CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA E SUAS AFRICANIDADES NO ENSINO APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Santos, E. C.
Bolsista Ford
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Mestrado em Educação Matemática
Orientador Ubiratan D’Ambrósio
RESUMO
O artigo aqui apresentado é parte de um projeto de pesquisa que ora se inicia sobre a
influência das culturas Africanas e das africanidades em uma sala de aula de matemática
numa escola pública de maioria afrodescendente em Salvador/ Bahia. Essa pesquisa será
desenvolvida uma parte na comunidade quilombola de Rio das Rãs localizada na Lapa,
Oeste da Bahia - Brasil e a outra no Mali –Noroeste da África. Tendo o objetivo de
pesquisar em ambos os espaços: Elementos, símbolos, instrumentos, concepções da cultura
que poderão ser utilizadas em sala de aula do ensino fundamental de matemática; Apontar a
partir das concepções etno antropológicas direções para a (re) construção do conhecimento
da cultura africana e das africanidades em sala de aula de matemática; Resgatar a identidade,
através das contribuições das culturas de matrizes africana que fornecem ferramentas para
desconstruir o mito de um povo superior e outro inferior que hoje é traduzido nas escolas públicas
de Salvador/Ba/Brasil para a mais valia de quem sabe matemática. Para tanto, será utilizado o
método da etnopesquisa , acompanhando uma comunidade quilombola e uma Africana ,
analisando algumas concepções, idéias, mitos, jogos, elementos, símbolos, instrumentos e
fazeres Culturais existentes nessas comunidades que poderão ser utilizadas em sala de aula
de matemática de uma escola pública de maioria afrodescendente (etnografia) , em seguida
será feita à sistematização e análise dos dados (etnologia). Como ainda não chegamos ao
estágio da pesquisa de campo, nos deteremos apenas a apontar nesse artigo, inicialmente, a
relevância da cultura Africana e a dos afrodescendentes no cenário educacional da sociedade
Brasileira. Em um segundo momento refletir, como alguns elementos dessa cultura podem ser
usados enquanto facilitadores e orientadores metodológicos das práticas de ensino-aprendizagem .
Num terceiro instante indicamos autores que tem contribuído para preenchermos as lacunas da
deformação da educação formal do afrodescendente, que é uma população que representa cerca de
50% da população brasileira , por fim , fazemos as considerações finais, buscando o enfrentamento
da invisibilidade do multiculturalismo em sala de aula na perspectiva de contribuir com o ensinoaprendizagem de matemática no Brasil.
Palavras chave: Culturas Africanas, Afrodescendentes e Educação matemática.
As culturas Africanas e os afrodescendentes
O ensino das culturas e da história africana vem sendo discutido e trabalhado em alguns programas
de instituições não governamentais, desde a década de 70 , pelos movimentos sociais negro
brasileiro1 que requer desde essa década a oficialização do mesmo. O reconhecimento e a
legitimidade dessa reinvidicação veio em 2003 através da promulgação da lei 10.639, que torna
obrigatório o ensino da História da África e dos Afro-brasileiros para os níveis fundamentais e
médios das escolas públicas.
Antes da lei 10639/03 os PCN já apontavam a importância de inverter o processo de
desconhecimento, invisibilidade e os preconceitos em torno da África e de suas africanidades, por
contradição , institucionalmente, pouco era feito para que as escolas públicas implantassem o
Ensino de História da África nos currículos.
Uma das preocupações precípua da maioria afrodescendente, com a História Africana num país
multiracial , e pluricultural como é o caso do Brasil - se dá nas áreas urbanas de maioria
afrodescendente, onde é visto no currículo e na metodologia de ensino, uma das formas subjetiva do
racismo brasileiro, pautado no tripé da sistemática: da invisibilidade; do pejorativismo cultural da
coletividade afro descendente; e do nó na relação Brasil – África que vincula o passado ao presente
unicamente a partir do período pós-colonial.
