DIFERENÇAS ENTRE PROJETO E IMPLANTAÇÃO – COLÔNIA DE ALFREDO CHAVES, 1884. Alexandre Pessin Adriane Brill Thum Viviane Todt Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS Curso de Especialização em Informações Espaciais Georreferenciadas [email protected] [email protected] [email protected] RESUMO Em 1872, com o reinício do movimento imigratório no Brasil especialmente no estado do Rio Grande do Sul, muitos italianos se estabeleceram neste estado. Entre 1875 e 1908, foram vendidas e demarcadas 11 colônias, entre elas a de Alfredo Chaves no ano de 1884, tendo como responsável para a demarcação dos lotes, o engenheiro Júlio da Silva Oliveira. Estas terras situadas na Serra Geral, nunca tinham sido exploradas, com vegetação abundante e relevo muito acidentado. Os equipamentos topográficos tinham suas limitações. O presente trabalho tem por finalidade, fazer uma análise numa porção de terras, entre o que foi planejado e o implantado, tomando como base os mapas da colônia, marcos e taipas remanescentes da época, utilizando-se para isto o rastreamento destes pontos com o receptor GPS, tecnologia com muita precisão. Os resultados mostraram que a implantação dos lotes da colônia, não foi de acordo com o projeto. Os pontos estudados não coincidiram com os vértices que ora foram planejados, sendo que numa linha de 39 lotes contínuos, a cada 100 m medidos, houve um acréscimo de 31 a 34 cm na distância. Palavras chaves: Topografia, GPS ABSTRACT In 1872 , with the resumption of the immigration movement in Brazil especially in the state of Rio Grande do Sul, many Italians settled in this state . Between 1875 and 1908 , 11 were sold and demarcated colonies , among them Alfredo Chaves in 1884 , and is responsible for the demarcation of plots , Julio da Silva Oliveira engineer. These lands located in the Serra Geral , had never been explored , with abundant vegetation and very rugged . Topographic equipment had its limitations . The present work has the purpose to analyze a portion of land between what was planned and implemented , based on the maps of the colony , landmarks and remnants taipas the time , using it for tracing these points with the receptor GPS technology with great precision. The results showed that the deployment of lots of the colony , was not in accordance with the design . The study points did not coincide with the vertices that now are planned , with a continuous row batches of 39 , each 100 m measured , there was an increase 31 to 34 cm in distance . Keywords:Topographic, GPS 1. INTRODUÇÃO Para realização de levantamentos topográficos há necessidade de pessoal habilitado, projetos e equipamentos adequados. A partir de 1884 foram demarcados vários lotes pelo Engenheiro Júlio da Silva Oliveira e sua equipe, para o estabelecimento dos imigrantes italianos na Colônia de Alfredo Chaves, hoje município de Veranópolis, Rio Grande do Sul– Brasil. A topografia da região, com relevo acidentado, áreas inexploradas e vegetação nativa abundante, aliado aos equipamentos limitados da época, tornaram os levantamentos um tanto difíceis. Hoje com o advento do rastreador GNSS – Global Navigation Satellite System, como instrumento de trabalho na coleta de dados no campo, combinado com programas de cálculo topográfico e programas de desenho apoiados por computador (CAD), houve a simplificação de uma tarefa que era demorada, complexa e dispendiosa. O presente trabalho visa fazer um comparativo entre o levantamento de campo realizado na época e o projeto pré-estabelecido. Para isto, tomou-se como referência de distâncias, o mapa das colônias de Alfredo Chaves, onde nesta porção estudada, os lotes possuem 275 metros e largura e 1100 m de comprimento, totalizando uma área de 302.500,00 m². Escolheram-se três marcos conhecidos no município, que pelas características e relatos dos proprietários de terras onde estão implantados os mesmos, não sofreram qualquer adulteração de posicionamento, desde a época da demarcação dos lotes. Com receptor GPS, definiu-se de maneira rápida e precisa o posicionamento desses três marcos e posteriormente realizou-se a análises comparativas com o projeto inicial. 2. HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO ITALIANA NO RS A vinda dos imigrantes italianos para trabalhar na agricultura faz parte do projeto de colonização do Império para povoar o Brasil. O projeto visava à substituição da mão-de-obra escrava pela livre, além de venda das terras. A Lei 608 de 1850 introduz a terra no mercado, que são sujeitas a compra e venda. As concessões imperiais são mantidas, o imperador pode oferecer as terras do Império aos brasileiros que as mereçam. Pobres, escravos mesmo libertos, mulatos e mestiços não merecem a concessão de terras, para eles não vigorava a lei do mercado. (Costa, 1998) O império tinha preferência em vender as terras para os pobres europeus, agricultores, casados de preferência, fazendo parte deste projeto, a vinda dos italianos. 2.1 As terras na época do Império As terras ocupadas no RS eram as Missões, a Campanha e o Litoral, a Serra Geral continuava à espera de povoadores, praticamente inexplorada, não era bem conhecida no final do século XIX. Nas matas não se podia criar o gado, por esta razão os sesmeiros que receberam as terras do Império, não utilizaram a Serra Geral. Era praticamente uma terra selvagem e sem perspectivas de ser explorada. No início do século XIX, as atividades agropecuárias e charqueadas fazem a riqueza econômica da Província, sendo o trigo o principal cultivo. A produção do trigo decai depois de 1814, devido as várias guerras e pragas que dizimam plantações. As charqueadas gaúchas, não conseguem enfrentar a concorrência das do Prata, que é de melhor qualidade e preço menor. Após o término da Revolução a população é insuficiente para aumentar a produtividade agrícola, que é de cerca de 180.000 habitantes em 1820, composta por 32.000 brancos, 5399 homens negros libres, 20.611 homens negros escravizados e 8.655 índios, segundo SaintHilaire (1974, p. 46). A partir de 1824, os imigrantes alemães são estabelecidos no estado, nos vales dos rios Sinos e Caí. Em 1872, a população da Província era de 446.926 habitantes (Saint-Hilaire, 1974, p. 23). O império necessita povoar o estado, para servir como mão-de-obra na agricultura e salvaguardar o território das constantes guerras de disputa entre os países vizinhos. Selecionou-se a terra para a colonização, isto é a Serra Geral ou a chamada “zona das matas” e depois se tratou de buscar imigrantes para comprá-las. Como o Rio Grande do Sul, está situado numa região estratégica, isto é, numa posição de disputa entre Espanha e Portugal, foi a região que mais colônias imperiais abrigou. Há grande procura de terras por parte dos colonos, tornando a província o centro da especulação imobiliária brasileira. Se o número de colônias do Rio Grande do Sul é o mais elevado do Brasil, os dados não se repetem em relação ao número de imigrantes entrados na província meridional. Ao que tudo indica, cerca de 16% do total de imigrantes italianos chegados no Brasil fixaram-se no Rio Grande (Costa, 1977, p. 69). O Ministério da Agricultura e da Inspetoria Geral de Terras organiza uma grande empresa colonial. Para buscar colonos europeus, são feitos contratos com companhias particulares, que vão se responsabilizar pelo transporte dos colonos europeus até a colônia. No Rio Grande do Sul são nomeadas comissões de terras, compostas geralmente por um diretor nomeado pelo governo; engenheiros, topógrafos e oficiais administrativos completam o pessoal técnico e administrativo. São necessários engenheiros para elaboração dos mapas, agrimensores para demarcação dos lotes, administradores das colônias, escriturários para acompanhar a operação de venda de terras e pagamento de dívidas. A maior parte dos imigrantes veio do Norte da Itália, do Vêneto, da Lombardia e