UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
Articulação Entre Formação Académica e Desporto
de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Dissertação de Mestrado em
Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário
PAULO CARLOS FERREIRA DA SILVA
Orientador: Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira
Vila Real, 2014
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
Articulação Entre Formação Académica e Desporto
de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Dissertação de Mestrado em
Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário
Paulo Carlos Ferreira da Silva
Orientador: Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira
Vila Real, 2014
Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Dissertação apresentada à UTAD, no DEP- ECHS,
como requisito para a obtenção do grau de Mestre em
Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e
Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do
artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2º Ciclos de
Estudos de Estudo em Ensino da UTAD, sob orientação
do Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida
Pereira.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Agradecimentos
Para a consecução deste trabalho de investigação foi determinante
o apoio de um conjunto de pessoas às quais gostaria de agradecer e
demonstrar o meu apreço.
Agradeço à minha família pela compreensão que tiveram e pelas
palavras de incentivo.
À minha mulher, Paula, e ao meu filho, Bernardo, por estarem
sempre presentes e serem a minha fonte de motivação.
Aos meus amigos pelo carinho, apoio e solidariedade que me
dedicaram.
Aos meus colegas, Mário Castro, Jorge Arede e Luís Oliveira pela
colaboração na realização deste trabalho.
Aos clubes onde treinei, ao Colégio onde ensino, por contribuírem
em muito para aquilo que sou hoje.
Às atletas, treinadores e selecionadores que possibilitaram a
execução deste trabalho, que por razões de sigilo mantenho em
anonimato, que partilharam as suas experiências, os seus conhecimentos
e objetivos.
Um agradecimento especial:
Ao Professor Doutor Antonino Pereira pela valiosa orientação deste
estudo. Agradeço a sua dedicação, interesse, paciência e total
disponibilidade, sem a qual não teria sido possível a realização do
mesmo.
A TODOS O MEU SINCERO OBRIGADO!
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Resumo
Conhecendo a exigência intrínseca à prática de desporto de alto
rendimento e à formação académica, importa investigar quais as principais
contingências que decorrem do seu exercício em simultâneo.
Este trabalho de investigação pretendeu aquilatar junto das alunas-atletas
quais as dificuldades que estas vivenciam no seu dia-a-dia, que estratégias
utilizam e que soluções apontam para articular, com sucesso, a formação
académica com a prática de desporto de alto rendimento.
O presente estudo teve o seu enfoque em dez atletas em percurso de
alto rendimento, do género feminino, com presença regular nas seleções
nacionais de basquetebol. As referidas atletas, durante o ensino secundário,
frequentaram os Centros de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de
Basquetebol e, neste momento, são simultaneamente estudantes do ensino
superior e jogadoras da Liga Feminina. As suas idades estão compreendidas
entre os 18 e os 23 anos.
O estudo desenvolvido é de carater qualitativo, sendo a recolha de dados
efetuada através de entrevistas semiestruturadas. A técnica de análise de dados
utilizada foi a análise de conteúdo.
As principais conclusões mostram que: i) a frequência durante o ensino
secundário de um Centro de Alto Rendimento foi crucial para a sua formação e
performance desportiva; ii) as medidas de apoio mais usadas durante o ensino
secundário foram a justificação de faltas, a alteração de exames e as aulas de
compensação; iii) as maiores dificuldades de conciliação do desporto de alto
rendimento e a formação académica foram a falta de tempo, o cansaço, a fadiga
e o desgaste provocado pelas deslocações diárias; iv) consideram que seriam
melhores atletas se não estudassem; v) as principais medidas de apoio
solicitadas para o ensino superior foram: alteração dos critérios de atribuição do
Estatuto de Atleta de Alto Rendimento, melhoria da comunicação entre a
federação e a universidade e introdução nas universidades de regimes de
tutoria; vi) elaboram estratégias de articulação dos estudos com o desporto
focadas, principalmente, na resolução nos problemas do dia-a-dia e vii) avaliam
a conciliação do desporto de alto rendimento com a formação académica como
possível.
Palavras-chave: Formação académica, alto rendimento, articulação, medidas de
apoio, tutoria; basquetebol.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Abstract
Being aware of the demands of high performance sports and academic
education at the same time, it’s essential to address the main contingencies
derived from doing both simultaneously.
The objective of this research was to determine the difficulties that these
students-athletes face on a day-to-day basis, how they cope and what strategies
they use to successfully juggle their classes with the practice of a high
performance sport.
This study was focused on ten high performance athletes, all females,
who are regularly called upon to represent the national basketball teams. During
high-school, these athletes attended Portuguese Basketball Federation’s High
Performance Centres and, at the moment, are, simultaneously, university
students and basketball players in the Women’s League (Liga Feminina). Their
ages range from 18 to 23 years old.
This is a qualitative study and the data were gathered through semi
structured interviews. The data analysis technique used was content analysis.
The main conclusions are: i) attending a High Performance Centre during
high-school was essential to their sport performance; ii) the strategies more
commonly used during high-school were justification of their absence from
classes, postponing exams and make-up classes; iii) the biggest problems in
juggling the high performance sport with high-school were lack of time, fatigue,
tiredness and weariness from the daily travels; iv) they think they would be better
athletes if they didn’t have to attend classes; v) the main support measures
requested for them to attend University were: changing the criteria for the Legal
Status as High Performance Athlete (Estatuto de Atleta de Alto Rendimento),
improving the communication between the Federation and the University and
having tutorial systems in the University; vi) they create strategies to juggle their
academic education with practicing the sport which mainly focused in day-to-day
problems, and vii) they consider that it is possible to practice a high performance
sport and study at the same time.
Keywords: Academic education, high performance, juggling, institutional support
measures, tutorial system, basketball.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Índice Geral
Agradecimentos ……………………………………………………..
III
Resumo …………………………………………………………….... V
Abstract ……………………………………………………………....
VII
Índice Geral ………………………………………………………….
IX
Índice de Quadros …………………………………………………..
XI
Índice de Figuras ……………………………………………………
XIII
Índice de Anexos ……………………………………………………
XV
Abreviaturas ………………………………………………………..
XVII
1
Introdução …………………………………………………….
1
2
Desporto ………………………………………………………
7
2.1 Conceitos …………………………………………………… 8
2.2 A Dimensão Social do Desporto ……………………….… 11
3
Alto Rendimento Desportivo ………………………………
15
3.1 Conceitos de Desporto de Alto Rendimento ……………
16
3.2 Enquadramento Normativo ……………………………….
18
3.3 O Processo de Preparação dos Atletas de Alto
Rendimento ………………………………………………..
23
3.4 Medidas de Apoio à Prática Desportiva de Alto
4
5
Rendimento …………………………………………………
29
Alto Rendimento e Sucesso Escolar …………………….
33
4.1 Articulação entre Alto Rendimento e Sucesso Escolar...
34
Investigações Desenvolvidas Nesta Temática …………
43
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Metodologia …………………………………………………..