Para Fanon, no seu livro Condenados da terra, a multiculturalidade deverá romper com o estatuto
colonial, instituído no contexto da escravidão, pois, sem essa quebra de paradigma não há uma
educação diferente. Nesse sentido o autor lembra que a escola não poderá partir das relações
dominador / dominado para iniciar e conduzir as abordagens sobre o negro. É necessário lembrar do
que fomos antes de colonizados, pois é essa lacuna ainda presente na educação dos educadores e na
prática deles educarem, que coopera para que não seja possível romper a relação existente com o
estatuto colonial. Ainda hoje, o continente africano apenas é visto como um espaço de grandes
guerras entre “as tribos”, nunca trata das riquezas que existia em alguns impérios ou reinos ou
sociedades e os saques que eram dados pelos europeus.A história foi reduzida a estereótipos. É de
suma importância para a educação escolar na atualidade, o entendimento sobre as Áfricas, enquanto
realidades sociais e transformadoras das bases dos afrodescendentes e estes como produtores da
própria história numa perspectiva ampla de uma dinâmica cultural. Para D’Ambrósio , a dinâmica
cultural é dada por meio das interações que existem entre os diferentes indivíduos e faz com que,
1
Chamo aqui, negro brasileiro, negro, afro descendente e povo negro a todos os povos que descendem do
Continente Africano.
não possamos falar com precisão em culturas finais e estanques. Essa é a visão que temos do vasto
continente Africano e dos legados que herdamos dele, que dão subsídios para trazer elementos
importantíssimos para a sala aula de todas as disciplinas, inclusive da matemática.
O educador que opta por discutir os saberes a partir das culturas distintas, deixa de transmitir apenas
o saber sistematizado para construir experiências concretas que permitem ao educando a
possibilidade de ser ver retratado nesse saber.
Os professores, no geral, são produtos de uma educação eurocêntrica ; em função disto, reproduzem
consciente ou inconscientemente, os pensamentos que permeiam a sociedade. Utilizam livros e
outros materiais carregados de preconceitos em relação aos povos e culturas não oriundas do mundo
branco. Têm um discurso e uma postura trabalhada no seu inconsciente de rejeição à diversidade.
Para Ana Célia da Silva2, o negro é representado nos currículos, materiais pedagógicos e
especificamente no livro didático enquanto cidadãos abstratos, inviabilizando suas diferenças e suas
contradições. Ela defende a diversidade de experiência da vida cotidiana dos personagens negros,
bem como as diferentes manifestações, que eqüaliza o individuo, os grupos sociais, étnicos,
culturais e raciais do cotidiano, experiências e cultura do grupo dominante na sociedade.
Segundo Munanga (2001) a falta de identidade do negro com a educação que lhe é imposta explica
o alto coeficiente de repetência e evasão escolar do aluno negro em relação ao aluno branco,
demonstrando, portanto que urge uma educação que busque a inclusão dos mesmos, a partir de um
ensino-aprendizagem que refletia a realidade da camada dita inferior, portanto, excluída. Se o
sentimento de invisibilidade e deformação do negro no livro e nos materiais didáticos é um
determinante para a estima de um povo, imagine a negação da representação de uma cultura desse
mesmo povo, de um saber com o seu olhar de uma ciência com suas subjetividades. A educação,
como um todo, não valoriza as contribuições culturais, as especificidades de cada raça e as
subjetividades dos saberes, há uma invisibilidade da cultura negra e indígena:
“O Professor atual é fruto de modelos de socialização Profissional que se exigiam unicamente
prestar atenção à formulação de objetivos e metodologias, não considerando objeto de sua
incumbência a seleção explicita dos conteúdos culturais. Essa tradição contribuiu de forma decisiva
para deixar em mãos de outras pessoas (em geral as editoras de livros didáticos) os conteúdos que
devem integrar o currículo... Em muitas ocasiões os conteúdos são contemplados pelo alunado
como fórmulas vazias, sem sequer a compreensão de seu sentido. Ao mesmo tempo, se criou uma
tradição na qual os conteúdos apresentados nos livros didáticos aparecem como os únicos possíveis,
2
Ana Célia da Silva é Doutora em Educação, autora do Livro Discriminação do negro no livro didático Ed.
