UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO FELIPE LUIZ NEVES BEZERRA DE MELO A CORRUPÇÃO BUROCRÁTICA INIBE O EMPREENDEDORISMO? UMA ANÁLISE EMPÍRICA DOS ESTADOS BRASILEIROS Natal/RN Janeiro de 2014. FELIPE LUIZ NEVES BEZERRA DE MELO A CORRUPÇÃO BUROCRÁTICA INIBE O EMPREENDEDORISMO? UMA ANÁLISE EMPÍRICA DOS ESTADOS BRASILEIROS Dissertação de Mestrado apresentado à Coordenação do PPGA da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final na conclusão do curso de Mestrado em Administração. Orientador: Luciano M. B. Sampaio, Dr. NATAL-RN Janeiro de 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO A CORRUPÇÃO BUROCRÁTICA INIBE O EMPREENDEDORISMO? UMA ANÁLISE EMPÌRICA DOS ESTADOS BRASILEIROS FELIPE LUIZ NEVES BEZERRA DE MELO Dissertação apresentada e aprovada em 23 de janeiro de 2014, pela banca examinadora composta por seguintes membros: Luciano Menezes Bezerra Sampaio, Dr. Presidente Raquel Menezes Bezerra Sampaio, Dr. Examinador Interno Giácomo Balbinotto Neto, Dr. Examinador Externo à instituição Natal, Janeiro de 2014. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao professor Luciano Sampaio. Não teria avançado em meu desenvolvimento pessoal e acadêmico sem a sua orientação. Imagino que a conclusão do curso de mestrado não seria possível sem seu suporte. Você é o grande líder do nosso grupo. Suas lições são dadas a partir do exemplo. É o modelo de professor e pesquisador que desejo ser. Além da relação acadêmica, acredito que ao longo desse período, construímos uma amizade sólida e valiosa que pretendo manter para a vida toda. Amizade fruto também das nossas semelhanças, como o apreço pelas obras de Vargas Llosa. Agradeço profundamente por ter lutado por mim no programa. O momento decisivo da minha trajetória foi saber que seria seu orientando. Astrolábio e capitão da nossa caravela rumo ao conhecimento, jamais negarei uma ordem ou pedido seus. Agradeço também ao professor Mauro Lemuel por gentilmente ter me liberado do nosso acordo prévio de orientação. Outro grande responsável pela realização deste trabalho é Renato Lima. Gostaria de agradecê-lo por ter contribuído com referências, ideias e apoio no caminho para a construção desta pesquisa. Foi uma verdadeira honra poder trabalhar com um doutorando do MIT. Sua dedicação e atenção me deixaram lisonjeado. Espero que essa parceria continue em artigos futuros. Agradeço também à professora Raquel Sampaio, por seu olhar clínico e dedicação à academia. Suas apresentações e comprometimento aos nossos grupos de pesquisa me fazem evoluir cada vez mais. Além disso, sua participação na banca de qualificação trouxe elementos que me fizeram aprimorar esta pesquisa. Com relação à qualificação, também agradeço ao professor Luciano Ferreira por suas contribuições. Realizo um agradecimento prévio ao professor Giacomo Balbinotto, por atravessar o país e participar da banca de defesa de dissertação. Para mim é uma honra contar com a apreciação crítica de um dos principais expoentes nacionais da temática abordada nesta dissertação. Gostaria de citar os meus colegas de base de pesquisa: Fernanda Julyanna e Marcelo Bila. Fernanda foi minha grande companheira ao longo do mestrado. Não tenho palavras para dizer o quanto estimo sua amizade. Seu comprometimento me motiva cada vez mais a seguir me aprimorando continuamente. Fico extremamente feliz de poder continuar nossa parceria no doutorado. Serão mais 4 anos de alegrias, momentos de tensão e companheirismo. Marcelo Bila é responsável por sempre trazer alegria à sala 10. É um grande prazer ter um amigo como você. Também gostaria de citar os colegas Adauto Valentim, Yuri Padilha, Marcos Paulo, Leandro Trigueiro-Fernandes, Joyce Mariella e Anna Cecília. Adauto Valentim pela amizade forte. Desejo êxito em sua jornada em Recife. Encontramo-nos no sanduíche; Yuri Padilha é meu grande companheiro de filosofia popular. Nossas discussões e antagonismos enriqueceram bastante os debates regados a sarapatel (picado) no bar do U1000de Tião; Marcos Paulo é o benchmark dos doutorandos. Sempre dedicado, tranquilo e sábio. Nossas conversas me fizeram amadurecer emocionalmente e intelectualmente; Leandro e seu jeito peculiar me fizeram dar boas risadas. Aprendi bastante com seus discursos eloquentes e jeito impecável de se vestir; Joyce Mariella e Anna Cecília são pessoas que adorei conhecer. Joyce pelo seu jeito despojado, eufórico e encantador, Anninha pela ternura e ensinamentos. Registro também o apoio recebido do CNPQ, e o suporte da coordenação do PPGA e de todos que compõem o nosso estimado programa. Menciono especialmente os docentes: Prof. Anderson Mól, prof. Manoel Veras, Prof. Miguel Moreno, prof. Afrânio Galdino e prof. Luciano Ferreira, por enriquecerem o nosso programa. Cito os funcionários Tiago, Beth e Gilberto, da coordenação do PPGA. Aos que não estão diretamente relacionados ao mundo acadêmico, agradeço à minha mãe, dona Ivete, por me apoiar nos momentos difíceis, e se orgulhar nos momentos de felicidade. Obrigado por me ensinar a ser gente, mãe. In memoriam, agradeço ao meu pai, Dr. Marcondes, por me ensinar a ser homem. Os poucos anos que convivemos foram fundamentais para que eu sempre buscasse o caminho do saber. Tenho certeza que se o senhor pudesse saber quem me tornei, ficaria orgulhoso. Sou um leitor compulsivo graças ao senhor, eterno pai. Menciono o meu irmão Fernando, por ser o arcanjo protetor de nossa família. Você é nossa fortaleza. Outro grande apoiador é o meu tio Eduardo Lincoln. Um exemplo de integridade. Obrigado por sempre me tratar como um filho. E como não citar Vanessa Azevedo... Você sempre deu suporte em todos os momentos que estive em dificuldades. Os momentos que não pude estar perto de você foram por um motivo maior. Obrigado por estar sempre presente. Por fim, dedico um parágrafo ao meu eterno Mestre, Marcelo Henrique Neves. Você foi o primeiro a acreditar em mim. Mostrou-me um caminho. E quando eu estava sem um rumo profissional claro, no meio da neblina, você foi um protetor, guru e amigo. Serei grato eternamente. Nada disso seria possível sem seu apoio. E cada conquista que eu tiver na vida, sempre irei lembrar da nossa amizade. Espero que nossas parcerias continuem até o fim da vida. E tenho fé de um dia ver o nosso verdão, Alecrim F.C., alcançar um lugar de destaque no futebol nacional. “A ciência, meu rapaz, é feita de erros, mas de erros benéficos, já que conduzem pouco a pouco à verdade.” Júlio Verne RESUMO O presente estudo tem por objetivo verificar a relação entre empreendedorismo e incidência da corrupção burocrática nos estados brasileiros e Distrito Federal. A principal hipótese do estudo é que a abertura de empresas nos estados brasileiros é afetada negativamente pela incidência da corrupção. O referencial teórico é dividido em Empreendedorismo; e Corrupção burocrática, com ênfase na perspectiva materialista (objetivista) do empreendedorismo e nos efeitos da corrupção burocrática sobre a atividade empreendedora. Através do método de regressão com dados em painel, foram estimados os modelos com dados agrupados e com efeitos fixos e aleatórios. Para mensurar a corrupção, utilizou-se o Índice Geral da Corrupção para os estados brasileiros (BOLL, 2010), e para representar o empreendedorismo, a abertura de empresas per capita por estado. Os resultados preliminares apontam que o modelo de efeitos aleatórios é o mais apropriado - testes de Chow, Hausman e Breusch-Pagan -, indicando um impacto positivo da corrupção burocrática sobre a atividade empreendedora, contrariando a hipótese esperada