Text-to-Speech
XML
eXtensible Markup Language.
XSLT
eXtensible Stylesheet Language for Transformation.
xiii
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS
Lista de Figuras
2.1
Máquina Perkins, reglete e punção - ferramentas da escrita braille. . . . . . . . . . . 17
2.2
Numeração dos pontos em uma cela braille. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.3
Alfabeto braille utilizado na lı́ngua portuguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4
Tabela 1-A do MIMB: notas musicais e pausas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5
Alterações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.6
Sinais de oitavas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.7
Representação em braille dos sı́mbolos de clave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.8
Representação em braille de um compasso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.9
Sinais de Intervalo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.10 Emprego do “Em Acorde” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.11 Uso do sinal de ligadura para até quatro notas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.12 Duas opções de sinais para ligaduras envolvendo mais de quatro notas. . . . . . . . . 24
2.13 Exemplo de repetição parcial em braille . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.14 Tabela de sı́mbolos para quiálteras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.15 Esquema dos principais indicadores de mudanças na musicografia braille . . . . . . . 26
2.16 Linha vocal acompanhando linha melódica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.17 Leiaute no formato compasso sobre compasso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.18 Separação de compassos pelo ponto 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.19 Método linha sobre linha: irregularidade no inı́cio dos compassos. . . . . . . . . . . . 30
2.20 Método linha sobre linha: as linhas de um bloco podem ter tamanhos diferentes. . . 31
2.21 Método seção por seção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.22 Método partitura vertical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.1
Diagrama da arquitetura Model-View-Controller (MVC) . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2
Diagrama de estados - Relação entre os estados de navegação e as possı́veis ações do
usuário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.3
Representação do padrão arquitetural Hierarquical Model-View-Controller. . . . . . . 43
3.4
Componentes gráficos no Delius e sua organização hierárquica do HMVC
3.5
Diagrama de classes mostrando como as classes de controle relacionam-se com as
. . . . . . 44
classes de visão e de modelo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.6
Diagrama de classes mostrando a utilização dos componentes externos pelo Delius. . 50
4.1
Versão em tinta do arquivo MusicXML - helloworld.xml . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2
conteúdo do arquivo MusicXML - helloworld.xml . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.3
Exemplo de representação musical pelo formato BMML . . . . . . . . . . . . . . . . 56
xv
xvi
LISTA DE FIGURAS
4.4
Modelo de representação de Lassfolk . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.5
Comparação entre as variações partwise e timewise no formato MusicXML . . . . . . 59
4.6
Modelo de representação da estrutura de alto nı́vel do formato BMML . . . . . . . . 59
4.7
Modelo de representação da estrutura de alto nı́vel do Delius . . . . . . . . . . . . . 60
4.8
Modelo de representação da estrutura de baixo nı́vel do Delius . . . . . . . . . . . . 61
4.9
Modelo de representação completo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.10 Etapas da tradução dos sinais braille para o modelo representativo. . . . . . . . . . . 64
4.11 Exemplo de árvore sintática criada pelo ANTLR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.12 Exemplos dos diagramas de Sintaxe gerados pelo ANTLR . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.13 Detalhes sobre a notação de quiálteras na grafia musical tradicional. . . . . . . . . . 68
4.14 Comparação do emprego de tercinas nas grafias musicais. . . . . . . . . . . . . . . . 69
Lista de Tabelas
3.1
Teclas de acesso às funcionalidades do programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.2
Entradas e saı́das e estado de implementação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.1
Tabela de softwares compatı́veis com MusicXML . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2
Representação da duração das notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.1
Perfil dos entrevistados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.2
Conhecimento dos entrevistados em musicografia braille, musicografia em tinta e
informática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
5.3
Tabela de frequências das respostas dos usuários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
5.4
Tabela de frequências das respostas dos usuários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
5.5
Correlação de Spearman: Caracterı́sticas dos usuários × respostas . . . . . . . . . . 77
5.6
Respostas dissertativas dos usuários. (*) usuários cegos; (**) usuários com baixa visão. 79
xvii
xviii
LISTA DE TABELAS
Capı́tulo 1
Introdução
Inclusão social é um tema que tem obtido destaque nos últimos anos. Não é só no Brasil que
programas governamentais de fomento têm possibilitado o surgimento de entidades e fundações
preocupadas com questões especı́ficas relativas à adequação social de grupos com caracterı́sticas
especiais que demandam algum tipo de adaptação, cuidado ou assistência. E na medida em que
o assunto é mais amplamente estudado, novos problemas são observados e novos estudos são exigidos nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Mais que isso, raramente é possı́vel falar
sobre deficiência como um tema único e atômico; cada tipo de deficiência traz consigo problemas e
desafios muito particulares.
Dentro desse leque amplo de necessidades especiais, a deficiência visual ocupa um espaço expressivo: no Brasil, segundo o censo realizado em 2010 pelo IBGE (2010), 23,9% da população apresentava alguma deficiência de ordem visual, auditiva ou motora. Mais especificamente, 6.056.533
indivı́duos ou 3,2% da população são portadores de baixa visão e 506.337 indivı́duos (0,3% da
população) são cegos1 . Para os educadores, de forma geral, o relacionamento com alunos deficientes ainda é pouco trivial. Diversos assuntos são de interesse dos profissionais da Educação como
a questão do sucesso na alfabetização, do relacionamento do aluno cego com os outros alunos videntes2 , da necessidade ou não de adaptação das aulas, do preparo dos professores, da necessidade
de algum acompanhamento paralelo especializado, dos motivos de evasão de cursos e muitos outros.
Por outro lado, o sucesso profissional e financeiro é outro ponto de interesse, por sua vez fortemente dependente do progresso nas questões relativas à educação. Em teoria, há suficiente respaldo
legal para que o deficiente ingresse no mercado de trabalho devidamente qualificado: o artigo 60,
parágrafo único, da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) obriga o poder público a ampliar o atendimento aos alunos com necessidades especiais na rede pública regular de ensino (de Souza, 2010).
Além disso, versa o artigo 93 da lei 8.213/91 sobre a obrigatoriedade de contratação de beneficiários
reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, na quantidade mı́nima de 2 a 5%, para empresas
com 100 ou mais empregados (de Previdência Social, 1991).
O presente trabalho parte de duas premissas fundamentais: a primeira, de que a Música é uma
área do conhecimento onde há espaço para a atuação de deficientes visuais; a segunda, de que o ensino superior é importante na construção do caráter e na profissionalização do indivı́duo, inclusive
relacionando-o, perante à sociedade, à sua área de conhecimento. O escopo principal deste trabalho,
portanto, está na questão da inserção do indivı́duo cego no ambiente de ensino superior de música.
Muito embora o trabalho realizado por entidades assistenciais sejam fundamentais no processo de
musicalização com foco nas necessidades especiais, para o aprendizado da teoria, da prática e da
1
Além destes números, a pesquisa ainda cita 35.774.392 pessoas que declararam ter dificuldade para enxergar,
mesmo com o uso de óculos ou lentes de contato, o que equivale a 18,8%.
2
O termo “vidente” é comumente utilizado, dentro da literatura especı́fica, para referir-se ao indivı́duo que não é
cego.
1
2
INTRODUÇÃO
1.1
musicografia braille3 (o método de leitura e escrita musical baseada no código braille), o ensino
superior modela-se, via de regra, como um ambiente misto onde a grande maioria é formada por
pessoas videntes e onde o próprio ambiente na maioria das vezes está constituı́do considerando que
a capacidade de ver é quase tão fundamental quanto a capacidade de ouvir.
Com base nos problemas pertinentes à inclusão de deficientes visuais no ensino superior de
música, esta dissertação abordará as possibilidades de uso de tecnologias assistivas como ferramentas para a superação de obstáculos, sobretudo o hiato criado pelos diferentes sistemas de grafias
utilizados por cegos e videntes, uma questão de extrema relevância em ambientes onde espera-se
haver espaço para todas as pessoas, independentemente da presença ou ausência de deficiências.
Mais especificamente, o cenário onde este trabalho procurará dar maior atenção é o do relacionamento entre alunos cegos e professores videntes, considerando o provimento adequado de material
de apoio aos estudos, a preparação de provas e exercı́cios e a correção dos mesmos buscando avaliar
adequadamente o desempenho do aluno.
Como contribuição, este trabalho procurará:
• sistematizar as diferenças entre a grafia musical convencional da música ocidental para escrita
em tinta4 e a musicografia braille, desenvolvida para permitir a leitura de música por meio
não visual, mas tátil.
• investigar dispositivos tecnológicos existentes que voltem-se ou aproximem-se do tema central
deste trabalho.
• estudar a possibilidade de se obter partituras musicais gráficas produzidas por uma pessoa
cega fazendo uso da musicografia braille, na intenção de melhorar a comunicação entre um
professor de música vidente que recebe em sua sala um aluno deficiente visual, situação na
qual ambos provavelmente utilizam diferentes grafias musicais.
• desenvolver um aplicativo de notação musical, devidamente adaptado às condições especiais
de seus possı́veis usuários, que utilize a musicografia braille como método de entrada de informação e que permita conversão do material produzido para partituras gráficas convencionais.
• manter o desenvolvimento deste aplicativo sob a filosofia de software livre, permitindo o
envolvimento da comunidade no aprimoramento do mesmo.
1.1
Motivação e histórico
O trabalho apresentado é resultado da vivência do autor com deficientes visuais ligados à música desde o final da década de 90. De 2000 até 2008 esta experiência foi intensificada enquanto o
autor, graduando-se pelo Departamente de Música da Escola de Comunicação e Artes (CMU/ECA)
da USP, teve contato com colegas cegos e pôde perceber dificuldades tanto na adequação destes
alunos ao formato das aulas como também na adaptação dos professores às necessidades especiais
envolvidas, sobretudo na dificuldade em se prover material didático adaptado à deficiência, ou seja,
em braille. Percebeu-se que estas dificuldades poderiam potencialmente resultar na desistência dos
alunos cegos. Iniciou-se então, no Departamento, uma mobilização em torno do problema, e o levantamento de soluções capazes de proporcionar a integração necessária. Interessado no provimento
de material de apoio em versão braille para as aulas, inicialmente partituras para a prática de
canto coral (disciplina obrigatória por vários anos em todos os cursos do departamento) e outras
3
A Comissão Brasileira do Braille (CBB) recomendou a grafia braille, com “b” minúsculo e “ll”, respeitando a
forma original francesa, internacionalmente empregada (SEE/ME, 2002). Porém, quando se referir ao educador Louis
Braille e quando o sobrenome Braille fizer parte do nome de instituições, grafa-se Braille.
4
É comum entre as pessoas que lidam com estas diferentes grafias tratá-las por “em braille” e “em tinta”, esta
última referindo-se à escrita (literária ou musical) de caráter gráfico, visual.
1.2
INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL NO ENSINO SUPERIOR
3
disciplinas como Piano, Análise Musical, Harmonia e Contraponto, o autor envolveu-se no processo
de levantamento e aquisição de softwares auxiliares e até mesmo na formação de uma equipe de
apoio para as demandas de conversão, uso da impressora braille e outros.
Naquele momento o departamento contava com apenas um aluno deficiente visual; até a conclusão do curso pelo mesmo é possı́vel afirmar que muito pouco resultado foi obtido. Era visı́vel, no
entanto, que com algumas mudanças nos processos e com suficiente respaldo tecnológico seria possı́vel reverter essa situação. Além disso esse problema de modo algum é especı́fico desta unidade,
sendo enfrentado por outras instituições semelhantes. A experiência vivenciada no CMU serviu
portanto como motivador para a busca de soluções que garantam, futuramente, respaldar os alunos
deficientes visuais.
Foi neste cenário onde o autor teve então contato com a musicografia braille e iniciou um
processo de investigação a respeito das possibilidades de transcrição por meios automatizados, considerando que o trabalho de transcrição por meio humano seria inviável, tanto por falta de gente
capacitada como pelo trabalho excessivo que essa tarefa demandaria. A primeira abordagem foi na
verdade a composição de um processo estruturado, criando uma fila de prioridade de materiais que
deveriam ser transcritos para braille e a composição de um acervo que permitisse reuso – no canto
coral, por exemplo, é natural refazer certas peças do repertório em anos seguintes, e tais obras
teriam alguma prioridade de transcrição.
O primeiro trabalho realizado nessa direção foi o desenvolvimento de um aplicativo que fosse
disponı́vel via internet, de arquitetura cliente-servidor, com o objetivo de compôr um acervo de partituras digitais e transcrevê-las para braille, atendendo às regras descritas no Manual Internacional
de Musicografia Braille (União Mundial dos Cegos, 2004). Este aplicativo foi chamado de Delius,
em homenagem ao compositor inglês Frederick Delius (1862-1934) que, por conta de uma doença,
acabou perdendo a visão. Nesta ocasião, o aplicativo ainda era pouco versátil, bastante especı́fico para a transcrição mais essencial (notas e pausas, para melodias simples). A intenção era dar
resposta rápida à necessidade de prover tais materiais, integrando-a ao processo criado, de modo
que bolsistas ou estagiários seriam incumbidos de digitalizar as partituras utilizando ferramentas
de notação musical comuns (como o Finale5 ou Sibelius6 ), de acordo com a fila de prioridade, e
então armazenando-as no acervo digital do Delius, onde obteriam uma cópia transcrita do material
original em um formato compatı́vel com uma impressora braille, onde seria finalmente produzido
o resultado desejado.
Embora promissor, o desenvolvimento não foi concluı́do em tempo de realmente poder ser avaliado quanto à sua eficácia no processo; o aluno em questão, peça essencial dessa cena, estava já
prestes a se formar e muito da mobilização de pessoas e recursos já demonstrava indı́cios de dispersão. Seria então esse o momento de aprofundar-se na literatura relativa ao assunto e analisar a
questão de forma mais panorâmica. Desde então pôde-se verificar algumas pesquisas movimentandose nessa mesma direção (Goto et al., 2007), o que não só legitimam a necessidade como também
propõem possı́veis caminhos e soluções os quais este trabalho também procurará investigar.
1.2
Inclusão do deficiente visual no ensino superior
O Artigo 208 da Constituição Federal discursa sobre o cumprimento do dever do Estado com relação à educação, garantindo “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino” , e ainda “acesso aos nı́veis mais elevados do ensino,
da pesquisa e da criação artı́stica, segundo a capacidade de cada um”. A garantia de condições
5
6
http://www.finalemusic.com
http://www.sibelius.com
4
INTRODUÇÃO
1.3
para o ingresso e sucesso do deficiente no ensino superior não seria, certamente, uma preocupação
observada apenas na constituição brasileira; tampouco pode-se afirmar que essa preocupação é recente, dado que a última constituição é de 1988. Na prática, porém, poucas instituições de ensino,
sobretudo do ensino superior, se mostram satisfatoriamente adequadas para receber estudantes
deficientes, e os motivos são muitos. Inicialmente é fundamental perceber que, para que o ı́ndice
de ingresso de deficientes no ensino superior acompanhe percentualmente a população real de deficientes, é necessário que o estudante candidato à vaga na instituição de ensino superior esteja tão
bem preparado quanto um estudante vidente, o que também não é uma verdade até então: muitos
cegos ainda saem do ensino médio analfabetos em braille justamente pela falta de material de apoio
durante o perı́odo escolar.
As questões envolvidas na dificuldade de ingresso de deficientes no ensino superior não serão
investigadas por este trabalho, que se deterá na hipótese do aluno ingressante de fato, supostamente
avaliado como tendo iguais condições de preparo para acompanhamento do curso com relação aos
outros ingressantes. Ademais, o trabalho concentrará a atenção no aluno ingressante em um curso
de Música, dadas as especificidades da musicografia braille que são de interesse particular desta
pesquisa.
1.3
Conceitos fundamentais e desafios
Desenho Universal
Desenho Universal é um conceito que gradativamente vem permeando a sociedade e seu modo de
vida, influenciando-a e resultando em mudanças facilmente observáveis seja na construção civil, arquitetura, informática, literatura e telecomunicações, entre muitas outras áreas do conhecimento.
Trata-se da preocupação com que o projeto de um produto ou ambiente garanta que o mesmo
possa, na medida do possı́vel, ser utilizável por qualquer indivı́duo sem a necessidade de adaptação
ou redesenho por conta de quaisquer limitações, deficiências ou necessidades especiais. Deseja-se
também que tais designs sejam simples e que acrescentem o mı́nimo possı́vel de custo de produção com relação a um design convencional; o sucesso na implementação de um produto acessı́vel
depende da relação custo-benefı́cio apresentada. O conceito é regido por uma série de princı́pios
que devem ser observados durante a concepção de um produto ou projeto, como modo de operação simples, flexı́vel e intuitivo, tolerância a erro, uso confortável e pouco esforço fı́sico envolvido
(Center for Universal Design, 2006).
Este conceito relaciona-se integralmente com o presente trabalho; a intenção não é simplesmente
criar adaptações entre grafias, mas também investigar em quais momentos a musicografia é por si
indepentente da sua forma de grafia. O Desenho Universal será, portanto, um agente para nortear
decisões sobre a adoção de métodos e procedimentos de análise e implementação.
O código braille e as novas tecnologias
A questão do futuro do código braille vem sendo bastante discutida entre educadores, sociólogos e bibliotecários. O advento de novas tecnologias tem dado margem a uma série de proposições
de alternativas para o braille, fazendo para tanto o uso de uma série de alegações a respeito da
legibilidade e praticidade do código e apontando dados que demonstram que na medida em que
o tempo passa menos cegos são alfabetizados em braille, embora cada vez mais estes indivı́duos
ocupem espaço no mercado de trabalho (Belarmino, 2001). Isso tem sido motivo para que pessoas
ligadas ao assunto se dividam em dois grupos bastante extremos; enquanto alguns afirmam que o
braille está condenado ao desuso, outros assumem uma postura rı́gida em defesa do braille e de sua
1.3
CONCEITOS FUNDAMENTAIS E DESAFIOS
5
prosperidade.
Outro ponto relevante também é que essas novas formas de leitura e escrita geralmente estão
relacionadas a arquivos digitais. Por conta de problemas, como a facilidades de proliferação de
material digital, adicionados á falta de dispositivos legais que regulamentem satisfatoriamente a
composição de livros e outros registros em formatos digitais, há ainda o problema de que o acervo
acessı́vel para deficientes visuais em uma biblioteca ainda está restrito ao material fisicamente impresso em braille.
Este fato se relaciona com o presente trabalho em um ponto não muito intuitivo: a relação
entre o código braille e a música ainda é muito forte. Embora seja natural que a necessidade de
leitura e escrita para fins literários seja expressivamente maior do que a leitura ou escrita musical em braille, atualmente há suficiente respaldo tecnológico para atender a primeira finalidade,
o suficiente inclusive para que muitos cegos não sejam alfabetizados em braille por não sentirem
necessidade, havendo um computador que possa suprir esta necessidade através de softwares de
leitura automática. No caso da música, este quadro é diferente: o estudo formal de música, ainda
não tão substituı́do por subterfúgios de ordem tecnológica, atualmente utiliza o código braille como
principal método de comunicação escrita7 .
Perfis do estudante deficiente visual
Através de experiências colhidas por três anos ministrando um curso de Musicografia Braille,
de Souza (2009) retrata diferenças bastante expressivas no processo de aprendizado relacionadas ao
tipo de deficiência visual. Em primeiro lugar, é fundamental distinguir cegueira adquirida e cegueira
congênita, uma vez que a dificuldade em se realizar a leitura pelo toque do dedo é maior quando
o indivı́duo inicia este aprendizado em idade avançada, sobretudo quando já tem uma referência
visual ou mesmo já foi alfabetizado em tinta. De fato, qualquer pequeno perı́odo de uso efetivo
do aparato sensorial visual é suficiente para modificar toda a concepção de mundo do indivı́duo
e consequentemente seus processos cognitivos. Nestes grupos, considerando os que já tiveram e os
que nunca tiveram experiências visuais, podem ser verificadas diferentes necessidades em todos os
processos de aprendizagem.
Além disso, a graduação da cegueira é outro fator que deve ser levado em consideração; tratandose de visão subnormal, dependendo do grau de acuidade, o aluno pode enfrentar situações bastante
ı́mpares, como por exemplo ter capacidade de ler uma partitura musical utilizando lentes amplificadoras poderosas, mas enfrentar uma dificuldade muito grande em escrever notas em um
pentagrama, a ponto de preferir, para tanto, fazer uso da musicografia braille.
Avaliação de desempenho dos alunos
A Secretaria de Educação Especial do Ministério da Cultura (SEESP/MEC) possui uma série
de publicações com recomendações para atendimento educacional especializado. Na publicação que
trata de deficiência visual (SEE/SE, 2007) encontramos o seguinte excerto falando sobre avaliação:
Alguns procedimentos e instrumentos de avaliação baseados em referências visuais devem ser alterados ou adaptados por meio de representações e relevo. É o caso, por exemplo,
de desenhos, gráficos, diagramas, gravuras e do uso de microscópios.
7
O autor chegou a ouvir alguns comentários informais de que a Musicografia Braille poderia inclusive estar
“salvando” o braille, já que para o fim especı́fico seu uso ainda é fundamental, diferentemente do braille literário, que
tem perdido espaço para programas de processamento de texto acessı́veis.
6
INTRODUÇÃO
1.4
Em algumas circunstâncias é recomendável valer-se de exercı́cios orais. A adaptação e
produção de material, a transcrição de provas, exercı́cios e de textos em geral para o sistema
braille podem ser realizadas em salas multimeios, núcleos, serviços ou centros de apoio pedagógico. Se não houver ninguém na escola que domine o sistema braille, será igualmente
necessário fazer a conversão da escrita braille para a escrita em tinta.
Convém observar a necessidade de estender o tempo da avaliação, considerando-se as
peculiaridades já mencionadas em relação à percepção não visual. Os alunos podem realizar
trabalhos e tarefas escolares utilizando a máquina de escrever em braille ou o computador,
sempre que possı́vel.
Acervos e reaproveitamento de material em Braille
Um dos grandes problemas da conversão entre tinta e braille é justamente o tempo desprendido
entre as tarefas de digitalização e correção, quando estas se fazem necessárias. Bonilha (2005, 2010)
cita constantemente a importância da composição de um acervo destes materiais, uma vez que o
processo é otimizado na medida em que se evita que este trabalho de digitalização seja feito mais
de uma vez.
O compartilhamento dessa informação, porém, ainda é algo que requer um cuidado especial,
por poder infringir leis de proteção de direitos autorais. Além do mais, depende de uma estrutura
organizacional consistente que integre diversas bibliotecas e centros de acessibilidade. Essa questão
é tangente ao trabalho aqui apresentado, mas por demandar uma investigação totalmente dirigida
e bastante extensa, não fará parte do escopo deste trabalho.
1.4
Utilização de computadores por deficientes visuais
A evolução dos computadores pessoais e de seus recursos multimı́dia, somada ao advento e
popularização da internet, tem protagonizado uma incrı́vel melhoria do acesso à informação por
deficientes visuais. Através de dispositivos de adaptação, um usuário é capaz de, sem fazer uso da
visão, utilizar um computador para buscar e receber informação, desde que esta esteja disponı́vel
obedecendo a algumas diretrizes de acessibilidade. Auxiliados por programas leitores de tela, os
usuários podem receber a informação produzida para a tela do computador; estes programas interpretam o conteúdo textual dos componentes gráficos e, mediante heurı́sticas próprias, produzem
um resultado sonoro, utilizando recursos de sı́ntese de voz (TTS). É possı́vel encontrar uma variedade de leitores de tela, que variam muito em custo, suporte a sistemas operacionais, métodos de
sı́ntese de voz e outros recursos próprios.
É bastante comum que um usuário de leitores de tela tenha mais de um programa para esta finalidade instalado em seu computador, e que alterne entre eles, buscando o que é mais adequado para
trabalhar em conjunto com cada programa. Estudos (Clóvis et al., 2007; Núcleo de Acessibilidade Virtual do IF
2009) demonstram também a discrepância na interpretação feita por diversos programas de leitura
de tela para determinados programas de uso comum, bem como diferenças nos perfis dos usuários
quanto às suas preferências de programas para leitura de telas. Em contrapartida, nem todos os
usuários utilizam mais de um leitor de tela, por conta de dificuldades de adaptação, o que pode
restringir o usuário ao uso de sistemas operacionais que suportem o programa de leitura de tela ao
qual o usuário sente-se adaptado.
Para que a informação seja acessı́vel por usuários deficientes visuais, é necessário portanto que
certos pontos sejam observados durante o processo de desenvolvimento dos aplicativos. Por exemplo, a interpretação sonora das telas só é possı́vel para conteúdo produzido em texto. Ou seja,
textos contidos em imagens e fotografias não são lidos.
1.5
GRUPOS DE PESQUISA E TRABALHO RELACIONADOS
7
Há também questões idiomáticas. Algoritmos de sı́ntese de voz têm forte dependência fonética
e, como consequência, geralmente são encontradas vozes individuais para cada idioma. Com isso, os
leitores de tela apresentam resultados insatisfatórios ao lerem conteúdo em idiomas para os quais
não estão devidamente preparados ou configurados.
Além da interação por meio de respostas sonoras, outro ponto importante da relação entre deficientes visuais e computadores é a impossibilidade de uso de certos dispositivos de entrada, como
o mouse. Por esse motivo, o deficiente visual deve ser capaz de acessar todos os recursos e atalhos
por meio do teclado.
Considerando estes fatores de navegação por teclado e a necessidade da audição dos atalhos
e opções, a utilização de programas de computador por deficientes visuais também é consideravelmente mais lenta do que por pessoas com visão normal. Ainda assim, o acesso à informação
assistido por computador, seja pela navegação na internet ou pela leitura de um livro eletrônico, é
beneficiado por recursos como o de busca por conteúdo e de sistematização da leitura.
Para que tais necessidades sejam atendidas, algumas entidades são responsáveis por criar recomendações e padrões que possam nortear o desenvolvimento de programas e de conteúdo de
forma acessı́vel. A Web Accessibility Initiative (WAI)8 traz uma série de recomendações para que
o conteúdo eletrônico para internet seja preparado de forma a garantir acessibilidade, não apenas
para questões relativas à deficiência visual. O governo norte americano criou a Section 508 of the
Rehabilitation Act 9 , uma lei com diretrizes oficiais para acessibilidade eletrônica, de forma ampla;
embora seja uma questão regional, estas diretrizes inspiram diversas auditorias e certificações em
qualidade de software.
1.5
Grupos de pesquisa e trabalho relacionados
O presente trabalho trata de um assunto bastante especı́fico e ainda bastante carente de trabalhos e publicações. Por outro lado, percebeu-se que existem entidades e profissionais que relacionamse diretamente com o assunto de forma prática. Estas entidades e profissinais foram fundamentais
para esta pesquisa por diversos motivos, mas principalmente por propiciarem uma imersão real
dentro do contexto e garantindo assim um conhecimento de causa mais amplo do que o que seria
possı́vel apenas pela literatura relacionada ao tema. As principais instituições e grupos de pesquisa
serão aqui mencionados, na intenção de prover um possı́vel ponto de partida para outros futuros
trabalhos sobre o tema.
Laboratório de Acessibilidade da Unicamp
Oficialmente inaugurado em dezembro de 2002, o Laboratório de Acessibilidade (LAB) da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Campinas10 tornou-se um espaço de convergência
de diversos trabalhos relacionados aos temas de inclusão e acessibilidade, e serve de recurso para
a universidade no provimento de acesso à informação adaptado, além de ter se especializado no
preparo de material didático em braille. Para esta função, o LAB não só reúne uma quantidade
expressiva de aplicativos especı́ficos para estes fins como também pessoas com conhecimento de
manuseio. Além disso, no LAB o autor teve a oportunidade de fazer contato com usuários finais
dos serviços prestados pela instituição, deficientes visuais com conhecimento em música e musicografia braille. Através destes encontros foi possı́vel analisar as tecnologias assistivas atualmente em
8
http://www.w3.org/WAI/
http://www.access-board.gov/508.htm
10
http://www.todosnos.unicamp.br:8080/lab/
9
8
INTRODUÇÃO
1.6
uso, os procedimentos de uso das mesmas e a qualidade do produto final.
Rede Saci
A Rede Saci (http://saci.org.br) é uma entidade que visa estimular a inclusão social e digital,
disponibilizando de várias maneiras informação sobre deficiência. É uma realização da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais da Universidade de São
Paulo (CECAE-USP), da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), do Amankay Instituto de
Estudos e Pesquisa, e do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (NCE-UFRJ). A rede Saci acompanhou este trabalho desde o inı́cio com alguma proximidade, além de fornecer apoio para testes de impressão em braille.
Instituto Padre Chico
O Instituto Padre Chico (http://www.padrechico.org.br) é uma entidade de auxı́lio aos cegos,
atuante há mais de 80 anos. Durante a pesquisa, o autor tomou conhecimento do curso de musicografia braille ministrado neste instituto, onde obteve como colaboração diversas sugestões de
melhorias desejáveis no Delius.
Conservatório Municipal de Guarulhos
No Conservatório de Guarulhos11 é ministrado um curso de musicografia braille que visa auxiliar
alunos deficientes em formação no conservatório. Atualmente são três turmas de alunos semanais,
sendo que o conservatório já formou mais de 70 pessoas com deficiência desde o inı́cio do projeto
de inclusão em 2005, projeto este que também conta com cursos para deficientes auditivos. Esta
instituição possibilitou ampliar o relacionamento com pessoas com conhecimentos em musicografia
braille, cuja participação de grande importância para a realização de testes do programa, apontamento de defeitos e sugestões de melhorias.
Grupo de discussões
No inı́cio de 2011 foi criado pelo autor um grupo de discussões12 sobre musicografia braille com
foco em tecnologia. É um grupo aberto publicamente para leitura e permite inscrição de novos
membros. Desde a criação deste grupo, muitos dos contatos efetuados no perı́odo, com professores
e estudantes de musicografia braille, são hoje participantes. Tem sido um meio bastante útil para se
receber sugestões de melhorias para o Delius, anunciar novos releases, agendar encontros e também
divulgar outros projetos e listas dentro do mesmo tema.
1.6
Processos e ferramentas para conversão entre partituras em
tinta e braille
Converter partituras para braille é uma demanda importante do LAB. Com a presença de dois
alunos de pós-graduação do Instituto de Artes (IA), o laboratório recebe frequentes solicitações
de conversão de partituras para braille. Um bolsista do SAE (Serviço de Apoio ao Estudante, da
11
12
http://www.guarulhos.sp.gov.br, havendo acesso por dentro do portal (sem referência direta).
https://groups.google.com/d/forum/musicografia-braille
1.6
PROCESSOS E FERRAMENTAS PARA CONVERSÃO
9
UNICAMP), vidente, digitaliza a obra solicitada através do software Finale. Dois softwares desenvolvidos pela empresa italiana Veia Progetti 13 são então utilizados: o primeiro é um plug-in para
o Finale que converte o conteúdo do arquivo para braille em um formato que é lido pelo segundo
programa, o Braille Music Editor (BME), onde se efetua a revisão e correção, em braille, do conteúdo musical.
Este processo envolve necessariamente conhecimentos em musicografia braille e grafia musical
em tinta, de forma que, a menos no caso de uma pessoa com ambos os conhecimentos especı́ficos
participe do processo, duas pessoas serão utilizadas para a realização da conversão. Os aplicativos
Braille Music Editor e Finale não são gratuitos, embora o plug-in de conversão seja disponibilizado livremente pelo próprio fabricante. O processo depende de conhecimento de uso especı́fico do
Finale, embora exista no mercado uma grande variedade de programas para notação musical.
Segundo Bonilha (2006), o Braille Music Editor permite que documentos musicais sejam criados recebendo a entrada em braille, utilizando o próprio teclado do computador e com uma boa
assistência às regras da musicografia braille estabelecidas no Manual Internacional de Musicografia
Braille (MIMB). A autora cita como desvantagem de uso o fato de que o conteúdo produzido em
braille no BME somente é reconhecido em linguagem musical após um comando de processamento;
quando ocorre erro neste processamento, o usuário enfrenta problemas de leitura do conteúdo musical.
Outros apontamentos a respeito do BME é que não há visualização, no programa, da partitura
gráfica resultante do processamento deste material em braille. Embora o BME seja bastante adequado para assistir à produção de uma partitura final em braille, recursos ainda são necessários
para que a ferramenta possa trabalhar como agente auxiliador na comunicação entre cegos e videntes.
Outra forma de realizar essa conversão é utilizando uma suı́te de aplicativos da empresa Dancing Dots 14 . Esta suı́te é composta de um aplicativo para OCR chamado SharpEye, responsável
por digitalizar o conteúdo de uma partitura impressa e transformá-lo em MIDI ou NIFF, seguido
de um outro aplicativo chamado Lime que permite editar e corrigir erros da digitalização para
depois enviar o material editado para o aplicativo Goodfeel, responsável por finalmente converter o
produto final para braille. Este pacote de aplicativos não só é pago como é caro15 . O programa de
OCR tem um ı́ndice baixo de acerto, exigindo muita correção manual, tornando o procedimento
pouco eficaz (Bonilha, 2006). Esta suı́te de programas da Dancing Dots, bem como o BME, funcionam apenas em sistema operacional Windows.
Como trabalho de conclusão de curso de graduação o autor deste trabalho desenvolveu o Delius, um aplicativo de conversão de partituras do formato MusicXML 16 para uma versão adequada
para impressão em braille. Pouco tempo depois outros trabalhos (Goto et al., 2007; Inthasara et al.,
2007) foram publicados na mesma direção. No laboratório Gotoh, na Universidade Nacional de Yokohama, foi lançado o BrailleMUSE, um aplicativo também de arquitetura cliente-servidor, que
recebe como entrada um arquivo no formato MusicXML e devolve ao usuário um arquivo texto
com o conteúdo em braille pronto para impressão. De acordo com Goto et al. (2007), o programa
atende parcialmente às regras do MIMB. O laboratório Gotoh possui parceria com uma equipe de
voluntários que utilizam o recurso para facilitar o processo de transcrição, reduzindo a mão-de-obra
apenas à tarefa de correção.
13
http://www.veia.it/en
http://www.dancingdots.com
15
US$ 1395,00 o valor da suı́te de programas da Dancing Dots, em junho de 2010, de acordo com a página do
próprio desenvolvedor.
16
MusicXML é um formato criado pela Recordare LCC para troca de informações musicais entre aplicativos. Será
tratado em detalhes no próximo capı́tulo.
14
10
INTRODUÇÃO
1.7
O BrailleMUSE oferece um suporte bastante satisfatório às regras de musicografia braille, além
de permitir alguma personalização, para quando existem múltiplas possibilidades de grafia ou diagramação. Em contrapartida, o Delius integra o serviço de transcrição a um banco de dados, de
forma que o material a ser convertido deve primeiro ser armazenado no serviço e ficará disponı́vel
em acervo juntamente com sua cópia convertida em braille, na intenção de prover reaproveitamento da informação17 . Além disso, o Delius fornece uma forma de visualização do conteúdo em
braille em HTML, útil para pessoas videntes poderem conferir o conteúdo a ser impresso em braille.