Edufba
os únicos pensáveis... Não constitui nenhuma surpresa, pois, que nessa altura da historia já sejam
muitas as vozes ausentes e ou deformadas na maioria dos currículos” (Santomé, 1995).
O que tem a ver educação matemática com a África e as culturas dos afrodescendente nessa
sociedade?
Para D’Ambrósio (1998), a etnomatemática é um programa que visa explicar os processos de
geração, organização, e transmissão de conhecimento em diversos sistemas culturais e as forças
interativas que agem nos e entre os três processos.
Compreender essa assertiva é poder estar aberto para discutir a diversidade de povos que trilharam
os caminhos para a construção da matemática, a exemplo dos Incas, Hebreus, Gregos, Romanos
bem como dos Songhais, Dongos, Quiocos, Egípcios. Tentar beber do nascedouro do saber, do
berço da humanidade , de povos africanos é segundo Santomé (1995) buscar afastar as armadilhas
ideológicas do preconceito, da discriminação de gênero, das etnias oprimidas, do recalque, da
exclusão social, desvendando algumas situações que são silenciadas e que normalmente se colocam
como problemáticas da sociedade que se encontra na escola. É buscar quebrar as relações do
escravismo criminoso que se perdura até a atual sociedade na educação brasileira.
Nos espaços educacionais com culturas distintas e principalmente em comunidades de maioria
afrodescendente cabe a inclusão de uma educação afroetnomatemática, bem como, refletir sobre os
diagnósticos e inferir na busca de minimizar a exclusão social a partir de um saber que é voltado
para essa população. Nesse desafio o programa de etnomatemática pode ajudar, buscando
conhecimentos das diversas culturas Africanas das sociedades pré-coloniais ou das recriações
cosmológicas contemporâneas e das africanidades herdadas pelos quilombolas do Brasil,
contribuindo incisivamente na quebra dos enigmas da matemática mecânica, descontextualizada,
atemporal, geral, abstrata e todos os outros sinônimos .
A matemática todo um tempo é conceituada como a ciência exata, a ciência dos números, das
inferências e suas características apontam para precisão rigor e exatidão. Servindo a dominação do
poder onde os heróis são ou da Grécia antiga, ou na Idade Moderna nos países centrais da Europa,
principalmente, entre Inglaterra, França, Itália (Tales, Euclides, Pitágoras, Descartes, Galileu,
Newton, Einstein, Fourier, entre outros). Temos, portanto, no aprendizado da matemática, toda uma
base eurocêntrica. D’Ambrósio, ao discutir porque se estudar matemática nas escolas com tanta
universalidade bem como com tanta intensidade, questiona sobre os heróis da história da
matemática e nos leva a reflexão sobre o que tem a ver as raízes do nosso povo com esses heróis
gregos antigos ou europeus e conclui que a matemática, tal como é descrita no nosso sistema
educativo, está associada a um processo de dominação e à estrutura de poder desse processo, e ao
estudar a educação matemática não podemos esquecer isso. Portanto, falar da matemática apenas
na versão eurocêntrica para um público de maioria afrodescendente e indígena para D’Ambrósio
(2002) pode “ser identificado apenas como parte de um processo perverso de aculturação, por meio
do qual se elimina a criatividade essencial ao ser (verbo) humano”.
A matemática sofre transformações, perpassa por outras análises e não podemos tratá-la com os
mesmos princípios de séculos passados. D'Ambrósio, (1998) ressalta que “Enquanto nenhuma
religião se universalizou, nenhuma língua se universalizou, nenhuma culinária nem medicina se
universalizaram, a matemática se universalizou, deslocando todos os demais modos de quantificar,
de medir, de ordenar, de inferir e servindo-se de base, se impondo, como modo de pensamento
lógico e racional que passou a identificar a própria espécie”.