para o Brasil, e corroborando a proposição de Dreher e Gassebner (2011) de que, em países com alta regulamentação, a corrupção burocrática pode ser um “lubrificante” na abertura de empresas. PALAVRAS-CHAVE: Empreendedorismo. Corrupção burocrática. Dados em painel. ABSTRACT This work aims to investigate the relationship between the entrepreneurship and the incidence of bureaucratic corruption in the states of Brazil and Federal District. The main hypothesis of this study is that the opening of a business in Brazilian states is negatively affected by the incidence of corruption. The theoretical reference is divided into Entrepreneurship and bureaucratic corruption, with an emphasis on materialistic perspective (objectivist) of entrepreneurship and the effects of bureaucratic corruption on entrepreneurial activity. By the regression method with panel data, we estimated the models with pooled data and fixed and random effects. To measure corruption, I used the General Index of Corruption for the Brazilian states (BOLL, 2010), and to represent entrepreneurship, firm entry per capita by state. Tests (Chow, Hausman and Breusch-Pagan) indicate that the random effects model is more appropriate, and the preliminary results indicate a positive impact of bureaucratic corruption on entrepreneurial activity, contradicting the hypothesis expected and found in previous articles to Brazil, and corroborating the proposition of Dreher and Gassebner (2011) that, in countries with high regulation, bureaucratic corruption can be “grease in the wheels” of entrepreneurship. KEYWORDS: Entrepreneurship. Bureaucratic corruption. Panel data. SUMÁRIO 1 PARTE INTRODUTÓRIA .....................................................................................10 1.1 Contextualização e problema.....................................................................................10 1.2 Justificativa .............................................................................................................12 1.3 Objetivos da pesquisa ...............................................................................................14 1.3.1 Geral.........................................................................................................14 1.3.2 Específicos...............................................................................................14 2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................15 2.1 Empreendedorismo: uma perspectiva objetivista.................................................15 2.2 Corrupção burocrática: lubrificante ou areia nas engrenagens do empreendedorismo...........................................................................................................20 3 METODOLOGIA ......................................................................................................25 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................................30 5 CONCLUSÕES...........................................................................................................34 REFERÊNCIAS ............................................................................................................35 10 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização e Problema A relação entre Sociedade e Estado não está imune à incidência de atividades ilícitas. Determinados grupos buscam atender interesses privados através da corrupção de agentes ou instituições públicas. Em países onde as regulações governamentais são onerosas e há uma série de etapas complexas para a realização de atividades comerciais, há fortes evidências para suspeitar que haja corrupção de agentes públicos. Os agentes públicos são corrompidos visando o aceleramento de procedimentos ou consecução de regulações governamentais favoráveis, o que beneficia determinados grupos frente aos que não corrompem o sistema (CARRARO et alli, 2011; Mauro, 1995; 1998). Os estudos acerca de empreendedorismo apontam quatro fatores como alimentadores da atividade empreendedora: econômicos, socioculturais, pessoais e institucionais. Para este estudo a análise concentra-se no fator econômico, levando-se em consideração variáveis do ambiente que possam influenciar a atividade empreendedora. O termo empreendedorismo é empregado como a criação de uma empresa através da reunião de insumos produtivos para a geração de novos produtos ou serviços. A perspectiva objetivista do empreendedorismo enfatiza os aspectos materiais do ambiente como os principais motivadores de ações empreendedoras. Apesar de sua menor frequência na literatura frente à perspectiva subjetivista - na qual o indivíduo é o cerne da ação empreendedora, escolheu-se aportar-se teoricamente na perspectiva objetivista do empreendedorismo. Desse modo, o ambiente assume papel preponderante na explicação do empreendedorismo, sendo o comportamento empreendedor produto do meio (GÖRLING e REHN, 2008). A literatura sobre corrupção é bastante vasta no cenário internacional, entretanto, há poucos estudos empíricos que demonstrem os efeitos da corrupção sobre a atividade empreendedora, destacando-se os trabalhos de Ovaska e Sobel (2005), Dreher e Gassebner (2011) e Desai et alli (2003). De acordo com Dreher e Gassebner (2011), em países com excessiva regulamentação para criação de novos negócios, a corrupção burocrática possui efeito positivo na abertura de empresas, servindo como lubrificante das engrenagens da “máquina burocrática”. Esta hipótese também foi discutida por Leff (1964). O referido autor 11 afirmou que a corrupção pode ser um meio de solucionar regulamentações equivocadas do governo, pois apesar de eticamente imoral, a corrupção poderia trazer celeridade. Segundo o World Bank (2013), o prazo para regulamentar uma empresa no Brasil é de 119 dias, sendo o 5º país com menor celeridade na abertura de um novo negócio. São necessários 13 procedimentos burocráticos para que esta regulamentação seja concluída. Desse modo, considera-se o Brasil como um país com elevada regulamentação para formação de empresas. Para o Brasil, foram realizados os estudos empíricos de Carraro et alli (2011) e Palifka (2006). Carraro et alli (2011) demonstram a relação entre formação de empresas e corrupção, com dados de 2000 a 2005. Eles utilizaram o Índice Geral da Corrupção (IGC), desenvolvido por Boll (2010), e a taxa de abertura de empresas per capita para medir o empreendedorismo. Como controles, incluíram a Taxa Selic, a Taxa de Cambio e o PIB per capita. Segundo os autores, a incidência da corrupção afeta negativamente a atividade empreendedora, haja vista que suas implicações ao longo dos anos desestimulam a abertura de novas empresas, o que pode implicar redução no crescimento econômico de um país. Diante do exposto, propõe-se o seguinte problema de pesquisa: “Em que medida a corrupção burocrática afeta a abertura de novas empresas no Brasil?” 