55
6.1 Introdução.……………………..……………………………
56
6.2 Campo de Estudo ………………………………………….
57
6.3 Instrumento de Pesquisa ………………………………….
61
6.4 Procedimentos ……………………………………………..
63
6
6.5 Técnica de Tratamento de Dados ……………………….. 64
Apresentação e Discussão dos Resultados ……………
71
7.1 Introdução ………….……………………………………….
72
7
7.1.1 Domínio I – Experiência Pessoal …………………… 73
7.1.1.1 Experiência Desportiva …….…………………….
73
7.1.1.2 Experiência Académica …….……………………
78
7.1.1.3 Inserção no Mercado de Trabalho ……………..
82
7.1.2 Domínio II – Apoios e Dificuldades …………………
85
A – No Ensino Secundário
7.1.2.1 Usufruto de Medidas de Apoio ………………….
85
B – No Ensino Superior
7.1.2.2 Principais Dificuldades …………………………... 88
7.1.2.3 Usufruto de Medidas de Apoio …….……………
91
7.1.2.4 Alterações de Comportamento na Escola ……..
92
7.1.3 Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades.. 94
7.1.3.1 Apoios ……………………………………………..
94
7.1.3.2 Perceção da Articulação …….…………………..
99
7.1.3.3 Condicionamento do Alto Rendimento ………...
108
8
Conclusões …………………………………………………...
113
9
Bibliografia ……………………………………………………
123
10
Anexos ………………………………………………………...
XIX
Anexo 1 – Guião de Entrevista ……………………………… XX
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Índice de Quadros
Quadro 1 – Caracterização Geral das Atletas ………………………… 58
Quadro 2 – Caracterização da Prática Desportiva das Atletas ……..
59
Quadro 3 – Caracterização da Experiência Desportiva das Atletas… 60
Quadro 4 – Caracterização da Formação Académica das Atletas …. 61
Quadro 5 – Domínios Temáticos Vigentes ……………….……………
72
Quadro 6 – Distribuição das Categorias pelas Componentes do
Estudo ……………………………………………………………………..
Paulo Carlos Ferreira da Silva
73
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Índice de Figuras
Figura 1 – Domínio I – Experiência Pessoal …………………………..
66
Figura 2 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Secundário
67
Figura 3 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Superior …
68
Figura 4 – Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades ……...
69
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Índice de Anexos
Anexo 1 – Guião de Entrevista …………….…………………………
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Abreviaturas
Atl – Atleta
CNT – Centro Nacional de Treino
CAR – Centro de Alto Rendimento
FPB – Federação Portuguesa de Basquetebol
IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude
LBD – Lei de Bases do Desporto
LBSD – Lei de Bases do Sistema Desportivo
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Os pássaros
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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INTRODUÇÃO
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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1 Introdução
“A excelência dos atletas no desporto é aceite ser o resultado do grande
esforço e treino relevante, o mais próximo possível das exigências da
competição, o desempenho em períodos correspondentes a etapas críticas do
desenvolvimento
cognitivo
e
biológico
e
nos
ambientes
propícios
ao
desenvolvimento do domínio das habilidades” (Maia, 2010, p.2).
Coelho (2007, p.243) afirma que, para se atingirem resultados de
exceção é imperativo os atletas “se dedicarem exclusivamente ao treino e até de
se profissionalizarem, fruto das elevadas exigências do desporto de alto
rendimento”
Neste sentido, Vasconcelos (2003, p.8) declara “não haver dúvidas
quanto à incompatibilidade entre a entrega ao desporto a um nível de alta
competição e a formação universitária”. Menciona, ainda, que “ para se fazer
desporto ao mais alto nível, o atleta deve deixar tudo para trás”.
Reforçando esta ideia, Lima (2002, p.12) expressa que para se poder ser
atleta de alto rendimento é necessário “ consagrar os anos de juventude, com
total disponibilidade e assunção dos mais diversos sacrifícios, às atividades do
treino e da participação competitiva, em detrimento da vida académica ou da
vida profissional, suportando importantes hiatos na vida social e na luta pela
subsistência económica, assim como na sua vida familiar”.
“As exigências a que os atletas de alta competição são submetidos, quer
ao nível do processo de treino, quer ao nível das prestações desportivas, criamlhes diversas dificuldades, sendo, por vezes, muito difícil conciliar as atividades
educativas e a prática desportiva” (Zenha et al., 2009, p.1).
Neste sentido o que pretendemos aquilatar é qual a relação existente
entre rendimento escolar e o rendimento desportivo. Numa relação dialética que
tipos de influência estabelecem entre si. Quais os aspetos positivos e negativos
que podemos retirar duma vivência em simultâneo de duas atividades tão
exigentes.
Dias (2013, p.56) alude que “o sucesso desportivo e sucesso escolar
possuem um caráter ambivalente, que marca presença na maioria das vezes, ao
longo do trajeto desportivo dos atletas de alta competição, pois a prática da
modalidade inicia-se em idades jovens e abrange a idade escolar.”
Neste contexto, Pérez & Aguilar (2012, p.203) atestam que “ao esforço
que implica a realização de todas as atividades inerentes à prática desportiva, os
estudantes desportistas têm que juntar as que derivam do seu processo
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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formativo. Uma situação semelhante vive-se, também, no seu inverso, uma vez
que os estudantes, para além de terem que cumprir com o seu processo de
aprendizagem, têm que dedicar uma parte importante do seu tempo à atividade
desportiva, o que compromete as possibilidades de obterem um rendimento
académico excelente.”
Todas as contingências enunciadas tomam uma dimensão de exigência
mais elevada quando os alunos-atletas se encontram a frequentar o ensino
superior.
Sobre este assunto, Vasconcelos (2003, p.9) menciona que “continuamos
a assistir a abandonos precoces, precisamente nos períodos críticos de uma
carreira desportiva, ou seja, no início da fase da obtenção dos grandes
resultados de expressão internacional, que acabam por coincidir com a transição
para o ensino superior, com os prejuízos de vária ordem daí decorrentes.”
“Compatibilizar estas duas atividades, contudo, não é uma tarefa fácil
devido ao alto grau de exigência que para estes estudantes implica competir ao
mais alto nível e, ainda, cumprir com as exigências do ensino universitário”
(Pérez & Aguilar, 2012, p.202).
Ruiz et al. (2008) afirmam que existe uma correlação negativa entre os
estudos e o rendimento desportivo, dado que o processo formativo dificulta de
forma significativa a prática desportiva.
Pérez & Aguilar (2012) relevam que a vida de desportista de alto
rendimento é curta e são poucos os que, depois de se retirarem de competição,
conseguem manter atividades profissionais ligadas ao desporto. Daí a
importância de ajudar os estudantes desportistas de alto nível a definir, de forma
progressiva e continua, um projeto de vida onde seja possível compatibilizar a
atividade desportiva e a formação académica. O desenvolvimento desse plano
permitiria que, no fim da prática desportiva ativa, cada um pudesse progredir no
campo profissional para o qual se tivesse preparado.
Neste sentido, Vilanova & Puig (2013, p.65) afirmam “que a
compaginação da carreira desportiva com a carreira académica é uma questão
de estratégia. Se se desenvolve uma estratégia é possível compaginar os
estudos com o desporto; se não, a conciliação não é possível.”