de Trentino. (Costa, 1998). A região colonial italiana no Rio Grande do Sul é estabelecida na encosta superior do Planalto, entre os vales dos rios Caí e das Antas. A área destinada à colonização era de cerca de 337.440 ha, o que pressupõe a disponibilidade de 13.500 lotes rurais, de 25 hectares cada (Planta das antigas colônias, elaborada pela Diretoria de Obras Públicas do Estado do Rio Grande do Sul, de 1897). São terras devolutas que o Império possuía na Província, terras que os antigos sesmeiros não tomaram posse e nem legalizaram. A divisão de terras, nas colônias, obedece ao sistema de glebas contínuas, denominadas léguas. Cada légua era formada por um quadrilátero de 5.500 metros de lado. As léguas são divididas no sentido longitudinal por linhas denominadas travessões; em algumas léguas são demarcados dois ou três travessões, no sentido vertical. A partir do travessão, em ambos os lados, são demarcados os lotes. O número de lotes por travessão não era fixo; em média havia 32 lotes por travessão. O número médio de lotes por légua era de 132 (Giron, 1977, p. 23 ss.). Entre as seis colônias demarcadas ao longo das Antas são concedidas terras a particulares pelos governos imperial e provincial. As glebas de terras doadas pelo governo a nacionais servem de anteparo entre as colônias povoadas por estrangeiros. Tal sistema faz parte da política imperial de colonização. Os ricos recebem as terras enquanto os pobres as compram. Correspondem a nove sesmarias as terras dadas pelo governo aos particulares em áreas limítrofes àquelas destinadas à colonização. Os proprietários têm pra si e suas famílias tantas terras disponíveis quanto às destinadas aos mais de 50.000 colonos e suas famílias. No período compreendido entre 1875 e 1908 foram demarcadas e vendidas as terras de 11 colônias: Conde D’Eu (1875), Dona Isabel (1875), Caxias (1875), Silveira Martins (1877), Encantado (1878), Alfredo Chaves (1884), Antônio Prado (1886), Jaguari (1889), Guarani (1890), Guaporé (1898), Erechim (1908), sendo que na Serra Geral são cinco as colônias, povoadas praticamente só por italianos. (Costa, 1998). O traçado das colônias lembra a forma de ocupação do Oeste dos Estados Unidos, onde a divisão dos lotes leva em conta os paralelos e meridianos e não limites naturais (Giron, 1977, p. 23 ss.). A localização das sedes-colônias da região é simétrica: marcadas nos vértices de um paralelogramo. No lado sul os vértices são ocupados pelas sedes das colônias Caxias e Dona Isabel, distantes uma da outra 48 quilômetros. No lado Norte os vértices são ocupados pelas sedes de Alfredo Chaves e Antônio Prado, separadas por 43 km. Os lados do paralelogramo têm cerca de 45 km. (Costa, 1998). 2.2. Fundação da Colônia de Alfredo Chaves Assim que a colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves) estava literalmente ocupada de forma espontânea, alguns imigrantes começaram a atravessar o rio das Antas em busca de terras para a agricultura. Isto concorreu para que o Governo providenciasse a fundação de mais uma colônia, depois denominada Alfredo Chaves, “em homenagem ao político Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves, que em 1875 foi Diretor Geral da colonização e faleceu no Rio, em 1894” (POSENATO, 1987/v). Em 1884 foi criada a colônia Alfredo Chaves sob a direção do engenheiro Dr. Júlio da Silva Oliveira, que com aproximadamente 40 pessoas, entre engenheiros, topógrafos, escrivães, ajudantes e até alguns capangas, coordenou o traçado das colônias. Também foi ele que projetou a cidade de Alfredo Chaves, hoje Veranópolis. A colônia de Alfredo Chaves fazia parte de terras devolutas do município de Lagoa Vermelha e suas confrontações eram; ao norte, com o arroio Caçador e por uma linha seca que ia para oeste até o Rio da Prata; ao sul, pelo Rio das Antas; ao leste com o Rio da Prata e ao Oeste com o Rio Carreiro. Para o traçado das colônias a referência era a Estrada Buarque de