12 1.2 JUSTIFICATIVA Os estudos dos efeitos da corrupção sobre a atividade empreendedora apontam resultados divergentes, sendo encontradas evidências de que a corrupção burocrática pode afetar positiva ou negativamente a abertura de empresas. Dessa forma, este estudo se propõe a verificar a relação entre corrupção burocrática e empreendedorismo no Brasil, apontando os desdobramentos dos atos corruptos sobre um das principais forças motrizes do crescimento econômico brasileiro. Os dados necessários para a realização desta pesquisa estão disponíveis no Departamento Nacional de Registro Comercial – DNRC; Tribunal de Contas da União; Índice de Corrupção Estadual – Boll (2010); Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio – PNAD; Censos IBGE; Tesouro Nacional; dentre outros. A maioria dos estudos sobre efeitos da corrupção burocrática na atividade empreendedora foram realizados para diferentes países e utilizando índices subjetivos para mensurar a corrupção burocrática, destacando principalmente os índices da Transparency International – que é baseado na percepção de empresários acerca da incidência da corrupção – e do Banco mundial. Esta disssertação visa utilizar o Índice de Corrupção Estadual de Boll (2010), que consiste em uma estimação objetiva da corrupção burocrática nos Estados da federação. A utilização de um índice objetivo de mensuração de corrupção é de grande contribuição para a literatura sobre empreendedorismo e corrupção, pois possibilita a diminuição do viés de opinião existente na composição de índices subjetivos. Este trabalho também enriquece o debate sobre o empreendedorismo ao abordar empiricamente este conceito sob a óptica materialista (objetivista), haja vista grande parte dos estudos sobre o tema possuírem como unidade de análise o indivíduo (perspectiva subjetivista), existindo uma lacuna na literatura que explore aspectos materiais do ambiente e influencias institucionais sobre o empreendedorismo. No cenário internacional, destacam-se os estudos de Ovaska e Sobel (2005), Van Stel et alli (2003), El Harbi e Anderson (2010) e Dreher e Gassebner (2011). Para Dreher e Gassebner (2011) e El Harbi e Anderson (2010), a corrupção burocrática possui efeito positivo sobre a abertura de novas empresas, em contrapartida, Ovaska e Sobel (2005) demonstram que a corrupção burocrática afeta negativamente a atividade empreendedora. No cenário nacional, Carraro et alli (2011) encontraram efeitos negativos da corrupção 13 burocrática sobre a abertura de empresas no Brasil. Este estudo diferencia-se dos realizados internacionalmente ao ter como objeto de estudo um único país, e levar em consideração um índice objetivo de mensuração da corrupção burocrática. No contexto brasileiro, esta dissertação diferencia-se de Carraro et alli (2011) quanto a escolha das variáveis de controle, periodicidade dos dados (ampliando a amostra até 2008) e abordagem teórica. Quanto às variáveis de controle, o estudo dos referidos autores não levou em consideração algumas variáveis importantes citadas na literatura sobre empreendedorismo, como carga tributária e taxa de desemprego. O período da análise desta dissertação (2000 a 2008) é limitado devido os dados de abertura de empresas estarem disponíveis a partir do ano 2000, e o Índice de Corrupção Estadual estar disponível até o ano de 2008. Esta dissertação tem por objetivo verificar a relação entre Empreendedorismo e Corrupção burocrática para os Estados Brasileiros. Em geral, a hipótese considerada pela literatura brasileira é que o empreendedorismo é afetado negativamente pela corrupção burocrática. Utiliza-se o método de dados em painel para estimar modelos de regressão entre abertura de empresas e corrupção, utilizando como Proxy da incidência da corrupção o índice IGC (BOLL, 2010). A escolha das variáveis de controle foi baseada na literatura sobre empreendedorismo e corrupção burocrática: serão utilizados PIB per capita, PIB per capita ao quadrado, Número de agências bancárias por estado, Carga tributária estadual e Taxa de desemprego Estadual. 14 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral O presente trabalho tem por objetivo analisar o efeito da corrupção burocrática na atividade empreendedora brasileira. 1.3.2 Objetivos específicos a) Descrever as abordagens teóricas do empreendedorismo; b) Caracterizar a corrupção burocrática no Brasil e seus desdobramentos na atividade empreendedora; c) Mensurar, através de um modelo econométrico, o efeito da corrupção burocrática sobre a atividade empreendedora no Brasil, controlando para variáveis do ambiente de negócios. 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Empreendedorismo: uma perspectiva objetivista O papel do ambiente na taxa de abertura de empresas emerge na literatura sobre empreendedorismo (Tonelli, Brito, & Zambalde, 2011). Estudos como os de Dreher and Gassebner (2011), Ovaska and Sobel (2005), Stephen et al. (2004), Van Stel, Wennekers and Thurik (2003), Parker and Robson (2004), El Harbi and Anderson (2010) e Fisman and Sarria-Allende (2010) relacionam variáveis econômicas e institucionais com a abertura de empresas, baseando-se, desse modo, na perspectiva materialista e objetivista do empreendedorismo. Uma série de variáveis foi discutida teórica e empiricamente na construção de modelos visando compreender fenômenos associados à taxa de abertura de empresas. Do ponto de vista institucional, a integridade das instituições e a regulamentação do ambiente de negócios são as variáveis de maior relevância. Em relação à integridade das instituições, variáveis que captam o impacto da corrupção de instituições públicas são frequentemente empregadas. Para representar o grau de regulamentação do ambiente de negócios, o número de procedimentos burocráticos para a abertura de uma empresa é comumente utilizado em estudos que comparam países. Por este artigo tratar de apenas um país, tal variável mantem-se constante entre as observações. No que tange o aspecto econômico, variáveis como PIB per Capita, Disponibilidade de Crédito, Carga Tributária e Taxa de Desemprego foram empregadas em estudos anteriores, sendo retratadas na discussão a seguir. A importância do PIB per capita foi tratada por diversos autores, como Dreher and Gassebner (2011), Parker and Robson (2004), Ovaska and Sobel (2004) e Fisman and Sarria- 16 Allende (2010), no cenário internacional; e no Brasil, por Carraro et al. (2011). O PIB per capita é abordado como uma variável para representar o crescimento econômico. Seu emprego em modelos para explicar a atividade empreendedora visa captar o impacto da riqueza média da população na abertura de empresas (Parker and Robson, 2004). Do ponto de vista teórico, um PIB per Capita mais elevado representa uma situação favorável à constituição de empresas, haja vista a maior riqueza da população (Dreher & Gassebner, 2011). Parker and Robson (2004) corroboram essa visão ao afirmar que um PIB per Capita elevado pode indicar uma economia aquecida, com alta demanda por consumo, favorecendo a atividade empreendedora. Desai et al. (2004) acrescentam que um PIB per Capita mais elevado representa um maior potencial de mercado, favorecendo consideravelmente a atividade empreendedora. Entretanto, resultados divergentes foram encontrados por esses autores. Parker and Robson (2004) encontraram evidências empíricas do efeito positivo do PIB per capita sobre a atividade empreendedora, sendo corroborados por Carraro et al. (2011) e Fisman and Sarria-Allende (2010. Já Ovaska and Sobel (2005) não encontraram efeito estatisticamente significante do PIB per Capita sobre a abertura de empresas. Avançando teoricamente, Dreher and Gassebner (2011) apontam que a relação entre essas variáveis não é linear. Desse modo, a partir de um dado valor, essa associação torna-se negativa. Devido à distribuição em U, uma solução metodológica é a combinação do PIB per capita com seu termo quadrático, como indicado por Van Stel et al. (2003) e Verhuel et al. (2004). No que diz respeito à disponibilidade de crédito, a sua importância para a formação de empresas vem sendo discutida desde os autores clássicos, como Schumpeter (1942). Ovaska and Sobel (2005) afirmam que a disponibilidade de crédito auxilia a formação de novas empresas