Assim, Pérez & Aguilar (2012, p.211) afirmam que “a melhoria dos
processos de formação e da prática desportiva destes estudantes requer
mudanças que se enraízem progressivamente e que sejam assumidas por
todos”. Defendem que estas alterações devem começar “pela instituição
universitária, que tem de agir de forma determinada a favor da igualdade de
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
oportunidades,
aprovando
normativos
e
ações
específicas
para
estes
estudantes”. Passando depois para “os orientadores, professores e tutores, que
devem facilitar o acesso à informação, adaptar o ensino à realidade de cada
aluno e disponibilizar os recursos necessários para compensar as dificuldades
que decorrem desta vida dupla.” Acrescentam ainda que “ a desatenção perante
estas situações pode influenciar a consecução dos objetivos pessoais dos
alunos e conduzir a situações de fracasso ou abandono dos estudos ou do
desporto”.
É neste contexto que projetos universitários sensíveis a esta temática
assumem
grande
importância
na
implementação
de
mudanças,
na
disponibilização de recursos que promovam uma melhor coabitação entre as
exigências do estudo com as do desporto.
“O
estudo e o desporto complementam-se e potencializam-se
reciprocamente na formação do indivíduo. A prática desportiva de alto
rendimento constitui um importante fator de desenvolvimento desportivo. Com
efeito, é incontroverso que o alto rendimento desportivo, como paradigma da
excelência da prática desportiva, fomenta a sua generalização, mesmo enquanto
atividade de recreação, e particularmente entre a juventude. Por outro lado, o
desenvolvimento da sociedade não pode ignorar a atividade desportiva que é
cada vez mais um fator cultural indispensável na formação integral da pessoa
humana. Daí que a prática desportiva de alto rendimento deva ser objeto de
medidas de apoio específicas, em virtude das particulares exigências de
preparação dos respetivos praticantes” (Universidade do Minho, 2005).
O desporto mudou e se quisermos competir a nível internacional com os
outros países, temos de encontrar mais tempo para os nossos jovens poderem
treinar, seja através da modificação dos horários escolares, seja com a criação
de escolas especializadas em desporto, facilitando a entrada em universidades,
desenvolvendo academias de treino tanto regionais como nacionais (Campbell,
1998).
Percorrendo os estudos que se têm realizado no âmbito da relação
existente entre a formação académica e a prática desportiva de alto rendimento,
encontramos diferentes perspetivas de abordagem a esta temática. O nosso
trabalho de investigação pretende entender melhor a simbiose existente entre
estas duas atividades no nosso país. Tem o intuito de perceber a complexidade
desta vivência em comum, a compreensão do que é exigido ao aluno-atleta na
consecução do seu projeto de vida e, ainda, apontar itinerários catalisadores
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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deste processo de formação, com o objetivo de promover a obtenção do sucesso
(possível) tanto na escola como no desporto.
Reforçando a pertinência do nosso estudo, vários autores (Lavallee,
2000; Pallarés, et al., 2011) “creem ser necessário continuar a investigar as
transições que enfrentam os desportistas incorporando a análise das estratégias
já que são um aporte para aprofundar a compreensão multidimensional destas.
Assim, contribuir-se-á para a melhoria do bem-estar global do desportista”
(Vilanova & Puig, 2013, p.66).
De acordo com Zenha et al. (2009) a possibilidade de obtenção de um
Estatuto de Atleta de Alto Rendimento não resolve as dificuldades inerentes a
esta “vida-dupla” de desportistas e, na maior parte dos casos, de estudante.
Reconhece-se, assim, que um praticante desportivo, para se “transformar” num
atleta de alto rendimento, deve ser integrado num processo de treino e de
prestações competitivas que nem sempre é compatível com as atividades
educativas e sociais próprias do cidadão comum.
É nesta dimensão que pretendemos realizar o nosso estudo. Trabalhar
com um grupo de atletas em percurso de alto rendimento, com presença regular
nas seleções nacionais, estudantes do ensino superior e a competir na Liga
Feminina de Basquetebol. Tentar perceber quais as dificuldades que vivenciam,
que estratégias utilizam e que soluções apontam para articular, com sucesso, a
formação académica com a prática de desporto de alto rendimento. De uma
forma mais específica os objetivos da investigação são:
1. identificar que tipos de apoios têm os estudantes em percurso de alto
rendimento durante o ensino secundário e que influências têm no seu
rendimento escolar e desportivo;
2. identificar os constrangimentos que vivem os alunos praticantes de
desporto de alto rendimento na sua adaptação e integração ao ensino superior;
3. identificar que apoios e que recursos consideram os alunos do ensino
superior praticantes de desporto de alto rendimento fundamentais para articular
a formação académica com a prática desportiva;
4.
perceber se os desportistas de alto rendimento desenvolvem
estratégias para compatibilizar a formação académica e prática desportiva de
alto nível.
Considera-se que o conjunto das ilações que sobrevenham deste
trabalho de investigação possa ser um contributo importante para uma melhor
compreensão das contingências vividas pelos jovens estudantes.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
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A primeira parte deste trabalho é de natureza concetual e teórica,
efetuando-se uma revisão de literatura sobre o Desporto, o Alto Rendimento
Desportivo, seu Enquadramento Normativo, as Medidas de Apoio existentes e,
por fim, a Conciliação do Desporto de Alto Rendimento com o Sucesso Escolar.
Na
parte
experimental
encontra-se
a
metodologia
utilizada,
a
apresentação e discussão dos resultados, assim como as conclusões a retirar do
estudo e respetivos contributos para a construção de futuras medidas de apoio a
implementar.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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DESPORTO
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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2
Desporto
2.1
Conceitos
De acordo com Carvalho (2000, p.17), “o desporto transformou-se num
fenómeno cultural à escala planetária”.
“Há mais de dois mil anos que os gregos o inventaram. À luz de
princípios, valores e finalidades de divinização do homem e de humanização da
vida. E em nome de uma política e de uma ideologia da harmonia do corpo e da
alma. Era uma prática e um símbolo de homens livres, que através dela se
transcendiam e visavam o sonho de dobrar o portal de entrada no Olimpo”
(Bento, 2004, p.25).
Presentemente, o desporto tem um lugar de relevo na vida de qualquer
comunidade. Praticado por uma reduzida minoria há uma geração atrás, é, nos
dias de hoje, uma atividade pretendida por todas as classes sociais (Carvalho,
1994).
Sendo evidente o impacto que o desporto tem na sociedade atual,
quando tentamos descobrir um conceito comum, confrontamo-nos com uma
pluralidade de definições muitas vezes contraditórias entre si. Assim, é nosso
objetivo elencar e analisar diversas definições de desporto, para perceber a sua
evolução e as perspetivas dadas pelos diferentes autores.
Começamos pela definição de Pierre de Coubertin (1934) onde o autor
descreve desporto como “um culto voluntário e habitual do exercício muscular
intenso suscitado pelo desejo do progresso e não hesitando em ir até ao risco”.
(Coubertin, 1934)
Para Hébert (1946, p.7), “desporto é todo o género de exercícios ou de
atividades físicas tendo como meta a realização de uma performance e cuja
execução repousa essencialmente sobre um elemento definido: uma distância,
um tempo, um obstáculo, uma dificuldade material, um perigo, um animal, um
adversário e, por extensão, o próprio desportista”.
Mais tarde Gillet (1949, citado por Pires, 2007, p.115) define desporto
como uma “atividade física intensa, submetida a regras precisas e preparada por
um treino físico metódico”.