O processo de converter partituras originalmente em braille para tinta (processo portanto inverso ao apresentado anterior) é ainda mais carente de assistência tecnológica. O BME é o único
aplicativo instalado no LAB com capacidade de receber entrada em braille. Ele é capaz de produzir
três formatos de arquivo diferente: o arquivo PLY, extensão própria do programa, arquivo texto
(TXT) adequado para impressão em braille e arquivo MIDI, adequado para execução e capaz de ser
lido/interpretado por outros aplicativos. O arquivo MIDI, entretanto, não é um formato capaz de
representar todos os elementos musicais. No estudo das ferramentas do LAB realizado por Bonilha
(2005), a autora cita que este processo causa perda de informações importantes, como por exemplo
a armadura de clave, ligaduras de frase, textos, etc. Além disso, a autora também aponta que o
Braille Music Editor, apesar de seguir as principais normas do MIMB, não consegue reconhecer
alguns sı́mbolos, como o segno, utilizado para retorno em um trecho musical anterior, e também as
indicações que se denominam musicalmente por “casa 1” e “casa 2”.
O Conservatório de Guarulhos utiliza nas classes de musicografia braille o software MusiBraille18 , projeto desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ. Este programa
tem sido bastante difundido e utilizado para musicalização e ensino da musicografia braille. Além da
visualização em braille, o programa possui um pentagrama gráfico que mostra os sı́mbolos musicais
criados, com certas limitações. O programa não oferece suporte a partituras com mais de um instrumento, além de comtemplar um conjunto de regras bastante limitado do MIMB. O Musibraille
integra consigo um leitor de tela, não dependendo de programas de leitura de tela de terceiros –
isso é vantagem em certos aspectos, mas a comunicação com os leitores terceiros, geralmente já
utilizados pelos usuários, promove uma experiência de uso mais homogênea com os outros recursos
utilizados pelo usuário em seu computador. Outras limitações percebidas são a ausência de suporte
multi-idioma e a dependência do sistema operacional Windows para sua execução. Segundo informações no site do mantenedor19 , o programa é distribuı́do sob licença LGPL, embora não haja
nenhuma referência para download do código-fonte.
No Instituto Padre Chico há também uma demanda de confecção de partituras em braille
para material didático das aulas de musicografia braille. Neste cenário, o computador também é
utilizado, embora não sejam utilizados programas próprios para música; utiliza-se o WinBraille,
um programa desenvolvido pela Index Braille20 , também fabricante de impressoras braille. Este
programa tem como finalidade justamente receber entradas em braille e efetuar o gerenciamento
da impressão. É válido mencionar que a empresa desenvolvedora já não mais oferece suporte ao
aplicativo.
17
Por questões legais, o sistema permite que o usuário defina o acesso aos arquivos como público ou apenas para
usuários de determinados grupos.
18
http://intervox.nce.ufrj.br/musibraille
19
Informações encontradas na página http://www.musibraille.com.br/download.htm, em 07/2012
20
http://www.indexbraille.com
1.8
1.7
DELIUS: UM APLICATIVO DE NOTAÇÃO MUSICAL EM BRAILLE
11
Delius: um aplicativo de notação musical em braille
Na intenção de prover assistência ao aluno deficiente visual, particularmente o ingressante em
curso superior de música, o presente trabalho discorrerá sobre o desenvolvimento de um software
para notação musical que utilize como método de entrada a musicografia braille, que possa ser
utilizado para assistir à produção de conteúdo musical em braille, produzir saı́das para impressão
em braille e também converter este resultado para partituras tradicionais, em tinta. Estas saı́das
em tinta serão produzidas em um formato de arquivo que possa ser lido por outros programas que
permitam sua edição e impressão adequada. O resultado do desenvolvimento está publicado e acessı́vel pelo endereço http://sourceforge.net/projects/delius/ , contendo os arquivos para instalação
e código fonte.
Evidentemente, outros recursos são necessários para satisfazer a necessidade por trás deste desenvolvimento – não apenas na área de tecnologia assistiva, mas também na melhoria de processos,
leis de incentivo e até mesmo esclarecimento social. Este trabalho, no entanto, focará no escopo
acima apresentado, considerando que outras pesquisas avançam na solução de outras facetas deste
problema. O produto desta pesquisa foi chamado de Delius, herdando o nome do trabalho que fora
desenvolvido no passado (conforme mencionado na seção 1.1), e que atuava no processo inverso de
conversão entre braille e tinta.
Objetivos
Conforme mencionado acima, o objetivo do aplicativo é receber do usuário informação musical
em braille e convertê-la em um arquivo que possa ser lido por editores de partitura em tinta. Para
tanto, será utilizado como formato de saı́da principal o MusicXML, cujo uso será devidamente justificado na seção 4.1. O aplicativo deve buscar uma comunicação eficaz com os programas leitores de
tela, informando o usuário sobre suas ações e sua posição no documento que está sendo produzido.
O resultado gráfico exibido no monitor não deve ser de conhecimento obrigatório para o usuário,
uma vez que espera-se que o usuário possa usar o aplicativo mesmo que não possa fazer uso do
sentido da visão. Ao mesmo tempo, é fundamental que toda a informação musical produzida possa
ser representada graficamente, por dois motivos: em primeiro lugar, é esperado que o programa
seja também utilizado por pessoas videntes, caso de muitos professores de musicografia braille por
exemplo; em segundo lugar, há o desejo de promover a interação entre cegos e videntes em um
mesmo ambiente, tornando-se com isso um potencial auxiliador no relacionamento entre professores videntes e alunos cegos, cenário comum no ambiente de ensino superior de música, conforme já
mencionado na introdução.
O aplicativo deverá garantir uma saı́da para impressão em braille e a persistência do material
editado para futuras reedições. Espera-se que seja possı́vel, ainda que futuramente, que o aplicativo
possa receber arquivos em formato MusicXML também como entrada, convertendo-os para braille,
unificando em si os dois caminhos do processo de conversão.
Outro motivo importante deste desenvolvimento é a busca pela simplificação do processo de
transcrição de partituras como um todo. Atualmente, este processo depende geralmente da utilização de mais de um software para que os resultados sejam alcançados. O aplicativo então deve ser
desenhado para que, ainda que a primeira versão tenha limitações de funcionalidades, seja possı́vel
futuramente agregar recursos suficientes para se compor uma suı́te de funcionalidades que possa
abranger todas as variações dos processos de conversão entre braille e tinta, dando margem para
que outras possibilidades que não são tratadas nesse momento (receber entrada por scanner, por
exemplo) sejam também implementáveis.
12
INTRODUÇÃO
1.8
1.8
Princı́pios relacionados ao desenvolvimento do Delius
Conformidade com o conceito de Desenho Universal
Também é objetivo deste aplicativo demonstrar conformidade com o conceito de Desenho Universal, mencionado na seção 1.3. Os princı́pios fundamentais deste conceito - igualdade, adaptabilidade, intuitividade, tolerância a erro e baixo esforço - serão interpretados, no que diz respeito ao
desenvolvimento deste aplicativo, conforme os tópicos abaixo:
• Igualdade: O aplicativo deve poder ser operado por pessoas com diferentes capacidades, com
adaptação nos pontos onde se faça necessário, mas garantindo um ambiente único.
• Adaptabilidade: O aplicativo deve ser expansı́vel de forma a futuramente atender pontos
ausentes no escopo inicial.
• Intuitividade no uso, buscando que o usuário sem experiência de uso consiga melhorar sua
capacidade de operar o aplicativo interagindo com o mesmo.
• Tolerância a erro: O aplicativo deve permitir que erros do usuário não comprometam sua
produção; Para tanto, uma série de medidas devem ser consideradas, como a possibilidade
de desfazer operações (Undo) e também fornecer um retorno detalhando os possı́veis erros,
permitindo que sejam feitas as devidas correções.
• Baixo esforço: facilitar o acesso às funções, buscando conforto e ergonomia; cuidar para que
pessoas com dificuldades motoras não tenham dificuldades em operar o programa.
Código aberto
Inicialmente, o desenvolvimento deste aplicativo se justifica pela própria disponibilização gratuita do produto final e pelas capacidades de expansão do mesmo pela comunidade de código aberto,
livre de dependência de um pequeno grupo de pessoas ou entidades. Atualmente, a conversão de
partituras assistida por computador é baseada em suı́tes de aplicativos comerciais cujas licenças
nem sempre são baratas, podendo estar além das possibilidades financeiras de muitos usuários.
Além disso, a utilização destes aplicativos comerciais por instituições de ensino e laboratórios como
o Laboratório de Acessibilidade da Unicamp seria amplamente facilitada com o uso de software
livre, uma vez que a obtenção do produto não fica dependente dos morosos procedimentos burocráticos para aquisição de recursos, procedimentos estes bastante frequentes nas instituições públicas
de ensino.
Além do mais, o cenário atual que envolve as tecnologias assistivas é representado majoritariamente por entidades privadas; empresas e entidades que desenvolvem produtos nessa direção
cobram, por seus produtos, valores que nem sempre são compatı́veis com o orçamento de todos –
sem contar que as atualizações desses produtos, visando acompanhar a tecnologia e as mudanças
de paradigmas, são dependentes dos reais interesses dos seus responsáveis21 . Uma das premissas
importantes a se garantir, portanto, é que um trabalho primordialmente voltado ao interesse social
esteja de fato à disposição da sociedade que a demanda. Permitir que a comunidade participe ativamente do aperfeiçoamento do programa garante que futuras necessidades e adequações a novas
realidades tecnológicas (como mudanças em sistemas operacionais, por exemplo) sejam atendidas
com prontidão, uma vez que as atualizações do software não ficam dependentes da vontade ou dos
interesses das empresas proprietárias.
21
O autor chegou a ter experiências com produtos que não acompanhavam, por exemplo, as atualizações dos
sistemas operacionais que serviam de plataforma para os mesmos, obrigando o seu usuário a manter-se desatualizado
por dependência destes aplicativos.
1.8
PRINCÍPIOS RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO DO DELIUS
13
A necessidade por trás desse desenvolvimento certamente vai ao encontro dos interesses sociais
da atualidade, sobretudo dadas as evidências de carência de provimento de recursos tecnológicos
com esta finalidade. É fundamental, portanto, que os resultados deste trabalho, tanto em seu caráter investigativo como colaborativo, possa ser colocado integralmente à disposição da comunidade,
não só para sua própria expansão, mas também servindo como fonte de consulta, inspiração e até
mesmo contraposição e debate.
Suporte multi-idioma
É fundamental para a prosperidade deste aplicativo que ele esteja preparado, desde sua concepção, para lidar com múltiplos idiomas, por motivos diversos. O uso de programas em idiomas os
quais o usuário não é familiar pode não ser totalmente inviabilizado quando uma interface gráfica
provê recursos visuais que colaborem com a interação e exploração do usuário; no caso em questão,
porém, é esperado que a relação entre o usuário e o programa se dê unicamente por vias sonoras
e, portanto, o caráter idiomático pode relacionar-se com a experiência de uso em sua totalidade.
Além disso, é desejável também que se disponibilize uma maneira simples para que novos idiomas
sejam adicionados, considerando a possibilidade da participação da comunidade de código aberto
para colaborar com o melhoramento do aplicativo.
Acessibilidade
A navegação pelo programa deve ser concebida priorizando o uso do teclado, considerando que
é o dispositivo que permitirá que cegos e videntes acedam igualmente às funcionalidades do programa. O mouse poderá ser utilizado para melhorar a interatividade de videntes, porém nenhum
recurso do programa deverá ser acessado unicamente por este dispositivo, sem equivalência pelo
teclado. É importante prover também, quando necessário, sinais sonoros além dos produzidos pelo
leitor de tela, que substituam textos inconvenientes (por exemplo, indicar quando o usuário está
no inı́cio ou fim de um compasso, ou indicar quando, na estrutura de navegação, o usuário pode
escrever conteúdo em braille).
14
INTRODUÇÃO
1.8
Capı́tulo 2
A Musicografia Braille
O capı́tulo anterior apresentou uma série de conceitos e algumas direções do interesse comum
social que tratam de educação e acesso à informação como direitos de todos, com enfoque nas
especificidades da deficiência visual. No caso especı́fico dessa pesquisa, a atenção concentra-se nos
problemas enfrentados por deficientes visuais no ambiente de ensino superior de Música, onde
é frequente a necessidade de ler, escrever e compartilhar música e, para tanto, videntes e cegos
utilizam-se de sistemas de grafia diferentes.
A grafia em tinta foi desenvolvida para a visão; a leitura é realizada simultaneamente na horizontal e na vertical. É possı́vel executar um instrumento durante a leitura e até mesmo simultaneamente à primeira leitura de uma obra. Um leitor bem treinado é capaz de antever os próximos
compassos e assim preparar-se mais adequadamente para a execução. É possı́vel alcançar rapidamente qualquer trecho de uma obra extensa buscando visualmente por determinadas estruturas
musicais, e até mesmo verificar contrapontos, imitações, etc.
A musicografia braille, por sua vez, foi desenvolvida para a leitura pelo tato; A leitura é serial
e orientada, sendo realizada da esquerda para a direita, linha por linha (Encelle et al., 2009), sı́mbolo a sı́mbolo, assemelhando-se mais ao modo pelo qual o leitor vidente lê um texto literário do
que a leitura de uma partitura. Embora alguns leitores experientes em braille consigam solfejar ou
mesmo dedilhar um piano simultaneamente à leitura tátil, a execução geralmente é feita mediante
a memorização das obras. A quantidade de páginas de uma obra em braille é consideravelmente
maior do que em tinta. Certas notações utilizam paradigmas diferentes, como por exemplo a grafia
de acordes: um acorde é grafado em braille escrevendo a primeira nota e o número dos intervalos
que compõem o acorde (ex.: Dó - terça - quinta ao invés de Dó - Mi - Sol, como será visto na
seção 2.4). Essa diferença na notação de acordes faz com que a educação musical para deficientes
visuais preocupe-se em apresentar o conceito de intervalos musicais (e toda a teoria correspondente)
antes da leitura de acordes (Bonilha, 2010), o que não é necessariamente um requisito da grafia
visual, que informa claramente as notas que devem ser executadas simultaneamente. Por outro
lado, a transposição de um acorde é bastante simples em braille, bastando alterar a primeira nota
- os intervalos seguirão a ordem; em tinta, seria necessário alterar todas as notas do acorde.
Apesar das dificuldades relacionadas ao uso e ao aprendizado desta grafia, a musicografia braille
preserva-se soberana sobre todas as proposições de grafias alternativas que buscam substituı́-la, e
não por outro motivo senão pela ampla aceitação do código por parte de seus usuários. Este ponto
é bastante relevante como justificativa deste trabalho não se preocupar, em momento algum, em
buscar alternativas mais eficazes ou elegantes para a leitura e escrita tátil; ao invés disso, objetiva
promover o código entre comunidades que se interessem em prover recursos que contribuam para
seu uso e sua difusão.
Este capı́tulo procurará introduzir conceitos fundamentais da musicografia braille, chamando
15
16
A MUSICOGRAFIA BRAILLE
2.2
a atenção do leitor para uma grafia musical essencialmente tátil, baseada em paradigmas muito
diferentes da grafia em tinta, sendo que o processo de conversão entre estas grafias não pode ser
realizado por simples transliteração simbólica. As questões especı́ficas mais marcantes da musicografia braille serão tratadas mais detalhadamente para que posteriormente possa ser discutido o
processo de conversão automática entre as grafias.
2.1
Histórico
Em meados de 1825 foi inventado na França o sistema de leitura tátil por Louis Braille, cuja
visão foi perdida em um acidente aos 3 anos de idade. Este sistema foi baseado originalmente a
partir de uma forma de escrita em relevo criada pelo capitão de artilharia Carlos Barbier de la Serre
(Portal Lerparaver, 2005), cuja intenção inicial era utilizar como uma forma de “escrita noturna”,
para que soldados conseguissem ler instruções em plena escuridão. Desde então, tal sistema tem
sido utilizado universalmente não só para a leitura e escrita literária, mas também adaptado a
outros diversos sistemas de notação especı́ficos, como a grafia musical, matemática, estenografia e
quı́mica. A Musicografia Braille, em particular, originou-se por mérito do próprio Louis Braille; em
1829, em sua obra Procédé pour écrire les paroles, la musique et la plainchant au moyen de points
(Método para escrever as palavras, a música e o cantochão por meio dos pontos) (Tomé, 2003)
Braille traz a público uma forma inédita de leitura e escrita tátil, baseada em conjuntos de seis
pontos dispostos em forma de uma matriz de três linhas e duas colunas denominados celas, a serem
marcados em alto-relevo em papel. Embora o alfabeto proposto por Braille tenha sofrido pouca
alteração desde sua concepção, a escrita musical foi totalmente modificada pelo próprio autor, ao
longo de sua vida, dando finalmente origem às bases que hoje compõem a musicografia braille.
Atualmente, a referência oficial para esta grafia é o Novo Manual Internacional de Musicografia
Braille (União Mundial dos Cegos, 2004), resultado de uma série de estudos e revisões realizados
em congressos organizados por um subcomitê dedicado ao assunto na União Mundial de Cegos
(UMC), na intenção de padronizar e internacionalizar o código. A última versão do manual foi
publicada em 1996 e, segundo o próprio subcomitê de Musicografia Braille, o objetivo do manual é
que “os sı́mbolos e as regras reunidos neste volume, segundo os acordos aceitos pela maioria, sejam
usados com todo o rigor nas transcrições de música em braille”, solicitando aos paı́ses que realizem
a tradução do manual para seu idioma e que usem o mesmo em futuras edições musicais. Ademais,
em caso de dúvidas, a versão original em inglês tem status de autoridade principal (de Souza, 2009).
2.2
A cela e o alfabeto braille
A marcação em papel dos sı́mbolos braille é realizada mediante o uso de certas ferramentas especiais como o reglete, um dispositivo constituı́do de uma placa frisada ou com cavidades circulares
e de uma régua com retângulos vazados (SEE/ME, 2002), que serve de amparo para que os pontos
sejam marcados no papel utilizando o punção 1 . A escrita com o reglete é realizada ao contrário
(da direita para a esquerda e com celas espelhadas), já que o alto-relevo será formado na parte
contrária da folha, exigindo assim alguma prática de quem escreve por meio do aparelho.
A máquina Perkins é uma alternativa mais refinada de escrita em braille; assemelha-se a uma
máquina de escrever, pesa aproximadamente 5kg e possui seis botões para a produção dos pontos
em relevo no papel, além de teclas para avanço e retrocesso do carro e mudança de linha. A máquina Perkins desobriga o usuário de escrever ao contrário, mas é bem mais cara e também menos
1
Punção é o nome do ato (s.f.) e também do instrumento (s.m.).
2.3
A CELA E O ALFABETO BRAILLE
17
portátil que o reglete. Podemos ver, na figura 2.1, as ferramentas acima descritas.
Figura 2.1: Máquina Perkins, reglete e punção - ferramentas da escrita braille.
A “cela braille” é um conjunto de seis posições de pontos, dispostos em três linhas e duas colunas
enumeradas verticalmente de 1 a 6, a serem marcados em alto-relevo no papel. A figura 2.2 mostra
como os pontos são numerados e os dedos responsáveis por marcar cada um deles usando uma
máquina Perkins. O ato de marcar ou não marcar os pontos nessas seis posições é o que origina os
26 = 64 sı́mbolos diferentes (incluindo o vazio, onde nenhum ponto é puncionado) que compõem o
alfabeto braille.
Figura 2.2: Numeração dos pontos em uma cela braille.
Existe uma versão estendida da cela braille que faz uso de oito pontos, aumentando a quantidade
de sı́mbolos distintos para 256. No entanto, o MIMB opta por utilizar apenas celas de seis pontos e, dados os objetivos deste trabalho, não será feita menção futura ao uso de celas de oito pontos.
A figura 2.3 representa o alfabeto braille adotado na grafia portuguesa. As primeiras 10 celas
representam tanto as primeiras letras do alfabeto como os números, e fazem uso apenas dos pontos
superiores – 1, 2, 4 e 5. Os próximos conjuntos de celas são iguais ao primeiro, com a adição do
ponto 3 para o segundo conjunto, 3 e 6 para o terceiro, e do ponto 6 para o quarto. Como pode
ser visto na figura 2.4, a representação das notas musicais faz uso desta mesma organização das celas.
18
2.3
A MUSICOGRAFIA BRAILLE
Sı́mbolos básicos:
com ponto 3:
com ponto 3 e 6:
com ponto 6:
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
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..
..
..
A
1
B
2
C
3
D
4
E
5
F
6
G
7
H
8
I
9
J
0
..
..
..
..
..
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..
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..
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K
L
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X
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..
Â
Ê
Ì
Ô
Ù
À
Ï
Ü
Õ
Ò/W
Figura 2.3: Alfabeto braille utilizado na lı́ngua portuguesa
2.3
Sı́mbolos Indicadores do braille
Os sı́mbolos indicadores aqui descritos referem-se a uma prática comum no braille, não apenas
na musicografia, que diz respeito à promoção de certos sı́mbolos para propósitos especiais. É importante mencioná-los aqui, pois muitas das regras da musicografia braille os utilizam, como será
demonstrado adiante. Para os leitores em tinta, a prática de uso destes sı́mbolos da maneira como
é realizada em braille pode não ser tão óbvia, carecendo assim de esclarecimento.
Os sı́mbolos indicadores têm como função alterar propriedades contextuais, semânticas ou
mesmo tipográficas de um determinado grupo de caracteres, e podem ser classificados de acordo
com sua função no texto.
Indicadores de marcação e terminação
Os sı́mbolos classificados como indicadores de marcação ou composição são aqueles que precedem o conteúdo a ser afetado. Os indicadores de terminação têm como objetivo interromper as
alterações criadas pelos indicadores de marcação. Assemelha-se, num primeiro momento, ao uso
das tags nas linguagens de marcação, como o HTML, onde o conteúdo a ser processado é colocado
entre sı́mbolos especı́ficos. Como exemplo, o seguinte código escrito em HTML:
“Isso é um exemplo de <i>uso de tags</i> na linguagem <b>HTML</b>”
produz o seguinte resultado:
“Isso é um exemplo de uso de tags na linguagem HTML”.
Os indicadores de marcação no braille, no entanto, não possuem necessariamente uma sintaxe
tão clara e formal como na linguagem HTML; essa linguagen de marcação foi desenvolvida originalmente para que fosse a priori processada por computadores, ainda que seja razoavelmente
legı́vel pelo homem. Já no braille, esses indicadores foram idealizados essencialmente para a leitura
e compreensão humana e, nesse caso, a formalidade sintática pode ser entendida como a própria
interpretação do leitor. Isso significa que os indicadores de marcação podem não vir acompanhados
de terminadores2 , dependendo da situação, economizando assim no tamanho do texto e evitando a
leitura desnecessária de sı́mbolos. Certamente o uso destes sinais indicadores de contexto dificultam
expressivamente o aprendizado do sistema braille de forma geral, mas há de se levar em consideração que estes têm como função possibilitar que se faça a representação de uma gama muito grande
de elementos (textuais e não-textuais) utilizando um alfabeto bastante limitado, muitas vezes insuficiente para um determinado propósito. Os exemplos a seguir demonstram o uso destes sinais:
2
de fato há terminadores, seja o inı́cio de outro indicador de marcação, ou mesmo uma quebra de linha, sendo
portanto regido por uma regra geralmente mais complexa do que um caractere ou sı́mbolo dedicado a esse fim. Devese ter em mente que a grafia braille desenvolveu-se como uma linguagem natural para leitura humana; terminadores
como em marcações do HTML são caracterı́sticos de linguagens formais com gramáticas regulares livres de contexto.
2.3
SÍMBOLOS INDICADORES DO BRAILLE
19
Exemplo 1 - Letras maiúsculas e minúsculas: Os sı́mbolos utilizados para grafar letras
são os mesmos para as formas maiúsculas e minúsculas. Por padrão, um sı́mbolo de letra a representa em sua forma minúscula; um indicador de contexto é responsável pela transformação do
sı́mbolo para caixa alta. Conforme a Grafia Braille para a Lı́ngua Portuguesa, “As letras maiúsculas
..
representam-se pelas minúsculas precedidas imediatamente do sinal .. .. (46), com o qual formam
um sı́mbolo composto”. Abaixo, a demonstração completa da regra de emprego de caixa alta:
• Usa-se o sinal de maiúscula
Cascavel”.
..
..
..
..
quando só a primeira letra da palavra for maiúscula – ex:“ .. ..
.. ..
• Usa-se o sinal de maiúscula duas vezes [ .. .. .. .. ] quando todas as letras da palavra forem maiús.. ..
culas – ex. “... no .. .. .. .. BRASIL aconteceu ...”.
..
• Em uma frase que contenha até quatro palavras, todas em maiúscula, usa-se o sinal .. .. duas
.. ..
.. ..
.. ..
vezes antes de cada palavra – ex.: “ .. .. .. .. PROFESSORES .. .. .. .. EXIGEM .. .. .. .. REPOSIÇÃO
.. ..
.. ..
. . . . SALARIAL”.
.. .. ..
• Em frases com cinco ou mais palavras, todas em maiúscula, usa-se os pontos .. .. .. .. .. .. no
..
inı́cio da frase e o sinal de maiúscula .. .. por duas vezes antes da última palavra – ex.:
.. .. ..
.. ..
“ .. .. .. .. .. .. A UNIVERSIDADE ESTÁ OFERECENDO CURSOS PREPARATÓRIOS PARA .. .. .. ..
ESTUDANTES do ensino público.”
Exemplo 2 - Palavras sublinhadas: Para o sinal de grifo (até quatro palavras grifadas),
..
escreve-se o sinal de grifo antecedendo cada uma delas: “O sorriso é o idioma do amor .. .. universal”.
..
Num grupo com mais de cinco palavras grifadas, procede-se assim: escreve-se os pontos .. .. seguidos
..
do sinal de grifo .. .. antes da primeira palavra grifada e novamente o sinal de grifo antes da última
.. ..
..
palavra: “Nós .. .. .. .. envelhecemos porque abandonamos o nosso .. .. ideal”.
Estes marcadores são motivo de especial atenção nos processos de conversão de braille para
tinta. Quando os sı́mbolos terminadores não estão presentes, é necessário avaliar muito detalhadamente a regra de uso, que em alguns casos pode resultar em ambiguidades que deverão ser tratadas
separadamente.
Indicadores de mudança de contexto
Devido à limitação de combinações possı́veis, uma mesma configuração de pontos em uma cela
braille pode ser utilizada para representar vários sı́mbolos, desde que pertençam a contextos semânticos diferentes. As primeiras nove letras do alfabeto, por exemplo, são representadas pelas mesmas
celas que representam os números de 1 a 9, como pode ser visto na figura 2.3. Semelhantemente, os
sı́mbolos para representar as letras entre “d” e “j” são os mesmos que representam as notas de dó a
si, como pode ser visto na figura 2.4. Para permitir a leitura correta dos possı́veis significados dos
sı́mbolos, a grafia braille utiliza os indicadores de mudança de contexto (change-of-semantics
indicators, que indicam o teor do conteúdo que o seguirá. O exemplo mais simples é o de números
..
e letras. Em texto convencional, o caractere .. .. (#) indica que os caracteres seguintes não são mais
letras e sim números (até a ocorrência do próximo espaço em branco). Dessa forma, o texto “CASA
31” seria escrito em braille da seguinte forma:
.. ..
.. ..
.. ..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
| {z } |{z} |{z} |{z} |{z} |{z} |{z} |{z}
maiúsc
C
A
S
A
#
3
1
20
2.4
A MUSICOGRAFIA BRAILLE
..
..
Perceba, no exemplo acima, que os caracteres .. .. e .. .. são utilizados duas vezes, em contextos
diferentes. É possı́vel perceber que a mudança de contextos provocada por sı́mbolos alteradores,
como é o caso dos sinais de número de palavra, não alteram simplesmente a interpretação de
sı́mbolos. Existem outros marcadores e terminadores, também responsáveis pela determinação de
contextos, que são subordinados aos anteriores, os quais fazem sentido apenas no contexto regido
pelo seu antecessor. Assim sendo, o sinal para maiúsculas e minúsculas no contexto numérico não
faz sentido, sendo este um alterador de contexto subordinado ao contexto de palavra, ou literário.
2.4
Elementos musicaisI. SÍMBOLOS BÁSICOS
(Tabela 1)
Esta seção demonstrará de forma resumida os principais sı́mbolos musicais presentes na musicografia braille.
A - Notas e Pausas.
Notas musicais e pausas
A grafia das1-1.
notasOsmusicais
é um
ponto
de partida
para o entendimento
caracteres
que bom
formam
as notas
são constituídos
dos pontos 1, 2,da4 sistematização
da musicografia braille.
primeiro lugar,
é importante
que se
essa
forma de escrita faz uso
e 5Em
e correspondem
às letras
d, e, f, g, h,esclarecer
i, j. Os valores
representam
dos mesmos sı́mbolos usados para escrever números e letras. A grafia mais simples é a das colcheias;
com combinações
dosapontos
e 6, letras
dentrode
da“d”
mesma
braille,
as notas de dó a si seguem
literalmente
ordem3 das
a “j”,célula
usando
apenas os quatro
pontos superiores dasnas
celas.
de as
outras
mı́nimas,
etc.) são idênticas
quaisAs
se notas
escrevem
notas.durações
Os sinais (semı́nimas,
das notas e pausas
represenàs colcheias, com a adição
dos
pontos
inferiores
(3
e/ou
6),
como
pode
ser
visto
na figura 2.3. A
tam sempre dois valores.
tabela 1-A do MIMB é a referência fundamental para toda a musicografia, especificando a grafia
das notas e pausas (figura 2.4).
Símbolos da Tabela 1 A.
Dó Ré Mi Fá Sol Lá
Y z
N o
? :
D e
; <1
<1
&
p
$
F
=
q
]
g
(
R
\
H
!
s
{
i
Si Pausa
)
T
w
J
M
u
V
X
Semibreves e Semicolcheias
Mínimas e Fusas
Semínimas e Semifusas
Colcheias e Quartifusas
Prefixo para semiquartifusas, p. ex., ;<1yz&=, etc.
Separação de valores representados pelo mesmo grupo de
sinais (semibreves e semicolcheias, etc.)
^<1 Valores maiores (semibreve, mínima, semínima e colcheia)
,<1 Valores menores (semicolcheia, fusa, semifusa e quartifusa)
y ^cy Breve, p. ex., z~cz (etc.)
m ~cm Pausa de breve.
Figura 2.4: Tabela 1-A do MIMB: notas musicais e pausas
Alterações
19
Os sı́mbolos de sustenido, bemol ou bequadro são colocados antes das notas, intervalos ou outros
elementos que alteram, podendo separar-se das notas por, no máximo, um sinal de oitava.
A. Alterações
2.4
ELEMENTOS MUSICAIS
Símbolos da Tabela 3A.
21
%
Sustenido
< Bemol
%% Duplo sustenido
<< Duplo bemol
*
Bequadro
,% ,< Alterações
por cima ou por baixo da nota.
Figura 2.5: Alterações
3-1.
Oitavas
Os símbolos de sustenido, bemol e bequadro são colocados antes das
outros elementos
querepresentar
os alteram, tanto
podendo
sepaAnteriormente vimos notas,
como intervalos
um únicoousı́mbolo
é capaz de
a duração
quanto
a altura da nota. Porém,rar-se
essa das
informação
não éum
suficiente
para indicar a qual oitava ela
notas por,sozinha
no máximo,
sinal de oitava.
pertence. Existe então um conjunto de sinais utilizados para este fim, demonstrados na figura 2.6.
O sinal de oitava deve ser colocado imediatamente antes da nota a qual se refere. A primeira nota
3-2. Se no
original
impresso em
alteração
ou notas, as
de uma peça ou parágrafo
deve
ser precedida
detinta
seu aparecer
sinal deuma
oitava.
Parapor
as cima
demais
seguintes regras devem ser
poraplicadas:
baixo da nota, esta alteração será precedida, em braille, do ponto 6.
(a) Se duas notas
intervalo
de segunda
terceira ascendente
descen3-3. formam
O título um
Notação
Moderna
trata dasoualterações
de quarto deoutom.
dente, a segunda delas não leva um sinal de oitava, mesmo se pertencer a uma oitava
Vide 13-16.
diferente da primeira nota.
(b) Caso formem um intervalo de quarta ou quinta ascendente ou descendente, a segunda nota só leva
de oitava
se pertencer
a uma;?
oitava,?
diferente da primeira.
@?sinal ^?
_?
"? .?
(c) Caso formem
um intervalo abaixo
de sexta ou
maior,oitava.
a segunda nota deve levar sempre o
primeira
B.@@{
Armadura“Lá”,
da clave e da
indicações
de compasso
sinal de oitava.
,,? “Dó”, acima da sétima oitava.
3-4.
A armadura da clave reflete o número de alterações, mas não as notas
que as afetam, como ocorre na impressão em tinta. Vide o exemplo 3-8.
28
.. .. ..
.. .. ..
.. .. ..
.. ..
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.. ..
.. ..
.. ..
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.. .. ..
.. .. ..
.. .. ..
Lá0
Dó1
Dó2
Dó3
Dó4
Dó5
Dó6
Dó7
Dó8
{z } | {zde }seu
| {zA primeira
} | {z } |nota
{z } de
| {z
} peça
| ou
{z parágrafo
} | {z }deve
| {zser
} |precedida
1-10.
uma
sinal de oitava. Para as demais notas, devem-se aplicar as seguintes
Figura 2.6: Sinais de oitavas
regras:
(a) Se duas notas formam um intervalo de segunda ou terceira as-
cendente ou descendente, a segunda delas não leva sinal de oitava, mesmo se pertencer a uma oitava diferente da nota anterior.
A notação em braille não utiliza os sı́mbolos de claves para determinar a altura das notas.
Caso possui
formemsinais
um intervalo
de quarta
ou quinta
ascendente oudesses sı́mbolos
Porém, a musicografia(b)braille
de indicação
de clave,
e o conhecimento
descendente, aexata,
segunda
só cego,
leva sinal
de oitava seoriginal
pertencer
oita- Na partitura
se faz necessário para a compreensão
pelo
da partitura
emà tinta.
em tinta, este sı́mbolo é repetido
emdacada
pauta, enquanto que em braille este sı́mbolo só ocorre
va diferente
primeira.
no inı́cio da obra, para
cada
instrumento,
ou
quando
se produz
mudança
de clave.
(c) Caso formem um intervalo
de sexta
ou maior,
a segunda
nota A figura 2.7
mostra alguns sı́mbolos utilizados para representar claves.
deve levar sempre sinal de oitava.
Claves
Estas
regras podem ser observadas no seguinte exemplo do “Cologne
Mão direita 1-11.
e mão
esquerda
Key”, de 1888.
Como já foi dito anteriormente, a indicação de claves não é utilizada no braille. Em uma
Exemplo
1-11. convenciona-se o uso de um sistema de duas pautas, a primeira
partitura para teclado,
por exemplo,
#D4na clave de fá, para a mão esquerda. A leitura a
na clave de sol, para a mão direita, e a segunda
duas mãos em braille,.p:?
porém, não
é feita simultaneamente.
Utiliza-se
{.o?
w.p: N]$
:r]para esse fim um sinal não
existente na musicografia
em
tinta,
que
indica
qual
mão
deverá
tocar
$?.{.? JDeFGHiJ
Nu<k o trecho que o seguirá. Usa-se
.. ..
.. ..
.. ..
.. ..
as celas . . . . para indicar a mão esquerda e . . . . para a mão direita.
II. CLAVES
(Tabela 2)
22
2.4
A MUSICOGRAFIA BRAILLE
Símbolos da Tabela 2.
>/l
Clave de sol na 2a linha.
>/k
Clave de sol na parte da mão esquerda
>#l
Clave de fá na 4a linha.
>#k
Clave de fá na parte da mão direita.
>+l
Clave de “dó” na 3a; clave para viola e para
as notas agudas de instrumentos graves.
