I
Ficha catalográfica por Maria Nazaré Fabel,
Bibliotecária, CRB-199, 14.Região
617.7523
C787 CORAL-GHANEM, Cleusa, STEIN, Harold A. & FREEMAN, Melvin I.
– Lentes de Contato; do básico ao avançado. – 2. ed. rev. aum.
Joinville: Soluções e Informática, 2005.
56p.
Fasc. 5 Il.
1. Lentes de contato. I. Stein, Harold II. Freeman, Melvin
III. Título.
Capa e Diagramação:
Soluções e Informática Ltda. - Joinville - SC
www.solucoes.com.br
Revisão da Redação/Apresentação:
Dra. Cleusa Coral-Ghanem
Prof. Valdir Vegini, D. Sc.
Supervisão:
Dra. Cleusa Coral-Ghanem
DIREITOS DE REPRODUÇÃO:
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS: Proibida a reprodução total ou parcial, por
qualquer meio ou processo, sem permissão expressa dos autores. A violação dos direitos
é punível nos termos do art. 184 e parágrafos do Código Penal, conjuntamente com busca
e apreensão e indenizações diversas (arts. 122, 123, 124 e 126 da Lei 5988, de 14.12 1976,
Lei dos Direitos Autorais).
II
Lentes de Contato
do Básico ao Avançado
Dra. Cleusa Coral-Ghanem
• Responsável pelo Departamento de Lentes de Contato do Hospital de Olhos Sadalla
Amin Ghanem - Joinville/SC
• Doutora em Ciências - área de concentração Oftalmologia - Título concedido pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)
• Membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea e
Refratometria (SOBLEC) - 2003/2005
• Membro da Comissão de Prevenção à Cegueira do Conselho Brasileiro de Oftalmologia
(CBO) - 2003/2005
• Ex-Presidente da Sociedade Catarinense de Oftalmologia
• Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria
(SOBLEC)
Harold A. Stein, MD, FRCS (C)
• Professor of Ophthalmology, University of Toronto, Ontario, Canada
• Director, Bochner Eye Institute, Toronto, Canada
• Attending Ophthalmologist, Scarborough General Hospital, Scarborough, Ontario
• Attending Ophthalmologist, Mount Sinai Hospital, Toronto, Canada
• Past President, International Refractive Surgical Club
• Past President, International Contact Lens Council of Ophthalmology
• Past President, Joint Commission on Allied Health Personnel in Ophthalmology,
St. Paul, Minnesota
• Past President, Contact Lens Association of Ophthalmologists, New Orleans, Louisiana
• Past President, Canadian Ophthalmological Society, Otawa, Canada
• Director, Professional Continuing Education, Centennial College of Applied Arts,
Toronto, Ontario, Canada
Melvin I. Freeman, MD, FACS
• Clinical Professor of Ophthalmology, Emeritus, University of Washington School
of Medicine, Seattle, Washington
• Affiliate Clinical Investigator, Virginia Mason Research Center, Seattle, Washington
• Past Head, Section of Ophthalmology, Virginia Mason Clinic and Medical Center,
Seattle, Washington
• Medical Director, Emeritus, Department of Continuing Medical Education, Virginia
Mason Medical Center, Seattle, Washington
• President, Alliance for Continuing Medical Education, Birmingham, Alabama
• Past President, Contact Lens Association of Ophthalmologists, New Orleans, Louisiana
• Past President, Joint Commission on Allied Health Personnel in Ophthalmology,
St. Paul, Minnesota
Participação Especial: Dr. Paulo Ricardo de Oliveira
III
Sumário
Capítulo 18
ADAPTAÇÃO DE LENTES DE CONTATO NA CRIANÇA ..............................................01
Autora: Cleusa Coral-Ghanem
18.1 - INDICAÇÃO ESTÉTICA ...............................................................................................01
18.2 - INDICAÇÃO MÉDICA ...................................................................................................02
18.2.a - Principais Indicações Médicas...........................................................................02
18.3 - INDICAÇÕES DE LC COSMÉTICAS .........................................................................03
18.4 - TIPOS DE LC UTILIZADAS EM PEDIATRIA ..........................................................04
18.5 - DIFERENÇAS ENTRE A ADAPTAÇÃO
DE LC NA CRIANÇA E NO ADULTO ........................................................................04
18.6 - COMO PROCEDER PARA ADAPTAR LC EM CRIANÇAS ....................................05
18.7 - ADAPTAÇÃO DE LC NA CRIANÇA AFÁCICA ........................................................05
18.8 - COMO DEVE SER FEITO O CONTROLE DA CRIANÇA AFÁCICA....................06
18.9 - COMO DIMINUIR A ANISEICÔNIA DOS AFÁCICOS CORRIGIDOS ................07
18.10 - COMPLICAÇÕES COM AS LC...................................................................................07
18.11 - TRATAMENTO INTEGRADO ....................................................................................07
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................08
Capítulo 19
LENTES DE CONTATO TERAPÊUTICAS...........................................................................09
Autores: Paulo Ricardo de Oliveira e Cleusa Coral-Ghanem
19.1 - INDICAÇÕES DAS LCT ................................................................................................09
19.2 - ADAPTAÇÃO E ESCOLHA DA LCT ...........................................................................09
19.3 - CONTROLE E MANUTENÇÃO DAS LCT ................................................................10
19.4 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE LCT
NAS INDICAÇÕES MAIS FREQÜENTES .................................................................10
19.4.a - Ceratopatia Bolhosa ........................................................................................10
19.4.b - Erosão Recorrente de Córnea ........................................................................11
19.4.c - Olho Seco .........................................................................................................11
19.4.d - Perfuração Corneal .........................................................................................11
19.4.e - Distrofia Corneal ............................................................................................11
19.4.f - Queimadura Química......................................................................................11
19.4.g - Ceratite Neurotrófica .....................................................................................12
19.4.h - Cirurgia de Córnea com Excimer Laser ........................................................12
IV
19.5 - LC DE COLÁGENO ........................................................................................................12
19.6 - CONTRA-INDICAÇÕES DAS LCT..............................................................................12
19.7 - COMPLICAÇÕES CAUSADAS PELO USO DE LCT ...............................................13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................13
Capítulo 20
LENTES DE CONTATO COSMÉTICAS E PROTÉTICAS .................................................14
Autores: Cleusa Coral-Ghanem e Paulo Ricardo de Oliveira
20.1 - LC GELATINOSAS COSMÉTICAS ..............................................................................14
20.1.a - Indicações de LCG Cosméticas .........................................................................14
20.1.b - Adaptação de LCG Cosméticas.........................................................................15
20.1.c - Limpeza e Manutenção das LCG Cosméticas .................................................15
20.1.d - Contra-Indicações ..............................................................................................15
20.2 - LC RÍGIDAS COSMÉTICAS .........................................................................................15
20.2.a - Adaptação das LC Rígidas Cosméticas ............................................................16
20.3 - LC PROTÉTICAS ............................................................................................................16
20.3.a - Adaptação das LC Protéticas .............................................................................16
20.4 - LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS LENTES PROTÉTICAS...................................17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................17
Capítulo 21
MANUTENÇÃO E MANUSEIO DAS LENTES DE CONTATO ........................................18
Autora: Cleusa Coral-Ghanem
21.1 - TIPOS DE DEPÓSITOS MAIS ENCONTRADOS SOBRE LC .................................18
21.2 - PROPRIEDADES DAS SOLUÇÕES DE MANUTENÇÃO ......................................19
21.2.a - Tonicidade ...........................................................................................................19
21.2.b - Água .....................................................................................................................20
21.2.c - Grau de Acidez ou Alcalinidade - pH ...............................................................20
21.2.d - Agentes Tamponantes .........................................................................................21
21.2.e - Agentes de Viscosidade .......................................................................................21
21.2.f - Agentes Limpadores Surfactantes......................................................................21
21.2.g - Agentes Antimicrobianos ...................................................................................22
V
21.3 - PROCESSOS DE MANUTENÇÃO...............................................................................24
21.3.a - Soluções para Limpeza .......................................................................................24
21.3.b - Soluções para Enxágüe .......................................................................................25
21.3.c - Soluções para a Desinfecção...............................................................................26
21.3.c.1 - Desinfecção Térmica .........................................................................26
21.3.c.2 - Desinfecção Química Não-Oxidativa ..............................................27
21.3.c.3 - Desinfecção Química Oxidativa –
Peróxido de Hidrogênio a 3% (H2O2) ...............................................29
21.3.d - Soluções Lubrificantes .......................................................................................30
21.4 - PASSOS PARA A MANUTENÇÃO DAS LC ...............................................................31
21.5 - FATORES A SEREM CONSIDERADOS PARA A PRIMEIRA
INDICAÇÃO DO MÉTODO DE LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS LC .............32
21.6 - INSTRUÇÕES DE CONSERVAÇÃO E MANUSEIO DE LC RGP ..........................33
21.6.a - Como Limpar LC RGP ......................................................................................33
21.6.b - Colocação de LC RGP ........................................................................................34
21.6.c - Remoção da LC RGP ..........................................................................................34
21.7 - INSTRUÇÕES PARA MANUSEIO, COLOCAÇÃO E REMOÇÃO
DE LC GELATINOSA ...................................................................................................36
21.7.a - Como Limpar LCG .............................................................................................36
21.7.b - Colocação da LCG ..............................................................................................36
21.7.c - Remoção da LCG ................................................................................................38
21.7.d - Cuidados com LCG de acordo
com a Forma de Uso e Tempo de Troca............................................................39
21.8 - CENTRALIZANDO A LC RGP .....................................................................................40
21.9 - TEMPO RECOMENDADO DE USO E TROCA
DAS LENTES DE CONTATO .......................................................................................41
21.9.a - Convencionais ....................................................................................................41
21.9.b - Descartáveis / Troca Programada ......................................................................41
21.10 - PERÍODO DE ADAPTAÇÃO......................................................................................42
21.10.a - Principais Sintomas de Adaptação de LC RGP ...........................................42
21.11 - PREVENÇÃO DE CONTAMINAÇÃO NO CONSULTÓRIO..................................43
VI
21.12 - PRESERVAÇÃO DAS LC DE PROVA NO CONSULTÓRIO .................................43
21.12.a - Preservação das LCG ......................................................................................43
21.12.b - Preservação de LC RGP .................................................................................43
21.13 - INCOMPATIBILIDADE DAS SOLUÇÕES ..............................................................44
21.14 - A PRÁTICA DE NATAÇÃO E O USO DE LC ..........................................................44
21.14.a - Orientação para os Usuários que Necessitam Nadar com LC ....................45
21.15 - COMO EVITAR CONTAMINAÇÃO DAS LC POR COSMÉTICOS
E PRODUTOS PARA CABELO ..................................................................................45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................47
Lista de Siglas ........................................................................................................................ VIII
VII
Lista de Siglas
VIII
AV
– Acuidade Visual
CB
– Curva Base
cm
– Centímetro
CPG
– Conjuntivite Papilar Gigante
ø
– Diâmetro Total da Lente de Contato
D
– Dioptrias
Dk
– Coeficiente de Permeabilidade ao O2 do material com que é fabricada a LC
EDTA
– Ácido etilenodiamina tetra-acético, edetato dissódico
ERG
– Eletrorretinograma
FDA
– Food and Drug Administration
FL
– Filme Lacrimal
HPMC
– Hidroxipropilmetilcelulose
K
– Medida Ceratométrica do Meridiano mais plano da Córnea
LASIK
– Pós-Laser in Situ Keratomileusis
LC
– Lente(s) de Contato
LCC
– Lente(s) de Contato Cosmética(s)
LCG
– Lente(s) de Contato Gelatinosa(s)
LCT
– Lente(s) de Contato Terapêutica(s)
ml
– Mililitro
mm
– Milímetro
mOsm
– MiliOsmois
NaCl
– Cloreto de Sódio
O2
– Oxigênio
pH
– Concentração de íons de Hidrogênio
PMMA
– Polimetilmetacrilato
PRK
– Photorefractive Keratectomy (Ceratectomia Fotoablativa)
PVE
– Potencial Visual Evocado
RGP
– Rígida Gás-Permeável
seg
– Segundos
UC
– Uso Contínuo
UD
– Uso Diário
UO
– Uso Ocasional
UP
– Uso Prolongado
UV
– Ultravioleta
Adaptação de Lentes de Contato na Criança
Capítulo 18
Adaptação de Lentes
de Contato na Criança
18
Cleusa Coral-Ghanem
O
desenvolvimento de materiais
mais permeáveis ao oxigênio
(O2) e a disponibilidade de lentes de
contato (LC) descartáveis têm permitido
o aumento do número de adaptações
em crianças de qualquer idade, mesmo
com apenas dias de vida. Adaptar LC na
criança representa um desafio por vários
motivos: dificuldade de comunicação;
diferenças físicas de parâmetros dos
adultos; mudanças rápidas de parâme-
Indicação Estética
tros nos primeiros anos de vida; a necessidade de colaboração e persistência dos
pais e controle oftalmológico rigoroso.
Basicamente, existem dois grupos
de crianças usuárias de LC: um que
procura o especialista para substituir os
óculos com finalidade estética e para a
prática de esportes e o outro que usa por
indicação médica, com o objetivo de melhorar o desenvolvimento visual.
18.1
Q
uando se adapta com finalidade estética é necessário considerar:
• Saúde ocular
• Quantidade do erro refrativo
Não existem contra-indicações
médicas para o uso de LC se a criança
apresenta exame oftalmológico normal
e tem apoio familiar, tanto para a manutenção das LC como para os exames de
controle. Anormalidades pré-existentes
tais como blefarite, alergia, doença corneal, ou infecção recorrente são contraindicações relativas.
Nas moderadas e altas ametropias,
quando a correção visual é necessária para
todos os momentos, a criança sente-se
estimulada para o uso das LC. Pacientes
com ametropias baixas sentem poucos
benefícios e tendem a ser mais desleixados no que diz respeito ao uso e cuidados
de manutenção.
• Tempo de uso
• Idade
Não há limites rígidos quanto a
idade para prescrever LC com função
estética, mas prefere-se evitar antes dos
12 anos. O ideal é que a criança esteja
preparada para aceitar a responsabilidade
de cuidar e manusear suas LC. Mesmo
assim, os pais devem estar envolvidos na
adaptação inicial e exames de controle.
Quando não há necessidade terapêutica, deve-se evitar o uso contínuo
pelo risco de infecção corneal, neovascularização e opacidades corneais.
1
Adaptação de Lentes de Contato na Criança
Capítulo 18
18.2
Q
uando se indica LC para
bebê é necessário explicar
aos pais, detalhadamente, os objetivos
do tratamento e o potencial de riscos e
benefícios. Os pais devem estar cientes
da duração dos cuidados e das despesas
que terão. Por outro lado, devem entender que o desenvolvimento visual da
Indicação Médica
criança irá depender de seus esforços
em seguir as orientações dadas.
Em criança menor de 5 anos, o
objetivo principal da adaptação de LC
é promover o desenvolvimento normal
da acuidade visual (AV), prevenindo ou
minimizando a ambliopia.
18.2.a Principais Indicações Médicas
A
s principais indicações são:
• Afacia
• Alta hipermetropia
Na infância, o mais importante erro
refrativo que se beneficia com o uso de
LC é a alta hipermetropia causada pela
afacia. Como o uso de lentes intra-oculares é bastante controverso na 1ª infância, as LC são consideradas a principal
correção visual para crianças afácicas.
As altas hipermetropias podem desenvolver esotropia acomodativa nos bebês ou
crianças muito jovens. Recomenda-se LC
porque reduz a necessidade de acomodação
por eliminar o efeito prismático causado
pelas lentes positivas dos óculos.
A adaptação de LC é necessária na
afacia monocular e, sempre que as condições oculares permitirem, deve ser feita
na 1ª semana após a cirurgia. O prognóstico é reservado.
• Anisometropia
No caso de afacia binocular também
se indicada LC, mas se as condições familiares não forem favoráveis recomenda-se
uso de óculos com oclusão alternada para
evitar a ambliopia.
Na afacia pós-trauma, a adaptação de
LC pode proporcionar à criança excelente
AV. A AV é tanto melhor quanto mais
velha era a criança por ocasião do acidente
e quanto mais precoce foram realizadas a
cirurgia e a adaptação da LC.