Magname (1964, p.81) afirma que o “desporto é uma atividade de lazer
cuja dominante é o esforço físico, praticada por alternativa ao jogo e ao trabalho,
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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de uma forma competitiva, comportando regras e instituições específicas, e
suscetível de se transformar em atividades profissionais".
Bouet (1968) define desporto como uma procura competitiva, e associa à
competição e à performance, a necessidade de competir intencionalmente,
enfrentando as dificuldades. O autor refere ainda que é necessário investir
energia para se alcançar o melhor desempenho.
Mais tarde, Brohm (1978, p.45) descreve o desporto como “um sistema
institucionalizado
de
práticas
competitivas
predominantemente
físicas,
delineadas, codificadas, e estabelecidas convencionalmente, cujo objetivo é
basicamente
comparar
performances,
execuções,
demonstrações
de
desempenho físico, para designar o melhor concorrente (o campeão) ou registrar
o melhor desempenho (record). O desporto é um sistema de competições físicas
generalizadas, universais e em princípio, abertas a todos”.
Parlebas (1981) entende o desporto como um evento que compreende
diversas atividades, todas elas sujeitas a regras rígidas, códigos precisos,
estruturas
análogas
e
dinâmicas
organizadas
de
forma
universal,
independentemente da situação ou do espaço geográfico em que se realizam.
Em 1988, Pires fez uma síntese das diferentes abordagens realizadas ao
conceito de desporto. Seguindo uma perspetiva multidimensional e dinâmica das
definições apresentadas pelos diversos autores, identificou a presença de quatro
elementos: jogo; movimento; agonística; instituição. Cada um com as suas
componentes. Aos quais acrescenta um quinto elemento: o projeto. Também
este composto por vários elementos, designadamente: objetivos, estratégias,
programas, execução e correções. Assim, o referido autor procurou acrescentar
aquilo que ele considerava estar em falta, transformar o desporto numa atividade
em constante evolução. Este modelo defende que cada elemento apresentado
tem o seu peso, sublinhando ser importante que todos interajam de acordo com
os objetivos, as metodologias e os destinatários a considerar. Pois, “só assim o
desporto está ao serviço das pessoas e não estas ao serviço do desporto”
(Pires, 1994, p.60).
Na Carta Europeia do Desporto (1992, p.3), podemos encontrar o
conceito de desporto definido como “todas as formas de atividades físicas que,
através de uma participação organizada ou não, têm por objetivo a expressão ou
o melhoramento da condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações
sociais ou a obtenção de resultados na competição a todos os níveis”.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Neto (1994) refere que o desporto é uma atividade que nos seus
pressupostos deve contemplar a promoção dos valores humanos, os princípios
de solidariedade e a cooperação social e cultural entre os seus intervenientes.
Em 1998, Lima menciona a importância do desporto como uma forma de
compensação social para além dos ganhos no âmbito da saúde e bem-estar,
uma vez que sublinha que a sua prática possibilita ao indivíduo a melhoria da
sua autoestima através da afirmação da sua personalidade e da sua
corporalidade.
Para Calvo (2001) o desporto assume-se como uma forma de ocupar o
tempo livre, oferecendo a quem o pratica uma fuga ao stress do dia-a-dia,
contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida.
Fica, assim, tangível a dimensão do fenómeno desportivo. Torna-se
evidente que este não se encerra numa vertente somente competitiva, pois
apesar de esta estar sempre presente, devido à existência de adversários, de
records a bater, de metas a atingir, são desenvolvidos outros valores igualmente
importantes. Na Declaração de Nice (2000, p.1) podemos ver reforçada esta
ideia quando, no ponto “práticas amadoras e desporto para todos”, lemos que “o
desporto é uma atividade humana que assenta em valores sociais, educativos e
culturais essenciais. Constitui um fator de inserção, de participação na vida
social, de tolerância, de aceitação das diferenças e de respeito pelas regras”.
No Livro Branco sobre o Desporto (2007, p.6), é utilizado o conceito de
“desporto” estabelecido pelo Conselho da Europa, definindo-o como “todas as
formas de atividade física que, através da participação ocasional ou organizada,
visam exprimir ou melhorar a condição física e o bem-estar mental, constituindo
relações sociais ou obtendo resultados nas competições a todos os níveis”.
Em resumo, após fazermos referência e analisar muitos dos conceitos
existentes sobre desporto, podemos concluir que na sua diversidade há
denominadores-comum para todas as definições descritas, tais como: atividade
física, esforço físico, competição, performance. Contudo, parece-nos importante
realçar o caráter universal do desporto, o seu contributo na união dos povos, no
encontro das diferentes culturas e crenças e, principalmente, o seu papel
fundamental na educação integral do ser humano.
O desporto exige o esforço persistente do indivíduo em aumentar as
fronteiras das suas forças, das suas capacidades e das suas habilidades. Inclui
todas as emoções que são intrínsecas às situações de perigo, de
experimentação, de prova, de superação, e ainda, do equilíbrio físico e
psicológico. Apresenta-se, assim, como um fator determinante de educação
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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corporal e de preparação do homem para a vida (Homem, 1998, citado por
Moreira, 2006).
2.2
A Dimensão Social do Desporto
O desporto, como fenómeno caraterizador da estrutura social em que
está inserido, acompanha e reflete as suas constantes metamorfoses. Bento
(1993, p.113) afirma que “cada época tem o seu Desporto…”
As diferenças que encontramos, ao compararmos o Desporto da
Antiguidade Clássica e o da Era Moderna, são um exemplo claro das
transformações que se vão operando no conceito e valores do desporto em
função da evolução das diferentes sociedades (Esteves, 1999). Reforçando esta
ideia, Costa (1993) defende que, no desporto da antiguidade, o aspeto lúdico e o
culto do corpo eram as caraterísticas mais relevantes, enquanto no desporto
moderno a ideia de progresso, a orientação para a superação e a constante
procura de recordes, associa o corpo a uma ideia de máquina focada no
rendimento. O referido autor (1993, p.43) ao afirmar que “ a sociedade industrial
é fundada sobre o tríplice princípio fundamental: eficácia, rendimento,
progresso”, estende este axioma ao contexto do aparecimento do sistema
desportivo moderno.
De facto, o desporto moderno encontra a sua génese associada à
conjuntura existente na sociedade inglesa durante a revolução industrial. Valores
que norteiam esta sociedade – eficácia, rendimento, progresso - são os que
ainda hoje reconhecemos como importantes vetores do desenvolvimento do
desporto (Garcia, 2002).
Este autor, em 2005, identifica, ainda, o desporto como uma instituição
criada pela sociedade atual para exprimir os ideais do lúdico, do rendimento e da
superação. Estando estes presentes em todos os modelos de prática desportiva.
Calvo (2001) indica que a ideia de desporto associado ao lúdico aparece
desde os primeiros eventos desportivos. Quanto ao rendimento, vários autores
defendem tratar-se de um ideal marcadamente ligado ao desporto e à sociedade
contemporânea (Bento, 1993; Esteves 1999; Garcia, 2005).