graças ao seu poder de alavancagem, permitindo que através de capital de terceiros, o empreendedor reúna os recursos necessários para a estruturação do novo negócio. Os respectivos autores encontraram resultados positivos e estatisticamente significantes da 17 disponibilidade de crédito sobre a formação de empresas. Desai et al. (2004) corroboram esta proposição, e acrescentam que as empresas de pequeno porte – objeto de estudo deste artigo – são mais sensíveis à disponibilidade de crédito que grandes firmas, dada a sua estrutura de capital. Em estudo realizado para o Brasil, Carraro et al. (2011) utilizaram a variável Taxa Selic para captar os efeitos da disponibilidade de crédito para a abertura de empresas. Desse modo, uma maior taxa de juros aumentaria o custo de obtenção de crédito, diminuindo a demanda por novos financiamentos. Entretanto, no presente estudo, optou-se pela não utilização desta variável, pois a Taxa Selic é constante entre os Estados brasileiros. Como uma alternativa à taxa Selic, Mettenhein (2005) sugere que um maior número de agências bancárias em uma região pode representar o aumento do volume de crédito, dado que a maior participação das agências contribuiria para a ampliação da capacidade de captar recursos da sociedade e direcioná-los para financiamentos, sendo uma proxy para a captação de recursos para formação de novos negócios. Em relação à carga tributária, uma maior cobrança de tributos pode representar uma barreira à entrada de novas firmas, pois comprometeria uma parcela significativa da lucratividade do negócio (Dreher & Gassebner, 2011). Entretanto, Van Stel et al (2003) não encontraram relação estatisticamente significante entre carga tributária e abertura de empresas. Já Parker and Robson (2004) e Desai et al (2004) encontraram uma relação positiva entre carga tributária e formação de empresas. Isso pode ser explicado pela provável relação endógena entre essas variáveis, pois uma maior cobrança de tributos poderia estar associada a uma maior geração de riqueza (Dreher & Gassebner, 2011). Ovaska and Sobel (2004) vão de encontro a essa argumentação ao apontar que uma das causas de sucesso na abertura de empresas é o grau de liberdade econômica de um país, que entre outros fatores, inclui uma baixa cobrança de impostos. No cenário brasileiro, a carga tributária não foi discutida teórica 18 ou empiricamente na literatura consultada. Devido à relevância teórica de tal variável e da divergência de resultados, se faz oportuno incluí-la no modelo proposto neste artigo. No tocante à relação entre a taxa de desemprego e a abertura de empresas, sua associação é frequente nos estudos consultados, como em Van Stel et al. (2003), Parker and Robson (2004) e El Harbi and Anderson (2010). Uma hipótese discutida por esses autores é que há uma relação positiva entre tais variáveis. Isso está relacionado ao empreendedorismo por necessidade, no qual o indivíduo sem atividade remunerada abre um novo negócio visando sua sobrevivência (Van Stel et al., 2003). El Harbi and Anderson (2010) endossam esse argumento ao apontar que em países em desenvolvimento, indivíduos desempregados tem um menor número de opções para se realocar no mercado de trabalho, sendo o autoemprego uma alternativa. Parker and Robson (2004) discutem duas perspectivas para explicar as associações divergentes entre empreendedorismo e desemprego. A primeira, corroborando El Harbi and Anderson (2010), aponta que através de um número restrito de oportunidades de trabalho, o empreendedorismo torna-se uma alternativa de ocupação, elevando a taxa de novas empresas. Já a segunda perspectiva indica que em cenários economicamente favoráveis, indivíduos podem se sentir mais confortáveis assumindo o risco de um novo empreendimento antes de exercer uma atividade remunerada, pois no caso do negócio falhar, eles ainda possuem um leque de oportunidades de trabalho. Ademais, Dreher and Gassbener (2011) acrescentam que em países com elevados benefícios sociais a desempregados, as taxas de empreendedorismo são reduzidas, pois se eleva o custo de oportunidade para um indivíduo tornar-se empreendedor. No que tange aos resultados encontrados nesses estudos, El Harbi and Anderson encontraram efeitos positivos para a relação entre desemprego e abertura de empresas. Já Van Stel et al. (2003) e Parker and Robson (2004) não encontraram resultados significantes. Para o Brasil, não foram realizados 19 estudos que correlacionem tais variáveis. Desse modo, uma contribuição teórica em relação à literatura nacional é a verificação dessa relação no cenário brasileiro. A Tabela 1 apresenta as variáveis de análise extraídas a partir da revisão da literatura. Tabela 1 Variáveis de análise Variável PIB per capita Justificativa O PIB per capita é um indicador do crescimento econômico, relacionando-se diretamente com o ambiente empreendedor. Autores Parker and Robson (2004), Dreher and Gassebner (2011), Carraro et al. (2011), Ovaska and Sobel (2005), El Harbi and Anderson (2010). Carga Tributária A carga tributária está associada à rentabilidade de um negócio. Uma cobrança elevada de tributos pode desestimular a abertura de uma empresa ao comprometer uma fração da lucratividade. Van Stel et al. (2003). Parker and Robson (2004), Desai et al. (2004). Acessibilidade a crédito (Agências Bancárias) A disponibilidade de crédito proporciona o capital inicial para a abertura de um novo negócio, bem como recursos para melhorias. Ovaska and Sobel Stephen et al. (2004). Taxa de desemprego O desemprego pode levar um indivíduo a abrir um negócio por necessidade, buscando um meio de sobrevivência (autoemprego). El Harbi And Anderson (2010), Parker and Robson (2004), Van Stel et al. (2003). Índice de Corrupção A elevada regulamentação do ambiente de negócios, aliada à baixa celeridade no processo de abertura de empresas pode gerar uma oportunidade para a corrupção de agentes públicos, visando à aceleração de procedimentos para a regulamentação de uma empresa. Dreher and Gassebner (2011), Carraro et al. (2011), Ovaska and Sobel (2005), El Harbi and Anderson (2010) e Parker and Robson (2004). Fonte: Elaborado pelo autor. (2005), 20 Outras variáveis foram discutidas na literatura, como grau de liberdade econômica, inflação e histórico socialista de uma localidade, entretanto, tais variáveis não foram incluídas por serem constantes para o país, e dessa forma, não sendo pertinentes à discussão. A seguir, é apresentada uma discussão sobre a relação entre corrupção burocrática e empreendedorismo, objetos de estudo deste artigo. 