• Alta miopia
Na alta miopia os óculos provocam
redução de tamanho da imagem e aberrações na periferia das lentes. O paciente
apresenta melhor resultado visual com
LC do que com óculos devido ao aumento
no tamanho da imagem retiniana; à maior
amplitude do campo visual e à eliminação
dos efeitos prismáticos e das aberrações
ópticas gerados pelas lentes oftálmicas.
2
A diferença de grau > 3 D entre
um olho e o outro causa aniseicônia que,
facilmente, provoca ambliopia.
As anisometropias podem ser miópicas, hipermetrópicas, antimetrópicas
ou astigmáticas. As hipermetrópicas
são muito mais ambliogênicas que as
miópicas pois os míopes têm a visão de
perto preservada.
Quanto a sua origem, classifica-se
em: axial, quando há diferença no comprimento axial dos dois olhos; de índice,
quando os meios refracionais estão alterados. Na maioria dos casos, as anisometropias são mistas. A correção óptica mais
indicada depende principalmente do
tipo de anisometropia. Nas axiais puras
o mais indicado é o uso de óculos embora
pelo peso e espessura das lentes a maioria
prefere usar LC. Nas de índice, como por
exemplo na afacia monocular, a aniseiconia é menor com LC. O tratamento da
ambliopia deve ser instituído logo após a
prescrição da correção óptica mais indicada. Quanto mais precoce o tratamento,
melhor o resultado visual.
Adaptação de Lentes de Contato na Criança
Capítulo 18
• Nistagmo
• Astigmatismo irregular
Quando associado à alta ametropia,
o nistagmo pode proporcionar baixa
visão com óculos porque o eixo visual
alinha-se apenas intermitentemente
com o centro óptico da lente oftálmica,
o que provoca distorções e efeitos prismáticos. A LC, por se movimentar com
o eixo visual, não causa esses defeitos.
Nistagmo presente no primeiro ano de
vida está, geralmente, relacionado com
doença subjacente no trato visual anterior (nistagmo sensorial) e manifesta-se
aos 2-3 meses de idade.
Astigmatismo irregular, por cicatrizes corneais ou ectasias, necessita ser
corrigido com LC rígida gás-permeável
(RGP). Este tipo de LC proporciona visão
muito mais nítida do que os óculos por
substituir uma superfície irregular por
outra refrativa regular.
Indicações de LC Cosméticas
• Lesões corneais
Para proporcionar conforto e auxiliar
a recuperação do epitélio corneal pode-se
indicar LC terapêuticas. As mais utilizadas são as descartáveis.
18.3
• Fotofobia
• Defeitos desfigurantes
As LC cosméticas (LCC) reduzem
a fotofobia nas crianças portadoras de
aniridia congênita ou traumática, midríase paralítica, albinismo e acromatopsia.
Pode-se adaptar LC pintada ou filtrante
em crianças com fenda palpebral mais
ampla, ou LC RGP com potente filtro
ultravioleta (UV).
As LCC mascararam defeitos desfigurantes por anormalidades congênitas,
trauma ocular, cataratas inoperáveis, microcórnea, leucomas corneais etc. A restauração do desfiguramento ocular pode
melhorar drasticamente a auto-imagem
da criança e sua interação social.
• Ambliopia
LCC com pupila preta pode ser usada como forma de oclusão no tratamento
de ambliopia quando a criança não
aceita o tampão. Para adaptar LC com
finalidade oclusiva, deve-se primeiro
determinar a adaptação ideal com uma
LC transparente e usar os mesmos parâmetros para solicitar a LCC definitiva.
Mede-se o diâmetro pupilar da criança
na penumbra e solicita-se um milímetro
maior. Se o olho a ser ocluído for emétrope, indica-se grau de -4 D para que
a visão fique inferior a 20/400. LC sem
grau, apenas com a pupila preta, permite
visão em torno de 20/60.
O grau a ser colocado na LC depende da
ametropia do olho a ser ocluído.
Quando existe possibilidade de recuperar a visão, a primeira opção sempre
é instituir o tratamento. A LCC deve ser
deixada para quando essa possibilidade
não existe mais. As LCC preferidas são as
gelatinosas que dão conforto e aparência
mais natural.
É importante esclarecer para a
família que mesmo um olho cego pode
sofrer sérias complicações se a LC não
for adequadamente limpa e desinfetada.
3
Adaptação de Lentes de Contato na Criança
Capítulo 18
18.4
A
Tipos de LC Utilizadas em Pediatria
s lentes de contato gelatinosas
(LCG) são mais fáceis de adaptar e mais confortáveis. Em crianças acima de 3 anos, quando o diâmetro corneal
já permite, pode-se adaptar LCG descartável que tem a vantagem de fácil reposição, importante fator para as crianças
que praticam esportes. Entretanto, é
difícil encontrar LCG nos parâmetros
pediátricos e além disso, a LCG é mais
trabalhosa para os pais manusearem
quando comparada com a RGP. Relativamente frágil, a LCG pode desaparecer
do olho pelo ato de coçar. Proporciona
maior risco de infecção do que a RGP,
especialmente quando utilizada para uso
contínuo (UC).
não pratica esporte, a primeira opção deve
ser RGP por ser mais saudável e mais
fácil de manusear.
A maioria dos candidatos para LC
com finalidade estética deseja LCG.
Aqueles que apresentam astigmatismo
acentuado, podem ser adaptados com
LCG tóricas descartáveis que corrigem até
-2,50 D de astigmatismo ou com RGP,
esféricas ou tóricas. Quando o paciente
A LC de elastômero de silicone é
utilizada somente para afacia pediátrica
sendo, provavelmente, a única segura
para UC. Tem grande permeabilidade
ao O2, mas tende a formar depósitos
lipídicos com facilidade, pela presença
do silicone.
A LC RGP é freqüentemente bem
tolerada pela criança, mais prática
para os pais manusearem e cuidarem.
Disponível em qualquer parâmetro,
corrige astigmatismo e pode ter excelente permeabilidade ao O2, oferecendo
menor risco de infecção. Entre as desvantagens, pode-se citar: desconforto
inicial, maior probabilidade de deslo camento e perda, irritação corneal se
a criança esfregar muito os olhos ou
se houver um movimento grosseiro de
inserção e remoção por parte dos pais.
18.5
N
a criança a abertura palpebral
é pequena, o que torna difícil a
colocação e a remoção da LC. Essa dificuldade aumenta com o choro. Forçar manualmente a abertura das pálpebras pode causar
sua eversão. As pálpebras são apertadas
quando a criança está acordada e frouxas
quando está dormindo. O fluído pré-corneal aquoso apresenta-se aumentado, lipídios
e proteínas reduzidos. O alto componente
aquoso do fluido pré-corneal pode intensificar o suplemento de O2 para a córnea
e manter a superfície ocular e a LC bem
lubrificadas. A LC na criança raramente
apresenta problemas com depósitos proteináceos ou lipídicos, com exceção da LC de
elastômero de silicone, na qual os lipídios
se acumulam com facilidade.
4
Diferenças entre a Adaptação
de LC na Criança e no Adulto
A curvatura corneal é mais fechada ao
nascimento, aplana rapidamente nos 2
primeiros anos, atingindo aproximadamente 43,5 D na idade de 4 anos. O diâmetro corneal mede em torno de 10 mm
ao nascimento; aumenta rapidamente
no primeiro ano de vida e mais vagarosamente nos anos seguintes, alcançando
11,5 mm na idade entre 3 a 4 anos.
Criança com microftalmia, catarata congênita ou vítreo primário hiperplásico,
pode ter diâmetro corneal de somente 6
a 7 mm, e a taxa de crescimento desses
olhos é usualmente menor que o normal.
O prognóstico de AV de olhos com microcórnea ou microftalmia nem sempre é
ruim. O diâmetro pupilar é de 2 a 3 mm,
numa sala iluminada.
Adaptação de Lentes de Contato na Criança
Capítulo 18
O olho da criança atinge as dimensões do adulto após os 2-3 anos de idade
e poucos fabricantes disponibilizam
LCG com parâmetros pediátricos.
As técnicas da adaptação são semelhantes às utilizadas no adulto. É importante, nas córneas infantis, evitar LC
muito planas para não provocar alterações
indesejáveis da curvatura corneal. Além
disso, excessivo movimento de uma LC
frouxa tente a produzir desconforto, instabilidade visual, deslocamento e perda.
Como Proceder para
Adaptar LC em Crianças
adaptar LC em criança e em adulto
é a necessidade de fazer acompanhamento periódico cuidadoso de refração
e ceratometria porque as medidas dos
olhos da criança sofrem alterações apreciáveis durante o crescimento. Assim,
alterações freqüentes da curva base
(CB), diâmetro (Ø) e desenho da LC
podem ser necessários para garantir boa
AV e prevenir distorções corneais.
18.6
A
lguns profissionais usam
anestesia geral para facilitar
a medida dos parâmetros corneais e
a avaliação do poder refrativo do pequeno paciente. Entretanto, deve-se
considerar que sob anestesia geral, as
medidas oculares podem apresentar-se
alteradas porque a força das pálpebras
é diferente em posição deitada, o lacrimejamento está ausente, a córnea fica
dessensibilizada, a pressão intra-ocular
pode estar muito diminuída e provocar
alteração da curvatura corneal. Além
disso, a anestesia geral pode precipitar
emergência médica séria.
Adaptação de LC
na Criança Afácica
Uma diferença importante entre
Quando não se consegue adaptar
LC no consultório com a imobilização
dos braços e uma gota de anestésico,
deve-se solicitar ao anestesista que a
sedação seja feita no centro cirúrgico.
Lá se faz a retinoscopia, ceratometria
com ceratômetro manual ou acoplado
ao braço do microscópio e a avaliação
da relação LC X córnea. Se for RGP,
recomenda-se o uso de fluoresceína e o
exame ao biomicroscópio ou à lâmpada
de Burton.
18.7
P
or várias razões, a maioria dos
oftalmologistas não coloca implante de lente intra-ocular em criança
afácica. As outras opções de correção
seriam óculos, LC e a epiceratofacia.
A epiceratofacia não permite corrigir
as seguidas alterações do poder dióptrico
que o olho sofre com o desenvolvimento.
O uso de óculos pode ser indicado para
a afacia binocular mas causa alterações
importantes no tamanho da imagem e
distorções periféricas. Portanto, o uso
de LC representa a melhor opção para o
tratamento da afacia na criança.
A cirurgia de catarata congênita
deve ser realizada sempre que possível
dentro dos 2 primeiros meses de vida e
as medidas de reabilitação visual devem
ser rigorosas. Isso porque o período crítico para o desenvolvimento do reflexo
de fixação está em torno dos 3 meses. O
aparecimento de nistagmo numa criança
com privação visual bilateral provavelmente marca o fim desse período.
Geralmente as cataratas congênitas
estão associadas a outras anomalias oculares e/ou sistêmicas. A oportunidade
que crianças com catarata congênita
5
Adaptação de Lentes de Contato na Criança
Capítulo 18
têm de serem operadas depende quase
que exclusivamente do conhecimento
do pediatra e do neonatologista sobre a
importância do diagnóstico e tratamento
imediato desses casos.
Para a adaptação de LC sempre que
possível, ao final da cirurgia, deve-se
fazer a ceratometria com ceratômetro
acoplado ao braço do microscópio, a
retinoscopia e a medida do diâmetro da
córnea, para a escolha da primeira LC de
teste. Para determinar o poder refrativo
mais correto é recomendável colocar uma
LC de aproximadamente +35 D e sobre
ela fazer a retinoscopia.
Iniciar a adaptação da LC em K.
Para evitar seu deslocamento, provocado
pelo pequeno tamanho do olho e a alta
tonicidade das pálpebras, é necessário
adaptá-la ligeiramente mais apertada do
que no olho do adulto. Pode-se iniciar os
testes utilizando medidas ceratométricas
sugeridas por dados da literatura. Da
mesma forma o grau é escolhido quando a
retinoscopia for muito difícil de ser feita.
Conforme a idade, a literatura sugere:
Curva Base (CB)
Até 6 meses
47,50 D
Entre 12-18 meses
45,50 D
54 meses em diante
42,75 D
Poder Dióptrico
acompanhamento ideal é uma
vez por semana durante 1-2 meses; uma vez por mês até 6 meses e depois
pode ser trimestral, se não houver intercorrências. Como o raio de curvatura da
córnea aumenta rapidamente nos primeiros anos de vida, se uma LC levemente
apertada for deixada no local por muito
tempo ela se tornará ainda mais apertada,
levando a complicações oculares. A fim
de evitar essas complicações, a LC deve
ser trocada sempre que necessário para
manter a adaptação e a correção óptica
mais adequadas possíveis. Num bebê,
isso pode significar várias trocas durante
6
+32,00 D
6 meses a 1 ano
+29,00 D
1 a 2 anos
+26,00 a +20,00 D
> que 2 anos
+20,00 a +12,00 D
Os valores dióptricos acima já estão com adição de +1,00 a +2,50 D, levando em conta que quanto mais jovem
é a criança maior é o uso da visão de
perto. Quanto ao Ø, para a RGP varia
entre 8,3 e 9,0 mm; para a LCG, recomenda-se 2-3 mm maior do que o diâmetro visível da íris. Quando a criança
está sendo alfabetizada indica-se óculos
bifocais ou multifocais sobre as LC.
A adaptação da LC de elastômero
de silicone (SilsoftTM-Bausch&Lomb)
deve ser relativamente plana, mais frouxa
que a LCG e mais apertada que a RGP.
Deve haver movimento suficiente para
a remoção dos produtos metabólicos e
debris celulares debaixo da LC. O Ø mais
utilizado é de 11,3 mm.
Conforme Matsumoto & Murphere
(1986), 70% das LC de elastômero de
silicone adaptadas tiveram CB final igual
ou mais plana do que K. As complicações
incluíram ceratite puntada superficial
transitória e abrasões corneais na presença
de depósitos pesados ou quando as LC
foram adaptadas apertadas.
18.8
O
Até 6 meses
Como Deve ser Feito
o Controle da Criança Afácica
os primeiros dois anos. Recomenda-se a
remoção da LC, pelo menos uma vez por
semana, para limpeza e assepsia. Os pais
devem ser bem orientados nesse sentido.
As alterações de parâmetros e conseqüente troca de LC a cada 2-3 meses são
menos significativas após 6-12 meses.
Quando essas crianças iniciam a fase
de alfabetização já devem estar usando
óculos para perto sobre as LC. Nas crianças
com afacia bilaterial e estrabismo, que não
possuem visão binocular, pode-se fazer
monovisão hipercorrigindo +2,50 D num
dos olhos. Mesmo crianças operadas
Adaptação de Lentes de Contato na Criança
Capítulo 18
precocemente que tenham recebido
tratamento adequado para evitar
ambliopia, podem desenvolver endotropia ou Síndrome da Monofixação.
Neste último caso, pode não haver
Como Diminuir a Aniseicônia
dos Afácicos Corrigidos
desvio mensurável, mas a fixação é monocular e a visão estereocópica está prejudicada ou ausente, motivo pelo qual a
monovisão também pode ser indicada.
18.9
S
abe-se que os óculos de um
afácico podem aumentar em
até 30% o tamanho da imagem,
enquanto que a LC, para a mesma
correção, aumenta apenas 7%.
Complicações com as LC
Um artifício usado para diminuir
a aniseicônia dessas altas ametropias é
programar a correção de LC para perto,
dando uma hipercorreção de três dioptrias,
e colocar óculos para a visão de longe com
LC de três dioptrias negativas.
18.10
A
s complicações oculares mais encontradas são:
A causa mais comum da desistência do tratamento não é a complicação
ocular e sim o fator sócio-econômico
agravado pela troca ou perda freqüente
da LC. Soma-se a isso a necessidade de
acompanhamento regular pelo oftalmologista que, muitas vezes, representa
longas viagens para os pais.
- abrasões corneais por má-relação
LC X córnea;
- depósitos, principalmente em LC
de elastômero de silicone;
- LC apertadas;
- sinais de hipóxia;
- úlcera de córnea, rara.
Tratamento Integrado
A
18.11
pós a cirurgia e a adaptação da
LC é indispensável avaliar
a função visual e prevenir ou tratar a
ambliopia. Para tanto, pode-se fazer os
testes: olhar preferencial forçado e potencial visual evocado. Outros exames
como, por exemplo, o eletrorretinograma
também podem ser necessários.
• Olhar Preferencial Forçado
Apresenta-se um cartão com padrão
de listras em um lado, tipo Teller. Se a
criança pode ver as listras, seus olhos irão
se mover instintivamente para elas. Para
avaliar a visão quantitativa, os tamanhos
das listras podem ser variados. Utiliza-se
esse teste para comparar a visão dos dois
olhos e para avaliar a visão monocular.