Valores como ir mais além, ser mais rápido, ser mais forte, são
desenvolvidos pelo desporto com o intuito de transmitir a grandiosidade de uma
sociedade (Marquez, 1994).
Podemos afirmar que razões de ordem política, económica e cultural têm
importância fulcral na transformação da realidade social do desporto. Uma
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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atividade, no início ligada essencialmente ao lúdico e ao culto do corpo, evoluiu
para um fenómeno onde o rendimento surge como fator fundamental.
Contudo, Constantino (1990) defende que na base de todas estas
mudanças está o próprio fenómeno desportivo, principalmente na sua evolução
enquanto espetáculo de massas.
Efetivamente, o desporto ao assumir-se como espetáculo, enquadra o
seu desenvolvimento numa perspetiva de produto cujo objetivo principal é a
satisfação dos seus consumidores. Neste contexto os atletas têm um papel
fundamental na divulgação do fenómeno desportivo. A sua ação, para além de
objetivos estritamente ligados ao desporto, tem uma responsabilidade acrescida
na construção de uma imagem apelativa dentro dos ideais de beleza e sedução
(Calvo 2001).
Para Bento (1993), o desporto cria o local e o espaço onde o corpo
consubstancia uma presença intensa e arrebatadora. Onde a sua promoção
eleva o espírito, corporizando valores de ordem espiritual. Deste modo, o
desporto possibilita a submissão da natureza animal do Homem à espiritualidade
moral, ética, cultural e estética caraterística da condição humana.
Em 2004, o mesmo autor sublinha o valor do ato desportivo na
construção e revelação do ser humano. Ao considerar que este permite a
mobilização e empenho da Pessoa, tal como ela é, no seu corpo e alma.
Santos (2008) releva a importância do desporto na melhoria do
autoconceito e na valorização social do homem. Refere-se à aprendizagem de
uma modalidade desportiva como uma das mais reveladoras experiências que
um indivíduo pode viver com o seu corpo. Considerando a prática desportiva
como um contributo positivo na educação e formação pessoal de um ser
humano.
O desporto é, assim, um “espaço de socialização e integração social,
onde a partilha de interesses comuns e a sua consequente mediatização,
conferem-lhe um símbolo de distinção social” (Calvo, 2001, p.22).
Para Meyer (2007), o desporto desenvolve, nos indivíduos, competências
sociais importantes: o trabalho de equipa, a pontualidade, a responsabilidade, a
capacidade de interpretar, planear e executar ações. Promove a consciência
corporal, para além de evitar o sedentarismo tão presente nos dias de hoje.
O desporto adquiriu o estatuto de fenómeno cultural à escala planetária.
Porventura o fenómeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo
(Carneiro, 1997), transformando-se, assim, num fenómeno cuja dimensão é de
perceção difícil aos olhos do cidadão comum. A sua prática generalizada, os
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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diferentes contextos e propósitos elegem-no como uma manifestação social e
cultural profundamente humana (Calvo, 2001).
Uma rápida análise do desporto como fenómeno social da atualidade,
leva-nos a pensar sobre o peso que este adquiriu no dia-a-dia de grande parte
da população, ao nível de recreação, do espetáculo, bem como na procura de
um bem-estar e saúde melhores (Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín,
2004).
Zenha (2010) refere-se ao desporto como uma das mais marcantes
realidades socioculturais da atualidade. Um dos fenómenos humanos mais
discutidos e estudados, realçando a sua capacidade de gerar mitos e paixões.
O referido autor menciona a influência do desporto de alto rendimento
como fator de desenvolvimento e como paradigma da excelência da prática
desportiva. Afirma a importância do papel do desporto de alto rendimento na
generalização da sua prática, mesmo enquanto atividade lúdica, particularmente
entre a juventude.
Araújo (2002) defende que a dimensão social do desporto de alto
rendimento se manifesta através de aspetos culturais, pedagógicos, científicos e
estéticos. A sua popularidade tornou o desporto de alto rendimento num grande
espetáculo, num fenómeno de multidões com a sua expressão máxima a ser
alcançada com a realização de eventos de grande importância e dimensão,
como os jogos Olímpicos ou os Campeonatos Europeus e Mundiais das
diferentes modalidades.
Para Vasconcelos (2003), presentemente, as grandes competições são
momentos privilegiados de divulgação das diferentes modalidades desportivas.
Para que esta ação de propaganda realmente surta efeito é determinante que o
evento desportivo tenha qualidade. É necessário que os atletas reúnam
condições técnicas e de rendimento ímpares, capazes de atrair o público aos
espetáculos desportivos. Para isso, além da qualidade dos atletas, é importante
garantir um bom enquadramento da competição, em termos de emoção e quanto
ao desfecho do vencedor.
Carvalho (2002) diz que é incontestável que, em qualquer parte do
mundo, a alta competição das modalidades rainhas de cada cultura é
presentemente um espetáculo de massas e uma manifestação cultural de
grande atratividade.
Alves (2002) afirma que o desporto de alto rendimento, quando bem
orientado no plano social e pedagógico, representa um importante meio
educativo e formativo dos cidadãos, podendo exercer influência positiva no
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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âmbito da ocupação dos tempos livres e entretenimento, na promoção de
hábitos de vida saudável e da qualidade de vida, ou como fator de
desenvolvimento sociocultural e turístico.
Araújo (2002) defende que o desporto de alto rendimento só aporta
contributos positivos quando promove o desenvolvimento das capacidades
globais do ser humano e é orientado segundo perspetivas formativas e
educativas. Nas sociedades em que o desporto é considerado um instrumento
ao serviço dos cidadãos e da sua formação cultural, certamente que, também, o
desporto de alto rendimento é dimensionado segundo os mesmos valores e
desempenha, assim, uma função social positiva. Nas sociedades em que o
desporto é encarado somente como um meio de distração dos cidadãos, é
evidente que o desporto de alto rendimento também cumprirá essa disfunção.
Gonçalves (2006) afirma que no desporto profissional, sob a influência de
interesses económicos, prevalece uma lógica de mercado com o objetivo de
maximizar os ganhos em detrimento das regras desportivas.
O desporto de alto nível, onde se encontra o desporto-espetáculo, é
sempre orientado para satisfazer um verdadeiro mercado de consumidores. Com
efeito, de acordo com Lima (1974), o desenvolvimento desta prática desportiva
contribui para a origem de um movimento financeiro suscetível de o sustentar, de
o promover e de o rentabilizar. Nasce então aquilo que o autor classifica como o
“desporto-indústria” e o “desporto-comércio”.
Os órgãos de comunicação social também desempenham um papel
crucial na divulgação do fenómeno desportivo. Ao colocarem os atletas em
grande destaque, transformam-nos em personalidades públicas rapidamente
assimiladas como modelos de comportamento social (Vasconcelos, 2003).
Pataco (1997) refere que a concorrência entre nações conduz a um
investimento significativo no desporto vocacionado para o elevado rendimento
desportivo. Afirma, ainda, ser indiscutível que a exigência presente neste nível
de prática desportiva tem contribuído para importantes progressos em vários
ramos do conhecimento científico. Razão suficiente para se atribuir à alta
competição uma importância social significativa no mundo contemporâneo.