Macedo, na época mais imaginária que real, (caminho de algum tropeiro que de Lagoa Vermelha seguia até Montenegro) que dali foi traçada as linhas. “Ponto de partida foi Sapopema. Dessa altura, tanto para Leste como para Oeste, fez-se a divisão das Linhas, popularmente conhecidas pelo número que recebiam. (...) Linha adentro, em cada 275 metros de frente por mil e cem (1.100) de fundos. Para o sul as linhas chegavam até próximo ao rio das Antas. Para o Norte, até os campos de Lagoa Vermelha”. (DIONÍSIO VERONESE, Colônia Alfredo Chaves – 100 anos de história religiosa, p. 3). Por ser uma área totalmente tomada por florestas, relevo altamente declivoso, com muitas escarpas, paredões, rios etc., o trabalho de demarcação dos lotes foi árduo, por parte da equipe do Eng. Júlio de Oliveira. Não encontramos na bibliografia, os equipamentos utilizados para a demarcação dos lotes, contudo topógrafos antigos do município sempre comentavam em correntes, balizas, bússola e depois surgiu o teodolito. Não se sabe se o mesmo já era usado por parte dos agrimensores da época. Na implantação dos lotes foram colocados marcos de pedras nos vértices dos lotes e como o terreno era muito pedregoso, aproveitaram-se as pedras para serem construídas taipas (cercas de pedras) nas divisas dos lotes. 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. Topografia 3.1.1 Generalidades Segundo Lelis Espartel (1975), topografia é a parte da engenharia que trata de princípios e métodos para determinar o contorno, dimensão e posição relativa de uma porção limitada da superfície terrestre, inclusive os fundos dos mares e interior de minas. É a descrição e representação de uma superfície. Para isto é necessário fazer um levantamento topográfico, isto é, medição de distâncias e ângulos, após cálculos para representação no papel da porção de terras levantada. O levantamento topográfico é planimétrico, quando todas as medições são baseadas num plano horizontal de referência , ele é altimétrico quando são calculadas as diferenças de nível.A representação dos dados colhidos no campo é o desenho topográfico, que sempre deve ter uma escala e orientação. 3.1.2 Levantamentos convencionais Para execução dos mesmos há necessidade de medição de distâncias e ângulos. As distâncias são medidas com trenas, correntes, fitas de aço e posteriormente surgiu o distanciômetro eletrônico. São utilizados piquetes de madeira nos extremos dos alinhamentos e balizas de metal para fazer o alinhamento entre os piquetes. Os ângulos são medidos com aparelhos próprios, tipo trânsito, ou teodolito. 3.1.3 Levantamentos com estação Total A estação total é um aparelho eletrônico em que mede os ângulos e as distâncias no levantamento topográfico. Seria uma junção do distanciômetro e o teodolito, porém com muitos outros recursos (armazenamento de dados, cálculo das coordenadas X, Y, Z, etc.) 3.2 Posicionamento Atribuindo coordenadas a um objeto, você está posicionando-o. Na antiguidade, no início da navegação marítima, o homem usava como fonte de orientação, o sol, as estrelas e os planetas. Quando surgiu a bússola houve uma grande revolução, mas não sabiam ainda como posicionar uma embarcação em alto-mar. Surgiu o astrolábio, que calculava a latitude. Entretanto a longitude continuava sendo um problema científico do século XVIII. Com o passar dos anos e o avanço na eletrônica foram desenvolvidos alguns sistemas para o posicionamento (Loran, Decca e Omega), que funcionavam bem, somente na faixa costeira, onde se baseavam por ondas de rádio. Outro sistema desenvolvido foi o NNSS (Navy Navigation Satellite System), baseado em satélites artificiais (Seeber, 1993), mas existiam poucos satélites e não tinha como se obter uma posição precisa. Na década de 1970, um sistema desenvolvido pelos EUA chamado NAVSTAR-GPS (Global Positioning System), revolucionou as atividades que dependiam da determinação de posições. Paralelamente a antiga URSS, desenvolveu o GLONASS (Global Orbiting Navigation Satellite System) e no final da década de 1990, a Agência Espacial Européia, desenvolveu o GALILEO. Estes sistemas têm sido chamados de GNSS (Global Navigation Satellite System – Sistema Global de Navegação por Satélite) (Mônico, 2008). 