COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Unidade II 5 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO TEXTO Caro aluno, o texto a seguir é de autoria de Chico Buarque, notório compositor. Ao ler o texto, você pode afirmar que se refere a um contexto atual, vivido pelos meninos hoje? Doze anos Ai, que saudades que eu tenho Dos meus doze anos Que saudade ingrata Dar banda por aí Fazendo grandes planos E chutando lata Trocando figurinha Matando passarinho Colecionando minhoca Jogando muito botão Rodopiando pião Fazendo troca-troca Ai, que saudades que eu tenho Duma travessura Um futebol de rua Sair pulando muro Olhando fechadura E vendo mulher nua Comendo fruta no pé Chupando picolé Pé-de-moleque, paçoca E disputando troféu Guerra de pipa no céu Concurso de pipoca (BUARQUE, 1997) Os meninos hoje passam por brincadeiras como as descritas na letra de música? Pensando nos centros urbanos, tal quadro descrito é possível? 117 Unidade II Verificamos que a letra de música, um texto escrito aqui reproduzido, relaciona-se a um contexto. Veremos, a partir desta seção, a relação entre os textos, em especial os escritos, e o contexto. A escrita alfabética é considerada uma tecnologia (algo feito com instrumentos – tinta, caneta, papel – inventados pelo homem para estender suas capacidades naturais), porém não pode ser desvinculada de seu contexto de uso e de seus usuários; ao entrar no contexto linguístico e cultural de diferentes línguas, passa a ser modificada por esses contextos. Por isso, a escrita hoje é vista como uma série de práticas socioculturais variadas. As variações ocorrem em línguas diferentes, é claro, mas também dentro da própria língua do falante, por exemplo, entre camadas sociais distintas. Grupos sociais diferentes usam materiais escritos de maneiras diferentes, ainda que dentro de um mesmo universo cultural. Pais de classes sociais mais favorecidas tendem a explorar com suas crianças os livros infantis, preparando-as para o tipo de linguagem que encontrarão na vida escolar. Por outro lado, crianças de classes sociais menos favorecidas tendem a adquirir mais habilidades de interação oral (desafio, exibição) que contribuem para formas culturais como o rap. Na área da educação, cada língua, assim como cada cultura, é vista não como algo homogêneo, mas sim composta por variantes socioculturais determinadas pelos usuários e os contextos e finalidades em que são usadas. A linguagem, assim como a cultura, se manifesta como variantes locais particularizadas em contextos específicos. Uma decorrência dessa concepção heterogênea de linguagem é não ver a língua como compartimentada em “quatro habilidades” estanques: ler, escrever, ouvir, falar. O uso da língua quase sempre envolve escrita e oral, compreensão e produção simultaneamente. O exemplo citado é a “leitura” de livros infantis por pais para seus filhos. Nessa prática, ocorre leitura, compreensão oral, e intenso uso das ilustrações, relacionando-as com o texto escrito. Além disso, as novas formas de comunicação introduzidas pelo uso do computador são inovadoras da prática escrita, introduzindo ícones, imagens, abreviações e modificando as regras da escrita tradicional. A recente e crescente utilização da linguagem na comunicação mediada pelo computador (e-mails, chats, blogs etc.) oferece muitos exemplos de novos usos de linguagem. Na internet, imagens e sons interagem de forma intensa com o texto escrito alfabético. A comunicação, em páginas da web, é baseada na inter-relação entre imagem, texto escrito e sons. Essa característica é nomeada multimodalidade. O conceito de escrita, devido a essa característica multimodal, passa a ser o exercício de optar pela trajetória a ser seguida, fazendo escolhas entre sons, imagens, textos escritos, vídeos. A escrita pode ser focada sob três perspectivas, na concepção de Koch e Elias (2009): foco na língua, no escritor e na interação. A escrita com enfoque na língua relaciona-se à concepção de linguagem como um sistema pronto, acabado, devendo o autor se apropriar desse sistema e de suas regras. Nesse sentido, o sujeito é visto como predeterminado pelo sistema e o texto, por sua vez, é visto como simples produto de uma codificação realizada pelo autor. Basta, então, o conhecimento da língua tanto para produção quanto a leitura de um texto. 118 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO A escrita com enfoque no escritor relaciona-se à ideia de que ao escrever expressamos os nossos pensamentos. O autor é visto, por conseguinte, como sujeito psicológico, individual, dono e controlador de sua vontade e de suas ações. Como bem esclarecem Koch e Elias (2009, p. 33): Trata-se de um sujeito visto como um ego que constrói uma representação mental, “transpõe” essa representação para o papel e deseja que esta seja “captada” pelo leitor da maneira como foi mentalizada. O texto, nesse enfoque, é considerado um produto do pensamento e intenções do autor sem levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor nem a interação que envolve o processo da escrita e da leitura. Por fim, a escrita vista com enfoque na interação é encarada como produção textual, que exige do autor ativação de conhecimentos vários. A escrita não é compreendida apenas como apropriação das regras da língua, mas como interação escritor-leitor. Nessa interação, as intenções de quem escreve são consideradas e também os conhecimentos do leitor. Temos, então, uma concepção interacional da língua, pois autor e leitor são vistos como construtores sociais. Nessa perspectiva, a escrita é uma atividade que demanda estratégias como: • ativação de conhecimentos sobre a situação comunicativa: interlocutores, assunto a ser desenvolvido etc.; • seleção, organização e desenvolvimento das ideias a fim de manter a continuidade do tema e sua progressão; • balanceamento entre informações explícitas e implícitas; • revisão da escrita ao longo do processo, guiada pelo objetivo da produção e pela interação que o escritor pretende estabelecer com o leitor. A escrita é evidentemente uma produção com base nos elementos da língua e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conhecimento compartilhado entre escritor e leitor. Diante da escrita, o leitor aciona os conhecimentos prévios e os confronta com o texto, construindo o sentido. Ele percorre as marcas linguísticas deixadas pelo autor para entender o texto, assumindo papel de sujeito ativo ao inferir e interagir com dados do texto. O autor e o leitor de um texto são social e ideologicamente constituídos e, assim caracterizados, são produtores de sentido. Seus comportamentos, sua linguagem e a configuração de sentido são determinados pelo momento sócio-histórico. Portanto, o sentido de um texto nunca é o mesmo, pois pode ser lido em diferentes momentos da vida (e de maturidade) do leitor, portanto pode ser mudado, revestindo-se assim de uma pluralidade de sentidos. 119 Unidade II Para que duas ou mais pessoas possam compreender-se mutuamente, é preciso que seus conhecimentos sejam parcialmente semelhantes, ou melhor, seus conhecimentos devem ser compartilhados uma vez que é impossível duas pessoas partilharem exatamente os mesmo conhecimentos. Em uma situação de interação, atuamos com base no contexto. O contexto é alterado, ampliado, e as pessoas se encontram obrigadas a ajustar-se aos novos contextos que se vão ocasionando sucessivamente. O conhecimento de mundo de cada um, já é por si mesmo um contexto. O contexto se tornou indispensável para a construção e compreensão textual. “O contexto é um conjunto de suposições, baseadas nos saberes dos interlocutores, mobilizadas para a interpretação de um texto” (KOCH, 1998, p. 65). O contexto permite preencher lacunas do texto, estabelecendo os elos faltantes por meio de inferências. Assim, a escrita pode ter seu significado alterado em função de fatores contextuais, e o contexto pode ser usado para justificar o que deve ser dito e também para o que não deve. Hoje em dia reconhecemos de forma bastante ampla que muito da produção de sentido depende fundamentalmente do contexto e que, além disso, não há uma definição única de quanto ou de que tipo de contexto é necessário para a descrição da linguagem. Nós temos o contexto imediato, que abrange os participantes da comunicação, local e tempo da interação, objetivo da comunicação e meio de propagação do texto. Esse contexto ocorre em torno de outro contexto – o mediado, constituído por aspecto social, histórico e cultural. Voltemos à letra de música Doze anos, de Chico Buarque, tomando-a como exemplo. Na letra de música, o autor evoca o tempo em que ele era um menino de doze anos marcado por brincadeiras como matar passarinho, colecionar minhocas, jogar muito botão, rodopiar pião, jogar futebol na rua, comer fruta no pé, entre outros aspectos indicadores de um contexto mediado. Esse tempo retratado na letra de música é bem diferente deste que vivenciamos atualmente. Os garotos vivem em centros urbanos com predominância de predios e escassez para brincadeiras ao ar livre, bem como a inexistência expressiva da natureza. Hoje TV, computador, videogame ocupam lugar das antigas brincadeiras. Vejamos outro texto, de um escritor conhecido por mim e por muitos outros apreciadores de texto poético. Sobre o texto: • indicaremos o contexto imediato: participantes, local e data, objetivo do texto e como ele foi propagado. • discutiremos o contexto mediado. • relacionaremos o título com o posicionamento do autor sobre o assunto. 120 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Professor de História Quando eu conto Que nesta terra A nudez era tão natural E que o pecado e a malícia vieram de longe, A bordo de treze naus Quando eu conto que os corpos nus Mirados pelo vento Vestidos com a inocência Foram violados por olhos cúpidos Ultrajados por olhos sedentos Quando eu conto Que trouxeram tantos deuses Novas crenças, todas vãs Eu já tinha minha fé Eu já tinha meu pajé Eu queria trocar meu Tupã? Quando eu conto Que o Deus que aqui chegou Trazido do além-mar Viajou com o invasor? Com certeza na primeira maré Levou um à proa, e o outro se pôs na ré Quando eu conto Que tanto se fez Em nome de uma fé Matou-se, vestiu-se E levou o que da terra se apanhava Para uma desconhecida e longínqua Sé Quando eu conto Que para cá trouxeram a Cruz e contaram seu significado E sem que ficassem chocados Cruzaram os corpos mortos e despidos Com corpos mortos de meninos nus 121 Unidade II Quando eu conto Que tudo que eu conto é verdade Ah Tupã. que impunidade! Já não existe Tupi, Tapuia ou Timbira... Podia ser tudo um conto Podia ser tudo mentira (CHAIM, 2008) O contexto imediato constitui-se dos participantes específicos à situação comunicativa: são o autor Roberto Chaim e nós, leitores do poema. Postado no site especialista em textos literários, o poema é contemporâneo e alcança internautas interessados em poema. O mundo virtual – via sites – é a forma mais utilizada atualmente por escritores e outros artistas para a divulgação de seus trabalhos. Essa forma intensifica a interação entre o autor e leitor, uma vez que não há editora mediando o contato. Por tratar de um texto literário, o poema tem a função lúdica, estética (trabalha com a matéria prima: a língua) e também de denúncia. No caso, o assunto nos dá o contexto mediado: a chegada dos estrangeiros ao continente americano e a repercussão para a vida e a cultura dos índios. O posicionamento do autor é nítido sobre o assunto. O ponto de vista não é do europeu conquistador, considerando-se grande aventureiro em nome de uma nação europeia. Também não é do ponto de vista indígena, porque traz em seu discurso um distanciamento sobre este grupo social, além de demonstrar conhecimentos, crenças e valores do mundo ocidental europeu. Assim, em uma posição, talvez mediadora (entre conquistadores e conquistados), pende para o lado dos índios na não aceitação da dizimação dos índios e da sua cultura. O título explica a escolha do assunto, afinal, esse assunto faz parte do conteúdo programático de aulas de História, mas não indica o ponto de vista assumido. Na área de história, como já foi dito neste livro-texto, hoje há duas perspectivas para o estudo: a história vista de cima ou a história vista de baixo. Percebemos que o poeta Chaim assume a segunda perspectiva, para a qual o Brasil representou não uma conquista vitoriosa, mas quase que um genocídio, com milhares de índios mortos e devastação na cultura local. Não é uma aula de história contada pelo herói, com direito a matar quem não quisesse se converter ao Cristianismo. Lembrete O documento Dum diversa assinado pelo Papa Nicolau I para o rei de Portugal outorgava ao rei o direito de cristianizar. Uma publicação, cujo contexto imediato é fundamental, é a carta do leitor. Devido ao seu caráter transitório, extremamente vinculado ao momento da notícia, a seção carta do leitor apenas é compreendida pelo leitor que acompanha as leituras do jornal ou da revista no mesmo ciclo de publicação (semana ou mês) em que foi divulgada. Descontextualizada, ou seja, retirada daquele momento em que conversa 122 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO com a notícia da semana (no caso do jornal) ou do mês (no caso da revista mensal), a carta do leitor causa dificuldade na leitura. Vejamos um trecho de uma carta do leitor: Os ataques terroristas a Nova York e a grande crise na Argentina mostram que em 2001 o mundo virou de cabeça para baixo. E o caos está só começando. Daniel Silva Souza, São Paulo, SP. (ÉPOCA, 31 dez. 2001) Veiculada na revista Época em 31 de dezembro de 2001, hoje o leitor pode ter dificuldade para recuperar o contexto da carta. O leitor se lembra do evento com as torres em Nova York, devido à repercussão internacional constante desde então, mas pode não se lembrar que tipo de crise ocorreu na Argentina. Diferente dessa carta, outra ocorrida no mesmo mês e ano, mas na revista Superinteressante, apresenta o seguinte conteúdo: Floresta da Mãe Joana Os políticos têm o dever de criar leis severas para proteger nosso patrimônio (Piratas da Floresta, novembro, pág. 51). Hoje os piratas entram aqui quando querem e saem com o que querem. Reinaldo Ribeiro, Barueri, SP. (ROJO, 2001) No caso dessa segunda carta do leitor, ela dialoga com reportagem publicada no mês anterior na mesma revista. A reportagem foi intitulada como Piratas da floresta e tratou dos desmandos do país. O autor da carta do leitor pode corroborar a notícia ou discordar dela. No caso acima, o autor afirma a opinião jornalística sobre o assunto. A charge é mistura da linguagem imagética e a linguagem verbal, com características de humor, mostrando irreverência e uma certa lição de moral. O assunto da charge é uma crítica irônica sobre uma notícia publicada na semana. Por isso, ela pode causar dificuldade de entendimento por parte do leitor. A charge é constituída pela linguagem não verbal (figuras) e, geralmente, pela linguagem verbal. Em uma das charges de Angeli, temos a seguinte caracterização: A linguagem verbal é constituida pelo seguinte enunciado: • A flora brasiliense Fraudulência (Vegetale corruptus) – Árvore da família das Maracutaias, suas sementes chegaram ao país com as caravelas e hoje, mesmo com raízes espalhadas por todo o território nacional, 123 Unidade II seu caule espesso e sua copa frondosa estão fincados no Planalto Central, bem no coração do Brasil. A linguagem não verbal consiste em: • no plano de fundo, os símbolos da Capital do país: os prédios do Planalto Central, onde se reúnem os políticos brasileiros; • em destaque, uma árvore frondosa com homens engravatados no seu tronco e ramos; das copas saem as folhas em forma de cédula. O leitor reconhece nessa charge o contexto – não imediato, pois é difícil recuperar a qual notícia essa charge se vincula, mas o contexto mediado, relacionado à história do país, em especial à história de corrupção política. O contexto da charge, na verdade, exige do leitor uma grande dose de conhecimento de mundo e da capacidade de inferência. O leitor precisa recuperar a informação de que a linguagem da charge é uma paráfrase da obra Flora brasiliensis, produzida entre 1840 e 1906, pelos editores Carl Friedrich Philipp von Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban, com a participação de 65 especialistas de vários países e contém tratamentos taxonômicos de 22.767 espécies, a maioria de angiospermas brasileiras, reunidos em 15 volumes, divididos em 40 partes, com um total de 10.367 páginas. O leitor precisa perceber também que ao satirizar os políticos corruptos o autor emprega jargão da ciência natural. O efeito de sentido encontra-se, então, na relação entre o gênero textual – charge – com o tipo de discurso – jornalístico. Sobre a escrita, em conclusão, ressaltamos a síntese feita por Koch e Elias (2009, p. 84): • quem escreve o faz sempre para alguém (amigo, parente, namorado, funcionário, professor, aluno, nós mesmos) de modo a levar em conta, nessa atividade, o “histórico” que possui sobre o interlocutor; • quem escreve o faz guiado por um objetivo (um desabafo, uma solicitação, uma explicaçao, a defesa de um ponto de vista, uma instrução, uma retificação etc.); • quem escreve o faz com base em um conjunto de conhecimentos, tanto é assim que nao se pode produzir qualquer texto de qualquer forma em qualquer situação. Para a troca comunicativa imaginada, é esperada a “escolha” do gênero textual (um e-mail, um requerimento, uma carta, um artigo de opinião, um manual de instrução, uma lista) em adequação ao contexto, dentre outros ingredientes a serem levados em conta, segundo os quais vamos construindo e reconstruindo a nossa escrita, palavra por palavra, sem que isso signifique que o sentido pretendido emerge da soma de palavras em frases e parágrafos, mas, 124 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO sim, que os elementos linguísticos presentes na materialidade do texto funcionam como importante orientação para que nós ultrapassemos o plano da linearidade, do visivelmente colocado, e mergulhemos nos “segredos do texto”, na sua implicitude. O contexto possibilita avaliar o que é adequado ou não do ponto de vista dos modelos interacionais construídos culturamente. Um exemplo é a charge de Angeli, publicada na Folha de S. Paulo, cujo cenário é o interior de uma mansão e em cujas escadas centrais desce a esposa acompanhada por uma legião de empregadas. O marido a espera no fim da escada e diz: - Querida, você está um luxo! Aonde vamos? - Participar de uma passeata contra a concentração de renda e a discriminação social! Verificamos uma inadequação da personagem feminina em relação ao contexto do evento a qual participará. Aqueles que participam de uma passeata contra concentração de renda e discriminação social não devem ostentar luxo, riqueza. Tal atitude da mulher é um exemplo de inadequação e quebra o conhecimento que temos sobre o assunto; no entanto, a ruptura constitui um novo contexto; no caso, o propósito final da charge que é revelar uma crítica a fatos comumente relacionados à política. O contexto também possibilita: • salientar o tópico do discurso e o que é esperado para a continuidade temática e progressão do texto; • produzir inferência e sentido; • explicar ou justificar o que foi dito; • explicar ou justificar o que é dito e o que não deve ser dito. Exemplo de aplicação 1. A letra de música Tupi or not tupi é do compositor e cantor Biafra. Sobre ela, podemos fazer algumas considerações: Tupi or not tupi Cara pálida você não é filho desse lugar! Veio do Ocidente doente poluiu nosso lar! Aqui tinha caça, tinha pesca, tinha o sol e a lua... Tinha o riacho inteiro pra poder navegar, Não havia dinheiro pra quê trabalhar!? Se o que tinha na mata dava pra sustentar! 125 Unidade II Mas veio a caravela e o vento começou a mudar, E quem não servia de escravo mandavam matar... Aqui só existia o presente não havia o futuro! Nesse tempo o Cauín não se vendia no bar, Não havia limites somente o mar, Toda tribo era festa até tudo acabar! To be or not to be... Tupi or not Tupi... To be or not to be... Tupi or not... Tupi or not... Tupi or not Tupi... Cara pálida você não é dono desse lugar! Sua pele fica invisível na areia do mar... Hoje não tem caça, não tem pesca, só menino de rua! Hoje tem polícia, bandido e o medo no ar. O que fez seu progresso se não destruir O que havia de bom e bonito aqui! E hoje quem restou deste povo vive numa prisão... Trocou sua vida de índio pela vida de cão! Hoje a velhice é doença e quem nasce não cura! Hoje as estrelas são olhos que brilham no escuro, cada casa uma ilha, somos todos estranhos Espantalhos humanos entre o Acre e Londres! To be or not to be... Tupi or not Tupi... To be or not to be... Tupi or not... Tupi or not... Tupi or not Tupi... ê macumbabebê, ê macumbê... ê macumbabá, Macumbá! Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/byafra/tupi-or-not-tupi.html#ixzz1OhYrmUpZ> I. Quem fala no texto representa a voz social do índio brasileiro que se contrapõe à formação ideológica colonialista. II. No texto, há referência à literatura inglesa (Hamlet, de Shakespeare) e brasileira (poema Tupi or not tupi, de Oswald de Andrade). III. O caráter dialógico do discurso consiste na multiplicidade de vozes, no caso, do índio que dirige o discurso para o branco, europeu, construindo relação simétrica entre as vozes. 