Figura
2.7: Representação
em“dó”
braille
sı́mbolos
de clave
a
>+"l
Clave de
na 4dos
linha;
clave para
tenor.
>/l#H
Grupos rı́tmicos
Clave de “sol” com um 8 por cima.
O agrupamento de notas ocorre na notação musical em tinta ligando notas de curta duração
(colcheias, semicolcheias e>/l#8
inferiores) comClave
umadeou“sol”
mais
horizontais.
Este agrupamento aucombarras
um 8 por
baixo.
xilia a leitura criando uma subdivisão rı́tmica do compasso. Existe uma forma de se criar grupos
rı́tmicos também em braille, porém a maior importância de usá-los é facilitar a punção dos pontos.
Além disso, tal recurso também é fundamental por permitir uma transcrição sem perdas entre as
2-1. Embora os sinais de clave não determinem a altura das notas, ao congrafias.
trário do que ocorre na impressão convencional, o conhecimento
O agrupamento rı́tmico
feitoé essencial
escrevendo
primeira nota
sua
forma
própria e as demais
dessesésinais
para a compreensão
exata,em
pelo
cego,
da parnotas agrupadas como titura
colcheias.
Dessa
forma,
a
sequência
de
semicolcheias
impressa. Na. . impressão
a tinta, o sinal de clave aparece no co-dó, ré, mi, fá, sol,
.. .. .. ..
.. .. ..
.. .. .. ..
.. .. .. ..
lá, si, dó é escrita como
.. ..
. . . . . . . na forma desagrupada, e pode ser escrita como
meço. . de. . cada
um .dos
pentagramas, enquanto que em braille, quando
.. .. .. .. .. .. .. ..
.. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . . . . . . . . . na forma agrupada em dois grupos de quatro semicolcheias.
25 até o moA figura 2.8 demonstra o emprego de alguns dos elementos musicais apresentados
mento.
Î 44
.. .. ..
.. .. ..
.. .. ..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
| {z } |{z} |{z} |{z} |{z} |{z} |{z}
Clave de sol
]
8a (3) Dó
ˇ“
8a (4) Lá
ˇ“
Dó
˘“
Figura 2.8: Representação em braille de um compasso.
Acordes e intervalos
Para escrever acordes e intervalos, escreve-se a primeira nota em sua forma habitual e as demais utilizando os sinais de intervalo representados na figura 2.9. Para instrumentos no registro
agudo, escreve-se a nota mais aguda e as demais como intervalos descendentes; para instrumentos
no registro grave, escreve-se primeiro a mais grave e as demais como intervalos ascendentes. Vale
também comentar que alterações são indicadas antes do sinal do intervalo correspondente.
A. Intervalos.
2.4
ELEMENTOS MUSICAIS
Símbolos da Tabela 5 A.
/
+
#
9
5-1.
Segunda
Terceira
Quarta
0
3
-
23
Sexta
Sétima
Oitava
Quinta
Figura 2.9: Sinais de Intervalo
“Nos acordes formados por notas do mesmo valor escreve-se apenas
uma delas em braille, na sua forma habitual (a mais aguda ou a mais
Em Acorde
grave). As demais são escritas mediante os sinais de intervalo corres-
A maneira que a musicografiapondentes,
braille usa
com para
relaçãorepresentar
à nota escrita.vozes simultâneas em um mesmo
pentagrama é escrevendo-as sucessivamente
unidas
pelo sinal
chamado
em acorde:
“Nos acordesno
docompasso
registro agudo
(soprano,
contralto,
violino,de
viola,
.. ..
.. ..
. . . . . A ordem de leitura é a mesma dos intervalos: escreve-se primeiro as vozes mais agudas para
mão direita do piano, órgão e harpa...) escreve-se a nota mais aguda,
instrumentos de registro agudo (onde a ordem dos intervalos é descendente) e o oposto para os
representando-se as restantes mediante intervalos descendentes relainstrumentos de registro grave, conforme indicado no exemplo 2.10.
.. ..
tivos à nota
escrita.
No registro
(tenor,
baixo, violoncelo,
Quando apenas uma fração do compasso
deve
receber
o em grave
acorde,
emprega-se
então omão
sinal .. .. .. ..
.
.
piano... ...e ...harpa...)
escreve-se a nota mais grave, represen. deverá preceder o trecho onde será iniciada a
para indicar a próxima voz. Nesteesquerda
caso, odo
sinal
tando-se as demais mediante intervalos ascendentes relativos à referisegunda voz.
(b)
da nota.”
%#c4
_>_o'<>_{+\<+*]+
_R'<+<k
dres, 1888.)
(Musical Notation for the Blind, British and Foreign Blind Assoc., Lon-
5-2.
O trecho supramencionado, extraído do documento conhecido como
“Cologne Key”, estabelecia as normas para a leitura e escrita dos acor-
2.10:
Emprego
do “Em
Acorde” permite-se o uso
5-14. Desde que aFigura
clareza da
escrita
não fique
prejudicada,
36
da duplicação de intervalos em um compasso com em acordes, com a
condição de que esta continue no mesmo em acorde do compasso ou
Ligaduras de Expressão
compassos seguintes.
Na musicografia Braille, o uso de ligaduras de expressão em um grupo grande de notas é realizada mediante o Exemplo
uso de 5-14.
indicadores de contexto. O capı́tulo VI do Manual Internacional de
Musicografia Braille trata do uso de ligaduras da seguinte maneira: para até quatro notas ou acor..
des ligados, utiliza-se o sinal .. .. colocado
depois de cada nota, salvo na última (como na figura
#e%#c4
2.11). Quando uma ligadura contém mais de quatro notas, pode ser transcrita em braille de duas
_>_o'@c<>"?'++J*{
maneiras apresentadas
pela figura
2.12: um máximo de qua6-2. O abaixo
sinal
ceérepresentadas
usado para ligaduras
que englobem
..
..
_o'<>_{'Hw+<k
(a) O sinal . . se duplica
depoisÉda
primeira
notadee se
repete
forma
simples, depois da penúltima.
tro
notas.
colocado
depois
cada
nota,na
salvo
na última.
.. ..
.. ..
.. ..
.. ..
(b) Coloca-se o sinal . . . . antes da primeira nota e o sinal . . . . depois da última.
Exemplo 6-2.
#c4
X"HcFXX.Dc <JciX.gcec*Jc ?u<k
5-15. As alterações escritas antes de um sinal de em acorde não afetam as
notas escritas depois do referido sinal. A maioria dos países considera
que as alterações devam voltar a ser escritas depois do em acorde e
precedidas
ponto contém
5, quando
a alteração
nãoquatro
figurar
noser
original
6-3. ser
Quando
umado
ligadura
mais
de quatro
pode
transFigura
2.11:
Uso do sinal
de ligadura
para aténotas,
notas.
em
tinta.
crita em braille de duas maneiras:
Exemplo
5-15. c se duplica depois da primeira nota e se repete na
(a) O sinal
42
forma simples, depois da penúltima, tal como aparece no exemplo 6-3 (a).
(b) Coloca-se o sinal
;b antes da primeira nota e o sinal ^2
depois da última, tal como aparece no exemplo 6-3 (b).
;b antes da primeira nota e o sinal ^2
(b) Coloca-se o sinal
depois da última, tal como aparece no exemplo 6-3 (b).
24
A MUSICOGRAFIA
BRAILLE
Exemplo
6-3.
2.4
(a)
#b4
"\cciJ ?eF ]Fe $cDX<k
(b)
#b4
Exemplo
9-20. ]Fe $D^2X<k
;b"\iJ
?eF
Figura 2.12: Duas9-21.
opçõesOde
sinais
para ligaduras
envolvendo
de quatro parciais
notas. requer
uso
das ligaduras
combinadas
commais
as repetições
50
certo cuidado. Os exemplos seguintes devem ser estudados com mui-
Repetições
ta atenção.
O capı́tulo 9 do MIMB trata da representação das repetições musicais em braille. Além de
contemplar os sinais de repetição existentes na musicografia em tinta, como pontos de repetição,
9-22. O uso de uma repetição no segundo e quarto tempos do exemplo
“casa 1” e “casa 2”, dal segno / coda, etc., existem sı́mbolos que são próprios da musicografia braille
seguinte
proporcionado ao leitor uma informação incorreta sopara poupar espaço e facilitar a leitura
e ateria
memorização.
bre as ligaduras.
..
..
O sinal . . é um sı́mbolo de repetição
equivalência na forma impressa em tinta. Neste caso,
Exemplosem
9-22.
o aparecimento deste sı́mbolo pede ao leitor para repetir a parte que o antecedeu, desde algum
ponto que eventualmente pode transcender os limites do compasso em questão. Embora sua regra
não seja tão simples, exigindo do leitor boa intuição e alguma formação musical, este sı́mbolo pode
economizar muito na digitação das celas e até mesmo na quantidade de papel utilizado para impressão, em determinados casos.
Existem os casos de “repetição
parcial”,
onde
uma ser
fração
do quando
compasso
deve ser
repetida
dentro
9-23. As
repetições
podem
usadas
a ligadura
aparece
como
no
dele mesmo. Para tanto, essa repetição
parcial
deve obedecer a algumas regras: não deve ser usada
exemplo
seguinte.
no inı́cio do compasso nem no começo de uma nova linha em braille. Além disso, o uso das ligaduras
Exemplo
9-23.cuidado. O exemplo da figura 2.13 demonstra o uso
combinadas com as repetições parciais
requer
de repetições dentro de um compasso:
.. .. .. ..
.. .. .. ..
.. .. .. ..
|
{z
4
4
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
..
.. ..
.. ..
..
. . duas
..
..
..
.se
. representar
..
..
.. ..
Há
a. .ligadura
comprida.
} 9-24.
|{z} |{z}
|{z} maneiras
|{z} |{z}de|{z}
|{z} |{z} |{z}
| {zexpressiva
}
a
rep.
rep.
8
Mi
lig. serSol
Fá o devido
lig.
Solcuidadobarra
Devem
usadas com
paradupla
que as repetições fi-
quemExemplo
claras. de repetição parcial em braille
Figura 2.13:
Quiálteras
78
As quiálteras são representadas em sua maioria por indicadores de marcação sem terminação,
..
a não ser as tercinas que podem ser escritas entre os sı́mbolos .. .. , como é demonstrado na figura
2.14. Essa escrita simplificada de tercina é mais comum, sendo a segunda forma (de três celas
combinadas) utilizada num segundo nı́vel de agrupamento, estando dentro de outra tercina ou
mesmo de outros grupos rı́tmicos. Quando a partitura é composta de um trecho longo de quiálteras,
dos grupos de tercinas e de sestinas, etc. Em braille, estes números
precedem a primeira nota do grupo e são escritos na parte baixa da
2.5
cela braille, precedidos dos pontos 456 e seguidos do ponto 3. Exce25
ção: o primeiro sinal de grupo de tercinas.
USO DE INDICADORES NO CONTEXTO DA MUSICOGRAFIA BRAILLE
é possı́vel escrever o sinal de agrupamento duas vezes seguidas, indicando continuidade na aplicação
Símbolos da Tabela 4.
da alteração rı́tmica.
_2'
2
_3'
_6'
_10'
Grupo de duinas
Grupo de tercinas
Grupo de tercinas
Grupo de sestina
Grupo de dez notas
Figura 2.14: Tabela de sı́mbolos para quiálteras
4-10. Há duas maneiras de se escrever o sinal de grupo de tercinas. O sinal
de uma cela braille apenas é o mais usado. Usa-se o sinal de três celas
2.5
braille para escrever um grupo de tercinas, dentro de outra tercina; é
Uso de indicadores no contexto da musicografia braille
preferível também empregá-lo para grupo de tercinas que apareçam
É possı́vel encontrar, tanto em mesclados
um texto acomo
emgrupos
uma partitura
emcomo
braille,
aninhamentos
de
outros
rítmicos, tais
grupo
de duinas, de
indicadores de marcação, terminação
e
alteração
semântica,
exigindo
uma
sistemática
de
leitura
sestinas, etc.
diferente, onde iniciar a leitura de um ponto qualquer de uma página pode não ser possı́vel, já
Exemplodo
4-10.
que pode ser necessário ter conhecimento
conteúdo anterior para que haja o entendimento do
significado dos sı́mbolos a partir daquele ponto.
.c .?2FgH2g_3'&=&e?<k
Na musicografia braille também verificam-se casos onde a ambiguidade de sinais se dá dentro
..
do mesmo grupo semântico. A própria grafia das notas musicais é feita sob essa ótica: o sı́mbolo .. .. ,
por exemplo, é usado para representar uma nota dó tanto em semicolcheia como em semibreve, e o
..
sı́mbolo .. .. representa uma nota dó mı́nima ou fusa (ver figura 2.4. Embora existam sı́mbolos que
.. .. ..
garantam a desambiguação (a sequência .. .. .. .. .. .. indica os valores maiores – semibreves, mı́nimas,
.. .. ..
semı́nimas e colcheias, enquanto que a sequência .. .. .. .. .. .. indica os valores menores – semicolcheias,
34
fusas, semifusas e quartifusas)
eles só são obrigatórios quando a soma das durações das notas em um
compasso cria mais de uma situação possı́vel ou quando notas com mesma representação são dispostas consecutivamente, como por exemplo uma semı́nima seguida de uma semifusa. Para o caso
de duas notas de duração diferente representadas pela mesma cela braille, particularmente quando
é sabido pelo leitor o valor da primeira, pode-se também usar o sinal de separação de valores,
que não indica que a próxima nota pertence ao grupo de valores maiores ou menores, mas sim que
pertence ao grupo oposto ao da nota anterior. Na regra 1-4 (União Mundial dos Cegos, 2004) temos:
Quando em um compasso não seja possı́vel determinar com precisão o valor de uma
nota ou pausa, recorre-se ou ao sinal de separação de valores ou aos sinais de valor
maior ou menor, conforme o caso.
A interpretação do código torna-se ainda mais complicada com certas regras adicionais, como as de
agrupamento de notas, já descritas anteriormente. Uma pessoa que esteja lendo uma determinada
sentença consegue entender com alguma facilidade que aquilo representa um agrupamento de notas
ou colcheias, pois essa pessoa faz uso de toda uma experiência com a obra que está sendo lida (ou
até mesmo por experiências mais amplas, como do estilo musical) que lhe permite descartar rapidamente interpretações errôneas. A leitura por computadores, porém, requer uma outra abordagem,
que será apresentada na seção 4.5.
É importante para o processo de tradução automática das linguagens musicais aqui envolvidas
que estes indicadores de mudança sejam entendidos de maneira sistemática. A figura 2.15 mostra
um esquema das formas mais recorrentes na musicografia braille. Considere os triângulos pretos
como sendo um desses indicadores, ou seja, um sı́mbolo composto de uma ou mais celas que tem
26
A MUSICOGRAFIA BRAILLE
2.5
Figura 2.15: Esquema dos principais indicadores de mudanças na musicografia braille
capacidade de alterar propriedades de outros sı́mbolos. Os quadrados de cor cinza são os sı́mbolos
afetados por estes últimos, ou seja, são aqueles que tiveram alguma de suas propriedades alteradas;
quadrados com textura são os que sofreram alteração, porém não a mesma dos indicados por
quadrados cinza. Quadrados brancos representam sı́mbolos que não sofreram nenhuma alteração.
1. Nessa primeira forma, o indicador de mudança age tão somente sobre o sı́mbolo que o sucede.
É facilmente encontrada na indicação de acidentes ocorrentes, por exemplo.
2. Nessa segunda forma, o indicador de mudança age sobre o sı́mbolo que o precede. Sı́mbolos
de notas pontuadas podem ser entendidos como indicadores deste caso, bem como os sinais
de digitação, onde a indicação de dedo é disposta imediatamente após a nota à qual se refere.
3. No terceiro caso, o indicador de mudança age sobre todos os sı́mbolos que o sucedem até
que um outro indicador de mesmo contexto ou teor reivindique outra mudança. É o caso,
por exemplo, dos sinais de mudança de oitava. A alternância de linhas melódicas e linhas
vocais (com letras) também ocorre por meio de indicadores deste tipo. As barras de divisão
de compasso (incluindo a simples, representada por um espaço em branco) também podem
ser entendidas por este caso.
4. Este quarto caso expressa um comportamento de bloco, onde os sı́mbolos sujeitos à alteração
são dispostos entre dois sı́mbolos iguais, que definem a mudança a ser efetuada. É o caso, por
exemplo, de blocos de texto (palavras ou frases) dispostos no meio do conteúdo musical.
5. Neste último caso, o sı́mbolo modificador é repetido duas vezes e modifica todos os sı́mbolos
vindouros até que o sı́mbolo modificador apareça mais uma vez, sinalizando que a alteração
se encerra necessariamente no próximo sı́mbolo. Encelle et. al. (Encelle et al., 2009) define
este caso como uma caracterı́stica bastante particular da musicografia braille, com potencial
para economia de sı́mbolos. É encontrado com frequência em repetições de intervalos, como
por exemplo em uma frase melódica com terças dobradas.
O sı́mbolo de ligadura assume o comportamento definido em (1) quando atua como ligadura de
expressão entre duas notas de mesma altura, e assume o comportamento definido em (5) quando
atua como ligadura de fraseado para quatro ou mais notas. Esta mesma ligadura, porém, pode ser
representada por um sı́mbolo que assume o comportamento indicado em (4). Esses casos estão ilustrados nas figuras 2.11 e 2.12. Outro caso onde há ocorrência destes mesmos três comportamentos
é o das alteração de maiúsculas e minúsculas em texto literário, conforme foi apresentado na seção
2.3, onde este conceito foi introduzido.
Os exemplos referidos acima mostram que, a partir dessa sistematização, não há uma separação
real do que são elementos musicais e o que são alteradores de propriedades dos mesmos; os sı́mbolos
2.9
AGRUPAMENTOS DE SÍMBOLOS
27
que alteram propriedades podem também ser, ao mesmo tempo, elementos musicais. De fato, é
necessário entender cada sı́mbolo musical em braille sob estes aspectos: o que o sı́mbolo representa,
quais são suas propriedades inerentes e qual é a sua atuação em relação aos outros sı́mbolos que o
precedem ou sucedem. Este pensamento é particularmente importante para definir o processo de
tradução das linguagens em etapas, baseando-se nas hierarquias e na interdependência dos sı́mbolos
de forma geral.
2.6
Agrupamentos de sı́mbolos
Uma questão importante a ser abordada é a quantidade de celas braille necessárias para representar um sı́mbolo ou uma informação grafada originalmente em tinta. Existem casos onde
há uma correspondência quantitativa direta (cada algarismo numérico é representado por uma
única cela, por exemplo), mas excetuando-se tais situações ainda existem casos onde várias celas são recrutadas para representar um único sı́mbolo e casos onde uma cela é responsável por
um conjunto de informações, como pode ser percebido logo na primeira tabela de notas e pausas
(União Mundial dos Cegos, 2004): uma cela é responsável por representar tanto a altura (dó, ré,
mi, fá...) como a duração (colcheia, semicolcheia, mı́nima, semı́nima, breve...) das notas; porém, a
cela em si não informa a qual oitava aquela nota pertence, necessitando assim ser precedida de uma
cela que a posicione na oitava correta. Desta forma, evidencia-se que o processo de tradução entre
as linguagens musicais aqui envolvidas não pode ser realizado por meio de mera transliteração de
caracteres.
2.7
Aspectos regionais
A escrita literária em braille está sujeita a variações regionais, criadas para resolver questões
idiomáticas de cada paı́s ou região, principalmente no que diz respeito a variações entre os alfabetos e contrações próprias dos idiomas. Também é importante notar que algumas regiões adotam
preferencialmente a grafia com oito pontos por cela ao invés de seis. A Musicografia Braille, no
entanto, preza pela universalização do código, que foi desenvolvido de forma colaborativa por representantes de diversos paı́ses. Por conta disso, o MIMB recomenda que as contrações literárias
não sejam utilizadas, dado que elas variam de acordo com cada região. Também recomenda-se que,
no inı́cio de cada obra, sejam apresentados e descritos eventuais caracteres acentuados que sejam
particulares do idioma em questão, já que as celas que os representam podem ser utilizadas, em
algum outro idioma, para representar um caractere diferente.
2.8
Linhas vocais
Linhas vocais contêm o texto a ser cantado separadamente da melodia à qual faz referência.
A linha de texto vocal deve ser escrita alternadamente com a sua linha melódica, com indentação
extra de dois espaços no inı́cio de cada bloco. Diferentemente da linha melódica, a linha vocal não é
dividida por compassos; cada linha vocal deve conter exatamente o texto que compreende os compassos da linha melódica do mesmo bloco. Por padrão, a divisão silábica das palavras acompanha
as mudanças de notas, salvo quando ligaduras (na linha vocal ou na linha melódica) modifiquem a
relação entre notas e sı́labas. Como dito anteriormente, o MIMB recomenda que não se utilize as
contrações do braille literário por questões de universalização do código; neste caso em particular,
solicita-se adicionalmente não fazer uso de contrações por conta da importância da clareza na escrita quanto às divisões silábicas. A figura 2.16 ilustra o paralelismo entre as linhas vocais de texto
e melódica.
28
A MUSICOGRAFIA BRAILLE
2.9
Figura 2.16: Linha vocal acompanhando linha melódica
2.9
Diagramação e formatação da partitura em braille
A disposição das informação musical em uma partitura em tinta permite que o músico vidente
seja capaz de ler vários pentagramas simultâneos; Esta é uma necessidade frequente, sobretudo
quando trata-se de música para teclados, com pentagramas separados para cada mão (ocasionalmente para os pés, no caso do órgão) ou de música vocal, onde a letra da música acompanha uma
melodia.
A leitura em braille, porém, faz uso de um ou dois dedos no máximo, de forma que o acesso
simultâneo à informação não é muito abrangente, embora ainda assim seja bastante desejado. A
versão em inglês do MIMB versa sobre algumas possibilidades de formatação do documento para
que, ainda que leitura paralela não seja totalmente eficiente, o leitor possa ter um padrão de
organização de forma a poder criar uma sistemática de leitura adequada para sua necessidade.
Nesta versão do manual, podemos destacar os seguintes formatos:
Compasso sobre compasso (Bar over bar )
Neste formato, duas ou mais linhas são agrupadas e definidas como “paralelas”. As linhas que
compõem tal agrupamento seguirão juntas, dispostas uma abaixo da outra, por um número prédefinido de compassos. O exemplo da figura 2.17 mostra uma partitura para piano de cinco compassos, onde a versão em braille está no formato compasso sobre compasso. No topo da partitura
está a fórmula de compasso (1) indicando compasso de 2/2. No inı́cio de cada bloco das paralelas há
um indicador da numeração do compasso (2); neste caso em particular, o primeiro número indica
..
zero ( .. .. ), pois a música inicia-se em anacruse. O próximo indicador é representado por duas celas
.. ..
( .. .. .. .. ), e refere-se ao remanescente do compasso 3, iniciado no primeiro bloco.
Quanto à distribuição dos sı́mbolos neste formato, é importante também notar outros aspectos:
• A fórmula de compasso é posicionada no começo do conteúdo e no meio da página.
2.9
DIAGRAMAÇÃO E FORMATAÇÃO DA PARTITURA EM BRAILLE
29
• Contam-se alguns poucos espaços distantes da margem esquerda da partitura, destinados
para uso apenas dos indicadores de numeração de compasso.
• Em partituras para teclado, as linhas devem ser iniciadas com as indicações de mão.
• Os blocos de cada compasso devem ser alinhados verticalmente, de forma que os compassos
de mesmo número das linhas paralelas tenham o mesmo tamanho (o tamanho do compasso
mais extenso); essa “espera” poderá ser grafada com espaços em branco desde que não exceda
o máximo de seis espaços, e acima desta quantidade deve-se usar, ao invés do espaço em
..
branco, uma sequência de celas com o ponto 3 ( .. .. ), como ilustra a figura 2.18.
Figura 2.17: Leiaute no formato compasso sobre compasso
Figura 2.18: Separação de compassos pelo ponto 3
Linha sobre linha (line over line)
Este método difere-se do método compasso sobre compasso apenas em três aspectos:
1. A regra de alinhamento vertical dos compasssos não é aplicada
2. Não é necessário colocar marcas de oitava no inı́cio de cada compasso
3. A regularidade das paralelas pode ser interrompida quando um bloco possua indicações de
repetições ou pausas correspondendo a mais de uma linha de música.
30
A MUSICOGRAFIA BRAILLE
2.9
Este método é exemplificado nas figuras 2.19 e 2.20. Na primeira figura, as linhas desenhadas
sobre o trecho em braille evidenciam a irregularidade no inı́cio dos compassos. Na segunda figura
temos um trecho um pouco maior, onde percebe-se que todo o primeiro conjunto de linhas (destacado com a cor vermelha) refere-se aos compassos unicamente do pentagrama marcado com clave de
sol (em braille, identificado pelo sinal de mão direita); o segundo trecho, destacado com a cor azul,
representa os compassos do pentagrama com clave de fá, onde ocorre um ostinato, o qual na representação em braille, por conta de sı́mbolos que determinam a repetição do trecho, acaba tornando-se
extremamente econômico. Neste caso em particular percebemos que este método de diagramação,
dada a grande diferença de tamanho dos blocos, representa o trecho de forma mais econômica do
que no formato compasso sobre compasso, onde haveria a necessidade de reproduzir por notas todo
o ostinato e utilizar muitos trechos de espera para sincronizar verticalmente o inı́cio dos compassos.
É também interessante perceber que este método permite que uma pessoa, utilizando a máquina
Perkins, escreva um trecho musical com maior fluência do que se precisar concentrar-se com a contagem prévia da quantidade de celas envolvidas em todas as linhas para um determinado compasso.
Figura 2.19: Método linha sobre linha: irregularidade no inı́cio dos compassos.
Seção por seção (section by section)
Neste método de diagramação, as partes (de mão direita, de mão esquerda, pedais) são dispostos sequencialmente para um número arbitrário de compassos. O sinal de indicação de mão deverá
situar-se à esquerda do inı́cio de cada parte; linhas subsequentes da mesma parte deverão sofrer
indentação de dois espaços, mantendo alinhamento com o inı́cio do conteúdo musical da primeira
linha, conforme ilustra a figura 2.21.
Se os compassos, na versão em tinta da partitura, forem numerados, esses números devem ser
reproduzidos entre os compassos, separados dos mesmos com um espaço em branco de cada lado.
Antes do inı́cio de cada seção deverá haver uma linha de cabeçalho informando o número desta
seção, quais os compassos nela representados, o número da página e o número dos pentagramas
(na versão em tinta) aos quais a seção faz referência.
Segundo Bonilha (2005), neste formato cabe ao transcritor decidir o número de compassos de
cada seção. O tamanho de cada uma delas varia conforme o critério estabelecido pelo profissional.
Ele necessita analisar a peça, do ponto de vista de sua estrutura, no intuito de dividi-la adequadamente. A autora ainda fala da conveniência deste formato quanto à economia de papel, embora
nele também seja mais difı́cil localizar rapidamente compassos por sua numeração.
Partitura vertical (vertical score)
Neste método, a partitura completa é representada verticalmente utilizando sinais de intervalos
e “em-acordes”, sendo a música lida sempre a partir das partes graves para as agudas. Este método
2.10
CONCLUSÃO DO CAPÍTULO
31
Figura 2.20: Método linha sobre linha: as linhas de um bloco podem ter tamanhos diferentes.
assemelha-se à redução de uma partitura em tinta, sendo útil para a compreensão harmônica de
uma peça polifônica, sendo também usada para acompanhamento ao piano de peças para canto
coral. Na figura 2.22 temos um excerto musical escrito utilizando este método. As duas versões
estão divididas em três blocos, por onde é possı́vel perceber que ambas as claves da versão em tinta
estão sendo representadas, na versão em braille, em uma mesma linha.
2.10
Conclusão do capı́tulo
Este capı́tulo teve como objetivo principal introduzir o leitor às especificidades da musicografia
braille, procurando mostrar elementos caracterı́sticos desta linguagem, bem como os sı́mbolos de seu
alfabeto, buscando relacioná-los com a linguagem musical escrita tradicional. Também foi objetivo
buscar uma abordagem sistemática para entender os indicadores de mudanças (de contexto e de
valores) e sua relação com os próprios elementos musicais.
32
A MUSICOGRAFIA BRAILLE
Figura 2.21: Método seção por seção
Figura 2.22: Método partitura vertical
2.10
Capı́tulo 3
Arquitetura do aplicativo
O presente capı́tulo apresenta a arquitetura do aplicativo, detalhando os procedimentos adotados e os componentes utilizados para sua concepção, baseado nos requisitos iniciais. Serão investigados estudos anteriormente publicados que tratam do desenvolvimento de aplicativos para
notação musical, buscando adaptá-los às necessidades especı́ficas do objeto de estudo em questão.
A linguagem escolhida para desenvolvimento foi o Java, inicialmente por questões de portabilidade. Ademais, a comunidade de desenvolvedores adeptos à linguagem e ao conceito de software
livre é grande, facilitando assim qualquer futuro manuseio do aplicativo. Durante o desenvolvimento, porém, verificou-se certas peculiaridades com relação a essa linguagem no que diz respeito
à criação de interface gráfica acessı́vel, conforme será detalhado na seção 3.1.
3.1
Interface do Usuário e Acessibilidade
Leitores de tela e interfaces gráficas em Java
A interface gráfica é um objeto de estudo bastante peculiar neste trabalho. Embora o caráter
estético do programa desenvolvido não seja a principal preocupação, a interface gráfica acaba sendo
um problema bastante maior do que o esperado. Num primeiro instante, este problema está relacionado não à apresentação do conteúdo em si, mas à interpretação do que é efetivamente exibido
em tela e o que é transmitido ao usuário cego por meio dos programas auxiliares leitores de tela.
Isso ocorre porque o programa leitor de tela, sem perda de generalidade, é reativo unicamente às
informações produzidas em tela, não sendo possı́vel enviar ao mesmo solicitações de fala por outras
vias mais diretas. Durante o desenvolvimento do Delius, muitas dificuldades foram encontradas
com relação a este tópico, que serão pormenorizadas nesta seção.
Os programas de leitura de tela trabalham, via de regra, em baixo nı́vel, interceptando o teclado e a informação que é produzida originariamente para os dispositivos gráficos, reproduzindo
tais informações em áudio a partir de heurı́sticas próprias do aplicativo; são preparados para entender os componentes comuns das interfaces gráficas (botões, listas, campos de texto, etiquetas)
e produzir com isso uma resposta sonora que possa prover a devida assistência, informando qual
o tipo do componente de tela que está em foco e também sobre seu mecanismo de uso. Isso significa que programas que utilizam componentes de tela comuns e uma navegação coerente entre
eles por comandos de teclado geralmente obtêm bons resultados de interpretação por parte destes
programas. Para o desenvolvimento de componentes personalizados, porém, é necessário que se
implemente métodos descritivos através de interfaces adequadas, mas na prática isso não garante
que o resultado será sempre satisfatório, por conta dos motivos apresentados a seguir.
Em primeiro lugar, não há um modo único de produzir uma janela em tela - e, como dito acima,
33
34
ARQUITETURA DO APLICATIVO
3.1
leitores de tela dependem da produção das janelas para terem algo de onde extrair informações.
Entre outros, destaca-se no Java as interfaces gráficas AWT, Swing e SWT, todas elas com objetos
e propriedades particulares – e para cada caso, os leitores de tela devem dispor de rotinas especı́ficas
de interpretação.
Em segundo lugar, existe uma variedade de programas leitores de tela e não necessariamente
eles funcionam em mais de um sistema operacional. Nos sistemas baseados em Linux o leitor de tela
mais comumente utilizado é o ORCA. No Windows, porém, os usuários dividem-se entre alguns
principais leitores como o JAWS, o Virtual Vision e o NVDA, sendo apenas este último gratuito.
Os problemas aqui apresentados têm sido importantes não só para a escolha da interface gráfica
mais adequada para utilização pelo Delius como também para levantar a seguinte questão: “o que
há, atualmente, que estabeleça uma relação entre programas e usuários, que não dependa exclusivamente da concepção gráfica da informação?” ou, sob outra ótica, “por que os programas leitores
de tela são efetivamente leitores de tela, havendo portanto uma dependência hierárquica do que é
produzido em tela e, portanto, não se dando equivalente importância às diversas formas de saı́da
da informação?”.
De fato, estudos recentes buscam soluções mais elegantes do que a mera tradução do conteúdo
visual em tela para áudio. Os projetos GUIB e Mercator (Mynatt e Weber, 1994), por exemplo,
adotam como caminho a reinterpretação dos controles gráficos para produção de uma interface
não-gráfica. O projeto GUIB (Textual and Graphical User Interfaces for Blind People) se propõe a
converter o resultado gráfico em telas produzidas pelo MS-Windows e X Windows em um dispositivo tátil, reproduzindo fisicamente o posicionamento espacial dos elementos da interface gráfica. O
projeto Mercator faz uso de uma abordagem diferente, não exigindo dispositivos fı́sicos especı́ficos,
apenas reinterpretando os controles e criando uma nova interface baseada em áudio para interação com o usuário; todo o controle de navegação e hierarquias entre os componentes é mediado
pela ferramenta. Ambos os projetos, embora bastante diferentes, atualmente compartilham dos
mesmos desafios, como garantir coerência e equivalência entre as interfaces gráficas e não-gráficas.
Van Hees e Engelen (2010) propõe o conceito de interfaces abstratas, que possam ser renderizadas
pelos toolkits de produção de telas (GTK+, ATK, etc) e paralelamente possam ser tratados de
maneira diferente por interpretadores sonoros ou táteis. Tais projetos podem, futuramente, criar
uma forma de se produzir interfaces acessı́veis de forma mais definitiva e sensata.
Segundo Andrews (2010), o Swing é o renderizador gráfico mais preparado para a concepção
de interfaces acessı́veis. Esta ainda diz que os procedimentos principais para estabelecer uma comunicação com os leitores de tela são, em primeiro lugar, criar classes que extendam as classes
JFrame e JPanel implementando, adicionalmente, a interface Accessible do Java Accessibility
API (Sun Microsystems Inc). Após isso, configura-se os parâmetros disponı́veis na propriedade
AccessibleContext destas classes. Para que a informação alcance o leitor de tela, porém, é necessário que cada sistema operacional esteja preparado de algum modo para recebê-la do Swing.
No caso dos sistemas operacionais da famı́lia Windows, a Oracle exige a instalação do componente
“Java Access Bridge” que é responsável por interceptar, em um nı́vel mais baixo, as ações do usuário e orquestrá-las juntamente com o programa de leitura de tela que estiver em uso. O Swing, no
entanto, é apenas uma das ferramentas de produção de interfaces disponı́veis no Java, dividindo
espaço também com o SWT e o AWT, entre alguns outros menos expressivos.
O recurso gráfico SWT foi originalmente concebido pela IBM e hoje em dia é mantido pelo
projeto Eclipse. Ele utiliza o GTK+ para produção visual da tela. Por padrão, ele produz janelas
com o mesmo visual e comportamento das outras janelas de cada sistema operacional, pois interage
diretamente com este para solicitar as renderizações. Em testes preliminares, esta interação direta
mostrou-se vantajosa e as telas foram lidas corretamente pelos leitores JAWS e NVDA.
3.1
INTERFACE DO USUÁRIO E ACESSIBILIDADE
35
O AWT é o processador de janelas mais antigo da Sun. São componentes bastante simples,
e sua comunicação com os leitores de tela ocorre apenas pela leitura de um campo de descrição,
uma vez que o AWT não implementa nenhuma interface de acessibilidade que contenha métodos
próprios para esta tarefa. Os componentes Swing são, geralmente, extensões dos componentes AWT.