7
Adaptação de Lentes de Contato na Criança
• Potencial Visual Evocado (PVE)
O PVE padrão apresenta algum valor para a estimativa da AV em crianças
cujo comportamento visual não pode
ser avaliado de outra forma.
Os PVEs medem a atividade do
córtex occipital em resposta ao estímulo
visual. Os registros do percurso dos
PVEs são medidos pela apresentação de
uma série contínua de freqüências espaciais aumentadas (1-20 ciclos por grau)
durante um período de 10 segundos.
Quanto mais alta a freqüência espacial
que leva a uma resposta, melhor a AV.
É válido somente se houver uma
resposta positiva. Um PVE padrão
fraco não comprova baixa visual. Uma
resposta fraca é menos informativa do
Capítulo 18
que uma resposta positiva, pois pode
significar paciente pouco colaborador.
Entretanto, uma resposta positiva é uma
informação válida.
• Eletrorretinograma (ERG)
O ERG é utilizado principalmente
para a avaliação de criança com nistagmo e com outros sintomas ou sinais de
doença retiniana como fixação de luzes,
arregalar os olhos, fotofobia, nictalopia,
pupilas pouco reagentes, fenômeno pupilar paradoxal e alta ametropia.
O ERG também é útil para avaliar
a função retiniana residual, retinopatia
da prematuridade, e nos casos de persistência do vítreo primário hiperplásico posterior.
Referências Bibliográficas
CORAL-GHANEM, C.; WALLINE, J.J. Pediatric Contact Lenses. IN: MANNIS, M.J.;
ZADNIK, K.; CORAL-GHANEM, C.; KARA-JOSÉ, N. Contact Lenses in Ophthalmic
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Chapter 51, p. 1-8, 1994.
MATSUMOTO, E.R.; MURPHERE, L. The use of silicone elastomer lenses in aphakic
pediatric patients. International Eye Care, v. 2, n. 4, p. 214-217, April, 1986.
MOORE, B. Managing young children in contact lens. Contact Lens Spectrum. p. 34-38,
May, 1996.
STENSON, S.M. Pedriatic contact lens fitting. In: KASTL, P.R. Contact Lenses - The
CLAO Guide to Basic Science and Clinical Practice. Iowa: Kendall/Hunt, v. 3, p. 179195, 1995.
8
Lentes de Contato Terapêuticas
Capítulo 19
Lentes de Contato
Terapêuticas
19
Paulo Ricardo de Oliveira1 e Cleusa Coral-Ghanem
N
os últimos anos, com o advento
de novos materiais e desenhos,
a utilização das lentes de contato (LC)
tem-se estendido muito além da correção dos vícios de refração, incluindo o
tratamento de doenças corneais e o uso
no pós-operatório de vários procedimentos cirúrgicos.
Indicações das LCT
19.1
- Reduzir a dor causada por abrasões,
erosões e úlceras corneais.
- Proteger a córnea que apresenta ceratite
filamentar, neurotrófica, neuroparalítica e nos casos de ceratopatia bolhosa.
- Facilitar e manter a cicatrização
epitelial.
- Proteger a córnea contra o ressecamento
e contra danos mecânicos secundários a
entrópio e triquíase.
Adaptação e Escolha da LCT
A
- Restaurar a câmara anterior quando
o colapso da mesma é determinado
por uma pequena perfuração.
- Liberar medicamentos na superfície
ocular.
- Melhorar o desconforto após sutura
de córnea, transplante, cirurgia fotorefrativa ou cirurgia de correção de
problemas palpebrais.
19.2
obtenção das medidas ceratométricas ou topográficas é útil para
a escolha da curva base (CB) da LC a ser
1
As LC terapêuticas (LCT) representam uma importante opção no tratamento e controle de numerosas doenças
da superfície ocular. Entretanto, é indispensável que o médico tenha conhecimento e bom senso para sua indicação e que
faça um seguimento rigoroso dos usuários
para prevenir complicações.
adaptada. Caso não seja possível, escolhe-se
uma LC de CB média e faz-se a avaliação à
lâmpada de fenda.
Paulo Ricardo de Oliveira
Oftalmologista do Hospital de Olhos de Goiás
Presidente da SOBLEC - biênios 95/97 e 97/99
Doutor em Oftalmologia pela Universidade de São Paulo
9
Lentes de Contato Terapêuticas
Capítulo 19
A escolha do tipo da LC depende da
doença existente e do problema a ser resolvido. Deve-se levar em consideração
o conteúdo aquoso, a espessura, a transmissibilidade ao oxigênio (O2), a CB e o
poder dióptrico.
A LC deve ter, preferencialmente, diâmetro (Ø) grande para cobrir toda a córnea e mobilidade ligeiramente abaixo do
normal para causar o menor traumatismo
possível. Após a colocação da LC o normal
é que ocorra a melhora dos sintomas.
19.3
O
ideal é que todo paciente
adaptado com LCT seja examinado no dia seguinte para rever o
padrão de adaptação e pesquisar sinais
de inflamação ocular. Se a LC estiver
muito apertada terá que ser substituída
por outra mais plana. Se apresentar
mobilidade excessiva, deve ser trocada
por CB mais apertada, pois pode causar desconforto e trauma na córnea. Se
houver suspeita de infecção ou reação
inflamatória muito intensa, o uso deve
ser interrompido.
O controle poderá ser diário, semanal ou quinzenal, dependendo da gravidade do problema ocular que determinou
a adaptação da LC. Quando existe risco
de perfuração, redução ou ausência de
sensibilidade corneal, olho seco, ou se o
paciente for portador de diabetes, recomenda-se avaliar diariamente.
Durante o exame de controle, se for
necessário realizar a tonometria, retira-se
a LCT com cuidado e depois da tonometria, antes de recolocar a LCT, o olho
Controle e Manutenção das LCT
deve ser bem irrigado com soro para a
remover a fluoresceína.
A tonometria com aparelhos de
não-contato pode ser feita sem a remoção
da LCT.
A remoção para manutenção ou a
substituição da LC depende do estágio
da doença e é determinada pelo médico.
Na atualidade, as LC descartáveis de
hidrogel e de silicone-hidrogel são cada
vez mais usadas como terapêuticas, pois
não necessitam ser retiradas para a manutenção. A substituição freqüente reduz
as complicações derivadas da formação
de depósitos. A troca pode ser semanal,
quinzenal ou mensal, a critério médico.
A instilação de colírios sobre a LCT
pode ser necessária. Indica-se medicamentos sem preservativos para evitar
toxicidade e reações de sensibilidade,
principalmente quando se trata do uso
freqüente de lágrimas artificiais. Soluções
hipertônicas podem causar desidratação
da LCT e síndrome de LC apertada, por
isso devem ser evitadas.
19.4
Considerações sobre o Uso de LCT
nas Indicações mais Freqüentes
19.4.a Ceratopatia Bolhosa
A
LCT está indicada para o
alívio da dor, enquanto o paciente aguarda o transplante de córnea.
O transplante deve ser realizado o mais
rapidamente possível, para evitar a vas10
cularização da córnea. Nos olhos sem
possibilidade de reabilitação visual não
existe a preocupação com o crescimento
de vasos; a prevenção de infecção é a
razão maior do controle médico.
Lentes de Contato Terapêuticas
Capítulo 19
19.4.b Erosão Recorrente de Córnea
A
LCT proporciona grande alívio
e conforto, reduzindo drasticamente os sinais e sintomas (dor, sensação
de corpo estranho, lacrimejamento e
fotofobia) que surgem quando o paciente
acorda, principalmente após dormir durante várias horas. A LCT deve ser usada
durante 2 a 3 meses para permitir a firme
adesão do epitélio à membrana basal.
19.4.c Olho Seco
O
uso de LCT deve ser reservado para os casos que não
alcançaram sucesso com a utilização de
lágrimas artificiais e a oclusão dos pontos lacrimais. É imprescindível levar em
consideração que LC gelatinosa (LCG)
adaptada num olho seco apresenta maior
formação de depósitos e aumenta o risco
de infecção. É recomendável que seja fina
e de baixa hidratação, para conservar
melhor o filme lacrimal (FL) pré-corneal
e sofrer menor evaporação.
19.4.d Perfuração Corneal
E
xiste indicação para LCT quando a perfuração é pequena, de
até 2 mm de diâmetro, e não mostra
encarceramento de tecido uveal. A LC
deve ser adaptada ligeiramente apertada
para melhor ocluir o orifício e provocar
edema de córnea, o que aproximaria as
bordas da lesão, facilitando a sua oclusão. Pode ser usada também sobre o adesivo de cianoacrilato para dar conforto.
19.4.e Distrofia Corneal
A
lgumas distrofias corneais
estão associadas com irregularidades do epitélio, determinando a
ruptura freqüente do mesmo, o que causa
dor, sensação de corpo estranho, fotofo-
bia e lacrimejamento. A LCT está indicada para aliviar os sintomas, mas deve ser
reservada para os casos recorrentes que
apresentam acentuado desconforto para
o paciente.
19.4.f Queimadura Química
A
pós diminuir a intensa reação
inflamatória inicial, uma LCT
pode ser usada para promover a reepitelização, prevenir e tratar a ruptura freqüente
do epitélio. Além disso, tem a finalidade
de proteger a córnea do ressecamento e do
trauma causado por anormalidades palpebrais. Indica-se a utilização de lágrima
artificial e antibiótico tópico, sem preservativos, sobre a LCT.
11
Lentes de Contato Terapêuticas
Capítulo 19
19.4.g Ceratite Neurotrófica
A
LCT pode ser útil na recuperação do epitélio, quando a
oclusão e o uso de lá grimas artificiais
não surtiram o efeito necessário. Devese fazer um acompa nha men to médico
ri go ro so desses olhos que, devido à
ausência de sensi bi li da de corneal,
podem apre sentar com pli ca ções graves.
O uso profilático de anti bi ó ti co tópico
é re co mendá vel.
19.4.h Cirurgia de Córnea com Excimer Laser
A
forte dor, que ocorre nas primeiras 24 a 48 horas de pósoperatório da ceratectomia fotoablativa
(PRK - Photorefractive Keratectomy),
tem sua intensidade consideravelmente
reduzida com o uso de LCT. A LCT evita o toque da pálpebra superior com as
terminações nervosas corneais, expostas
pela ceratectomia foto-refrativa, reduzindo a dor e a sensação de corpo estranho. No pós-Laser in Situ Keratomileusis
(LASIK) indica-se LC principalmente
quando acontece erosão do epitélio.
Nesse caso, recomenda-se a remoção
dentro das primeiras 24 horas para diminuir a possibilidade de infecção.
19.5
S
ão usadas para facilitar a epitelização, promover o conforto ao
paciente no pós-operatório imediato e
para administrar drogas oftálmicas, em
cujas soluções elas são imersas, antes de
colocadas nos olhos. As LC de colágeno
possuem curvatura única e Ø de 14,5 mm.
Uma vez colocadas nos olhos, liberam o
medicamento e dissolvem-se lentamente,
num período de 12 a 72 horas.
19.6
A
s mais importantes são a infecção ocular e a impossibilidade
do paciente retornar para seguimento
adequado, o que o exporia a um alto
risco de complicações. São contra-
12
LC de Colágeno
Contra-Indicações das LCT
indicações relativas, relacionadas com
a possibilidade de infecção: blefarite
seborreica, anormalidades do sistema
lacrimal, higiene pessoal pobre e a
presença de bolha filtrante.
Lentes de Contato Terapêuticas
Capítulo 19
Complicações Causadas
pelo Uso de LCT
A
19.7
s mais freqüentes são:
neovascularização corneal,
infiltrados estéreis, edema, úlcera de
córnea infecciosa, hipópio, iridociclite
sem infecção e conjuntivite papilar
gigante (CPG).
A ocorrência de úlcera de córnea
infecciosa é muito mais freqüente entre
usuários de LCT do que entre aqueles
que usam LC apenas para corrigir vícios
de refração. As LCT são adaptadas em
olhos doentes, ou submetidos à cirurgia e
portanto, predispostos à complicações.
Referências Bibliográficas
AQUAVELLA, J. V. Therapeutic Contact Lenses. In: AQUAVELLA, J. V. & RAO, G. N.
Contact Lenses. Philadelphia, Lippincott, 1987, p. 140-63.
MANNIS, M. J. Therapeutic Contact Lenses. In: SMOLIN, G. & THOFT, R. A. The
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STENSON, S. M. Contact Lenses. Norwalk, Appleton & Lange, 1987, p. 156-81.
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M. B. & MOREIRA, H. Lentes de Contato, Rio de Janeiro, Cultura Médica, 1993,
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OLIVEIRA, P. R. Lentes Terapêuticas. In: CORAL-GHANEM E KARA-JOSÉ, N. Lentes
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PACHECO, F. R. Lentes Terapêuticas. In: PENA, A. S. Clínica de Lente de Contato,
Rio de Janeiro, Cultura Médica, 1989, p. 156-9.
13
Lentes de Contato Cosméticas e Protéticas
Capítulo 20
20
Lentes de Contato
Cosméticas e Protéticas
Cleusa Coral-Ghanem; Paulo Ricardo de Oliveira1.
A
palavra "cosmética", quando
aplicada às lentes de contato
(LC) gera ambigüidade por não prever
a função essencialmente médica ou
terapêutica desse recurso. Na verdade,
o aspecto apenas estético das LC para
alteração da cor da íris é desprezível se
comparado à sua função reparadora como
por exemplo, quando recobre cicatrizes ou
deformidades desfigurantes.
20.1
A
s LC gelatinosas (LCG) cosméticas são tingidas ou pintadas,
podem ter ou não efeito refrativo e serem
adaptadas em olhos com ou sem visão.
As LCG cosméticas podem ser translúcidas, semi-opacas e opacas. As primeiras, chamadas também de filtrantes, são
tingidas e permitem a passagem da luz.
Podem ter efeito refrativo se a área pupilar for incolor ou translúcida.
LC Gelatinosas Cosméticas
Nas LCG cosméticas opacas, a pintura da íris é feita sobre um fundo escuro
que impede a visão da córnea e da íris do
usuário. Esse tipo de LC efetivamente
mascara a cor natural do olho.
Quando o objetivo é impedir a visão,
para diminuir o desconforto na diplopia adquirida ou para o tratamento de
ambliopia, pode-se utilizar LC opaca ou
filtrante com a pupila preta.
As semi-opacas não causam mudança
total na cor aparente da íris, apenas realçam a cor natural dos olhos.
20.1.a Indicações de LCG Cosméticas
I
ndica-se para:
- diminuir a fotofobia de olhos hipersensíveis;
- reduzir a fotofobia na presença do albinismo ocular, aniridia, iridectomia e coloboma;
- alterar a coloração dos olhos para efeito estético;
- simular a presença da íris e da pupila em casos de aniridia congênita ou pós-trauma;
- recobrir cicatrizes e opacidades corneais;
- recobrir cicatrizes irianas ou corneais que possam ocasionar diplopia;
- cobrir cataratas hipermaduras que não tenham indicação de cirurgia;
- tratar a ambliopia, usando LC com pupila preta, quando a criança
recusa a oclusão convencional.
1
Paulo Ricardo de Oliveira
Oftalmologista do Hospital de Olhos de Goiás
Presidente da SOBLEC - biênios 95/97 e 97/99
Doutor em Oftalmologia pela Universidade de São Paulo
14
Lentes de Contato Cosméticas e Protéticas
Capítulo 20
20.1.b Adaptação de LCG Cosméticas
O
método de adaptação é semelhante ao utilizado para as
LCG não-cosméticas. Quando possível,
respeita-se as medidas ceratométricas
ou topográficas do olho; caso contrário,
observa-se a centralização e mobilidade
da LC colocada, à lâmpada de fenda, e o
conforto do paciente.
Deve-se medir o diâmetro pupilar na
luz natural e à lâmpada de fenda, sob luz
de cobalto, quando a pupila dilata.
Em condições normais de iluminação, o diâmetro pupilar varia de 2,5
a 4,0 mm, enquanto o da pupila produzida nas LC está entre 4,5 e 5,3 mm. A
maioria dos usuários não percebe perda
de campo visual. Entretanto, em condições de pouca iluminação, é conveniente
recomendar cautela no exercício de determinadas atividades, como dirigir veículos a noite, uma vez que pode ocorrer
redução do campo visual.