126 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO A) Apenas I está correta. B) Apenas II está correta. C) Apenas III está correta. D) I e II estão corretas. E) I e III estão corretas. Comentário: A alternativa correta é D). O contexto imediato é constituído por nós, ouvintes ou leitores da letra de música e pelo compositor, situados na mesma época e ambiente sociocultural. Fortemente marcado é o contexto mediado ao recuperar um momento histórico brasileiro: a colonização e as consequências para o povo indígena. Esse texto também recupera o contexto cultural ao fazer referência à peça teatral Hamlet e ao poema brasileiro Tupi or not tupi. Ao leitor cabe relacionar ambas as obras, uma vez que a frase notória da peça Hamlet é “Ser ou não ser, esta é a questão”, sendo em inglês To be or not to be, fonemas parodiados por Oswald de Andrade pela proximidade sonora como Tupi or not tupi, fazendo remissão à língua indígena tupi. 2. A ilustração abaixo não tem linguagem verbal, objeto desta seção do livro-texto, mas é um ótimo motivo de leitura e verificação do contexto. Assim, leia o texto abaixo e discuta as possíveis inferências históricas. Explica-se que no centro do peito da personagem o círculo está na cor vermelha. Figura 15 - Fonte: Site Tsunami: des images pour le Japon Comentário: Caro aluno, você deve ter contextualizado a ilustração ao tsunami no Japão ocorrido em março de 2011 e as consequências, observadas por meio dos: restos de madeira, casas, fábricas, meio de transporte, sujeira e alagamento. É possível perceber a nacionalidade pelo formato do cabelo do jovem, pela mascote na mão do jovem e pelo círculo vermelho que sugere a bandeira nacional japonesa. Além desses aspectos contextuais, outro, de nível mundial, pode ser recuperado: o símbolo da radiação, que aparece no canto inferior à direita da ilustração e sugere a importância dada pelo autor ao problema das usinas nucleares e a dissipação de sua radioatividade. 127 Unidade II 6 INTERTEXTUALIDADE Você se lembra deste texto? Monte Castelo Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece. O amor é o fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer. Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É um não querer mais que bem querer. É solitário andar por entre a gente. É um não contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder. É um estar-se preso por vontade. É servir a quem vence, o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade. Tão contrário a si é o mesmo amor. Estou acordado e todos dormem todos dormem todos dormem. Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face. É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. (VILLA-LOBOS; BONFÁ; RUSSO, 1995) É uma letra de música de muito sucesso e nela ocorre a intertextualidade de forma explícita, ou seja, há cópia de trechos de outros textos nela. Há trecho do poema de Luis Vaz de Camões: 128 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Amor é fogo que arde sem se ver Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? (CAMÕES, 2008) Verificamos que o músico estabelece um diálogo com o poeta Camões, ao utilizar uma das estrofes de seu poema. Caso o leitor não tenha esse conhecimento, a intertextualidade não será reconhecida e, portanto, também não será reconhecida a essência da mensagem sobre o tema “amor”. A escolha de uma mesma caracterização os une no papel de poetas, cuja proposta é difundir um valor ou ponto de vista sobre o amor. Há também trechos bíblicos: Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos... (BÍBLIA, 1993, COR. I, 13:1) Intertexto é o diálogo que cada texto estabelece com outros textos. Já dizia Bakhtin (1986, p. 291): “cada enunciado é um elo da cadeia muito complexa de outros enunciados”. Ainda segundo Bakhtin (1986, p. 162), o texto só ganha vida em contato com outro texto (com contexto). Somente neste ponto de contato entre textos é que uma luz brilha, iluminando tanto o posterior como o anterior, juntando dado texto a um diálogo. Enfatizamos que esse contato é um contato dialógico entre textos. Por trás desse contato está um contato de personalidades e não de coisas. 129 Unidade II Koch, Bentes e Cavalcante (2008) afirmam que a tarefa de identificar a presença de outro ou de outros textos em um texto escrito, por exemplo, depende muito dos conhecimentos do leitor, ou seja, depende de seu conhecimento de mundo ou enciclopédico, de seu conhecimento linguístico e de seu conhecimento interacional. O primeiro deles, o conhecimento chamado enciclopédico, é fundamental para que o leitor consiga atribuir sentido a um dado texto que recorre a outros textos. Nesse sentido: Também é importante destacar que a inserção de “velhos” enunciados em novos textos promoverá a constituição de novos sentidos. É verdade que a nova produção trará os ecos do(s) texto(s)-fonte e estes se farão ouvir mais – ou menos – dependendo dos conhecimentos do leitor. Contudo, o “deslocamento” de enunciados de um contexto para outro, indiscutivelmente, provocará alteração de sentidos (KOCH; ELIAS, 2010, 78-79). Para falar em intertexto, precisamos dar um breve resumo sobre as vozes presentes no texto. Os textos têm a propriedade intrínseca de se constituir a partir de outros textos. Por isso, todos eles são atravessados, ocupados, habitados pelo discurso do outro. Um texto remete a duas concepções diferentes: aquela que ele defende e a outra em oposição à qual ele se constrói. Nele, ressoam duas vozes, dois pontos de vista, e o discurso é sempre a arena em que se discutem esses pontos. Por exemplo, através de alguns vídeos assistidos, visualizamos que a divulgação de um dos anúncios da BomBril “Mon Bijou” faz alusão à beleza e ao charme do ator Reynaldo Gianecchini com a marca famosa e cheirosa “Bombril-Mon Bijou”, pois na propaganda o ator proclama uma cantada para as mulheres e elas acabam jogando peças íntimas para ele, em sinal de não resistência ao ator. É esta a ideia que o locutor pretende passar para seu público específico: que eles(as) não podem resistir a consumir a marca predileta pelas mulheres brasileiras; afinal, é uma marca irresistível. Conseguimos perceber essa intenção através do slogan que enuncia da seguinte forma: “É mais do que bom. É Bombril.” É essencial identificarmos a presença do intertexto no exemplo citado acima, porque sabemos que o intertexto não faz referência somente aos textos literários e sim a anúncios publicitários, imagens/ vídeos, músicas, filmes, entre outros. De acordo com Koch e Elias (2010, p. 85), Vale reiterar que, para o processo de compreensão, além do conhecimento do texto-fonte, necessário se faz também considerar que a retomada de texto(s) em outro(s) texto(s) propicia a construção de novos sentidos, uma vez que são inseridos em uma outra situação de comunicação, com outras configurações e objetivos. Quando ocorrem situações em que o intertexto está presente, precisamos, como já dito na seção anterior, mobilizar nosso conhecimento de mundo ou enciclopédico para atribuir sentido ao texto. Esse movimento nos leva a perceber que há diferentes formas a que um autor pode recorrer para inserir outros textos em seu texto. A essas diferentes formas, chamamos “tipos de intertexto” e esses tipos nos permitem caracterizar a intertextualidade. 130 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO As autoras Koch, Bentes e Cavalcante (2008) afirmam que podemos separar a intertextualidade, inicialmente, em duas correntes: a denominada stricto sensu e a denominada lato sensu. Essas correntes determinam o grau de explicitação e a natureza do intertexto utilizado na composição textual. Por intertextualidade stricto sensu, entendemos aquela que ocorre geralmente “quando, em um texto, está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz parte da memória social de uma coletividade ou da memória discursiva dos interlocutores” (p. 17). Assim, as sequências argumentativas stricto sensu são aquelas que apresentam uma ordenação ideológica de argumentos e/ou contra-argumentos. Nelas predominam elementos modalizadores, verbos introdutores de opinião, operadores argumentativos etc. Por intertextualidade lato sensu, entende-se aquela de sentido mais amplo e, portanto, mais difícil de ser percebida, afirmam as autoras ser aquela que indica que “qualquer texto se constrói como um mosaico de citações e é a absorção e transformação de um outro texto” (p.85). Esse tipo de intertextualidade é mais difícil de ser percebida porque remete a outras vozes textuais de forma indireta, apresentando fragmentos textuais de diferentes gêneros, o que torna menos evidente a descoberta do texto “escondido”. Em sentido amplo, o conceito de intertextualidade se constitui não só a partir de uma construção de citações, como também na absorção e na transformação de um outro texto. Considerando as práticas de produção e recepção dos gêneros textuais, o fenômeno da intertextualidade aparece como forma relevante da interação comunicativa no âmbito social. Além disso, determina a existência de gêneros textuais que mantêm entre si relações intertextuais, no que diz respeito à estrutura textual, possibilitando assim, ao leitor/ouvinte construir em sua memorial social determinados modelos cognitivos de contexto, permitindo-lhes reconhecê-los e saber recorrer a cada um deles de maneira adequada. Os tipos de intertextualidade são: Intertextualidade temática – consiste na abordagem de um mesmo assunto por vários meios ou portadores de textos (o texto científico, a mídia impressa ou televisiva, a internet etc.), em que determinado tema torna-se discurso focal e é retomado nos diferentes textos. Nesse tipo de intertextualidade, o que o autor faz é retomar, em seu texto, terminologias e conceitos referentes ao tema discutido, porém, já apresentados anteriormente em outros textos ou em outros contextos. É o que acontece, por exemplo, quando uma história é contada em versões diferentes, ou quando uma obra literária é transformada em filme: há elementos que são adicionados, outros que são subtraídos, mas o tema principal se mantém, assim como os conceitos e terminologias a ele relacionados. Observação O texto brasileiro que mais passou pelo processo de intertextualidade, ou seja, texto que autores mais fizeram referência a ele, é o poema Canção do exílio, de Gonçalves Dias. 131 Unidade II Segundo Koch, Bentes e Cavalcante (2008, p. 18), A intertextualidade temática é encontrada, por exemplo, entre textos científicos pertencentes a uma mesma área do saber ou uma mesma corrente de pensamento, que partilham temas e se servem de conceitos e terminologia próprios, já definidos no interior dessa área ou corrente teórica; entre matérias de jornais e da mídia em geral, em um mesmo dia, ou durante um certo período em que dado assunto é considerado focal; entre as diversas matérias de um mesmo jornal que tratam desse assunto. Assim, podemos dizer que a intertextualidade temática se resume nos temas ou assuntos que são tratados e retomados nos diferentes discursos que circulam socialmente. Exemplo de aplicação 1. Leia a letra de música: Espinho na roseira Tem espinho na roseira Cuidado vai cortar a mão Pedro Alcântara do Nascimento amava Rosa Albuquerque Damião Pedro Alcântara amava Rosa, mas a Rosa não amava ele não Rosa Albuquerque amava Jorge, amava Jorge Benedito de Jesus E o Benedito, Bendito Jorge, amava Lina que é casada com João E o João, João sem dente, amava Carla, Carla da cintura fina E a Carla, linda menina, amava Antônio Violeiro do Sertão. E o sertão vai virar mar E o mar vai virar sertão E o Antônio, cabra da peste, amava Júlia que era filha de Odete E a Odete amava Pedro, que amava Rosa que era prima de Drumond E o Drumond era casado com Maria que era filha de Sofia, mãe de Onofre e de José 132 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO E o José era casado com Nazira que era filha de Jandira, concubina de Mané E o Mané tinha 17 filho dez home e seis menina e um que ia resolver E o rapaz tava já na adolescência tinha brinco na orelha e salto alto prá crescer. E o Rodolfo que já era desquitado era homem mal amado não queria mais viver E encontrou Maria Paula de Arruda que lhe deu muita ajuda fez seu coração nascer E são essas histórias de amor Que acontecem todo dia sim senhor (ABUJAMRA, 1995) a. A letra de música Espinho na roseira, de André Abujamra, faz intertexto com o poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade por meio de dois aspectos: a estrutura e o conteúdo. Compare os dois textos: como eles se estruturam em relação aos encontros e desencontros amorosos? O final das histórias é idêntico? b. Leia a letra de música seguinte e compare-a com Espinho na roseira. Existe intertextualidade entre elas? Sobradinho Sá e Guarabyra O homem chega, já desfaz a natureza Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar O São Francisco lá pra cima da Bahia Diz que dia menos dia vai subir bem devagar E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar O sertão vai virar mar, dá no coração O medo que algum dia o mar também vire sertão Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir Debaixo d’água lá se vai a vida inteira Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir 133 Unidade II Vai ter barragem no salto do Sobradinho E o povo vai-se embora com medo de se afogar. Remanso, Casa Nova, Sento-Sé Pilão Arcado, Sobradinho Adeus, Adeus ... (GUARABYRA; SÁ, 1998) Comentário: Tanto o poema de Drummond quanto a letra de música de Sá e Guarabyra serviram para a construção de Espinho na roseira. Existe, portanto, uma relação intertextual. Da música Sobradinho, foi usada a expressão “o sertão vai virar mar”, que se tornou refrão; do poema de Drummond, todo o assunto – desencontro amoroso – é usado na letra, em uma intertertualidade temática explícita, bem como a forma como a história se desenvolve na letra: X ama Y, que tem relação com Z e assim por diante. O final é idêntico: aquela pessoa que não almejava um relacionamento é a única que efetivamente consegue. 2. Enigma: No meio do caminho... a) Tente descobrir de que texto Milton Nascimento retirou o primeiro verso do texto Itamarandiba. Itamarandiba No meio do meu caminho sempre haverá uma pedra Plantarei a minha casa numa cidade de pedra Itamarandiba, pedra corrida, pedra miúda rolando sem vida Como é miúda e quase sem brilho a vida do povo que mora no vale No caminho dessa cidade passarás por Turmalina Sonharás com Pedra Azul, viverás em Diamantina No caminho dessa cidade as mulheres são morenas Os homens serão felizes como se fossem meninos (BRANT; NASCIMENTO, 1997) b) Agora tente descobrir de que texto Carlos Drummond de Andrade retirou o primeiro verso de seu texto: No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra Nunca me esquecerei desse acontecimento 134 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Na vida de minhas retinas tão fatigadas Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra (ANDRADE, 2003) c) Por fim, tente descobrir de que texto Olavo Bilac retirou o título do seu poema Nel mezzo del camin. Nel mezzo del camin... Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos povoada eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje, segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo. (BILAC, 1978) d) Procure no mapa do Estado de Minas Gerais as cidades mencionadas no texto Itamarandiba. O que esses nomes têm em comum? Somente para ajudar, a palavra ita em tupi significa pedra. Comentário: O enigma tornou-se uma brincadeira, uma vez que a resposta era obtida em texto posterior. É uma forma bem humorada para a percepção de cada texto remete a outro, com ocorrência da intertextualidade. Assim, Milton Nascimento recorre a Drummond, que, por sua vez, ironizou Bilac. Este segue uma tradição e se volta ao primeiro verso da obra A divina comédia, de Dante Alighieri, cujo início transcrevo aqui na versão original (italiana) e em nossa língua. São autores de época diferente: Dante Alighieri, italiano, da Idade Média; os outros são brasileiros. Bilac é do fim do século XIX; Drummond lançou-se na literatura um pouco antes da 135 Unidade II metade do século XX. Entre os poetas e músicos, os artistas de forma geral, há um constante diálogo. Nel mezzo del cammin di nostra vita mi ritrovai per una selva oscura, ché la diritta via era smarrita. Ahi quanto a dir qual era è cosa dura esta selva selvaggia e aspra e forte che nel pensier rinova la paura! Tant’ è amara che poco é piú morte; ma per trattar del ben ch’i’ vi trovai, dirò de l’altre cose ch’i’ v’ho scorte. Io non so ben ridir com’i’ v’intrai, tant’ era pien di sonno a quel punto che la verace via abbandonai. No meio do caminho em nossa vida me vi perdido numa selva escura, solitário, sem sol e sem saída. Ah, como armar no ar uma figura desta selva selvagem, dura, forte, que, só de eu a pensar, me desfigura? É quase tão amargo como a morte; mas para expor o bem que encontrei, outros dados darei da minha sorte. Não me recordo ao certo como entrei, tomado de uma sonolência estranha, quando a vera vereda abandonei. (ALIGHIERI, 1998) Intertextualidade estilística - é dada a partir da produção de um texto, por meio de diferentes objetivos do autor, quando este recorre à repetição de um texto, ou à imitação, à paródia de certos estilos linguísticos. Na verdade, o que acontece nesse tipo de intertextualidade é a manutenção de um determinado estilo linguístico, portanto, podemos dizer que esse tipo de intertextualidade não apresenta ligação temática com o outro texto, mas apenas utiliza sua forma. 136 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Exemplos desse tipo de intertextualidade são os textos que se baseiam na linguagem bíblica ou que reproduzem um dialeto, ou um estilo de um determinado gênero ou um jargão profissional. Entre outros exemplos, temos a Oração do Internauta (apud KOCH; BENTES; CAVALCANTE. 2008) , que tem como intertexto a oração da liturgia cristã “Pai Nosso”. Oração do Internauta Satélite nosso que estais no céu, acelerado seja o vosso link, venha a nós o vosso host, seja feita vossa conexão, assim em casa como no trabalho. O download nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai nosso tempo perdido no Chat, assim como nós perdoamos os banners de nossos provedores. Não nos deixeis cair a conexão e livrai-nos do Spam, Amém! No contexto dessa nova “oração”, é utilizada a oração do Pai Nosso para apresentar elementos específicos do contexto da informática. Nesse caso, se o leitor não tem nenhuma informação sobre o tema ou se não conhece a oração do Pai Nosso, fica mais difícil compreender e atribuir sentido ao texto. Notemos, portanto, que o conhecimento de mundo do leitor é imprescindível para a compreensão e percepção do intertexto. Intertextualidade explícita – caracteriza-se pela presença da citação da fonte do intertexto. É o que ocorre em resumos, resenhas, traduções ou discursos relatados, quando o autor apresenta um fragmento de um outro texto ou se refere a um outro texto. Por isso esse tipo de intertextualidade é considerada explícita, pois traz, claramente, qual a origem de determinadas informações que aparecem em uma resenha, em um resumo ou, ainda, em uma citação. Koch, Bentes e Cavalcante (2008), para explicar a intertextualidade explícita, recorrem à obra escrita por Koch em 2004, na qual esta cita trechos das obras de Mondana e van Dijk, utilizados por ela como argumento de autoridade. A autora afirma que para explicar uma dada posição teórica, ela faz uso dos dois autores citados, destacando a maneira como ambos se referem ao tal posicionamento teórico. Ela recorre à voz desses dois autores para impor confiabilidade ao seu texto, e os trechos citados funcionam como argumento de autoridade, que ajudam a comprovar sua posição teórica. O intertexto explícito está, justamente, na apresentação dos trechos desses dois autores. A intertextualidade acontece na interação face a face, usada para a retomada da fala do parceiro. Nesse sentido: A intertextualidade será explícita quando, no próprio texto, é feita menção à fonte do intertexto, isto é, quando um outro texto ou um fragmento é 137 Unidade II citado, é atribuído a outro enunciador; ou seja, quando é reportado como tendo sido dito por outro ou por outros generalizados (“Como diz o povo...”, “segundo os antigos...”). É o caso das citações, referências, menções, resumos, resenhas e traduções; em textos argumentativos, quando se emprega o recurso à autoridade; e, em se tratando de situações de interação face a face, nas retomadas do texto do parceiro, para encadear sobre ele ou contraditálo, ou mesmo para demonstrar atenção ou interesse na interação (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008, p. 28). É sempre importante que o leitor procure identificar o fenômeno e pensar nas escolhas feitas pelo autor, perguntando-se sempre, ao ler um texto: “por que e para que o autor citou a fonte, se tem a opção de não fazê-lo?”. Intertextualidade implícita - entendemos por intertextualidade implícita aquela que recorre ao sentido figurado, em um texto, não permitindo que o leitor depreenda seu sentido de imediato. Ela ocorre quando introduzimos, no próprio texto, intertexto alheio, sem qualquer menção explícita da fonte, com o objetivo quer de seguir-lhe a orientação argumentativa, quer de contrariá-lo, colocá-lo em questão, de ridicularizá-lo ou argumentar em sentido contrário. Ocorre também intertextualidade das semelhanças, que é identificada pela presença de paráfrases e conhecida também por captação. A intertextualidade das diferenças é chamada também de subversão, que consiste em enunciados irônicos ou parodísticos. Nesse sentido, é esperado que o leitor conheça o texto fonte para poder entender o texto atual, pois quando não há reconhecimento do texto original na memória discursiva, perde-se o sentido da intertextualidade no texto atual. Os intertextos mais fáceis de serem reconhecidos são os que usam ditos populares, músicas populares, provérbios, pois fazem partes da cultura popular. Já nos textos literários, jornalísticos, publicitários, políticos, bordões de programas humorísticos e outros, “o reconhecimento do intertexto é menos garantido, visto que depende da amplitude dos conhecimentos que o interlocutor tem representado em sua memória” (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008, p.35). A não depreensão do texto fonte, nesses casos, empobrece a leitura ou praticamente impossibilita a construção de sentidos intencionados pelo produtor do texto. Os exemplos mais frequentes de intertextualidade, tanto explícita quanto implícita, citados, é a Canção do exílio, do autor Gonçalves Dias, que tem servido de intertexto a uma série de outros textos (Casimiro de Abreu, Murilo Mendes, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade). Canção do exílio (Casimiro de Abreu) Eu nasci além dos mares: Os meus lares, Meus amores ficam lá! – Onde canta nos retiros 138 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Seus suspiros, Suspiros a sabiá! (ABREU et al., 1952) Exemplo de aplicação Leia os textos 1 e 2: Texto 1 Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. (DIAS, 1996) 139 Unidade II Texto 2 Hino Nacional – Parte II Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; “Nossos bosques têm mais vida”, “Nossa vida” no teu seio “mais amores.” Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula - “Paz no futuro e glória no passado.” Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Letra: Joaquim Osório Duque Estrada em 1909 A relação estabelecida entre os textos é: A) De distanciamento, pois o primeiro é poema, pertencente à área da ficção, e o segundo é símbolo nacional. B) De distanciamento, pois apesar de ambos os textos terem o mesmo formato (versos e estrofes) não existe ideia em comum entre eles. C) De proximidade, uma vez que o texto 1 recorreu ao texto 2 e copiou os trechos “Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.“ D) De proximidade, porque ambos os textos valorizam o país e há trecho do texto 1 copiado no texto 2. E) Decorrente da nacionalidade, ou seja, ambos os textos são brasileiros. 140 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Comentário: O poema Canção do exílio ficou muito famoso pelo sentimento de nacionalismo muito intenso. O texto desconsidera problemas da época (contexto histórico, político etc.) e descreve apenas a natureza, que ainda era muito rica. O poema virou um símbolo e, décadas depois, o autor do nosso Hino Nacional copiou, com ligeiras adaptações, trecho do poema. Assim, a resposta correta é D). Intertextualidade genérica A intertextualidade intergenérica ou híbrida é definida como gênero que exerce a função de outro. Revela a capacidade de operação e maleabilidade que dá aos gêneros enorme capacidade de adaptação e ausência de rigidez. Como modelo cognitivo de contexto que contém parâmetros relevantes da interação comunicativa e do contexto social: É bastante comum, todavia, que, no lugar próprio de determinada prática social ou cena enunciativa se apresente(m) gênero(s) pertencentes a outras molduras comunicativas, evidentemente com o objetivo de produzir determinados efeitos de sentido. Para tanto, o produtor do texto conta com o conhecimento prévio dos seus ouvintes/leitores a respeito dos gêneros em questão (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008, p. 64). As estratégias de manipulação da intertextualidade intergenérica ocorrem pela seleção e troca de palavras que compõem a estrutura de um dado texto; para tanto, os recursos de formatação genérica desenvolvem um conjunto de expectativas em relação ao conteúdo da narrativa e em relação a sua forma. Essa concepção de intertextualidade intergenérica mostra o fenômeno da intertextualidade não apenas em suas características estruturais ou estilísticas, mas, sobretudo, é revelado como um elemento primordial para o encadeamento da leitura. Partindo dessa premissa, entende-se que os sentidos expostos na superfície textual só serão, de fato, compreendidos, se os interlocutores tiverem previamente armazenados em sua memória discursiva o conhecimento dos textos originais. As relações intertextuais existem para dar unidade aos textos, para estabelecer seus limites e, também, para mostrar como esses textos estão ordenados. A intertextualidade genérica, na verdade, nos mostra como os textos se constituem de modo heterogêneo, como são abertos e dinâmicos, passíveis de modificações sempre. Intertextualidade tipológica – a intertextualidade lato sensu determina, assim como a intertextualidade stricto sensu, o grau de explicitação e a natureza do intertexto utilizado na composição textual. O leitor deve compreender que os gêneros são formados por sequências diferenciadas denominadas tipos textuais, considerando que a noção de gênero não se confunde com a noção de tipo. Partindo dessa premissa, uma narrativa ou uma descrição diferem uma da outra e também de outras narrativas e outras descrições. As sequências reconhecidas como descritivas, por exemplo, 141 Unidade II compartilham um certo número de características do conjunto – uma sensação familiar que incita o leitor a reconhecê-las como sequências descritivas mais ou menos típicas, mais ou menos canônicas. Ademais, verifica-se teoricamente que os tipos são agrupados como narrativos, descritivos, argumentativos, expositivos ou injuntivos; dessa maneira, é enfatizado que os gêneros textuais são constituídos por dois ou mais tipos. Portanto, a presença de vários tipos textuais em um dado gênero é denominada de heterogeneidade tipológica. A intertextualidade lato sensu, entretanto, não é vista de forma tão aparente, pois é preciso que haja uma remissão discursiva a outras vozes textuais, ainda que de forma indireta para que ela ocorra. Dessa forma, esse tipo de intertextualidade (tipológica) irá configurar-se a partir da noção de intertexto como componente textual natural. Para que esse intertexto seja evidenciado pelos interlocutores torna-se, portanto, necessário um desempenho discursivo maior, uma vez que, à relação intertextual não subjaz uma remissão a textos que fazem parte da memória cognitiva cultural e socialmente partilhada. A intertextualidade lato sensu apresenta fragmentos textuais de diferentes naturezas de uma forma bem menos evidenciável. Intertextualidade tipológica decorre do fato de se poder depreender, entre tipos textuais – narrativas, descritivas, expositivas etc. – um conjunto de características comuns, em termos de estruturação, seleção lexical, uso de tempos verbais, advérbios (de tempo, lugar, modo etc.) e outros elementos que permitem reconhecê-las como pertencentes à determinada classe. Concluindo, recorremos à metáfora do iceberg. Por mais que percebamos algo no texto só vemos uma parte superficial dele. Exemplo de aplicação Oficina As próximas atividades são preparatórias para o entendimento do filme Matrix (o primeiro da trilogia) no que diz respeito à intertextualidade. A – A alegoria da caverna é uma criação do filósofo Platão (V a.C.) para tratar do jogo aparência e essência. Segundo ele, temos de ultrapassar o que vemos a fim de alcançarmos a ideia. A alegoria é recontada por Jostein Gaarder, no livro O mundo de Sofia. Alegoria da caverna Imagine um grupo de pessoas que habita o interior de uma caverna subterrânea. Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de sorte que tudo o que veem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas 142 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que veem são a única coisa que existe. Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. E o que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca a sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sair da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido à abundância de luz. Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contornos precisos; verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da caverna não passam de imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêm os animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver as sombras refletidas na parede. Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar. Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo que veem é tudo o que existe; é a única verdade que existe; é a realidade. Por fim, acabam matando-o. (GAARDER, 1995) 1. Leia a definição de alegoria: Uma alegoria é uma representação figurativa que tem dois planos: o da representação figurada, literal e visível, e o da significação encoberta. Alegoria é um modo de expressão literária e artística que, através de um conjunto de imagens, mostra uma realidade com significado simbólico. A decifração de uma alegoria depende sempre de uma leitura intertextual, que permite identificar num sentido abstrato um sentido mais profundo, sempre de caráter moral. Recurso artístico e literário que, por intermediário de imagens figuradas, mostra uma realidade com significado simbólico. Na literatura clássica uma das alegorias mais conhecidas é o mito da caverna na obra República de Platão (Livro VII). Por que o leitor pode considerar a Alegoria da caverna uma alegoria? 143 Unidade II 2. A alegoria platônica está estruturada em dois níveis, como aponta no quadro o estudioso Jorge Claudio Ribeiro, na obra Platão: ousar a utopia: No texto I – caverna presos luz do fogo II – “lado de cima” Visão de mundo (mundo) (homem) mundo corpo sensível mundo das ideias almas Política privilégios de grupos poder, honra, individual bem da sociedade o bem Conhecimento aparência, opinião, ideologia conceito, ciência Ética prazer imediato disciplina realização plena Amor corpos belos a beleza educação espontaneidade ilusão pressão educação plena a. Identifique os tipos de ideia que nos vêm “empacotados”. Quem as emite? Qual nossa reação espontânea diante delas? b. Em que situações a violência material e a prisão da mente se fortalecem uma a outra? c. Que fatores contribuem para a libertação de um país ou de um grupo? Dê exemplos. d. Relate as etapas de alguma descoberta importante que você (algum amigo ou grupo de pessoas) fez em direção ao crescimento como ser humano. e Dê sua interpretação sobre os pontos principais da Alegoria da caverna. Debata suas conclusões com os colegas de curso. B – Maurício de Sousa criou a história em quadrinho As sombras da vida, disponível na Internet no endereço < http://www.monica.com.br/comics/piteco/pag1.htm>. Depois da leitura da HQ e do texto filosófico Alegoria da caverna, de Platão, compare: a. Semelhanças entre os dois textos. b. Diferenças. c. Referências à atualidade na HQ. C – Você já ouviu falar do escritor português José Saramago com certeza. Entre outros livros, ele escreveu A caverna. a) Pelo título, que intertexto ocorre no livro, ou seja, a que outro texto o livro faz referência? b) Ainda pelo título, que hipótese pode ser levantada sobre o tema do livro? c) Leia um trecho do livro: Há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pregados à página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra 144 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO margem é que importa, A não ser, A não ser, quê, A não ser que esses tais rios não tenham duas margens, mas muitas, que cada pessoa que lê seja, ela, a sua própria margem, e que seja sua, e apenas sua, a margem a que terá de chegar. D – Caça-palavras a. Encontre no caça-palavras as palavras em destaque. Jesus (a.C. – 29-36? d.C.) é a figura central do cristianismo. Para a maioria dos cristãos Jesus é Cristo, a encarnação de Deus e o “Filho de Deus”, que teria sido enviado à Terra para salvar a humanidade. Acreditam que foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos e ressuscitou no terceiro dia (na Páscoa). Para os adeptos do islamismo, Jesus é conhecido no idioma árabe como Isa (ﻯﺱﻱﻉ, transl. Isa�), Ibn Maryam (“Jesus, filho de Maria”). Os muçulmanos tratam-no como um grande profeta e aguardam seu retorno antes do Juízo Final. Alguns segmentos do judaísmo o consideram um profeta, outros um apóstata. Os quatro evangelhos canónicos são a principal fonte de informação sobre Jesus. Embora tenha pregado apenas em regiões próximas de onde nasceu, a província romana da Judeia, sua influência difundiu-se enormemente ao longo dos séculos após a sua morte, ajudando a delinear o rumo da civilização ocidental. Texto retirado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus> P R O F H H I K F V A E R R E S S U S C I T O U J X X T M M J T D D U Q E G B E A A E E T U T U S J G R N N S R E R E A U I J C I I E C R Y R T S Ç E E D D A E C H C R A S S I A A G S E A E U S S P R O F E T A G D S P R O O F E T A M F C D b. Relacione o episódio bíblico sobre Cristo com a Alegoria da caverna, de Platão, identificando no episódio o que seria: • A caverna. • A sombra. 145 Unidade II • A pessoa que se liberta da caverna. • A realidade a ser conhecida. c. Aponte as semelhanças e diferenças entre o destino final do indivíduo da Alegoria da caverna e Jesus Cristo. E – Você conhece a história de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol. Crie ilustrações adequadas para o público infantil para o trecho da obra: Alice faz-se de convidada duma festa de chá louco, onde estão presentes o Chapeleiro Maluco, a Lebre de Março e o Arganaz que permanece adormecido durante uma grande parte da festa.Todos eles desafiam Alice com enigmas lógicos, porém estes revelam uma incoerência nas suas declarações. O Chapeleiro Maluco revela que está perpetuamente destinado a beber chá porque o Tempo puniu-o em vingança, parando o tempo às 6 da tarde, a hora do chá. Alice sente-se insultada e cansada de ser bombardeada com tantos enigmas e sai imediatamente, afirmando que esta era a festa mais estúpida de chá em que já tinha ido. Entretanto encontra uma porta num tronco de uma árvore e entra, voltando novamente para o átrio inicial. Desta vez, abre primeiro a pequena porta, depois come um pedaço do cogumelo que estava guardado no bolso e por fim entra apressadamente no tão desejado jardim... F – Gênero textual e intertextualidade: 1. A seguir um exemplo de sinopse de filme: O mágico de Oz (Wizard of Oz, 1939) Direção: Victor Fleming, Richard Thorpe, King Vidor Roteiro: L. Frank Baum, Noel Langley Gênero: Aventura/Fantasia/Musical Origem: Estados Unidos Duração: 101 minutos Tipo: Longa-metragem Sinopse: Após um tornado em Kansas, Dorothy vai parar com sua casa e seu cachorro na fantástica Oz, onde as coisas são coloridas, bonitas e mágicas. Porém, o seu maior desejo é retornar de volta para casa, para isso ele deve encontrar um mágico, que lhe mostrará como realizar esse seu desejo. Para chegar até ele, contudo, Dorothy viverá uma aventura inesquecível através do caminho de tijolos amarelos. a. Indique o gênero desse texto e a função. b. Por ser curto, somente informações básicas são colocadas nele. O que mais você conhece sobre a história? c. Que tal você montar uma sinopse de seu filme predileto? 146 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 2. Você já sabe o que intertextualidade. Mágico de Oz Racionais Mc’s Aquele moleque, sobrevive como manda o dia a dia, tá na correria, como vive a maioria, preto desde nascença escuro de sol, eu to pra ver ali igual no futebol, sair um dia das ruas é a meta final viver descente, sem ter na mente o mal, tem o instinto, que a liberdade deu, tem a malícia, que a cada esquina deu, conhece puta, traficante ladrão, toda raça uma par de alucinado e nunca embaço, confia nele mais do que na polícia, quem confia em polícia, eu não sou louco, a noite chega, e o frio também, sem demora e a pedra o consumo a cada hora, pra aquecer ou pra esquecer, viciar, deve ser pra se adormecer, pra sonhar, viajar na paranoia na escuridão, um poço fundo de lama, mais um irmão, não quer crescer, ser fugitivo do passado, envergonhar-se aos 25 ter chegado, queria que Deus ouvisse a minha voz e transformasse aqui no mundo mágico de OZ Queria que Deus ouvisse a minha Voz!!!! (Que Deus Ouvisse a minha Voz) No mundo mágico de OZ Um dia ele viu a malandragem com o bolso cheio, pagando a rodada risada e vagabunda no meio, a imprensão que dá, é que ninguém pode parar, um carro importado, som no talo, Homem na Estrada eles gostam, só bagaceira só, o dia inteiro só, como ganha o dinheiro, vendendo pedra e pó, rolex ouro no pescoço a custa de alguém, uma gostosa do lado pagando pau pra quem? A polícia passou e fez o seu papel, dinheiro na mão, corrupção à luz do céu, que vida agitada hein? gente pobre tem, periferia tem, você conhece alguém, moleque novo que não passa dos doze, já viu, viveu, mais que muito homem de hoje, vira a esquina, e para em frente a uma vitrine, se vê, se imagina na vida do crime, dizem que quem quer segue o caminho certo, ele se espelha em quem tá mais perto, pelo reflexo do vidro ele vê, seu sonho no chão se retorcer, ninguém liga pro moleque tendo um ataque, 147 Unidade II foda-se quem morrer desta porra de crack, relaciona os fatos com seus sonhos, poderia ser eu no seu lugar, ah, das duas uma eu não quero desandar, por aqueles mano que trouxeram essa porra pra cá, matando os outros, em troca de dinheiro e fama, grana suja como vem vai não me engana, queria que DEUS, ouvisse a minha voz e transformasse aqui no mundo mágico de OZ... Queria que Deus ouvisse a minha Voz!!!! (Que Deus Ouvisse a minha Voz) No mundo mágico de OZ Hey mano, será que ele terá uma chance, quem vive nesta porra, merece uma arrevanche, é um dom que você tem de viver, é um dom que você recebe pra sobreviver, história chata, mas você tá ligado? que é bom lembrar, que quem entrar é um em cem, pra voltar, quer dinheiro pra vender, tem um monte aí, tem dinheiro quer usar, tem um monte aí, tudo dentro de casa, vira fumaça, é foda, será que DEUS deve ta provando minha raça? só desgraça, gira em torno daqui, falei do JB, é o que queria fazer, rezei pra um moleque que pediu, qualquer trocado qualquer moeda, me ajuda tio? pra mim não faz falta, uma moeda não neguei, e não quero saber, o que que pega se eu errei, independente a minha parte eu fiz, tirei um sorriso ingênuo, fiquei um terço feliz, se diz que moleque de rua rouba, o governo, a polícia no Brasil quem não rouba? Ele só não têm diploma pra roubar, ele não se esconde atrás de uma farda suja, é tudo uma questão de repercussão irmão, é uma questão de pensar, ah, a polícia sempre dá o mau exemplo, lava minha rua de sangue, leva o ódio pra dentro, pra dentro, de cada canto da cidade, pra cima dos quatro extremos da simplicidade, a minha liberdade foi roubada, minha dignidade violentada, que nada, os manos se ligar, parar de se matar, amaldiçoar, levar pra longe daqui essa porra, não quero que um filho meu um dia DEUS me livre morra, ou um parente meu acabe com um tiro na boca, é preciso morrer pra DEUS ouvir minha voz, ou transformar aqui no mundo mágico de OZ... 148 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Queria que Deus ouvisse a minha Voz!!!! (Que Deus Ouvisse a minha Voz) No mundo mágico de OZ [...] (RACIONAIS MC’S, 2010) a. Qual é o gênero do texto de Racionais Mc’s? b. Qual é o tema? c. Que relação podemos estabelecer entre esse texto com o Mágico de Oz? 2. O anúncio abaixo é da BomBril. Do que ele é constituído? Figura 16 G – Espelho: 1. Que tal brincar de Espelho meu...? Você precisa de: o Um espelho o Um amigo O que deve fazer: Põe-se em frente ao espelho. Aproxime-se. Afaste-se. Faça uma careta. Levante a mão direita e pouse-a sobre o espelho. Jogue com um amigo aos espelhos: repita os mesmos movimentos, de frente para o seu amigo e ele vai fingir que é o espelho. Será divertido. 149 Unidade II O que acontece? A mão toca no espelho é a mesma que vê no espelho? Quando joga aos espelhos e levanta a mão direita, qual é a mão que o seu amigo levanta? Um espelho plano reflete a imagem real, embora invertida em termos de direita e esquerda. 2. O espelho aparece em situações diferentes. Dê exemplo da importância do espelho em: a. mito b. literatura c. religião 3. “Espelho, espelho meu, existe um intelectual mais sabido do que eu?” Num primeiro nível, a reflexão sobre o espelho será sempre um questionamento do ego sobre si mesmo. Mas o espelho nunca responde, ou melhor, nunca discorda, ao contrário, seu silêncio eternamente cúmplice se faz íntimo das mais desmesuradas comparações. Crie situações de vaidade: a. Espelho, espelho meu, existe.............? b. Espelho, espelho meu, existe............? H – Criatividade: 1. Faça uma lista de filmes e/ou livros de ficção que imaginam o futuro da humanidade, separandoos em duas colunas: otimistas apocalípticos 2. Leia sobre Nabucodonosor, segundo duas fontes: a história e a Bíblia. O futuro profetizado por ele é otimista ou apocalíptico? História: Aproximadamente no ano de 606 a.C., o império babilônico dominava o mundo de então. Nabucodonosor, o rei deste império, havia subjugado o povo de Israel e muitos foram levados para o cativeiro. Dentre os cativos estava o jovem Daniel, da Tribo de Judá. Babilônia era uma cidade de beleza e luxo. Seus palácios e jardins suspensos se tornaram uma das sete maravilhas do mundo antigo. Era cercada por imensos muros e gigantescas portas, além de um profundo fosso rodeando os muros. Babilônia era considerada uma cidade inexpugnável. O rio Eufrates cortava a cidade em diagonal, sob os muros, fertilizando os maravilhosos jardins. O território, que Nabucodonosor governava, tivera uma longa e variada história e estivera sob o governo de diferentes povos e reinos. De acordo com o Gênesis, a cidade de Babilônia foi parte do reino fundado por Nimrod, bisneto de Noé. Nabopolasar foi o fundador do que se chama o Império Caldeu, o qual teve sua idade de ouro nos dias do rei Nabucodonosor e durou até que Babilônia caiu em mãos dos medos-persas no ano 539. 150 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Nabucodonosor se orgulhava de sua Babilônia, que ele dizia ter criado por suas próprias mãos, com a força de seu poder, para glória de sua magnificência. Mas ele se preocupava em como seria quando ele não fosse mais o governante. [...] Relato bíblico: Como todos os antigos, Nabucodonosor acreditava nos sonhos como um dos meios pelos quais os deuses revelavam sua vontade aos homens. Segundo a Bíblia, em uma noite, Deus decidiu revelar a Nabucodonosor o futuro em uma profecia, não só do Império da Babilônia, mas também a história de toda a humanidade. Nabucodonosor sonhou com uma grande estátua, a cabeça era de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e coxas de bronze, as pernas de ferro e os pés eram parte de ferro e parte de barro. Enquanto admirava a estátua, uma grande pedra veio do alto e acertou os pés da estátua que acabou sendo totalmente destruída. Depois disso a pedra cresceu até cobrir toda a face da terra. No dia seguinte ao pensar no sonho, o rei percebeu que não conseguia se lembrar de nada. Não conformado com o esquecimento procurou ajuda dos sábios de sua corte. Exigiu que eles o fizessem lembrar do sonho e também dessem a sua interpretação. Daniel não estava presente quando os sábios foram convocados e notificados da difícil tarefa. Se o mistério não fosse solucionado todos os sábios seriam executados. A severidade do castigo não estava fora do tom com os costumes desses tempos. No entanto, era um passo temerário do rei porque os homens cuja morte tinha ordenado constituíam a classe mais culta da sociedade. Daniel pediu um tempo para buscar o auxílio de Deus e então solucionar o que parecia impossível. Segundo a Bíblia, uma noite Deus enviou a Daniel o mesmo sonho do rei. Algum tempo depois Daniel foi levado até Nabucodonosor. Daniel descreveu o sonho com exatidão ao rei, contou até mesmo o que Nabucodonosor pensara antes de dormir. Nabucodonosor não tinha nenhuma dúvida que aquele era o sonho e que Deus havia revelado essas coisas a Daniel. Em seguida Daniel deu a interpretação do sonho. Daniel descreveu, segundo o relato bíblico, a história da humanidade desde a Babilônia até o dia do juízo final. Segundo Daniel as diferentes partes da estátua eram diferentes impérios que se sucederiam no controle e domínio do mundo (WIKIPEDIA, Profecia da estátua de Nabucodonosor). 