Relacionando estes problemas acima, do modo de produzir telas e janelas - dada uma combinação de determinada linguagem em algum sistema operacional – com o modo de interpretar
o recurso criado – dada uma combinação de sistema operacional e ferramenta leitora de tela, o
resultado é uma heterogeneidade bastante grande que se mostra, para estes fins especı́ficos, pouco
producente. Talvez isso ainda justifique, pelo menos parcialmente, porque tantos softwares baseados em janelas se mostram insatisfatoriamente acessı́veis: ainda é difı́cil e custoso hoje, para uma
equipe de desenvolvedores, produzir programas cuja acessibilidade seja plenamente satisfatória.
Desenvolvimento da interface gráfica do Delius
O estudo e implementação da interface gráfica mais adequada para o Delius passou por diversas
fases por conta de uma série de barreiras e dificuldades. Um dos principais problemas enfrentados
foi a escolha do recurso gráfico que seria utilizado. Embora, como já dito nos parágrafos acima,
todos os componentes de produção de telas e controles se mostrassem potencialmente capazes de
interagir com o leitor de tela, cada um tem suas exigências próprias de requisitos de instalação
e dependências, mas os pontos mais crı́ticos observados são (1) a não-padronização, em diversos
aspectos, das apresentações visuais das interfaces gráficas, sobretudo buscando conformidade com
requisitos de acessibilidade e (2) as diferenças entre os resultados audı́veis destas apresentações
visuais processadas pelos leitores de tela.
Testes preliminares foram realizados buscando identificar possı́veis diferenças no tratamento
gráfico e sonoro das interfaces gráficas. Num primeiro momento, verificou-se que o Swing e o SWT
tinham bom relacionamento com os leitores de tela, desde que as exigências de dependências fossem atendidas. A descrição dos componentes gráficos produzidos com AWT ocorria em algumas
situações apenas, não sendo possı́vel garantir o funcionamento adequado em qualquer configuração.
O modo de alto-contraste, geralmente disponibilizado pelos sistemas operacionais, é um recurso
de grande importância para este projeto, e também foi alvo de uma avaliação prévia. Concluiu-se
que o SWT responde de forma eficaz, alterando as cores das janelas e componentes, bem como o tamanho das letras, de acordo com o padrão definido nas configurações de acessibilidade dos sistemas
operacionais onde o teste foi realizado. O Swing, inicialmente, não obteve bons resultados; posteriormente verificou-se que o recurso de look-and-feel deste componente, responsável por promover
uma plasticidade visual e criação de leiautes bastante ricos, é um potencial vilão com relação à acessibilidade. Constatou-se que o problema jazia na utilização de cores “fixas” ao invés da predileção
por cores de sistema1 , que são alteradas quando aciona-se o recurso de alto-contraste. Após certas adaptações a interface desenvolvida com Swing passou a responder também da forma adequada.
Constatou-se que ambas as interfaces Swing e SWT seriam adequadas para o desenvolvimento
de aplicativos que utilizam em sua totalidade os componentes gráficos tradicionais, como botões,
campos de texto e caixas de listagem. Para o desenvolvimento do Delius, porém, a possibilidade
de criação de componentes próprios, para fins especı́ficos, é bastante desejada, pois é necessário
representar música na forma gráfica tradicional e em braille. O desenvolvimento de controles personalizados e acessı́veis em Swing se mostrou muito mais prático do que utilizando SWT, motivo esse
que culminou na decisão de uso do Swing. As questões de acessibilidade destes componentes perso1
classe SystemColor do pacote java.awt.SystemColor do Java
36
ARQUITETURA DO APLICATIVO
3.2
nalizados, porém, ainda trouxeram outros problemas, pois era difı́cil controlar a mensagem reproduzida pelo leitor de tela2 ; basicamente, a criação de um novo componente acessı́vel demanda que
se especifique certos atributos de acessibilidade, como o nome descrição acessı́veis (accessibleName
e accessibleDescription). No entanto, isso não garante a forma como o leitor de tela irá tratar essa informação. Um outro atributo informa ao leitor de tela o “papel” (accessibleRole) do
componente, e é com base nele que o leitor vai formar sua descrição completa, por exemplo informando, no caso de uma lista, qual é o elemento atualmente selecionado e quantos outros elementos
existem nela. O leitor de tela utilizado, porém, tinha um comportamento já definido para estes
“papéis” tradicionais de componentes, e nenhum tratamento para novos papéis. Isso quer dizer que
um componente que representa uma cela braille não poderia ser lido como tal. Constatou-se, finalmente, que alguns dos “papéis” entendidos pelo leitor de tela, como por exemplo o de “item de
menu”, produziam como resposta sonora apenas o nome acessı́vel do componente, e pôde portanto
ser utilizado para dar ao usuário, via leitor de tela, uma resposta minimamente controlada.
Numa primeira abordagem, na tentativa de se ter ainda um bom controle das mensagens sonoras
que seriam enviadas ao usuário, buscou-se adotar uma estratégia de eleger um único componente
visual com foco (uma etiqueta, neste caso), onde as mensagens seriam produzidas e dali enviadas
para o usuário. Dessa forma, todo foco dado aos componentes não-tradicionais (uma nota musical,
por exemplo) produziriam uma nova mensagem nesta etiqueta, que em seguida receberia foco e
dispararia a mensagem. Essa estratégia é uma sugestão de Bannick (2011), que enumera uma série de técnicas para desenvolvimento de jogos para pessoas cegas, possuindo informações bastante
enriquecedoras no que diz respeito à interação com o jogo por meio de teclado e pela resposta
unicamente sonora, e portanto inspirador para o problema deste caso especı́fico onde há demanda
de novos componentes gráficos. Esta primeira abordagem acabou não se mostrando adequada por
problemas com o controle do componente em foco, onde dependendo da configuração (de sistema
operacional e leitor de tela utilizado) as alterações dinâmicas no componente responsável pela interação com o leitor não produziam nenhum efeito.
Buscando as caracterı́sticas comuns entre leitores de tela foi possı́vel, finalmente, encontrar
uma solução segura de interação com estas ferramentas. Verificou-se que a mudança de foco de
um componente para outro, desde que o papel (accessibleRole) de ambos seja previamente “conhecido” pelo leitor de tela, produzia resultado sonoro. Solicitar foco para um componente que já
estava em foco produzia resultado sonoro em alguns casos apenas - invalidando portanto a primeira
abordagem supracitada. A solução, portanto, seria produzir um componente para cada elemento
do programa que, durante a navegação do usuário, necessitasse ser descrito pelo leitor de tela.
O aninhamento das estruturas musicais dentro de um componente de árvore foi uma primeira
estratégia adotada dentro deste princı́pio, que embora produzisse um resultado de interação com o
leitor de tela a contento, produzia uma certa confusão visual. Buscou-se então desenvolvimento de
um componente mais compacto onde todos os nı́veis da estrutura simbólica musical pudessem ser
visualmente bem representados sem interferir na navegação esperada. Maiores detalhes do método
de navegação do usuário estão presentes na seção 3.2.
Adicionalmente, todos os componentes gráficos criados utilizam predominantemente cores de
sistema, de forma que os ajustes especı́ficos de alto contraste, fundamental para portadores de
baixa-visão, sejam refletidos na representação visual destes componentes.
2
Durante o desenvolvimento do programa o leitor de tela NVDA foi utilizado predominantemente.
3.2
3.2
ENTRADA DE DADOS E NAVEGAÇÃO
37
Entrada de Dados e Navegação
Já foi mencionado anteriormente que, diferentemente da maioria dos programas de grafia musical, é esperado que este programa seja utilizado por pessoas sem nenhuma acuidade visual, não
podendo depender de referências gráficas no monitor para localização das informações, tampouco
do uso do ponteiro do mouse para seleção de objetos ou para entrada de dados. Tratando-se de
documentos musicais, é também importante encontrar uma maneira de permitir que o usuário navegue com eficiência entre os elementos musicais.
Estabelecendo uma relação com outros tipos de documento, fica bastante claro o caráter especı́fico do tipo de navegação exigida para o aplicativo em questão. A navegação entre documentos
de texto (utilizando um processador de textos ou um navegador para internet), por exemplo, é
geralmente mediada pelos leitores de tela, que fornecem ao usuário alguns atalhos de teclado que
o permitem caminhar de parágrafo a parágrafo, palavra a palavra, letra a letra. Além disso, tais
recursos também podem fazer um resumo dos cabeçalhos presentes no texto e trazer essa informação ao usuário em forma de uma lista de escolha, criando com isso um acesso à informação mais
categorizado e dinâmico.
Na presente situação, é desejável que o usuário possa caminhar entre os elementos musicais
também de forma categorizada. Mais do que isso, para que seja possı́vel reconhecer corretamente
os sinais braille produzidos pelo usuário, é fundamental conduzir o usuário corretamente às posições
no documento onde tal produção se faz possı́vel, considerando que o entendimento dos sinais braille
depende do contexto no qual eles são inseridos.
A seção 4.3 detalha a estruturação da informação musical de forma hierárquica, forma esta que
é utilizada também para conduzir a navegação do usuário dentro da partitura digital produzida no
Delius. Essa forma de estruturação implementa o padrão de projeto Composite; este padrão permite que objetos sejam compostos em estruturas de árvores para representar hierarquias do tipo
parte-todo (Eric Freeman, 2004), possibilitando que objetos sejam tratados pelos programas tanto
como coleções quanto como objetos individuais. Além disso, esta estrutura pode ser eficientemente
representada, na interface com o usuário, por um componente de navegação em árvore que permita
que o usuário interaja coerentemente com o modelo de representação.
A navegação do usuário nessa estrutura é realizada através do componente gráfico personalizado
JBrailleMusicNavigator, que permite uma navegação por contextos semelhante à do componente
JTree. A criação deste componente ocorreu pela necessidade de controle da saı́da sonora produzida
pelos leitores de tela: em testes preliminares utilizando o componente JTree, tanto o NVDA como o
JAWS, por padrão, verbalizavam uma série de informações desnecessárias (nome do elemento contêiner, número de nós na árvore) que atrapalhavam a experiência do usuário. Em outras tentativas,
buscou-se interceptar os comandos de navegação externamente e produzir a informação acessı́vel
em outro componente, produzindo no componente gráfico de árvore apenas o efeito visual correspondente. Esta experiência também não foi bem-sucedida, pois o ato de modificar o foco dos nós da
árvore forçavam indesejadamente que os leitores de tela fizessem a leitura do componente de árvore.
Envolvidos em problemas semelhantes, Smith et al. (2004) propõe um modelo de componente
em árvore acessı́vel, onde certos requisitos funcionais são adicionados, como comandos para localização imediata dentro da estrutura, comandos de movimentação entre nós primos, recursos como
“marcadores de página” (memorizando posições na estrutura e recuperando o acesso a qualquer
momento), entre outros. Este estudo inspirou o desenho deste componente, e algumas das funcionalidades propostas, pertinentes à situação em questão, também foram adicionadas.
Esta estrutura em árvore intercepta os comandos do teclado e mouse para realizar a navegação,
embora a utilização de mouse seja perfeitamente dispensável para a operação do componente. A
38
3.2
ARQUITETURA DO APLICATIVO
classe StructureNavigator é responsável por interpretar estas ações do usuário, efetuadas no componente gráfico JBrailleMusicNavigator, solicitando ao controlador principal que realize a navegação e notifique todos os observadores sobre a alteração realizada. A classe StructureNavigator
estende a classe abstrata AbstractNavigator, cuja principal função é comunicar-se com o controlador principal por meio de métodos próprios para navegação, conforme mostra o diagrama de
classes da figura 3.5. Dessa forma, é possı́vel ampliar o programa com novas formas de navegação
pelo teclado criando-se novas extensões da classe AbstractNavigator.
Com as setas para cima e para baixo, o usuário navegará verticalmente na árvore, isto é,
aprofundando-se em elementos mais especı́ficos existentes dentro do elemento corrente ou navegando para blocos maiores e mais genéricos. Com as setas da esquerda e da direita, o usuário
caminhará horizontalmente nos nós irmãos a partir de um mesmo nó pai, podendo caminhar assim de instrumento a instrumento, compasso a compasso ou varrer cada elemento contido em um
compasso. Pressionando a tecla Shift enquanto navega pelas setas, o usuário poderá navegar do
compasso N de um instrumento ao mesmo compasso N de outro instrumento; essa forma de navegação é provavelmente tão importante quanto a primeira se o usuário estiver, por exemplo, criando
um arranjo de vozes.
Para cada elemento acessado pelo usuário, o sistema informará sua posição. Dentro de cada
elemento o usuário sempre terá a possibilidades de dar os comandos indicados na tabela 3.2.
Comando
Setas direcionais verticais
Setas direcionais horizontais
Shift + Setas direcionais horizontais
I
Ctrl + O
P
Shift+P
F1
F2
F3
F4
F9-F12
Shift + (F9-F12)
F,D,S,J,K,L
Espaço
Backspace, Del
Ctrl+Z
Funcionalidade
Navega entre os nós pais e filhos
Navega entre os nós irmãos
Navega entre os nós primos
Acessa o menu do contexto atual
Descreve o contexto atual
Toca o elemento em foco
Toca o contexto-pai do elemento em foco
Ajuda
Modo de navegação pelo documento
Modo de navegação musical
Modo de listagem de erros
Marca-páginas
Retornar às posições marcadas
Teclado braille emulado.
Quebra de compasso / cela braille vazia
Remoção do último elemento
Desfaz a última ação
Tabela 3.1: Teclas de acesso às funcionalidades do programa
Simulação da máquina braille
No contexto de compasso, o usuário terá disponı́vel a opção de entrar com informações musicais utilizando um emulador de teclado Perkins (ver seção 2.2), simulando o funcionamento dessa
máquina no próprio teclado do computador. Este usuário fará uso das teclas F, D, S, J, K e L3
para “puncionar” os pontos das celas, a tecla SPACE (barra de espaço) e BACKSPACE para avançar e
3
É comum que teclados de computador venham com pequenas marcas embaixo das teclas “F” e “J”, inclusive dando
à mão o formato anatômico equivalente das máquinas Perkins, e por esse motivo essas teclas foram determinadas,
neste aplicativo, para esse fim.
3.2
ENTRADA DE DADOS E NAVEGAÇÃO
39
retroceder o carro e ENTER para pular linha.
Nas experiências preliminares do aplicativo foram verificados problemas quanto à emulação de
teclado Perkins em alguns teclados convencionais de computador. Alguns modelos deste dispositivo apresentavam-se incapazes de responder à pressão simultânea de múltiplas teclas. Trata-se da
maneira como é fabricada a matriz de teclas de cada dispositivo; dependendo do projeto, a pressão
simultânea de determinadas teclas pode levar a um fenômeno de mascaramento de novas entradas
que é comumente chamado de ghosting 4 . Coletando informações de usuários, percebeu-se que este
fenômeno é mais frequente nos teclados de computadores portáteis. Muitos teclados convencionais,
com fio, entrada USB e sem identificação de fabricante foram submetidos a um rápido teste e
apresentaram resultados satisfatórios. O teste consiste em abrir qualquer programa de edição de
texto e pressinar simultaneamente as teclas usadas pelo teclado braille: f,d,s,j,k,l e verificar se todas
as teclas produziram resposta em texto5 . Portanto, será importante notificar o usuário através da
documentação do aplicativo que certos teclados (sobretudo os de computadores portáteis) não são
adequados para este aplicativo, e que esse problema pode ser resolvido facilmente adquirindo algum
teclado mais apropriado para esse fim especı́fico.
Tratamento de erros de entrada do usuário
A representação musical pela partitura convencional faz parte da cultura ocidental há muitos
séculos. Esta grafia atingiu uma maturidade que nos permite identificar a ocorrência de erros de
grafia em obras musicais e sua provável correção de acordo com a real intenção do compositor.
A organização musical de uma partitura escrita a tinta nos fornece uma proposta de leitura;
possı́veis erros de grafia também estão relacionados com essa organização: é comum encontrarmos
erros como notas estourando a capacidade do compasso quando, por exemplo, uma mancha do
papel se faz passar por um ponto de uma nota pontuada. A experiência de uso da partitura convencional nos permite discernir tais situações levando em consideração os possı́veis erros.
A musicografia braille tem como alicerce o enfileiramento sequencial das celas. Um engano em
um único ponto de uma cela ou mesmo a omissão acidental de uma cela pode claramente conduzir
o leitor a uma interpretação errônea da sentença ou mesmo torná-la incompreensı́vel. Da mesma
maneira, um erro de escrita dos pontos pode vir a produzir um resultado compreensı́vel e válido,
mas completamente diferente do desejado. É difı́cil imaginar, numa partitura em tinta, erros de
grafia que resultem na criação não intencional de uma barra de repetição, um crescendo no lugar de
um diminuendo ou até mesmo coisas mais grosseiras como descobrir que um sinal de pedalização de
piano se fez passar por uma ligadura, ou que indicações de digitação do violão na verdade deveriam
ser lidas como notas de um acorde. Erros dessa natureza, no entanto, são possı́veis em braille, pela
omissão ou acréscimo de celas ou pontos de forma não-intencional.
Para garantir a qualidade do conteúdo, portanto, certas verificações devem ser realizadas no
momento da entrada da informação, enquanto outras devem ser aplicadas no momento da conversão. Isso significa que o programa deverá informar imediatamente após receber uma determinada
entrada se ela é válida ou não e, em caso positivo, o que ela representa musicalmente, dando ao
usuário a capacidade de corrigir naquele instante um possı́vel erro. Em outro momento, ao solicitar
a conversão, o programa pode informar ao usuário outros detalhes, como por exemplo que certos
4
http://www.microsoft.com/appliedsciences/content/projects/AntiGhostingExplained.aspx
Alguns teclados desenvolvidos com ênfase em jogos de computador, aplicativos estes que frequentemente requerem
pressão simultânea de múltiplas teclas, apresentam o que chamam de tecnologia “anti-ghosting”. Tal tecnologia garante
combinações múltiplas apenas para determinados subconjuntos de teclas apenas (Microsoft Applied Sciences Group,
2010). Utilizando-se de uma tecnologia diferente, ela apresenta um teclado que possui capacidade de receber até 17
teclas simultâneas em qualquer combinação do teclado QWERTY
5
40
ARQUITETURA DO APLICATIVO
3.3
compassos possuem notas a mais ou a menos, ou que ligaduras de expressão abertas não foram
fechadas corretamente.
A lista abaixo mostra os erros de produção atualmente informados ao usuário. Espera-se que,
alcançando maior maturidade, o programa atenda a uma lista expressivamente maior de observações:
• Ausência de fórmula de compasso (considera-se 44 )
• Falta de sinal de oitava (considera-se quarta oitava do braille)
• Ligadura de prolongamento entre notas de diferentes alturas
• Ligadura não possui uma nota inicial/final
• Cela ou grupo de celas não identificado
• Compasso n não está completo
• Compasso n não possui sı́mbolo final (barra de compasso, barra dupla)
• Compasso n possui mais de um sı́mbolo final
3.3
Disposição da informação musical em uma partitura braille
Na seção 2.9 foram discutidas as diversas formas de apresentação da informação musical em
braille e em que situações a aplicação destas formas é apropriada, com base na intenção de leitura
do usuário, e sua necessidade de localização dentro do documento.
Pelo MIMB, particularmente na versão em inglês, as regras de formatação são em geral bastante
claras, sendo possı́vel transcrevê-las em heurı́sticas de auto-formatação, de forma que, meditante
uma parametrização prévia, o documento final em braille possa ser diagramado automaticamente,
tanto para exibição em tela quanto para impressão. Percebeu-se, porém, que esta prática é viável
apenas na medida em que os aspectos musicais afastam-se dos aspectos gráficos ou de diagramação.
Nos métodos definidos como “compasso sobre compasso” e “linha sobre linha”é possı́vel utilizar toda
a informação musical exatamente da maneira como ela está definida no modelo, complementando-a
apenas com questões protocolares como a repetição de sinais de oitava para cada inı́cio de compasso, repetição dos sinais de mão a cada inı́cio de seção. Para estes casos não é necessário nenhum
tipo de adaptação dos sı́mbolos presentes no modelo para a saı́da final. No método definido como
“partitura vertical”, no entanto, a exibição da informação de forma verticalizada (usando sinais de
intervalo e “em-acorde”) requer uma reinterpretação do modelo e alteração simbólica: as melodias
de vários instrumentos deveriam ser recodificadas. Este é um caso claro onde os aspectos simbólicomusicais estão fortemente relacionados com os aspectos de formatação6 .
No pacote formatter há uma classe abstrata chamada AbstractFormatter que define o protocolo de entrada e saı́da para produção de um formato de exibição do material. Elas deverão receber,
como entrada, o conteúdo musical de um objeto do tipo BrailleScore e o objeto do documento
impresso, que é dividido em páginas, formadas por uma quantidade arbitrária de linhas e colunas.
Este formatador deverá utilizar-se do modelo para produzir, neste conjunto de linhas e colunas, a
saı́da necessária, acrescentando, omitindo, organizando e alinhando a informação musical, sem que
6
Para este caso em particular, porém, não será criado nenhum conversor de formato no presente momento, por
tratar-se de um um formato ainda não reconhecido oficialmente pelo comitê gestor da musicografia braille, constante
apenas em apêndice do manual, mas neste caso em particular sua citação é importante para ilustrar as possı́veis
relações existentes entre os aspectos musicais e de formatação de documento, em braille.
3.4
PADRÃO DE ARQUITETURA UTILIZADO
41
nenhuma alteração seja feita no modelo para tanto.
O usuário poderá, portanto, concentrar-se na produção do conteúdo musical ignorando, num
primeiro momento, as questões de disposição do material no resultado impresso, então tratando tal
aspecto isoladamente, podendo parametrizar e testar vários formatos diferentes, tarefa impraticável
na produção de uma partitura utilizando a máquina Perkins.
Este recurso também é desejado para que se permita que o usuário possa, futuramente, extrair
uma porção limitada de um documento completo, como um ou dois instrumentos apenas, podendo
decidir para esta situação especı́fica uma formatação mais adequada.
3.4
Padrão de arquitetura utilizado
A arquitetura sob a qual o Delius é construı́do baseia-se em uma variação do padrão Model-ViewController (MVC) (Eric Freeman, 2004; Krasner e Pope, 1988). Este é um padrão de arquitetura
onde a interface de interação com o usuário (View ) é totalmente separada do modelo de representação (Model ), que por sua vez é responsável por garantir sua integridade. Todos os métodos que
modificam seu estado estão contidos no próprio modelo. Adicionalmente, o controlador (Controller )
é um terceiro elemento que compõe esta estrutura, e é responsável por “entender” a interação do
usuário com o View e, baseado nisso, efetuar as alterações de estado do Model. A figura 3.1 ilustra
a relação entre estas três estruturas do padrão de arquitetura MVC.
O Model comunica-se com as outras partes da estrutura através do disparo de eventos. Utilizase, portanto, o padrão de projeto Observer, criando uma interface com os métodos que devem ser
chamados quando há alteração de estado do Model. As classes de interação com o usuário têm
acesso ao modelo de representação para que possa ler seus atributos, mas não devem nunca chamar
seus métodos diretamente. Devem, no entanto, disparar eventos que são recebidos pelas classes
que compõem o Controller, que são hábeis para chamar os métodos que modificam o modelo de
representação.
Figura 3.1: Diagrama da arquitetura Model-View-Controller (MVC)
Esta independência da camada lógica e de interação promovida pelo MVC traz diversos benefı́cios ao desenvolvimento deste aplicativo. Num primeiro momento, foi possı́vel discutir o modelo
de representação isoladamente (no capı́tulo 4), ainda que prevendo as interações desejáveis de se
42
ARQUITETURA DO APLICATIVO
3.4
realizar com o usuário. Da mesma maneira, fica claro que as questões de acessibilidade relacionamse quase que em sua totalidade com a camada de interação; Durante a escolha da interface gráfica
adequada levantou-se uma grande quantidade de problemas (seção 3.1), mas em momento algum
o modelo de representação teve qualquer relação direta com eles.
A camada de controle traz também alguns benefı́cios que dão dinamismo ao programa. Talvez
um dos benefı́cios mais importantes seja a possibilidade de trazer ao usuário menus com opções que
são pertinentes aos contextos em foco; a camada de interação apenas deve informar o Controller
sobre qual o contexto focado e este tem o conhecimento de quais opções devem ser informadas ao
usuário. Da mesma maneira, é possı́vel mudar o comportamento de atuação do usuário. Os modos
de navegação no documento, apresentados na seção 3.2, alternam-se mediante tão somente a substituição do objeto, dentro do Controller, responsável por interceptar os comandos de teclado do
usuário, sendo que cada objeto dá tratamento diferente para estes comandos. A figura 3.2 exemplifica como o programa intercepta a navegação do usuário diferentemente para cada modo.
Figura 3.2: Diagrama de estados - Relação entre os estados de navegação e as possı́veis ações do usuário
Um outro benefı́cio da camada de controle é a possibilidade de acrescentar ao programa o
recurso de desfazer ações (Undo). Para tanto, utiliza-se o padrão de projeto Command, onde os
métodos do Model a serem chamados pelo Controller são encapsulados em pequenas classes que
compartilham de um mesmo método de execução (método execute(), por exemplo). O Controller,
ao invés de chamar os métodos diretamente, instancia uma dessas classes de comando e chama seu
método de execução, que por sua vez contém os métodos que fazem alteração no modelo. Uma vez
executados, o objeto de comando pode ser adicionado a uma pilha; mediante um comando do usuário, este objeto de comando pode ser desempilhado e um segundo método (undo()), responsável
por reestabelecer o modelo em seu estado inicial, é executado.
Outra abordagem arquitetural utilizada regularmente é a conhecida por PAC - Presentation-
3.4
PADRÃO DE ARQUITETURA UTILIZADO
43
Abstraction-Controller (Coutaz, 1987). Este padrão é semelhante ao MVC, porém com algumas
diferenças bastante relevantes: as estruturas de dados contidas no que se define por Presentation e
Abstraction nunca trocam informações diretamente, senão por meio do Controller. O padrão PAC,
no entanto, introduz o conceito de que esta trı́ade (model-view-controller) não há de ser necessariamente uma estrutura única, podendo ser criados pequenos controles de tela que respondem a uma
estrutura de apresentação, abstração e controle próprios. Dessa forma, cada pequeno controle tem
autonomia em relação aos demais.
Figura 3.3: Representação do padrão arquitetural Hierarquical Model-View-Controller.
A variação utilizada pelo Delius é o Hierarquical Model-View-Controller (HMVC) (Cai et al.,
2000), uma variação conciliadora dos dois padrões acima apresentados, onde aproveita-se o conceito
de que os controles são composições individuais de modelo, visão e controle, cada um com certa
autonomia em relação aos outros, e organizados hierarquicamente. Neste caso, a estrutura de controle não mais possui a quantidade excessiva de responsabilidades do MVC, e a comunicação por
meio de eventos/observadores pode estender-se facilmente para além de cada trı́ade. A figura 3.3
exemplifica a organização das trı́ades que compõem o HMVC.
No caso do Delius, este padrão de arquitetura se mostra adequado por dois motivos principais:
em primeiro lugar, a tela divide-se em vários componentes autônomos, responsáveis por representar
a informação musical contida no documento sob diversos aspectos diferentes. Em segundo lugar,
aproveita-se com isso a própria hierarquia das estruturas musicais presentes no modelo de representação, de forma que um componente pode entender como seu Model o modelo de representação
como um todo ou apenas parte dele. A figura 3.4 mostra a relação entre os componentes gráficos
e o padrão HMVC.
A figura 3.5 mostra uma parte das relações entre as entidades de controle e de visão dentro
do sistema. A classe MainController é o principal controlador do programa. É responsável por
interceptar as ações do usuário dentro do escopo da tela principal do programa, empilhar e executar
os objetos de comando, gerenciar janelas de diálogo, entre outras coisas. Outras classes menores,
dentro do pacote delius.controller, relacionam-se com funcionalidades mais especı́ficas. Nesta
mesma figura está representada a estrutura responsável pela navegação, mencionada na seção 3.2:
Organizacão e Pacotes
Até o presente momento, as classes responsáveis pela aplicação estão divididas e estruturadas
da seguinte maneira:
44
ARQUITETURA DO APLICATIVO
3.4
Figura 3.4: Componentes gráficos no Delius e sua organização hierárquica do HMVC
delius.main: É o ponto de partida da aplicação. Neste pacote encontra-se a classe Delius que
implementa o método Main() para iniciar o programa. As classes aqui presentes são referentes às
classes estruturais de maior importância.
delius.braille e delius.braille.music: Estes pacotes agrupam as classes utilizadas para manipular o código braille, onde estão contidas as classes Cell e CellSet, utilizadas para representar a
escrita por pontos. Também contêm a classe responsável pela emulação do teclado Perkins. O pacote
delius.braille.music possui extensões da classe CellSet que representam elementos definidos da
musicografia braille, como instrumentos, compassos, notas, que são igualmente agrupadores de celas mas com propriedades especı́ficas, implementados de acordo com as necessidades apresentadas
no processo de conversão.
delius.command: Este pacote armazena os objetos que implementam a interface ICommand e
também o design pattern homônimo. Eles são responsáveis por manipular os itens dentro do documento. Inicialmente, o objeto que implementa ICommand é uma classe que é criada com a única
função de modificar o objeto de modelo (Model ) do MVC. Basicamente, ele recebe propriedades
em seu construtor e implementa obrigatoriamente um método execute(). Na versão para esta
aplicação, a interface ICommand exige a implementação do método execute() e undo(). Os objetos
são criados e executados, porém não são descartados, e sim adicionados a uma pilha que permitirá
que as operações realizadas possam ser desfeitas pelo usuário, se desejado. Abaixo, pode-se ver a
interface ICommand com os métodos que devem ser implementados:
1 package d e l i u s . command ;
2
3 p u b l i c i n t e r f a c e ICommand {
4
v o i d e x e c u t e ( ) throws E x c e p t i o n ;
5
v o i d undo ( ) ;
6
b o o le a n hasUndo ( ) ;
7
S t r i n g getName ( ) ;
8 }
delius.parser: Aqui estão contidos os arquivos que verificam a integridade sintática e léxica da
entrada em braille fornecida pelo usuário. Eles são gerados pelo arquivo MusBrl.g de definições da
3.4
PADRÃO DE ARQUITETURA UTILIZADO
45
gramática a ser interpretada pelo componente externo ANTLR, o qual será detalhado na seção ??.
delius.view: Neste pacote ficam armazenadas as classes que dão respostas ao usuário como telas
e sons.
delius.controller: Este pacote armazena as classes de controle, ou seja, aquelas que são capazes
de, mediante as interações do usuário com a interface gráfica, disparar comandos (do pacote delius.command) e efetuar alterações no modelo. A classe Perkins, responsável por receber comandos
do teclado e produzir as celas braille, também compõe este pacote.
delius.controller.options: Neste pacote estão os itens dos menus dinâmicos (os que são apresentados ao usuário quando ele se posiciona sobre um elemento da partitura e pressiona a tecla “I”).
Trata-se de classes que implementam a interface IMenuOption. Os objetos instanciados são responsáveis por entender uma parte do modelo e, com base no estado do mesmo, disparar comandos
(do pacote delius.command) que alterem seu estado. Estes objetos, quando instanciados, também
disponibilizam para as telas de seleção o nome do comando (preparado para que seja traduzido
para o idioma escolhido pelo usuário) e criam uma relação com um dos botões do menu; quando
este botão é pressionado, dispara-se o método select() definido na interface, que inicia o processo
de alteração do modelo. O código de definição dessa interface é apresentado a seguir:
1
2
3
4
5
6
7
8
9
p u b l i c i n t e r f a c e IMenuOption {
String getDescription () ;
void i n i t ( IMenuContainer context , MainController c o n t r o l l e r ) ;
void s e l e c t () ;
void g e t I n p u t ( i n t key ) ;
v o i d dispatchCommand ( BaseCommand cmd ) throws E x c e p t i o n ;
void dispatchNavigationRequest ( INavigationReady context ) ;
V e c t o r <IMenuOption> g e t O p t i o n s ( ) ;
}
Outra vantagem de trabalhar com estas funções isoladas, que criam dinamicamente os menus
contextuais, é que no futuro estas classes podem ser agregadas ao programa por reflection no momento de inicialização. Com isso, é possı́vel tranformá-los em plug-ins, dando maior abertura para
contribuições.
delius.input: Este pacote disponibiliza a interface IDeliusInput, que deve ser implementada
para se criar adaptadores para entrada de dados no Delius. As classes que a implementam devem
ser responsáveis por pegar qualquer formato de arquivo (MIDI, MusicXML, BMML, etc) e fazer
modificações no documento musical contido no modelo de representação. O seguinte código define
esta interface:
1
2
3
public interface IDeliusInput {
B r a i l l e S c o r e c r e a t e S c o r e ( S t r i n g s o u r c e F i l e , D e l i u s M o d e l model ) ;
}
delius.output: Este pacote disponibiliza a interface IDeliusOutput, que por sua vez é implementada para criar classes capazes de exportar o conteúdo das partituras para outros formatos.
Abaixo, a definição da interface IDeliusOutput:
46
1
2
3
4
5
ARQUITETURA DO APLICATIVO
3.5
public interface IDeliusOutput {
void createOutput ( B r a i l l e S c o r e score , S t r i n g destPath ) ;
S t r i n g getReturnMessage () ;
}
delius.formatter: Este pacote reúne as classes responsáveis pela diagramação do conteúdo musical, de acordo com as regras apresentadas na seção sec:OrganizacaoLeiaute. Para cada novo modelo
de leiaute, é necessário criar uma extensão da classe abstrata AbstractFormatter. Essa classe é
utilizada pelo componente gráfico que produz as páginas em braille na tela e também pelo componente responsável por produzir a saı́da para a impressora braille.
1
2 p u b l i c a b s t r a c t c l a s s A b s t r a c t F o r m a t t e r implements S e r i a l i z a b l e {
3
// modelo de r e p r e s e n t a ç ã o c o m p l e t o
4
p r o t e c t e d D e l i u s M o d e l doc ;
5
6
// r e f e r ê n c i a p a r a a p a r t i t u r a , d e n t r o do modelo , que r e c e b e r á a f o r m a t a ç ã o .
7
// d i f e r e n t e s p a r t i t u r a s no documento podem r e c e b e r d i f e r e n t e s f o r m a t a ç õ e s .
8
protected B r a i l l e S c o r e score ;
9
10
public AbstractFormatter ( BrailleScore score ){
11
this . score = score ;
12
}
13
14
p u b l i c a b s t r a c t v o i d i n i t ( D e l i u s M o d e l doc ) ;
15
16
// d i s p o n i b i l i z a o nome da f o r m a t a ç ã o : ’ Bar Over Bar ’ , ’ L i n e By L i n e ’ . . .
17
p u b l i c a b s t r a c t S t r i n g getName ( ) ;
18
19
// p e r m i t e o r e d e s e n h o da m a t r i z de c e l a s a p e n a s a p a r t i r de um p o n t o
20
public abstract void r e f r e s h ( i n t fromIdx ) ;
21
22
p u b l i c C e l l c r e a t e L a y o u t C e l l ( i n t code ) {
23
C e l l c = new C e l l ( c o d e ) . s e t I n s e r t e d ( t r u e ) ;
24
i f ( c o d e==0) c . s e t S p e c i a l T y p e ( S p e c i a l T y p e . BLANK SPACE) ;
25
c . setParent ( score ) ;
26
return c ;
27
}
28
29 }
delius.intl: Este pacote contém classes para a tradução das chaves mnemônicas que são lançadas
para a saı́da do usuário no idioma selecionado. Como este aplicativo é orientado a pessoas cegas,
a transformação em texto deverá ser cuidadosa. O resultado esperado é que as saı́das sejam frases e expressões idiomaticamente corretas e coesas, e não meras traduções dos comandos do usuário.