A criança continua sendo alfabetizada, num modelo onde o aproveitamento , principalmente em
português e matemática está cada dia muito mais aquém do desejável, apresentando desde cedo os
bloqueios, e as deformações educacionais. Segundo Gerdes (1992) a escola reprime e perturba a
matemática - da - vida, aprendida e desenvolvida fora da escola. As conseqüências disso é a falta de
interesse pelos estudos e a crescente evasão escolar. Um grande desafio é a re - estrutura de uma
educação examinando suas tendências.
Os avanços tecnológicos e as mudanças sociais exigem indivíduos mais críticos e capazes de tomar
decisões.Transmitir apenas conceitos e regras práticas de soluções formularizadas não contribuem
para o desenvolvimento do sujeito tornando-os passivos, conformistas e mecanicistas, em uma
época que exige tomada de decisões, espírito explorador, criticidade, criatividade e independência.
Não ter a matemática na perspectiva de formação de um cidadão crítico, a partir do que lhe é
identitário é ver os alunos serem reprovados em sala de aula e serem muito bem aprovados na rua e
para a rua. Carraher (2003) reconhece que a matemática, a psicologia e a educação se encontram
em lugares diferenciados no campo das ciências, porém no cotidiano elas não podem ser
dissociadas: "Quando uma criança resolve um problema com números na rua, usando seus próprios
métodos, mas que são métodos compartilhados por outras crianças e adultos, estamos diante de um
fenômeno que envolve matemática, devido o conteúdo do problema, psicologia, porque a criança
certamente raciocinou e educação porque queremos saber como ela aprendeu a resolver problemas
desse jeito”. A matemática é uma construção humana, não é um aparelho de medição de uma forma
tão lógica que tenha o poder de acentuar, perpetuar as desigualdades educacionais e
conseqüentemente sociais. Contraditoriamente, nas escolas, é preconizado o poder do professor, e
em especial o de matemática, que reforça todas as estruturas de dominação.
Indicação Bibliográfica para o estudo da Educação Matemática
Alguns autores já discutem a proposta de uma Educação Matemática voltada para a cultura, mesmo
aqueles que não se detém a trabalhar uma educação voltada para o afrodescendente e o indígena é
do consenso que a matemática em muitas instituições educacionais e principalmente a pública é
utilizada como peso para medir a capacidade de inteligência dos alunos, tornando umas disciplinas
excludente, distante do entendimento. Para tanto, precisamos estar abertas para discutir novos
caminhos ao encontro das diversidades. Indicaremos alguns autores que mesmo antes de começar a
pesquisa nos fez refletir sobre as práxis em sala de aula e a possibilidade de pensar uma
matemática mais identitário também apontaremos outros autores que podem estar dialogando com
os alunos a cerca das africanidades:
-A matemática e os Temas transversais de Alexandrina Monteiro e Geraldo Pompeu Junior editado
pela Editora Moderna, um livro com várias atividades que demonstra como trabalhar a matemática
no cotidiano, tecendo reflexões sobre a transversalidade.
-As histórias de Lokoirokotempo de autoria de Jaime Sodré um Bahiano publicado em 1995. O
autor, defensor da cultura afro-brasileira, preocupado com o processo de transmissão dessa herança,
trás a história de iroko que é um orixá, bem como os cuidados que se deve ter pela preservação e
manutenção da natureza, também muitíssimo bom para discutir religiosidade e natureza.
-Cadernos de Educação do Ilê Aiye são publicações do Projeto de extensão Pedagógica do Ilê
Aiye, organização afro de Salvador, onde cada volume discute um tema ligado às questões dos
afrodescendentes, desde os reinos africanos passando pelas revoltas indo até a contemporaneidade.