20.1.c Limpeza e Manutenção das LCG Cosméticas
A
limpeza, desinfecção e a remoção de proteínas das LCG são
feitas da mesma forma que nas LCG convencionais. Evita-se a fervura e o peróxido
de hidrogênio que podem alterar os parâmetros de alguns tipos de LC ou desbotar
sua coloração.
O uso de medicações tópicas pode
danificar os materiais das LCG cosméticas. É recomendável que o paciente
remova a LC antes de pingar o colírio e
aguarde 10 minutos para recolocar a LC.
20.1.d Contra-indicações
A
s LCG cosméticas devem ser
contra-indicadas para olhos
com neovascularização moderada e
avançada; portadores de olho seco
intenso; pessoas com dificuldades
Lentes Rígidas Cosméticas
motoras que impeçam a colocação e
remoção das LC; para as que não têm
boa higiene e para as que ficam expostas
a ambientes muito poluídos.
20.2
A
s LC rígidas cosméticas podem
ser de polimetilmetacrilato
(PMMA) e de material gás-permeável.
Geralmente são adaptadas em olhos com
córnea desfigurada e que exibem astigmatismo irregular. Essas LC podem corrigir
a baixa visual e ao mesmo tempo encobrir
o defeito estético.
Córneas desfiguradas com moderada
ou severa neovascularização devem ser
adaptadas com LC rígidas gás-permeáveis
(RGP) de alta transmissibilidade ao oxigênio (O2).
Como as LC de rígidas gás-permeáveis (RGP) ou PMMA são menores e apresentam mobilidade maior do que as LCG,
seu efeito cosmético é limitado. Por isso,
não devem ser usadas para anomalias que
afetam as áreas periféricas da córnea ou
parte ampla do segmento anterior.
15
Lentes de Contato Cosméticas e Protéticas
Capítulo 20
20.2.a Adaptação das LC Rígidas Cosméticas
L
eva-se em conta os dados da
refração e ceratometria ou as
medidas do olho menos comprometido.
Utiliza-se LC com Ø grande para cobrir
o defeito e relativamente apertada para
ter pouca mobilidade. O padrão fluoresceínico de uma LC rígida cosmética não
pode ser avaliado, mas deve-se observar,
à lâmpada de fenda, o movimento, a
centralização e sinais que possam indicar se a adaptação está apropriada ou
não. Para auxiliar, pode-se utilizar uma
LC rígida transparente, com parâmetros conhecidos, avaliar o padrão fluoresceínico e, a partir daí, passar para a
LC cosmética.
20.3
Lentes Protéticas
A
s LC protéticas podem ser divididas em 2 tipos:
1º) As próteses, propriamente ditas, que
são lentes mais espessas. Indica-se
para melhorar o aspecto estético e
para corrigir o movimento das pálpebras, substituindo o olho após enucleação, evisceração e enoftalmia.
2º) As lentes esclerais, que são mais finas
que as próteses. Indica-se para córneas
e/ou escleras desfiguradas, leucomas
e para os casos onde a alteração da
superfície é tão grande que uma LC
corneal não tem boa centralização.
Também podem ser usadas em casos
de albinismo ocular severo, mantendo
apenas a pupila transparente para que
o restante da lente escleral bloqueie a
passagem da luz para o olho. Podem
ter efeito refrativo ou não.
20.3.a Adaptação das LC Protéticas
- Para adaptar próteses, utiliza-se uma
caixa de provas que contém LC de
diferentes tamanhos, espessuras e
cores. Após testada e escolhida, a LC
que vai funcionar como molde, geralmente necessita ser preenchida com
cera para melhorar o posicionamento
na cavidade. Marca-se com tinta onde
deverá ser pintado o centro da pupila.
- Deve-se medir ainda os diâmetros
pupilar e iriano do olho contralateral,
ou de moldes próximos ao olho bom
do paciente. Para que essas medidas
sejam mais precisas pode-se utilizar
uma régua paquimétrica.
- A prótese que serviu de molde, juntamente com outras que se assemelhem
na coloração para a pintura da íris, da
esclera e da quantidade de vasos da
16
esclera, tomando por base o olho contralateral, é enviada ao fabricante.
- Caso não se tenha moldes que sirvam de base para a coloração, uma
foto do olho bom do paciente, tirada
à luz do dia e bem de perto, deve ser
enviada ao fa bri can te que tentará
reproduzir artesanalmente a pintura
da prótese, tomando como base as
medidas fornecidas.
- Para adaptar LC escleral, é mais difícil
porque é colocada sobre o olho desfigurado, mas íntegro, que sente o desconforto do toque da LC. Deve-se observar
a impressão do olho e/ou a performace
das LC de teste. Um dos processos de
adaptação é tentar aproximar a LC ao
raio de curvatura da esclera; outro é a
utilização de moldadores transparentes,
Lentes de Contato Cosméticas e Protéticas
Capítulo 20
onde se possa observar as áreas de toque
da LC sobre a córnea e esclera. Com
estes últimos pode-se marcar a altura e
Limpeza e Desinfecção
das Lentes Protéticas
centralização da íris e pupila para que a
pintura seja feita manualmente, promovendo um alinhamento ocular adequado.
20.4
O
s cuidados com as LC protéticas
e esclerais variam de acordo
com as especificações do fabricante. De
modo geral, pode-se utilizar os mesmos
produtos de limpeza usados nas LC de
PMMA e gás-permeáveis.
Como a maioria dos usuários de LC
esclerais e protéticas não gosta de remover
a LC para dormir, pode-se recomendar
que a limpeza seja efetuada durante o
banho com sabão ou shampoo neutro,
diariamente. A cavidade deve ser limpa
com soro fisiológico ou mesmo água, para
evitar o acúmulo de secreções e infecções.
O uso de removedor de proteínas é
recomendável para prevenir a ocorrência
de conjuntivite papilar gigante (CPG).
Deve-se aconselhar o paciente a não
utilizar soluções a base de álcool, pois
danificam a superfície e a coloração das
lentes protéticas.
Referências Bibliográficas
MASSARE, J.S.; FREEMAN, M.I. Cosmetic tinted soft contact lenses. In: KASTL, P.R.
Contact Lenses The CLAO Guide to Basic Science and Clinical Practice. Iowa:
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FREEMAN, M.I; STEIN, R.M. Residents Contact Lens Curriculum Manual. New
Orleans, Contact Lens Association of Ophthalmologists, 1996, p.114-6.
17
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Cleusa Coral-Ghanem
Capítulo 21
21
A
s complicações oculares são a
principal causa de desistência
do uso de lentes de contato (LC). A maior
parte é provocada por falta de obediência
dos usuários às orientações de manutenção e ao período de troca da LC.
A LC, apenas por sua presença,
altera o mecanismo de defesa natural do
olho. A formação de depósitos sobre ela
facilita o desenvolvimento de reações
inflamatórias e infecciosas, além de provocar desconforto e turvação visual.
• aumentar a retenção de microorganismos na superfície ocular;
• atuar como vetor, facilitando a infecção.
O biofilme, secretado pelo meio
ocular, reveste a LC em curto espaço
de tempo, atuando como hospedeiro
de patógenos, particularmente de
Pseudomonas. As bactérias aderem aos
polímeros das LC e essa aderência é
estimulada pela presença de depósitos
em sua superfície.
O uso de LC afeta o mecanismo de
defesa ocular por:
A manutenção da LC visa:
• conservar a qualidade óptica;
• limitar a troca lacrimal;
• romper o filme lacrimal (FL);
• reduzir a eficiência na limpeza dos debris;
• reter mucina, inibindo seu papel
normal de proteção;
• provocar microtraumas, devido a efeitos
metabólicos e mecânicos;
• evitar alterações na superfície que
facilitam a formação de depósitos;
• remover depósitos ambientais;
• reduzir o número de microorganismos
patogênicos;
• aumentar o tempo de vida útil.
21.1
S
Manutenção
e Manuseio das
Lentes de Contato
Tipos de Depósitos mais
Encontrados sobre LC
ão três os tipos de depósitos mais encontrados sobre LC:
• Orgânicos: proteínas, lipídios, carboidratos, pigmentos de origem orgânica,
depósitos compostos por microorganismos e outras substâncias.
ma, lactoferrina e albumina. Existem em
proporções aproximadamente iguais, sendo que as duas primeiras possuem carga
positiva e a terceira, carga negativa.
• Inorgânicos: sais de ferro oxidado, sais
de cálcio, fosfatos e carbonatos de cálcio, cálculos de cálcio e pigmentos.
As LC iônicas apresentam carga negativa e sofrem impregnação de depósitos
protéicos pela atração que exercem sobre
as proteínas que possuem carga positiva.
Assim, por exemplo, dentre as proteínas,
a lisozima, que tem carga positiva e peso
molecular baixo, é a que mais se deposita
• Ambientais.
As proteínas lacrimais mais importantes na formação de depósitos são lisozi18
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
em LC de material iônico (carga negativa)
e de alto conteúdo de água (grupo IV Food and Drug Administration (FDA)). Em
menor quantidade, adere aos iônicos de
baixo conteúdo de água (grupo III - FDA)
e, embora se deposite nas LC gelatinosas (LCG) não-iônicas, de baixo e alto
conteúdo de água (materiais dos grupos
I e II - FDA), geralmente não é a mais
importante em quantidade. A absorção
de proteínas por diferentes materiais de
LC depende, principalmente, da carga do
material e não do conteúdo de água.
Filmes de microproteínas consistem de proteínas desnaturadas que
formam discretos depósitos de finas
camadas, opacos e esbranquiçados.
Esses filmes de microproteínas podem
cobrir total ou parcialmente a superfície da LC. Para visualizá-los com facilidade, o paciente deve parar de piscar
para que ocorra o ressecamento da
superfície da LC.
Propriedades das Soluções
de Manutenção
A
Os lipídios costumam ser en con tra dos em pequena quantidade nas
LCG, mas po dem representar depósitos im por tan tes nas rígidas gás-permeáveis (RGP), especialmente na que las
que contêm muito siloxane, tor nan doas hidrofóbicas.
Os depósitos de lipídios na superfície
da LC aparecem como áreas graxas ou
manchas de óleo.
Estudos indicam claramente que o
acúmulo de proteínas é altamente dependente do material, enquanto os depósitos
de lipídios são dependentes dos pacientes
e podem estar presentes nos materiais dos
grupos I, II, III e IV, do FDA.
A natureza e a quantidade dos
depósitos variam consideravelmente de
acordo com a bioquímica da lágrima do
usuário, o tempo de uso, o tipo de LC e
o meio ambiente.
21.2
s soluções de manutenção são
formuladas para atingirem os
objetivos de limpeza, enxágüe e desinfecção. Devem ser compatíveis com o
material da LC, com as lágrimas e com o
tecido ocular. Para tanto, é necessário o
equilíbrio entre as propriedades:
–
–
–
–
–
–
–
tonicidade;
grau de acidez e alcalinidade - pH;
água;
agentes tamponantes;
agentes de viscosidade;
agentes limpadores;
agentes antimicrobianos.
21.2.a Tonicidade
R
efere-se à quantidade de sal contida numa solução. O padrão para
tonicidade na formulação de soluções de manutenção é o conteúdo de
sal presente no fluido intracelular do corpo: 0,9% de cloreto de sódio (NaCl) ou
300 miliOsmois (mOsm).
Figura 1.a - LCG em solução
isotônica apresenta seu tamanho normal
Quando a solução contém outros sais, utilizados para outras funções, a quantidade do NaCl deve ser menor a fim de que a solução continue isotônica, equivalente
a 0,9% de NaCl.
Isotônicas
Soluções que têm tonicidade igual a 0,9% de NaCl são denominadas isotônicas.
As soluções de manutenção são formuladas para serem isotônicas, com a finalidade
de manter o equilíbrio dos tecidos oculares e da água contida na LC (fig. 1.a).
Exemplo de solução isotônica são as lágrimas que não provocam alteração
(edema ou desidratação) das células corneais.
19
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Hipertônicas
São as soluções que têm tonicidade maior do que 0,9% de NaCl.
Exemplo: água do mar.
A LCG dentro de solução hipertônica perde água, desidrata e encolhe
(fig. 1.b). A água flui de um meio de tonicidade mais baixa para um meio
de tonicidade mais alta a fim de equalizar a concentração de sal.
Figura 1.b - LCG em solução hipertônica
perde água e encolhe
Hipotônicas
Provocam o efeito inverso das hipertônicas. A LCG, na presença
de solução hipotônica (água de torneira ou destilada), absorve água e
aumenta seu tamanho (fig. 1.c), podendo grudar na córnea. A córnea, na
mesma solução, sofre edema. LC e córnea readquirem o equilíbrio normal
na presença de uma película lacrimal isotônica.
Figura 1.c - LCG em solução hipotônica absorve
água, tornando-se maior
21.2.b Água
A
água utilizada em produtos farmacêuticos é purificada. A purificação é conseguida tanto pela destilação quanto pela sua passagem por coluna de troca de íons.
21.2.c Grau de Acidez ou Alcalinidade - pH
U
m estudo de Carney & Hill
(1975) demonstrou que o pH
da lágrima varia normalmente de 7,0 a
8,5. Essa variação ocorre de pessoa para
pessoa e, também, na mesma pessoa durante o dia. Conforme Brawner (1962),
esta é a razão pela qual uma solução
pode apresentar variação de pH de 6,0 a
8,5 e proporcionar conforto inicial maior
quando a média fisiológica for próxima
de 7,2.
Solução oftálmica com pH entre 6,6
e 7,4 (fig. 2) é considerada neutra. Alterações do pH podem afetar o conforto, o
efeito terapêutico, a estabilidade, a esterilidade e a viscosidade.
A solução fora do pH neutro provoca:
• desconforto;
• ardência;
• fisgada;
• lacrimejamento.
Escala do pH
Ácidos fortes
(HCL)
Ácido Clorídrico
6,6 7,4
(Sol. Neutra)
Figura 2 - Concentração de Íons de Hidrogênio (pH)
20
Bases fortes
(NaOH)
Hidróxido de Sódio
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
21.2.d Agentes Tamponantes
A
s soluções de manutenção contêm agentes tamponantes, substâncias ácidas ou
alcalinas, capazes de estabilizar o pH em torno de 7,0 - 7,4, dentro de limites que
não alteram o conforto ocular e a eficácia da solução.
Agentes tamponantes mais comuns em soluções para LC:
- Boratos
- Fosfatos
- Citratos
- Trometamina
21.2.e Agentes de Viscosidade
P
romovem a densidade relativa
de uma solução, cuja concentração depende da finalidade do produto.
Nas soluções para os cuidados de LC,
as limpadoras são mais viscosas que as lubrificantes; as lubrificantes mais viscosas
que as salinas. As lubrificantes e as umidificantes contêm ingredientes viscosos
para prolongar o contato da solução com
a LC, reduzindo o atrito e melhorando,
conseqüentemente, o conforto. Quanto
maior a viscosidade, maior o contato com
a superfície da LC e do olho.
Agentes de viscosidade mais comuns
em soluções para LC:
- Metilcelulose
- Hidroxietilcelulose
- Hidroxipropilmetilcelulose (HPMC)
- Álcool polivinílico
- Glicol-hexileno
- Carbamida
- Dextrana
21.2.f Agentes Limpadores Surfactantes
S
ão substâncias detergentes
tensoativas, eficazes para limpar
oleosidades, gorduras, mucosidades e cosméticos. Atuam com mais facilidade num
ambiente de pH alcalino = 7,4.
servativo. Algumas possuem, também,
microesferas poliméricas que promovem ação de limpeza abrasiva. Podem
ser utilizadas separadamente ou com
soluções multiuso.
Os surfactantes podem ser iônicos
e não-iônicos. Os iônicos classificam-se
em aniônicos (carga negativa); catiônicos (carga positiva) e anfotéricos
(carga positiva ou negativa ou ambas,
conforme o pH das soluções). Os mais
utilizados são os iônicos anfotéricos e
os não-iônicos, por apresentarem boa
estabilidade, boa compatibilidade e
baixa toxicidade. Muitas soluções
surfactantes contêm agentes de: viscosidade, quelante, tamponante e pre-
Agentes surfactantes mais comuns
em soluções para LC:
- Miranol
- Poloxâmero
- Sais de sódio
- Tiloxapol
- Tween 21
- Propilenoglicol
- Álcool polivinílico
21
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
21.2.g Agentes Antimicrobianos
A
presentam duas funções básicas:
– prevenir a proliferação microbiana,
quando são denominados
bacteriostáticos;
– destruir microorganismos, quando são
denominados bactericidas.