A classe mais importante neste pacote é a TranslationManager. Esta classe implementa o
padrão Singleton, no qual garante-se que, em todo o escopo da aplicação, apenas uma instância
desta classe será criada. No inı́cio do programa, esta classe lê um dicionário de chaves e suas
respectivas traduções, o qual utilizará para produzir os textos dos componentes gráficos no idioma
do usuário.
3.6
DEMAIS COMPONENTES UTILIZADOS
3.5
47
Demais componentes utilizados
Para determinadas funções, o Delius utiliza alguns componentes externos que implementam funcionalidades úteis ao programa e que também são distribuı́dos sob licenças públicas compatı́veis. A
figura 3.6 mostra a utilização destes componentes externos pelo Delius, que serão detalhados abaixo.
Proxymusic
Este componente7 , cuja licença é GNU LGPL, permite a transformação dos elementos XML
contidos em um arquivo MusicXML para objetos Java e vice-versa, o que facilita o processo de
transformação dos elementos simbólicos musicais em dados serializáveis. O Proxymusic é parte importante do processo de transformação para o formato de saı́da MusicXML e também colaborará,
futuramente, para que o processo inverso seja feito.
abc4j
Este componente (de licença GNU LGPL) foi inicialmente desenvolvido para trabalhar com a
notação abc 8 , uma forma textual de escrita musical desenvolvida para ser compacta e ao mesmo
tempo humanamente legı́vel. Seu objetivo principal era poder representar música tradicional da
europa ocidental (principalmente inglesa, escocesa e irlandesa) que pudesse ser escrita em pauta
simples. Porém, este componente agrega uma série de recursos extra, como a possibilidade de execução de excertos musicais em MIDI, e é utilizado para a geração de áudio pelo programa. Uma
vez que o material de um compasso ou sistema esteja semântica e sintaticamente correto, pode ser
processado para notação abc e imediatamente executado como resposta sonora.
Além destes componentes mencionados, há também o ANTLR, detalhado na seção 4.4.
3.6
Formatos de importação e exportação
É responsabilidade do modelo de representação atuar como linguagem intermediária para a geração de saı́da para diversos outros formatos de representação musical simbólica. Entende-se que a
produção musical no Delius não deve limitar-se ao uso dentro do próprio programa. Pela variedade
de diferentes necessidades e interesses do público-alvo do programa, é fundamental promover ao
máximo a integração deste com diversos outros softwares.
Muito embora alguns formatos de saı́da já estejam implementados (ainda que parcialmente, em
alguns casos), é importante prover uma maneira de que essas integrações sejam expansı́veis - não
só no que se refere à saı́da do programa, pois também é possı́vel permitir que o programa receba
arquivos em diferentes formatos, embora neste momento do trabalho essa não seja a principal preocupação.
Por essas necessidades, foram disponibilizadas duas interfaces bastante simples, uma para entrada e uma para saı́da. A primeira, IDeliusInput, oferece o método createScore; a classe que
a implementa deve utilizar-se desse método para converter um arquivo qualquer em um objeto
do tipo BrailleScore, com total autonomia sobre a maneira com que faz isso. A segunda classe,
IDeliusOutput, efetua o processo oposto, recebendo o conteúdo de um objeto BrailleScore e um
caminho no disco, onde deverá produzir uma saı́da, no formato que for pertinente ao componente
que implementa a interface. No estado atual, as entradas e saı́das já disponibilizadas pelo programa
7
8
http://proxymusic.kenai.com, 05/2011
http://www.abcnotation.com, 05/2011
48
3.7
ARQUITETURA DO APLICATIVO
e o estado de evolução são mencionadas na tabela 3.2.
E/S
entrada
entrada
saı́da
saı́da
saı́da
saı́da
saı́da
Formato
.delius
BMML
.delius
MusicXML
texto
abc
MIDI
Estado
completo
parcial
completo
parcial
completo
parcial
parcial
Tabela 3.2: Entradas e saı́das e estado de implementação
O arquivo .delius é o arquivo proprietário do programa, uma serialização binária do modelo,
englobando o documento e a estrutura abaixo dele. O arquivo BMML foi introduzido tardiamente
como formato para importação, na intenção de estudar sua compatibilidade com o modelo de representação do Delius. Constatou-se que o processo de leitura deste arquivo é bastante simples, pois
nele cada elemento musical carrega consigo a indicação das celas braille utilizadas. O processo, até
o momento, consiste em ler todas as celas, localizar em qual instrumento e compasso elas devem
ser inseridas e, convertendo-as para objetos do tipo Cell elas são inseridas no buffer dos compassos
apropriados.
Quanto às saı́das, a saı́da para MusicXML é considerada a grande prioridade, por permitir a
troca de informação com uma quantidade maior de softwares e por permitir uma representação tão
abrangente quanto possı́vel pelo processo de tradução. Trata-se por parcial pela impossibilidade
de contemplar, nesta etapa atual, todas as regras da musicografia braille, embora tenha alcançado
satisfatoriamente o escopo inicialmente determinado, como será visto nas conclusões finais.
O formato de texto diz respeito à saı́da para impressora braille. É um arquivo texto comum,
produzido por mera transliteração de caracteres braille para o formato ASCII.
3.7
Conclusão do capı́tulo
Este capı́tulo expôs, inicialmente, as necessidades e os princı́pios que norteiam o desenvolvimento
do Delius. Discutiu-se as questões de acessibilidade e usabilidade, detalhando as práticas que foram
adotadas para que a apresentação, desenvolvida utilizando o Java Swing, trouxesse bons resultados
quanto à adaptação da interface gráfica para baixa visão, bem como sua tradução para forma
audı́vel, por aplicativos leitores de tela. Também foram apresentados os padrões arquiteturais e
os componentes externos utilizados pelo programa. O próximo capı́tulo detalhará o modelo de
representação (Model ) que compõe o padrão MVC utilizado pela arquitetura do programa, e falará
também dos processos de conversão entre as linguagens musicais.
3.7
CONCLUSÃO DO CAPÍTULO
49
Figura 3.5: Diagrama de classes mostrando como as classes de controle relacionam-se com as classes de
visão e de modelo.
50
ARQUITETURA DO APLICATIVO
Figura 3.6: Diagrama de classes mostrando a utilização dos componentes externos pelo Delius.
3.7
Capı́tulo 4
Modelos computacionais de
representação musical e conversão
Este capı́tulo discutirá as formas de representação da informação musical em modelos computacionais estruturados para manipulação por programação orientada a objetos, levando em consideração as diferenças e semelhanças entre uma partitura musical em braille e no modelo gráfico
tradicional. Também tratará do processo de conversão, tendo a musicografia braille como origem
e a notação musical tradicional como destino, buscando uma estrutura de objetos que possa ser
utilizada na camada de abstração do programa, que seja adequada para intermediar tal conversão.
Vários linguagens foram definidas, nas últimas décadas, na intenção de representar música em
um grau de abstração suficiente para permitir a troca da informação representada entre diferentes softwares. Mais do que apenas garantir a cobertura satisfatória de elementos musicais e suas
propriedades, certas linguagens diferem-se de outras por motivos especı́ficos como adequação ou
implementação de algum determinado padrão ou pela possı́vel necessidade do formato de produzirem documentos humanamente legı́veis, entre outros motivos.
Uma das abordagens utilizadas para a definição dessas linguagens de representação musical é
a segmentação da informação de acordo com determinados aspectos, organizando-a em diferentes nı́veis de abstração dessa informação musical. O formato SMDL (Standard Music Description
Language) (Newcomb, 1991), por exemplo, utiliza-se de quatro nı́veis de abstração, tratados por
domı́nios: domı́nio lógico, gestural, visual e analı́tico. Downie (2003), por sua vez, busca uma divisão em 7 domı́nios diferentes: altura (pitch), temporal, harmônico, timbral, editorial, te xtual e
bibliográfico. Haus e Longari (2005) baseia-se no SMDL e cria um modelo dividido em 6 camadas
(informações gerais, estrutural, lógica, notacional, performance e áudio), incrementando seu modelo com uma estrutura definida como spine, que atua como o agente que relaciona todas essas
camadas, mantendo-as unidas por meio de eventos de sincronismo nos domı́nios temporal e espacial. A escolha e até mesmo a proposição de novos modelos relaciona-se com os fins especı́ficos de
cada programa: o domı́nio visual do SMDL, por exemplo, tem uma importância particular para
programas de edição ou reconhecimento gráfico de partituras, sendo no entanto pouco relevante
para rotinas de sequenciamento ou MIR. Para os propósitos do Delius o SMDL, ainda que mais
simples do que outros modelos aqui apresentados, é um modelo cujo entendimento de “domı́nios
musicais” é bastante pertinente para se analisar o espectro de informações inerente à musicografia
braille, muito embora o formato SMDL em si não esteja preparado para contemplar o código braille.
Mais detalhadamente, os domı́nios definidos pelo SMDL são:
• Domı́nio lógico - contém os elementos musicais
• Domı́nio gestural - contém informações de caráter performático
• Domı́nio visual - define propriedades gráficas da obra
51
52
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.0
• Domı́nio analı́tico - contém informações e comentários de edição, informações de caráter
analı́tico e outras.
O domı́nio lógico compreende a parte mais densa das regras de musicografia braille. Basicamente ele pode ser descrito como “as intenções do compositor no que diz respeito às alturas das
notas, ritmos, harmonias, dinâmicas, articulações, etc.”. Comparando as grafias em braille e tinta,
a informação musical pertencente a este domı́nio pode ser separada em três subconjuntos:
• sı́mbolos existentes simultaneamente nas grafias em braille e em tinta (notas, pausas, crescendo, etc)
• sı́mbolos especı́ficos da musicografia braille (indicação de mão, indicação de valores de duração, alguns tipos de repetição, em-acorde)
• sı́mbolos especı́ficos da musicografia em tinta tradicional que não possuem função na musicografia braille, mas garantem fidelidade às transcrições (sinais de clave, notas agrupadas1 ).
O domı́nio gestural relaciona-se à informação capaz de sintetizar uma performance especı́fica,
a partir das intenções do compositor, definidas no domı́nio lógico, processada pelos intérpretes ou
regentes. O domı́nio analı́tico é constituı́do de análises e comentários que de alguma forma se compõem de opiniões ou interpretações de pessoas. Na musicografia braille é possı́vel inserir blocos de
anotações de texto em praticamente qualquer lugar, além de espaços previstos pelo manual para
bulas introdutórias e anotações de rodapé. As informações contidas nestes dois domı́nios, via de
regra, podem portanto ser representadas na musicografia braille.
O domı́nio visual, pela definição do SMDL, trata de como o domı́nio lógico deve ser apresentado
visualmente, dada uma edição em particular, atendendo aos requisitos de diagramação de página,
medidas, fontes e sı́mbolos utilizados. Este domı́nio é particularmente interessante com relação à
musicografia braille, pois embora as especificações com relação a este domı́nio relacionarem-se com
resultados visuais propriamente ditos, as regras e exigências para a diagramação do documento em
braille2 têm uma importância equiparável a dos elementos musicais presentes no domı́nio lógico,
sendo responsáveis pela organização e indexação da informação musical para a leitura tátil. Para
estes fins especı́ficos, portanto, entender o domı́nio visual no sentido estrito não é conveniente,
porém preserva-se adequadamente se redefinido como domı́nio estrutural ou de apresentação.
Esta divisão do conteúdo musical em domı́nios permeará a discussão dos processos de conversão, pois a divisão por domı́nios do conteúdo musical é bastante útil ao se fazer comparações
entre a musicografia braille e tradicional. A proposição do modelo de representação utilizado pelo
Delius deverá herdar estes domı́nios do SMDL, porém adaptando-os às necessidades do código da
musicografia braille.
Um primeiro detalhe a ser observado neste instante é que os sı́mbolos utilizados para definir
estruturalmente a partitura em braille, neste domı́nio visual, são os mesmos utilizados para representar todo o tipo de informação de todos os outros domı́nios, extraı́dos do mesmo alfabeto de 64
sı́mbolos apenas. Juntamente com as regras estruturais de posicionamento, cada um dos modelos
de leiaute apresentados na seção 2.9 preza por um conjunto de formalidades e exigências que transcendem este domı́nio. A exemplo disso, pode-se citar a regra de exigência de sinal de oitava em
cada compasso que é caracterı́stica do formato compasso sobre compasso apenas (e por motivos
próprios da maneira com que se espera que o músico faça a leitura do documento), claramente,
esta regra tem implicações muito maiores no domı́nio lógico do que no estrutural/visual.
1
o agrupamento de notas, em braille, tem uma intenção um pouco diferente da grafia em tinta, procurando
economizar na quantidade de punções ao se escrever as notas, tornando o processo menos cansativo.
2
veja seção 2.9
4.1
PRINCIPAIS FORMATOS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL
53
Para este mesmo formato de compasso sobre compasso, há uma exigência da repetição dos
sinais de mãos no inı́cio de cada novo bloco. Claramente, esta exigência está preocupada com procedimentos de leitura, uma vez que o transcritor, utilizando uma máquina Perkins e papel, deve
dobrar sua atenção a fim de não equivocar-se quanto ao posicionamento das celas na folha. Com o
apoio de recursos tecnológicos, este contratempo poderia ser não só resolvido, dado que o programa
colocaria o sı́mbolo adequadamente no começo das linhas, como também traria a possibilidade do
usuário modificar, por exemplo, a quantidade de compassos contidos em cada bloco, podendo assim
testar possibilidades de diagramação na medida que preocupa-se menos com posições fixas obrigatórias de elementos no documento. Além disso, a experiência de produção de conteúdo, seja musical
ou literário, em uma máquina Perkins ou em software é diferente; embora a grafia pelo método
puramente mecânico seja silenciosa (ou melhor, não receba “assistência” da máquina), o acesso à
informação produzida na folha é tão simples como tatear o papel à frente. Já o processo eletrônico
traz a possibilidade de assistência à produção de conteúdo válido e consistente, mas informar a posição de coordenadas de um sı́mbolo no papel é, no mı́nimo, uma informação a mais a ser enviada
ao usuário em formato de som. Esta informação pode vir em conjunto com as outras ou, separadamente mediante configurações mas, de qualquer maneira, preocupar-se com a quantidade de toques
realizados ou a serem realizados em uma linha - ou a quantidade de linhas utilizadas em uma folha
- é mais difı́cil e cansativo nesta produção por meio eletrônico. Complementarmente, é comum ver
aplicativos para produção de texto literário tomarem as rédeas da formatação gráfica do material
neles produzidos com o devido sucesso - e este poderia ser um caminho adequado também neste caso.
4.1
Principais formatos de representação musical
O formato MusicXML
Durante muito tempo programas de notação musical utilizaram formatos binários especı́ficos,
de forma que o compartilhamento dessa informação com outros programas não era favorecido. Era
comum que tais programas possuı́ssem métodos de importação e exportação em formato MIDI,
proporcionando portanto alguma comunicabilidade. Os arquivos MIDI, porém, não foram estruturados para lidar com uma série de elementos da notação musical da forma como são simbolizados
em uma partitura musical gráfica (Good, 2001).
Suponha, por exemplo, um compasso com quatro notas com um sinal de crescendo, criado em
um programa de notação musical e exportado para o formato MIDI; possivelmente verı́amos no
arquivo final que as notas do compasso teriam o atributo velocity 3 aumentado gradativamente,
e um reprodutor MIDI as tocaria dando a impressão do crescendo, mas a notação propriamente
dita desse elemento estaria perdida, uma vez que a reinterpretação simbólica/gráfica a partir do
atributo velocity das notas não é óbvia. Outro exemplo clássico de perda de informação musical
em arquivo MIDI é o da perda de armadura de clave e fórmula de compasso, além dos textos em
linhas vocais.
De acordo com Good (Good, 2001), formatos próprios para compartilhamento de informação musical foram propostos, mas sem sucesso na adoção como um padrão. O formato NIFF
(Cunningham, 2004; Good, 2001) foi uma tentativa de adoção de um padrão para tais fins; inicialmente foi utilizado com eficácia em aplicações de reconhecimento ótico de partituras e realmente o
formato contemplava mais informação simbólica musical do que o MIDI, mas sua abordagem predominantemente gráfica o tornava inferior ao MIDI para uso em aplicações de execução ou análise
musical.
3
O atributo velocity é onde parametriza-se no formato MIDI a dinâmica de uma nota musical. Define-se por um
valor entre 0 e 127, do mais fraco para o mais forte.
54
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.1
MusicXML é uma linguagem de marcação para representação de informação simbólica musical
baseada em XML4 . Essa linguagem é totalmente representada em texto, de forma a ser adequadamente estruturada para leitura por máquina e humana. O formato MusicXML foi idealizado pela
Recordare LCC5 tendo como objetivo justamente suprir essa carência de um formato consistente
e robusto que pudesse ser usado na troca de informação musical entre aplicativos, que fosse suficientemente versátil para poder ser utilizado em diversas aplicações, seja para notação musical ou
para fins musicológicos.
A figura 4.2 mostra como o arquivo MusicXML representa uma partitura musical; a figura
4.1 mostra o resultado gráfico oriundo do mesmo arquivo MusicXML. Mesmo sendo um exemplo
bastante simples, com apenas uma nota, o arquivo XML utiliza quase quarenta linhas de código
para descrevê-lo. O aninhamento da informação em blocos garante uma rigorosidade formal que
é fundamental para a leitura e interpretação por computadores. Mesmo sendo pouco prático, o
conteúdo do arquivo ainda pode ser lido e escrito diretamente por pessoas.
Î 44
Figura 4.1: Versão em tinta do arquivo MusicXML - helloworld.xml
O formato MusicXML será utilizado como destino do processo de conversão de braille para
tinta, não apenas por conta de sua notória estruturação e legibilidade (ilustrada na figura 4.2) e
contemplação satisfatória dos sı́mbolos musicais encontrados na música ocidental do século XX,
mas sobretudo pela sua ampla aceitação por parte dos principais softwares musicais produzidos
desde o advento deste formato.
O site da Recordare LCC6 mantém uma lista atualizada dos aplicativos que utilizam MusicXML
para fins diversos (ver tabela 4.1), além de muitos outros que implementam o formato apenas parcialmente para leitura ou escrita e alguns ainda em fase de protótipo ou de testes:
Allegro
Drindlefish
Finale
Free Clef
iComposer
Lime
MuseScore
NOTION
OpenMusic
PriMus
ProxyMusic
Score Perfect Professional
SmartScore
Symphony Pro
capella
Eletric Pipes
Finale NotePad
Guitar Pro
JFugue
MagicScore
MusicXML Library
Nuendo
Open Score Format
PrintMusic
QuickScore Elite Level II
Scorio
SongWriter
TaBazar II
Cubase
Encore
Forte
Harmony Assistant
KOffice
MusEdit
Noteflight
Obtiv Octava
Pizzicato
Progression
SCORE
Sibelius
Speech Analyser
TablEdit
Tabela 4.1: Tabela de softwares compatı́veis com MusicXML
Segundo Arora (2010), o fato do formato MusicXML ser baseado na linguagem XML permite
4
http://www.w3.org/XML/
http://www.recordare.com
6
http://www.recordare.com, acesso em 05/2010
5
4.1
PRINCIPAIS FORMATOS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL
55
Figura 4.2: conteúdo do arquivo MusicXML - helloworld.xml
que tecnologias como XQuery7 e XSLT8 possam ser associadas ao mesmo, estendendo assim seu
uso a uma série de possibilidades como por exemplo aplicações de MIR (Arora, 2010; Cuthbert,
2010).
O formato BMML
O formato BMML também é baseado na linguagem de marcação XML e orienta-se às particularidades da musicografia braille em diversos aspectos, tanto simbólicos, sendo capaz de representar
sı́mbolos especı́ficos desta linguagem (não presentes na musicografia tradicional em tinta), como
também da diagramação e condução da leitura, de caráter também especı́ficos.
Diferentemente do formato MusicXML, sua estrutura não contempla a divisão dos elementos
musicais por compassos. Há um elemento que representa a barra de compasso, e através dele é
que se faz possı́vel que qualquer interpretador consiga fazer o agrupamento de elementos pelo
contexto de compassos musicais. Além disso, o elemento estrutural mais importante, cuja responsabilidade é agregar os elementos musicais, é o elemento part, que representa um pentagrama de
7
XQuery é uma linguagem para inferência de consultas em XML; http://www.w3.org/TR/xquery, visitado em
05/2010
8
XSLT é uma linguagem para transformação de documentos XML em outros documentos XML;
http://www.w3.org/TR/xslt, visitado em 05/2010
56
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.2
um determinado instrumento. Uma partitura para piano com dois pentagramas, por exemplo, seria
representada em um documento BMML por elementos do tipo part com dois identificadores (atributo id) diferentes. Esta informação é importante para que se discorra sobre a maior discrepância
deste formato com relação ao MusicXML: cada elemento do tipo part aparecem em um documento
mais de uma vez, de forma que os elementos musicais ficam divididos entre várias instâncias destes
elementos. Com isso, o formato privilegia a distribuição da informação dentro das estruturas de
leiaute definidas em 2.9. Observa-se, portanto, que a distribuição da informação musical no formato
BMML é privilegiada no domı́nio estrutural.
Além da informação musical definida estruturalmente, através de elementos e atributos XML,
este formato também representa as celas braille propriamente ditas, através dos caracteres Unicode
relativos aos sinais braille, conforme ilustra a figura 4.3.
1 <? xml v e r s i o n=”1 . 0 ” e n c o d i n g=”UTF−8 ”?>
2 <!DOCTYPE s c o r e>
3 <s c o r e>
4
<s c o r e d a t a>
5
<p a r t i d=”bmml−p25 ”>
6
<p a r t n a m e i d=”bmml−0051 ”>&#x2828;&#x 2 8 1 c ;</ p a r t n a m e>
7
<s p a c e i d=”bmml−0052 ”>&#x2800 ;</ s p a c e>
8
< c l e f i d=”bmml−0053 ” name=”G ” l i n e =”2 ”>&#x 2 8 1 c;&#x 2 8 0 c;&#x2807 ;</ c l e f>
9
<s p a c e i d=”bmml−0054 ”>&#x2800 ;</ s p a c e>
10
<dynamic i d=”bmml−0055 ”>&#x 2 8 1 c;&# x 2 8 0 f ;&# x 2 8 0 f ;</ dynamic>
11
<n o t e i d=”bmml−0056 ”>
12
<? i n k n o t a t i o n beams=”0 , 2 ”?>
13
<n o t e d a t a>
14
<p i t c h>35</ p i t c h>
15
<d u r a t i o n>256</ d u r a t i o n>
16
< s l u r s>
17
< s l u r r e f i d=”bmml−0059 ” t y p e=” s t a r t ” s t a r t r e f =”bmml−0059 ”/>
18
</ s l u r s>
19
</ n o t e d a t a>
20
<o c t a v e i d=”bmml−0057 ” v a l u e=”5 ”>&#x2828 ;</ o c t a v e>
21
<n o t e t y p e i d=”bmml−0058 ” name=”C ” v a l u e=”w h o l e o r 1 6 t h ”>&#x283d ;</
n o t e t y p e>
22
< s l u r i d=”bmml−0059 ” v a l u e=” s h o r t ”>&#x2809 ;</ s l u r>
23
</ n o t e>
24
< b a r l i n e i d=”bmml−0064 ” v a l u e=”n e w l i n e ”>&#xa ;</ b a r l i n e>
25
</ p a r t>
26
<s p a c e i d=”bmml−1516 ”>&#x2800 ;</ s p a c e>
27
< g e n e r i c t e x t i d=”bmml−1517 ”>&#x2810;&#x2812 ;</ g e n e r i c t e x t>
28
<n e w l i n e i d=”bmml−1518 ”>&#xa ;</ n e w l i n e>
29
<n e w l i n e i d=”bmml−1519 ”>&#xa ;</ n e w l i n e>
30
</ s c o r e d a t a>
31 </ s c o r e>
Figura 4.3: Exemplo de representação musical pelo formato BMML
4.2
Outros formatos de representação musical
Esta seção investigará alguns outros formatos utilizados para representação musical, independentemente do caráter de construção e domı́nios representativos, porém por serem formatos mais
amplamente difundidos, motivo pelo qual mostram-se fortes candidatos a integrar a lista de formatos para exportação do Delius.
O formato NIFF é um formato de representação com ênfase no aspecto visual da partitura
musical, promovendo para tanto parâmetros que garantem precisão neste tipo de representação e
4.3
DEFINIÇÃO DO MODELO DE REPRESENTAÇÃO EM OBJETOS
57
sendo, portanto, utilizado primordialmente por programas de reconhecimento ótico via scanner e
de impressão.
O MIDI (Musical Instrument Digital Interface) é um protocolo de comunicação amplamente
difundido na indústria musical. Seu formato de arquivo é bastante utilizado como objeto de importação e exportação entre softwares de notação e sequenciamento musical, embora com muitas
perdas, uma vez que seu foco é o disparo de eventos musicais ou, de forma simplificada, a produção
de som efetivamente.
O formato PLAY, utilizado pelo software Braille Music Editor, dirige-se à representação musical
baseado na entrada da informação musical em braille. Este formato, porém, é um formato fechado,
não sendo facilmente reutilizável ou extensı́vel.
Fica evidente, portanto, que por mais que esforços sejam aplicados na busca de uma abstração
ideal, é difı́cil crer na possibilidade de concepção de um modelo de representação suficientemente
abrangente, capaz de representar a música “em toda sua essência”, servindo para todo e qualquer propósito; vale a pena lembrar ainda que todos os modelos aqui apresentados preocupam-se
primordialmente com a música tradicional ocidental, e que esta está longe de ser a única, e não
necessariamente tais modelos sejam capazes de representar gêneros orientais, antigos e muitos outros.
4.3
Definição do modelo de representação em objetos
O modelo de representação a ser utilizado pode ser entendido como um conjunto de classes,
escritos na linguagem Java, relacionados entre si através das formas possı́veis de acordo com o
paradigma de programação orientada a objetos. Talvez um dos pontos mais crı́ticos de todo o desenvolvimento deste aplicativo (e de muitos outros) é a distribuição adequada destes modelos em
classes e a relação que se faz entre elas; isso é determinante para uma série de questões como a
expansibilidade do modelo, a complexidade computacional de acesso à informação e a garantia de
integridade do modelo em um conjunto de estados válidos.
O modelo atualmente utilizado no Delius foi desenhado mediante a observação dos seguintes
fatores:
1. suas formas de entrada, sendo a principal delas a digitação do usuário
2. as possı́veis maneiras de navegação do usuário pelos elementos musicais contidos no modelo
3. a necessidade de se produzir saı́da e representação gráfica imediata, a partir da entrada do
usuário
4. a persistência do objeto para reuso e compartilhamento
5. os processos de conversão
Lassfolk (2004), ao tratar dos problemas da definição de modelos de representação musical com
orientação a objetos, divide as estruturas de agregação de classes em dois nı́veis (alto e baixo), onde
o primeiro nı́vel estrutural relaciona-se mais diretamente à organização estrutural dos elementos
musicais, enquanto que o segundo nı́vel refere-se aos elementos musicais propriamente ditos. Claramente, os fatores apresentados acima relacionam-se com estes dois nı́veis de maneiras distintas.
A apresentação do modelo criado para o Delius será portanto dividida em duas partes, de acordo
com estes nı́veis, discutindo-os individualmente e comparando-os com outros modelos propostos.
58
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.3
Estrutura de alto nı́vel
Com base nos primeiros dois itens enumerados acima, optou-se por buscar uma maneira de
interpretar a informação musical como conjuntos simbólicos e seus subconjuntos, aninhados por
uma estrutura de árvore, tendo raiz no grau de informação mais genérica e abrangente (o documento musical como um todo), até a informação mais especı́fica, baseada nos sı́mbolos musicais
e suas propriedades (notas e elementos de compasso). Sabe-se que a adoção deste tipo de estrutura é trivial quando se utiliza programação orientada a objetos, mas a definição dessa hierarquia
requer algum cuidado. No caso especı́fico da representação musical é bastante comum comparar
modelos e perceber divergências na concepção do que é essa parte estrutural. Essa divisão da informação musical em domı́nios revela um caráter prismático que justifica uma série de situações
de ambiguidade quanto às hierarquias entre as informações; dependendo do ponto de vista e dos
objetivos da leitura, certos elementos podem impôr-se hierarquicamente a outros. Lassfolk (2004)
discorre que para a definição deste alto nı́vel é necessário levar em consideração quais são, para os
fins especı́ficos, os elementos necessários e os desnecessários, a fim de organizar corretamente e da
forma mais simplificada possı́vel a relação de agregação entre as estruturas. Segundo seu trabalho,
a relação de agregação entre página, sistema e pentagrama pode não ser única; na notação musical
é permissı́vel que se tenha pentagramas que não pertençam a sistema nenhum, de forma que o
elemento pentagrama poderia relacionar-se diretamente com o elemento página. Da mesma forma,
buscando uma organização entre objetos, o elemento compasso pode agregar-se diretamente ao
elemento pentagrama ou ao elemento instrumento; embora seja possı́vel garantir o acesso a todos
os compassos, a partir do ponto estrutural mais alto, a facilidade em se localizar e em se percorrer
estes elementos dentro da estrutura pode variar.
Lassfolk, ainda no mesmo trabalho, propõe uma estrutura de alto nı́vel onde o nı́vel mais alto é
a partitura em si, que por sua vez é dividida em páginas, sendo cada página dividida por sistemas e
cada sistema composto por pentagramas, como pode ser visto na figura 4.4. No nı́vel de pentagrama
agrega-se outros sı́mbolos. O compasso é, neste caso, uma consequência da presença de sı́mbolos
dentro do pentagrama que representem as barras de compasso. Não é, portanto, algo de caráter
estrutural, embora possa ser perfeitamente identificado por uma varredura no modelo.
Figura 4.4: Modelo de representação de Lassfolk
O formato MusicXML lida com essa questão disponibilizando duas versões diferentes, definidas
por partwise e timewise. No primeiro caso, coloca-se o elemento do pentagrama em um grau hierárquico acima do elemento de compasso, favorecendo portanto a leitura e escrita do documento
como vários blocos (ou segmentos) horizontais. No segundo caso, o elemento de compasso é o mais
importante, tendo o elemento de pentagama como seu subordinado, privilegiando seu entendimento
4.3
DEFINIÇÃO DO MODELO DE REPRESENTAÇÃO EM OBJETOS
59
como blocos verticais. A figura 4.5 ilustra a diferença entre estas variações.
Figura 4.5: Comparação entre as variações partwise e timewise no formato MusicXML
O formato BMML, por sua vez, já possui uma estrutura bastante diferente, baseada na organização da informação musical em uma partitura braille. Neste formato privilegia-se a divisão da
informação por partes (Encelle et al., 2009) (ver figura 4.6). Cada parte, em braille, equivale a um
dos pentagramas de um instrumento e pode ser dividida por seções (algo equivalente ao sistema na
notação tradicional), dependendo do padrão de leiaute utilizado. Na maioria das vezes, uma seção
é definida por uma determinada quantidade de compassos.
Figura 4.6: Modelo de representação da estrutura de alto nı́vel do formato BMML
Em um primeiro momento pode-se supor que a estrutura do formato BMML, por ser concebida
especificamente para representar a música através da musicografia braille, seria entendida como
a mais adequada para inspirar o modelo do Delius. Contudo, conforme já mencionado, um dos
fatores que devem ser considerados na concepção deste modelo de representação é garantir eficácia
na navegação do usuário. A hierarquia da estrutura de alto nı́vel do formato BMML relaciona-se
fortemente com a diagramação do documento e sua divisão em páginas e sistemas. A navegação por
um usuário que não disponha de recursos visuais em uma estrutura tal qual a apresentada pode
ser bem pouco intuitiva. Além disso, deseja-se permitir que o usuário altere o padrão de leiaute
do documento a qualquer momento. Novamente, promover uma navegação na informação musical
baseada nesta estrutura significaria fazer com que o usuário tivesse que explorar o documento de
diferentes formas para cada alteração do leiaute.
A estrutura do formato MusicXML Partwise é bastante intuitiva para os músicos: tem-se uma
partitura, cada partitura tem seus instrumentos. Cada instrumento pode ter um ou mais pentagramas. Dentro de um pentagrama escreve-se notas e pausas, que são agrupadas dentro de pequenas
porções temporais, que são os compassos propriamente ditos. Com base na hierarquia deste formato, portanto, será inspirada a estrutura do modelo de representação da informação musical no
Delius. Ele viabiliza uma boa navegação ao mesmo tempo que permite que o usuário seja conduzido
60
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.3
a um ponto de entrada de informação (onde ele adicionará ou removerá elementos musicais) sem
preocupar-se, inicialmente, com a posição na página ou na folha na qual esta informação deve ser
apresentada.
Com isso, também se cria uma situação de mais liberdade para que o programa use de rotinas
de auto-formatação, que permitirão que o usuário possa testar uma série de leiautes diferentes em
uma partitura, e até mesmo produzir recortes da partitura total (uma versão com apenas dois
instrumentos, por exemplo) sem que a rediagramação seja um processo por demais trabalhoso.
Outro ponto relevante é a necessidade de produzir rapidamente uma representação visual e
sonora dos elementos musicais ingressantes. Para isso, o programa precisa reconhecer os sı́mbolos
informados pelo usuário imediatamente após a entrada, o que significa passar por um processo
inicial de compilação daqueles sı́mbolos de modo a agregar no modelo os objetos abstratos que o
representam.
Optou-se então por se entender o compasso como sendo o último nı́vel dessa parte da estrutura;
abaixo deste nı́vel estarão os elementos de nı́vel inferior, tratados igualmente como elementos de
compasso. O principal objetivo é permitir que a tradução dos sı́mbolos de entrada, para cada entrada que o usuário faça, seja minimizada, evitando a necessidade de releitura de todos os sı́mbolos,
desde o começo da partitura (ou mesmo daquele instrumento em particular) para cada novo sı́mbolo produzido no documento (veja figura 4.7). Como fora visto anteriormente em 2.4, a duração
das notas musicais depende de como elas podem completar a duração total do compasso, por sua
vez regida pela fórmula de compasso vigente. Conforme será visto na próxima subseção, há motivos
de complexidade computacional para que se evite este reprocessamento a cada entrada.
Figura 4.7: Modelo de representação da estrutura de alto nı́vel do Delius
Estrutura de baixo nı́vel
Este nı́vel relaciona-se mais diretamente com as entradas fornecidas pelo usuário e os sı́mbolos
que produzirão conteúdo musical. Trata-se, portanto, dos elementos que não têm caráter estrutural e que são pertinentes dentro do domı́nio lógico. No caso do Delius, esta divisão é importante
também pelos processos aos quais os integrantes desta parte do modelo são submetidos; em sua
maioria, estes elementos de baixo nı́vel serão produtos dos analisadores léxico e sintático, a partir
dos comandos de entrada do usuário.
Todos os elementos musicais serão criados pelo usuário a partir da simulação de uma máquina
Perkins (ver seção 2.2). Conforme citado na seção 2.6, os sı́mbolos musicais são criados a partir de
uma ou mais celas braille.