Nessa riqueza de conhecimentos esse caderno reserva uma linguagem simples e acessível,
justamente para ser usada por professores de escola pública em sala de aula desde o ensino
fundamental :Vol. 1- Organização de Resistências Negras; Vol. 2- Civilização Bantu; Vol.3- Zumbi
300 anos; Vol.4- A força das raízes Africanas; Vol.5- Pérolas negras do saber; Vol.6-Guiné
Conakry; Vol.7- Revolta dos Búzios –200 anos; Vol.8- Terra de Quilombo; Vol.9- África, Ventre
Fértil do Mundo; Vol.10- Malés – A revolução; Vol. 11- A rota dos Tambores do Maranhão.
- Cosmovisão Africana no Brasil , um livro onde o autor, Eduardo Oliveira, através dos “elementos
para uma filosofia afrodescendente” transpõe as barreiras culturais e nos convida a africanizar-se a
partir de uma áfrica pré-colonial, é uma publicação do IBECA.Em 2003.
-Cotidiano Escolar Questões de Leitura Matemática e Aprendizagem , organizado por Fermino
Fernandes Sisto, Enid Abreu Dobranszky e Alexandrina Monteiro ,lançado pela editora Vozes
reúne vários artigos que fazem análises sobre o cotidiano, o ensino - aprendizagem da matemática,
história da matemática, avaliação entre outros artigos do dia-a dia da sala de aula.
-Da realidade à Ação. Reflexões sobre Educação e Matemática, de Ubiratan D`Ambrósio Editora
Summus nesse livro o autor apresenta artigos apresentados em conferencias, discutindo
considerações histórico-pedagógicas sobre matemática e sociedade, bem como a matemática para
Países Ricos e Países Pobres.Desse autor, todos seus livros são de extrema importância para a
reflexão da matemática a partir da cultura.
-Didática da matemática uma análise da influência francesa, organizado por Jean Brun, neste livro
aborda conceitos da Didática, mostra que vários educadores do Brasil adotaram algumas versões
do modo de ver a matemática que os educadores franceses desenvolveram, bem como, discute a
complexidade dos conceitos. Reúne textos de Brosseau, Chevellard e Vergnaud dando relevâncias a
uma abordagem sistêmica, ou antropológica ou cognitiva.
-Diversão multicultural para idades de 8 a 12 anos Jogos e Atividades Matemáticos do Mundo
Inteiro Claudia Zaslavsky, ed. Artmed A autora junta jogos de todos os países, influenciando de
uma forma muito positiva os estudantes, a ter interesse pelo estudo, através dos jogos e também
conhecer a cultura de diversos paises.
-Educação Matemática & Exclusão Social Editora Plano. Josias Alves, faz uma reflexão sobre a
situação atual da Educação matemática em nossas escolas e sugere mudança na metodologia do
ensino.
-Educação Matemática da Teoria `a prática de Ubiratan Dàmbrósio, neste livro o autor faz uma
proposta de busca de uma nova metodologia de ensino através da etnomatemática.
-Etnomatemática - Arte ou técnica de explicar e conhecer também de Ubiratan D`Ambrósio,
lançado pela editora Ática na série Fundamentos. Este livro nos faz passear pela matemática do
cotidiano, reconhecendo na etnomatemática um programa de pesquisa voltado para a cultura e que
caminha juntamente com a prática escolar, dá um enfoque fundamentalmente holístico e dedica um
capítulo para discussão do enfoque da antropologia da matemática.
-Etnomatemática - Elo entre as tradições e a modernidade lançado pela editora Autêntica.Neste,
Ubiratan D’Ambrósio, nos dá uma visão abrangente sobre a educação matemática e ao falar sobre
cultura, nos alerta que lamentavelmente, muitos educadores são ingênuos no tratamento da
dinâmica cultural. E as conseqüências da ingenuidade e da perversidade não são essencialmente
diferentes. Ao se referir ao índio ele coloca que a etnomatemática da comunidade serve, é eficiente
e adequada para muitas coisas, própria àquele etno, e não há porque substituí-la. Nos faz refletir que
não se pode avaliar habilidades cognitivas fora do contexto cultural. Uma reflexão muito boa para a
busca de subsídio para o ensino da matemática de uma forma não linear estável e contínua.