3.2.1 Sistema GPS O NAVSTAR-GPS, ou apenas GPS, como é mais comumente conhecido, é um sistema de radionavegação desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos – DoD(Departamento of Defense). A alta acurácia proporcionada pelo sistema, fez com que várias áreas da comunidade civil o utilizassem (navegação, posicionamento geodésico, agricultura, controle de frotas, etc.) A grande vantagem da tecnologia GPS, é que não há necessidade de intervisibilidade entre as estações, além de poder ser utilizado em quaisquer condições climáticas. O GPS foi declarado operacional em 27 de abril de 1985, com 24 satélites em órbita. No final de 2005, 29 satélites estavam operacionais e, em junho de 2007, havia 30 satélites (Mônico 2008). Ele consiste de três segmentos principais: Espacial, Controle e de Usuários. Enquanto o primeiro está associado com a constelação dos satélites e seus sinais, o de Controle monitora e faz a devida manutenção do sistema. Do ponto de vista conceitual, pode-se afirmar que o posicionamento com o GPS tem princípios simples. Os satélites, que compõem o GPS, orbitam a Terra transmitindo sinais de rádio continuamente em duas frequências da banda L. Funcionam como “estações de rádio em órbita” transmitindo idênticas “programações” em duas frequências distintas. Todos os satélites são monitorados permanentemente e têm sua posição no espaço conhecida. Essas posições no espaço (órbitas) são transmitidas da Terra aos satélites. Estes, por sua vez, as retransmitem em seu sinal ou “programação”. Qualquer usuário pode recebelas em seus “aparelhos de rádio especiais”, os receptores GPS Um receptor GPS, além de entender a programação transmitida pelos satélites, é capaz de calcular a distância entre sua antena e cada um dos satélites “visíveis” pelo observador. A distância entre o receptor e o satélite é calculada pelo tempo que a “programação” (sinal GPS), gerada no satélite, leva para chegar até a antena receptora. Como o sinal viaja através da atmosfera com a velocidade da luz, a distância é obtida pela multiplicação desta pelo tempo que o sinal levou para chegar ao receptor. (Gomes, 2001) Por imposição geométrica, para determinar as coordenadas da antena, é necessário calcular a distância entre o receptor e pelo menos quatro satélites, em um mesmo instante. Essa imposição implica que o receptor deve estar sintonizado com pelo menos quatro satélites durante a recepção do sinal. O conhecimento da posição de cada um dos quatro (ou mais) satélites e das respectivas distâncias até a antena do receptor permite utilizá-los como pontos de referência para a determinação de posições na Terra. (Mônico, 2008) A velocidade do sinal gerado no satélite é afetada ao atravessar as diversas camadas da atmosfera. Isso resulta em erros que contaminam o resultado da coordenadas obtidas pelo receptor. Além disso, há uma incerteza da ordem de alguns metros na posição dos satélites em cada uma das órbitas, bem como uma imprecisão no relógio existente no receptor. Estes fatores contribuem para gerar um erro nas coordenadas obtidas pelo receptor GPS. Para se corrigir esse erro, a opção mais comum é utilizar um segundo receptor (base ou estação de referência), estacionado sobre um ponto de coordenadas conhecidas, que opera simultaneamente com o utilizado na determinação das coordenadas do usuário (móvel ou “rover”). (Gomes 2001) Este procedimento permite calcular, no receptor base, o erro que está sendo cometido na determinação das coordenadas da unidade móvel. A aplicação deste erro às coordenadas permite “corrigir” a posição e melhorar substancialmente os resultados. Esta técnica é conhecida como posicionamento diferencial ou DGPS. A correção é feita em microcomputadores que calculam os erros e refinam as coordenadas obtidas. É a fase de processamento (correção) diferencial dos dados. 