Para criar uma hierarquia consistente entre todos os elementos que compõem o modelo, foram
criadas duas classes principais: as classes Cell e CellSet. A primeira representa a própria cela
4.3
DEFINIÇÃO DO MODELO DE REPRESENTAÇÃO EM OBJETOS
61
braille como um glifo dentro do modelo abstrato; a segunda representa um conjunto ou superconjunto de celas; Um objeto do tipo CellSet pode, portanto, conter uma coleção Cell ou mesmo
uma coleção de CellSet. A classe CellSet é abstrata, de forma que deve ser estendida para que
possa ser utilizada. Essa agregação recursiva permite criar uma estrutura em árvore onde nas folhas
se teria os sinais braille e nos nı́veis superiores os significados atribuı́dos aos mesmos. É importante
esclarecer que apenas a classe CellSet pode portar significado; a classe Cell é uma representação
de um elemento do alfabeto braille, e por mais que uma instância desta classe, por si só, faça sentido
dentro de um contexto, este sentido será atribuı́do ao objeto CellSet no qual tal instância estará
contida (objeto-pai).
O compasso musical é representado pela classe Measure, que estende CellSet. Esta classe é
importante por ser a classe que divide os dois nı́veis estruturais (baixo nı́vel e alto nı́vel). Ela possui
duas coleções importantes; a primeira refere-se à coleção de CellSet que é caracterı́stica da própria
classe-base, conforme já foi detalhado, e é onde todos os elementos musicais daquele compasso serão
ordenadamente armazenados. A segunda coleção é um buffer de celas, importante no processo de
receber as entradas do teclado do usuário e convertê-las em sı́mbolos musicais conforme isso seja
possı́vel, sendo portanto um agente intermediário entre a entrada do usuário e a primeira coleção
aqui citada.
Esta primeira coleção da classe Measure receberá objetos do tipo MeasureElement. Esta é uma
classe abstrata que dará origem a todos os elementos que podem ser adicionados a um compasso,
como notas, pausas, ligaduras, sinais de indicação de mão, etc. A figura 4.8 ilustra o relacionamento
entre estas classes.
Essa firna de estruturação da informação musical implementa o padrão de projeto Composite.
Este padrão permite que objetos sejam compostos em estruturas de árvores para representar hierarquias do tipo parte-todo (Eric Freeman, 2004), possibilitando que objetos sejam tratados pelos
programas tanto como coleções quanto como objetos individuais.
Figura 4.8: Modelo de representação da estrutura de baixo nı́vel do Delius
62
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.4
Composição do modelo de representação
A unificação das duas partes estruturais acima apresentadas resulta no modelo completo de
representação. Esta estrutura final dará origem, portanto, ao objeto principal do programa, responsável por toda a informação musical produzida nele e pela integridade dos seus elementos. É
também a parte a ser submetida aos processos de serialização e persistência, detalhados na seção 3.6.
Embora a estrutura final aqui definida seja o modelo representativo em sua totalidade, ele deve
ser também interpretado como um modelo intermediário, no que se refere às entradas e saı́das. Isso
porque as informações a serem representadas em cada etapa do modelo devem ser tais que o modelo participe do processo de conversão entre os diversos possı́veis formatos de entrada e saı́da do
programa como uma linguagem intermediária. Isso significa que o modelo não busca aproximar-se
simplesmente das entradas realizadas pelo usuário, mas também das saı́das; por isso, as propriedades dos elementos musicais que estendem MeasureElement foram baseados nos objetos presentes
nos modelos de saı́da, como os das definições do MusicXML e o abc4j. Isso significa que este modelo
de representação será visto em determinados momentos como o objeto fundamental do programa,
e em outros como um objeto intermediário entre a entrada do usuário e as saı́das diversas. A figura
4.9 mostra a estrutura final, composta pelos dois nı́veis anteriormente apresentados.
Figura 4.9: Modelo de representação completo
4.4
Produção de informação musical no modelo de representação
Esta seção trata da maneira com que a informação produzida pelo usuário, mediante a simulação da máquina Perkins no teclado do computador, é processada para o que o modelo seja
corretamente alimentado com objetos que representem a informação musical. Para tanto, o usuário
do programa deve situar-se no contexto de um compasso. Neste ponto, para cada entrada válida
realizada, o programa executa os seguintes passos:
1. Interpreta a entrada e produz um objeto Cell;
2. Adiciona este objeto em na lista temporária (buffer ) de celas do objeto de compasso ao qual
pertence;
3. Processa o conteúdo do buffer do compasso no analisador léxico e sintático;
4. Recebe o retorno dos analisadores como objetos do tipo MeasureElement e os adiciona ordenadamente em uma coleção;
4.4
PRODUÇÃO DE INFORMAÇÃO MUSICAL NO MODELO DE REPRESENTAÇÃO
63
5. Realiza o pré-processamento semântico dos sı́mbolos:
(a) Organiza as celas do buffer dentro dos objetos recebidos (como folhas);
(b) Relaciona os elementos musicais por listas ligadas;
(c) Calcula a duração das notas baseadas na completude do compasso;
(d) Processa valores de parâmetros de sı́mbolos baseados nos estados dos sı́mbolos anteriores
6. Notifica outras instâncias da aplicação para que façam o redesenho das telas
7. Processa a descrição do sı́mbolo inserido para notificação pelo leitor de tela
O processo automatizado de conversão entre linguagens é realizado, via de regra, mediante
a construção e uso de compiladores. De forma simples, compiladores são programas que têm
como objetivo ler um programa escrito em uma determinada linguagem de entrada (linguagemfonte) e transformá-lo em um programa equivalente escrito em outra linguagem (linguagem-alvo)
(Aldred V. Aho, 1986). No caso em questão, embora o objetivo não seja produzir um programa a
partir da linguagem de entrada, esta pode ser entendida como um conjunto de instruções musicais
que deverão justamente ser traduzidas para uma outra linguagem onde tais instruções mantenhamse equivalentes, na medida do possı́vel. Ademais, para se obter a linguagem-alvo é necessário que
o texto fonte passe por uma série de etapas de reconhecimento, classificação e montagem que são
caracterı́sticas dos compiladores. São estas as fases importantes de um compilador (Aldred V. Aho,
1986; Neto, 1987):
• Análise léxica: consiste na análise dos caracteres e do alfabeto do texto do código fonte,
gerando uma série de sı́mbolos denominados tokens, que são apropriados para o manuseio
pelo compilador na próxima etapa. O segmento responsável por essa etapa é geralmente
chamado de lexer.
• Análise sintática: é a transformação dos sı́mbolos analisados pela etapa anterior em uma árvore sintática que condiz com a gramática da linguagem de origem. Este segmento é chamado
de parser.
• Análise semântica: é a interpretação do significado dos elementos dispostos na árvore sintática
gerada pelo analisador sintático. Esta é a etapa onde há valoração dos sı́mbolos da linguagem
de origem.
• Código intermediário: é a criação de um código valorado e ordenado adequadamente para que
a informação possa ser reescrita na linguagem destino.
A partir do código intermediário o compilador passa para a fase de montagem. No caso de
programas de computador, é o momento em que se gera o objeto executável9 .
Processamento do buffer de celas do compasso
Esta etapa é importante pela maneira com que o programa é reativo à entrada do usuário:
a cada cela inserida, os analisadores léxico e sintático buscarão traduzi-la como um elemento do
compasso ou agregá-la a algum elemento já existente. Portanto, ainda que esta cela integre em definitivo algum elemento do compasso, ela se mantém no buffer para que após uma próximo comando
do usuário (inserção ou remoção de alguma outra cela) ela possa ser reinterpretada. A figura 4.10
ilustra este processo no aplicativo.
9
Em algumas linguagens o código intermediário é o produto final do compilador, que será posteriormente processado por uma máquina virtual, que é um programa capaz de o ler e executar.
64
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.4
Figura 4.10: Etapas da tradução dos sinais braille para o modelo representativo.
Análise léxica, sintática e semântica das celas
As etapas de análise léxica e sintática são usuais no processo de tradução de linguagens. É o
processo no qual verifica-se se uma dada cadeia de caracteres é ou não válida de acordo com uma
linguagem formal. Esta linguagem, por sua vez, é definida através de um conjunto de sı́mbolos por
uma gramática formal. Numa primeira etapa, o analisador léxico responsabiliza-se por entender
essa entrada como uma sequência de sı́mbolos pertencentes à linguagem em questão. Estes sı́mbolos são entendidos em dois nı́veis, sendo os sı́mbolos terminais (tokens) aqueles mais elementares,
que são indivisı́veis, e os não-terminais como sendo composições dos sı́mbolos terminais, formando
o equivalente a palavras válidas dentro daquela linguagem. O analisador sintático, por sua vez, tem
como responsabilidade verificar se os sı́mbolos terminais organizam-se coerentemente formando
sentenças, situação na qual é possı́vel atribuir significado e valores aos sı́mbolos terminais. Essa
validação é feita por meio de um conjunto de regras sintáticas que também fazem parte da definição
da linguagem em questão.
Tanto para as etapas de análise léxica e sintática como para a definição dos elementos da gramática (sı́mbolos terminais e não-terminais, regras de geração), o aplicativo conta com um componente
externo chamado ANTLR, que será tratado detalhadamente a seguir.
ANTLR10 , acrônimo de ANother Tool for Language Recognition, é uma ferramenta para a
construção de reconhecedores, interpretadores, compiladores e tradutores a partir de descrições
10
http://www.antlr.org
4.4
PRODUÇÃO DE INFORMAÇÃO MUSICAL NO MODELO DE REPRESENTAÇÃO
65
gramaticais. Esta ferramenta é capaz de produzir como saı́da classes e métodos, em diversas linguagens diferentes11 capazes de reconhecer e validar regras gramaticais criadas pelo usuário, sendo
de fácil integração ao código fonte original. O ANTLR ainda conta com um plug-in de integração
com o Eclipse IDE que contém uma série de ferramentas auxiliares para a criação de gramáticas,
validação de regras e criação de casos de teste. Ele também permite a visualização em árvore dos
sı́mbolos terminais e não-terminais e dos diagramas de sintaxe, como pode ser visto nas figuras 4.11
e 4.12.
Representação em braille:
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Figura 4.11: Exemplo de árvore sintática criada pelo ANTLR
Figura 4.12: Exemplos dos diagramas de Sintaxe gerados pelo ANTLR
Com o uso desta ferramenta, o trabalho de interpretação das celas braille em sı́mbolos musicais
resume-se a buscar uma maneira de definir as regras (ou parte das regras) da musicografia braille
de uma forma que o ANTLR seja capaz de as tratar. Dado um documento contendo os conjuntos
11
até o inı́cio do ano de 2010 o sı́tio oficial do produto informa as seguintes: Ada95, ActionScript, C, C++, Csharp,
Emacs ELisp, Java, Javascript, Python, Ruby, Perl, PHP, Oberon, Objective C e Scala
66
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.5
de regras de geração da linguagem e os sı́mbolos pertinentes à mesma (terminais e não-terminais),
o ANTLR produzirá duas classes Java (para o caso em questão) com métodos já preparados para
efetuar a varredura de uma cadeia de caracteres dentro da árvore sintática que é definida pelas
regras anteriormente descritas. Este documento é escrito numa variação da forma de Backus-Naur
(também conhecida por BNF). BNF (Backus-Naur Form) é uma metalinguagem para descrição de
linguagens formais, publicada pela primeira vez no relatório de especificação da linguagem Algol
60 (Neto, 1987). Até hoje é amplamente usada, sobretudo para descrever sintaxe de linguagens de
programação.
O apêndice D traz uma redução do documento que define as regras inicialmente implementadas
no formato BNF. A versão completa do arquivo utilizado pelo ANTLR contém código Java mesclado, necessário para que a ferramenta crie um analisador sintático que retorne para a aplicação
não só a árvore sintática das expressões válidas, mas um conjunto de objetos CellSet que possam
prontamente ser utilizados pelo programa.
Uma das maiores vantagens em contar com esta ferramenta é a rapidez com que se inclui ou
remove novas regras, dando ao programa maior capacidade de crescimento. Além disso, ele informa
quando regras estão em conflito, facilitando a criação da gramática pela estruturação lógica dos
elementos.
4.5
Cálculo de duração das notas
A musicografia braille possui algumas ambiguidades simbólicas que exigem uma completude
mı́nima das sentenças musicais – particularmente no nı́vel de compasso – para que seja possı́vel
estimar com segurança a forma correta de se entender tal sentença. Muito embora seja possı́vel
escrever o arquivo MusicXML com excesso ou falta de notas em um compasso, a representação
visual e simultânea da entrada, desejada no aplicativo, será comprometida.
O problema a ser enfrentado diz respeito especificamente ao uso de um mesmo sı́mbolo braille
para representar duas durações diferentes, como pode ser visto na figura 2.4. Nessa figura vemos
que os pontos superiores (1, 2, 4, 5) definem a altura das notas, e os inferiores (3 e 6) definem a
duração. Assim, ao fazer uso dos pontos 3 e 6 podemos estar representando semibreves ou semicolcheias; apenas o ponto 3 significa que a nota pode ser uma mı́nima ou uma fusa, e assim por
diante. A idéia por trás desse pensamento é que as durações que usam uma mesma representação
são muito distantes entre si (em cada grupo, o valor de maior duração é 16 vezes superior ao seu
par), de forma que, nas configurações rı́tmicas usuais, só existiria uma interpretação possı́vel para
cada nota de modo a preencher corretamente o compasso. A seção 2.5 apresenta as regras de utilização de sinal de separação de valores das notas musicais que, embora seja adequado para resolver
o problema de ambiguidade, não é exigido pelo MIMB quando a interpretação é óbvia para o leitor.
A compreensão da nota está, portanto, diretamente ligada ao preenchimento correto do compasso. A figura do compasso recebe então, em braille, um valor de importância diferenciado; sem
a completude do compasso é impossı́vel determinar com precisão o valor da duração das notas.
Sob o ponto de vista humano, a prática e o conhecimento da obra ou do estilo norteiam a leitura
de forma que essas questões de ambiguidade são na maioria dos casos rapidamente resolvidas, e
apenas alguns excertos carecem de uma leitura mais cuidadosa. Computacionalmente, porém, é
necessário verificar matematicamente a completude do compasso, ou seja, verificar se a soma das
durações das notas perfaz a duração total do compasso conforme a fórmula de compasso vigente.
Inicialmente, por questões de eventuais arredondamentos de dı́zimas periódicas, a duração das
notas musicais será representada, na aplicação, em forma de fração. Para isso foi criada a classe
Duration, que representará o tempo das notas em numerador e denominador. Por convenção,
4.5
CÁLCULO DE DURAÇÃO DAS NOTAS
67
adotamos a semibreve como referência de unidade temporal.
Braille
..
..
..
.. .. ..
.. .. ..
.. .. ..
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Sı́mbolo
Duração
Numerador
Denominador
breve
2
1
semibreve
1
1
mı́nima
1
2
..
..
..
semı́nima
1
4
..
..
..
colcheia
1
8
..
..
..
semicolcheia
1
16
..
..
..
fusa
1
32
..
..
..
semifusa
1
64
..
..
..
quartifusa
1
128
Tabela 4.2: Representação da duração das notas
Para que seja possı́vel estimar o valor de duração das notas, consideraremos os elementos invariantes especificados no manual:
1. Não é possı́vel dois elementos de igual sı́mbolo braille e com diferentes durações serem dispostos lado a lado sem um sinal de separação de valores.
2. Os sinais de valores maiores definem sumariamente os valores das notas conseguintes de
acordo com as primeiras quatro linhas da tabela 4.2 e os valores menores de acordo com as
quatro últimas linhas.
3. Todos os sı́mbolos de notas representam duas categorias de duração diferentes onde os valores
menores são 16 vezes menor do que os valores maiores.
4. Por conta dos agrupamentos, os sı́mbolos que se assemelham às colcheias também podem
representar o valor de duração especificado pela nota que as antecede, cujo valor deve ser
obrigatoriamente menor do que o de colcheia, já que notas de duração superior não se agrupam.
Assim, dado um compasso preenchido com notas, o primeiro passo para se estimar os valores
das notas é agrupá-las em subconjuntos por semelhança. Considere a seguinte sentença:
.. .. ..
.. .. ..
.. .. ..
.. ..
.. ..
.. ..
.. .. .. ..
.. .. .. ..
.. .. .. ..
| {z } | {z
== } |
2
4
ˇ “ˇ “
=={z==== }
ˇ “ˇ “ˇ “ˇ “
Primeiramente, elas serão agrupadas em blocos de afinidade; embora não seja possı́vel ainda
precisar valores, é possı́vel, pelas proposições enumeradas acima garantir que notas (e pausas) consecutivas, com a mesma grafia de duração, realmente possuem a mesma duração.
Consideremos o conjunto C de notas totais no compasso, divididas em k subconjuntos de nk
notas de duração dk , e seja f a fração correspondente à fórmula de compasso vigente. Sabe-se que
a completude do compasso é garantida quando a soma da duração
Pk das notas e pausas for igual à
fração correspondente à fórmula de compasso, ou seja, quando i=1 ni di = f . Assim, na sentença
acima temos o seguinte agrupamento:
68
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
.. ..
.. ..
.. ..
..
..
..
4.6
.. .. ..
.. .. ..
.. .. ..
| {z } |{z} | {z }
C1
No exemplo acima, f =
2
4,
C2
C3
de forma que n1 d1 + n2 d2 + n3 d3 =


2d1 + d2 + 3d3 = 24 , onde



d = 1 ou 1 ;
1
8
128
1

d
=
ou
1;
2

16


d = 1 ou 1 ou 1 ;
3
8
128
16
2
4
, ou seja,
A solução deste problema pode ser obtida através de uma árvore de decisão com as possibilidades
de soma existentes. Porém, essa solução tem custo exponencial no pior caso (3k alternativas caso
haja os três valores possı́veis para todo dk ). Embora as instâncias sejam sempre pequenas (k ≥
10 seria um caso muito raro), alternativas mais eficientes de se resolver o problema deverão ser
investigadas.
4.6
Questões em aberto relativas ao processo de tradução
Esta seção tratará de alguns elementos musicais que não foram implementados no trabalho
até o presente momento, seja por sua complexidade ou por exigirem maior tempo ou análise. É
importante, porém, mencioná-los aqui, para que possam ser oportunamente discutidos em trabalhos
futuros.
Quiálteras
Figura 4.13: Detalhes sobre a notação de quiálteras na grafia musical tradicional.
O entendimento de quiálteras pelo programa torna-se bastante mais complicado do que o esperado inicialmente pela soma de dois fatores: a impossibilidade de se conhecer a priori a duração
real das notas do compasso, conforme mencionado acima, e a ausência de um caractere terminador
para finalizar o segmento braille que está sendo alterado pelo sinal de quiáltera (ver o caso do sinal
de tercina, na seção 2.4). Quiálteras são grupos de notas empregados com maior ou menor valor do
que normalmente representam. Quiálteras regulares são aquelas onde as notas têm a mesma duração; quiálteras irregulares, são aquelas formadas por notas com valores desiguais. Define-se por
quiálteras aumentativas aquelas que permitem tocar mais notas no mesmo espaço de tempo, e as
diminutivas aquelas que permitem tocar menos notas no mesmo espaço de tempo. Na musicografia
tradicional em tinta, o critério de escolha da figura para a representação da quiáltera (aumentativa
ou diminutiva) depende da maior proximidade ente o número de notas da quiáltera e o número de
notas da subdivisão normal (Med, 1996). É interessante perceber, por essa regra, que uma semı́nima
dividida em sextinas regulares pode ser representada de duas maneiras, como mostra a ilustração A
da figura 4.13, que podem ser grafadas como semicolcheias ou fusas; no primeiro caso, interpreta-se
como uma quiáltera aumentativa, enquanto que no segundo caso trata-se de uma quiáltera diminutiva. Em alguns casos, certos compositores optam por usar outra notação, indicando claramente
4.6
QUESTÕES EM ABERTO RELATIVAS AO PROCESSO DE TRADUÇÃO
69
quantas notas são tocadas no tempo de quantas outras, como mostra a ilustração B da figura 4.13.
Figura 4.14: Comparação do emprego de tercinas nas grafias musicais.
No braille, no entanto, informa-se apenas o valor das quiálteras, sem nenhuma informação mais
clara de quais são as notas realmente afetadas por elas. A situação apresentada pela figura 4.14
mostra uma situação clara onde há o emprego da tercina em duas situações muito diferentes, as
quais se diferem unicamente pela quantidade de sı́mbolos de notas no compasso (a saber, uma col..
cheia .. .. no final do primeiro compasso, apontada pela seta cinza). No primeiro compasso, o sinal
de tercina refere-se realmente a três semı́nimas; por tratar-se de quiáltera irregular, subdivide-se
este valor em quatro colcheias e uma semicolcheia. No segundo caso, o sinal de tercina diz respeito às três colcheias subsequentes apenas. Deste modo, a interpretação correta das notas que
integram as quiálteras (principalmente nos casos de quiálteras irregulares) é, da mesma forma que
a duração das notas, dependente da quantidade de notas presentes no compasso, presumindo um
compasso corretamente completo. Ademais, sendo a quiáltera justamente um modificador da duração das notas, cria-se uma espécie de dependência cı́clica entre estes elementos. Percebe-se, porém,
que na figura 4.14 só há uma situação possı́vel para cada um dos casos, o que certamente permite encontrar a solução do problema. No entanto, a modificação necessária na árvore de decisão
apresentada na seção 4.5 para resolver o problema a prejudica enormemente com relação à sua
eficiência; além desta árvore de decisão ter de testar todos as durações possı́veis, ela precisará testar simultaneamente (e subordinadamente à esse primeiro teste) todos os agrupamentos possı́veis
de notas até encontrar uma situação de completude do compasso. Para o escopo deste trabalho,
não será proposta nenhuma solução para o problema, deixando-o em aberto para trabalhos futuros.
Linhas vocais e cifras
As linhas vocais que acompanham uma melodia (tratadas na seção 2.8) são uma parte muito
importante e desejada como implementação do Delius, no entanto deverão figurar em versões futuras, dado que ainda é necessário consolidar as metodologias de navegação e acesso à informação
propostas por este trabalho para que se proponha a implementação adequada. Isso ocorre porque
as linhas vocais são escritas, dentro das seções (blocos) das partituras em braille, alternadamente
com as linhas melódicas. Porém, as linhas melódicas compõem estas seções, via de regra, por um
determinado número de compassos, o que não ocorre com as linhas vocais, que integram estes blocos de acordo com as notas as quais se referem. Dessa forma, uma das propostas estudadas até o
presente momento é que haja um ambiente paralelo para entrada de texto, onde seja possı́vel fazer
a associação e o acompanhamento das sı́labas juntamente com as notas. A diagramação de texto
e melodia poderia, dessa forma, ser feita automaticamente, sem que haja necessidade do usuário
posicionar o texto junto às linhas melódicas. Este seria também o caso da indicação de cifras, ge-
70
MODELOS COMPUTACIONAIS DE REPRESENTAÇÃO MUSICAL E CONVERSÃO
4.7
ralmente posicionadas acima das notas ou acordes.
Sinais de repetição
Os sinais de repetição aqui mencionados são aqueles próprios da musicografia braille, sem equivalência na grafia em tinta, descritos no final da seção 2.4. A dificuldade de implementação vem da
ausência de formalidade quanto ao uso do recurso. O próprio manual de musicografia braille coloca
que “seu uso exige intuição e uma boa formação musical”. De fato, este sinal pode representar
tanto uma repetição de toda a sentença musical que o antecede, dentro do mesmo compasso, como
apenas algumas notas desta sentença, cuja repetição caracterizaria um ostinato. Este sinal, porém,
é um recurso extremamente importante para a musicografia braille, por facilitarem a leitura e a
memorização, além de poupar espaço; por esses motivos, é desejado que, tão logo seja possı́vel, o
mesmo venha a integrar o conjunto elementos compreendidos pelo aplicativo.
4.7
Conclusão do capı́tulo
Este capı́tulo tratou da metodologia utilizada para a definição do modelo de representação utilizado pela aplicação e a forma com o qual é preenchido a partir das entradas realizadas pelo usuário
utilizando no teclado do computador um emulador da máquina Perkins. O conjunto de classes e
seus respectivos métodos deste modelo serão o alicerce para todas as conversões entre linguagens
de representação musical que venham a ser implementadas pelo programa, dando origem portanto
ao componente principal do mesmo.
Também foi realizada uma discussão sobre a divisão da representação simbólica musical em
aspectos ou domı́nios. A partir disso, realizou-se uma comparação entre diversos modelos de representação simbólica musical existentes, versando sobre as especificidades de cada um e da sua
relação com estes aspectos.
Também foi discutido, neste capı́tulo, questões especı́ficas da tradução de informação musical
partindo da grafia braille, como o caso da determinação da duração das notas dentro de um compasso e dificuldades na tradução de certos sı́mbolos, como as quiálteras e os sinais de repetição.
Capı́tulo 5
Análise do aplicativo e discussão
5.1
Introdução
Este capı́tulo buscará avaliar o resultado do desenvolvimento apresentado nos capı́tulos anteriores, investigando as escolhas feitas e as decisões de implementação tomadas, a partir de experiências
práticas. Será objetivo desta análise verificar se o aplicativo realmente aproxima-se de seu objetivo
inicial, ou seja, se poderá atuar como uma ferramenta de apoio na relação entre alunos cegos e
professores videntes.
Avaliar a real eficácia do aplicativo dentro do cenário acima mencionado é certamente uma tarefa de longo prazo. A etapa atual de análise visa observar os primeiros passos dados em direção a
este objetivo, discutindo as escolhas tomadas durante o processo de desenvolvimento e distinguindo
os pontos que se aproximam das metas estabelecidas e os pontos que carecem de reformulação ou
melhorias. Ademais, essa etapa também possibilitou um contato mais próximo com potenciais usuários, proporcionando não só um conhecimento mais abrangente de suas necessidades como também
despertando, por parte dos mesmos, a atenção para o projeto que está sendo realizado.
A análise do aplicativo foi feita em duas partes principais. A primeira parte consiste em uma
avaliação da usabilidade e da experiência do usuário, onde voluntários foram submetidos a uma
situação de uso do programa através de tarefas especı́ficas; ao final, estes voluntários eram submetidos a uma entrevista, onde davam seus pareceres com relação a questões do programa que
foram observadas durante sua exploração. Foi realizada então uma análise destes dados a fim de
caracterizar as tendências do posicionamento dos usuários entrevistados.
A segunda parte da análise busca avaliar a qualidade do programa na tarefa de conversão entre
as linguagens. Para tanto, alguns testes de transcrição foram realizados com base em materiais didáticos reais, utilizados atualmente em aulas de musicografia braille. Os resultados são comparados
e analisados.
5.2
Análise de usabilidade e da experiência do usuário
Nesta primeira etapa de avaliação do software, um experimento com usuários reais foi preparado, buscando entender possı́veis dificuldades experimentadas pelos mesmos, considerando o atual
estágio de desenvolvimento do programa. Para tanto, duas tarefas simples de uso prático do programa foram idealizadas. Tais tarefas não tinham como objetivo qualificar a aptidão do usuário com
relação ao uso do programa, mas sim buscar situar o entrevistado dentro de uma experiência de
uso plausı́vel, que o incentivasse a explorar os recursos do programa a fim de alcançar os objetivos
propostos. A qualidade do material musical produzido pelos usuários, sob a perspectiva estética, é
71
72
ANÁLISE DO APLICATIVO E DISCUSSÃO
5.2
portanto irrelevante para a presente análise.
Um questionário foi preparado para colher esta experiência de uso. Suas perguntas são divididas em alguns grupos principais. O primeiro grupo busca caracterizar o perfil do entrevistado,
classificando-o por idade, possı́veis necessidades especiais, grau de instrução e sua experiência com
informática e com as grafias musicais. Em um segundo momento, o questionário registra algumas
informações sobre as tarefas realizadas, como o tempo gasto em cada uma, erros encontrados, grau
de dificuldade e sucesso obtido. O terceiro grupo de questões busca explorar a experiência de forma
geral, avaliando os recursos de navegação e de produção musical dentro do ambiente do programa,
a frequência com que o usuário se perde ou fica confuso com a informação prestada, a qualidade
dos recursos visuais e sonoros que compõem a interface do usuário e a qualidade das transcrições
realizadas. A última parte do questionário faz uma avaliação geral do programa em medidas mais
subjetivas, como satisfação geral, produtividade e configurabilidade. Nesta última parte também
estão presentes algumas questões dissertativas, para o usuário apontar sua opinião sobre possı́veis
usos do programa e melhorias necessárias. A maioria das questões tinham a resposta esperada
dentro de escalas Likert (Likert, 1932) de cinco pontos, sendo que para cada caso é especificado o
valor semântico dos pontos máximos e mı́nimos (ex.: Pouco consistente/muito consistente, Muito
difı́cil, muito fácil). O questionário completo está disponı́vel no apêndice A.
As entrevistas foram realizadas individualmente, numa duração aproximada de 1 hora por participante. A única exigência para a seleção de voluntários era que o indivı́duo afirmasse possuir
conhecimento em musicografia braille, não sendo necessário portanto experiência em computação
ou com programas musicais.
Organização dos dados obtidos
A colheita dos dados foi realizada no ambiente mais adequado para cada um dos entrevistados,
muitas vezes na casa dos mesmos. Da mesma forma, foi permitido que o usuário escolhesse entre
utilizar seu próprio computador ou um computador que esteve disponı́vel para esta finalidade.
Pelo motivo de não haver um ambiente padrão para a aplicação dos testes, entre outros motivos, os
dados colhidos passaram por alguma depuração antes do inı́cio das análises exploratórias, conforme
mencionado abaixo:
• Inicialmente era esperado que se pudesse explorar os dados levando em consideração a acuidade visual dos entrevistados dividida em três grupos: cegueira total, visão subnormal e visão
normal. Contudo, por apenas um entrevistado apresentar visão subnormal, o fator acuidade
visual foi dividido entre dois grupos apenas, “deficiente visual” e “visão normal”.
• Os números relativos à tarefa 0 (instalação do software) foram descartados para esta análise,
pois a instalação do programa não foi necessária em todos os casos, além de ter produzido
exatamente o mesmo resultado em todas as situações (menos de 1 minuto, nenhum problema
encontrado, fácil instalação e total sucesso obtido). As questões que perguntavam se houve
necessidade de recomeçar as tarefas também foram descartadas para esta análise exploratória,
pois o resultado foi sempre negativo para todas as tarefas.
• A questão que pede uma nota geral sobre configurabilidade não participou da maioria dos
cruzamentos de dados, pois foram obtidas poucas respostas, já que as situações de uso não
exploravam todos os recursos de configuração da ferramenta. Para que esta questão pudesse
ser levada em consideração seria necessário que os usuários tivessem um maior tempo de
contato com o software; Nenhum dos usuários entrevistados teve experiência prévia com a
ferramenta.
5.2
ANÁLISE DE USABILIDADE E DA EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO
73
• As experiências de impressão e comparação não puderam ser feitas em todas as entrevistas
por ausência de equipamento necessário (impressoras, principalmente). As informações colhidas estão presentes nos relatórios de frequência das respostas mas não foram utilizadas nos
cruzamentos realizados.
Perfil dos entrevistados
Das respostas dadas às questões referentes ao perfil dos entrevistados, discriminadas nas tabelas
5.1 e 5.2, pode-se extrair de forma trivial as seguintes afirmações a respeito da amostra:
N
Média
Mediana
Desv.Padrão
Variância
Usuário
U1
U2
U3
U4
U5
U6
U7
U8
U9
9
Usuário
S.O. que utiliza
U1
U2
U3
U4
Windows
Windows
Windows
Windows
U5
U6
U7
U8
U9
Windows
Windows
Windows, Linux
Windows
Windows, Mac
Faixa Etária
70
30
40
50
20
40
20
30
20
9
35,56
30,00
16,667
277,77
Acuidade Visual
Visão normal
DV - Nenhuma visão
DV - Baixa visão
DV - Nenhuma visão
DV - Nenhuma visão
Visão normal
Visão normal
Visão normal
DV - Nenhuma visão
9
Leitores de tela utilizados
JAWS
NVDA, Virtual Vision
JAWS, NVDA
JAWS
MusiBraille, Braille Fácil
NVDA, Virtual Vision, VoiceOver
Grau de Instrução
Ensino Médio
Superior
Ensino Médio
Pos-graduação
Ensino-médio
Superior
Superior
Superior
Superior
9
Softwares utilizados para escrever música
Nenhum
Nenhum
MusiBraille
Sonar, Lime Aloud, GoodFeel,
CakeTalking, Finale
MusiBraille
Encore, Sibelius, MusiBraille
Finale
Nenhum
Tabela 5.1: Perfil dos entrevistados
1. Todos possuem algum conhecimento de musicografia braille, sendo este o único pré-requisito
estipulado para a seleção de usuários aptos a participar da entrevista.
2. Todos os entrevistados possuem pelo menos grau de instrução do Ensino Médio completo.
3. A grande maioria dos usuários entrevistados utiliza sistema operacional Windows.
4. Não há unanimidade entre os usuários que fazem uso de softwares leitores de tela; cada
usuário utiliza um ou mais leitores diferentes, de acordo com preferências pessoais, seja do
som produzido pelo leitor ou mesmo por sua habilidade de integração com outros programas.
5. A faixa etária dos entrevistados é bastante abrangente (22 a 75 anos; média 35,56; desvio
padrão 16,66)
Análise exploratória: busca por possiveis grupos de usuários e correlações
Inicialmente, extraiu-se tabelas de resumo de todas as questões onde as respostas fossem baseadas em valores ordinais (ver tabela 5.3 e 5.4) e seus respectivos histogramas (ver apêndice
apêndice A). Foram entendidas como variáveis independentes as questões relativas ao perfil do
74
5.2
ANÁLISE DO APLICATIVO E DISCUSSÃO
N
Média
Mediana
Desv.Padrão
Variância
N
Média
Mediana
Desv.Padrão
Variância
Usuário
U1
U2
U3
U4
U5
U6
U7
U8
U9
9
Usuário
U1
U2
U3
U4
U5
U6
U7
U8
U9
9
Proficiência em mus.brl.
3 - avançado
2 - intermediário
2 - intermediário
3 - avançado
2 - intermediário
3 - 3 - avançado
2 - intermediário
3 - 3 - avançado
2 - intermediário
9
2,44
2,00
0,527
0,278
Conforto com mus.brl.
4
4
5
5
5
5
4
4
3
9
4,33
4,00
0,707
0,500
Proficiência em mus. tinta
3 - avançado
0 - nenhum
2 - intermediário
2 - intermediário
0 - nenhum
3 - avançado
3 - avançado
3 - avançado
3 - avançado
9
2,00
2,00
1,225
1,500
Conforto com mus. tinta
5
1
1
1
1
5
5
5
1
9
2,78
1,00
2,108
4,444
Proficiência em informática
1 - básico
1 - básico
2 - intermediário
2 - intermediário
2 - intermediário
2 - intermediário
2 - intermediário
2 - intermediário
2 - intermediário
9
1,78
2,00
0,441
0,194
Conforto com informática
5
2
5
3
5
5
5
5
5
9
4,44
5,00
1,130
1,278
Tabela 5.2: Conhecimento dos entrevistados em musicografia braille, musicografia em tinta e informática
usuário, como idade, grau de instrução, acuidade visual, etc., e variáveis dependentes aquelas que
tratam da experiência que o entrevistado teve com o Delius. Garantiu-se que a os valores mı́nimos
e máximos das respostas estivessem dispostos ordenadamente, considerando que os valores menores
representariam valores menos “desejados”, que indicassem possı́vel depreciação de algum recurso
ou medida do programa, enquanto que os valores maiores indicariam uma possı́vel apreciação ou
satisfação para com o mesmo. Dessa forma, também é possı́vel olhar os histogramas no apêndice A
e perceber as tendências mais subjetivamente.