-Etnomatemática uma experiência educacional de Vera Lúcia da Silva Halmenschlager, este livro
faz uma reflexão sobre o papel desempenhado pela escola que reforça as desigualdades sociais entre
grupos a partir do que tem valorizado e legitimado, a autora afirma que essa uniformização de
modelos sem considerar as diversidades, reflete na repetência e na evasão no turno escolar em que
a maioria é afrodescendente.
-Etnomatemática, uma proposta metodológica de Eduardo Sebastiani Ferreira, o volume Três da
série Reflexão em Educação Matemática da Universidade Santa Úrsula Mestrado em Educação
Matemática. Esse volume é um apanhado dos seminários e de vários projetos de etnomatemática
realizados por alunos de mestrado.
-Formação de Professores de matemática. Explorando novos caminhos com outros olhares, é um
livro organizado por Dario Florentini através de uma coletânea de textos do grupo de pesquisa
sobre formação de professores da Unicamp. Este nos traz a discussão de aportes teóricos
metodológicos que tratam da prática pedagógica e da formação do professor. Em um dos textos
sistematiza em torno de cem trabalhos produzidos pelas universidades brasileiras a partir da
década de 70 até a década de 90 sobre a formação de professores.
-Gosto de África – História de lá e daqui. Joel Rufino dos Santos, ilustração de Claudia
Scatamacchia, publicado pela editora Global, em 2000. É uma Histórias da África, e do Brasil,
contando mitos, lendas e tradições, ajudando a compreender melhor a nossa cultura.
-Histórias da Preta de autoria de Heloisa Pires Lima, ilustrações de Laurabeatriz, publicado pela
Companhia das letrinhas em 1998.Uma Historia de um passeio de uma criança e suas lembranças
da África, das etnias, das origens, do ser igual ou ser diferenças é um livro que leva o leitor a
reflexões culturais.
-Idéias matemáticas de povos Culturalmente Distintos organizado por Mariana Kawall Leal
Ferreira publicado pela editora Global , neste livro a autora levanta aspectos de culturas diferentes
se detendo mais às questões indígenas.
-Ifá, o adivinho. Ilustrações de Pedro Rafael e autoria de Reginaldo Pradi publicado pela
Companhia das Letrinhas, em 2002.Através de uma linguagem fácil e acessível o autor conta
histórias dos deuses africanos que vieram para o Brasil. Bom para começar a discutir religiosidade.
-Matemática e a linguagem materna, da editora Cortez, é uma análise de uma impregnação mútua
que faz refletir sobre a importância da língua na matemática e a necessidade de reconhecer as
imbricações nas questões básicas para superar algumas dificuldades.
-Matemática Emocional.Os afetos na aprendizagem Matemática, de Inês Maria Gomes Chacon,
publicado pela editora Artemedica, a autora levanta reflexões sobre propostas práticas de mudança
de novo paradigma recriando de forma efetiva o cotidiano pedagógico nas escolas.
-Metodologia de Ensino Matemática de Solange Fonseca publicado pela editora lê , oferece uma
proposta curricular de matemática para as pré-escolas e as quatro primeiras séries do 1o. Grau.
Apontando diferentes abordagens de como trabalhar o conteúdo matemático, através de resolução
de problemas, recriação através da experiência de convivência da criança, através de jogos, de
descobertas e a aplicabilidade, motivando o professor a buscar elementos da sua cultura para sair do
abstracionismo.
-Meu avô, um escriba de Oscar Guelli publicado pela editora Ática em 1999.Um livro que fala de
uma criança que o avô era um escriba e este por ter facilidade de operações matemáticas nos mostra
como operacionalizar através de um conhecimento que ele adquiriu com esse avô africano. Discute
a importância da transmissão da cultura Africana.
-Modelagem Matemática no Ensino de Maria Salett Biembengut e Nelson Hein da editora
Contexto. Um livro simples, numa linguagem bem didática sobre a modelagem e a arte de expressar
a cultura dos povos antigos. Este livro possibilita vários ensaios de modelagem, oportunizando
fertilizar a contextualização inclusive das africanidades em sala de aula.