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ALTO RENDIMENTO DESPORTIVO
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3
Alto Rendimento Desportivo
3.1
Conceitos de Desporto de Alto Rendimento
Milan Kundera (1990, p.52) fala da procura da imortalidade. Refere- “uma
outra imortalidade, profana, para os que permanecem depois da morte na
memória da posteridade.” O mesmo autor afirma que “perante a imortalidade, as
pessoas não são iguais. Temos que distinguir a pequena imortalidade,
recordação de um homem no espírito dos que o conheceram, (…), e a grande
imortalidade, recordação de um homem no espírito dos que não o conheceram.
Há carreiras que confrontam, imediatamente, um homem com a grande
imortalidade, (...): são as carreiras de artista e de homem de Estado.” (Kundera,
1990, p.52)
Dada a dimensão social que o desporto detém no presente, parece-nos
indubitável que a carreira de desportista de alto rendimento também se pode
inserir naquelas que permitem atingir a grande imortalidade.
Coelho (2007, p.254) corrobora esta ideia ao defender que “o desporto
em geral e a participação Olímpica, em particular, são apenas um meio através
do qual o ser humano procura alcançar a sua imortalidade”.
Importa, então, entender o que é o alto rendimento desportivo. Em
Portugal, podemos encontrar na Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto
(Lei n.º 5/2007) e no artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 272/2009 de 1 de Outubro,
definido alto rendimento como “a prática desportiva em que os praticantes obtêm
classificações e resultados desportivos de elevado mérito, aferidos em função
dos padrões desportivos internacionais”.
Muitos autores, quando se referem ao “alto rendimento”, preferem utilizar
o termo “alta competição” (Castro, 2010).
Dias (2013,p.17) menciona “ muitas vezes o termo alta competição
aparece referenciado como alto rendimento, isto porque, como pode depreenderse da Lei nº 1/90, de 13 de janeiro, Lei de Bases do Sistema Desportivo, (…), a
alta competição enquadra-se no âmbito do desporto-rendimento.”
A mesma autora (2013) fez alusão à variedade de termos que podemos
encontrar quando analisamos os normativos que regulamentam a alta
competição: praticantes desportivos de alto rendimento, desporto de rendimento,
prática desportiva de alta competição.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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De acordo com o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), a
noção de alto rendimento está associado a um elevado nível de seleção, rigor e
exigência. Assim, apenas alguns dos melhores desportistas portugueses
conseguem atingir este patamar de prática desportiva (Zenha et al., 2009).
Sublinha Carvalho (2002, p.76) “poderá não bastar ser campeão
nacional, integrar a seleção nacional, ou ser um profissional do desporto
prestigiado local ou nacional, caso estes factos não se repercutam na obtenção
de resultados internacionais”.
Atualmente são definições jurídicas muito seletivas que enquadram o alto
rendimento desportivo. O Decreto-lei nº 272/2009 faz referência à obtenção de
classificações específicas em Campeonatos do Europa e do Mundo, o que leva a
que só “ alguns dos melhores atletas portugueses estejam abrangidos por este
regime” (Dias, 2013).
Conseguir resultados internacionais de excelência torna-se o objetivo
principal destes atletas. Ficar classificado num dos três primeiros lugares em
competições de alto nível, como os Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e
Campeonatos da Europa, é o resultado de um percurso exigente, pautado pelo
rigor, empenhamento, racionalidade e equilíbrio e transmite ao atleta, treinador e
restante equipa técnica, o sentimento de missão cumprida (Decreto-Lei
n.º272/2009).
Constantino (1991) entende a alta competição como a “anormalidade”, o “
extremo” do desporto, onde tudo é permitido para se atingir o objetivo final.
Outros autores sublinham a ação educativa, a representação de um país, a
identificação com os desportistas, como fatores geradores de patriotismo e de
consciência nacional.
Lima (1987, p.4) defende que “os condicionalismos sociais que
impulsionam o homem a afirmar-se como um ser individualizado e único, levam
tanto no desporto como noutras atividades a tentativas de superação dos
resultados obtidos através do aperfeiçoamento e do desenvolvimento das suas
capacidades que desencadeiam um processo criador de novas experiências,
novos conhecimentos e novas etapas”.
Carvalho (2004, p.325) lembra que “os atletas que alcançam distinção à
escala internacional através dos seus feitos desportivos, ultrapassando os mais
elevados níveis de exigência técnica e social na sua carreira desportiva,
conquistam um novo estatuto, passam a ser figuras públicas, um referencial e
um modelo para os mais jovens e um orgulho para os adultos, aos quais o
Estado confere determinados direitos e deveres”.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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De acordo com Lima (1997) grande parte das críticas que têm sido feitas
ao desporto de alto rendimento devem-se ao facto de ele aparecer demasiadas
vezes associado à política, à economia, à medicina e à farmacologia. Considera
que o rendimento desportivo não está na origem deste sentimento negativo. O
incentivo à obtenção de um rendimento desportivo excecional é condição
necessária à reabilitação da dimensão cultural do desporto.
Coelho (2007, p.243) afirma que para se atingirem estes resultados de
exceção é imperativo os atletas “se dedicarem exclusivamente ao treino e até de
se profissionalizarem, fruto das elevadas exigências do desporto de alto
rendimento”
O aumento de dificuldades no atingir o estatuto de alto rendimento
repercute-se na vida do atleta. Enquanto não conseguir o nível, os resultados
necessários à obtenção do referido estatuto, o atleta não usufrui das medidas de
apoio instituídas pela Lei (Dias, 2013).
3.2
Enquadramento Normativo
Com o fenómeno desportivo a crescer em diversidade e importância na
sua dimensão social, tornou-se necessária a sua regulamentação do modo a
organizar e regimentar a sua atividade. A constante evolução da sociedade
manifesta-se
também
no
desporto.
A
sua
volatilidade
obriga
a
um
acompanhamento exaustivo. No desporto todos os dias aparecem novos
praticantes, são referidas novas modalidades, surgem novas instituições
envolvidas, organizam-se novos eventos. Esta complexidade é um desafio
permanente ao legislador. Manter um enquadramento normativo atualizado e
funcional de uma atividade sempre em crescimento é um repto nem sempre fácil
de se concretizar.
Carvalho (2004, p.318) refere que “foi com a Constituição da República
Portuguesa que o desporto adquiriu a sua legitimidade normativa e a sua
magnitude enquanto direito individual”
No artigo 79º da Constituição da República Portuguesa podemos ler:
1. Todos têm direito à cultura física e ao desporto.
2. Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações
e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a
difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no
desporto.
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Carvalho (2004, p.318) referiu, ainda, que foi após abril de 1974, com a
revolução, que a “prática desportiva de alta competição ganhou relevo e foi
assumida como matéria de interesse público”.
De acordo com a mesma autora (2000, p.98) em 1976, o I Governo
Constitucional da República inicia a produção normativa respeitante ao
subsistema da alta competição. Redigiu com o Decreto-Lei n.º 559/76, de 16 de
julho, o “primeiro texto legislativo a regulamentar a requisição e destacamento
respeitante aos trabalhadores/atletas que participassem em provas desportivas
internacionais”.