3. Imagine o futuro. Como será a sociedade? Os valores éticos? A política? A natureza? Produza uma história criativa, diferente daquelas conhecidas por você. I – Nomes: a. Você já pensou no significado dos nomes? b. Qual é a história de seu nome? Por que ele foi escolhido? c. Relacione cada nome com seu significado: 151 Unidade II Ana Beatriz Paulo Policarpo Ulisses Sofia Hebraico: cheia de graça, a benéfica. Latim: a que faz feliz alguém. Latim: pouco, pequeno. Grego: o de muitos frutos, frutoso. Grego: o odiado por Zeus, o irritado. Grego: sabedoria. Saiba mais Assista ao filme Matrix THE MATRIX. Direção: Wachowski Brothers. Estados Unidos: 1999 (primeiro filme da série). (136 min.). Relatório do filme Matrix I – Intertextualidade: 1. Logo no início do filme, Neo procura algo no livro oco intitulado Simulations and simulacra, de Jean Baudrillard. Pelo título, indique uma hipótese para a presença do livro no filme. 2. O filme faz referência ao livro Alice no País das Maravilhas. De que forma ocorre a intertextualidade, isto é, referência ao livro no filme, e qual é a importância do episódio para o personagem principal, Neo. 3. O filme faz referência também à história O mágico de Oz. Qual é a frase que explicita tal referência e em que contexto do filme ela ocorre? II – A história de The Matrix baseia-se na alegoria da caverna de Platão. 1. Identifique no filme: a. O que representa a caverna. b. O que são as sombras. c. Quem é a pessoa que se liberta da caverna. d. A realidade conhecida. 2. Relacione: 152 (a) pílula vermelha ( ) ignorância (b) pílula azul ( ) conhecimento COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 3. No filme, há o discurso direto: “Os olhos doem, porque você nunca os usou.” Relacione essa fala com o mito da caverna. III – Conhecimento e os sentidos 1. Uma ideia filosófica adotada no filme é “Conheça a ti mesmo”, que era colocada no templo Apolo em Delfos. A mesma frase aparece no filme, mas em latim. Onde fica a frase? 2. Neo aprende que o intelecto (mente) é mais importante que a matéria (os sentidos). Que personagem do filme sabe que Matrix não é real, mas quer voltar ao mundo da ilusão, ou seja, escolhe a vida só de prazer (sensorial)? 3. Procure a música final do filme, do grupo Rage Against the Machine, e faça uma relação entre a letra da música e o filme. IV – A morte de Neo nos remete a dois textos: ao mito da caverna e à Bíblia, em especial, ao episódio sobre Jesus Cristo. 1. Compare a morte de Neo com a morte da pessoa que se liberta da caverna e com a de Jesus Cristo, comparando as semelhanças e diferenças, bem como a causa da morte. 2. Matrix foi lançado na Páscoa de 1999, em uma relação clara do filme com a Bíblia. Indique a importância dessa data comemorativa e as implicações para o filme. 3. Identifique do filme semelhanças entre Neo e Jesus Cristo: concepção, batismo, tentação, morte e ressurreição, ascensão corporal; cidade prometida. 4. No filme há uma placa na nave: “Mark III nº11/ Nebuchadnezzar; Made in USA; Year 2069”. Indique a relação da placa com a Bíblia. V – Nomes: Dê o significado, seguindo o contexto do filme, dos nomes: Neo Morfeu Trinity Cypher 7 INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS E ALTERAÇÃO NO SENTIDO 7.1 Pressuposto e subentendido Existem duas categorias de conteúdo implícito, comumente utilizadas nas situações de comunicação do nosso cotidiano: os pressupostos e os subentendidos. Ambos exigem do ouvinte/leitor o conhecimento 153 Unidade II e o reconhecimento de alguns índices no texto, que auxiliam na tarefa de interpretação de alguns tipos de informação. Pressuposto refere-se às ideias expressas de maneira explícita. Observe o exemplo apresentado: • André tornou-se um antitabagista convicto. É possível pressupor que André deixou de fumar, por intermédio do verbo “tornar-se”, que significa “vir a ser”. Como dito anteriormente, há palavras e expressões no enunciado que indicam um sentido, construído por uma informação pressuposta. É fundamental detectar os pressupostos, pois eles são um recurso argumentativo que visa conduzir o leitor a aceitar certas ideias, pois a ideia implícita não está em discussão, apresentada como se fosse aceita por todos, e a explícita apenas contribui para confirmá-la. Em muitos textos políticos, temos demonstração dessas “verdades” incontestáveis: • “Para que o Brasil se torne um país do primeiro mundo será preciso privatizar as empresas estatais, abrir a economia ao ingresso de produtos estrangeiros e terminar com os direitos trabalhistas que oneram a folha de pagamento e a Previdência Social” (Exemplo dado por Platão e Fiorin, 2001). O conteúdo explícito dessa frase é: • o ingresso do Brasil no primeiro mundo exigirá a privatização das empresas estatais; • o ingresso do Brasil no primeiro mundo exigirá a abertura da economia aos produtos estrangeiros; • o ingresso do Brasil no primeiro mundo exigirá o término dos direitos trabalhistas. O conteúdo implícito dessa frase é: • o Brasil vai ingressar no grupo de países do primeiro mundo, se preencher as condições; • no Brasil as empresas e o Estado são onerados pelos direitos trabalhistas. Confirmamos os pressupostos se arrolarmos os seguintes argumentos contra o que é dito explicitamente: • existem países do primeiro mundo que se desenvolveram com base num setor estatal muito forte, que ainda é mantido; • há países do primeiro mundo, como o Japão, que mantêm uma economia muito protegida da concorrência externa; • na maioria dos países do primeiro mundo, os trabalhadores têm mais direitos que no Brasil, e as empresas e o Estado, mais encargos com os trabalhadores. 154 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO No entanto, destruímos as ideias dadas como verdadeiras, se dissermos: • o Brasil não ingressará no primeiro mundo, mesmo que privatize o setor estatal, abra a economia e acabe com os direitos trabalhistas, porque isso depende de outros fatores; • encargos trabalhistas não são ônus, mas meio de manter a mão de obra viva. O subentendido, por sua vez, não vem marcado por expressões linguísticas; é um processo de construção de sentido que se organiza a partir da percepção do ouvinte/leitor. O falante pode negar a interpretação de seu ouvinte/receptor. O subentendido é um recurso utilizado em situações de comunicação, nas quais o sujeito não quer se comprometer com o que disse. Existem, portanto, produções textuais que só fazem sentido se o leitor tiver a habilidade e os conhecimentos necessários para desvendar a sua mensagem. As piadas são gêneros textuais desse tipo. Várias vezes, em uma roda de amigos, a graça de uma piada é motivo de chacota para aqueles que “viajaram”, sem encontrar nenhum sentido na mensagem. O problema provavelmente é não encontrar as informações implícitas. Exemplo de aplicação 1. O que podemos pressupor com as afirmações? • Julinha foi minha primeira filha. • A produção agropecuária brasileira está totalmente nas mãos dos brasileiros. Comentário: O léxico “primeira” pressupõe: que tenho outras filhas; que não tenho filhos; que as outras filhas nasceram depois da Julinha. O advérbio “totalmente” nos leva a pressupor que não há no Brasil nenhum estrangeiro produtor agrícola. 2. (UNICAMP) Na tira abaixo, a lesma Flecha manifesta duas opiniões contraditórias, uma explícita e uma implícita (isto é, subentendida). Figura 17 a. Explicite a opinião que Flecha deixa implícita. 155 Unidade II b. Segundo este texto, em qual das duas opiniões Flecha realmente acredita? c. Qual é a passagem da tira que permitiu que você chegasse a essa conclusão? Justifique. Comentário: Flecha deixa implícita a opinião dele de que há diferença entre homem e mulher, ou seja, ele é machista. A passagem “aliás, típica” comprova a opinião de Flecha. É típico das mulheres fazer pergunta e, para ele, pergunta desnecessária. 5. Descreva alguns pressupostos contidos no texto abaixo: É preciso que os sindicatos encaminhem as negociações com responsabilidade, com senso de patriotismo, sem induzir os trabalhadores a radicalismos inaceitáveis. Comentário: Os pressupostos podem ser: os sindicatos não encaminham as negociações com responsabilidade; os sindicatos não encaminham as negociações com senso de patriotismo; os sindicatos induzem os trabalhadores a radicalismos inaceitáveis. Percebemos, então, que os pressupostos dependem do ponto de vista de quem fala, pois, pelo texto, vemos que não é o sindicato, mas ou algum representante empresarial ou estatal em embate com os trabalhadores. Teríamos outros pressupostos se o texto fosse do próprio sindicato. 7.1 Metáfora e metonímia Metáfora é uma figura de linguagem que altera o sentido das palavras por intermédio do acréscimo de um significado que aproxima os termos por uma relação de semelhança. Ocorre quando duas palavras possuem um traço de sentido semelhante. Observe como ocorre a metáfora, no trecho da poesia de Camões, utilizado como ilustração anteriormente: O amor é o fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer. Ao definir amor por fogo ou ferida, o autor desloca o sentido da palavra amor para outro universo de interpretação: “quente” e “dolorido” são características que justapõem amor a fogo e a ferida. A metáfora é uma espécie de comparação, porém, sem o conectivo que a estabelece: “Amor é como fogo“ (comparação); “amor é fogo” (metáfora). A metáfora não está apenas no domínio da literatura, mas na linguagem cotidiana. Afinal, diz respeito à forma como nós compreendemos e conceituamos o mundo que nos cerca. Vejamos o caso do futebol, paixão nacional. Você tem ideia de quantas metáforas nós relacionamos ao futebol? Por exemplo, na manchete de jornal aparece: • É guerra no parque São Jorge 156 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Nesse enunciado, o futebol é ligado à guerra, com o emprego da palavra “guerra”. Por conseguinte, temos uma metáfora: futebol é guerra. O estudioso Oliveira (2005) fez um levantamento no jornal Agora São Paulo das metáforas referentes ao futebol. Na verdade, são muitas metáforas e ele selecionou apenas algumas. Deixo para você, caro aluno, a identificação de a que campo semântico as metáforas das manchetes e leads fazem parte: G – Futebol é guerra. R – Futebol é religião. M – Futebol é morte. N – Futebol é novela. D – Futebol é amor. ( ) Esquema de guerra no caldeirão. ( ) Novela Liedson segue igual. ( ) Novela segue indefinida. ( ) O Palmeiras jogou mal, levou sustos e marcou. Fez milagres. A estreia na série B não foi um desastre porque o jovem atacante marcou no final. ( ) Céu e inferno. Esses foram os dois extremos visitados por Fabio Costa na partida de ontem. ( ) Amoroso sela paz com o Borussia. ( ) Lucas vive lua de mel com o Timão. ( ) Palmeiras é só amor. ( ) Divórcio a caminho. ( ) Peixe na mandinga. ( ) Ninguém assume a culpa pela derrota contra o cruzeiro: defesa acusa o ataque, que protesta contra o meio, que detona a diretoria. Saiba mais Famoso e sensível filme, O carteiro e o poeta consegue mostrar, por meio da convivência temporária entre o poeta Pablo Neruda e o carteiro, o sentido de metáfora. Filme: O carteiro e o poeta. Direção: Michael Radford. Duração: 109 min. Ano: 1995 157 Unidade II Na manchete, por exemplo, “Lucas vive lua de mel com o Timão”, temos a metáfora “futebol é amor”, devido ao termo lua de mel. Se você prestar atenção à forma como as pessoas de forma geral, os jornalistas, os próprios jogadores referem-se ao futebol, perceberá essas e outras metáforas criadas. Como disse, a metáfora se encontra na nossa linguagem recorrentemente. Vejamos outra situação. Como bem aponta Ilari (2001), algumas propriedades são associadas convencionalmente a certos animais: a raposa costuma ser tomada como símbolo da astúcia, o touro como símbolo da força etc. Assim, construímos linguagem metafórica no nosso dia a dia que relacionamos essas propriedades às pessoas. Reflita, caro leitor. O que se pretende, quando se diz de alguém… • … que é um cavalo. • …que é um tatu. • …que é uma cobra. O que se pretende, quando se diz que alguém… • …come como um passarinho. • …tem olhos de lince. • …dorme com as galinhas. Criamos metaforicamente uma comparação entre a pessoa e um animal. No exemplo: • João dorme com as galinhas Temos uma metáfora, mas para ela ser criada pelo autor e entendida pelo interlocutor, há necessidade de conhecimento compartilhado entre eles, uma vez que precisam saber um pouco sobre os hábitos das galinhas sobre dormir ao anoitecer. Na nossa concepção, o horário de dormir desses bichos é muito cedo. Outra situação de criação de metáfora no cotidiano envolve falar de certas cores e formas como um modo de intensificar a propriedade expressa por um adjetivo. Por exemplo: • João está roxo de raiva Indica uma alteração sanguínea no rosto da pessoa, mudando-lhe a cor. Por isso, atribuímos a cor roxa, por exemplo, para essa alteração, criando, assim, mais uma metáfora. Agora, pense nas várias maneiras como poderiam ser completadas as frases a seguir: • … verde de… • …branco de… 158 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO • …quadrado de… • …seco de… Uma das ideias mais usuais é “verde de raiva”; tão famosa, que o personagem Hulk é literalmente transformado em um ser da cor verde, representando essa expressão tão conhecida. À cor verde, atribuímos também a inveja. Observação Segundo os editores da Marvel Comics, o personagem Hulk saiu verde por um erro da impressora nas primeiras edições da revista, que deveria imprimi-lo cinza. A associação da raiva à cor verde tornou-se, assim, uma famosa metáfora. A metonímia, por sua vez, é o processo de alteração de sentido, por meio do acréscimo de um significado que aproxima os termos por relação de contiguidade, inclusão, implicação, interdependência e coexistência entre dois termos. Voltemos ao poema Professor de História, de Roberto Chaim, rico em metonímia: Professor de História Roberto Chaim Quando eu conto Que nesta terra A nudez era tão natural E que o pecado e a malícia vieram de longe, A bordo de treze naus Quando eu conto que os corpos nus Mirados pelo vento Vestidos com a inocência Foram violados por olhos cúpidos Ultrajados por olhos sedentos Quando eu conto Que trouxeram tantos deuses Novas crenças, todas vãs Eu já tinha minha fé Eu já tinha meu pajé Eu queria trocar meu Tupã? 159 Unidade II Quando eu conto Que o Deus que aqui chegou Trazido do além-mar Viajou com o invasor? Com certeza na primeira maré Levou um à proa, e o outro se pôs na ré Quando eu conto Que tanto se fez Em nome de uma fé Matou-se, vestiu-se E levou o que da terra se apanhava Para uma desconhecida e longínqua Sé Quando eu conto Que para cá trouxeram a Cruz e contaram seu significado E sem que ficassem chocados Cruzaram os corpos mortos e despidos Com corpos mortos de meninos nus Quando eu conto Que tudo que eu conto é verdade Ah Tupã, que impunidade! Já não existe Tupi, Tapuia ou Timbira... Podia ser tudo um conto Podia ser tudo mentira (CHAIM, 2008). No poema, os versos: A nudez era tão natural E que o pecado e a malícia vieram de longe, representam metonimicamente dois povos: nudez indígena pecado e malícia europeu Quanto à concepção religiosa e moral, uma vez que a palavra “pecado” remete ao contexto religioso e, com base nesse contexto, cria-se uma dicotomia: inocência do povo indígena (“nudez tão natural”) x pecado do povo europeu. 160 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Nos próximos versos que os corpos nus Mirados pelo vento Vestidos com a inocência Foram violados por olhos cúpidos Ultrajados por olhos sedentos Os léxicos “corpos” e “olhos” são metonímias, em contiguidade a, respectivamente, povo indígena e corpos dos navegantes europeus. Ressaltamos também que o verso “vestidos com a inocência” é metáfora, em que o verbo vestir não está empregado no sentido usual de colocar roupa. Encontramos outra metonímia nos versos Quando eu conto Que para cá trouxeram a Cruz O léxico cruz torna-se uma metonímia ao implicar o Cristianismo, religião trazida à América pelos europeus conquistadores. 7.3 Procedimentos argumentativos A proposta é a leitura do texto seguinte, verificando dois aspectos: 1. qual é a verdadeira intenção do autor; 2. que tipo de argumento ele usa para nos convencer de que sua ideia é correta. Cuidado, caro aluno, porque o autor está cheio de artimanhas. Dúvidas André Laurentino Existem coisas que eu não entendo. É uma frase presunçosa, logo no começo. Meu querido André, existem coisas que nem o Stephen Hawkins entende. Qual a novidade? A novidade é que as coisas que eu não entendo são simples e prosaicas. Eu sou simples e prosaico; passo a vida disfarçando, mas quem acredita? Talvez a esperança seja enganar a mim mesmo. Não dá: eu sei dos meus truques. Então, acabemos com isto (a enganação) e com isto (a introdução). Vamos às dúvidas: A) Futebol. Por que a barreira nunca ouve as instruções do goleiro? É ele quem orienta onde os jogadores devem ficar, mas ninguém se importa. Viram as costas. Dá aflição ver aqueles gritos desesperados. Parece um flanelinha estressado querendo merecer o pagamento. B) Cinema. Quando aparece alguém digitando ou datilografando, por que os atores nunca teciam a barra de espaço? Será que eles só escrevem palavras como “inconstitucionalissimamente”? 161 Unidade II C) Sotaque. Por que, nos comerciais de rádio, sempre que ouvimos um nordestino falando, nunca é um nordestino falando? Usam um paulista imitando o sotaque. Cheguei a pensar que não existem aqui nordestinos que possam ir ao estúdio. É mais fácil encontrar um norueguês do que um cearense. Mas meu porteiro garante que não (ele é de Sergipe) e jura que recebe convites diários para gravar comerciais de rádio. Mas, seu André, quem vai ficar na portaria? Tem razão. Esta dúvida, ao menos, deve estar explicada D) Bíblia. Gênesis, o começo de tudo. Adão e Eva têm dois filhos: Caim e Abel. Depois de matar o irmão, Caim se casa com uma mulher. Mas que mulher é esta? A única mulher da história até aqui era Eva. E, assim mesmo, era a sogra. Que eram os pais da nora de Eva? E) Windows. Se eu quero desligar o computador, por que clicar na tecla ‘iniciar’? F) Telefonia. Por que se diz “chama chama e ninguém atende”? Não podia ser só um “chama”? Olha como também funciona: “Ligou para fulano?”, ‘’Liguei, mas chama e ninguém atende”. Hum... Então insiste mais um pouquinho: liga até chamar chamar e ninguém atender. G) Pronúncia. Por que se diz ‘trânzito’ se se escreve ‘trânsito’? Outra: por que se diz ‘muinto’ se se escreve ‘muito’? H) Por que o plástico do CD tem que ser impossível de abrir? Já existe tecnologia e maquinário para se colocar uma fitinha vermelha que rasga a embalagem. Vide qualquer pacote de biscoito. Será que o inventor do plástico de CD nunca comeu biscoito? I) E, finalmente, Páscoa. Por que chocolate engorda e rúcula não? (LAURENTINO, 2007) Percebeu, caro aluno, como o texto nos leva ao engano? Ardiloso, o autor apresenta uma série de dúvidas, que no fundo servem como argumentos, para nos distrair de sua verdadeira intenção: “Por que chocolate engorda e rúcula não?” Publicado na época da Páscoa, momento em que o volume de consumo de chocolate aumenta, o texto é construído com humor e com base na argumentação. Falar em argumentação implica considerar que saber ler e escrever nos exige muito mais do que dominar técnicas e regras gramaticais. É necessário agir sobre o mundo e defender-se dele; reconhecer a intencionalidade de seu texto e do texto do outro; interagir, para que a sua proposta comunicativa seja eficaz; saber utilizar textos de informação e textos de opinião; reconhecer os tipos de argumentos adequados para uma determinada situação de uso; reconhecer os tipos de discursos; saber elaborar textos argumentativos. 