3.3.2 GLONASS O GLONASS é um sistema similar ao GPS, que foi concebido no início da década de 1970 pela antiga URSS e atualmente é desenvolvido pela Russian Federation Sapace Forces. O GLONASS foi declarado totalmente operacional no fim de 1995, com uma constelação de 24 satélites (Mônico 2008). 4.0 LOCALIZAÇÃO Figura 1 - Localização da área de estudo 5.0 MATERIAL E MÉTODOS Para realização deste trabalho, foi utilizada a planta da Colônia de Alfredo Chaves, elaborada pelo Engenheiro Júlio da Silva Oliveira, em 1884, na escala de 1/80.000, a qual foi reproduzida e recuperada na gestão do Prefeito de Veranópolis, Leonir Antônio Farina, em outubro de 1992 (figura 2). Também foi utilizada a planta do Município de Alfredo Chaves na escala de 1/50.000, reproduzida e recuperada na gestão do Prefeito acima nominado, em novembro de 1992. Para o levantamento de campo foi utilizado um par de receptores GPS Topcon Hiper, de dupla frequência L1/L2, servindo um receptor de base e o outro de rover. Os dados foram processados no programa Topcon Tools, resultando coordenadas UTM no sistema SIRGAS 2000 e transformadas em plano local através do programaTopo EVN. Para desenho, foi utilizado o AutoCad versão 2010. 5.1 Levantamento de campo Para reduzir o tempo efetivo do levantamento foi feito um planejamento de quais pontos seriam levantados, além dos três marcos de referência do presente estudo. Estes pontos teriam que ser vértices ou alinhamentos de lotes consolidados por cercas e taipas, e passiveis de ter uma boa recepção de sinal. Foram então definidos 16 pontos que, por experiência, teriam as características acima descritas. Os três marcos, possivelmente, nunca foram adulterados quanto a sua posição inicial, visto que os proprietários lindeiros a eles sempre fazem menção de que os mesmos já eram conhecidos desde seus antecessores. Um deles tem a numeração talhada no próprio marco (número 1), enquanto outro tem uma cruz lapidada no topo, indicando um marco de canto de divisa de quatro colônias. Hoje, poucos marcos fidedignos restaram para identificar o vértice de um lote na área rural do município de Veranópolis. Muitas taipas, construídas pelos primeiros proprietários, servem de divisa entre os lotes, mas facilmente verifica-se que o alinhamento entre os pontos extremos do lote não é constituído numa única reta. O levantamento foi realizado em dois dias contínuos, 04 e 05 de fevereiro de 2014, no município de Veranópolis. Escolhido o local onde a base ficaria (chapa de concreto), materializou-se um pino de metal onde instalou-se o receptor, que ali ficou mais de quatro horas recebendo sinais dos satélites, gravando os dados a cada cinco segundos, numa elevação de 15º. Percorreu-se o município com um automóvel, até localizar o ponto pré-estabelecido. Ali foi instalado o receptor (rover) e o mesmo ficou no mínimo 15 min recebendo dados. No primeiro dia, foram colhidos dados de nove pontos nominados, no presente trabalho, de 01 a 09 sendo que o mais distante ficou em torno de 12 km da base. Dando continuidade ao trabalho, no dia seguinte foram rastreados mais 6 pontos, nominados de 10 a 15, sendo que o mais distante estava em torno de 13 km da base. Descrição dos pontos coletados: 1= marco = vértice de lote 2= canto de taipa = alinhamento norte/ sul do lote 3= meio-fio = alinhamento norte/sul do lote 4= canto de taipa = vértice de lote 5= canto de taipa = vértice de lote (não fixou) 6= canto de taipa = vértice de lote 7= eixo de estrada = alinhamento da linha e provável vértice de lote 8= eixo de estrada = alinhamento da linha e provável vértice de lote 9= canto de cerca = alinhamento da linha 10= canto de taipa = vértice de lote 11= marco = vértice de lote 12= estrada = alinhamento norte/sul do lote 13= taipa = alinhamento da linha 14= marco = vértice de lote 15= estrada = alinhamento norte/sul de lote e provável alinhamento da linha. Após o processamento dos dados, os pontos foram transferidos para o Auto CAD. Como referência da Linha leste/oeste das colônias, foi traçada um segmento entre o ponto 11(marco) e um ponto a 1100 m ao norte do ponto um (marco), de maneira que estas duas retas se tornassem perpendiculares entre si. A partir destas retas foram traçadas retas paralelas na distância de 1100 m, para o norte e para o sul, que é a dimensão do comprimento do lote, e de 275 m para oeste, que é a largura do lote, compondo assim a grade das colônias projetadas pelo Eng. Júlio de Oliveira Figura 2 – Planta de Alfredo Chaves. Fonte: Prefeitura Municipal de Veranópolis 6.0 RESULTADOS Através de software Topcon Tools foram calculadas as coordenadas x, y, z, em UTM, demonstradas na tabela 1. O ponto 05 não fixou, possivelmente devido à vegetação arbórea existente nas proximidades do mesmo. Tabela 1. Coordenadas UTM dos pontos, Zona 22 ponto X Y 01 445671,150 6797509,066 02 444305,512 6797455,612 03 445648,223 6798615,151 04 444827,070 6798581,027 05 x x 06 441235,370 6798510,136 07 440703,979 6797369,862 08 441620,169 6796390,816 09 441619,483 6795316,980 10 436276,065 6798419,183 11 435172,970 6798397,577 12 433699,023 6800476,941 13 435956,771 6800623,027 14 445622,025 6800820,303 15 444859,614 6796415,392 base 446766,565 6799019,128 Z 649,914 553,602 638,969 624,681 X 604,086 569,995 566,876 589,157 594,214 638,291 438,435 589,104 663,552 586,521 685,621 A figura 3 demonstra uma imagem da situação onde os pontos foram coletados e, logo a seguir, a figura 4 demonstra a localização destes pontos na grade em UTM. Figura 3 – Imagem com a situação dos pontos. Fonte: Google Earth Figura 4 – Localização dos pontos em relação à grade UTM A Tabela 2 mostra as coordenadas em plano local, o que possibilitará calcular as distâncias entre os pontos coletados e fazer um comparativo com o projeto inicial. Tabela 2. Coordenadas em plano local ponto 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 X 144668,4854 144615,1458 145774,9223 145740,8652 145670,3054 144529,7308 143550,2878 142476,1227 145579,8496 145558,3596 147638,5307 147784,4129 147980,7836 143574,5470 Y 95646,4580 94280,2680 95623,5217 94802,0362 91208,9040 90677,3042 91593,8547 91593,1654 86247,6834 85144,1725 83669,6760 85928,2686 95597,3130 94834,5933 Z 649,914 553,602 638,969 624,681 604,086 569,995 566,876 589,157 594,214 638,291 438,435 589,104 663,552 586,521 A figura 5 mostra a área de estudo, onde estão localizados os três marcos. Já a figura 6 mostra em detalhes onde os marcos deveriam estar localizados, conforme o projeto. Na tabela 3 é possível observar as distâncias dos segmentos que passam pelos três marcos, ou seja, o segmento do ponto 01 ao ponto 14 (01-14), o segmento entre o ponto 01-11 (01-11) e o segmento do ponto 11 ao 14 (11-14). Tabela 3 - Distâncias entre marcos Projetado Real Delta Segmento (m) 01-11 10.507,735 10.539,918 +32,183 01-14 3.300,000 3.312,663 +12,663 11-14 10.679,068 10.730,158 +51,09 . Verifica-se, então, que todas as distâncias entre os marcos estudados têm dimensões maiores que o projeto. A princípio, a expectativa inicial era de que as distâncias entre as projetadas e reais não teriam diferenças muito contundentes. Ao serem instaladas as colônias, sabe-se da dificuldade da época em termos de tecnologia, aliadas às condições locais, como relevo íngreme, pedregoso e tomado por florestas. Conhecedor da área, observa-se que estas diferenças se deram em locais onde existem paredões, grotas e escarpas. A tabela 4 mostra os resultados, em metros, das diferenças em X e Y de cada ponto calculado em relação ao projeto inicial. Na coluna X, sendo o sinal positivo, significa que o vértice atual deveria estar a leste, e sendo negativo a oeste, na medida descrita. Se o sinal na coluna Y for positivo, o