Para eliminar microorganismos
potencialmente prejudiciais às LC, utiliza-se agentes desinfetantes. Em muitos
casos, o desinfetante é simplesmente o
agente preservativo que pode ter ação
bactericida por estar numa concentração
mais elevada.
Os bacteriostáticos costumam ser
menos irritantes aos olhos do que os
bactericidas que, com mais freqüência,
causam sensibilidade e reações tóxicas.
As reações de hipersensibilidade
costumam aparecer meses ou anos após
o início do uso da solução química, com
sintomas de prurido, ardência ou queimação, fotofobia, hiperemia conjuntival,
ceratopatia puntada superficial, além de
outros quadros clínicos como infiltrados
corneais, ceratoconjuntivite de limbo
superior, ceratite numular, lesões dendriformes e vascularização de córnea. São
mais freqüentes com o uso de thimerosal,
mas podem ser causadas por qualquer
solução de manutenção. As reações
tóxicas ocorrem dentro de minutos, horas
ou dias do início do uso da solução, com
sintomas de queimação e fisgada, além
de sinais objetivos de perdas de células e
hiperemia conjuntival. As mais comuns
são causadas por cloreto de benzalcônio,
clorhexidina, neutralização incompleta
do peróxido de hidrogênio, enxágüe inadequado da solução limpadora, resíduo
de limpador enzimático e contaminação
da LC por cremes para as mãos,
perfumes e outros químicos.
Agentes antimicrobianos mais utilizados para soluções de manutenção de LC:
– Amônio quaternário e biguanidas
– Agentes oxidativos
22
– Sistemas produtores de cloro
e baseados em cloro
– Álcool
– Compostos mercuriais orgânicos
– Ácidos fracos
– EDTA (Ácido etilenodiamina tetraacético, edetato dissódico)
Amônio Quaternário e Biguanidas
Pertencem a esse grupo:
a) Cloreto de benzalcônio
b) Cloreto de alkyl-thriethanolammonium (ATEAC)
c) Gluconato de clorhexidina
d) Poliméricos
• TrisChem (polihexametileno
biguanida - PHMB)
• Dymed (poliaminopropil
biguanida)
• Polyquad (polyquartenium - I)
a) Cloreto de Benzalcônio (BAK)
Pode ser utilizado com soluções para
LC de polimetilmetacrilato (PMMA)
em concentrações até maiores do que
0,01% sem causar problemas. Entretanto,
esse preservativo pode afetar as LC de
silicone-acrilato e fluor-silicone-acrilato
que apresentam superfícies muito mais
reativas. Estes materiais, RGP, quando
em contato com o BAK, sofrem absorção
contínua desse químico, a cada exposição,
podendo alcançar concentrações tóxicas.
Estudo realizado por Burstein (1980),
mostrou que o cloreto de benzalcônio é
tóxico para os tecidos, humano e animal,
e provoca lesões celulares mesmo em
concentrações tão baixas quanto 0,001%.
Além disso, o BAK intensifica a hidrofobicidade da superfície da LC, facilitando
a formação de depósitos. Por isso, esse
preservativo deve ser utilizado com
cuidado nas LC RGP e evitado nas LCG.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
b) Cloreto de alkyl-thriethanolammonium (ATEAC)
Agente eficaz contra bactérias, apresenta baixa atividade para fungos. Costuma ser associado ao thimerosal e é usado como preservativo e como desinfetante.
c) Gluconato de clorhexidina
Agente bactericida usado tanto
como preservativo quanto como desinfetante, é eficaz contra bactérias, mas não
contra fungos. Costuma ser formulado
em combinação com o thimerosal que
atua sobre os fungos. A clorhexidina
pode ligar-se aos materiais da LC e aos
depósitos de proteínas, aumentando sua
concentração no olho e desencadeando
reações de sensibilidade.
Os produtos de decomposição da
clorhexidina podem modificar a cor das
LCG para amarelo ou verde-amarelado.
Para prevenir essa alteração, as soluções
não devem ser utilizadas se apresentarem
coloração esverdeada.
grande não permite que seja absorvido
pelo material da LC e não se adere a ele.
Usado em concentrações de 0,001% a
0,005%, atua como preservativo ou desinfetante. É utilizado no sistema Opti-free
e Opti-free Express (Alcon), onde é associado ao Aldox, agente anti-fúngico.
Agentes Oxidativos
O agente oxidativo utilizado para a
manutenção das LCG e RGP é o peróxido
de hidrogênio na concentração de 3%.
Possui excelente atividade antimicrobiana,
atuando contra bactérias e fungos, mas a
neutralização é um passo indispensável
antes de utilizar a LC.
Sistemas Produtores de Cloro
e Baseados em Cloro
– Halazone
d) Poliméricos
Esses sistemas, mais utilizados na
Europa, incluem o uso de tabletes como
halazone e hipoclorito. Nesse regime, o
paciente coloca o tablete dentro de uma
solução estéril para começar o processo
de desinfecção.
– TrisChem (Polihexametileno
biguanida - PHMB)
A atividade bactericida do cloro
depende do pH da solução, sendo maior
em pH ácido.
O TrisChem 0,0001% possui alto
peso molecular e apresenta amplo
espectro de ação e baixa toxicidade.
É o preservativo utilizado no Complete
Comfort Plus (Allergan).
– Dymed (poliaminopropil biguanida)
Preservativo de alto peso molecular, não penetra no polímero da LC e é
efetivo para sua desinfecção em concentração tão baixa quanto 0,00005%.
É formado por um polímero de unidades repetidas de biguanida, separadas
por uma cadeia de 6 carbonos. O dymed
contém carga positiva no grupo biguanida que atua, seletivamente, desintegrando os microorganismos que têm
cargas negativas em suas membranas.
É o preservativo utilizado no Renu e
Renu plus multiuso (Bausch & Lomb).
– Polyquad (polyquartenium I)
É um polímero catiônico, efetivo
contra bactérias, apresentando baixa atividade para fungos. Sua estrutura molecular
Álcool
– Clorobutanol
O clorobutanol possui amplo espectro
de ação mas, como age lentamente e requer baixo pH para permanecer estável,
raramente é utilizado como base preservativa em soluções para LC, a não ser para
as de PMMA. É utilizado em concentração
de 0,5%, bem próxima de sua solubilidade
na água, tornando difícil a fabricação.
– Benzil e isopropílico
Embora sejam mais estáveis em
soluções do que o clorobutanol, os álcoois benzil e isopropílico compartilham
todos os outros problemas. Eles interagem com as LCG e, quando liberados no
FL, produzem vários graus de toxicidade
e irritação. Pelo fato de se converterem,
espontaneamente, em aldeídos, podem
irritar o olho, amarelar e endurecer as
LCG. Entretanto, o álcool benzil serve
como preservativo e desinfetante em
soluções para LC rígidas.
23
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Soluções que contêm álcoois devem
ser evitadas em próteses oculares pelo
risco de desbotá-las.
– Ácido bórico
Quando saturado, o ácido bórico tem
a propriedade de ser isotônico. Não está
mais sendo usado como preservativo por
sua baixa atividade antimicrobiana.
Compostos Mercuriais Orgânicos
– Thimerosal
Agente mercurial com atividade
bactericida sobre um amplo espectro de
bactérias e fungos é utilizado em concentrações de 0,001% na função de preservativo e 0,005% como desinfetante. Relativamente não-tóxico, pode desenvolver
reações de sensibilidade quando adere
aos depósitos de proteínas da superfície
da LC. Sensibilidade ao thimerosal é
pouco vista com LC rígida, devido ao
maior fluxo lacrimal. Por outro lado, com
LCG, pela relativa estagnação do FL sob
a LC, o contato do thimerosal com o olho
torna-se mais prolongado facilitando as
reações de sensibilidade. Este é o motivo
pelo qual está sendo pouco utilizado nos
dias de hoje.
Processos de Manutenção
Ácidos fracos
– Ácido sórbico
Seu desempenho como preservativo é melhor com valores de pH baixo,
em torno de 6,6. Assim, soluções formuladas com ácido sórbico podem causar
pontada ou ardência em certos pacientes, devido à sua acidez. Sozinho, o ácido sórbico é suave em tecidos oculares
e, provavelmente, não causa reações
tóxicas e de sensibilidade.
Ácido etilenodiamina tetra-acético,
edetato dissódico (EDTA)
É um agente quelante que atua
ligando-se a íons metálicos, necessários
para o crescimento microbiano. Não
é bactericida, mas aumenta a atividade
de outros preservativos contra bactérias
gram-negativas, como por exemplo,
as Pseudomonas.
21.3
A
s LC devem ser limpas e desinfetadas sempre que forem reutilizadas.
Para tanto, utilizam-se processos que incluem soluções preparadas
para serem eficazes e compatíveis com o olho e com os materiais das LC.
21.3.a Soluções para Limpeza
L
impeza é o passo mais importante da manutenção. Estudos
como o de Shih & Sibley (1985) mostraram que a limpeza, além de remover os
resíduos, reduz o número de microorganismos. A contaminação de uma LC é
reduzida de um milhão de colônias para
três mil quando somente lavada e para
menos de trezentas colônias quando
lavada e completamente enxaguada, o
que significa a eliminação de 99,9% dos
contaminantes microbianos. Do ponto de
vista microbiológico, a LC limpa é bem
24
mais fácil de desinfetar do que a LC suja,
já que os contaminantes removidos não
podem inativar o preservativo. Assim,
quando a LC atinge a etapa de desinfecção, já houve uma redução significativa
da contaminação microbiana.
Limpadores Surfactantes
Os surfactantes são soluções para uso
diário (UD) que contêm substâncias detergentes, removedoras de muco, lipídios,
cosméticos e contaminantes do ambiente,
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
inclusive de microorganismos, mas não
são eficientes para a remoção
de proteínas.
Limpadores Enzimáticos
Contêm enzimas que desintegram
as proteínas (enzimas proteolíticas), removendo-as da superfície da LC. Sua
utilização é opcional e a freqüência de uso
depende das características individuais do
paciente e do tempo de troca. LC descartáveis e de troca programada freqüente não
requerem limpadores enzimáticos.
A enzima é uma substância que
acelera a velocidade das reações químicas e desintegra as proteínas. Algumas
são seqüenciais (utilizadas antes da
desinfecção) e outras simultâneas
(usadas durante a etapa de desinfecção).
- deve ser evitada nas pessoas alérgicas à
carne suína;
- apresentação: comprimidos para uso
semanal e forma líquida para UD.
Nomes comerciais:
- Polyzym (Alcon)
- Opti-Free limpador enzimático (Alcon)
- Opti-Free Supraclens (Alcon)
- forma líquida
Para a conservação de LCG, reco menda-se utilizar o Opti-Free Supraclens, diariamente, pingando-se uma
gota dentro do estojo que contém a LC
imersa em Opti-Free solução, Opti-Free
Express ou Opti-One, onde deve permanecer por 4 horas. Para as RGP, utilizase o Supraclens com a solução multiuso
UNIQUE - pH.
a) Sistema de enzima simples
contendo Papaína
c) Subtilisina A
Características da enzima:
Características da enzima:
- derivada do mamão papaia;
- derivada da fermentação
do Bacillus Licheniformis;
- inativada pela desinfecção térmica
e pelo peróxido de hidrogênio a 3%;
- utilizada semanalmente,
em comprimidos;
- pode aderir ao polímero da LCG
e causar reações de sensibilidade;
Nome comercial:
- Hydrocare comp. (Allergan)
b) Sistema de ação multienzimático
contendo Pancreatina
- desintegra larga variedade de proteínas
e não requer ativador;
- disponível para limpeza enzimática
simultânea ou seqüencial;
- pode ser utilizada com todos os sistemas
de limpeza e desinfecção;
- apresentação: comprimidos para uso
semanal e forma líquida para UD.
Nomes comerciais:
Características da enzima:
- Ultrazyme (Allergan)
- derivada do pâncreas do porco;
- FizziClean (Bausch & Lomb)
- atua na remoção de proteínas, lipídios
e mucina;
- Renu 1-step (Bausch & Lomb)
- forma líquida
21.3.b Soluções para Enxágüe
D
epois de limpas, as LC devem
Soluções Multiuso
ser enxaguadas para remover
Para o enxágüe, prefere-se recomendar soluções multiuso. As soluções
salinas, comercialmente disponíveis,
embora tenham um efeito de enxágüe
semelhante, podem apresentar variações
significativas nas formulações como, por
exemplo, no pH, provocando ardência ou
pontada nos olhos.
o resíduo do limpador, restos soltos e depósitos, além de microorganismos. O enxágüe
pode ser feito com soluções multiuso ou soluções salinas, preservadas e não preservadas
(dose única de 10 ou 15 ml), conforme o tipo
de LC e a necessidade do usuário.
25
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Soluções Salinas Preservadas
Soluções Salinas Não-Preservadas
Estão disponíveis em garrafas
plásticas. Embora o preservativo tenha a
função de limitar o crescimento microbial
na solução, a contaminação pode ocorrer.
Recomenda-se não tocar na extremidade
da garrafa e conservá-la fechada quando
não estiver sendo utilizada.
São acondicionadas em plásticos
com doses de 10 e 15 ml ou em latas de
aerosol com válvula de sentido único,
para prevenir a entrada de microorganismos. Devem ser descartadas conforme
orientação do fabricante.
21.3.c Soluções para a Desinfecção
O
termo desinfecção refere-se ao
processo pelo qual microorganismos vivos ou vegetativos são mortos
ou inativados. Isso envolve, normalmente,
a destruição da membrana da parede da
célula e/ou a inibição da síntese de proteínas no micróbio. Certos micróbios são
capazes de produzir esporos que não são
mortos pelo processo de desinfecção e,
teoricamente, são capazes de germinar
e produzir infecção ocular.
Diferentes microorganismos
incluindo bactérias, fungos e vírus são
encontrados no olho normal e ao redor
dele, bem como em suas secreções. O
olho sadio é capaz de resistir à infecção
mediante barreiras naturais, proporcionadas por um epitélio corneal intacto,
pela ação de piscar e pelas propriedades antimicrobianas naturais do FL.
Entretanto, em condições ambientais
propícias, as bactérias podem multiplicar-se rapidamente, reproduzindo-se
em dezenas de milhões durante a noite.
Vários autores, dentre eles Patrinely et
al.(1985), Mayo et al. (1987) e Donzis et
al. (1988), comprovaram a existência de
associação de ceratite infecciosa com a
contaminação dos sistemas de cuidados
das LC. Dentre os microorganismos, o
mais associado à ulcera infecciosa é a
Pseudomonas Aeruginosa. A Pseudomonas
adere facilmente ao polímero da LC e
esta aderência é estimulada pela presença de depósitos em sua superfície.
Dentre os protozoários, pelo
menos cinco espécies de Acanthamoeba
foram identificadas como causadoras de
úlcera de córnea, particularmente nos
usuários de LC. O uso de LC, geralmente
gelatinosa, está associado em 85% dos
casos. As fontes de contaminação conhecidas são a solução salina feita em casa,
a água de piscina pública e a desinfecção
irregular. Como é uma infecção dolorosa
e de difícil tratamento clínico, o usuário
deve ser bem orientado sobre as maneiras
de prevenção.
O ideal seria submeter a LC à esterilização (temperatura de 121°C por 15
minutos, sob uma pressão de 15 psilibras
por polegada quadrada - em autoclave),
processo pelo qual todos os microorganismos e seus esporos são mortos ou inativados. Entretanto, esse é um processo
pouco prático; além disso, ciclos repetidos danificam o polímero da LC.
A desinfecção pode ser conseguida
pelos processos térmico e químico.
21.3.c.1 Desinfecção Térmica
F
oi o primeiro método de desinfecção de LCG. Apesar de sua
grande eficácia, caiu em desuso após o
desenvolvimento de soluções químicas
pouco sensibilizantes.
A limpeza rigorosa da LC é indispensável antes da desinfecção térmica.
26
O aquecimento deve ser de 80oC por
10 minutos, no mínimo. As unidades de
desinfecção por calor requerem tempo de
ciclo total de 45 minutos, incluindo aquecimento, desinfecção e resfriamento.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Vantagens
Desvantagens
• É o método mais eficiente para eliminar
qualquer tipo de microorganismo, inclusive Acanthamoeba.
• Contra-indicada para LCG de alta
hidratação, LC cosmética e RGP.
• É simples e de baixo custo.