162 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Argumentação é um procedimento que tem por objetivo levar o indivíduo a reconhecer e aderir a uma determinada tese ou “verdade”. Para essa finalidade, são utilizados argumentos (proposições ou frases declarativas) para defesa de uma ideia ou ponto de vista. Como dito no parágrafo anterior, a informação é a base de uma boa argumentação, e a opinião transforma a informação em argumento. Vale ressaltar que opinião não significa, nesse contexto, uma representação da visão de mundo meramente subjetiva: dizer se a cor azul é mais bonita do que a rosa; o procedimento exige muito mais, pois implica “provar” que o seu ponto de vista sobre um determinado tema é pertinente e passível de adesão. As condições de argumentação e os procedimentos argumentativos nortearão o desenvolvimento de textos persuasivos. Segundo Abreu (2001), a primeira condição de argumentação é definir uma tese e saber para que tipo de problema essa tese é resposta. Por exemplo, um bom vendedor é aquele que identifica as necessidades de seu público e sabe aproveitá-las como informação para o desenvolvimento de seus argumentos. Uma segunda condição é ter uma linguagem comum com o público para quem se dirige o texto. O uso da língua deve obedecer a níveis de formalidade, de acordo com o grau de escolaridade, formação e especialização profissional de seu público. A terceira condição é causar empatia, um contato positivo com o seu público, para garantir uma receptividade positiva em relação aos seus argumentos. Veja as sugestões propostas por Abreu (2001, 39): Nunca diga, por exemplo, que vai usar cinco minutos de alguém, se vai precisar de vinte minutos. É preferível dizer que vai usar uma meia hora. Outra fonte de contato positivo com o outro é saber ouvi-lo. [...] Devemos também aprender a ouvir como nossos olhos! A postura corporal do outro, suas expressões faciais, a maneira como anda, gesticula e até mesmo a maneira como se veste nos dão informações preciosas. A quarta condição é agir de forma ética, para que a argumentação não se torne uma manipulação. Para produzir textos argumentativos, recorremos a determinados procedimentos argumentativos, que são recursos utilizados para justificar uma opinião. Segundo Andrade e Medeiros (2001, p. 165), os recursos argumentativos são: • exemplificação: busca justificar os pontos de vista exarados por meio de exemplos. São marcadores sintáticos principalmente: mais importante que, superior a, de maior relevância que, por exemplo, considerando, analisando os dados, pelos dados, segundo; • explicitação: o objetivo do texto é explicar, esclarecer os pontos de vista apresentados. São seus principais marcadores sintáticos: isto é, haja vista, quer dizer, na verdade, considera-se, denomina163 Unidade II se, chama-se, segundo, consoante, do ponto de vista, no pensamento de, parece-me, a meu ver, em meu entender; • enumeração: o autor do texto tem em vista apresentar uma sequência de elementos que provem a sua opinião. São seus principais marcadores sintáticos: primeiro, segundo, um, outro, por último, sucessivamente, respectivamente, antes, depois, ainda, em seguida, então, presentemente, outrora, atualmente, antes de, depois de, no passado, hoje, ontem, ao lado de, adiante (...); • comparação: texto que procura, mediante comparação, provar o que é apresentado como opinião do autor. São seus principais marcadores sintáticos: da mesma forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente, em contraste, em oposição, ao contrário, por um lado, por outro lado, de outro lado, mais que, menos que, pior que. A comparação nem sempre é explícita; ela pode transformar-se em metáfora. A conclusão de uma argumentação deve apresentar a finalização da linha de raciocínio do autor e pode ser elaborada pelos seguintes formatos: • síntese: retomada do que já foi dito anteriormente. Por exemplo, ao defender a ideia de que é necessária uma política de preservação do meio ambiente para garantir a sobrevivência de gerações futuras e desenvolver argumentos que demonstrem a pertinência dessa defesa, pode-se retomar essa ideia no final do texto argumentativo; • dedução: com base na defesa de uma ideia, é possível deduzir uma conclusão. São utilizadas expressões do tipo: de acordo com, logo, deduzindo etc.; • relação de causa e consequência: as causas e as consequências relacionadas à defesa de ideia são apontadas por expressões do tipo: por causa de; graças a; em virtude de (causa), de forma que, de modo que, consequentemente (consequência); • por interrogação: recurso utilizado quando se deseja gerar uma dúvida que se transforma em tema para a reflexão; por exemplo, é possível transformar a afirmação da necessidade de uma política para preservação do meio ambiente em um questionamento como Sem política de preservação do meio ambiente, as gerações futuras sobreviverão? • citação direta, parafraseada ou parodiada: recurso que traz ao texto o ponto de vista de outro, muitas vezes uma autoridade no assunto. Esse recurso também é reconhecido como um recurso de autoridade. Observe o exemplo citado por Andrade e Medeiros (2001, p. 168): Dizia Oscar Wilde que nosso único dever para com a história é reescrevê-la. Estou fazendo a minha parte... Vejamos outro exemplo de texto argumentativo: Rabos e pelos Os homens em sua evolução foram ganhando coisas e perdendo coisas. Algumas perdas foram graves. Os ganhos foram poucos. 164 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO O olfato, por exemplo, foi uma perda essencial. Qualquer bicho tem faro melhor que o nosso, se orienta por ele para procurar comida e namorada. Andam até no escuro, guiados pelos cheiros. Grave, também, foi a perda do focinho e o encolhimento da boca, mas teve a vantagem de permitir que a gente abandonasse o hábito de usar a boca antiga para carregar as coisas. Para isso, começamos a usar as mãos, que também se aperfeiçoaram com o polegar, que permite manipulações delicadas. A perda do pelame foi lamentabilíssima. Um cachorro ou um macaco, ao natural, quer dizer, nus, estão vestidos. Nós, nuelos, provocamos escândalos. Isso porque nos faltam os pelos, que é a vestimenta natural dos seres. Sem eles, se tem que fabricar roupa e também que ficar na moda, sobretudo as mulheres, o que fica muito caro. A perda mais grave, a meu juízo, foi a do belo rabão dos macacos. Trocamos o rabo pela bunda acolchoada que temos. Mau negócio. Nada nos podia ser mais útil do que bons rabos. Com eles, nos verteríamos em primatas desbundados. A única vantagem que trouxe foi nos dar a possibilidade de usar cadeiras para sentar, mas não seria ruim sentar no rabo enrodilhado no chão. Pense só na beleza que seria passear, pulando de galho em galho, com a garantia que o rabo dá para se equilibrar. Melhor, ainda, seria nas fábricas, nas escolas, em toda parte, os seres providos de rabos teriam os pés e as mãos livres para fazer coisas. A professora, por exemplo, ficaria controlando a turma,pendurada pelo rabo no lustre. Em lugar das carteiras, teríamos traves, de parede a parede, onde o pessoal se dependuraria, liberando as patas e as mãos para o trabalho. Dependurado nas traves, você podia segurar o livro com a mão esquerda, pegar a caneta com a mão direita, usar a pata esquerda para consultar o dicionário e, ainda, a pata direita para coçar a orelha. Formidável, não é? A perda mais radical foi a da posição quadrúpede, que usamos durante muitos milhões de anos, para a posição ereta. Como quadrúpedes, púnhamos as quatro patas no chão, o que dava muito mais solidez. Sobre duas patas, ficamos sempre meio desequilibrados e, depois, quando se perde uma, fica muito complicado viver e trabalhar. A consequência principal da adoção da posição bípede foi a dor ciática, que castiga demais os velhos. É uma dor terrível no traseiro. Dizem que é a saudade da nossa posição quadrúpede, porque, enquanto tínhamos quatro patas no chão, as vísceras se dependuravam na espinha, postas em posição vertical. Levantando os braços, as vértebras se comprimem umas nas outras, o que provoca aquela dor insuportável. O ganho único foi a possibilidade de subir escadas. Você acha que valeu a pena? (RIBEIRO; ZIRALDO. 1995. p.48-9). 165 Unidade II Conforme é possível observar, os autores brincam com a questão da evolução humana, elaborando, a partir da posição do humano no topo da cadeia evolutiva, a falsa questão: “Você acha que valeu a pena?” Os autores brincam com a imagem de um humano quadrúpede, com um focinho e rabo; depois, na posição bípede e, por último, subindo escadas com uma muleta, com certeza com dor lombar. Sem ignorar o tom de humor com que é tomada a questão pelos autores, verificamos que o texto é argumentativo e a opinião dos autores sobre o assunto é explicitada logo no primeiro parágrafo: ao caracterizar as perdas, comparadas aos ganhos, como as mais graves já fazem uma avaliação. Com a finalidade de justificar a sua opinião, os autores recorrem ao recurso argumentativo exemplificação, ou seja, por meio de exemplos. O primeiro argumento exemplificado é: O olfato, por exemplo, foi uma perda essencial. Empregam o termo argumentativo “por exemplo” e explanam sobre a importância de ter olfato no sentido de faro, que leva o animal a detectar um cheiro à longa distância. O humano não tem mais esse olfato/faro, significando grande perda. Convém lembrar que nem todos os argumentos têm a mesma veemência, sendo necessário distribuílos gradativamente no discurso. Podemos optar por uma de três soluções: por ordem decrescente, por ordem crescente ou abrir e fechar o texto com os argumentos mais fortes. No caso do texto de Ribeiro e Ziraldo, os autores expõem os exemplos argumentativos por ordem de importância crescente. Os outros exemplos são: Grave, também, foi a perda do focinho e o encolhimento da boca. A perda do pelame foi lamentabilíssima. Nesse argumento, a perda é reforçada pelo uso do adjetivo lamentável no grau superlativo. A perda mais grave, a meu juízo, foi a do belo rabão dos macacos. Para os autores, o rabo constitui-se como um órgão muito útil. Os autores, por conseguinte, exemplificam as várias utilidades do rabo para o humano. A perda mais radical foi a da posição quadrúpede, que usamos durante muitos milhões de anos, para a posição ereta. A justificativa dos autores é o equilíbrio perdido; afinal, andar sobre duas patas causa desequilíbrio e dor ciática. 166 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO No texto, os argumentos vêm acompanhados de termos da língua que são opinativos. A cada perda, um termo reforçador da opinião: radical mais grave lamentabilíssima grave perda essencial O texto argumentativo é estruturado e suas partes são organizadas segundo a função de cada uma delas no texto: • introdução: apresenta a defesa de uma ideia ou anuncia o assunto; • desenvolvimento: apresenta os argumentos apropriados para a defesa de ideia; • conclusão: enfatiza a pertinência da defesa de ideia e fecha todo o processo de raciocínio desenvolvido no texto. Uma das dificuldades que temos ao escrever um texto argumentativo, mas que envolve outros tipos textuais também, é dar início a ele. Como fazer nosso leitor aderir às nossas ideias, concepções, pontos de vista, se não dermos uma introdução, no mínimo, adequada, quem sabe até interessante, um verdadeiro chamariz? Pensando nessa dificuldade, apresento as dezoito formas para começar um texto, seguindo as propostas de Viana (1998): 18 formas para você começar um texto Ao escrever seu primeiro parágrafo, você pode fazê-lo de forma criativa. Ele deve atrair a atenção do leitor. Por isso, evite os lugares-comuns como: atualmente, hoje em dia, desde épocas remotas, o mundo de hoje, a cada dia que passa, no mundo em que vivemos, na atualidade. Listamos aqui dezoito formas de começar um texto. Elas vão das mais simples as mais complexas. 1. Uma declaração (tema: liberação da maconha) É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda. 167 Unidade II A declaração é a forma mais comum de começar um texto. Procure fazer uma declaração forte, capaz de surpreender o leitor. 2. Divisão (tema: exclusão social) Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e esforços extraordinários. Experiências relatadas nesta Folha mostram que o combate à marginalidade social em Nova York vem contando com intensivos esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada. Ao dizer que há duas convicções errôneas, fica logo clara a direção que o parágrafo vai tomar. O autor terá de explicitá-lo na frase seguinte. 3.Definição (tema: o mito) O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e não crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana. A definição é uma forma simples e muito usada em parágrafos-chave, sobretudo em textos dissertativos. Pode ocupar só a primeira frase ou todo o primeiro parágrafo. 4. Uma pergunta (tema: a saúde no Brasil) Será que é com novos impostos que a saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim. A cada ano, somos lesados por novos impostos para alimentar um sistema que só parece piorar. A pergunta não é respondida de imediato. Ela serve para despertar a atenção do leitor para o tema e será respondida ao longo da argumentação. 5. Comparação (tema: reforma agrária) O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que afetam o Brasil. Numa comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final do século passado e, atualmente, o movimento pela reforma agrária, podemos perceber algumas semelhanças. Como na época da abolição da escravidão existiam 168 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO elementos favoráveis e contrários a ela, também hoje há os que são a favor e os que são contra a implantação da reforma agrária. Para introduzir o tema da reforma agrária, o autor comparou a sociedade de hoje com a do final do século XIX, mostrando a semelhança de comportamento entre elas. 6. Oposição (tema: a educação no Brasil) De um lado, professores mal pagos, desestimulados, esquecidos pelo governo. De outro, gastos excessivos com computadores, antenas parabólicas, aparelhos de videocassete. É este o paradoxo que vive hoje a educação no Brasil. As duas primeiras frases criam uma oposição (de um lado / de outro) que estabelecerá o rumo da argumentação. Também se pode criar uma oposição dentro da frase, como neste exemplo: Vários motivos me levaram a este livro. Dois se destacam pelo grau de envolvimento: raiva e esperança. Explico-me: raiva por ver o quanto a cultura ainda é vista como artigo supérfluo em nossa terra; esperança por observar quantos movimentos culturais têm acontecido em nossa história, e quase sempre como forma de resistência e/ou transformações. O autor estabelece a oposição e logo depois explica os termos que a compõem. 7. Alusão histórica (tema: globalização) Após a queda do muro de Berlim, acabaram-se os antagonismos lesteoeste e o mundo parece ter aberto de vez as portas para a globalização. As fronteiras foram derrubadas e a economia entrou em rota acelerada de competição. O conhecimento dos principais fatos históricos ajuda a iniciar um texto. O leitor é situado no tempo e pode ter uma melhor dimensão do problema. 8. Uma frase nominal seguida de explicação (tema: a educação no Brasil) Uma tragédia. Essa é a conclusão da própria Secretaria de Avaliação e Informação Educacional do Ministério da Educação e Cultura sobre o desempenho dos alunos do 3º ano do 2º grau submetidos ao Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que ainda avaliou estudantes da 4ª série e da 8ª série do 1º grau em todas as regiões do território nacional. 169 Unidade II A palavra tragédia é explicada logo depois, retomada por essa é a conclusão. 9. Adjetivação (tema: a educação no Brasil) Equivocada e pouco racional. Esta é a verdadeira adjetivação para a política educacional do governo. A adjetivação inicial será a base para desenvolver o tema. O autor dirá, nos parágrafos seguintes, por que acha a política educacional do governo equivocada e pouco racional. 10. Citação (tema: política demográfica) “As pessoas chegam ao ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais, trazerem a criança, jogarem num bolo de mortos, virarem as costas e irem embora”. O comentário do fotógrafo Sebastião Salgado, falando sobre o que viu em Ruanda, é um acicate no estado de letargia ética que domina algumas nações do Primeiro Mundo. A citação inicial facilita a continuidade do texto, pois ela é retomada pela palavra comentário da segunda frase. 11. Citação de forma indireta (tema: consumismo) Para Marx a religião é o ópio do povo. Raymond Aron deu o troco: o marxismo é o ópio dos intelectuais. Mas nos Estados Unidos o ópio do povo é mesmo ir às compras. Como as modas americanas são contagiosas, é bom ver de que se trata. Esse recurso deve ser usado quando não sabemos textualmente a citação. É melhor citar de forma indireta que de forma errada . 12. Exposição de ponto de vista (tema: o provão) O ministro da Educação se esforça para convencer de que o provão é fundamental para a melhoria da qualidade do ensino superior. Para isso, vem ocupando generosos espaços na mídia e fazendo milionária campanha publicitária, ensinando como gastar mal o dinheiro que deveria ser investido na educação. Ao começar o texto com a opinião contrária, delineia-se, de imediato, qual a posição dos autores. Seu objetivo será refutar os argumentos do opositor, numa espécie de contra-argumentação. 170 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 13. Retomada de um provérbio (tema: mídia e tecnologia) O corriqueiro adágio de que o pior cego é o que não quer ver se aplica com perfeição na análise sobre o atual estágio da mídia: desconhecer ou tentar ignorar os incríveis avanços tecnológicos de nossos dias, e supor que eles não terão reflexos profundos no futuro dos jornais é simplesmente impossível. Sempre que você usar esse recurso, não escreva o provérbio simplesmente. Faça um comentário sobre ele para quebrar a ideia de lugar-comum que todos eles trazem. No exemplo acima, o autor diz “o corriqueiro adágio” e assim demonstra que está consciente de que está partindo de algo por demais conhecido. 14. Ilustração (tema: aborto) O Jornal do Comércio, de Manaus, publicou um anúncio em que uma jovem de dezoito anos, já mãe de duas filhas, dizia estar grávida mas não queria a criança. Ela a entregaria a quem se dispusesse a pagar sua ligação de trompas. Preferia dar o filho a ter que fazer um aborto. O tema é tabu no Brasil.(...) Você pode começar narrando um fato para ilustrar o tema. Veja que a coesão do parágrafo seguinte se faz de forma fácil; a palavra tem a retoma a questão que vai ser discutida. 15. Uma sequência de frases nominais (frases sem verbo) (tema: a impunidade no Brasil) Desabamento de shopping em Osasco. Morte de velhinhos numa clínica do Rio. Meia centena de mortes numa clínica de hemodiálise em Caruaru. Chacina de sem-terra em Eldorado dos Carajás. Muitos meses já se passaram e esses fatos continuam impunes. O que se deve observar nesse tipo de introdução são os paralelismos que dão equilíbrio às diversas frases nominais. A estrutura de cada frase deve ser semelhante. 16. Alusão a um romance, um conto, um poema, um filme (tema: a intolerância) Quem assistiu ao filme A rainha Margot, com a deslumbrante Isabelle Adjani, ainda deve ter os fatos vivos na memória. Na madrugada de 24 de agosto de 1572, as tropas do rei de França, sob ordens de Catarina de Médicis, a rainha-mãe e verdadeira governante, desencadearam uma das mais tenebrosas carnificinas da História. Desse horror a História do Brasil está praticamente livre. 171 Unidade II O resumo do filme A rainha Margot serve de introdução para desenvolver o tema da intolerância religiosa. A coesão com o segundo parágrafo dáse através da palavra horror, que sintetiza o enredo do filme contado no parágrafo inicial. 17. Descrição de um fato de forma cinematográfica (tema: violência urbana) Madrugada de 11 de agosto. Moema, bairro paulistano de classe média. Choperia Bodega - um bar da moda, frequentado por jovens bem-nascidos. Um assalto. Cinco ladrões. Todos truculentos. Duas pessoas mortas: Adriana Ciola, 23, e José Renato Tahan, 25. Ela, estudante. Ele, dentista. O parágrafo é desenvolvido por flashes, o que dá agilidade ao texto e prende a atenção do leitor. Depois desses dois parágrafos, o autor fala da origem do movimento “Reage São Paulo”. 18. Omissão de dados identificadores (tema: ética) Mas o que significa, afinal, esta palavra, que virou bandeira da juventude? Com certeza não é algo que se refira somente à política ou às grandes decisões do Brasil e do mundo. Segundo Tarcísio Padilha, ética é um estudo filosófico da ação e da conduta humanas cujos valores provêm da própria natureza do homem e se adaptam às mudanças da história e da sociedade. As duas primeiras frases criam no leitor expectativa em relação ao tema que se mantém em suspenso até a terceira frase. Pode-se também construir todo o primeiro parágrafo omitindo o tema, esclarecendo-o apenas no parágrafo seguinte. As partes de um texto argumentativo podem ser reconhecidas nos exemplos de artigo, editorial, crônica, entre outros textos que circulam em nosso meio social. 8 GÊNEROS DISCURSIVOS OPINATIVOS E INFORMATIVOS 8.1 Artigo de opinião Artigo de opinião é um gênero textual como são gêneros textuais receita, poema, conversação, debate, entre tantos outros existentes na nossa sociedade. Os gêneros podem ser orais (falados, tais como a conversação e o debate) ou escritos (receitas, poemas, romance etc.). No caso do gênero textual artigo de opinião, a sua função é convencer o leitor de uma determinada ideia, influenciá-lo, transformar os valores do leitor por meio de um processo de argumentação a favor 172 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO da opinião do produtor. Tal tipo de gênero envolve operação constante de sustentação das afirmações realizadas pelo produtor sobre o assunto, bem como apresentação de dados consistentes, que possam convencer o leitor. É fundamental o produtor do texto colocar-se no lugar do outro – do seu leitor. Como o artigo de opinião baseia-se no que pensa o autor sobre um assunto, e como o autor se serve do texto para apresentar argumentos que convençam o leitor de que seu posicionamento é o mais adequado, o mais favorável etc., o produtor, ao se colocar no lugar do leitor, tem condição de antecipar as opiniões do leitor e refutá-las no artigo de opinião. Dessa forma, o produtor constrói seu texto conduzindo o leitor a fim de influenciá-lo e de transformar sua opinião, seus valores. Nos esclarecimentos de Bräkling (In: ROJO, 2001, p. 227): É, portanto, condição indispensável, para a produção de um artigo de opinião, que se tenha uma questão controversa a ser debatida, uma questão referente a um tema específico que suscite uma polemica em determinados círculos sociais. Do ponto de vista da língua, são marcas relevantes: • organização do texto quase sempre em terceira pessoa; • uso do tempo presente do indicativo ou do subjuntivo na apresentação da questão, dos argumentos e dos contra-argumentos; • possibilidade de uso do pretérito em uma explicação ou apresentação de dados; • presença de citações de textos alheios; • articulação coesiva por operadores argumentativos. No que diz respeito ao desenvolvimento do tema no texto, há possibilidades de organização diferenciada. Em artigo de opinião, a progressão temática pode se organizar. • a ordem de apresentação da ideia a ser defendida, conclusão, argumentos, contra-argumentos; • a ordem de apresentação de argumentos, dependendo da sua maior ou menor força locucional. A seguir um exemplo de artigo de opinião, publicado site www.coav.org.br. em 24/04/2006. Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo pede que governo e setor privado apoiem projetos comunitários que tentam conter ingresso de adolescentes no tráfico Marie-Pierre Poirier 173 Unidade II No domingo, 19 de março, os jovens personagens que havíamos conhecido no filme Cidade de Deus saltaram de seu mundo de ficção para o mundo real e se apresentaram a todos os brasileiros no documentário Falcão - Meninos do Tráfico, de MW Bill e Celso Ataíde. Já se passou um mês desde então, mas os gritos de socorro dos falcões continuam a reverberar em nossa consciência. Os debates que se seguiram apontaram para múltiplos aspectos de análise. Gostaríamos de destacar dois deles. Ao refletir sobre o documentário, é importante lembrar que as crianças e as famílias moradoras das favelas ou de bairros periféricos das metrópoles brasileiras – assim como as de todos os países com economias em transição e integrados às rotas internacionais do comércio ilegal de drogas e de armas de fogo – vivem expostas cotidianamente a situações de alta violência, diretamente relacionadas a formas extremamente agudas de desigualdade socioeconômica. Impossível deixar de perguntar: quem lucra com o engajamento – e, consequentemente, com a morte – de crianças e adolescentes no mercado ilegal da droga e das armas? Sabemos que por trás dessas mortes há uma complexa rede de comércio ilegal cuja lógica, bem-organizada, se alimenta da vulnerabilidade de famílias pobres. Mas, além de refletir sobre a lógica econômica que está por trás da violência contra essas crianças, temos de dar atenção ao recorte racial dos assassinatos de crianças e adolescentes nas grandes cidades brasileiras. O documentário expõe contundentemente uma das mais graves violências sofridas por crianças e adolescentes negros moradores das áreas pobres e periféricas dos centros urbanos. Dos 17 adolescentes do documentário, apenas um sobreviveu. Todos eram afrodescendentes. O documentário sinaliza para o crime e para a morte, mas sinaliza também para o preconceito. Expõe a forma violenta como crianças pretas e pardas estão morrendo nas cidades. Seria este um dos temas centrais a ser destacado na Conferência Regional das Américas, a ser realizada em julho, que deverá avaliar, após cinco anos, os avanços ocorridos nas Américas no combate ao racismo, à discriminação racial, à xenofobia e a intolerâncias correlatas? Os programas sociais dedicados ao fenômeno do aliciamento de crianças e adolescentes por grupos criminosos, bem como os resultados dos poucos estudos disponíveis, estimam que não deva passar de 1% o total de moradores envolvidos com o tráfico nas comunidades onde o comércio ilegal de drogas se instalou. Estimam também que crianças e adolescentes com menos de 18 anos constituiriam não mais que metade deste porcentual (SOUZA; SILVA, 2002; DOWDNEY, 2003). Trata-se de um indicador importante, que contrasta com o levantamento produzido pelo Núcleo de Estudos da Violência, da USP, a ser publicado em breve pelo Unicef, que aponta para um crescimento linear de 417% do número absoluto de homicídios de adolescentes brasileiros de 15 a 19 anos, desde 1980. Só em 2002 foram assassinados no Brasil 7.961 meninos e meninas. Estes números contrariam os preconceitos e estereótipos que, estimulados pelo medo, têm o poder de transformar vítimas em culpados e de fazer com que, aos olhos de muitos 174 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO cidadãos, qualquer criança negra e pobre que caminha pela rua se constitua em ameaça e em símbolo de violência. É este mesmo medo, gerador de discriminação e preconceitos, que serve para legitimar táticas de “guerra” e de “combate” ao crime que não fazem diferença entre moradores e criminosos e já levaram à morte um número enorme de crianças – quase sempre negras – que brincavam na porta de suas casas. Como começar a reverter esta situação sem atuar exclusivamente sobre os sintomas? A ideia é intervir antes da chamada “idade da morte”. Estudos do Unicef revelam que entre os 11 e os 14 anos de idade crianças e adolescentes vivem o seu período de maior vulnerabilidade. É nessa fase que são registrados os maiores índices de evasão escolar, de ingresso nas redes de trabalho infantil, de uso de drogas, de exploração sexual, de abandono da casa e de ingresso no tráfico de drogas. Trata-se de uma idade que deve ser percebida como uma “janela de oportunidades” para programas e projetos de prevenção e redução dos homicídios, que têm maior incidência entre os 15 e os 19 anos. Já faz 20 anos que o Brasil convive com assassinatos de crianças nos grandes centros urbanos. No ano passado, o Unicef ajudou o governo brasileiro a organizar, em São Paulo, uma consulta nacional sobre a violência contra a criança, que faz parte do Estudo Global que será lançado pela ONU em outubro. Além disso, assim como muitas outras organizações e agências, temos acompanhado e apoiado projetos comunitários que reconhecem esses fatos e tentam conter o ingresso de adolescentes no tráfico, mas também resgatar aqueles que já ingressaram. São projetos que fazem dos adolescentes os protagonistas da reconstrução de sua própria identidade. Algumas dessas iniciativas são baseadas em tecnologias e práticas de comunicação e têm assumido papel relevante na valorização, pelo adolescente, do meio em que vive com sua família. Têm ajudado os adolescentes a se posicionar melhor tanto ante as dores e os preconceitos que sofrem, quanto no respeito pela alegria e vitalidade cultural de suas comunidades. Para o Unicef, as organizações comunitárias que implementam esses projetos constituem a maior força que o País tem para enfrentar o problema, reduzir violências e valorizar a diversidade. Cabe aos governos e ao setor privado reconhecer urgente e definitivamente a importância dessas iniciativas, articular-se com elas, fortalecê-las e contribuir – de forma efetiva – para que possam proteger os direitos das crianças e dos adolescentes, negros e brancos. Temos todos a obrigação de contribuir. Marie-Pierre Poirier é representante do Unicef no Brasil. (POIRER, 2006) No artigo de opinião de Marie-Pierre Poirier, o leitor depara-se com as seguintes características linguísticas: 175 Unidade II • Uso da primeira pessoa do plural: “No domingo, 19 de março, os jovens personagens que havíamos conhecido no filme Cidade de Deus”; “os gritos de socorro dos falcões continuam a reverberar em nossa consciência”. A autora recorre a verbos e pronomes colocados na primeira pessoa do plural (nós). Essa recorrência demonstra que não há impessoalidade da terceira pessoa (se havia; sua etc.), mas também não é o texto totalmente pessoal (eu havia conhecido; minha consciência etc.). A recorrência da primeira pessoa do plural leva a inclusão de outros no discurso, uma vez que a responsabilidade é de todos nós brasileiros. • Uso do presente do indicativo na apresentação das questões (dois aspectos/ ideias a serem defendidos). No caso do texto exemplificado, são duas: 1. “as crianças e as famílias moradoras das favelas ou de bairros periféricos das metrópoles brasileiras vivem expostas cotidianamente a situações de alta violência”; 2. “temos de dar atenção ao recorte racial dos assassinatos de crianças e adolescentes nas grandes cidades brasileiras.” O tempo presente é fundamental no texto, porque é indicador de que a situação apontada no texto é atual, vivida hoje. • Uso do presente do indicativo na apresentação de argumentos. Exemplo de argumento apresentado: “...Unicef, que aponta para um crescimento linear de 417% do número absoluto de homicídios de adolescentes brasileiros de 15 a 19 anos, desde 1980.” O uso do tempo presente no argumento confirma o índice alto de violência sofrida pelos jovens brasileiros na atualidade. • Presença de citação de textos alheios: Falcão - Meninos do Tráfico; Souza; Silva, 2002; Dowdney, 2003; Núcleo de Estudos da Violência, da USP. A autora não faz citação direta no seu texto, ou seja, ela não copia trechos do documentário Falcão nem da obras citadas (Souza, Dowdney, Núcleo de Estudos da Violência), mas utiliza informações destes textos. Esse recurso chama-se intertextualidade e confere ao texto de Poirier credibilidade. As menções aos outros textos ajudam na argumentação apresentada pela produtora. • Articulação coesiva por operadores argumentativos. Exemplo de operador argumentativo: “Além disso, assim como muitas outras organizações e agências, temos acompanhado e apoiado projetos comunitários...”. A expressão “além disso” é uma demonstração de que há um argumento anterior à expressão e que vem outro posteriormente a ela. Há, no mínimo, dois argumentos para provar a opinião da autora. Além desses recursos linguísticos, destaca-se um outro no texto devido à constante recorrência. Temos então: 176 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO • Orações interrogativas: “quem lucra com o engajamento – e, consequentemente, com a morte – de crianças e adolescentes no mercado ilegal da droga e das armas?”; “Como começar a reverter esta situação sem atuar exclusivamente sobre os sintomas?”. Tal recurso pode aparecer como recursos de persuasão, para enfatizar determinadas ideias. No texto, então, a autora utiliza construção frasal interrogativa a fim de envolver o leitor e levá-lo a pensar como ela. O artigo de opinião de Marie-Pierre Poirier desenvolve-se tematicamente com: • Apresentação da tese: na opinião da autora, há dois aspectos da realidade brasileira que precisam ser analisadas: brasileiros jovens vivem sob violência por serem pobres e brasileiros jovens morrem cedo devido ao racismo. Enfim, o fator econômico e o fator xenofóbico causam violência e morte. • Apresentação de argumentos no que se refere à sua maior ou menor força locucional. No caso do texto exemplificado, os argumentos partem da maior força para menor força. Vejamos: – crescimento de 417% de homicídios de adolescentes brasileiros de 15 a 19 anos, desde 1980 (argumento com maior força locucional); – em 2002 foram assassinados no Brasil 7.961 meninos e meninas (argumento com maior força locucional); – estudos revelam que entre os 11 e os 14 anos de idade crianças e adolescentes vivem o seu período de maior vulnerabilidade quanto à violência (argumento com menor força locucional); – adolescentes são ajudados por organizações a se posicionar melhor tanto ante as dores e os preconceitos que sofrem (argumento com menor força locucional). No texto opinativo, a autora recorre primeiro aos argumentos mais fortes e por isso mais convincentes para provar que sua opinião é adequada. No entanto, ela poderia começar pelo argumento mais fraco e fazer o processo oposto: do mais fraco para o mais forte. Lembrete Artigo de opinião expõe o ponto de vista do produtor, seja ele o jornalista, seja ele um colaborador do jornal, fazendo uso do presente do indicativo como tempo base, em um texto claramente argumentativo. É um gênero de enunciação subjetiva. A seguir mais dois exemplos de artigo de opinião, sobre o mesmo assunto: os resultados de exames do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e do PISA (teste da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, sobre desempenho escolar em 32 países) a que foram submetidos 177 Unidade II os estudantes brasileiros em 2001. O primeiro texto “O provão dos provões” foi publicado na Folha de S. Paulo em 06/12/2001 e o segundo texto “Últimos lugares” foi publicado no Jornal do Commercio (Pernambuco) em 27/12/2001. O provão dos provões Clóvis Rossi São Paulo – Já fazia algum tempo que eu vinha assuntando a educação no Brasil para tentar entender o desempenho do governo Fernando Henrique Cardoso nessa área vital. Conversa aqui, conversa dali, lê aqui, lê ali, inclinava-me provisoriamente por ver, como é quase uma regra na gestão FHC, o copo meio vazio, meio cheio, conforme o ponto de vista de cada qual. Do meu ponto de vista, necessariamente vazio, não por má vontade, ao contrário do que supõem o governo e seus áulicos, mas porque o nível de expectativa que tinha antes de o governo começar era muito alto. Logo, o mínimo que esperava era que o governo ficasse muito perto de encher o copo nessa área. Não ficou, do que dá prova o mais recente resultado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). A pior notícia, no entanto, está contida no fato de que o Brasil foi o último colocado num certo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que mediu o entendimento de textos por parte de alunos de 32 países, os 29 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), supostamente os mais industrializados do planeta, mais o Brasil, a Letônia e a Rússia. Cabe, é claro, um desconto: com uma ou outra exceção, são todos países desenvolvidos, com uma história antiga de qualidade educacional. Mesmo assim, daria, em tese, para competir pelo menos com República Tcheca, Polônia, Grécia, Portugal, Rússia, Letônia e México. O pior nem é a classificação em si. É o conformismo do ministro da Educação, Paulo Renato Souza, que disse que os resultados poderiam ser piores. Claro: tudo na vida pode ser melhor ou pior. O diabo é essa utopia do possível, a mediocridade a que se apega o governo tucano. É como festejar a amputação do pé por ter sido só o pé. Tem gosto para tudo. (ROSSI, 2006) 178 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Do ponto de vista das marcas linguísticas, o texto acima de Clóvis Rossi constitui-se de: • Uso de primeira pessoa do singular: “Já fazia algum tempo que eu vinha assuntando a educação no Brasil”; “inclinava-me provisoriamente”; “Do meu ponto de vista...”. Apesar da organização de artigo de opinião se dar quase sempre em terceira pessoa, por marcar uma impessoalidade e objetividade ao texto, nós encontramos variações quanto a essa organização. No texto de Poirier, encontramos a primeira pessoa do plural; no texto acima, de Rossi, temos a primeira pessoa do singular; um “eu” claramente marcado no artigo de opinião por meio de verbo, pronome pessoal (eu, me) e pronome possessivo (meu). O autor é conhecido pela irreverência com que escreve ao romper o aspecto formal dos gêneros textuais. Confirmamos tal afirmação pelo uso da primeira pessoa e pela informalidade na língua em alguns do texto: emprego de termos como: “do meu ponto de vista”, “o copo meio vazio, meio cheio”, “o diabo”. • uso do pretérito em uma explicação ou apresentação de dados: “Já fazia algum tempo que eu vinha assuntando a educação no Brasil”; “o nível de expectativa que tinha antes de o governo começar era muito alto”. O emprego do pretérito marca bastante o artigo de opinião de Clóvis Rossi. Por meio desse tempo verbal, o produtor aponta: • suas considerações anteriores ao texto sobre o governo: “... esperava era que o governo ficasse muito perto de encher o copo nessa área [educação]”; • trata da reação governamental sobre o resultado do PISA: “Paulo Renato Souza, que disse que os resultados poderiam ser piores.”; • e indica o próprio resultado dos testes: “o Brasil foi o último colocado num certo Pisa”; • presença de citações de palavras alheias: “Conversa aqui, conversa dali, lê aqui, lê ali”; “supõem o governo e seus áulicos”; “prova o mais recente resultado do Enem”; “Paulo Renato Souza, que disse que os resultados poderiam ser piores”. O produtor constrói o artigo de opinião com base em textos mencionados ou relatados. Nos parágrafos 1 e 2, o autor faz alusão a artigos anteriores, em que mostrava seu descontentamento com o desempenho do governo na área da educação. No parágrafo 3, o autor faz alusão ao resultado do ENEM, publicado na mídia. Por fim, temos o relato de um fragmento do discurso do Ministro da Educação na época. • Articulação coesiva por operadores argumentativos: “conforme o ponto de vista de cada um”; “Logo, o mínimo que esperava...”; “mesmo assim, daria, em tese...”. O operador argumentativo “conforme” é empregado para mostrar oposição de opiniões. Formam-se, de um lado, as opiniões alheias e, de outro lado, a opinião do autor. Sobre o operador “logo” funciona 179 Unidade II para mostrar que o autor tinha determinada consideração sobre o governo e que esperava resultado positivo devido justamente a essa opinião. Em relação à progressão temática, observamos que: • Apresentação da tese (opinião do autor): posição crítica do autor sobre o desempenho do governo na área da educação. • Apresentação dos argumentos: no caso, o autor apresenta os argumentos em uma ordem que vai dos menos para os mais fortes. O autor, para sustentar sua opinião sobre a atuação desfavorável em relação à educação, apresenta o resultado dos testes do ENEM e do PISA (argumento mais fraco) e apresenta o discurso conformista do Ministro da Educação (argumento mais forte). • Apresentação de contra-argumentos: “Do meu ponto de vista, necessariamente vazio, não por má vontade (...) mas porque o nível de expectativa que tinha antes de o governo começar era muito alto.”; “Cabe, é claro, um desconto: com uma ou outra exceção, são todos países desenvolvidos, com uma história antiga de qualidade educacional. Mesmo assim, daria, em tese, para competir pelo menos com República Tcheca, Polônia, Grécia, Portugal, Rússia, Letônia e México.” São construções para responder às possíveis objeções do leitor. Últimos lugares Luciano Marinho Estudantes brasileiros, na faixa de 15 anos, integrantes das redes de ensino público e privado, se submeteram a testes de avaliação de cultura e aprendizado, num concurso internacional. Obtiveram – todos eles – os últimos lugares. Um fato? Uma realidade? Um sintoma gravíssimo, que não deveria passar despercebido por aqueles que fazemos educação neste país. Um sintoma gravíssimo, até porque demonstra uma problemática conjuntural, e não apenas individual. Muito provavelmente, esse fato não tem a ver com deficiências emocionais ou cognitivas. Não obstante, tais resultados exigem uma reflexão emergencial, não só de natureza pedagógica (metodológica e técnicas de aprendizagem) mas também ético-institucional. Há de se defender a tese de que existem evidentes fatores causais – de base estrutural – fundados numa pseudopedagogia e numa duvidosa política de educação, os quais explicam, mas não justificam, um desempenho tão negativo e decepcionante: os últimos lugares entre representantes de 32 países. Um desses fatores é a “promoção automática”, através da qual o aluno será aprovado, independentemente dos resultados alcançados. É obvio, pois, que a certeza da aprovação implica desinteresse ou desmotivação pelo estudo. 180 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO O modismo da “ludicidade” constitui outro exemplo. Hoje em dia, na aula, o professor (coitado!) tem que tocar violão, dizer piadas de baixo nível, ou mesmo fantasiar-se de “palhaço”, para tornar o processo de ensino-aprendizagem “agradável” e ser aceito por uma clientela, salvo exceções, de “imbeciloides”. Estudo é coisa séria. Seríssima. Outro fator importantíssimo: a imaturidade do aluno. Ultimamente se entra na escola no berçário, e mal completa 15 anos, já está às vésperas de um vestibular – que não representa apenas um processo de seleção e classificação, mas sobretudo uma opção por determinada área de estudo, por uma profissão. Daí a situação dramática dos orientadores vocacionais. Ademais, o excessivo número de faculdades particulares flexibiliza escolhas prematuras. Coincide com os interesses subliminares do governo Federal pela amostragem dos indícios estatísticos. Mas, não basta modificar os quadros percentuais da escolaridade; em particular, da universidade brasileira, para se promover a boa educação. Como este país vive de “marketing”, então qualquer fantasia publicitária satisfaz. A falta de perspectiva profissional é um outro desses fatores. Ironicamente, parece que o grande objetivo do público jovem feminino é, hoje, a carreira de “modelo fotográfico”; e do masculino, a opção artística de talvez tocar pandeiro num grupo de pagode. Essa geração, no futuro, não se perdoará; se insistir nesse ritmo de aspiração e estilo de vida. Pois, somente um estudo sistemático e responsável, sério e acumulativo, é que transformaria toda essa frustrante condição de incompetência. E transformaria, com certeza, para melhor. Luciano Marinho é psicólogo e professor de língua portuguesa Jornal do Commercio. Opinião. Pernambuco, 27 dez. 2001 No artigo de opinião “Últimos lugares”, o leitor depara-se com as seguintes ocorrências da língua: • Existe somente uma marca de pessoa no texto: “Um sintoma gravíssimo, que não deveria passar despercebido por aqueles que fazemos educação neste país.” Quando o autor se coloca como educador, marca uma única vez a pessoa (nós, primeira pessoa do plural). Assim, embora defenda sua opinião, o texto é impessoal. • Uso do presente do indicativo no decorrer do texto. Exemplos: “tais resultados exigem uma reflexão emergencial”; “é obvio, pois, que a certeza da aprovação implica desinteresse...”. O motivo temático e os argumentos são atuais à produção do texto, por isso a recorrência do uso presente no texto. 181 Unidade II • Presença de citações de palavras alheias: “promoção automática”; “ludicidade” e os outros termos entre aspas. O autor apresenta uma série de termos entre aspas, que indicam distanciamento do produtor do texto, e o produtor pode expressar um julgamento sobre o caráter apropriado das palavras entre aspas, ou as aspas indicam que os termos pertencem a outros discursos. O autor recorre a outros textos: dos responsáveis oficiais pela educação que implantaram o sistema de “promoção automática”, de alguns professores que defendem a “ludicidade” na sala de aula; de alguns jovens, cuja opção profissional é desvalorizada. • Articulação coesiva por operadores argumentativos: “até porque”, “Não obstante”, “não só... mas também”, “Pois, somente um estudo sistemático e responsável, sério e acumulativo, é que transformaria toda essa frustrante condição de incompetência.” No decorrer do texto, encontramos vários operadores argumentativos, sendo alguns exemplificados acima. Destaca-se, no entanto, o operador final do texto “pois”, indicadora de conclusão, não apenas de uma ideia, mas do texto. Em relação à progressão temática, observamos que: • Apresentação da tese (opinião do autor): o resultado do PISA é um problema conjuntural. • Apresentação dos argumentos: o texto apresenta uma série de argumentos para mostrar que o fracasso no exame não é um problema apenas individual. Com base na apresentação sobre artigo científico, a qual serve para aumentar o nosso conhecimento em relação a esse gênero textual, mostraremos as etapas para produção de artigo científico. O primeiro passo é a formulação de questões polêmicas. Propomos as seguintes elaboradas por Bräkling (In: ROJO: 2001): Exemplo de aplicação O primeiro passo é a formulação de questões polêmicas. Propomos as seguintes elaboradas por Bräkling (In: ROJO: 2001): 1. Mortalidade materna, infantil e aborto: a legalização resolve? 