2.2 Corrupção Burocrática: lubrificante ou areia nas engrenagens do empreendedorismo? A administração pública é o conjunto de atividades e decisões que afetam a vida das pessoas, sendo realizadas em nome do povo e empregando recursos públicos visando atender horizontalidade e verticalidade às demandas dos cidadãos. O seu principal valor instrumental é a eficiência (HARMON E MAYER, 1999). No Brasil, o modelo que delineia a administração pública é a Nova Gestão Pública, caracterizando-se como um movimento reformista na gestão Pública sob o marco da eficiência, eficácia e produtividade. Neste sentido, supera-se o modelo burocrático, pouco responsivo e improdutivo (BRESSERPEREIRA, 2009, p. 2; BEHN, 1998, p. 5). Bresser-Pereira (2009, p. 1) revela que a reforma burocrática objetivou “transformar a administração pública [...] em um serviço profissional com base no Estado de direito e na competência técnica”. Entretanto, ainda que haja atividades regulatórias, a discricionariedade é inerente à administração pública. Paradoxalmente, os referidos elementos – regulamentação e discricionariedade – inerentes ao serviço público, permitem corromper o objetivo maior da administração pública – o bem estar coletivo – por proporcionar oportunidades de corrupção. A discricionariedade permite que o agente público detenha a possibilidade de tomar decisões sem a prestação direta de contas (MAURO, 1995; ROSE-ACKERMAN, 1996). Os primeiros estudos sobre os efeitos da corrupção na economia tiveram início na década de 1960, com Leff (1964) e Huntington (1968). Tais autores apontaram efeitos positivos da corrupção sobre a economia, hipótese posteriormente chamada na literatura sobre corrupção de “grease in the wheels”. Para esta corrente, o pagamento de propina 21 proporcionaria celeridade aos trâmites burocráticos e incentivos monetários aos agentes públicos, gerando maior eficiência. A corrupção possui caráter tanto público quanto privado, sendo o Estado e Mercado vetores interligados na prática da mesma. Apesar do caráter indissolúvel da corrupção, a literatura possui interpretações diferentes para a corrupção praticada na esfera pública (corrupção burocrática e corrupção política) e na esfera privada. Para este estudo será dada ênfase à corrupção burocrática. Entende-se corrupção burocrática como a ação do sujeito com poder legitimado pela sociedade a fim de cumprir tarefas públicas e que utiliza de tal capacidade em virtude de ganhos pessoais, causando, assim, um malefício ao interesse público através da violação das leis e regras administrativas (ANDWIG, 2000; SHLEIFER; VISHNY, 1993). Quadro 2 – Conceitos de corrupção burocrática Autor Conceito Leff (1964) A corrupção burocrática é uma instituição extralegal que é usada por agentes privados para obter influência sobre as instituições burocráticas. Klitgaard (1994) “O comportamento que se desvia dos deveres formais de uma função pública devido aos interesses de natureza pecuniária, ou que viole regras contra o exercício de comportamento ligados ao interesse privado”. Bayley (1976) “... um termo geral que se refere ao mau uso da autoridade como um resultado de ganhos pessoais, que não precisam ser necessariamente monetários.” Tanzi (1995) “... prática intencional com o objetivo de estabelecer um tratamento diferencial entre agentes econômicos (...) em um ambiente corrupto as relações pessoais ou familiares interferem nas decisões econômicas tomadas por agentes públicos e privados.” Kahn (1996) “Um comportamento que se desvia das regras formais de conduta pública, com o objetivo de ganhos privados, riqueza e status.” Rose-Ackerman “Pagamentos aos funcionários públicos ou agentes governamentais (1996) envolveriam corrupção quando eles são feitos de modo ilegal com o 22 objetivo de evitar um custo ou a consecução de um ganho.” Fonte: Adaptado de Garcia (2003). Desse modo, o agente corrupto age de forma deliberada e racional, confrontando a possibilidade de ganho e a possibilidade de ser punido. Para praticar a corrupção, o indivíduo necessitaria perceber ganhos mais elevados que o risco da sua ação, ou seja, a punição pelo seu ato (ROSE-ACKERMAN, 2012). No Brasil, a lei nº 8.429 de 1992 disserta sobre a improbidade administrativa no setor público. De acordo com o artigo 9º da referida lei: “Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei”. (BRASIL, 1992). Portanto, a corrupção burocrática corrobora a percepção de que a prática governamental pode ser vulnerável à ação praticada por indivíduos que atuam mediante grupos de interesse em virtude de sua própria agenda de discussão. E, em virtude dessa relação, se desdobram os comportamentos corruptos tendo em vista a realização de interesses individuais na busca de maximização dos ganhos de mesma ordem (CARRARO; HILLBRECHT, 2003). Governos que agem corruptamente reforçam sua estrutura burocrática a fim de criar espaços para a atuação dos “mercados paralelos”, causando morosidade e complexidade à atuação do serviço público, que será facilitada pela atuação ilícita (ROSE-ACKERMAN, 1975). Huntington (1968) afirma que, em se tratando de crescimento econômico, a única coisa pior que uma rígida, extremamente centralizadora e desonesta burocracia é uma sociedade com uma rígida, centralizadora e honesta burocracia. Dessa forma, a corrupção pode ser um modo de alcançar certos benefícios que tornam mais fácil a atividade econômica. Segundo Dreher e Gassebner (2011), em países onde existe excessiva regulamentação a corrupção burocrática possui efeitos positivos sobre a atividade empreendedora, gerando maior celeridade a procedimentos burocráticos relativos à abertura de novas empresas. Eles realizaram uma análise empírica para 43 países, durante o período 2003-2005, e utilizaram as variáveis PIB per capita e seu termo quadrático, histórico comunista do país, custos para se 23 abrir um negócio, prazo para se abrir um negócio, capital mínimo para se abrir um negócio, grau de liberdade econômica e os índices de corrupção da Transparência Internacional e do Banco Mundial. Entre os países da amostra com nível máximo de regulação, a corrupção possui efeito positivo sobre a atividade empresarial quando interage com variáveis como prazo para abrir um negócio e grau de liberdade econômica do país. El Harbi e Anderson (2010) propõem modelagens para avaliar quais arranjos institucionais favorecem o comportamento empreendedor, e que tipologia de empreendedorismo é resultante das variações institucionais, tendo como problemática central quais são os motores institucionais da inovação e auto-emprego. Foi realizada uma análise de dados em painel, com uma amostra abrangendo 36 países ao longo do período de 1995 a 2006, totalizando 432 observações. O estudo possui como variáveis dependentes a taxa de auto-emprego, do OECD no ano de 2008, para representar a atividade empreendedora do país, e no segundo modelo, foi utilizado o número de patentes anuais criadas por país, do World Intellectual Property Rights, para representar o grau de inovação tecnológica. Como variáveis independentes, foram utilizados os índices: Liberdade de negócios (procedimentos para abrir, manter e fechar um negócio), Liberdade de mercado (barreiras tarifárias), Liberdade de investimento (políticas do governo para investimento estrangeiro), Índice de corrupção percebida e Liberdade governamental (porcentagem da participação de despesas públicas no PIB, e receitas geradas por empresas estatais). Os resultados apontam que quando o índice de percepção de corrupção aumenta – O índice da transparência internacional possui escala invertida, quanto maior o seu valor, menor a corrupção percebida – a taxa de auto-emprego diminui, ou seja, quanto menor a corrupção burocrática em um país, menor a taxa de empreendedorismo. Isto parece contra intuitivo, mas uma possível explicação é que o autoemprego pode ter desenvolvido a capacidade de lidar com a corrupção numa base diária. Além disso, os trabalhadores independentes podem não ter opoder para evitar a corrupção e, conseqüentemente, podem passivamente renunciar a lidar com seus desdobramentos. Ovaska e Sobel (2005) analisam as taxas de atividade empresarial em economias póssocialistas, buscado encontrar as políticas e instituições que parecem ser mais altamente correlacionadas com o sucesso de um país (ou fracasso) na promoção da atividade empresarial. Foram estimados modelos de regressão com dados em painel tendo como variáveis dependentes a taxa de abertura de empresas (modelo 1) e patentes e marcas registradas (modelo 2). A amostra foi composta por 10 países do leste