• Não provoca nenhuma reação
de sensibilidade.
• É um processo rápido.
• Neutraliza o limpador enzimático
residual.
• Necessita de limpeza rigorosa antes da
fervura, pois o calor desnatura as proteínas, fixando-as na superfície da LC.
• Encurta a vida útil da LC.
• Nem sempre se alcança no interior do
estojo, com os asseptizadores, a temperatura preconizada para a desinfecção
(80oC durante 10 minutos).
• Não protege a LC estocada contra
contaminação.
• É confundida, pelo usuário, com um
método de limpeza.
21.3.c.2 Desinfecção Química Não-Oxidativa
É
conseguida pela imersão da
LC durante 4 a 6 horas em
soluções que contêm agentes antimicrobianos (Clorhexidina, Thimerosal, Dymed,
Polyquad, Polihexamida, TrisChen etc).
Essas soluções desinfetantes são deno minadas específicas quando apresentam
as atividades de desinfecção e conservação; de multiuso quando associam essas
funções com as de limpeza, enxágüe e
umidificação.
Vantagens
• Atividade antimicrobiana de amplo
espectro.
• Utilização com qualquer material de LC.
• Conveniente e prática para o usuário.
Desvantagens
• Necessita de 4 horas ou mais para
sua realização.
• Apresenta atividade antimicrobiana
reduzida para alguns microorganismos,
especialmente fungos.
• Pode causar reações de hipersensibilidade aos preservativos.
– Soluções Específicas
Disponíveis no mercado brasileiro
estão o Flex-care (Alcon) que contém
Gluconato de Clorhexidina a 0,005%,
Thimerosal a 0,001% e EDTA; e Hydrocare
Solução (Allergan) que contém Cloreto de
Alkiltrietanol Amônio, Thimerosal e EDTA.
– Soluções Multiuso
As soluções multiuso, indicadas para
limpar, enxaguar e desinfetar as LC, precisam unir todas as funções numa só solução. O equilíbrio entre as propriedades
(tonicidade, pH, viscosidade, agentes
limpadores, agentes antimicrobianos e
agentes tamponantes), para que uma não
interfira na outra, pode diminuir a potência de cada uma das funções, tornando
necessário, para alguns pacientes, o uso
complementar de soluções específicas.
As soluções multiuso para limpeza, enxágüe, desinfecção e remoção de
depósitos de proteínas são as preferidas
pelos usuários por exigir menos tempo e
esforço. Entretanto, para aqueles que têm
excessiva formação de depósitos ou oleosidade no FL, deve-se recomendar soluções
específicas para limpeza.
As soluções multiuso não requerem
o uso separado de limpador e desinfetante. A maior parte da limpeza é
alcançada pelo limpador surfactante
associado à fricção mecânica, de 10 a 20
segundos (seg), em cada lado da LC.
O surfactante adere-se aos lipídios e
debris na superfície da LC e é, eliminado pelo enxágüe.
27
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
As soluções multiuso não contêm
enzimas e removem as proteínas quimicamente. Os depósitos de proteínas possuem
cargas positivas e negativas. O cálcio, que
possui duas cargas positivas, age como
uma ponte entre as proteínas e a superfície da LC. As soluções multiuso tentam
evitar essa ponte que é a base de formação
dos depósitos.
Soluções Multiuso para LCG
Estão disponíveis no Brasil: Complete
Comfort Plus (Allergan/Farmasa), Optifree
Express (Alcon), ReNu Plus (Bausch &
Lomb) e SOLOcare (Ciba Vision).
Essas soluções possuem limpador
surfactante semelhante (poloxamina ou
poloxâmero).
Complete Comfort Plus usa o limpador
surfactante poloxâmero 237 para remover
proteínas e debris, enquanto se fricciona
as LC. Mais proteínas são removidas pela
ação dos eletrólitos incorporados na
solução, cuja alta força iônica atrai moléculas de proteínas de carga oposta, enquanto a LC está imersa. Contém, também, o
lubrificante HPMC que reveste a superfície da LC durante o período de imersão,
tornando mais confortável o seu uso.
Opti-Free Express, além do surfactante
poloxamina, contém o citrato de sódio
que interage com moléculas orgânicas
catiônicas, deslocando as lisozimas
ligadas a polímeros. Outra capacidade
do citrato de sódio está relacionada
à sua ação de quelação do cálcio e de
outros metais. O que o diferencia das
formulações anteriores é a adição de
aldox, anti-microbiano anti-fungicida.
O OptiFree Express foi liberado pelo
FDA para ser uma solução multiuso que
dispensa a fricção digital em LCG, por
um período de até 30 dias.
ReNu Plus usa o surfactante poloxamina e contém hydranate, molécula multifuncional com quatro cargas negativas,
que forma um complexo com o cálcio
quebrando as pontes do depósito. Além
disso, promove a dispersão, aderindo-se às
proteínas de carga positiva, repelindo-as
da superfície da LC.
28
Capítulo 21
SOLOcare posssui o surfactante poloxâmero 407 (copolímero de polioxietileno
polipropileno) como agente limpador
para remover proteínas e debris da LC.
As quatro soluções utilizam preservativos do mesmo grupo amônio quaternarium e biguanidas: polihexametileno
biguanida (TrisChem) para o Complete;
polyquad para o OptiFree Express que
contém, também, o anti-fungicida aldox;
dymed para o ReNu e polihexamida para
o SOLOcare.
Todas as soluções multiuso contêm
EDTA que, como dito anteriormente, não
é bactericida mas aumenta a atividade
dos preservativos.
Para haver a desinfecção apropriada,
as LC devem ser estocadas em solução por
pelo menos 4 horas.
Soluções Multiuso para LC RGP
Estão disponíveis no Brasil:
Boston Simplicity (Bausch&Lomb)
e Unique pH (Alcon).
Elas contêm surfactantes para limpeza, polímeros para lubrificar, preservativos para conservar a solução e desinfetar as LC.
A limpeza da LC é feita por meio de
fricção e enxágüe, por isso a solução deve ter
baixa viscosidade. Soluções mais viscosas
requerem enxágüe mais intenso.
A solução multiuso Boston Simplicity
(B&L) usa os surfactantes monolaurato
de sorbiteno e betaína. Para conseguir a
viscosidade ideal e promover conforto,
contém uma combinação de polímeros e o
agente neutraclens.
O neutraclens circunda os surfactantes,
neutralizando seu potencial irritativo,
enquanto remove os depósitos. Ele também envolve a LC, criando uma superfície
umidificada que previne a formação de
depósitos. A formulação do Boston Simplicity utiliza como preservativos poliaminopropil biguanida (PHMB), gluconato de
clorhexidina e EDTA.
A solução multiuso Unique pH
(Alcon) para LC de PMMA e RGP contém: surfactante tetronic 1304 que facilita
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
a remoção dos depósitos por meio de
fricção; ácido bórico que tem a função
tampão e atua como agente de ligação
cruzada; agente de tonicidade propileno
glicol; hidróxido de sódio e ácido clorídrico utilizados para ajustar o pH em
7,0; polyquad (poliquaternium-1) como
desinfetante e preservativo; agente
quelante EDTA; e o agente de viscosidade hidroxipropilguar (HP-Guar),
polissacarídeo extraído da planta Guar.
O HP-Guar é um polímero neutro no
frasco, compatível com os ingredientes
ativos e com os conservantes. Envolve
a LC quando ela está imersa. Ao ser
colocada no olho, em contato com a
lágrima, a viscosidade do revestimento
aumenta e se transforma numa substância semelhante à mucina. Na presença
do borato, o HP-Guar realiza ligação
cruzada com a lágrima, à medida que o
pH e a força iônica aumentam. O produto é um líquido de baixa viscosidade,
condição desejável para a manipulação
extra-ocular (limpeza e enxágüe) das
LC. A solução Unique pH não deve ser
removida da LC para conservar seu benefício de umidificação e conforto, proporcionada pelo agente de viscosidade
HP-Guar. Deve-se utilizar a própria
solução quando for necessário enxaguar a LC antes do uso. O Unique pH é
compatível com o limpador enzimático
Opti-Free SupraClens.
Vantagens das Soluções Multiuso
- Atividade antimicrobiana
de amplo espectro.
- Utilização com qualquer material
de LC.
- Simplicidade de uso.
- Redução do tempo gasto para
o treinamento do usuário.
- Facilidade de transporte.
- Boa relação custo X benefício.
Desvantagens das Soluções Multiuso
- Possibilidade de reações
de hipersensibilidade.
- Necessidade de 4 horas
para a desinfecção.
- Atividade antimicrobiana limitada para
alguns microorganismos.
- Não apresenta a mesma eficácia
das soluções específicas.
21.3.c.3 Desinfecção Química Oxidativa - Peróxido
de Hidrogênio a 3% (H2O2)
O
H2O2 a 3% é um desinfetante
com excelente atividade antimicrobiana contra ampla classe de microorganismos. Uma reação oxidativa
(fig. 3) transforma a molécula de peróxido de hidrogênio em água e oxigênio.
Estabilizadores como estanato de sódio,
nitrato e ácido fosfônico devem ser adicionados para manter essa reação ocorrendo no recipiente.
O H2O2, na forma genérica, pode
ser encontrado comercialmente a custo
menos elevado que as formulações espe-
H2O2
peróxido
de hidrogênio
Figura 3 - Reação Oxidativa
HOOH
radical
livre
H2O
água
+
O2
oxigênio
cialmente preparadas para LC. Contudo,
tais formas nunca devem ser utilizadas
com as LC porque apresentam variações
na concentração e contêm metais pesados,
resíduos não-voláteis e colorantes.
O H2O2 a 3% tem pH de 4,0 (ácido),
tonicidade igual a zero (hipotônica)
e alta osmolaridade (-900 miliOsmois
- mOsm). É necessário fazer a neutralização para baixar a concentração de
H2O2 para menos de 50 - 60 partes por
milhão (ppm), ajustar o pH mais próximo do neutro (7,0 - 7,4) e aproximar a
tonicidade da isotônica (igual a 0,9% de
NaCl). Para obter-se neutralização, os
métodos mais utilizados são a catalase,
agente neutralizante do sistema Oxisept
(Allergan/Farmasa) e o disco de platina que compõe o sistema AoSept (Ciba
29
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Vision). O tempo necessário para a neutralização com a catalase ou o disco de
platina é de 6 horas. A eficácia do disco
depende da idade e do estado de conservação. Discos velhos, cobertos com resíduos, fazem neutralização incompleta,
levando o peróxido residual a níveis
tóxicos; por isso, devem ser substituídos
periodicamente.
A exposição excessiva ao H2O2
padrão causa certo aumento da curva
base (CB) da LCG, devido a fatores
como pH e tonicidade. Essas mudanças
podem durar de 30 a 60 minutos, mesmo
depois da neutralização do peróxido.
Polímeros iônicos de alta hidratação,
especialmente aqueles que contêm
ácido metacrílico, são mais afetados
do que os polímeros neutros e de baixa
hidratação. Esse problema não acontece
quando se utiliza o disco catalítico para
a neutralização.
As soluções oxidativas disponíveis
no Brasil são o sistema Oxisept Comfort
PlusTM (Allergan) e o AoSept (Ciba
Vision). Para a neutralização do H2O2
a 3%, no sistema Oxisept Comfort PlusTM,
é adicionado um comprimido que tem
na sua cobertura o polímero HPMC.
O núcleo do comprimido contém a
catalase e o indicador de neutralização,
a vitamina B12. Quando o comprimido
é adicionado ao H2O2 a 3%, o polímero
HPMC absorve água e retém umidade
por mais tempo na LC. Após 20 minutos, durante os quais a LC fica em contato direto com o H2O2 a 3%, inicia-se a
dissolução do comprimido e a catalase é
liberada, gradualmente.
Capítulo 21
À medida que a neutralização
acontece, a solução apresenta coloração
rosa proporcionada pela vitamina B12.
Portanto, se a solução não apresentar cor
rosada, o comprimido neutralizador foi
esquecido. Após 6 horas de desinfecção
e neutralização todo o lubrificante da
cobertura da drágea foi liberado e a viscosidade da solução torna-se semelhante à
da lágrima humana.
Vantagens do Peróxido
de Hidrogênio a 3%
- Penetra no molde da LC por possuir
moléculas menores do que os poros
do hidrogel.
- Promove ação limpadora da superfície
por quebrar cadeias de proteínas (oxida
as cadeias peptídicas) e lipídios, auxiliando na remoção de depósitos.
- Possui alta capacidade de desinfecção.
Em 10 minutos destrói as bactérias
comuns e vírus; leva 40 minutos para
erradicar fungos e 2 horas para eliminar
Acanthamoeba.
- Pode ser utilizado com todos os materiais de LC, rígidos e gelatinosos.
Desvantagens do Peróxido
de Hidrogênio a 3%
- Causa toxicidade ocular, se houver falha
na neutralização. Exposição ao H2O2 a
3%, não neutralizado, provoca irritação
aguda com intensa hiperemia, ceratite,
lacrimejamento abundante, quemose,
ardência e pontada.
- Cessa seu efeito desinfetante após
a neutralização.
21.3.d Soluções Lubrificantes
S
ervem para umidificar e equilibrar o conteúdo de água das
LC, tornando-as mais confortáveis
durante a colocação inicial e o uso subseqüente. Nivelam a distribuição das
lágrimas sobre a LC, melhorando o
30
desempenho óptico e proporcionando visão mais nítida. Podem conter baixa concentração de surfactante não-iônico que
auxilia na limpeza da superfície; agente
de viscosidade para reduzir a fricção;
agente tamponante e agente preservativo.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
As formulações destinadas ao uso com
LCG podem ser utilizadas com LC rígidas. O inverso não se aplica.
São indicadas, especialmente, para
pacientes que têm deficiência de FL e
do pestanejar, pessoas que dormem com
as LC, trabalham em ambientes secos
e para usuários de computador. Qual-
Passos para Manutenção das LC
quer usuário de LC é beneficiado com a
utilização de gotas lubrificantes alguns
minutos antes de sua remoção.
Lubrificação não é um passo exigido nos procedimentos de cuidados com
as LC, mas pode ser a principal contribuição para o sucesso do seu uso.
21.4
Limpeza do estojo
Limpeza da LC
Deve ser feita, pelo menos, uma vez
por semana, com água quente, sem sabão
e com utensílio tipo escova de dentes.
Deixar o estojo secar no ar e, depois de
seco, guardá-lo fechado. Recomenda-se
utilizar estojo descartável ou trocá-lo,
pelo menos, a cada 6 meses. Nutrientes
para o desenvolvimento de microrganismos podem se acumular nos estojos,
provenientes dos dedos do usuário ou da
própria LC suja. Tem-se demonstrado
que, nos casos de infecção ocular, o mesmo agente infectante é, freqüentemente,
encontrado no estojo da LC e/ou sob a
unha do usuário. Estojo contaminado leva
à contaminação da LC e do olho.
Utiliza-se soluções limpadoras que
contêm substâncias detergentes indicadas
para remover oleosidades, mucosidades
e cosméticos. Essas soluções não são efetivas para a remoção de proteínas.
Higiene das mãos, olhos e anexos
Antes de tocar na LC, recomenda-se
lavar as mãos com sabonete neutro para
remover restos de nicotina, oleosidade ou
corpos estranhos que possam danificálas. Devem ser evitados sabonetes com
creme antisséptico, desodorante químico
ou fragrância pesada porque pequenas
porções dessas substâncias podem ser
transferidas para o olho. Recomenda-se
ainda secar as mãos em toalhas que não
soltem fiapos e manter as unhas sempre
aparadas e limpas.
É preciso também não esquecer de
remover as LC antes de utilizar cremes de
limpeza para a higiene das bordas palpebrais e cílios.
A tentativa de removê-las, por meio
do excesso de fricção, pode provocar ranhuras na LCG ou deformar a RGP. Por
isso, a LC, para troca anual, deve ser submetida ao limpador enzimático que age
especificamente na remoção de proteínas.
Enxágüe
Indica-se para remover os depósitos
soltos e a solução limpadora da superfície da LC. Com a LC na palma da mão,
dirige-se um jato constante de solução,
multiuso ou salina, fazendo-se leve fricção
de trás para frente. Recomenda-se um
segundo enxágüe, sem fricção.
Algumas soluções permitem que a
LC seja colocada no olho sem enxágüe.
Desinfecção
Após a limpeza e o enxágüe, a LC
deve ser submetida à desinfecção para
eliminar os microrganismos patogênicos.