O desporto de alta competição, tendo em conta “as suas tremendas
exigências de rendimento físico-desportivo” e “os crescentes interesses políticos
e económicos e com o elevado nível de atracão que adquiriu junto do grande
público” tornou-se, assim, “um espaço social a necessitar de um conjunto de
normas gerais e abstratas para regular a sua existência e funcionamento”
(Carvalho, 2002, p.73).
A mesma autora (2002) refere que, em 1980, através da Portaria n.º
730/80, de 26 de setembro, se dá um primeiro passo no reconhecimento da alta
competição como fator importante de desenvolvimento desportivo, aprovando
um regulamento onde vêm mencionados os apoios intrínsecos à prática
desportiva de alta competição, nomeadamente uma primeira referência ao
estatuto de atleta de alta competição.
Um ano depois é aprovada a portaria n.º1015/81, de 25 de novembro.
Esta revoga a Portaria n.º 730/80, de 26 de setembro e confirma novo
Regulamento de Apoio ao Desporto de Alta Competição e o Estatuto do Atleta
de Alta Competição em Representação Nacional. Esta portaria determina a
cedência de bolsas de valorização e ainda a possibilidade de utilização de
instalações.
Volvidos três anos é publicada a Portaria n.º 809/84, de 15 de outubro,
aprovando novo Regulamento de Apoio ao Desporto de Alta Competição e ainda
o Estatuto do Atleta de Alta Competição.
A entrada em vigor da Lei de Bases do Sistema Desportivo (LBSD), Lei
n.º 1/90, de 13 de janeiro de 1990, constitui um momento importante no
enquadramento do desporto em Portugal. Neste documento normativo, revisto
em 25 de junho de 1996 pela Lei n.º 19/96, foram instituídas as linhas políticojurídicas do sistema desportivo português respeitantes a três setores: atividade
desportiva, organizações desportivas e administração pública desportiva. No
artigo 15º do Capítulo II, referente à “Atividade desportiva”, aparece referenciada
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a alta competição, mencionando o apoio financeiro à preparação dos atletas
como uma das medidas de incentivo ao fomento da alta competição (Dias,
2013).
A 7 de agosto surge o Decreto-Lei n.º 257/90, que vem introduzir um
conjunto de medidas de apoio ao recém-criado subsistema de alta competição.
Este diploma consagra, aos atletas e agentes desportivos envolvidos na sua
preparação, a possibilidade de se poderem dedicar à sua carreira desportiva
sem, de alguma forma, prejudicar a sua formação académica ou vida profissional
(Dias, 2013).
Cinco anos depois, é publicado o Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio,
onde as medidas de apoio adotadas em 1990 aparecem aperfeiçoadas. Este
diploma implementa medidas específicas de apoio à alta competição.
Posteriormente o Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio é também alterado pelo
Decreto-Lei n.º 123/96, de 10 de Agosto (Carvalho, 2002).
Este último Decreto-Lei nasce da vontade de operar alguns ajustes no
seu predecessor, no que diz respeito: ao acesso ao ensino superior dos atletas
com estatuto de alta competição; à hipótese de ser concedida mais de uma
licença extraordinária àqueles que trabalham no setor público; à deliberação de
dar a respetiva dispensa; à atribuição de prémios aos atletas e, por último, à
dependência dos benefícios acordados da inscrição num registo nacional de
praticantes com estatuto de alta competição (Diário da República, 1.ª série A N.º 185, 10 de agosto de 1996).
Não obstante, após a LBSD outros normativos foram surgindo para
regulamentar matérias intrínsecas à alta competição, tais como: medidas de
apoio, prémios e bolsas académicas (Dias, 2013).
Passamos assim a elencar alguns dos diplomas mais importantes:
– concessão de bolsas académicas aos praticantes de alta competição,
para que estes possam compatibilizar os estudos com a atividade desportiva Portaria n.º 737/91, de 1 de agosto;
– instituição de formas específicas de apoio aos que desempenham
funções no âmbito do subsistema de alta competição - Portaria n.º 738/91, de 1
de agosto;
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– definição do regime de requisição de técnicos e dirigentes que se
dedicam especificamente ao subsistema de alta competição - Portaria n.º
739/91, de 1 de agosto;
– determinação do montante dos prémios a atribuir aos praticantes
desportivos e respetivas equipas técnicas em face dos resultados obtidos Portaria n.º 740/91, de 1 de agosto;
– regulamentação do seguro desportivo para os praticantes de alta
competição não profissionais - Decreto-Lei n.º 146/93, de 26 de abril;
– definição dos critérios técnicos para a qualificação como praticante
desportivo de alta competição e praticante integrado no percurso de alta
competição - Portaria n.º 947/95, de 1 de agosto;
–
definição
dos
critérios
para
a
concessão
de
prémios
em
reconhecimento do valor e mérito dos êxitos desportivos obtidos no regime de
alta competição. Revoga a Portaria n.º 740/91, de 1 de agosto - Portaria n.º
953/95, de 4 de agosto;
– aprovação do regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino
superior, contemplando no artigo 2.º alínea f) os atletas com estatuto de alta
competição - Portaria n.º 317-B/96, de 29 de julho;
– criação, pelo governo, do Complexo de Apoio às Atividades Desportivas
(CAAD) que compreende para além de outras, a estrutura desportiva do Centro
de Alto Rendimento (CAR) - Decreto-Lei n.º 64/97, de 26 de março;
– instituição de normas relativas à concessão de bolsas académicas aos
atletas de alta competição - Portaria n.º 205/98, de 28 de março;
– fixação do valor dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos das
disciplinas das modalidades integradas no programa olímpico que se
classificarem num dos três primeiros lugares dos Jogos Olímpicos e dos
Campeonatos do Mundo e da Europa, no escalão absoluto. Revoga a Portaria
n.º 953/95, de 4 de agosto - Portaria n.º 211/98, de 3 de abril;
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– regulamentação do seguro desportivo especial dos praticantes em
regime de alta competição - Portaria n.º 392/98, de 11 de julho;
– regulação das condições especiais de acesso e ingresso no ensino
superior, permitindo aos atletas, com estatuto e integrados no percurso de alta
competição, beneficiarem deste regime, mesmo que tenham deixado de
satisfazer as condições há menos de dois anos, contados a partir da data de
apresentação do requerimento de matrícula e inscrição (art.º 18º) - Decreto-Lei
n.º 393-A/99, de 2 de outubro;
– aprovação do regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino
superior (referido no artigo 25º do Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro) Portaria n.º 854-B/99, de 4 de outubro.
Em 2004 é publicada a Lei n.º 30/2004, 21 de Julho - Lei de Bases do
Desporto (LBD). Esta última veio revogar a LBSD (Lei nº1/90) e introduzir
algumas nuances na sua conceptualização. Classifica a atividade desportiva
como: profissional e não profissional. E, ainda, em função dos resultados
internacionais serem obtidos por praticantes desportivos ou seleções nacionais,
classifica-a, respetivamente, como “alta competição” ou “seleção nacional”
(capítulo VI, secção III, artigo 62.º e 63.º).
A referida Lei (LBD) entende que “o desenvolvimento da alta competição
é objeto de medidas de apoio específicas, atentas às especiais exigências de
preparação dos respetivos praticantes”. As medidas destinam-se “ao praticante
desportivo desde a fase da sua identificação até ao final da sua carreira, bem
como aos técnicos e dirigentes que acompanham e enquadram a sua
preparação desportiva”. As medidas de apoio são as anteriormente descritas na
LBSD.