2. Diante da crise do sistema de saúde e do perigo de corrupção sempre presente, deve-se ou não apoiar a doação de órgãos? 3. O uso de drogas na virada do milênio: questão de prazer, necessidade ou para impressionar? 4. No Brasil não existe desemprego: contos de fada do ministério? 5. A legalização do casamento homossexual: moralidade e democracia. 182 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Escolha uma das questões propostas. O segundo passo é conscientizar-se, caro aluno, sobre alguns fatores contextuais. Antes de iniciar seu texto, reflita sobre: • Quem será o seu interlocutor ao qual o texto será destinado? (É um especialista no assunto? É leigo? É um grupo estudantil do Ensino Médio? Dependendo do interlocutor (leitor), todo o contexto precisa ser adaptado: linguagem mais formal ou menos formal, aprofundamento ou não no assunto etc.). • Qual é a finalidade para a produção do texto? (Que objetivo você tem ao escrever o texto: ensinar, esclarecer, impor seu ponto de vista...?). • Em que suporte será divulgado o texto? (Site, revista ou jornal de bairro, jornal com maior circulação estadual, mural...). Terceiro passo consiste na pré-produção do texto: • Escreva sua opinião sobre o assunto. • Faça uma lista de argumentos, selecionando aqueles que são mais adequados para sustentar sua opinião. • Dos selecionados, ordene os argumentos em uma nova lista: dos mais fortes aos mais fracos e vice-versa. Quarto passo trata-se da produção do texto. Para tal, pode voltar às dicas de como iniciar um texto, apresentado na seção anterior. Siga a ordem escolhida para expor os argumentos: dos mais fortes para os mais fracos ou vice-versa. Depois da produção, leia o texto e verifique as possíveis correções em relação à gramática, às ideias, se estão coerentes, se há uma conclusão. Quinto passo consiste em maior consciência sobre a própria produção. Faça uma análise do texto: • Existe uma questão polêmica debatida no texto? • Você apresentou uma posição a respeito? • O que diz para sustentar sua opinião? • O que diz para descartar opiniões contrárias à sua? • Podemos dizer que o seu texto é um artigo de opinião? • Falta alguma coisa para o texto ser considerado um artigo de opinião? 183 Unidade II 8.2 Resenha Artigo científico e resenha são gêneros textuais diferentes entre si e, quando são publicados, aparecem em seção distinta nos periódicos acadêmicos e publicações em geral. Na revista Língua Portuguesa, por exemplo, da edição nº 64, de fevereiro de 2011, encontramos no sumário os seguintes títulos: 15 Pílulas 16 Ensino 18 Técnica 25 Estilo 26 Retórica ... 63 Cinema 64 Berço da palavra 65 Plano de aula 66 Figura O texto da página 63 é uma resenha sobre cinema. Geralmente, a resenha é disposta no final da publicação, seja de revista científica, seja de revista menos específica. Mais um exemplo de sumário (que informa o número da página em que inicia o texto, o título do texto e o autor). Dessa vez é da revista Estudos urbanos e regionais, uma publicação da associação nacional de pós-graduação e pesquisa em planejamento urbano e regional. ARTIGOS 9 O Estado e a exceção – ou o estado de exceção? – Francisco de Oliveira 15 Favelas no município de São Paulo – estimativas de população para os anos de 1991, 1996 e 2000 – Eduardo Marques, Haroldo da Gama Torres e Camila Saraiva 31 A política de produção habitacional por mutirões autogeridos – construindo algumas questões – Cibele Saliba Rizek, Joana Barros e Marta de Aguiar Bergamim 47 Das economias de aglomeração às externalidades dinâmicas de conhecimento – por uma releitura de São Paulo – Alexandre Tinoco 63 implantação de infraestrutura de saneamento na região metropolitana do Rio de Janeiro – uma avaliação das ações do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara – Ana Lucia Britto 184 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO RESENHAS 81 Regiões e cidades, cidades nas regiões. O desafio urbano-regional, de Maria Flora Gonçalves, Carlos Antônio Brandão e Antônio Carlos Galvão – por Pedro P. Geiger 85 A cidade da informalidade: o desafio das cidades latino-americanas, de Pedro Abramo – por Ana Clara Torres Ribeiro 88 Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade, de Paola Berenstein Jacques – por Thais de Bhanthumchinda Portela 91 De Nova Lisboa a Brasília: L’invention d’une capitale (XIXe- XXe siècles), de Laurent Vidal – por Luís Octávio da Silva (REVISTA BRASILEIRA..., 2003). No sumário acima exemplificado, fica explícita a separação entre os artigos científicos e a resenha. Tal distinção deve-se à diferença funcional: o artigo científico baseia-se em teoria e dados comprováveis e a resenha é um resumo com opinião, sem base teórica. Para corroborar, temos outro exemplo de sumário em que a resenha é apresentada no final (do sumário), distante de outros textos “mais sérios”, como reportagem. No caso abaixo, verificamos que a resenha aparece em seção que dá opinião sobre evento cultural, em especial na seção “Arte e Espetáculo”. Seções VEJA.com Carta ao Leitor Entrevista José Serra Lya Luft Leitor Blogosfera Panorama Imagem da Semana Datas Holofote SobeDesce Conversa com Monique Evans Números Radar Veja Essa Brasil Eleições Delegado confirma tentativa de espionagem contra tucanos Governo A irresponsabilidade fiscal 185 Unidade II Internacional Estados Unidos Vazamento de óleo domina a política Geral Especial ”Cala boca Galvão”: um fenômeno planetário Copa 2010 A seleção isolada do país Vuvuzela: risco para os ouvidos Jabulani: o teste da bola O futebol se concentra na Europa Memória José Saramago Gente Medicina Os avanços contra o câncer Beleza As brasileiras estão maiores e cheias de curvas Plástica: como passar dos 60 anos ainda bela Educação Aulas cronometradas Negócios Barras de ouro vendidas em máquinas Comportamento Uberaba: a cidade do espiritismo Arquitetura As obras espetaculares de Santiago Calatrava Guia Viagem Medidas que agilizam o embarque Como cuidar da saúde em voos de longa duração Artes & Espetáculos Fotografia O fotógrafo das cavernas Cinema Toy Story 3 Brilho de uma Paixão, de Jane Campion Música Ozzy Osbourne: biografia e disco novo Televisão As velhinhas de Passione VEJA Recomenda Os livros mais vendidos J.R. Guzzo A resenha é um texto presente em diversos suportes, tais como revista, jornal, internet, e sua temática volta-se para objetos culturais: filmes, shows, livros, entre outras manifestações. O autor seleciona informações e as sintetiza, ampliando o texto com comentários e avaliações sobre o assunto, considerando o contexto imediato. Sobre a função desse gênero, contamos com explicação de Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009, p.113): A resenha exerce uma importante função social: formar opinião e, até mesmo, delinear valores estéticos sobre diferentes manifestações artísticas e campos do conhecimento. É um tipo de texto muito procurado pelos leitores que consideram a opinião crítica especializada antes de se decidir por um espetáculo, um livro, um evento, um filme etc. Solidão na cidade Em Quanto dura o amor?, diretor recorre a roteiro multitrama para amarrar diversos estilos de vida 186 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Sérgio Rizzo* Se você precisasse escolher entre os filmes Condomínio Jaqueline e Quanto Dura o Amor?, sem nenhuma informação sobre eles e usando apenas os títulos como critério de definição, qual seria o eleito? A produtora paulistana Coração da Selva julgou que a opção com maior capacidade de atrair o público (sobretudo o jovem) era a segunda e o batizou assim para lançamento nos cinemas. Curiosamente, o título original do projeto – que faz referência ao prédio onde vive a protagonista – ainda se mantém em um dos sites sobre o longa na internet. O tal condomínio fictício ocupou, nas filmagens, um dos pontos mais simbólicos de São Paulo, a esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação. Uma jovem do interior (Silvia Lourenço) se instala ali para tentar a sorte como atriz. A advogada com quem divide o apartamento (Maria Clara Spinelli) e uma cantora que faz sucessos em clubes noturnos (Danni Carlos) representam para ela dois modos bem distintos de viver na cidade grande e de lidar com a solidão. O tema entrelaça outros personagens no roteiro multitrama do diretor Roberto Moreira (Contra Todos) e de Anna Muylaert (diretora de Durval Discos e É Proibido Fumar). O mais frágil de todos talvez seja um outro morador do condomínio, Jay (Fábio Herford), que se apaixona por uma prostituta (Leilah Moreno). Ele é caracterizado no filme como “escritor de um livro só”: alguém que despontou como um talento, ao publicar sua primeira obra, mas que jamais confirmou essa expectativa, frustração especialmente dolorosa para o próprio sujeito. Prova de que se trata de personagem recorrente no cinema, com características sempre muito similares, é a sua presença no mais recente longa de Woody Allen, Você Vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos. Interpretado por Josh Brolin (de Onde os Fracos Não Têm Vez ), o “escritor de um livro só” recorre ali a uma saída extrema para se reinventar - algo que o pobre Jay nem mesmo parece ter forças para fazer. *Professor universitário, jornalista e crítico de cinema QUANTO DURA O AMOR? - Brasil, 2009, 83 min. Direção: Roberto Moreira. Roteiro: Moreira e Anna Muylaert, baseado em argumento de Silvia Lourenço e Geórgia Costa Araújo. Com Silvia Lourenço, Danni Carlos, Paulo Vilhena, Maria Clara Spinelli, Gustavo Machado, Fábio Herford, Leilah Moreno. Distribuição em DVD: Europa. (REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA, 2011). No texto, verificamos trechos que são resumo do filme e trechos que são comentários. Exemplos: 187 Unidade II • Uma jovem do interior (Silvia Lourenço) se instala ali para tentar a sorte como atriz. (é um trecho constituído de resumo) • O mais frágil de todos talvez seja um outro morador do condomínio... (trecho constituído de comentário). Temos abaixo outro exemplo de resenha: Emergência. A dinâmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares. Steven Johnson Jorge Zahar Editor, 2003. Por Patrícia Mariuzzo A gigante do comércio eletrônico Amazon.com envia mensagens automáticas para os usuários avisando sobre novos lançamentos que combinam com o perfil do usuário. O sistema consegue “acertar” nas dicas pois usa informações de compras anteriores, que funcionam para traçar um perfil do usuário e gerar um tipo de propaganda personalizada. Sistemas como o usado pela Amazon são baseados em inteligência emergente. Emergência explica os fenômenos emergentes, como surgiram e como podem transformar a televisão, a propaganda, o trabalho, a política e, antes de tudo isso, a tecnologia. O autor mistura biologia, história, literatura e matemática para explicar o que são esses sistemas. Uma passada de olhos pela bibliografia do livro já é suficiente para despertar a curiosidade do leitor: Charles Dickens; Marshall Mcluhan; James Joyce; Fernand Braudel; e Charles Darvin são algumas das referências usadas por Johnson, cuja formação é em semiótica e literatura inglesa. Provavelmente graças a isso, e à abundância de analogias e bom exemplos, a leitura é agradável e simples, mesmo quando o objetivo é entender questões específicas do mundo da programação de computadores. O título é provocativo: o que poderiam ter em comum colônias de formigas, o cérebro humano, grandes cidades e softwares? Todos usam, em menor ou maior grau, de sistemas auto-organizados, nos quais é dispensada a presença de controle centralizado. Nos sistemas emergentes, também chamados bottom-up (de baixo para cima), agentes que residem em uma escala começam a produzir um comportamento cujo padrão reside em uma escala acima deles: formigas criam colônias, cidadãos criam comunidades, um software simples de reconhecimento de padrões aprende como recomendar novos livros. O movimento das regras de nível baixo para a sofisticação do nível mais alto é o que o autor chama de emergência. O sistema só é emergente quando todas as interações locais resultam em algum tipo de macrocomportamento observável. Deve ainda ter os seguintes componentes: interação entre vizinhos, reconhecimento de padrões, feedback e controle indireto. 188 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Na primeira parte do livro, Johnson procura desmontar o que chama de “mito da formiga-rainha”. A existência desse mito explicaria a dificuldade que as pessoas têm em aceitar a hipótese bottom-up, um mundo sem líderes ou os fenômenos coletivos. O estudo das colônias de formigas – demonstra que não há nada de hierárquico na maneira como ela funciona. A rainha não é uma figura de autoridade, ela não decide o que cada operária faz. O comportamento das formigas – proteger a rainha, buscar alimento etc. –, proviria de uma instrução genética, cujo objetivo é a preservação da colônia. Não é a matriarca que treina as operárias, a evolução fez isso. Nas cidades, da mesma maneira, haveria um tipo de organização espontânea, independente de planejamento ou de uma liderança. Isso conferiria a elas uma “personalidade”, que se auto-organiza por meio de milhões de decisões individuais, uma ordem global construída a partir de uma interação local que o autor chama de “nível da rua”. O que ocorre é a repetição de padrões que “ficam guardados na textura dos quarteirões...” para usar as palavras de Johnson. Segundo ele, desse mecanismo viriam as separações de bairros ricos e pobres, comerciais e residenciais etc. Prevendo a estranheza do leitor depois de tal afirmação, admite que também existem diversos padrões nas cidades ditados via top-down, como as comissões de planejamento ou as leis de zoneamento. Porém, forças bottom-up desempenhariam um papel fundamental na formação das cidades, criando comunidades distintas e grupos demográficos não planejados. Para isso, bastam milhares de indivíduos e regras simples de interação. Em seguida, temos a discussão sobre modelos emergentes artificiais. A primeira descrição prática de um programa de software emergente data da década de 1940. O objetivo era criar processos capazes de aperfeiçoarem-se a si mesmos e assim conseguirem reconhecer padrões que não podiam ser determinados por antecipação. A partir daí, torna-se concreta a possibilidade de criar programas onde as interações dos componentes desencadeiam consequências no sistema como um todo ao serem repetidas milhares de vezes. Aqui o exemplo é SimCity (Simulation City, Cidade Simulada), jogo eletrônico cuja primeira versão, surgida em 1990, tornou-se campeã de vendas. No jogo, o autor usa um truque de programação que permite que a cidade evolua de forma semelhante a um ser vivo. Com a série SimCity, os sistemas bottom-up deixam de ser objeto de estudo para se tornarem um produto comercializável. Apenas dez anos depois o mundo dos sistemas emergentes está em lojas on-line, que dele se utilizam para reconhecer gostos como no exemplo dado no início deste texto; em sites da web que ajustam comunidades on-line; no marketing, que o utiliza para detectar padrões demográficos no público etc. A lição é que, embora nossa primeira reação seja procurar por líderes, estamos aprendendo a pensar bottom-up. Uma das teses interessantes levantadas no livro é sobre como esses sistemas aprendem. As cidades aprendem, o corpo humano aprende, as formigas aprendem, sempre a partir da interação com vizinhos, por meio de feedbacks positivos e negativos, que determinam as modificações e adaptações no sistema. Mas, “a web também está aprendendo?”, pergunta Johnson. Existe a chance das grandes redes de computadores 189 Unidade II se tornarem autoconscientes? Antes que sejamos levados por fantasias embaladas por filmes como Matrix, Johnson adianta-se: a resposta é não; e o que vale a pena entender é porque não. A diferença é que os sistemas emergenciais, na cidade e no cérebro, têm conexões e organização, gerando espontaneamente estruturas à medida que aumentam de tamanho. A web, no entanto, não está se tornando organizada, ao contrário, é um espaço em que a desordem cresce com o aumento do volume total. Yahoo e Google são sistemas criados pelo homem para funcionar como um antídoto, para dar sentido a um sistema que não gera organização por si mesmo. Uma tentativa de aperfeiçoar esse modelo é o Alexa, software que usa um tipo de tecnologia de filtragem colaborativa para construir conexões entre sites baseadas no tráfego de usuários. A ferramenta acompanha o usuário enquanto ele navega na internet, aprendendo padrões de tráfego. O mundo da programação está se tornando cada vez mais darwinista e menos criacionista. Se antes a boa programação era aquela em que havia total controle do autor, hoje avança uma forma mais oblíqua, na qual os desenvolvedores fazem o programa amadurecer, um resgate dos conceitos da seleção natural. Nos jogos baseados em inteligência emergente, programar as regras faz parte do jogo e tomará um tempo considerável do jogador. Nesse momento o autor arrisca prever algumas mudanças de comportamento resultantes do convívio com o novo paradigma. Para ele, crianças familiarizadas com jogos emergentes podem se tornar mais tolerantes com a fase exploratória que precede o jogo em si, e na qual nem os objetivos nem as regras ainda estão claros. Na terceira e última parte do livro estão algumas questões sobre o futuro da emergência artificial. O que acontecerá quando as experiências em mídia e os movimentos políticos forem delineados por forças bottom-up e não top-down? A emergência segue na direção de melhorar cada vez mais aplicações de software capazes de desenvolver uma teoria sobre nossas mentes. Os programas que fazem um levantamento dos nossos gostos e interesses são o começo de um mundo em que poderemos interagir mais regularmente com a mídia, pois o software reconhecerá nossos hábitos, antecipará nossas necessidades e se adaptará às nossas mudanças de humor. O software, assim como o cérebro, será capaz de reconstruir estados mentais, quase leitores de mentes. No capítulo final, fica clara a visão otimista de Jonhson e sua crença em um mundo onde a lógica bottom-up se espalha por todos os cantos. Algo que parece questionável pois se os sistemas emergentes estão presentes na lógica de desenvolvimento das cidades, com a eficiência para organizar e estruturar a vida dos homens no caos urbano, porque essas cidades nunca abandonaram as formas top-down de organização? A conclusão do livro, entretanto, é de que a emergência está se expandindo pouco a pouco para ocupar várias, senão todas, as instâncias das nossas vidas. A propaganda, o trabalho e a política ganham outra face influenciados pelo modo bottom-up. (MARIUSO, 2005) 190 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO As características da resenha podem ser resumidas no quadro a seguir: Livro resenhado Emergência. A dinâmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares Autor do livro resenhado Steven Johnson Autor da resenha Patrícia Mariuzzo Título da resenha Emergência. A dinâmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares Leitor previsto Pessoas da área da sociologia, história ou de outras interessadas em sistemas sociais e sua organização Veículo em que foi publicada a resenha Site Seção do veículo em que foi publicada a resenha Não é possível recuperar a informação Organização dos parágrafos Apresentação de cada tese apontada pelo autor Linguagem Mais formal e com termos específicos da área Exemplo de aplicação Considerando seu curso em andamento, caro aluno, escolha uma obra e faça uma resenha. Pode ser tanto uma obra a cuja opinião você seja favorável, ou uma obra que você rejeitou. Faça um breve resumo da obra e intercale comentários. Não se esqueça de que em seu texto, há necessidade de informar o livro lido e o autor. 