europeu durante os anos de 1995 a 2000, totalizando 52 observações para a estimação de abertura de empresas, e 24 54, para o modelo de patentes e marcas registradas. As empresas foram divididas em empresas de pequeno porte (até 49 empregados) e empresas de grande porte (mais de 49 empregados). Foram utilizadas como variáveis de controle: PIB per capita, Infraestrutura do país, Disponibilidade de crédito, Taxa de inadimplência, Corrupção burocrática, Índice de liberdade econômica, Investimento estrangeiro direto líquido, Taxas de importação e Taxas de inflação. O modelo de efeitos aleatórios mostrou-se o mais apropriado, e os resultados apontam que as variáveis: Disponibilidade de crédito e Corrupção burocrática são as principais variáveis para a explicação da abertura de empresas. A disponibilidade de crédito mostrou-se estatisticamente significante para a abertura de pequenas empresas, possuindo efeito positivo. Já a corrupção burocrática apresenta efeito negativo e estatisticamente significante em todas as estimações. Quadro 3 – Resumo dos principais estudos sobre empreendedorismo e corrupção. Autor Dreher e Gassebner (2011) Título Objetivo Greasing the wheels of entrepreneurship? The impact of regulation and corruption on firm entry. Investigar se o impacto da regulamentação sobre empreendedorismo depende da corrupção burocrática de um país. Método Dados em painel Resultados A corrupção burocrática é um lubrificante nas engrenagens do empreendedorismo em países com excessiva regulamentação. 25 Ovaska e Sobel (2005) El Harbi e Anderson (2010) Carraro et alli (2011) Entrepreneurship in post-socialist economies. Institutions and the shaping of different forms of entrepreneurship. Formação de empresas e corrupção: uma análise para os estados brasileiros Identificar políticas e instituições que parecem ser a mais altamente correlacionada com o sucesso de um país (ou fracasso) na promoção da atividade empresarial. Identificar quais arranjos institucionais favorecem o comportamento empreendedor e que tipologia de empreendedorismo surge. Apresentar a relação existente entre empreendedorismo e corrupção nos estados brasileiros, utilizando tanto uma abordagem teórica quanto evidências empíricas. Dados em Painel Dados em Painel Dados em Painel A corrupção burocrática apresenta efeito negativo e estatisticamente significante na abertura de empresas e na criação de patentes e marcas registradas. Quanto menor a corrupção burocrática em um país, menor sua taxa de empreendedorismo. A corrupção burocrática afeta negativamente a atividade empreendedora brasileira. Fonte: elaborado pelo autor. 3 METODOLOGIA A principal hipótese do estudo é que a corrupção burocrática afeta negativamente a atividade empreendedora brasileira. Utiliza-se dados em painel como método de análise de dados. A escolha por este formato de dados é justificada primeiramente pelo número limitado de observações para estados brasileiros (27) caso fosse utilizado um modelo de regressão múltipla com dados cross-sectional. Segundo Gujarati (2011), utilizar dados em painel proporciona dados mais informativos, com menor variabilidade, menos colinearidade entre as variáveis e um maior número de graus de liberdade, produzindo maior eficiência nas estimações. A análise de dados em painel pode captar mudanças ocorridas ao longo do tempo, como períodos de desemprego, mudança na política cambial e políticas de contenção da inflação, fatores que não poderiam ser observados em uma análise cross sectional. 26 Para a construção do modelo de dados em painel, foram propostos os modelos agrupados “Pooled”; Modelos com efeitos fixos (EF); e, Modelos com efeitos aleatórios (EA) (WOOLDRIDGE, 2010). No modelo de efeitos fixos a heterogeneidade dos indivíduos é captada pelo intercepto, onde cada observação poderá ter um intercepto individual. Sua utilização é recomendada quando o intercepto do indivíduo pode estar correlacionado com um ou mais regressores. O modelo de efeitos aleatórios, o intercepto de uma unidade individual trata-se de uma extração aleatória de uma população com o valor médio constante. O teste de Hausman é utilizado para a escolha entre modelo de efeitos fixos e aleatórios (GUJARATI, 2011). A amostra será constituída por 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. Os dados utilizados são referentes ao período de 2000 a 2008. O modelo proposto é apresentado a seguir: Abert = β0 + β1*ICG + β2*Pibperc +β3*(Pibperc)² + β4*desemprego + β5*cargatrib + β6*Bancos + µ Onde Abert representa a taxa de abertura de empresas per capita; ICG representa o índice de corrupção por estado; Pibperc representa o PIB per capita por estado em R$ 1.000,00; Desemprego representa a Taxa de desemprego estadual; A variável Bancos representa o Número de agências bancárias por estado. Cargatrib representa a Taxa de participação da receita tributária no PIB. As fontes dos dados das variáveis acima estão no Quadro 4. Quadro 4 – Fonte de dados das variáveis utilizadas no trabalho. Variável Abert Descrição Fonte de dados Percentual da abertura de micro, pequenas e médias empresas per capita de tipo jurídico: Empreendedor individual, Sociedades Limitadas, Sociedades DNRC Anônimas e Outros tipos. ICG Índice de Corrupção Geral Estadual, composto pela equação: [(ValorCADIRREG/população normalizado) + (Valor CADIRREG/PIB) normalizado], (Valor CADIRREG/LOA normalizado) e (Número anual de BOLL (2010) processos irregulares CADIRREG por Estado/Número total anual de processos irregulares CADIRREG). Pibperc Produto Interno Bruto Estadual, mensurado em R$ 1.000,00. IPEA 27 Bancos Cargatrib Desemprego Número de agências bancárias (bancos comerciais, de BANCO fomento e de investimento) por Estado brasileiro. CENTRAL DO BRASIL – BCB RECEITA Proporção da arrecadação tributária em relação ao PIB FEDERAL DO per capita dos Estados brasileiros. BRASIL Taxa percentual de desemprego economicamente ativa (16 a 65 anos) da população PNAD - IBGE Fonte: Elaborado pelo autor. Segundo Dreher e Gassebner (2011), a variável PIB per capita possui distribuição em forma de U. Entretanto, Carraro et alli (2011) argumentam que no Brasil, o seu efeito sobre a atividade empreendedora é positivo. Optou-se por incluir o termo quadrático do PIB per capita. Para o presente estudo, espera-se que a variável possua efeito positivo sobre a abertura de empresas no Brasil. Carraro et alli (2011) utilizaram a variável Taxa Selic para captar os efeitos da consecução de crédito, entretanto, como não há variação entre as observações por se tratar de uma variável macroeconômica aplicada à todos os Estados, optou-se por utilizar o termo de interação entre Taxa Selic e número de agências bancárias para captar o efeito da Taxa Selic ao longo do tempo. Com relação ao número de agências bancárias, espera-se que as mesmas possuam efeito positivo sobre a atividade empreendedora, pois a maior participação das agências contribuiria para a ampliação da capacidade de captar recursos da sociedade e direcionar em financiamentos (METTEHEIN, 2005). Em relação à incidência da corrupção, baseado nos resultados encontrados em pesquisas anteriores no Brasil, espera-se que a mesma possua efeito negativo sobre a atividade empreendedora, pois sua incidência pode gerar empecilhos à regulamentação de novos negócios, além de diminuir a crença nas instituições (CARRARO et alli, 2011). No tocante a variável Carga tributária, Van Stel et alli (2003) não encontraram efeito estatisticamente significante sobre abertura de empresas, entretanto, optou-se por incluir tal variável no modelo. A hipótese de que a violência possa afetar a atividade empreendedora foi incluída na modelagem por opção do autor, visando testar seu efeito sobre a abertura de empresas. O Quadro 5 apresenta os efeitos esperados das variáveis com base na literatura. 