vértice deveria estar ao norte; se negativo, ao sul na medida descrita. O ponto 11, que é um marco estudado, está 32,36 m a oeste da posição projetada. Isto significa que entre este ponto e o alinhamento norte/sul das colônias, onde as mesmas começaram a serem medidas, há uma “sobra” na dimensão descrita. Seguramente, esta “sobra” deve-se ao relevo muito íngreme entre este alinhamento estudado. Como as medidas foram feitas por correntes, e nem sempre estavam perfeitamente niveladas, a distância se daria numa medida menor, mas, ao contrário, foi superior à projetada. Sugere-se que, possivelmente, era costume da equipe deixar uma “sobra” na medida. Na figura 5, temos o mapa dos lotes da Colônia de Alfredo Chaves com a área de estudo destacada, já na figura 6 a localização dos marcos conforme projeto e poligonal resultante dos marcos que foram rastreados e levantados. Figura 5- Mapa dos lotes da Colônia de Alfredo Chaves e área de estudo Figura 6 – Localização dos marcos conforme projeto Tabela 4 - Diferenças em X (m) e Y (m) em cada ponto em relação ao vértice do lote projetado Ponto 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 Delta X 0,00 -8,02 0,78 -2,22 16,60 20,94 -50,82 -28,62 28,64 32,36 89,91 28,85 17,19 8,60 Delta Y 0,00 25,97 -6,67 10,93 9,51 39,22 -63,18 -89,24 0,61 0,00 90,72 -9,91 12,62 -22,54 Dist (m) 0,00 27,18 6,72 11,15 19,14 44,46 81,08 93,72 28,65 32,36 127,72 30,50 21,33 24,13 A tabela 5 faz uma comparação entre pontos tomados na mesma linha. Tabela5 - Análise entre segmento projetado e medido Segmentos 01-02 02-07 03-04 04-06 06-10 10-11 14-12 projetado 1.375,00 3575,00 825,00 3.575,00 4950,00 1.110,00 11.825,00 real 1366,91 3.603,91 821,95 3.593,82 4962,04 1.103,72 11.931,79 delta -8,09 28,91 -3,05 18,82 12,04 3,72 106,79 Observa-se, então, que quando são feitas relações entre os cantos já estabelecidos dos lotes, os erros são menores que quando tomados como a linha base inicial norte sul, onde começaram a serem medidas as colônias. O ponto 11 (marco) deveria estar a uma distância de 10.450,00 m do primeiro lote demarcado nesta linha, porém, está 32,36 m mais distante que o projetado. Fazendo um comparativo com um lote mais próximo na mesma linha, isto é, o ponto 10, ele está 3,72m a mais do que o projetado. Analisando esta relação, vê-se que as medidas são acrescidas no campo em torno de 31 a 34 cm a cada 100 metros medidos. 7.0 CONCLUSÃO Ao concluir este estudo, pode-se perceber que a menor diferença foi verificada no ponto 10 na coordenada Y, isto é, o ponto está somente a 0,61 m ao sul do projetado. Já a maior diferença foi verificada no ponto 12 na coordenada Y, onde o ponto está a 90,72 m ao sul do projetado. Constatou-se, que sempre há uma diferença entre a medida projetada e a locada no campo. Isso leva a perceber que caso hoje, utilizando-se a tecnologia GNSS, estas colônias fossem demarcadas novamente, haveria uma “sobra” de terras na linha leste/oeste. Outra constatação é que nas projeções da coordenada Y ora há valores positivos ora negativos, o que indica que a linha onde seria a cabeceira ou fundos da colônia traça como que uma linha em zigue-zague quando, na prática, esta deveria ser uma linha única, reta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, Rovílio; COSTELLA, Irineu; SALAME, Pedro; SALAME, Paulo.Imigração Italiana no Rio Grande do Sul: vida, costumes e tradições.EST – Porto Alegre, 1974. GIRON, L.S. Caxias do Sul: Evolução Histórica. EST – Porto Alegre, 1977. COSTA, Rovilio. Raízes de Veranópolis.EST – Porto Alegre, 1988. FARINA, Geraldo.História de Veranópolis: 1889-1992. Editora Prefeitura Municipal de Veranópolis. Veranópolis, 1992. ESPARTEL, Lelis; LÜDERITZ, João.Caderneta de Campo.3ª. Edição. Editora Globo – Porto Alegre, 1975. MONICO, João Francisco Galera. Posicionamento pelo GNSS – 2ª. Edição. São Paulo – Editora UNESP, 2008. GOMES, Edaldo. Medindo Imóveis Rurais com GPS. LK-Editora. Brasília 2001.