Percebeu-se que, de modo geral, as respostas foram bastante positivas, geralmente com média
acima de 3. Não é possı́vel, porém, inferir com base nestes valores que o programa já atingiu um
grau de maturidade satisfatório: os valores de média para amostras populacionais desta grandeza
(apenas nove usuários) são bastante sensı́veis, sendo que uma resposta a mais talvez fosse suficiente para modificá-los drasticamente. Além disso, os voluntários foram entrevistados pelo próprio
autor, o que pode aumentar os valores das respostas para nı́veis mais positivos. Outro fator que
também deve ser considerado é que o programa promete algo que vai fortemente de encontro a uma
expectativa da maioria dos entrevistados; havendo poucas opções disponı́veis para o mesmo fim é
de se esperar que qualquer contribuição seja bem recebida.
Ainda assim, muita informação ainda pode ser extraı́da dos dados colhidos. O desvio padrão é
um bom indicador para tentar entender se os entrevistados, para cada resposta, estão em acordo
ou desacordo. A convergência das opiniões produz uma curva normal mais alta e estreita (ver
histograma de “Velocidade comparando ao uso de regletes”), enquanto que opiniões divergentes
produzem uma curva baixa e esparsa (ver histograma de “Facilidade com que se insere conteúdo
musical na partitura”).
Analisando as frequências das respostas, considerou-se a possibilidade de haver relações entre
5.2
75
ANÁLISE DE USABILIDADE E DA EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO
Dados das tarefas
N
Valid
Mean
Median
T1 - Tempo gasto (min)
7
2
3,71
4,00
T1 - Qtde de erros encontrados
7
2
,57
,00
T1 - Grau de dificuldade (fácil/difícil)
7
2
4,57
T1 - Grau de sucesso obtido
(instatisfatório / satisfatório)
7
2
T2 - Tempo gasto (min)
7
2
T2 - Qtde de erros encontrados
7
T2 - Grau de dificuldade (fácil/difícil)
9
T2 - Grau de sucesso obtido
(instatisfatório / satisfatório)
Missing
9
Mode
a
Std. Deviation
Variance
Range
Minimum
Maximum
1,496
2,238
4
2
6
0
1,134
1,286
3
0
3
5,00
5
,787
,619
2
3
5
4,57
5,00
5
,787
,619
2
3
5
5,00
5,00
5
1,000
1,000
3
3
6
2
,29
,00
0
,488
,238
1
0
1
0
3,78
3,00
3
,972
,944
2
3
5
,707
,500
2
3
5
0
4,33
2
a
4,00
4
a. Existem múltiplas modas. O menor valor é o exibido.
Questões sobre edição
N
Valid
Missing
Mean
Median
Mode
Std. Deviation
Variance
Range
Minimum
Maximu
m
Facilidade com que se insere ou modifica
conteúdo musical na partitura
(difícil / fácil)
9
0
4,11
4,00
5
1,054
1,111
3
2
5
Velocidade na produção musical utilizando
o programa, comparando ao uso de
regletes para a mesma tarefa
(lenta/rápida)
9
0
4,67
5,00
5
,707
,500
2
3
5
Velocidade na produção musical utilizando
o programa, comparando ao uso de
máquina braille, para a mesma tarefa
(lenta/rápida)
9
0
4,44
5,00
5
,726
,528
2
3
5
Reconhecimento dos símbolos musicais
em braille (reconhece bem/pouco)
9
0
4,44
5,00
5
1,014
1,028
3
2
5
Confiança com relação ao resultado
musical produzido utilizando o programa
(pouca/muita confiança)
9
0
3,78
4,00
3
,833
,694
2
3
5
Média das questões sobre edição
9
0
4,2889
4,4000
4,60
,62539
,391
2,20
2,80
5,00
Questões sobre navegação
N
Valid
Missing
Mean
Median
Mode
Std. Deviation
0
3,89
4,00
3
,928
,861
2
3
5
9
0
3,22
3,00
4
,833
,694
2
2
4
Velocidade com que o usuário alcança
posições desejadas
(lentamente/rapidamente)
9
0
3,44
3,00
3
1,014
1,028
3
2
5
Coerência da navegação na estrutura do
documento e nos elementos musicais
(pouco/bastante coerente)
9
0
4,22
4,00
5
,833
,694
2
3
5
Intuitividade dos comandos de navegação
(pouco/bastante intuitivo)
9
0
3,56
4,00
4
1,509
2,278
4
1
5
Média das questões sobre navegabilidade
9
0
3,6667
3,6000
2,60
,80000
,640
2,20
2,60
4,80
Velocidade de aprendizado/entendimento
dos comandos de navegação
(lenta/rápida)
9
Frequência com que o usuário se perde
durante a navegação
(raramente/frequentemente)
a
a
Variance
Range
Minimum
Maximum
a. Existem múltiplas modas. O menor valor é o exibido.
Questões sobre erros do usuário
N
Valid
O programa se mostra tolerante aos erros
cometidos pelo usuário?
(pouco/bastante tolerante)
9
Facilidade de localização e correção de
erros (difícil/fácil de localizar)
9
Missing
Mean
Median
Mode
Std. Deviation
0
4,22
0
4,44
Variance
Range
Minimum
Maximum
4,00
5
,833
,694
2
3
5
5,00
5
,882
,778
2
3
5
Tabela 5.3: Tabela de frequências das respostas dos usuários
as respostas dos entrevistados e caracterı́sticas de seu perfil. Surge, portanto, a hipótese de se,
no conjunto de respostas dos usuários, há diferenças perceptı́veis que possam ser relacionadas a
suas caracterı́sticas, como por exemplo a acuidade visual ou faixa etária. Na verdade, tal hipótese,
considerando a acuidade visual dos participantes, é algo particularmente interessante, pois desejase comparar a experiência de uso entre estes dois grupos, considerando porém que outros dados
do perfil também possam ser relevantes. Desconsiderou-se, porém, para fins de entendimento dos
76
5.2
ANÁLISE DO APLICATIVO E DISCUSSÃO
Qualidade visual e sonora
N
Valid
Missing
Mean
Median
Mode
Std. Deviation
2
4,14
4,00
5
,900
,810
2
3
5
3
6
4,67
5,00
5
,577
,333
1
4
5
Qual o parecer do usuário quanto à
qualidade do material importado por
outro programa de notação musical,
através do arquivo MusicXML?
(ruim/bom)
3
6
4,67
5,00
5
,577
,333
1
4
5
O usuário consegue
b fazer uso dos
recursos visuais?
9
0
1,00
1,00
1,000
1,000
2
0
2
Qual a opinião do usuário quanto ao
entendimento proporcionado pela
disposição da informação musical na
tela? (ruim/bom)
5
4
4,40
4,00
4
,548
,300
1
4
5
Os recursos visuais provocam no
usuário confusão ou desentendimento
durante a utilização do software?
(pouco/muito)
5
4
4,60
5,00
5
,548
,300
1
4
5
O resultado visual e sonoro são
coerentes entre si? (pouco/muito)
4
5
5,00
5,00
5
,000
,000
0
5
5
Qual a avaliação do usuário quanto as
informações sonoras produzidas pelo
programa?
(pouco/bastante informativo)
7
Qual o parecer do usuário quanto aos
resultados impressos produzidos,
comparados ao resultado esperado?
(ruim/bom)
a
0
Variance
Range
Minimum
Maximum
a. Existem múltiplas modas. O menor valor é o exibido.
b.1 = não; 2 = sim, pouco; 3 = sim, bem.
Avaliações gerais da experiência de uso da ferramenta
b
N
Valid
Satisfação geral no
uso da ferramenta
8
Produtividade da
ferramenta
9
Missing
Mean
Median
Mode
Std. Deviation
1
4,75
5,00
5
,463
,214
1
4
5
0
4,44
4,00
4
,527
,278
1
4
5
,835
,696
2
3
5
1,000
1,000
2
3
5
Confiança nos
resultados
8
1
4,13
4,00
Configurabilidade
4
5
3,50
3,00
a
4
3
Variance
Range
Minimum
Maximum
a. Existem múltiplas modas. O menor valor é o exibido.
b. Todas as respostas são notas livres de 1 a 5
Tabela 5.4: Tabela de frequências das respostas dos usuários
grupos, as situações óbvias de resposta como “Os recursos visuais provocam confusão ou desentendimento ao usuário?”, onde por exemplo usuários cegos se abstiveram da resposta.
Todas as variáveis independentes do perfil foram portanto cruzadas com as variáveis dependentes. Foi realizado o teste do chi-quadrado de Pearson (Kirk, 2007, p. 468) e, para todas as respostas
em escalas ordinais, o teste de correlação de Spearman (Kirk, 2007, p. 148). Como a acuidade visual
foi dividida em apenas dois grupos (deficiente visual / visão normal), para este caso foi aplicado
o Teste Exato de Fischer, mais adequado para comparações entre dois grupos distintos. Os dados
onde o valor de significância era próximo de 0,05 foram reservados e compilados na tabela 5.5.
Nesta tabela encontram-se os dois ı́ndices importantes para o entendimento do resultado de cada
cruzamento realizado. O primeiro (correlação de Spearman) indica o quanto as duas variáveis envolvidas no cruzamento são correlatas, em um intervalo de -1 a 1. Valores próximos de zero indicam
correlação fraca; valores próximos de 1 indicam forte correlação positiva e valores próximos de -1
sugerem forte correlação negativa. O valor de significância indica a probabilidade da hipótese nula
(no caso em questão, de que as variáveis cruzadas são correlatas) ser falsa. Por padrão, para estes
testes assume-se um intervalo de confiança de 95%, rejeitando-se a hipótese quando este valor é
maior que 0,05 e aceitando-a quando o valor é menor. O intervalo de confiança, porém, é definido
arbitrariamente, e por esse motivo os cruzamentos cujos valores de significância são pouco maiores
que 0,05 também aparecem na tabela 5.5.
Os testes realizados não apresentaram valores de significância que sugerissem respostas diferen-
5.2
ANÁLISE DE USABILIDADE E DA EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO
77
Faixa etária dos entrevistados
Questão
Proficiência em musicografia braille
Coerência da navegação na estrutura do documento e nos elementos musicais
Intuitividade dos comandos de navegação
Média das questões sobre navegabilidade
Reconhecimento dos sı́mbolos musicais em braille
O programa se mostra tolerante aos erros cometidos pelo usuário?
Correl. de Spearman
Significância
0,711
-0,745
0,032
0,021
-0,831
-0,761
-0,654
-0,859
0,005
0,017
0,056
0,003
Correl. de Spearman
Significância
0,634
0,680
0,992
0,066
0,044
0,000
Correl. de Spearman
Significância
-0,776
0,014
Correl. de Spearman
Significância
-0,776
0,014
Proficiência em informática/computação
Questão
Média das questões sobre edição
Facilidade de localização e correção de erros
Velocidade na produção musical utilizando o programa, comparando ao uso de regletes para a mesma tarefa
Proficiência em musicografia braille
Questão
Reconhecimento dos sı́mbolos musicais em braille
Grau de instrução
Questão
Reconhecimento dos sı́mbolos musicais em braille
Tabela 5.5: Correlação de Spearman: Caracterı́sticas dos usuários × respostas
tes de acordo com a acuidade visual dos entrevistados. Percebeu-se, porém, que a faixa etária dos
entrevistados correlaciona-se negativamente com diversos aspectos do programa, sobretudo no que
diz respeito à navegação. Proficiência em informática também foi um fator que revelou ser influente
em algumas das respostas sobre edição. A nota para “Reconhecimento dos sı́mbolos musicais em
braille” mostrou-se influenciada por caracterı́sticas do perfil, o que também pode ser observado na
tabela A
Resumo e análise geral das respostas
Claramente, o modo de uso do programa é bastante diferente entre usuários deficientes visuais e
com visão normal, não só pelo uso de som ou imagem, mas também pelo tempo gasto na execução de
tarefas ou mesmo na navegação entre os elementos musicais. Porém, os testes realizados (sobretudo
o Teste Exato de Fischer) também sugerem que, no geral, a percepção dos usuários quanto a uma
série de caracterı́sticas do programa (facilidade de uso, acessibilidade, navegabilidade, tolerância a
erro, satisfação) não é divergente. Assim, embora fosse esperado que cegos e videntes demonstrassem ter experiências de uso diferentes, os testes realizados sugerem homogeneidade, indicando uma
boa aproximação do conceito de desenho universal (ver seção 1.8).
Contudo, percebeu-se que a faixa etária dos entrevistados relaciona-se negativamente com certas
questões (ver tabela 5.5), sugerindo que há maior facilidade e desenvoltura no uso do programa por
pessoas mais jovens (que melhor avaliaram intuitividade, coerência e tolerância a erros), ao passo
que indivı́duos com idade mais avançada experimentaram maior dificuldade de manuseio. Este é
um resultado inesperado, que poderá ser alvo de mais atenção na continuidade deste trabalho; caso
esta diferença não seja mera questão de diferenças de afinidade com tecnologia, relativas às faixas
etárias envolvidas, então será desejável investigar outros recursos capazes de melhorar a interação
com pessoas de idade mais avançada. É importante, porém, ressaltar que as questões da tabela 5.5
que evidenciaram esta correlação negativa não foram mal avaliadas pelos usuários, sendo que a
média dessas questões geralmente estão acima de 4.
78
ANÁLISE DO APLICATIVO E DISCUSSÃO
5.2
Outra observação importante extraı́da da tabela 5.5 é que o quesito “Reconhecimento da musicografia braille” foi avaliado diferentemente por usuários mais experientes (com maior proficiência
em musicografia braille e maior grau de instrução) e menos experientes. Os testes apontam que os
mais experientes tendem a uma pior avaliação para este quesito, base na qual pode-se supor que
estes usuários perceberam maiores problemas no atendimento às regras da musicografia braille,
ou ainda que por serem usuários mais experientes também têm expectativas diferentes de uso do
programa, nas quais regras que ainda não foram implementadas são desejáveis e importantes.
Os testes realizados também sugerem que diversos outros fatores, como o conhecimento de musicografia em tinta e o grau de conforto no uso de computadores e das grafias musicais, não são tão
relevantes para a avaliação da experiência de uso.
Respostas dissertativas
O questionário aplicado (apêndice A) continha no final três perguntas dissertativas com o objetivo de saber a opinião do usuário quanto à aplicabilidade do programa, ou seja, para que fins
o mesmo poderia ser utilizado. Perguntou-se também sobre o que o usuário considerava pontos
positivos do programa, ou seja, possı́veis artefatos que o agradaram ou colaboraram para com sua
experiência de uso, e o que considerava como pontos negativos, ou seja, o que deveria ser introduzido ou melhorado no programa de forma prioritária para que fosse possı́vel obter uma experiência
de uso de maior qualidade. As respostas estão dispostas na tabela 5.6.
A primeira pergunta procura saber do usuário suas perspectivas de utilização da ferramenta.
Interessante perceber como os usuários vislumbram diferentes usos do programa. Das respostas
dadas, pode-se concentrar essas perspectivas de uso em três grupos principais: para fins de “composição e arranjo”, “transcrições de partitura” e “interação entre alunos/professores cegos/videntes”.
Este último, em particular, é de grande valor para este trabalho, pois sugere fortemente que a
ferramenta é capaz de atender seu propósito principal.
Questionados sobre pontos fracos do programa, os quais os usuários gostariam de vê-los resolvidos prioritariamente, verificou-se que os usuários deficientes visuais ainda desejam uma melhor
comunicação sonora, solicitando recursos melhores para localização e também melhor relacionamento com outros programas para leitura de tela. Outro comentário interessante diz respeito às
teclas que acionam comandos frequentes. Um dos entrevistados (com visão normal) alertou para
um fato que também fora percebido pelo autor: apesar de ser aparentemente simples (e bem fácil
de memorizar) que a tecla “P” (de play) seja utilizada para tocar a partitura, ela não é tão facilmente acessada pelos usuários deficientes visuais, em relação a outras teclas. De fato, percebeu-se
que teclas como “Esc”, “Enter”, “Backspace” e as teclas de função (F1 ao F12) são acessadas mais
facilmente, pois seus diferentes tamanhos, espaçamentos ou agrupamentos são facilmente sentidos
pelo tato; já as teclas de letras geralmente dependem do usuário posicionar canonicamente as mãos
sobre o teclado e efetuar alguns movimentos manuais de referência para a localização da tecla.
Também verificou-se que muitas vezes o usuário aperta uma tecla como essa sem muita certeza de
estar apertando a tecla correta, e por vezes receoso de disparar um comando errado ou que possa
prejudicar sua experiência de uso.
Quanto aos pontos fortes, há uma notável frequência das respostas que elogiam a capacidade de
trabalhar com polifonia, seja por uso de sinais de “em acorde” ou pela possibilidade de criar mais de
um instrumento por partitura. Alguns usuários comentaram sobre o recurso de auto-diagramação
como outro benefı́cio do programa. Também é interessante notar que os usuários deficientes visuais,
apesar de solicitarem melhor reatividade do programa para localização na estrutura musical, elogiaram a simplicidade com que se faz a navegação pelos elementos musicais. Também demonstraram
satisfação quanto à passividade do programa, não exibindo demasiadas telas de erro ou demais
5.3
ANÁLISE DE USABILIDADE E DA EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO
Questão
Para quais funções ou em
quais situações você acredita
que o programa seria uma
ferramenta potencialmente
útil?
Usuário
U8
U4*
U5*
U6
U3**
U9*
U1
U2*
U7
U8
Segundo suas impressões, cite
os principais pontos fracos do
programa, que você acha que
deveriam ser resolvidos ou
trabalhados prioritariamente.
U4
U5
U6
U3
U9
U1
U2
U7
U8
U4
Segundo suas impressões, cite
os principais pontos fortes do
programa.
U5
U6
U3
U9
U1
U2
U7
Resposta
Interação do aluno cego com professores videntes em sala de
aula, vale as melhorias na partitura visual na tela do programa. Conversão instantânea.
Edição de material próprio (pode ser composição, arranjo, seja
o que for). Arranjo.
Digitação das partituras e em aula, pro professor ditar e o
aluno escrever.
Produção de partituras em braille, ensino da musicografia, aulas de teoria / harmonia em braille
Pra composição, principalmente.
Transcrição de partituras para musicografia braille, realização
de aprendizado de música (não só de musicografia braille como
música como um todo), vai ajudar muito o professor também
a aprender musicografia braille, muito útil pra provas e exercı́cios, materiais de apoio pra estudos, muitas utilidades.
Realização de transcrições
Intercâmbio de aprendizado entre professor e alunos cegos e
videntes. Caso de professores cegos e alunos cegos também,
porque às vezes se ensina os sı́mbolos, mas como isso vai ficar
na prática?
Pra aulas, transcrições.
A partitura visual
Um pouco na parte da voz, do retorno e os sons.
Ajuste com vários leitores de tela, e a parte da quarta oitava,
pq ele fala hı́fem ao invés de oitava.
Recurso de recortar e colar; importação de XML e saı́da direta
pra impressora.
Colocar um cursor intermitente, que fica mais fácil de encontrar; Embutir leitor de tela pra não ter problemas caso outro
leitor não consiga ler o programa, assim fica mais confiável.
Falar fórmula de compasso, um botão que lembre qual fórmula de compasso ou armadura o usuário está; falar melhor o
conteúdo das caixas de diálogo; Palavras, associar sı́labas com
notas.
Chegar mais rapidamente ao braille (à parte onde se escreve
música).
A questão do sinal de oitava, que não é obrigatório a cada
mudança de compasso. As regras definem as ocasiões. Facilitar o acesso dos instrumentos na listagem de instrumentos.
Comando “onde estou?” - não precisa dizer todas as informações, mas dizer em que janela está.
Deleção de compassos inteiros / vários elementos de um compasso. As teclas “P” para tocar não são fáceis para pessoas que
não vêem o teclado, escolher teclas mais próximas da posição
da mão para o teclado perkins (ou enter).
Escrever “em acorde”, poder usar múltiplos instrumentos
Simplicidade. Poucos comandos, mas que facilitam. Facilidade
de trabalhar com ele.
Divisão da partitura com o começo do compasso, usando as
setas pra acessar as partes.
Múltiplas pautas.
Trabalhar com mais de um instrumento ao mesmo tempo; os
recursos de formatação são uma boa idéia também. É um programa diferente, ele é mais voltado pra quem já tem uma boa
noção da musicografia.
Fácil, acessı́vel, inteligı́vel, muito intuitivo, sem complicações
pra formatar as coisas.
Não respondeu
Possibilidade de ouvir ao mesmo tempo as duas linhas que eu
havia escrito, e depois ouvir separadamente.
Não dá muitas telas de erros que exigem interação do usuário.
Toca mais do que uma voz. Diagramação automática.
Tabela 5.6: Respostas dissertativas dos usuários. (*) usuários cegos; (**) usuários com baixa visão.
interações forçadas durante a edição musical.
79
80
5.3
ANÁLISE DO APLICATIVO E DISCUSSÃO
5.3
Testes de transcrição
Foram realizadas transcrições de excertos musicais com a finalidade de se comparar visualmente a saı́da do programa em arquivo MusicXML, dados alguns exemplos de entrada em ambas
as formas: tinta e braille. Os exemplos utilizados foram retirados de materiais de aula do curso de
musicografia braille ministrado no Instituto Padre Chico, com a intenção de ilustrar uma possı́vel
situação real e uso do programa. Buscou-se selecionar trechos musicais onde o nı́vel de sofisticação
entre eles fosse progressivo, havendo portanto trechos simples, com poucos sı́mbolos braille, e outros
mais complexos. Foram selecionados também trechos que continham elementos que sabidamente o
software, em seu estágio atual, não suportaria; esperava-se, nestes casos, comparar os resultados
em busca de possı́veis anomalias.
O procedimento de transcrição consistia simplesmente em tentar reproduzir os elementos musicais contidos no original em braille dentro do ambiente Delius. Feito isso, extraiu-se as versões
MusicXML das partituras, que foram abertas e impressas pelo programa de código aberto MuseScore. Buscou-se introduzir os sı́mbolos de forma fiel ao original. As partituras originais e as
transcrições realizadas estão disponı́veis no apêndice C.
O primeiro teste ( C.1) foi feito sobre a primeira série do Pozzoli, um exercı́cio rı́tmico frequentemente utilizado em aulas de teoria musical para iniciantes. No caso em questão, a transcrição
de notas e pausas foi correta, bem como a notação da fórmula de compasso e barras duplas de
compasso. Durante a trancrição, percebeu-se que o software reproduzia corretamente o ritmo. Na
impressão do arquivo MusicXML notou-se que o sentido das hastes musicais e a distribuição dos
compassos na partitura eram decididos pelo programa. De fato, esse é o procedimento usual para
quando o arquivo XML não contém explicitamente tais regras de leiaute, e tal recurso foge do
escopo do Delius. No entanto, efetuar a correção no programa de destino é um processo bastante
simples. É possı́vel crer que praticamente todas as partituras convertidas necessitarão de pequenos
ajustes manuais, embora espere-se que estes ajustes sejam tão somente para melhorias no domı́nio
visual; as versões transcritas presentes no apêndice não passaram por nenhum tipo de ajuste de
leiaute1 . No momento do teste o programa não contemplava recursos para a inserção das instruções
textuais contidas na versão original em braille. Este recurso seria de grande importância, pois é
comum que partituras em braille contenham orientações sobre como proceder com possı́veis indicações caracterı́sticas da obra em questão.
O segundo teste também é um exercı́cio rı́tmico, a décima sétima série do Pozzoli. Notas e pausas
e fórmula de compasso foram transcritos corretamente. Este teste, porém, exige o reconhecimento
de alguns sı́mbolos musicais a mais, como a ligadura de prolongamento e nota duplamente pontuada. Para este teste, o resultado final verificado no MuseScore apontou uma barra de compasso
fora da posição esperada (na penúltima seção). Também não foram enumeradas as seções, porém
os compassos; embora haja configuração no programa para exibir ou ocultar a indicação de número
de compasso no inı́cio da linha, não é possı́vel determinar que essa numeração não corresponde aos
compassos mas sim a grupos deles. Também nota-se por este teste (e o anterior) que exercı́cio é
exibido em pentagrama, enquanto que o original em tinta é representado sem linhas. Estes recursos
visuais especı́ficos também fogem do escopo deste programa na versão atual. Na oitava seção há
uma tercina, sı́mbolo ainda não suportado pelo Delius; foram inseridas semicolcheias no lugar que,
apesar de produzirem um resultado incorreto e extrapolarem o limite de duração do compasso,
foram exibidas e tocadas pelo programa.
Os testes 3 e 4 são oriundos da mesma partitura original, nomeada como “Canção de cinco
notas”. Este é um exercı́cio simples para solfejo, utilizando apenas as notas de dó a sol e pouco
1
A marcação “Nylon-str Gt” que aparece no primeiro teste refere-se ao instrumento escolhido arbitrariamente, no
Delius, para o pentagrama em questão. No MuseScore esta marca poderia ser facilmente removida ou modificada.
5.3
TESTES DE TRANSCRIÇÃO
81
desafio rı́tmico. Neste caso, novos elementos musicais aparecem: anotação de andamento (Allegro),
ligaduras de expressão, sinais de dinâmica (p, mp, f ) e sinais de repetição. O excerto original em
braille desta peça possui três versões diferentes, onde estes sinais são acrescentados gradualmente.
Os testes 3 e 4 se referem, portanto, às versões 1 e 3. No teste 3 não há repetições, sendo a primeira
parte (compassos 1 ao 8) reescrita praticamente na ı́ntegra após o compasso 16. Nesta versão também não há ligaduras de expressão nem dinâmicas. O teste 4 trouxe corretamente as indicações de
dinâmica e as ligaduras, porém não produziu bons resultados na indicação de repetição (o texto D.
C. ao Fim não foi reproduzido no arquivo MusicXML).
O teste 5 refere-se à peça popular “Tico tico no fubá”. Esta partitura possui células rı́tmicas mais
requintadas, com diversas sı́ncopas e acidentes, além de vários sinais de repetição , mudanças de
armadura de clave e acordes cifrados. A mudança de tonalidade do compasso 22 foi realizada, sendo
possı́vel perceber a alteração durante o uso do Delius, mas a versão MusicXML não exibiu essa
indicação corretamente. Indicações de casa 1 e 2 (compassos 20 e 21) ainda não eram compreendidas
pelo programa no momento da transcrição, idem para os acordes cifrados. O sinal segno foi escrito
corretamente mas posicionado erroneamente no compasso 20 (deveria ser colocado sobre o compasso
5). A versão original em braille não ultrapassa o compasso 23, de modo que o restante da peça não
pôde ser transcrito. Esta transcrição apontou uma série de divergências entre as versões originais
em braille e tinta:
• No compasso 5, as notas lá (ligadas) foram escritas na versão braille como ré2 .
• No compasso 6, a segunda e terceira nota sol foram escritas como ré; entre elas havia ligadura de prolongamento (que liga somente notas de mesma altura) que não pôde produzir a
representação esperada.
..
..
• No compasso 7, encontrou-se uma nota si ( .. .. ) escrita em braille como dó ( .. .. ).
• No compasso 10, outra nota lá foi escrita como si. Neste caso, a próxima nota da sequência
(dó) seguiu a regra de oitavas do braille e acabou posicionando todas as notas restantes do
compasso em uma oitava abaixo. O erro não se propagou para mais notas por conta de um
..
sinal de oitava no inı́cio do compasso 11 ( .. .. ).
..
• No compasso 12, uma nota si ( .. .. ) aparecia, no original em braille, no lugar de sol sustenido
..
( .. .. ). Com isso, o segundo sol sustenido deste compasso acabou perdendo também o valor da
alteração, sendo realizado como sol natural.
• No compasso 14, a penúltima nota divergia entre sol, na versão em braille, e ré na versão em
tinta.
• No compasso 17, a segunda nota divergia entre sol, na versão em braille, e lá na versão em
tinta.
2
O autor observou que este erro é comum em transcrições, provavelmente por conta da simetria dos sı́mbolos,no
código braille, para estas notas: (
..
..
..
e
..
..
..
)
82
ANÁLISE DO APLICATIVO E DISCUSSÃO
5.3
Capı́tulo 6
Conclusão
O presente trabalho tratou do desenvolvimento de um aplicativo para notação musical cujo
método de entrada principal é o braille, detalhando todas as etapas deste processo, passando pela
discussão sobre seus propósitos, escolhas de tecnologias, métodos de implementação e a submissão
do mesmo à experiência prática de uso por voluntários.
O projeto foi desenvolvido dentro da filosofia de software livre, pois entende-se que prover
acessibilidade não se faz apenas com adaptação sensorial; é necessário garantir igualdade de uso
e de acesso a recursos também pelos fatores sociais e econômicos - e neste ponto, as tecnologias
assistivas ainda têm muito no que melhorar. Além do mais, espera-se que o interesse no projeto
não esteja limitado ao autor ou ao presente trabalho, e que possa ser acolhido pela comunidade
de desenvolvedores de software livre, estando aberto a colaboradores que acreditem na validade da
proposta e demonstrem interesse em envolver-se no projeto. Atualmente o projeto está hospedado
no repositório do SourceForge no endereço http://www.sourceforge.com/projects/delius, havendo
neste endereço os pacotes de instalação, o código-fonte, manuais e um sistema de rastreamento de
erros, aberto para que qualquer pessoa possa relatar problemas encontrados e ser avisado quando
correções forem efetuadas.
Inicialmente, procurou-se fazer um levantamento de quais tecnologias estavam disponı́veis para
esta finalidade, avaliando seu custo, suporte, vantagens e desvantagens. Percebeu-se que haviam
poucos softwares no mercado para este propósito e também que seus usuários esperam ferramentas
melhores e com mais funções.
Esta pesquisa buscou então fazer um mapeamento da musicografia braille, comparando-a com
a musicografia tradicional em tinta e buscando entender modelos computacionais que permitissem a conversão entre estas linguagens. Neste processo, verificou-se que certos sı́mbolos podem ser
transcritos por mera transliteração, enquanto que outros dependem de heurı́sticas mais complexas.
Também foi possı́vel identificar pontos crı́ticos deste processo de conversão, que necessitam de uma
análise mais profunda, e espera-se que em futuras versões do programa tais pontos sejam resolvidos.
Durante a etapa de desenvolvimento do programa, muitos problemas foram enfrentados na tentativa de se controlar minimamente a relação do software com os leitores de tela. A princı́pio, o
desenvolvimento foi realizado em Java por conta de uma série de vantagens, como a ampla possibilidade de utilização de componentes externos também sob licenças de software livre, a perspectiva
de cativar desenvolvedores interessados em envolver-se no projeto, além da facilidade em conceber
um produto multiplataforma. Contudo, acabou-se por perceber que a acessibilidade em Java é um
assunto particularmente delicado, principalmente quando se refere ao componente Swing, a interface gráfica utilizada na versão corrente.
As análises do capı́tulo 5 mostram a etapa atual de desenvolvimento do programa, de acordo
83
84
CONCLUSÃO
6.1
com as experiências e os depoimentos dos usuários entrevistados. Analisando o resumo das frequências das respostas e seus histogramas percebe-se que, de forma geral, o usuário demonstra já na
etapa atual alguma satisfação no uso do programa.
Os testes de transcrição realizados nos fornecem um panorama do atual estágio de desenvolvimento do programa, permitindo-nos comparar resultados impressos e imaginar uma situação real
de conversão no uso em sala de aula.
A partir da análise exploratória dos dados colhidos usando a escala psicométrica de Likert,
percebe-se que os usuários mostram-se satisfeitos com o atendimento às regras da musicografia
braille, porém usuários mais experientes tendem demonstrar menor satisfação; através de relatos
feitos diretamente ao autor pelos entrevistados, acredita-se que essa satifação acima da média,
sobretudo no caso dos usuários mais avançados, indica que o programa atende às regras da musicografia braille pelo menos ao nı́vel dos softwares BME e Musibraille (ver seção 1.6), mas que a
necessidade prática de uso, para estas pessoas, ainda exige maior cobertura para que se alcance as
reais expectativas dos usuários.
A análise das respostas dissertativas dos entrevistados sugere que há uma orientação positiva
do Delius em direção ao seu objetivo principal; é possı́vel vislumbrar que, havendo continuidade
do trabalho, principalmente en se agregando desenvolvedores voluntários interessados na causa, em
um futuro próximo o programa pode ser útil para alunos cegos atualmente sofrem com os hiatos
de comunicação e na troca de conhecimentos, visto que frequentam um ambiente de ensino de
música normalmente populado, em sua grande maioria, por pessoas videntes, que geralmente não
têm conhecimento das especificidades da musicografia braille.
As respostas dissertativas também nos oferecem uma boa noção das expectativas dos usuários
com relação ao programa. Com base nelas foi possı́vel mapear as próximas implementações e melhorias que deverão ser feitas.
6.1
Necessidades imediatas e passos futuros
Necessidades imediatas
Certamente muitas melhorias ainda devem ser feitas ao programa. Com base nas respostas
dissertativas dos usuários e pela percepção do autor ao observá-los usando o programa pela primeira vez, foram elencados os seguintes tópicos como prioritários para as próximas jornadas de
desenvolvimento do Delius, seja pelo autor ou por quaisquer pessoas que desejem envolver-se no
projeto.
• Tela de configuração de nova partitura. Na versão atual, a criação da partitura se dá por etapas; insere-se uma nova partitura no documento, escolhe-se um instrumento inicial, configurase o instrumento, navega-se ao ponto de entrada e então o usuário pode começar a escrever
música. Seria desejado que em uma única tela o usuário pudesse parametrizar uma nova partitura em sua totalidade, configurando instrumentos usados, definindo fórmulas de compasso
e armadura de claves, podendo ainda persistir estas configurações e reutilizando-as posteriormente pela seleção em uma lista de “Modelos”. Este procedimento é comum em softwares
de notação musical como o MuseScore e o Sibelius, facilitando bastante o processo inicial,
sobretudo para usuários deficientes visuais onde a navegação é mais lenta.
• Alteração da interface gráfica, de Swing para SWT. Espera-se com isso facilitar a comunicabilidade do programa com leitores de tela, uma vez que o SWT relaciona-se com o sistema
operacional em um nı́vel mais baixo que o Swing ou AWT. Há, porém, a necessidade de se
6.2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
85
fazer uma série de estudos iniciais; em primeiro lugar porque o SWT mostrou-se bastante
complicado para o desenvolvimento de componentes personalizados acessı́veis; em segundo
lugar, porque isso demandaria um pacote de instalação mais sofisticado, que pudesse levar
em consideração as dependências de bibliotecas do SWT, que são diferentes a cada plataforma
ou sistema operacional.
• Acrescentar mais (e diferentes) recursos para localização do usuário dentro das estruturas do
documento. Entende-se que cada usuário, além de meras preferências, também tem maneiras
diferentes de entender a partitura em diversos aspectos. É desejável que o programa seja,
neste aspecto, tão diversificado quanto as capacidades dos usuários do programa.
• Prover recursos para trabalhar com cifras musicais e música vocal, dando possibilidade de
inserção de textos combinados com linhas melódicas. Acredita-se que estes recursos atendam
uma parcela bastante significativa das necessidades dos usuários.
• Melhorar o recurso de partitura gráfica simultânea. Talvez seja desejável criar um componente
mais apropriado, que permita não só melhor diagramação como também mais interação com
os sı́mbolos equivalentes em braille.