- O Baú das histórias – um conto africano recontado e ilustrado por Gail E. Haley, 2ª edição
Petropólis-RJ, 1998 – Um livro que mostra a importância do gostar, “resgatar / recuperar” as
memórias dos contos africanos -como parte do nosso acervo cultural.
-Vivendo os matemáticos, desenhos da África de Paulus Gerdes é um paradidático,da editora
scipione, que mostra trabalhos desenvolvidos pelos quiocos, povos do nordeste de Angola e que são
famosos pela sua arte. O autor nos mostra através de desenhos desse povo a geometria dos fractais,
hoje tão utilizada na Europa e já há muito desenvolvida pelo nosso povo no continente Africano
além de uma forma de soma, que nos leva a trabalhar desde operações simples a matrizes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A visão a-histórica da África que a colonização européia disseminou ainda é a predominante no
nosso país, e dela decorre muitas deformações em relação ao estudo do Brasil e dos
afrodescendentes brasileiros.
Entender a fala de Marcus Garvey3, ao dizer que ‘um povo sem história é como uma árvore sem
raiz’ justifica a importância, de tantos outros pesquisadores comprometidos, voltarem seu olhar para
o continente Africano , para que possamos entender muito da história do Brasil e daí possamos
preencher muitas lacunas deformadas na educação do nosso povo.
3
Pastor Jamaicano que defendia a criação de um país negro livre da dominação branca na África e que
recebesse de volta todos os descendentes de Africanos seqüestrados pelo navio negreiro.
Um grande desafio da institucionalização de uma educação multicultural é a reestrutura curricular.
Valorizando a história, repensando as relações de raças e etnias diferenciadas e as implicações das
mesmas, partindo das necessidades de inclusão de uma educação a partir das especificidades das
diversidades culturais e de uma organização curricular em espiral.Nessa reorganização curricular
cabe a particularidade quanto ao ensino da matemática e das formas pedagógicas de
desenvolvimento deste, a partir do programa da etnomatemática.
Pela alta relevância que é para o afrodescendente o estudo da educação matemática a partir da
cultura Africana e das africanidades brasileiras, faz-se necessário uma revisão das práticas
pedagógicas dos educadores em todas as disciplinas e especificamente em matemática, quebrando
alguns paradigmas tipo: configuração do currículo, visto que, este não atende as expectativas dos
alunos a partir da não identificação dos mesmos com o que está sendo oferecido em sala de aula;
Conteúdos atitudinais relacionados ao aluno, em termos de valores e conceitos psicológicos, pois a
Matemática tem sido usada enquanto instrumento de exclusão social, a partir de um saber para
poucos, provocando a repetência e evasão escolar; papel que desempenha essa ciência tida
unicamente enquanto lógica, desconsiderando a antropologia da mesma; posturas políticopedagógico, a partir da didática dos referenciais teóricos e concepções que embasam o ensinoaprendizagem da matemática na cultura brasileira, E por fim, estudo da matemática através da
cultura, a exemplo do programa de Etnomatemática que tem como principio o reconhecimento das
matemáticas nas suas diferentes expressões possibilitando as discussões sobre os saberes
matemáticos advindo da cultura herdada, local e entorno, propiciando ao aluno afrodescendente,
sujeitos de sua própria história, a manutenção em alta da sua identidade e auto-estima,
desconstruindo estereótipos e construindo novos saberes.
Portanto, longe dessa pesquisa ter a pretensão de ser o ponto final dos problemas com o ensinoaprendizagem dos afrodescendente em matemática. Ela é “essencialmente contestável” e busca ser
mais um aporte de reflexão para a educação matemática diante da imensidão de oportunidades que
pode ser travada através de um continente que é uma das matrizes da civilização brasileira e das
suas africanidades.
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contribuição da história da áfrica e suas africanidades no ensino