28 Quadro 5 – Efeitos esperados das variáveis explicativas sobre empreendedorismo de acordo com a literatura. Variável Efeitos esperados Autores IGC Negativo Carraro et alli (2011); PIB per Capita Positivo Parker e Robson (2004); Fisman e Sarria-Allende (2004). Carga tributária Negativo - Bancos Positivo Mettehein (2005). Desemprego Positivo El Harbi (2010) e Anderson Fonte: elaborado pelo autor. Devido à complexidade para obtenção de um índice objetivo que mensure a corrupção, utiliza-se como proxy para a incidência da corrupção o ICG (BOLL, 2010). De acordo com Carraro et alli (2011), o ICG é um índice objetivo por não possuir na sua construção qualquer tipo de avaliação pessoal de seus componentes. Segundo Boll (2010), o ICG é composto levando-se em consideração a base de dados (CADIRREG8) das contas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para formar um indicador composto da corrupção governamental ponderando o valor financeiro das contas julgadas irregulares pela população, pelo produto interno bruto, pelo número de contas julgadas irregulares por um estado em relação ao total nacional e pelo valor correspondente aos gastos anuais dos três poderes da República estabelecidos pela Lei Orçamentária Anual (LOA). O Quadro 6 apresenta um resumo esquemático dos procedimentos metodológicos para a construção deste estudo, demonstrando o problema de pesquisa, objetivos específicos, tratamento e coleta de dados e principais autores para sustentar as temáticas abordadas. 29 Quadro 6 – Tratamento de dados e aspectos metodológicos Problema Objetivo específico a) Descrever as abordagens teóricas do empreendedorismo; Variáveis/Categorias de análise Forma de coleta de dados Tratamento dos dados Autores Abordagens objetivista e subjetivista do empreendedorismo. Consulta à literatura especializada sobre empreendedorismo. Compilação das informações em texto descritivo Gorling e Rehn (2008); Baumol (1990;1993); Schumpeter (1934); Barros e Pereira (2008); Tonelli, Brito e Zambalde (2011). Corrupção Burocrática Consulta à literatura especializada Compilação das informações em texto descritivo Carraro et alli (2011); Boll (2010); Palifka (2006), Mauro (1995); Dreher e Gassebner (2011); Rose-Ackerman (1996;2012). Ovaska e Sobel (2005), Van Stel et alli (2003), Parker e Robson (2004) e Fisman e Sarria-Allende (2004). Abertura de empresas, PIB per capita e PIB per capita ao quadrado, Carga Tributária, Agências Bancárias, Taxa de Desemprego e Índice de Corrupção Estadual. Dados secundários: consulta aos bancos de dados do DNRC, IPEA, Receita Federal do Brasil, Banco Central do Brasil, PNAD – IBGE, Boll (2010). Utilização do software Rx64 v.2.15 Gujarati (2011); Wooldridge (2010); Baltagi (2008). b) Caracterizar a corrupção burocrática no Brasil e seus desdobramentos na atividade empreendedora; Em que medida a incidência da corrupção burocrática afeta a atividade empreendedora no Brasil? C) Mensurar, através de um modelo econométrico, o efeito da corrupção burocrática sobre a atividade empreendedora no Brasil, controlando para variáveis do ambiente de negócios. Fonte: elaborado pelo autor. 30 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A tabela 1 apresenta as estatísticas descritivas dos dados coletados na pesquisa. Destaca-se que os estados do Acre (2006), Roraima (2007) e Santa Catarina (2008) apresentaram Índice de Corrupção Geral nulo devido à inexistência de contas públicas não aprovadas nos períodos citados. Os Estados do Maranhão, Bahia e Piauí apresentaram os maiores Índices de corrupção, com média anual acima de 0.40. Em contrapartida, Acre, Rio Grande do Sul e Santa Catarina obtiveram os menores Índices de Corrupção estadual, com média inferior a 0.10. Tabela 1 – Estatísticas Descritivas Variável Abert Obs 243 Média 0.247 Desvio-Padrão 0.104 Min 0.078 Max 0.65 PIBperc 243 6.057 3.795 1.62 23.8 Desemprego 243 8.848 3.235 3.92 19.27 Cargatribut 243 0.125 0.036 0.051 0.269 Bancos 243 649.395 1120.26 13 6343 Cambio 243 2.388 0.461 1.8302 3.078 SELIC 243 16.997 3.379 11.9 23.51 ICG 243 0.226 0.192 0 0.95 Fonte: elaborado pelo autor. A Tabela 2 apresenta as estimações com dados agregados (pooled), efeitos fixos e aleatórios para os seguintes modelos: no modelo1, são apresentados os resultados obtidos por Carraro et alli (2011), para período de 2000 a 2005; no modelo 2,são refeitas as estimações destes autores para o mesmo período; no modelo 3, o período da amostra é estendido até o ano de 2008, havendo um acréscimo de 81 observações. Nos três modelos todas as variáveis estão em logaritmo natural. De acordo com a estimativa de Carraro et alli (2011), o modelo com melhor representatividade para a amostra é o agrupado (pooled). Seus resultados apontam que a variação de 1% no índice de corrupção acarretaria em uma diminuição de 0,32% na taxa de abertura de empresas. Para as estimações de efeitos fixos e aleatórios, eles obtiveram resultados semelhantes, com o ICG afetando negativamente a atividade empreendedora. No modelo 2, quando se replica o modelo de Carraro et alli (2011), os resultados são os mesmos para as estimações com dados agregados mas, para os efeitos fixos e aleatórios, obtém-se parâmetros não significantes. 31 Tabela 2 – Estimação do efeito de corrupção sobre a abertura de empresas per capita, a partir de modelo de Carraro et alli (2011). Variáveis independentes Pooled¹ Efeitos fixos¹ Efeitos¹ aleatórios Pooled² Efeitos fixos² Efeitos² aleatórios Pooled³ Efeitos fixos³ Efeitos³ aleatórios Constante 48.3709** (2.42) 26.5505*** (2,8958) 51.2798** (2.2781) -1.115686* (-1.95) -0.5906082** (-2.05) -0.8236823** (-2.51) -7.967376*** (-27.10) -5.75971*** (-20.86) -6.689353*** (-23.30) -0.0477121** (2.0558) -0.0420883** (-1.9775) -0.0445123** (-2.50) 0.0076671 (1.03) -0.0010015 (-0.10) -0.0570228*** (-3.52) 0.0204034** (2.13) 0.0093512 (0.97) ICG -0.037276** (-2.963140) PIBperc 0.581429*** (13.28) 0.51509*** (8.2312) 0.575977*** (12.5777) 0.5807717*** (13.65) -0.2176225** (-2.06) 0.1696799 (1.47) 0.5647646*** (15.38) -0.1141792 (-1.19) 0.186043** (1.93) Taxa Selic -12.36286*** (-2.7764) -6.16343*** (-3.0013) -13.0273** (-2.5893) 0.1553472*** (0.77) 0.1040995 (1.24) 0.123553 (1.46) 0.4693977*** (3.67) 0.0550446 (0.84) 0.2342934*** (3.62) Taxa de Câmbio 0.344532 (0.822910) 2.57166** (2.2288) 0.378222 (1.0973) -0.5678722 (-4.29) 0.2605862*** (-4.59) 0.4014134*** (-6.26) -0.569853*** (-4.40) -0.3065093 (-6.54) 0.4108066*** (-7.80) R² 0.572485 0.675942 - 0.5912 0.2775 - 0.5652 0.1818 - Estatística f 52.55965 9.108277 - 59.57 10.93 - 80.18 22.99 - Teste BreuschPagan 0.671714 [0.412455] 203.50 [0.0000] 431.76 [0.0000] Teste Hausman 10.6925 [0.0304] 73.94 [0.0000]] 54.09 [0.0000] Nº Observações 162 243 243 162 162 162 162 162 243 Fonte: dados gerados pelo Rx64. Obs.1: *** Significante a 1%. ** Significante a 5%. * Significante a 10%. Obs.2: Os números entre parênteses representam o teste t. 1: Resultados de Carraro et alli (2011). 2: Modelo testado pelos autores para o período de 2000 – 2005. 3: Modelo testado pelos autores para o período de 2000 – 2008. 