• Importação e exportação de arquivos do tipo BMML.
Outros recursos desejáveis
Também deseja-se acrescentar os seguintes recursos:
• Atalho rápido para conversão de partituras para MusicXML com abertura do arquivo por um
outro programa definido por configuração; este recurso facilitaria a comparação do resultado
gráfico final com a versão em braille.
• Definição de uma interface que permita futuramente a conexão com possı́veis repositórios de
documentos musicais.
• Outro ponto a ser abordado é permitir que o aplicativo sirva como um assistente de aprendizado da musicografia braille. Uma das possibilidades é fazer com que o programa forneça
ao usuário excertos musicais que deverão ser codificados pelo mesmo em braille; o programa
analisaria a resposta do usuário, informando-lhe de possı́veis erros.
• Uma das ampliações desejadas seria fazer com que o aplicativo permitisse a produção de
conteúdo musical mesclado ao conteúdo literário, auxiliando também na produção de material didático musical com trechos textuais explicativos, entre outras possibilidades. Além do
mais, material em braille costuma conter o que é chamado de Notas de Transcrição (SEE/ME,
2002), já que muitas vezes se faz necessário a adição de esclarecimentos ou orientações adicionais quando certos sı́mbolos possuem significados não convencionados no braille.
• Poderia ser interessante possibilitar que o usuário separasse as partituras da tela principal,
jogando-as para outras janelas e possivelmente para um segundo monitor. Isso não só melhoraria a customização do ambiente como também poderia ser mais confortável para quando duas
pessoas estejam utilizando o programa simultaneamente (professores e alunos, por exemplo).
6.2
Considerações finais
Infelizmente, boa parte das experiências vividas durante este trabalho não cabem no texto desta
dissertação. A experiência da imersão em um assunto que nos obriga ao pensamento transcender
86
CONCLUSÃO
os limites impostos pelos sentidos traz inevitavelmente um repensar sobre muitos aspectos antes
tidos como axiomáticos para o que se entende por viver e por conviver. Também não pode ser
aqui expressado corretamente a sensação gratificante de ter tido a oportunidade de compreender
um pouco melhor estas relações humanas tão complexas. É também confuso dar-se conta que fazer
valer a igualdade entre as pessoas incide diretamente em lidar com suas diferenças.
Mais do que isso, vale mencionar o tamanho real da problemática da inclusão, não apenas na
questão da deficiência visual. A quantidade de fatores envolvidos apenas no escopo deste deste
trabalho, entendendo-o como algo bastante especı́fico dentro dos contextos da inclusão e da acessibilidade, nos permite ter uma noção da quantidade de desafios ainda merecedores de atenção.
Parte do problema do presente trabalho se resolve com música; outras partes com números, com
tecnologias, com psicologias, com leis, com dinheiro e com muitos outros recursos, mas sobretudo
– e imperativamente – com bom-senso. E é pela certeza de que as necessidades e os desafios deste
problema exigem amplas interações multidisciplinares que aqui se clama para que as iniciativas
acadêmicas, públicas, privadas e outras sejam mais participativas, e não bastando, para que se lute
contra o monopólio de conhecimentos relativos às tecnologias assistivas; a dignidade e o direito de
igualdade não são objetos que podem receber um código de barras e um espaço numa prateleira.
Apêndice A
Questionário aplicado
87
88
APÊNDICE A
Avaliação Delius
*Obrigatório
1. Dados pessoais
Nome *
Idade *
É deficiente visual? *
Sim
Não
Se sim, qual?
Grau de instrução *
Sem instrução
Fundamental completo
Ensino médio completo
Superior completo
Pós-graduação
Proficiência em informática/computação *
Como você se considera, com relação aos seus conhecimentos relacionados ao uso de computadores?
Usuário básico (navega na internet, utiliza processadores de texto)
Usuário intermediário (instala programas, faz back-ups, configura e customiza seu ambiente)
Usuário avançado (roda ou gerencia serviços, sabe programar, repara defeitos)
Indique na escala o quanto sente-se confortável em utilizar o computador em seu dia-a-dia *
1
2
3
4
5
Pouco confortável
Bastante confortável
Proficiência em musicografia braille *
Como você se considera, com relação aos seus conhecimentos em musicografia braille?
Nenhum conhecimento
Pouco conhecimento (sabe símbolos básicos)
Conhecimento médio (é capaz de transcrever um ditado)
Usuário avançado (ministra aulas, domina formalidades)
Indique na escala o quanto sente-se confortável em utilizar a musicografia braille em seu dia-a-dia *
1
Pouco confortável
2
3
4
5
Bastante confortável
QUESTIONÁRIO APLICADO
Proficiência em musicografia tradicional *
Como você se considera, com relação aos seus conhecimentos em musicografia tradicional?
Nenhum conhecimento
Pouco conhecimento (sabe símbolos básicos)
Conhecimento médio (é capaz de transcrever um ditado)
Usuário avançado (ministra aulas, domina formalidades)
Indique na escala o quanto sente-se confortável em utilizar a musicografia tradicional (em tinta) no dia-a-dia *
1
2
3
4
5
Pouco confortável
Bastante confortável
Quais sistemas operacionais você utiliza em seu(s) computador(es) ? *
Windows
Linux
Mac
Outros
Não sabe
Leitores de tela utilizados pelo usuário
Caso utilize programas leitores de tela, por favor indique-os abaixo.
JAWS
NVDA
Virtual Vision
Orca
VoiceOver
Outros
Utiliza softwares para escrever música?
Tanto para notação em braille com para notação tradicional
Sim
Não
Caso utilize, escreve o nome destes softwares abaixo.
Escreva tanto os que recebem entrada em braille (MusiBraille, BME) quanto programas para produzir partituras
gráficas (Finale, Sibelius, Encore).
89
90
APÊNDICE A
Avaliação Delius
B. Materiais utilizados para o experimento
Data e hora do experimento
Local do experimento
Dados da CPU
Quantidade de memória
Sistema Operacional
Versão do aplicativo
Tempo de experiência prévia do usuário com o aplicativo
C. Dados das tarefas efetuadas
Tarefa 0
Instalação do aplicativo mediante um roteiro de instruções
a. Execute o instalador do aplicativo e siga suas instruções
b. Abra o aplicativo
Tempo gasto
em minutos
Teve que recomeçar o experimento?
Sim
Não
Erros encontrados
QUESTIONÁRIO APLICADO
Grau de dificuldade da tarefa
segundo a opinião do usuário
1
2
3
4
5
Fácil
Difícil
Grau de sucesso obtido
Segundo a opinião do usuário
1
2
3
4
5
Insatisfatório
Satisfatório
Localizar informação musical específica em um arquivo e fazer a devida correção, mediante um gabarito impresso (em braille
ou tinta, à escolha do usuário).
a. Abra o documento intitulado "tarefa1.delius"
b. Ouça o conteúdo da partitura contida no documento
c. Leia o trecho musical no gabarito
d. Encontre um ou mais erros e efetue a devida correção
Tempo gasto
em minutos
Erros encontrados
Teve que recomeçar o experimento?
Sim
Não
Grau de dificuldade da tarefa
segundo a opinião do usuário
1
2
3
4
5
Fácil
Difícil
Grau de sucesso obtido
Segundo a opinião do usuário
1
2
3
4
5
Insatisfatório
Satisfatório
Tarefa 2
Dada uma linha melódica simples, procure livremente enriquecê-la utilizando os instrumentos e as paralelas fornecidas no
arquivo.
a. Abra o arquivo "tarefa2.delius"
b. Ouça e navegue nos elementos criados.
c. Utilize o segundo e o terceiro instrumento para criar um arranjo para a melodia do primeiro instrumento
d. Utilize vozes, acordes, sinais de "em acorde", conforme sua vontade.
e. Salve o arquivo ao final, com outro nome.
91
92
APÊNDICE A
Tempo gasto
em minutos
Erros encontrados
Teve que recomeçar o experimento?
Sim
Não
Grau de dificuldade da tarefa
segundo a opinião do usuário
1
2
3
4
5
Fácil
Difícil
Grau de sucesso obtido
Segundo a opinião do usuário
1
Insatisfatório
2
3
4
5
Satisfatório
QUESTIONÁRIO APLICADO
Avaliação Delius
D. Resultados da aplicação do experimento
D1. Navegação
Velocidade de aprendizado/entendimento dos comandos de navegação
De acordo com a opinião do usuário, que item na escala é mais apropriado para descrever a velocidade do processo
de aprender a navegar pelos elementos musicais
1
2
3
4
5
Lento
Rápido
Frequência com que o usuário se perde durante a navegação
Qual item da escala é mais apropriado para descrever a frequência com que o usuário perde a noção de sua
localização dentro do documento/partitura ?
1
2
3
4
5
Raramente
Frequentemente
Velocidade com que o usuário alcança posições desejadas
Na intenção do usuário alcançar um determinado elemento musical da partitura, como ele opinaria sobre a velocidade
com que ele é capaz de fazer isso, pela escala abaixo?
1
2
3
4
5
Lentamente
Rapidamente
Coerência da navegação na estrutura do documento e nos elementos musicais
Qual o julgamento que o usuário faz quanto à coerência da organização das estruturas musicais, durante a navegação
em uma partitura?
1
2
3
4
5
Pouco coerente
Bastante coerente
Intuitividade dos comandos de navegação
Após experimentar a navegação pela partitura musical, o usuário achou a forma de fazer isso intuitiva? Responda de
acordo com a escala abaixo.
1
2
3
4
Pouco intuitivo
5
Bastante intuitivo
D2. Edição
Inserção e remoção de elementos musicais, produção musical
Facilidade com que se insere ou modifica conteúdo musical na partitura
Qual a opinião do usuário quanto a dificuldade/facilidade de se inserir símbolos musicais na partitura?
1
2
3
4
5
Difícil
Fácil
Velocidade na produção musical utilizando o programa, comparando ao uso de regletes para a mesma tarefa
1
2
3
4
5
93
94
APÊNDICE A
Lenta
Rápida
Velocidade na produção musical utilizando o programa, comparando ao uso de máquina braille, para a mesma
tarefa
1
2
3
4
5
Lenta
Rápida
Reconhecimento dos símbolos musicais em braille
Na opinião do usuário, quanto o programa reconhece os símbolos musicais de acordo com as regras de musicografia
braille
1
2
3
4
5
Reconhece pouco
Reconhece bem
Confiança com relação ao resultado musical produzido utilizando o programa
Qual a opinião do usuário quanto à confiabilidade que pode ser dada a uma partitura musical produzida utilizando o
programa
1
2
3
4
5
Pouca confiança
Muita confiança
D3. Controle de erros
O programa se mostra tolerante aos erros cometidos pelo usuário?
Entende-se por pouco tolerante o programa que, ao receber do usuário comandos inválidos ou não esperados, impede
que o mesmo continue operando-o de forma consistente
1
2
3
4
5
Pouco tolerante
Bastante tolerante
Facilidade de localização e correção de erros
Em caso de notas ou outros elementos musicais escritos equivocadamente, o usuário os localiza com qual grau de
dificuldade/facilidade?
1
2
3
4
5
Difícil de localizar
Fácil de localizar
D4. Produção sonora
Qual a avaliação do usuário quanto as informações sonoras produzidas pelo programa?
Quanto ao resultado sonoro produzido pelo leitor de tela, enquanto o usuário navega ou produz música dentro do
ambiente do programa.
1
2
3
Pouco informativo
4
5
Bastante informativo
D5. Saídas
Qual o parecer do usuário quanto aos resultados impressos produzidos, comparados ao resultado esperado?
1
Ruim
2
3
4
5
Bom
QUESTIONÁRIO APLICADO
Qual o parecer do usuário quanto à qualidade do material importado por outro programa de notação musical,
através do arquivo MusicXML?
1
2
3
4
5
Ruim
Bom
D6. Experiências visuais
O usuário consegue fazer uso dos recursos visuais?
Não
Sim, pouco
Sim, bem
Necessita de configuração específica de baixa visão?
Não
Sim
Qual a opinião do usuário quanto ao entendimento proporcionado pela disposição da informação musical na
tela?
1
2
3
4
5
Ruim
Bom
Os recursos visuais provocam no usuário confusão ou desentendimento durante a utilização do software?
1
2
3
4
5
Pouco
Muito
O resultado visual e sonoro são coerentes entre si?
Responder caso o usuário faça uso dos recursos visuais e de leitura de tela simultaneamente
1
2
3
4
Pouco
5
Muito
D7. Aspectos gerais
Baseado na experiência geral obtida com o aplicativo, pensando especificamente em sua etapa atual de desenvolvimento, dê
uma nota de 1 a 5 quanto aos seguintes aspectos:
Satisfação geral no uso da ferramenta
1
2
3
4
5
Produtividade da ferramenta
1
2
3
4
5
Confiança nos resultados
1
2
3
4
5
Configurabilidade
95
96
APÊNDICE A
O quanto o programa se permite modificado para ajustar-se ao usuário
1
2
3
4
5
Para quais funções ou em quais situações você acredita que o programa possa ser uma ferramenta
potencialmente útil?
Segundo suas impressões, cite os principais pontos fracos do programa, que você acha que deveriam ser
resolvidos ou trabalhados prioritariamente
Segundo suas impressões, cite os principais pontos fortes do programa
Apêndice B
Histogramas das respostas dos
usuarios
Perfil dos entrevistados
6
1
2
3
Média 1.78
Desv.Padrão 0.441
4
5
1
2
3
Média 4.44
Desv.Padrão 1.13
4
5
6
4
2
0
2
4
Frequência
6
8
Confortável em utilizar a musicografia tradicional (em tinta) no dia−a−dia
8
Proficiência em musicografia tradicional
Frequência
4
Frequência
0
2
4
0
2
Frequência
6
8
Confortável em utilizar o computador em seu dia−a−dia
8
Proficiência em informática/computação
0
B.1
0
1
2
3
4
Média 2.25
Desv.Padrão 1.035
5
6
1
97
2
3
Média 2.78
Desv.Padrão 2.108
4
5
98
APÊNDICE B
6
1
B.2
4
Frequência
2
0
0
2
4
Frequência
6
8
Confortável em utilizar a musicografia braille em seu dia−a−dia
8
Proficiência em musicografia braille
2
3
Média 2.44
Desv.Padrão 0.527
4
5
1
2
3
Média 4.33
Desv.Padrão 0.707
4
5
Tarefas realizadas
Tarefa 1
0
1
2
3
4
Média 2.89
Desv.Padrão 2.088
5
6
8
6
0
2
4
Frequência
6
0
2
4
Frequência
6
4
0
2
Frequência
T1 − Grau de sucesso obtido
8
T1 − Grau de dificuldade da tarefa
8
T1 − Tempo gasto
0
1
2
3
4
Média 1.11
Desv.Padrão 0.928
5
6
0
1
2
3
4
Média 3.56
Desv.Padrão 2.128
5
6
Tarefa 2
1
2
3
4
Média 3.89
Desv.Padrão 2.369
5
6
8
6
0
2
4
Frequência
6
0
2
4
Frequência
6
4
Frequência
2
0
0
B.3
T2 − Grau de sucesso obtido
8
T2 − Grau de dificuldade da tarefa
8
T2 − Tempo gasto
1
2
3
Média 2.22
Desv.Padrão 0.972
Questões sobre navegação
4
5
1
2
3
Média 4.33
Desv.Padrão 0.707
4
5
QUESTÕES SOBRE EDIÇÃO
2
3
Média 3.89
Desv.Padrão 0.928
4
8
6
2
0
5
1
2
3
Média 2.78
Desv.Padrão 0.833
4
5
1
2
3
Média 3.44
Desv.Padrão 1.014
4
5
6
4
2
0
0
2
4
Frequência
6
8
Intuitividade dos comandos de navegação
8
Coerência da navegação na estrutura do doc. e nos el. musicais
1
2
3
Média 4.22
Desv.Padrão 0.833
4
5
1
2
3
Média 3.56
Desv.Padrão 1.509
Questões sobre edição
6
Frequência
0
2
4
2
0
Frequência
6
8
Velocidade comparando ao uso de regletes
8
Facilidade com que se insere conteúdo musical na partitura
4
Frequência
4
Frequência
6
0
2
4
Frequência
6
4
Frequência
2
0
1
B.4
Velocidade com que o usuário alcança posições desejadas
8
Frequência com que o usuário se perde durante a navegação
8
Velocidade de aprendizado/entendimento dos comandos de navegação
1
2
3
Média 4.33
Desv.Padrão 0.707
4
5
1
2
3
Média 5
Desv.Padrão 0
4
5
4
5
99
100
APÊNDICE B
6
4
Frequência
0
2
4
0
2
Frequência
6
8
Reconhecimento dos símbolos musicais em braille
8
Velocidade comparando ao uso de máquina braille
1
2
3
Média 4.56
Desv.Padrão 0.726
4
5
1
2
3
Média 4.56
Desv.Padrão 0.726
4
5
4
0
2
Frequência
6
8
Confiança com relação ao resultado musical produzido
1
3
Média 3.78
Desv.Padrão 0.833
4
5
Qualidade visual e sonora
6
4
Frequência
0
2
4
2
Frequência
6
8
Parecer quanto aos resultados impressos produzidos
8
Informações sonoras produzidas pelo programa?
0
B.5
2
1
2
3
Média 4.14
Desv.Padrão 0.9
4
5
0
1
2
3
4
Média 2.8
Desv.Padrão 2.588
5
6
QUESTÕES SOBRE ERROS DO USUÁRIO
6
4
Frequência
0
2
4
0
2
Frequência
6
8
O usuário consegue fazer uso dos recursos visuais?
8
Parecer quanto à qualidade do arquivo MusicXML
1
2
3
Média 4.67
Desv.Padrão 0.577
4
5
1
4
5
8
6
0
2
4
Frequência
6
4
0
2
Frequência
3
Média 1.8
Desv.Padrão 0.447
Os recursos visuais provocam confusão ou desentendimento?
8
Entendimento da disposição da info. musical na tela
2
1
2
3
Média 4.4
Desv.Padrão 0.548
4
5
1
2
3
Média 1.8
Desv.Padrão 1.304
4
5
4
0
2
Frequência
6
8
O resultado visual e sonoro são coerentes entre si?
1
3
Média 5
Desv.Padrão 0
4
5
Questões sobre erros do usuário
6
4
Frequência
0
2
4
2
Frequência
6
8
Facilidade de localização e correção de erros
8
O programa se mostra tolerante aos erros cometidos pelo usuário?
0
B.6
2
1
2
3
Média 4.22
Desv.Padrão 0.833
4
5
1
2
3
Média 4.44
Desv.Padrão 0.882
4
5
101
102
APÊNDICE B
B.7
Avaliações gerais da experiência de uso da ferramenta
6
4
Frequência
0
2
4
0
2
Frequência
6
8
Produtividade da ferramenta
8
Satisfação geral no uso da ferramenta
1
2
3
Média 4.75
Desv.Padrão 0.463
4
5
1
2
5
4
5
8
6
0
2
4
Frequência
6
4
2
0
Frequência
4
Configurabilidade
8
Confiança nos resultados
3
Média 4.44
Desv.Padrão 0.527
0
1
2
3
4
Média 3.67
Desv.Padrão 1.581
5
6
1
2
3
Média 3.5
Desv.Padrão 1
Apêndice C
Testes de transcrição realizados
103
104
APÊNDICE C
C.1
Teste 1
Original em braille
TESTE 1 pozzoli página 26
hQmQWILIJUN YQ YJ^AYU QM
IUMOANNUN NJMOGQN dd hOUuuUGJ
hOWJMQJWA NWJQR
|Cr
yy ygcED
YYy ygcED
YYYY yYmcED
YYy yYmcED
yYY yYmcED
Original em tinta
yYY ygcED
YYYY YmgcED
yYY YYYmcED
YYYY YYYmcED
] YYYmcE
TESTE 1
Versão produzida pelo Delius
Teste 1 Pozzoli pg 26
Nylon-str.Gt
 42                     
                       




11
Nylon-str.Gt
20
Nylon-str.Gt
105
106
APÊNDICE C
C.2
Teste 2
Original em braille
TESTE 2 pozzoli página 57
hYIJMA NWJQ dd hOUuuUGJ
hIUMOANNUN NJMOGQNR
|Cr
|A yD]]]] YmgcED
|C Y]]]]Y]]]] YmgcED
|I ]]]]y]]]] YmgcED
|Y yHI}]]}} YmgcED
|Q yHI}]]]]]] YmgcED
|K }]]YHIY]]]] YmgcED
|[ ]]}]]}Y]]]] YmgcED
|S yDF}}} YmgcED
|J YHI]]]]YHI]]]] YmgcED
|AZ g}D]}D] YmgcED
|AA yHI}D]}D] YmgcED
|AC gMD]}D] YmgcED
|AI gM]]]]]] YmgcED
|AY gMD]]]]] YmgcED
|AQ yDD]] YmgcE
Original em tinta
TESTE 2
Versão produzida pelo Delius
Teste 2 - Decima Setima Serie
Nylon Str Guitar
6
Nylon Str Guitar
 42                       
                       
                      
                          
                         
       
12
Nylon Str Guitar
17
Nylon Str Guitar
23
Nylon Str Guitar
29
Nylon Str Guitar
107
108
APÊNDICE C
C.3
Teste 3
TESTE 3 canção de cinco notas
hIA]o\U YQ IJ]IU ]U^ANR
hgQWN\U |A Versão 1
Original em braille
hAGGQ[WU |Cr
PYQKY qQK {s ky YQKY qQK {s
]cED PsS[ kQK {s U sS[ kQK {s
UcED PYQKY qQK {s ky YQKY qQK
{s ]cE
hgQWN\U |C Versão 2
Original em tinta
hAGGQ[WU |Cr
pCPYQKY qQK {s kyXF
pCPYQKY qQK {s ]XFcED \KJM
pCPsS[ kQK {s UXF
pCPsS[ kQK {s UXFcE \hYD hID
AU KJMD
TESTE 3
Versão produzida pelo Delius
Teste 3 - Cancao de cinco notas
Nylon Str Guitar
 42                           
                        
     
11
Nylon Str Guitar
22
Nylon Str Guitar
109
110
C.4
]cED PsS[ kQK {s U sS[ kQK {s
UcED PYQKY qQK {s ky YQKY qQK
APÊNDICE C
{s ]cE
Teste 4
Original em braille
hgQWN\U |C Versão 2
hAGGQ[WU |Cr
pCPYQKY qQK {s kyXF
pCPYQKY qQK {s ]XFcED \KJM
pCPsS[ kQK {s UXF
pCPsS[ kQK {s UXFcE \hYD hID
AU KJMD
Original em tinta
TESTE 4
Versão produzida pelo Delius
Teste 4 - Cancao de cinco notas 2
p
Nylon Str Guitar
11
Nylon Str Guitar
mp
f
 42                           
         
mp
111
112
APÊNDICE C
C.5
Teste 5
Original em tinta
TESTE 5
Versão produzida pelo Delius
Teste 5 - Tico tico no fuba
Jazz Gt.
6
Jazz Gt.
 42                          
                            
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                                  





                          
       
10
Jazz Gt.
14
Jazz Gt.
19
Jazz Gt.
23
Jazz Gt.
113
114
APÊNDICE C
Original em braille
TESTE 4 tico tico no fubá
h^JIU ^JIU ]U KeCw
huQ_eJ]SA YQ hACWQe Q
hQeWJIU hCAWWQJWUNR
|Cr
h\hoQ}ZJ iSZYQ KmKm
R\M
M
hQ|[
h\PKmM\gUuPoiuo
R\M
l h\DcvPoQHIuoiuo
R\DcvhAM
h\oiSHIuoiuo
R\hQ|[
h\Pohu}iwoucu yHI}Pncnw
R\v
hAM
h\PnhQHIu}n ouYHI}}~in
R\hYM
hAM
h\P~x~iuin}~n P~hou~woiuo
R\hC|[
hQ|[
h\PoJHInoiuo oiSHIwoiwo
R\hAM
hQ|[
TESTE 5
h\Pohu~iwoucu yHIPncnw
R\v
hAM
h\PwhQHIu}n onYHI}}~in
R\hYM
hAM
h\P~oiw~ou}~cED lG ll
R\hQ|[cED lG ll
lG
|B h\PJhKnPoiuocF
|B R\hAM
|F h\PJhKnPni}ocED
|F R\hAM
iii
h\hnPn}wHIwPn}
R\hA
h\hPn}oHIoPn}
R\hA
115
116
APÊNDICE C
Apêndice D
Descrição das regras de musicografia
braille no formato BNF
measure_element:
begin_measure
;
begin_measure:
BEGIN_MEASURE;
measure_attribute :
clef |
;
measure_end:
| measure_attribute | music_element | measure_end
key_signature | time_signature
(
( ms_simplebar (ms_bar_optional)?)
| ms_bar_dotted
| ms_dbl_bar_end
| ms_dbl_bar_section
| ( ms_dbl_bar_rep_after | ms_dbl_bar_rep_before
)
)
;
music_element :
hand
| dynamics| finger| note | rest | blankspace | linebreak| note_valueseparator
| inaccord | tie | annotation
| fermata | wedge | coda
| segno | dash | repetition | measure_number | phrase_slur
;
tie:
CC4 CC14 | CC46 CC14
);
dash:
CC5
;
finger returns:
(CC14)? (fingernumber)?
;
fingernumber :
(CC16 CC13
| CC1
| CC12
| CC123
| CC2 | CC13 )
;
wedge:
( CC345 CC14
| CC345 CC25 | CC345 CC145 | CC345 CC256 )
;
phrase_slur returns :
( CC56 CC12
| CC45 CC23 )
;
fermata:
(CC45 | CC5 |CC56)? CC126 CC123
;
coda:
CC346 CC123
;
segno :
CC346
;
dynamics :
117
118
APÊNDICE D
CC345 ((CC1234)+ | (CC124)+ | (CC134 CC1234)
;
inaccord :
( CC126 CC345
| CC5 CC2
)
;
repetition :
(CC3456 lowdigit (CC3)?)?
;
ms_simplebar: CC0;
ms_bar_optional : CC123 CC0;
ms_bar_dotted : CC13;
ms_dbl_bar_end: CC126 CC13;
ms_dbl_bar_section: CC126 CC13 CC3;
ms_dbl_bar_rep_after: CC126 CC2356;
ms_dbl_bar_rep_before: CC126 CC23;
| (CC134 CC125))
blankspace:
BLANKSPACE
;
hand :
( lefthand | righthand)
;
righthand :
(CC46 CC345)
;
lefthand :
(CC456 CC345)
;
clef :
clefSign (clefG | clefF | clefC )
;
clefG_left: CC34 CC13;
clefF : CC3456 CC123;
clefC : CC346 CC123;
clefSign: CC345;
time_signature :
((number digit lowdigit ) | time_common | time_cutcommon ))?
;
key_signature:
(r1=key_sig_sharps | r2=key_sig_naturals | r3=key_sig_flats)
;
anyspace :
CC0 | BLANKSPACE
;
key_sig_sharps returns :
((CC146 |number upnumbers CC146 anyspace );
key_sig_flats :
((CC126 |number upnumbers CC126
anyspace );
key_sig_naturals :
(CC16 anyspace );
upnumbers:
(digit)+
;
digit returns [String cell, int val] :
CC1 | CC12| CC14| CC145| CC15| CC124| CC1245| CC125| CC24 | CC245
;
lowdigit :
CC2 | CC23 | CC25 | CC256 | CC26 | CC235 | CC2356 | CC236 | CC35
;
number :
CC3456
;
time_common:
C46 C14 {$cell="46 14"; $val="C";}
;
time_cutcommon:
C456 C14
;
DESCRIÇÃO DAS REGRAS DE MUSICOGRAFIA BRAILLE NO FORMATO BNF
note_valueseparator :
(note_valueupper)?
;
note_valuechange
(CC2 )
note_valuechange : CC126;
note_valueupper : CC45;
note_valuelower : CC6;
rest :
rest_duration
(note_punctuation)?
;
rest_duration :
(rest_quarter | rest_half
;
| rest_whole | rest_eight )
rest_whole: CC134;
rest_half: CC136;
rest_quarter: CC1236;
rest_eight: CC1346;
rest_doublewhole: CC134 CC45 CC13 CC134;
note returns:
(note_accidental)? (note_octave)? note_pitchduration (note_punctuation)? (chord)*
;
note_pitchduration:
( note_eight | note_quarter | note_half
;
| note_whole )
note_eight
(note_8thC | note_8thD | note_8thE | note_8thF | note_8thG | note_8thA | note_8thB)
;
note_quarter:
(
note_4thC
| note_4thD
| note_4thE
| note_4thF
| note_4thG
| note_4thA
| note_4thB
)
;
note_half :
(
|
|
|
|
|
|
)
;
note_whole:
(
|
|
|
|
|
|
)
;
note_2thC
note_2thD
note_2thE
note_2thF
note_2thG
note_2thA
note_2thB
note_1thC
note_1thD
note_1thE
note_1thF
note_1thG
note_1thA
note_1thB
note_punctuation :
(CC3)+
;
119
120
APÊNDICE D
note_octave :
(oct1 |oct2 |oct3|oct4 |oct5 |oct6 |oct7)
;
oct1:
oct2:
oct3:
oct4:
oct5:
oct6:
oct7:
CC4;
CC6;
CC45;
CC456;
CC5;
CC46;
CC56;
note_accidental: (
CC146 | note_doublesharp
;
note_doublesharp: CC146 CC146;
note_doubleflat : CC126 CC126;
| note_doubleflat
| CC126
| CC16
)
chord returns:
(CC34 |CC346 |CC3456 |CC35 |CC356 |CC25 |CC36 );
note_8thC: CC145;
note_8thD : CC15;
note_8thE : CC124;
note_8thF : CC1245;
note_8thG : CC125 ;
note_8thA : CC24 ;
note_8thB : CC245;
note_4thC
note_4thD
note_4thE
note_4thF
note_4thG
note_4thA
note_4thB
:
:
:
:
:
:
:
CC1456 ;
CC156 ;
CC1246;
CC12456;
CC1256 ;
CC246 ;
CC2456;
note_2thC
note_2thD
note_2thE
note_2thF
note_2thG
note_2thA
note_2thB
:
:
:
:
:
:
:
CC1345;
CC135;
CC1234;
CC12345;
CC1235;
CC234;
CC2345;
note_1thC
note_1thD
note_1thE
note_1thF
note_1thG
note_1thA
note_1thB
:
:
:
:
:
:
:
CC13456;
CC1356;
CC12346;
CC123456;
CC12356;
CC2346;
CC23456;
annotation:
CC345
(CC0|CC1|CC2|CC12|CC13|CC23|CC123|CC4|CC14|CC24|CC124|CC34|CC134|CC234|CC1234|CC5|CC15|CC25|CC125|CC35|CC135|
CC235|CC1235|CC45|CC145|CC245|CC1245|CC1345|CC2345|CC12345|CC6|CC16|CC26|CC126|CC36|CC136|CC236|CC1236|CC46|
CC146|CC246|CC1246|CC346|CC1346|CC2346|CC12346|CC56|CC156|CC256|CC1256|CC356|CC1356|CC2356|CC12356|CC456|CC1456|
CC2456|CC12456|CC3456|CC13456|CC23456|CC123456)+
(CC3 | CC345)
;
free : FREE;
CC0 : C0;
CC1 : C1;
CC2 : C2;
CC12 : C12;
CC3 : C3;
CC13 : C13;
CC23 : C23;
CC123 : C123;
CC4 : C4;
DESCRIÇÃO DAS REGRAS DE MUSICOGRAFIA BRAILLE NO FORMATO BNF
CC14 : C14;
CC24 : C24;
CC124 : C124;
CC34 : C34;
CC134 : C134;
CC234 : C234;
CC1234 : C1234;
CC5 : C5;
CC15 : C15;
CC25 : C25;
CC125 : C125;
CC35 : C35;
CC135 : C135;
CC235 : C235;
CC1235 : C1235;
CC45 : C45;
CC145 : C145;
CC245 : C245;
CC1245 : C1245;
CC345 : C345;
CC1345 : C1345;
CC2345 : C2345;
CC12345 : C12345;
CC6 : C6;
CC16 : C16;
CC26 : C26;
CC126 : C126;
CC36 : C36;
CC136 : C136;
CC236 : C236;
CC1236 : C1236;
CC46 : C46;
CC146 : C146;
CC246 : C246;
CC1246 : C1246;
CC346 : C346;
CC1346 : C1346;
CC2346 : C2346;
CC12346 : C12346;
CC56 : C56;
CC156 : C156;
CC256 : C256;
CC1256 : C1256;
CC356 : C356;
CC1356 : C1356;
CC2356 : C2356;
CC12356 : C12356;
CC456 : C456;
CC1456 : C1456;
CC2456 : C2456;
CC12456 : C12456;
CC3456 : C3456;
CC13456 : C13456;
CC23456 : C23456;
CC123456 : C123456;
FREE : ’FREE’;
BEGIN_MEASURE : ’BEGIN_MEASURE’;
TEXT_DELIMITER : ’TEXT_DELIMITER’;
BLANKSPACE : ’=’;
LINEBREAK : ’LINE_BREAK’;
fragment C0 : ’-’;
fragment C1 : ’1’;
fragment C2 : ’2’;
fragment C12 : ’12’;
fragment C3 : ’3’;
fragment C13 : ’13’;
fragment C23 : ’23’;
fragment C123 : ’123’;
fragment C4 : ’4’;
fragment C14 : ’14’;
fragment C24 : ’24’;
fragment C124 : ’124’;
fragment C34 : ’34’;
fragment C134 : ’134’;
fragment C234 : ’234’;
121
122
APÊNDICE D
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
fragment
C1234 : ’1234’;
C5 : ’5’;
C15 : ’15’;
C25 : ’25’;
C125 : ’125’;
C35 : ’35’;
C135 : ’135’;
C235 : ’235’;
C1235 : ’1235’;
C45 : ’45’;
C145 : ’145’;
C245 : ’245’;
C1245 : ’1245’;
C345 : ’345’;
C1345 : ’1345’;
C2345 : ’2345’;
C12345 : ’12345’;
C6 : ’6’;
C16 : ’16’;
C26 : ’26’;
C126 : ’126’;
C36 : ’36’;
C136 : ’136’;
C236 : ’236’;
C1236 : ’1236’;
C46 : ’46’;
C146 : ’146’;
C246 : ’246’;
C1246 : ’1246’;
C346 : ’346’;
C1346 : ’1346’;
C2346 : ’2346’;
C12346 : ’12346’;
C56 : ’56’;
C156 : ’156’;
C256 : ’256’;
C1256 : ’1256’;
C356 : ’356’;
C1356 : ’1356’;
C2356 : ’2356’;
C12356 : ’12356’;
C456 : ’456’;
C1456 : ’1456’;
C2456 : ’2456’;
C12456 : ’12456’;
C3456 : ’3456’;
C13456 : ’13456’;
C23456 : ’23456’;
C123456 : ’123456’;
Referências Bibliográficas
Aldred V. Aho(1986) Jefrey D. Ullman Aldred V. Aho, Ravi Sethi. Compiladores - Princı́pios,
Técnicas e Ferramentas. Longman do Brasil. ISBN 9788588639249. Citado na pág. 63
Andrews(2010) Mark Andrews. Accessibility and the swing set: How swing can help you create
accessible apps, 2010. Citado na pág. 34
Arora(2010) Nitin Arora. Beyond images: Encoding music for access and retrieval. research paper
for Master’s in Library and Information Science, University of Alabama. Citado na pág. 54, 55
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