Neutralização
É necessária para os desinfetantes
fortes que podem irritar os olhos.
Lubrificação ou umedecimento
Antes da inserção e/ou durante
o uso, a instilação de gotas lubrificantes
torna as LC mais confortáveis.
31
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
21.5
Deve-se levar em conta:
• Material da LC
- LC de baixo conteúdo de água permite todas as formas de desinfecção.
- LC de alto conteúdo de água permite todas as formas de desinfecção,
com exceção da térmica.
• Tipo da LC
- LCG, não trocada freqüentemente,
necessita de soluções específicas,
como surfactante diário e limpeza
enzimática semanal, principalmente se o paciente tiver problemas de FL ou tendência a depósitos. Olhos normais, com bom FL,
permitem a conservação das LCG
de troca anual apenas com a utilização de soluções multiuso.
- Para LCG de troca programada
(a cada 1-3 meses) indica-se soluções
multiuso e o auxílio de soluções
específicas de limpeza quando os
olhos produzem muita mucoproteína e/ou lipídios.
Fatores a Serem Considerados para
a Primeira Indicação do Método
de Limpeza e Desinfecção das LC
preservativos e são mais susceptíveis à
formação de depósitos. Portadores de
olhos secos e/ou blefarites costumam
apresentar alto nível de lipídios no FL
por isso devem utilizar limpador enzimático que contém lipase.
• Uso de medicação sistêmica ou ocular
- Os seguintes medicamentos alteram
o FL e provocam ressecamento ocular: anti-histamínicos, antidepressivos, antiarrítmicos, antiparkinsonianos, anti-hipertensivos, anticoncepcionais, drogas anticolinérgicas,
isotretinoina, agentes betabloqueadores, sedativos e outros.
- Aspirina - De acordo com Valenic
et al. (1980) e Miller (1981), ingerida
por via oral é excretada na lágrima
e pode ser absorvida pela LCG, causando lesão epitelial.
• Ambiente de trabalho
Ambientes poluídos sugerem a necessidade de soluções específicas para
manter a LC mais limpa.
- Para LCG descartável, quando usada como troca programada freqüente (removida para dormir e descartada em duas semanas), indica-se
soluções multiuso.
• História de alergia
• Deficiência do FL/presença de blefarite
• Praticidade e custo
Pacientes com deficiência do FL
estão mais propensos a ter reações com
32
Em pacientes portadores de alergias, o
peróxido de hidrogênio ou a desinfecção
térmica pode ser a melhor solução.
O melhor procedimento é aquele com
maior probabilidade de ser cumprido.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Instruções de Conservação
e Manuseio de LC RGP
21.6
A
s RGP podem apresentar os mesmos tipos de depósitos das LCG, embora em
menor quantidade. A formação de depósitos é facilitada por alterações de
umectabilidade da superfície, por áreas hidrofóbicas ou por um tempo de rompimento do FL abaixo de 10 seg. Os microorganismos aderem facilmente a uma LC
com depósitos, mas dificilmente a uma LC limpa.
21.6.a Como Limpar LC RGP
1º - Lavar as mãos, evitando sabonetes
com perfumes ou cremes.
2º - Iniciar o manuseio sempre pela
mesma LC, direita ou esquerda,
para evitar a inversão.
3º - Pingar três gotas de solução limpadora em cada superfície da LC
molhando-a completamente.
4º - Friccionar suavemente cada lado da
LC na palma da mão, com o indicador,
de frente para trás durante 20 seg,
mantendo a parte côncava para cima.
5º - Enxaguar completamente com
solução multiuso ou salina
(evitar água de torneira).
6º- Desinfetar com soluções específicas
ou multiuso. Colocar a LC dentro da
solução conservadora e desinfetante
por 4 horas ou durante toda a noite
(usar sempre soluções novas e verificar se a LC ficou completamente
submersa).
7º - Enxagüar com solução multiuso ou
salina preservada, antes de usá-la.
8º - Pingar gotas de solução umidificante
na LC, antes de colocá-la no olho,
para aumentar o conforto.
9º - Esvaziar o estojo, enxagüá-lo
e deixá-lo aberto para secar.
Recomenda-se
– Limpar a LC sempre que for removida
do olho e não no dia seguinte.
– Fazer fricção suave durante a limpeza.
Pressão não é o fator importante; tempo é o elemento chave nessa operação.
Uma forte pressão em LC RGP de alto
Dk pode provocar danos no material
e modificar os parâmetros. Recomendação especial, nesse sentido, deve ser
dada às pessoas que usavam LC de
PMMA e passaram para a RGP.
– Não friccionar a RGP entre os dedos
porque pode quebrar ou entortar.
– Não submeter a LC RGP
à desinfecção térmica.
– Remover a RGP pelo menos uma vez
por semana para limpeza e desinfecção,
quando for usada de forma contínua.
– Fazer a remoção de proteínas, utilizando
solução enzimática diariamente ou pastilhas uma vez por semana. As soluções
multiuso podem tornar dispensável o
uso de agentes enzimáticos.
– Não utilizar, em RGP, soluções indicadas para LC de PMMA. Contudo, podese recomendar as mesmas soluções de
LCG em RGP.
– Respeitar prazo de validade das soluções.
– Armazenar LC rígidas sobressalentes,
limpas e secas, em estojo limpo e seco.
Antes de utilizá-las, devem ser limpas
e deixadas em solução condicionadora/
desinfetante por, pelo menos, 4 horas,
para aumentar o conforto.
33
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
21.6.b Colocação de LC Rígida
1º Passo
Utilizar um espelho e um aparador.
Se a pia do banheiro for utilizada, fechar
o ralo ou colocar uma toalha de papel
limpa sobre o buraco antes de manusear
as LC, para evitar sua perda.
para levantar a pálpebra superior. O dedo
médio da mão dominante deve ser colocado diretamente sobre a pálpebra inferior, puxando-a para baixo (fig. 4).
2º Passo
Lavar as mãos para remover sujeira e
microorganismos que podem se acumular
nas LC e causar irritação ou infecção.
Secar com toalha sem fiapos de tecido.
3º Passo
Enxaguar com solução multiuso ou
soro fisiológico estéril para remover das
LC possíveis traços de sujeira, fiapos
de tecido ou outras partículas. Corpos
estranhos podem ficar presos sob a LC e
causar desconforto ocular.
Figura 4 - Colocação da LC rígida.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
5º Passo
4º Passo
Fixar o olhar no espelho e trazer
a LC delicadamente ao olho. Evitar
que a LC toque a pálpebra superior
ou a inferior.
Colocar a LC sobre o dedo indicador
da mão dominante. Com o dedo médio
da outra mão prender os cílios superiores
Após a colocação da LC, liberar
primeiro a pálpebra inferior e depois
a superior.
21.6.c Remoção da LC Rígida
Método 1
- Abrir uma toalha e colocar sobre o aparador para evitar a perda da LC.
- Utilizar o dedo indicador da mão
direita para remover a LC do olho
direito e da mão esquerda para a
remoção da LC do olho esquerdo. O
dedo é colocado na junção da borda
lateral da pálpebra (fig. 5).
Abrir bem os olhos, puxar as pálpebras para o lado; ao mesmo tempo piscar,
olhando fixo para a frente para que a LC
possa ser ejetada. Esse procedimento pode
ser realizado tanto com o dedo indicador
quanto com o polegar da mesma mão. A
outra mão pode ser posicionada abaixo do
olho para aparar a LC.
34
Figura 5 - Remoção da LC rígida.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Método 2
- Utilizar as duas mãos para a remoção.
O fator mais importante é prender a
LC entre as bordas palpebrais para que
elas empurrem a LC para fora, ao piscar
(fig. 6a).
- Segurar a pálpebra inferior com a mão
dominante e a pálpebra superior com a
contra-lateral.
Figura 6a - Remoção da LC rígida.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
- Fazer pressão com as 2 pálpebras em
direção ao centro do olho, sobre as
bordas da LC (fig. 6b).
A borda palpebral pode everter, dificultando a remoção da LC, se a pálpebra
for pressionada de forma incorreta (fig. 7).
Pacientes com tensão palpebral fraca,
problemas de posicionamento de bordas
palpebrais e LC de diâmetro grande podem
ter mais sucesso com os métodos 2 e 3.
Figura 6b - Remoção da LC rígida.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
Método 3
- Segurar a ventosa com o polegar e o
dedo indicador da mão dominante.
- Prender a pálpebra superior com o
indicador da outra mão.
- Manter o olhar para frente, reto ao
espelho.
- Encostar a ventosa na superfície da LC.
A ventosa grudará na LC, facilitando
sua retirada (fig. 8a e fig. 8b).
Figura 7 - Forma incorreta de pressionar
pálpebra inferior.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
Figura 8a - Colocação correta da ventosa.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
Figura 8b - Remoção da LC rígida com a ventosa.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
35
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
21.7
Instruções para Manuseio, Colocação
e Remoção de LC Gelatinosa
21.7.a Como Limpar LCG
a) Lavar as mãos com sabonete neutro e
secar com toalha que não solte fiapos.
b) Limpar o estojo.
c) Iniciar o manuseio sempre pela mesma LC, direita ou esquerda, para
evitar a inversão.
d) Remover a LC do olho e colocá-la
na palma da mão.
e) Pingar três gotas de solução limpadora em cada superfície da LC, molhando-a completamente.
f) Friccionar cada lado da LC suavemente com o indicador, de frente
para trás, por 21 seg. O OptiFree Express foi liberado pelo FDA para ser
uma solução multiuso que dispensa a
fricção digital em LCG, por um período de até 30 dias.
g) Enxaguar com solução multiuso ou
salina, por 10 a 20 seg.
h) Colocar a LC em estojo limpo e, antes de fechá-lo, averiguar se a mesma
não se encontra sobre a borda.
i) Desinfetar a LC.
j) Averiguar se a LC não está evertida,
antes de colocá-la.
Recomenda-se
– Limpar e desinfetar a LC sempre que
for removida do olho. Isso vale para
todos os tipos de LC, inclusive para as
descartáveis.
– Evitar fricção sobre LC seca porque
esta, ao ser removida do olho, pode
trazer consigo partículas que arranhem
sua superfície durante o procedimento
de limpeza.
– Enxaguar abundantemente, após o uso
da solução limpadora, ou multiuso,
para auxiliar na remoção de depósitos
e de microorganismos, evitando
irritação ocular.
– Respeitar prazo de validade das soluções.
– Utilizar, para limpeza, dispositivo
ultra-sônico ou de agitação mecânica,
quando existe dificuldade de manuseio.
21.7.b Colocação da LCG
1º Passo
Seguir os passos 1, 2 e 3 descritos
para LC Rígida, item 21.6.b.
2º Passo
Examinar a LCG para ter certeza de
que está limpa e umidificada, sem cortes
ou partículas. Para tanto, colocá-la na
ponta do dedo indicador e segurá-la no
alto contra uma luz brilhante. Se a LC
parecer danificada ou seca, não deve ser
colocada no olho (fig. 9).
36
Figura 9 - Verificação da integridade da LCG.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
3º Passo
Conferir se a LC está do lado correto.
Quando colocada no olho do lado avesso,
torna-se desconfortável e pode não
fornecer boa visão.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Métodos para verificar se a LC está do lado correto:
1) Prender a LC entre o indicador e o polegar e apertar as bordas suavemente.
– Se as bordas se unirem, a LC está do lado certo (fig. 10a).
– Se as bordas se abrirem, a LC está do lado errado (fig. 10b).
Figura 10a - Certo.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
Figura 10b - Errado.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
2) Posicionar a LC na ponta do dedo indicador, contra a luz e olhar a gravação na sua borda.
– Se estiver do lado correto, a gravação pode ser lida corretamente (fig. 11a).
– Se a LC estiver do avesso, a gravação também estará (fig. 11b).
Figura 11a - Certo.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
123
123
Figura 11b - Errado.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
3) Posicionar a LC na ponta do dedo indicador e verificar sua forma.
– Se a borda tiver forma de arco, está do lado certo (fig. 12a).
– Se a borda estiver virada para fora, está do lado errado (fig. 12b).
Figura 12a - Certo.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
Figura 12b - Errado.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
4) Colocar a LC na palma da mão, fechando-a suavemente e verificar sua forma.
– Se as bordas se aproximarem, está do lado correto (fig. 13a).
– Se as bordas virarem para a palma da mão, está do lado avesso (fig. 13b).
Figura 13a - Certo.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
Figura 13b - Errado.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
37
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
4º Passo
Colocar a LC no olho:
1 - Começar o manuseio sempre pela
mesma LC (direita ou esquerda).
Isso evita a confusão entre elas.
9- Repetir todos os passos acima para a
colocação da LC esquerda (fig. 14b).
2 - Posicionar a LC na ponta do dedo indicador direito, por exemplo. Certificarse de que ele esteja seco, para facilitar
a transferência da LC para o olho.
3 - Colocar o dedo médio da mesma mão
próximo ao cílio inferior, puxando a
pálpebra inferior para baixo (fig. 14a).
4 - Usar os dedos da outra mão para
levantar a pálpebra superior.
Figura 14a - Colocação da LCG no olho direito.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
5 - Colocar a LC diretamente no olho, deslizando-a para fora do dedo indicador.
6 - Olhar para baixo e vagarosamente
remover a mão direita, liberando a
pálpebra inferior.
7 - Olhar para frente e remover a mão esquerda, liberando a pálpebra superior.
8 - Piscar suavemente para favorecer a
centralização da LC.
Figura 14b - Colocação da LCG no olho esquerdo.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
5º Passo
Testar a visão, alternadamente para
certificar-se que as LC estão no lugar.
Se perceber a visão borrada ou a LC
desconfortável, verificar se a LC está:
– descentralizada;
– suja (cosméticos, óleos ou partículas);
– no olho errado;
– do lado avesso;
– rasgada ou danificada (neste caso,
não colocar de volta no olho).
Eliminadas as situações acima,
enxaguar bem a LC e recolocá-la. Se a
visão ainda estiver borrada e/ou continuar
o desconforto, testar nova LC ou suspender o uso e procurar o oftalmologista.
21.7.c Remoção da LCG
1º Passo
Lavar, enxaguar e secar as mãos.
mais soltas e deslizam suavemente para
fora do olho. Isso evita irritação ocular
e rompimento da LC durante o processo
de remoção.
2º Passo
Utilizar gotas umidificantes, 5-10
minutos antes da sua remoção, principalmente se estiver sentido ressecamento nos olhos ou nas LC. LC úmidas ficam
38
3º Passo
Iniciar a remoção pela primeira LC
colocada. Os présbitas, pela LC focalizada
para longe.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
4º Passo
Certificar-se de que a LC está no olho.
5º Passo
Olhar para cima, sem levantar a cabeça.
Puxar a pálpebra inferior para baixo com o dedo
médio. Colocar a ponta do dedo indicador na
borda inferior da LC e deslizá-la sobre a parte
branca dos olhos.
Figura 15 - Remoção da LCG.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
6º Passo
Prender a LC, gentilmente, entre o indicador e o polegar e removê-la (fig. 15).
21.7.d Cuidados com LCG de acordo
com a Forma de Uso e Tempo de Troca
LCG de UD / Troca Anual
– Limpeza diária ou a cada dois dias com solução surfactante (ex.: opti-clean).
– Limpeza enzimática diária (solução) ou semanal (comprimidos).
– Desinfecção diária com soluções químicas não-oxidativas (soluções multiuso) ou peróxido
de hidrogênio a 3%.
– Pessoas que têm bom FL podem utilizar apenas soluções multiuso.
LC Cosmética / Troca Anual
– Limpeza diária ou a cada dois dias com solução surfactante.
– Limpeza enzimática diária (solução) ou semanal (comprimidos).
– Desinfecção diária com soluções químicas multiuso.
Observação: evitar soluções abrasivas e não fazer desinfecção térmica.
LC usada de Forma Contínua
- Remoção da LC, pelo menos uma vez por semana e, com maior freqüência, à medida que
for ficando mais velha.
- Uso de solução surfactante e limpador enzimático.
- Desinfecção com soluções multiuso ou peróxido de hidrogênio a 3%.
39
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
LC usada de Forma Ocasional
LC de Desenho Híbrido
(tipo Soft-PermTM - Ciba Vision)
- Limpeza com solução surfactante
ou multiuso.
- Instilar lubrificante sobre a LC, antes
de removê-la do olho.
- Desinfecção com soluções multiuso.