8.3. Divulgação científica O texto de divulgação científica constitui-se a partir da intersecção de dois gêneros discursivos: o discurso da ciência e o discurso do jornalismo, enquanto discurso de transmissão de informação. Revistas como Super Interessante, Globo Ciência, Ciência Hoje, além de suplementos científicos presentes em jornais e revistas, são alguns exemplos de veículos que trabalham com divulgação científica. Em linhas gerais, podemos dizer que a divulgação científica opera uma espécie de tradução do jargão científico. O jornalista tem a função de escrever sobre uma descoberta científica recente de tal forma que seja acessível à população em geral. A seguir um exemplo de divulgação científica: Banquete jogado fora Por Marcelo Tolentino Paradoxo brasileiro: de um lado, a abundância de um país cujo povo é campeão de desperdício. Do outro lado, a angústia dos 50 milhões de famintos estimados pelo IBGE 191 Unidade II Bolo e suco de cascas de maçã, torta fria e pizza colorida de legumes. De quebra, pão integral de talos e cascas de banana à milanesa. Eis algumas receitas baratas e nutritivas que podem ajudar a combater o desperdício e a fome no Brasil. É o que afirma a mestre da UFSC, professora Maria Benedita da Silva Prim, 40 anos, responsável por pesquisa que é literalmente um prato cheio para o programa “Fome Zero” de Lula. Segundo Benedita, que também é bióloga, cada pessoa produz, em média, 800 gramas de lixo por dia. Do total, 60% é orgânico, e, portanto, consumível. Baseada em dados como esses, e convencida de ter em mãos uma arma contra a escassez de comida, ela decidiu provar que nem só a despensa guarda matériaprima para pratos saborosos. Começou comendo o lixo doméstico de sua casa. É isso mesmo! A família da pesquisadora, vinda do interior de São Paulo, já tinha o hábito de consumir partes de verduras tradicionalmente não utilizadas como talos, cascas e folhas. “Podemos encontrar mais nutrientes no lixo que nos produtos tradicionalmente consumidos”, garante Benedita, que seguiu os rastros das toneladas perdidas desde a fase de colheita até a comercialização na Ceasa (Central de Abastecimento) de São José, em Santa Catarina. Como estudo de caso foram analisadas a beterraba, a cenoura e a couve-flor. Além da aplicação de questionários em 50 comerciantes locais e 80 agricultores de Florianópolis e cidades vizinhas. Os resultados assustam. Embora as estimativas da Fundação Getúlio Vargas apontarem que 30% dos 176 milhões de habitantes sofre com a falta de comida, “o desperdício ainda reina em diversos cantos do Brasil”, adverte Benedita. Após pesar as partes utilizadas e desprezadas dos legumes estudados, ela descobriu que somente os estabelecimentos atendidos pela Ceasa desperdiçam R$ 70 mil todos os anos. Um valor referente ao que não é utilizado no consumo humano e considerando o preço médio de R$ 0,47. No campo, o descaso é ainda maior. Perde-se cerca de 21,1% da produção, ou seja, a quantia de R$ 600 mil por ano, incluindo neste caso partes comercializadas e não comercializadas. São várias as causas do extravio indiscriminado de alimentos. Na esfera comercial estão principalmente o transporte inadequado e a falta de preparo dos vendedores na hora do armazenamento. Dentro da central estudada, Benedita teve ainda acesso às “notas vermelhas” de outras fontes de abastecimento de Santa Catarina. Somando o desperdício de beterraba, cenoura e couve-flor das centrais de Blumenau, Tubarão e São José, a perda revelada foi de 15 toneladas por ano, o equivalente a R$ 4 milhões. O retrato do desperdício fica mais palpável quando Benedita coloca na ponta do lápis quantas cestas básicas poderiam ter sido compradas com o dinheiro jogado fora na zona rural, comercial e pelo Ceasa de São José. Levando em consideração valores de 2001, o 192 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO cálculo revelou que se a quantia fosse gasta em comida, cerca de 542 mil carentes teriam a chance de levar para a casa 86 mil cestas. Os alimentos seriam suficientes para garantir as refeições durante um ano. Novo rumo - Do total de beterraba, cenoura e couve-flor desconsiderado pelos comerciantes (ramas, folhas, entre outros), apenas 35% é reaproveitado para consumo humano. Sofrendo com o encalhe de produtos fora do tamanho padrão ou com machucados causados por enxadas - problemas que as donas de casa não perdoam – agricultores costumam consumir somente 32,2% da sobra das vendas. O restante, tanto na zona rural quanto urbana, vira alimento de animais, são levados pelos caminhões da prefeitura e em último caso, enterrados como adubo. “Não sei como tanta gente morre de fome num país tão rico”, questiona Maria Benedita, cujos ensinamentos dariam inveja a equipe de segurança alimentar do governo Lula. A vontade de oferecer outro destino aos resíduos além dos sacos plásticos nasceu na Escola Básica Professora Claudete Maria Hoffmann Domingos em Palhoça (SC), a 11 quilômetros de Florianópolis. Desde 1995, sua disciplina de ciências ajuda a reaproveitar os resíduos da merenda escolar e o lixo da comunidade local. Junto aos alunos descobriu as diferentes vantagens dos dois “erres” – reduzir e reaproveitar – como ela mesma faz questão de expressar. “A mídia dá muita ênfase para a reciclagem, que é o terceiro ‘r`. Mas ninguém fala que esse processo é caro, envolve gasto de energia, e de água. É por isso que os restos orgânicos devem ter preferência”, observa a professora. Fé na obsessão de Lula – o projeto de tentar garantir o café, o almoço e a janta dos 50 milhões de famintos apontados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) – cuja renda diária não chega a um dólar – pode não passar de um fastfood, avisa Benedita. Apesar de todo o barulho causado pelo discurso de posse do presidente, Benedita acredita que o “Fome Zero” pode falhar se não tiver os contornos de um programa educacional. Com a postura de quem tem experiência no assunto, a pesquisadora se preocupa com o velho e preconceituoso significado do lixo. Se as sobras de mercados e restaurantes forem realmente reutilizados, como pensa o ministro José Graziano, da segurança alimentar, “será necessário convencer o povo de que lixo orgânico não é comida de pobre, mas de todo mundo”, salienta Maria Benedita, acrescentando: “Campanhas publicitárias, trabalhos em escolas e localidades serão estratégicos”. Folha de S. Paulo. 12 abr, 2003. O autor da divulgação científica “traduz”, ou seja, converte a linguagem científica em linguagem mais cotidiana, que possa ser entendida pelos leitores do jornal. No caso, o autor informa sobre a pesquisa da professora Maria Benedita da Silva Prim. 193 Unidade II O texto permite, então, que o leitor não especialista obtenha informação sobre o tema. Um dos recursos para a aproximação com o leitor é a explicação de termos no decorrer do texto. Exemplo de aplicação Selecione um texto de divulgação científica e verifique nele: • autoria; • pesquisa recente divulgada; • responsável ou responsáveis pela pesquisa; • relevância para o público em geral; • exemplo de linguagem que é próxima do leitor Resumo Nesta unidade, verificamos como alguns fatores linguísticos e extralinguísticos favorecem o contexto de um texto. A intertextualidade é um fator importantíssimo, pois é recorrente em todos os textos, de forma explícita ou implícita, requerendo do leitor conhecimento para fazer a relação entre o texto lido e outros referidos (no texto lido). A linguagem implica também o pressuposto – relacionado à verdade ou não dos enunciados – e o subentendido, informação implícita percebida pelo leitor, mas difícil de comprovar no texto alheio. Argumentação e seus procedimentos fundamentam outro fator textual, que depende do produtor do texto para convencer seu leitor das ideias e concepções apresentadas no texto, mas também depende do leitor e se este de fato se deixa convencer. Para finalizar, alguns gêneros textuais lidam tanto com intertextualidade e informações implícitas, quanto seu tipo baseia-se na argumentação. Assim, temos: • Artigo de opinião, cujo autor propositadamente posiciona-se no texto, deixando clara sua opinião. Apresenta argumentos e outros recursos da língua para convencer o leitor. Os temas são polêmicos. 194 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO • Resenha, cujo autor é grande influenciador, pois o leitor procura ler o texto justamente para se apoiar na opinião do autor. No caso, opinião sobre algum evento cultural. • Divulgação científica trata da divulgação de uma pesquisa recente, cujo resultado pode ser relevante para a sociedade de forma geral. O autor não é o próprio pesquisador, mas o jornalista, que traduz a linguagem científica para a linguagem mais cotidiana para os leitores não especialistas no assunto conseguirem entender o assunto. Exercícios 1. O quadro O grito, datado de 1893 e reproduzido abaixo, é uma pintura de autoria do norueguês Edvard Munch. Trata-se de uma das obras mais importantes do Expressionismo, movimento artístico de vanguarda do início do século XX. Os artistas expressionistas não procuravam retratar a realidade fielmente, mas projetar, na obra, a sua subjetividade, mostrando, assim, a realidade modificada pelo seu psiquismo. Figura 18 195 Unidade II Por ter se tornado muito famoso, O grito serviu de inspiração para muitas outras produções, como a ilustrada a seguir, com o personagem Homer, do desenho animado Os Simpsons. Figura 19 Analise as figuras e considere as afirmações abaixo. I. No quadro original, a figura retratada passa a sensação de angústia e de desespero. II. O segundo quadro valeu-se da intertextualidade, que só é percebida se o leitor tiver a obra original como referência. III. O quadro com o personagem Homer, dos Simpsons, é também considerado uma obra expressionista, mas o personagem não transmite desespero, uma vez que se trata de uma produção cômica. Assinale a alternativa certa. A) Apenas a afirmativa I está correta. B) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. C) Apenas a afirmativa II está correta. D) Apenas a afirmativa III está correta. E) Todas as afirmativas estão corretas. Resposta: B. Análise das afirmativas. I. Afirmativa verdadeira. Justificativa. O personagem do quadro revela angústia e desespero, como se pode perceber no seu gesto e na sua expressão. 196 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO II. Afirmativa verdadeira. Justificativa. Se o leitor não conhecer o quadro original, não será capaz de compreender a paródia construída no segundo texto. III. Afirmativa falsa. Justificativa. O quadro dos Simpsons é uma paródia, não pode ser classificado como um quadro expressionista e Homer também mostra desespero. É possível identificar a família dele no plano de fundo da imagem. 2. Considere a charge abaixo, de autoria de Jean, e as afirmações que seguem. Figura 20 I. A palavra “prova”, explorada em mais de um sentido, é essencial na construção do humor da charge. II. A charge brinca com o senso comum que diz que, no Brasil, os casos de corrupção acabam sempre em pizza. III. O título da charge faz com que o leitor situe o tema do texto na área política e entenda que, no primeiro quadrinho, está implícita a referência a alguma comprovação da acusação. Está correto o que se afirma em: A) Somente I. B) Somente I e II. C) Somente II e III. D) Somente I e III. E) Todas as afirmativas. Resolução desta questão na Plataforma 197 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 BRAZIL.PS0861B_F.SAO-PAULO-REVOLUTION-BONUS.JPG. Formato: JPEG. Disponível em:<http:// commons.wikimedia.org/wiki/File:Brazil.PS0861b_f.Sao-Paulo-Revolution-Bonus.jpg?uselang=pt>. Acesso em: 22 jun. 2011. Figura 2 Imagem extraída de: BRASIL. Banco Central do Brasil. Conhecendo a nota de 10 Reais: dicas e passatempos para você conhecer nosso dinheiro de verdade! Disponível em: <http://www.bcb.gov. br/Pre/PEF/PORT/publicacoes_cartilha10reais.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2011. Figura 3 GREENPEACE.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: <http://bp0.blogger.com/_96zXkhrcrJk/SE6IJAqUhqI/ AAAAAAAABDE/UNjEthO6mmc/s1600-h/greenpeace.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2011. Figura 4 e Figura 5 PARTES_BICICLETA.GIF. Formato: GIF. Disponível em:<http://www.comercialmonark.com.br/partes_bike. html>. Acesso em: 22 jun. 2011. Figura 7 CHAMBERS, E. Anatomical chart from Cyclopaedia. 1728. Formato: JPEG. Disponível em: <http:// pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Anatomical_chart,_Cyclopaedia,_1728,_volume_1,_between_pages_84_ and_85.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2011. Figura 8 SECAO-DE-CAULE2.JPG. Formato: JPEG. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Secao-decaule2.JPG>. Acesso em: 22 jun. 2011. Figura 9 DIESEL49.GIF. Formato: GIF. Largura: 658 pixels. Altura: 434 pixels. Disponível em:<http://www. joseclaudio.eng.br/grupos_geradores_4.html>. Acesso em: 22 jun. 2011. Figura 10 DICAS-DE-JOGOS-DE-PALAVRAS-CRUZADAS-PARA-JOGAR-ONLINE-NA-INTERNET.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: <http://www.portalxp.net/wp-content/uploads/2010/09/Dicas-de-jogos-de-palavrascruzadas-para-jogar-online-na-internet.jpg>. Acesso em: 29 jun. 2011. 198 Figura 11 Imagem do Tic Tac. Dispponível em: <http://www.ferrero.com.br/tic%20tac/> Figura 12 PLACA_TRANSITO_P.GIF. Formato: GIF. Disponível em: <http://www.nnscreen.com.br/images/placa/ placa_transito_p.gif>. Acesso em: 29 jun. 2011. Figura 13 CHARGEANGELI264.GIF. Formato GIF. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/angeli/chargeangeli/i/ chargeangeli264.gif>. Acesso em: 16 abr. 2010. Figura 14 BROWNE, Dik. O melhor de Hagar, o Horrível. L&PM, 2008. Figura 15 FENECH, P. philippe-fenech_japon.jpg. Formato: JPEG. Disponível em: <http://cfsl.net/tsunami/wpcontent/uploads/2011/03/philippe-fenech_japon.jpg>. Acesso em: 21 jun. 2011. Figura 16 DESTAQUE. JPG. Formato: JPEG. Disponível em: <http://www.fcr-arte.com.br/home/images/aderecos/ destaque.jpg>.Acesso em: 21 jun. 2011. Figura 17 VERÍSSIMO, L. F. As cobras. Figura 18 MUNCH, E. O grito. Formato GIF. Disponível em: <http://vozativa2.blogspot.com/2009/04/o-grito. html>. Acesso em: 31 ago. 2010. Figura 19 3908680224_3FED6B8E79_O.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: <http://imgs.abduzeedo.com/files/ articles/homer-collection/3908680224_3fed6b8e79_o.jpg>. Acesso em: 31 ago. 2010. Figura 20 Disponível em <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://bp0.blogger.com/_hzYIkj5NGyU/ RnLztJfsdaI/AAAAAAAACV4/BujQKGUW0Xk/s400/jean156.jpg&imgrefurl=http://professormedeiros. blogspot.com>. Acesso em 02 jul.2011. 199 REFERÊNCIAS Audiovisuais ABUJAMRA, A. Espinho na roseira/Drumonda. In: KARNAK. Karnak. Tinitus: c1995. 1 CD. Faixa 7. BIAFRA. Tupi or not tupi. Letra disponível em:< http://www.vagalume.com.br/byafra/tupi-or-not-tupi. html#ixzz1OhYrmUpZ>. Acesso em: 21 jun. 2011. BRANT, F.; NASCIMENTO, M. Itamarandiba. In: NASCIMENTO, M. Sentinela. Aryola/Polygram, c1997. 1 CD. Faixa 11. BUARQUE, C. Doze anos: Chico Buarque. In: BUARQUE, C. Ópera do malandro. Polygram, c1997. 1 CD. Faixa 6. BUARQUE, C.; GIL, G. Cálice. Intérpretes: Chico Buarque, Milton Nascimento. In: BUARQUE, C. Chico Buarque. Polygram/Philips, c1978. 1 CD. Faixa 2. FACE DA MORTE. Televisão. In: FACE DA MORTE. O crime do raciocínio. 1999. 1 CD. Faixa 3. GUARABYRA, G.; SÁ; L. C. Sobradinho. In: No sertão: viola e cordas. Kuarup Discos, c1998. 1 CD. Faixa 9. O CARTEIRO E O POETA. Direção: Michael Radford. Itália: 1995. (109 min.). O MÁGICO DE OZ (Wizard of Oz). Direção: Victor Fleming, Richard Thorpe, King Vidor. Estados Unidos: 1939. (101 min.). RACIONAIS MC’S. Mágico de Oz. In: RACIONAIS MC’S. Sobrevivente no inferno. Cosa Nostra, c2000. 1CD. Faixa 10. THE MATRIX. Direção: Wachowski Brothers. Estados Unidos: 1999 (primeiro filme da série). (136 min.). VILLA-LOBOS, D.; BONFÁ, M.; RUSSO, R. Monte castelo. In: LEGIÃO URBANA. As quatro estações. EMI, c1995. 1 CD. Faixa 06. VANDRÉ, G. Pra não dizer que não falei das flores. In: VANDRÉ, G. Geraldo Vandré. Som Livre, p2000. 1 CD. Faixa 16. Textuais ABREU, A. A Arte de argumentar. 3. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. ABREU, C. J. M. DIAS, G. In: RAMOS, F. J. da S. (org.). Grandes poetas românticos do Brasil. São Paulo: Edições LEP Ltda, 1952. 200 ALIGHIERI, D.A divina comédia. São Paulo: 34, 1998. ANDRADE, C. D.de. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 1980. ___. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003 ANDRADE, M. M.; MEDEIROS, J.B. Comunicação em língua portuguesa para os cursos de jornalismo, propaganda e letras. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. ANTUNES, I. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola, 2010. AZEVEDO, Ricardo. Você diz que sabe muito, borboleta sabe mais! São Paulo: Moderna, 2007. BACCEGA, M. A. Comunicação e linguagem. São Paulo: Moderna, 1998. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986. BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio Janeiro: Nova Aguilar, 1993. BILAC, O. Poesias. São Paulo: Ediouro, 1978. 228p. BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada: edição revista e atualizada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. BRANDÃO, Sílvia F. A geografia linguística no Brasil. São Paulo: Ática, 1991. BUCCI, E. A mercadoria alucinógena. Veja. São Paulo, n. 1544, 29 abr. de 1998. BURKE, P(Org.). A escrita da história. São Paulo: UNESP, 1992. CAGLIARI, L. C. Alfabetização e linguística. 10 ed. São Paulo: Scipione, 2006. CAMARGO, T. N. Ordem direta e inversa. Folha.com. São Paulo 20 ou. 2010. Disponível em: <http:// www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u446.shtml>. Acesso em: 17 jun. 2011. CAMÕES. L. V. de. O amor é fogo que arde sem se ver. s/d. Disponível em: < http://users.isr.ist.utl. pt/~cfb/VdS/camoes.html>. Acesso em: 21 jun. 2011. ___. Os melhores poemas de Luis de Camões. Sao Paulo: Global, 2008. CAROL, L. Alice no país das maravilhas. Trad. Clélia Regina Ramos. Petrópolis: Arara Azul, 2002. Disponível em: < http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/alicep.html> Acesso em: 22 jun. 2011. 201 CHAIM, R. Professor de história. 2008. In: RECANTO DAS LETRAS. Disponível em: <http://www. recantodasletras.com.br/poesias/954997> Acesso em: 21 jun. 2011. DELL’ISOLA, R.L.P. Leitura: inferências e contexto sociocultural. Belo Horizonte: Formato, 2001. DIAS, G. Poemas de Goncalves Dias. 14. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. DUBOIS, J. et.al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1973. ÉPOCA. Rio de Janeiro: n. 189, 31 dez. 2001. FIORIN, J. L. (Org.). Introdução à linguística I: objetos teóricos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2006. _______ . Introdução à linguística II: princípios de análise. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2005. FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo, 22 dez. 2001. FREIRE, P. A Importância do ato de ler. 46. ed. São Paulo: Cortez,1997. _______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. FRIEDRICH, C.; MARTIUS, P. von; EICHLER, A. W.; URBAN, I. Flora Brasiliensis. Disponível em:< http:// florabrasiliensis.cria.org.br/opus>. Acesso em: 21 jun. 2011. GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia.10. ed. São. Paulo:Editora Schwarcz LTDA,1995. 555p GOLDSTEIN, N.; LOUZADA, M.S.; IVAMOTO, R. O texto sem mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009. ILARI, R. Introdução à semântica: brincando com a gramática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2001. _______ .Introdução ao estudo do léxico: brincando com as palavras. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003. KOCH, I. G. V. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004. _______. O texto e a construção dos sentidos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1998. KOCH, I.G.V.; ELIAS, V.M. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009. _______. Ler e Compreender os Sentidos do Texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010. KOCH, I. G. V.; BENTES, A. C.; CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade: diálogos possíveis. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008. 202 KOCH, I. G. V; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1990. LAURENTINO, A. Dúvidas. 2007. Disponível em: <http://andrelaurentino.blogspot.com/2007/04/dvidas. html>. Acesso em 22 jun. 2011. LIBERATO, Y., FULGÊNCIO, L. É possível facilitar a leitura: um guia para escrever claro. São Paulo: Contexto, 2007. LÍNGUA PORTUGUESA. São Paulo: Editora Segmento. n. 64 fev. 2011. MARCUSCHI, L. A. Gêneros Textuais: Definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A.; MACHADO, A.; BEZERRA, M. Gêneros textuais e ensino. 4. ed. Rio de Janeiro: Lucena, 2005. MARIUSO, P. Emergência: a dinâmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares. 2005. In: COMCIÊNCIA. Disponível em: < http://www.comciencia.br/resenhas/2005/10/resenha1.htm>. Acesso em: 22 jun. 2011. MARTINS, E. Manual de redação e estilo: O Estado de S. Paulo. 2001. Disponível em: <http://www. estadao.com.br/manualredacao/esclareca/o.shtm>. Acesso em: 17 jun. 2011. MEDEIROS, A. Rabos e pelos. 2001. In: FOLHA DE SÃO PAULO, São Paulo, 22 dez.1996, p.1-4. MEIRELES, C. Ou isto ou aquilo. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. MUSSALIM, F., BENTES, A. C. (Org.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005, vol. 1. OLIVEIRA, A. S. Metáforas em campo: o futebol e sua plurivalência metafórica no jornal Agora São Paulo. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC, 2005. PLATÃO, F.; FIORIN, J.L. Lições de texto: leitura e redação. 4. ed. São Paulo: Ática, 2001. POIRER, M. P. Especialista pede que governo e setor privado apoiem projetos comunitários. In: ESTADO DE S. PAULO. 20 abr. 2006. Disponível em: < http://www.coav.org.br/> Acesso em: 22 jun. 2011. PREFEITURA DE SALVADOR. Secretaria Municipal da Educação, Cultura Esporte e Lazer. Como ensinar conceitos matemáticos. Disponível em:< http://www.secult.salvador.ba.gov.br>. Acesso em: 21 jun. 2011. QUEIROZ, R. de. Talvez o último desejo. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos (Sel.). As cem melhores crônicas brasileiras. São Paulo: Objetiva, 2007. QUINTANA, M. Quintana de bolso. Porto Alegre: LP&M, 2006. 203 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS. ANPUR, UFBA, Vol. 5, nº 1, 2003. RIBEIRO, D.; ZIRALDO. Noções de coisas. São Paulo: FTD, 1995. p.48-9. RIBEIRO, J. C. Platão: ousar a utopia. São Paulo: FTD, 1988. ROJO, R. A prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCNs. SP: Mercado de Letras, 2001. RONCARATI, Cláudia. As cadeias do texto: construindo sentidos. São Paulo: Parábola, 2010. ROSSi, C. O Provão dos provões. In: Folha de São Paulo: 6 dez. 2006. SABINO, F. A mulher do vizinho. Rio de Janeiro: Record, 1976. SANT’ANNA, A. R. de. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2010. SARAMAGO, J. A caverna. Lisboa: Editorial Caminho, 2000. SHIMIZU, H. ; JONES, F. A geração digital entra em cena. Época. São Paulo, Globo, 19 out .1998. SIQUEIRA, João Hilton Sayeg. O texto. São Paulo: Selinute, 2000. SOUZA, M. de. As sombras da vida. 2002. Disponível em: <http://www.monica.com.br/comics/piteco/ pag1.htm>. Acesso em: 21 jun. 2011. TOLENTINO, M. Banquete Jogado fora. In: FOLHA DE S. PAULO, 12 abr. 2003. VASCONCELOS, J. T. M. de; SCANAVACCA, M. I.; SAMPAIO, R. O.; GRINBERG, M.; SOSA, E. A.; OLIVEIRA, S. A. de. Tratamento cirúrgico da fibrilação atrial por isolamento da parede posterior do átrio esquerdo em doentes com valvopatia mitral reumática crônica: um estudo randomizado com grupo controle. Arquivo Brasileiro de Cardiologia. v.83, n.3. São Paulo, set. 2004.) VEJA. São Paulo: Abril, ano 36, n. 42, 22 out. 2003 VELOSO, C. Menino do Rio. In: Literatura comentada. Sao Paulo: Abril Cultural, 1981. VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. VIANA, A. C. (Org.). Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo: Scipione, 1998. WIKIPEDIA. Profecia da estátua de Nabucodonosor. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Profecia_ da_estátua_de_Nabucodonosor.html>. Acesso em: 22 jul. 2011. ZIRALDO. Anedotas do Pasquim 1. Rio de Janeiro: CODECRI, 1982. 204 205 206 207 208