100 história
art déco
Texto Cynthia Garcia
Fotos Acervo Instituto Art Déco do Brasil,
Cynthia Garcia e The Berardo Collection
inaugurado oficialmente em 1925,
o estilo que introduziu o design
produzido em massa ainda
permanece cult nos dias de hoje
101
os 90 anos
do art déco
O Cristo Redentor no Rio de Janeiro,
o Monumento às Bandeiras em São
Paulo, o Elevador Lacerda em Salvador e a
Prefeitura de Belo Horizonte, assim como
o Chrysler Building em Nova York, o Palais
de Chaillot em Paris, os quartiers blancs
de Tel Aviv e a South Beach em Miami são
exemplos de norte a sul do estilo art déco,
que festeja 90 anos em 2015.
Na onda das comemorações, o Rio, nossa
capital mais representativa da manifestação
que introduz o design produzido em massa,
verá nos próximos meses a exposição Rio de
Janeiro como Destino: Cartazes e Viagens
1910-1970, Coleção Berardo de Cartazes
Rio, que exibirá exemplares do movimento
que imprimiu a arte moderna na imagem
publicitária. A curadoria é de Paulo Knauss
e de Marcio Roiter, fundador do Instituto
Art Déco do Brasil, que chancela o estilo na
América Latina há dez anos. Mas o evento
que sela as celebrações será o congresso,
em novembro, que reunirá especialistas e
colecionadores internacionais na capital da
versão chinesa do estilo, Xangai, organizado
pela Art Deco Society of New York.
Novos ares
Acima, cartazes Pan
American Airways, c. 1940;
Aéropostale, de 1928, antes
de o Corcovado receber o
Cristo Redentor; e Exposition
Internationale des Arts
Décoratifs et Industriels
Modernes, em 1925. À
esquerda, Marcio Roiter,
fundador do Instituto Art
Déco do Brasil, e as musas
Greta Garbo e Josépine
Baker. À direita, ilustração
de melindrosa, c. 1925;
fachada do Banco de São
Paulo (1935-1938); e guache
Guarany, Art Déco Nativista,
August Herborth, c. 1920.
Curiosamente foi apenas em 1966, por ocasião da exposição parisiense Les Années 25,
a primeira a homenagear as artes aplicadas
das décadas inaugurais do século 20, que
o nome art déco – conhecido até então
como estilo moderno – foi formalizado. A
nomenclatura é uma abreviação do título da
Exposition Internationale des Arts Décoratifs
et Industriels Modernes, em 1925, em Paris,
referência oficial de seu advento.
Passadas nove décadas, o estilo que viu
sua vertente mais luxuosa e artesanal se
desenvolver em Paris, e sua feição mais
popular e industrial prosperar nos Estados
Unidos, permanece cult. “Em 2009, a
poltrona Serpent, de Eileen Gray, alcançou
€ 23 milhões no leilão da Christie’s da
coleção St. Laurent-Pierre Bergé. No ano
passado, no Sotheby’s Paris, um gabinete
de Jean-Michel Frank atingiu € 3,7 milhões”,
relata Marcio Roiter.
O art déco sucedeu o art nouveau
(1895-1914) com conceitos radicalmente
diferentes e ainda trouxe uma resposta
democrática e decorativa ao funcionalismo,
despojado de ornamentalismo, apregoado
pela vanguarda intelectual europeia, entre
eles, Le Corbusier.
Na virada do século 19, o art nouveau
aposenta o modus vivendi vitoriano e
seu ecletismo historicista, introduzindo
a exuberância orgânica e as ondulações
irregulares observadas da natureza. Mas seus
floreios não sobrevivem à Primeira Guerra
(1914-1917), evento brutal que faz renascer
das cinzas uma nova mentalidade: o espírito
moderno do século 20 – ou esprit nouveau –,
no qual se baseia o art déco.
As saias sobem, os arranha-céus chegam
às alturas, o código moralista balança, o
cinema dá asas à fantasia e close no beijo. As
mulheres sonham ser Greta Garbo, Marlene
Dietrich; os homens, Rodolfo Valentino, Gary
Cooper. Le tout Paris aplaude de pé duas
musas estrangeiras, Tarsila do Amaral e
Joséphine Baker, trajadas por Poiret, Patou e
Chanel. O mundo se deleita com a musicalidade de Gershwin e Heitor Villa-Lobos, e se
curva diante dos talentos da nova iconografia
como Mallet-Stevens, Brandt, Subes e Ruhlmann, e, entre nós, Warchavchik, Brecheret,
Antonio Gomide e John Graz.
O entreguerras 1918-1939, auge do estilo,
impõe essa mudança radical turbinada pela
velocidade das máquinas, enriquecendo a
simetria linear futurista de seu repertório que
expressa ritmo e movimento em várias mídias
e superfícies, ao mesmo tempo que sua
linguagem absorve culturas exóticas como a
egípcia e nossa amazonense, denominada
art déco nativista.
A prosperidade e os desejos são guiados
por uma nova dinâmica que redesenha tudo,
das artes às artes aplicadas, influenciando a
Europa e os EUA até a década de 1940, e o
hemisfério Sul, até meados dos anos 1950,
caso do Brasil. Por aqui, nos encantamos
com Aurora e Carmem Miranda, musa art
déco antes de ficar “americanizada”, que emprestavam vozes e requebrados à marchinha
Cantores de Rádio”(1936), de João de Barro e
Lamartine Babo: “Nós somos as cantoras do
rádio / Nossas canções cruzando o espaço
azul / vão reunindo num grande abraço /
corações de Norte a Sul”.
Rio de Janeiro como Destino:
Cartazes e Viagens 1910-1970
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro,
de 29 de outubro a 17 de janeiro de 2016
museuhistoriconacional.com.br
Download

os 90 anos do art déco - Instituto Art Deco Brasil