- Troca da solução química de conservação uma vez por semana ou cada vez
que usar a LC.
- Limpar com solução surfactante,
friccionando por 20 segundos.
- Evitar everter a LC.
- Desinfetar com peróxido de hidrogênio
a 3% ou soluções químicas
(evitar clorhexidina).
- Não estocar em solução salina.
LC Descartável / Troca Programada
- Limpeza e desinfecção com soluções
multiuso ou peróxido de hidrogênio a
3%, sempre que a LC for removida do
olho com intenção de ser reutilizada.
- Limpeza enzimática somente para os
usuários com facilidade na formação
de depósitos.
- Não submetê-la à desinfecção térmica.
- Limpeza enzimática pode ser dispensada em LC de troca programada
(descartada em até 3 meses), a não ser
em portadores de conjuntivite papilar
gigante (CPG).
Centralizando a LC RGP
21.8
A
LC RGP pode se deslocar para a conjuntiva durante a colocação ou pelo uso.
Para centralizá-la, seguir um dos métodos abaixo:
1- Olhar na direção da LC deslocada.
Piscar suavemente. A LC deve
movimentar-se automaticamente
em direção ao centro do olho,
voltando à posição correta.
2- Fechar as pálpebras e massagear a
LC suavemente para o local, sobre a
pálpebra fechada.
3- Empurrar a LC descentralizada para
a córnea com o olho aberto, fazendo
suave pressão com o dedo na borda da
pálpebra superior ou inferior (fig. 16).
40
Figura 16 - Centralização de LCG deslocada.
Fonte: Coral-Ghanem, C. 2002.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Tempo Recomendado de Uso
e Troca das Lentes de Contato
21.9
21.9.a Convencionais
Período de Uso
Tempo de Troca
LC Rígida de PMMA
10 h
anos
LC RGP de UD
15 h
18 - 24 meses
todo o tempo de vigília
12 - 18 meses
até 7 dias
12 meses
LCG de UD
12 h
12 - 18 meses
LCG de UP
todo o tempo de vigília
12 meses
LCG de UC
até 7 dias
até 12 meses
Tipo de LC
LC RGP de Uso Prolongado (UP)
LC RGP de Uso Contínuo (UC)
21.9.b Descartáveis / Troca Programada
• Descartável Diária - 1 dia de uso e
descartar. Ex.: One-day (Vistakon J&J);
One-Day (Biomedics Ocular Sciences);
Focus Dailies (Ciba Vision).
• Descartável Semanal - UC de até
7 dias e descartar ou remover todas
as noites e descartar em 2 semanas.
Ex.: Acuvue 1 e 2 (Vistakon J&J); Focus
Week (Ciba Vision); Hydron Biomedics
55 (Ocular Sciences); Precision UV
(Wesley Jessen); SofLens 66 (Bausch &
Lomb) e outras.
• Descartável Mensal - As LC de silicone hidrogel podem, geralmente, ser
usadas para dormir por até 30 dias,
quando devem ser descartadas. Alguns usuários necessitam removê-las
uma vez por semana para limpeza e
desinfecção. Ex.: Night & Day (Ciba
Vision); Purevision (Bausch & Lomb).
• Troca Programada - UD e substituição mensal. Ex.: Acuvue Clear
(Johnson&Johnson); Soflens Confort
(Bausch & Lomb); Focus Monthly
(Ciba Vision); Coloridas FreshLook
(Wesley Jessen - Ciba Vision);
Focus Tóricas e Focus Progressives
- Multifocal (Ciba Vision). As de
troca trimestral são pou co utilizadas em nosso meio.
As informações acima servem como
orientação geral, eximindo os casos de
depósitos precoces, rupturas e outras
alterações ligadas ao manuseio.
41
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
21.10
Período de Adaptação
• LC de Uso Diário (UD)
• LC de Uso Ocasional (UO)
Duas sugestões:
Pessoas que fazem uso de LC de
UD, apenas em finais de semana ou para
praticar esportes, não devem ultrapassar
5 horas de UC. O ideal é não utilizá-las
3 horas a mais do que no dia anterior.
1. Iniciar com 6 horas de uso, fazendo 2
horas de intervalo (3 horas / 2 horas de
intervalo / 3 horas). Aumentar 1 hora
por período a cada 3 dias, até um total
de 10 horas.
Se for necessário usar mais tempo do
que o recomendado, depois de 8 a 10
horas de uso, recomenda-se fazer um
intervalo de 2 horas. Assim, os olhos
terão contato livre com o oxigênio
atmosférico, necessário para manter
a córnea transparente.
2. Iniciar com 4 horas de UD, aumentando
2 horas a cada 2 dias, até completar 10
horas de UC. Para que haja um conforto
progressivo, no caso de ser RGP, é recomendável não interromper a adaptação.
Se isso acontecer, o esquema de uso deve
ser reiniciado. Recomenda-se não ultrapassar 12 horas de UC.
• LC de Uso Contínuo (UC)
Duas sugestões:
1. Na primeira semana, usar o dia todo, retirando-as para dormir. Se não causarem
irritação ocular ou nublação de visão, dormir com as LC e voltar ao oftalmologista
para avaliação no dia seguinte.
2. Permanecer com elas desde o primeiro
dia, retornando ao consultório no dia
seguinte para controle. O tempo de
permanência das LC nos olhos será
determinado pelo oftalmologista.
A regra geral é que sejam removidas,
pelo menos, uma vez por semana, para
limpeza e desinfecção.
21.10.a Principais Sintomas de Adaptação de LC RGP
Normais
Anormais
• Sensação de olhos molhados e borramento visual intermitente por aumento
do lacrimejamento.
• Dor ou queimação repentina. Dor aguda pode ser causada por partículas de
pó sob a LC.
• Irritação palpebral que pode provocar
piscar excessivo ou incompleto. O piscar
incompleto (reação inconsciente de defesa
para diminuir o desconforto provocado
pela borda da LC contra a pálpebra) deve
ser vencido para haver a adaptação.
• Halo constante e forte em torno de luzes.
• Dificuldade de olhar para cima.
• Irritação ocular e vermelhidão
progressivas.
• LC difícil de remover, grudada no olho.
• Visão borrada com óculos por mais de
1 hora após a remoção da LC.
• Fotofobia.
Tempo de desaparecimento
dos sintomas:
1 a 2 meses.
42
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Prevenção de Contaminação
no Consultório
21.11
• Lavar sempre as mãos, antes de manusear as LC.
• Descartar soluções salinas preservadas
em 2 semanas.
• Lavar as mãos, após contato com os
olhos do paciente.
• Descartar soluções salinas sem preservativos, no final de cada dia.
• Não depositar a LC na mesa de suporte
da lâmpada de fenda.
• Evitar ou não usar água de torneira, água
filtrada ou mineral para enxaguar as LC.
• Desinfetar as LC testadas. A forma mais
rápida é usar o Peróxido de Hidrogênio
a 3%, quando se quer testar a mesma
LC em outro paciente. A mais prática é
trocar a solução química sempre que a
LC for manuseada.
• Proceder a limpeza rigorosa e troca
programada dos estojos.
• Enxaguar com soluções multiuso
ou soro fisiológico.
Preservação das LC
de Prova no Consultório
• Observar prazo de validade no rótulo
das LC e das soluções.
• Manter os auxiliares conscientes da
importância quanto à prevenção de
contaminação.
21.12
21.12.a Preservação das LCG
- Trocar a solução desinfetante sempre
que a LC for testada.
- Trocar a solução de todos os frascos
abertos a cada 15 dias.
- De preferência, lacrar os frascos.
- Efetuar cultura laboratorial periódica
das LC de estoque.
- Respeitar o prazo de validade determinado no rótulo.
21.12.b Preservação de LC RGP
P
ode-se guardar a LC RGP limpa
e seca dentro do estojo limpo
e seco, ao invés de mantê-la em solução,
pois não parece haver diferença
significativa em relação ao número
de contaminantes nas duas formas de
conservação. A desidratação leve pode
afetar, discretamente, seus parâmetros e
a umidificação de sua superfície.
43
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
21.13
O
s fabricantes testam a compatibilidade de seus produtos
com os tecidos oculares e materiais
mais comuns de LC, mas não é possível
testar a compatibilidade cruzada entre
todas as soluções e materiais existentes.
Por esta razão, é recomendável seguir as
instruções de cada fabricante.
Drogas sistêmicas excretadas nas
lágrimas e, principalmente, qualquer
medicação ocular tópica têm potencial
para interagir com a LC.
Exemplos de incompatibilidade
entre material da LC/solução
• Thimerosal, quando aquecido, pode
escurecer a LC ou o estojo.
• Hydrocare solução pode causar leve
ceratite quando usada com LC de
elastômero de silicone.
• LC RGP sofre alteração do polímero
quando em contato com álcool,
acetona, perfumes, gasolina etc.
• LCG armazenada em solução surfactante torna-se opaca ou descolorida.
• Desinfetante químico, quando usado
para ferver a LC, descolore e altera
o polímero.
• LCG de alto conteúdo de água
pode tornar-se opaca, descolorida e
enrugada, quando submetida à
desinfecção térmica.
• Desinfecção térmica com solução
salina, já usada, torna a LC acinzentada.
Exemplo de incompatibilidade
entre solução/solução
• Soluções como clorhexidina não devem
ser usadas com limpadores enzimáticos
que contêm papaína.
Para evitar incompatibilidade
• Não misturar soluções de vários
fabricantes.
• Dar as instruções por escrito.
• Perguntar, a cada visita de controle,
qual o método e quais os produtos que
o paciente está usando.
• Informar o usuário sobre a possibilidade de incompatibilidade da LC com
as soluções.
21.14
A
preocupação de usar LC durante
a natação está no risco de infecção bacteriana porque os ambientes aquáticos estão, geralmente, contaminados.
Apesar disso, deve-se considerar que os
nadadores, mergulhadores, esquiadores
e os surfistas necessitam de boa visão à
distância para evitar acidentes pessoais e
melhorar sua performance.
Em lagos e oceanos, pode haver contaminação por produtos químicos e até
por água de esgoto, principalmente após
enxurradas. Entretanto, alguns estudos
demonstram que a presença de químicos
ou micróbios nas LCG, após o uso pelos
nadadores, não é significativa.
44
Incompatibilidade das Soluções
A Prática de Natação e o Uso de LC
Em água de piscina, proliferam
staphylococcus, streptococcus, pseudomonas
aeruginosa e acanthamoeba. Os dois últimos
são agentes causais de graves úlceras de
córnea associadas ao uso de LC. Para
diminuir a contaminação, coloca-se,
periodicamente, grande quantidade de
cloro. O cloro, além de alterar a cor da
LCG, pode aderir ao seu polímero e
provocar irritação ocular.
O profissional deve esclarecer
sobre os riscos de infecção ocular, mas
cabe ao usuário a decisão de correr o
risco e a responsabilidade sobre seus
olhos e suas LC.
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
21.14.a Orientação para os Usuários
que Necessitam Nadar com LC
Em piscina
usado, durante a natação, possa ser
retirado, limpo e desinfetado.
• Usar óculos de proteção.
• Limpar e desinfetar cuidadosamente as
LC após a natação.
• Aguardar 20 minutos para remover
as LC, caso entre água nos olhos. Esse
tempo permite o reequilíbrio das LC
com as lágrimas, tornando-as mais
frouxas e prevenindo alteração do
epitélio corneal durante a remoção.
• Descartar as LC após a natação, quando
o risco de infecção for grande.
• Dar preferência à LC de descartabilidade diária.
• Levar óculos para o caso de perder as LC.
No mar
• Usar gotas umidificantes antes de
remover as LC para torná-las mais
soltas e auxiliar a eliminação de
produtos químicos e micróbios.
• Fechar os olhos debaixo d'água e dar
rápidas piscadas para remover a água
dos olhos, ao invés de esfregá-los. Em
contato com água salgada, as LCG
ficam mais soltas.
• Ter dois pares de LC para que o par
• Levar óculos para o caso de perder as LC.
Como Evitar Contaminação das LC por
Cosméticos e Produtos para Cabelo
21.15
O
s cosméticos representam
importante fonte de depósitos
que podem causar reações alérgicas,
além de formar um filme gorduroso sobre
a LC, nublando a visão e reduzindo o
tempo de uso por desconforto. Conhecer
os produtos que devem ser usados bem
como a forma de aplicá-los é uma maneira
de evitar ou reduzir esses problemas.
Recomenda-se:
- Usar cosméticos sem perfume e
adquirir aqueles que conhecidamente
sejam hipoalergênicos ou especiais
para usuários de LC.
- Adquirir cosméticos de firmas conceituadas, pois estas, normalmente, têm
mais condições de pesquisa e melhor
controle de qualidade.
- Lavar bem as mãos para remover qualquer resíduo de maquilagem antes de
tocar nas LC. Cosméticos oleosos são
difíceis de remover dos dedos e das LC.
- Fazer a maquilagem com as LC já no
lugar para reduzir o risco de sujá-las.
Mesmo com lacrimejamento durante a
colocação, não haverá problemas com
a maquilagem. Os míopes com mais de
40 anos enxergam melhor de perto sem
LC. Por isso devem colocá-las depois de
fazer a maquilagem.
- Evitar sombras cintilantes, perolizadas
ou outras semelhantes à purpurina.
As partículas podem entrar nos olhos
e ficar debaixo das LC. Sombras compactas são melhores do que as líquidas,
oleosas ou cremosas, difíceis de remover
das LC. É aconselhável que as sombras
sejam utilizadas em quantidade moderada para que o excesso não caia dentro
dos olhos.
- Utilizar, de preferência, pó facial compacto. O pó solto deve ser aplicado com
cuidado e seu excesso removido das
pálpebras e cílios.
- Passar o delineador por baixo da
porção cutânea da borda palpebral,
para evitar a obstrução das glândulas
de Meibômio que pode resultar em
blefarites, hordéolos e calázios. Para
usuários de LC, delineadores tipo lápis
45
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
são melhores do que os líquidos ou
pastosos. O delineador líquido deve ser
à base de água. Não usar saliva para
lubrificar o pincel ou o cosmético.
- Lavar as escovas de rímel freqüentemente e trocá-las a cada 3 meses.
Pincéis de rímel não devem ser emprestados, visto ser o rímel uma combinação
de pigmentos de gordura, ceras e preservativos químicos, geralmente com
base líquida, ótimo meio para o crescimento de microrganismos.
- Aplicar o rímel levemente distante
da base dos cílios. Nunca usar objeto
pontiagudo para separá-los (agulha,
grampo de cabelo etc.) Evitar rímel à
prova d'água e os destinados para alongamento dos cílios. Esses costumam
conter nylon e fibras de rayon, que
são secas e podem soltar-se, entrando
nos olhos. As lágrimas levam as fibras
intactas para baixo da LC, o que pode
causar lesão corneal. Rímel resistente à
água (não à prova d'água) é o recomendado para usuário de LC porque, sendo
solúvel em água, pode ser removido
facilmente sem agentes emulsificadores; à prova d'água, exige a utilização
de produtos oleosos para sua remoção.
Restos de produtos oleosos que permanecem nas bordas palpebrais podem
sujar as LC mesmo após um bom
enxágüe dos olhos. LC nubladas devido
46
Capítulo 21
a cremes e removedores de maquilagem
são queixas freqüentes.
- Fechar os cosméticos logo após o uso
para evitar maiores contaminações e
não deixá-los exposto ao calor.
- Retirar as LC antes de remover
a maquilagem.
- Aplicar creme noturno nas pálpebras
com cuidado para não tocar nos cílios
e, de preferência, depois de 20 minutos, remover o excesso com lenço
de papel. O creme pode penetrar nos
olhos durante a noite sujando o FL e
provocando turvação de visão, além de
ardência e queimor no dia seguinte.
- Utilizar produtos em aerosol e outros
que liberem vapor ou gás antes de
colocar as LC. Se for necessário aplicar
spray para cabelo, enquanto estiver
usando LC, fechar os olhos e, em
seguida, deixar rapidamente o local,
pois o aerosol permanece no ar por
algum tempo.
- Evitar o uso de LC durante o tingimento
dos cabelos e durante o uso de loções
químicas (permanentes para ondular e
xampus medicamentosos, por exemplo).
- Evitar o uso de cosméticos e de LC se
os olhos estiverem vermelhos, inchados
ou infectados.
Capítulo 21
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
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47
Manutenção e Manuseio das Lentes de Contato
Capítulo 21
Anotações
48
Download

Adaptação das LC Rígidas Cosméticas