32 Com a ampliação da amostra (modelo 3), os resultados são divergentes aos encontrados pelos autores citados e aos obtidos na réplica dos mesmos (no modelo 2). Levando-se em consideração os testes de Chow, Hausman e Breusch-Pagan, o modelo de efeitos fixos apresentou o melhor ajuste. A variável ICG é estatisticamente significante a 5% e apresentou efeito positivo sobre a abertura de empresas, contrariando o sinal esperado. Destaca-se que no modelo proposto por Carraro et alli (2011), foram incluídas as variáveis Taxa de Câmbio e Taxa Selic as quais são constantes para todos os estados brasileiros, variando apenas ao longo do tempo. Por isso, no modelo proposto neste trabalho, cujos resultados são apresentados na Tabela 3, com diferentes variáveis de controle, optou-se pela exclusão da variável Taxa de Câmbio e inclusão do termo número de agências bancárias em substituição à taxa Selic. A Tabela 3 apresenta os resultados do modelo proposto nesta pesquisa. A estimação apresenta como variável dependente a taxa de abertura de empresas per capita por estados. Foram estimados os modelos pool, efeitos fixos e aleatórios para a relação da corrupção sobre a abertura de empresas. De acordo com os testes de Chow, Hausman e Breusch-Pagan, o modelo de efeitos aleatórios mostrou-se o mais adequado para a representação da relação investigada. Tabela 3 – Estimação do efeito da corrupção sobre a abertura de empresas com o modelo proposto, para o período 2000-2008. Variáveis independentes Pooled¹ Efeitos fixos¹ Efeitos aleatórios¹ Constante 0.1512429*** (0.0315306) 0.1517831*** (0.0350271) 0.1196697*** (0.0343855) ICG -0.027238 (0.0224012) 0.0403961*** (0.0403961) 0.0404068** (0.016426) PIBperc 0.0422409*** (0.004975) -0.0096392 (0.011653) 0.0128898 (0.0107819) PIBper² -0.0011303*** (0.0002462) 0.0002917 (0.0003118) -0.0002163 (0.0003305) Bancos -2.87e-06 (3.63e-06) 0.0001023*** (0.0000159) 0.0000223** (0.0000104) Taxa Desemprego -0.0050446*** (0.0016805) 0.0037835*** (0.0006385) 0.0035417*** (0.0010755) 33 Cargatrib -0.3941025*** (0 .1327171) 0.2411467 (0.1428727) 0.0468619 (0.1398768) R² 0.56 0.54 - Estatística F 38.40 8.21 - Teste Breusch-Pagan 292.17 [0.0000] 5.09 [0.5327] 243 243 Teste Hausman Nº Observações 243 Fonte: dados gerados pelo Rx64. Obs.1: *** Significante a 1%. ** Significante a 5%. * Significante a 10%. Obs.2: Os números entre parênteses representam o erro-padrão. No modelo de efeitos aleatórios, as variáveis PIB per capita, PIB per capita ao quadrado e carga tributária não foram estatisticamente significantes, corroborando Van Stel et alli (2003) que não encontraram evidências empíricas de que o PIB per capita e a carga tributária afetem a abertura de empresas. A variável Taxa de desemprego apresentou-se estatisticamente significante em todas as estimações, apresentando efeito positivo nos modelos com efeitos fixos e aleatórios, contrariando os estudos de Van Stel et alli (2003), Ovaska e Sobel (2005), Nooederhaven et alli (2004) e Parker e Robson (2004). A acessibilidade a crédito, captada neste estudo através da variável número de agências bancárias, mostrou-se estatisticamente significante nos modelos de efeitos fixos e aleatórios, apresentando efeito positivo na abertura de novas empresas, consoante aos estudos de Ovaska e Sobel (2005). No modelo agrupado, a variável ICG apresenta efeito negativo sobre a abertura de empresas, entretanto, não é estatisticamente significante. Para os demais modelos, há uma inversão do efeito da corrupção burocrática, passando a ser estatisticamente significante. Desse modo, convergindo para a hipótese de que em um país com alta regulamentação para abertura de empresas, a corrupção burocrática pode ser benéfica à abertura de novas empresas, como sugerido por Dreher e Gassebner (2011) e Méon e Sekkat (2005). 34 5 CONCLUSÕES Esta dissertação buscou avaliar a relação entre abertura de empresas nos estados brasileiros e incidência da corrupção. Para isso, realizou-se uma abordagem alternativa aos resultados propostos por Carraro et al. (2011) sobre os efeitos da corrupção na abertura de empresas. Salienta-se que a partir dos resultados encontrados não é possível concluir que a corrupção burocrática afete negativamente a abertura de empresas no Brasil. Entretanto, a hipótese proposta por Dreher and Gassebner (2011) de que a corrupção é um lubrificante nas engrenagens burocráticas de países com excessiva regulamentação da atividade empreendedora foi evidenciada. Não foram encontradas evidências empíricas de que o PIB per capita, seu termo ao quadrado e a Carga tributária apresentem efeitos sobre a abertura de novas empresas nos modelos de efeitos fixos e aleatórios. Entretanto, acessibilidade a crédito e taxa de desemprego apresentaram efeito positivo. Desse modo, no Brasil, uma maior taxa de desemprego pode estimular os indivíduos a abrirem novos negócios para garantir o ganho de renda. Não foram encontradas evidências empíricas que as variáveis Mortalidade per capita, Saldo da balança comercial estadual, Taxa de analfabetismo, Investimentos do governo em educação e Ciência e tecnologia afetem a abertura de empresas no período de 2000 a 2008. É importante ressaltar que a corrupção burocrática pode ser “benéfica” em uma estrutura rígida e desfavorável ao empreendedorismo, mas não conduz a um ambiente de negócios próspero. A existência da corrupção em correlação com a abertura de empresas sugere alto grau de burocracia e impedimentos que deveriam ser reavaliados para a condução de um ambiente mais favorável ao empreendedorismo, bem como investimentos de longo prazo. A utilização de um índice objetivo de mensuração de corrupção é de grande contribuição para a literatura, pois considerável número de estudos empíricos sobre corrupção utiliza índices subjetivos, como o Corruption Perception Index, que é baseado na percepção de empresários acerca da incidência da corrupção. Apesar de o IGC representar um índice objetivo para a mensuração da corrupção, acredita-se que o mesmo deve ser utilizado com cautela, pois leva em consideração apenas casos catalogados pelo Tribunal de Contas da União, podendo ter sua acerácea comprometida devido a infinidade de casos de corrupção 35 ativa e passiva que não são catalogados pelo respectivo órgão. Desse modo, sua utilização pode não captar a realidade intrínseca da corrupção. Esta dissertação apresenta limitações quanto à inferência categórica de causalidade da corrupção burocrática sobre o empreendedorismo, pois a variável de interesse pode ser endógena. Desse modo, em um primeiro instante, os resultados apresentam uma relação de correlação direta entre corrupção burocrática e empreendedorismo. Para corrigir esta limitação, sugere-se a utilização de uma variável instrumental para corrupção burocrática. Como sugestão de estudos futuros propõe-se a inclusão de variáveis que captem questões de infraestrutura, como malha rodoviária, existência de Portos, porte da matriz energética dos Estados brasileiros, entre outras. Também, se propõe a replicação do modelo proposto levando em consideração os municípios brasileiros, pois a amostra seria ampliada consideravelmente, elevando o número de graus de liberdade e a robustez da análise. 36 5 CRONOGRAMA Atividades programadas para fazer a dissertação Revisão da literatura Formulação do problema Elaboração do projeto Coleta de dados Qualificação Análise e interpretação dos resultados Redação do trabalho Correção Entrega do trabalho SetOut 2012 NovDez 2012 JanFev 2013 X X X X X X X x x AbrMar 2013 MaiJun 2013 x x x x JulAgo 2013 SetOut 2013 NovDez 2013 x x Jan 2013 x x X x x 37 REFERÊNCIAS ANDWIG, Jens Chr.; FJELDSTAD, Odd-Helge; AMUNDSEN, Inge; SISSENER, Tone; SOREIDE, Tina. Research on corruption: a policy oriented survey. Norad, 2000. 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