Decorridos três anos é publicada a Lei de Bases da Atividade Física e do
Desporto - Lei nº5/2007, de 16 de janeiro - que na sua secção IV faz referência
ao alto rendimento. Nesta secção podemos encontrar o artigo 44º com as
medidas de apoio, e o artigo 45º que se refere à participação em seleções ou em
outras representações de âmbito nacional, como missões de interesse público e,
assim, objeto de apoio e garantia especial do Estado.
Em 12 de janeiro de 2009, através do Decreto-Lei n.º10/2009, foi
instituído um novo sistema de seguro com cobertura extensível aos especiais
riscos a que estão sujeitos os atletas de alto rendimento.
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Nesse mesmo ano é publicado o Decreto-Lei n.º 272/2009, de 1 de
outubro, com o objetivo de melhorar a operacionalização da regulamentação
então vigente (Decreto-Lei n.º125/95, com a alteração constante do Decreto-Lei
n.º123/96). Este novo normativo considerava a definição de desporto de alto
rendimento estabelecida no diploma anterior como muito permissiva. Entendia,
assim, que os apoios concedidos pelo Estado ao abrigo deste estavam a
favorecer atletas cujos resultados dificilmente mereceriam os referidos benefícios
(Dias, 2013).
Este novo regime divide as modalidades desportivas em as que integram
e as que não integram o Programa Olímpico. Subdivide, ainda, cada uma delas
em modalidades coletivas e individuais (artigo 6.º e artigo 7.º do Decreto-Lei n.º
272/2009).
No atual diploma os atletas de alto rendimento são divididos por três
níveis conforme os resultados obtidos: Nível A, Nível B, Nível C. Com esta
distinção o Estado pretende atribuir melhores apoios aos “praticantes
desportivos que tenham obtido resultados efetivos em competições desportivas
de grande seletividade” (in Diário da República, 1.ª série - N.º 191,1 de outubro
de 2009).
Posteriormente, é publicada a portaria n.º 325/2010, de 16 de junho, para
instituir os critérios gerais de classificação de determinadas competições
desportivas como sendo de alto nível, para efeitos da integração dos respetivos
praticantes no regime de apoio ao alto rendimento.
Os referidos critérios são aferidos pela presença em competição de um
número mínimo de países, equipas ou praticantes desportivos, com determinada
classificação no ranking de cada modalidade (in Diário da República, 1.ª série N.º 115, 16 de Junho de 2010).
3.3
O Processo de Preparação dos Atletas de Alto
Rendimento
"Nenhum vencedor acredita no acaso."
Friedrich Nietzsche
(Filósofo alemão 1844 -1900)
Maia (2010, p.2) refere que a “a excelência dos atletas no desporto é
aceite ser o resultado do grande esforço e treino relevante, o mais próximo
possível das exigências da competição, o desempenho em períodos
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
correspondentes a etapas críticas do desenvolvimento cognitivo e biológico e
nos ambientes propícios ao desenvolvimento do domínio das habilidades”.
Bento (1991, p.11) refere que “para que o deporto de alto rendimento
possa constituir um modelo válido de referência e de inspiração para crianças e
jovens não basta torná-lo tecnicamente mais perfeito. É preciso torná-lo mais
humano!”.
O mesmo autor, em 1991 (p.11), destaca “ que o atleta apenas merece
interesse ao desporto de alto rendimento na qualidade de produtor de
resultados, perdendo todo o interesse quando esta qualidade desaparece.”
Zenha (2010, p.15) defende que o desporto de alto rendimento deverá
ser organizado de uma forma mais pragmática para que “respeite aquilo que tem
de ser a preparação de um atleta de alto rendimento”.
Vasconcelos
(2003,
p.8)
afirma
“não
haver
dúvidas
quanto
à
incompatibilidade entre a entrega ao desporto a um nível de alta competição e a
formação universitária”. Menciona, ainda, que “ para se fazer desporto ao mais
alto nível, o atleta deve deixar tudo para trás”.
“A dedicação exclusiva e a tempo inteiro, atrás referenciada, constitui
condição e exigência feita atualmente a atletas que praticam desporto de alto
rendimento, e obriga, as instituições desportivas, clubes e federações, a
encontrar soluções adequadas à satisfação plena daquelas necessidades”
(Zenha 2010, p.17).
O mesmo autor (2010) refere que, atualmente, um atleta para se tornar
num atleta de alto rendimento tem de fazer parte dum processo de treino e de
competição que são incompatíveis com as atividades profissionais e sociais de
um cidadão comum. Na realidade, para se ser atleta de alto rendimento é
necessário assumir uma dedicação exclusiva e um regime de vida só entendível
dentro de um universo próprio do desporto de alta competição.
As exigências impostas aos atletas de alta competição levam a que estes
participem num processo de preparação que lhes possibilite superar, com a
máxima segurança possível, todos os constrangimentos criados pelas
instituições desportivas que têm a seu cargo a organização e a definição dos
critérios de participação em eventos desportivos de alto nível (Zenha, 2010).
Os referidos constrangimentos “refletem-se, de uma forma global ou
cumulativa, naquilo que se podia denominar como a ordenação da vida pessoal,
familiar, escolar, profissional e social” (Lima, 2002, p. 11).
Este mesmo autor (2002) refere-se à preparação de um atleta de alta
competição como um processo onde existe um controlo rigoroso de todos
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
parâmetros que o influenciam. Afirma, ainda, que a este nível os atletas têm um
regime de vida tão exigente que leva a que seja imprescindível defendê-los de
todo o tipo de “agressões” para lhes proporcionar o ambiente, de estabilidade e
confiança, necessário à obtenção de um rendimento de excelência.
O referido autor (2002, p.12) expressa que para se poder ser atleta de
alto rendimento é necessário “ consagrar os anos de juventude, com total
disponibilidade e assunção dos mais diversos sacrifícios, às atividades do treino
e da participação competitiva, em detrimento da vida académica ou da vida
profissional, suportando importantes hiatos na vida social e na luta pela
subsistência económica, assim como na sua vida familiar”
Em continuação, Lima (2002, p.14) defende que o êxito dessa
preparação depende do rigor da elaboração de um “plano a longo prazo,
concebido por especialistas, de dificuldades evolutivas, dinâmico e flexível”.
Refere que quanto mais exigente e rigoroso for o plano e a sua execução, mais
elevado é o rendimento dos atletas e, consequentemente, maiores são as
probabilidades de sucesso nas respetivas competições.
Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín (2004) defendem que a
realização de um trabalho sistemático e metódico nos escalões de formação
permite, no futuro, uma melhoria significativa do desporto de competição, ao
nível do número e da qualidade dos seus praticantes.
Referem, ainda, que o desenvolvimento do carácter, da liderança, do
desportivismo, não acontece somente com a participação em atividades
desportivas de alta exigência e rendimento. Essas qualidades são, geralmente,
fruto de um trabalho realizado por técnicos competentes, capazes de elaborar
programas
que
proporcionem
aos
jovens
experiencias
positivas
de
aprendizagem.
A competição desportiva é exigente com todos os seus atores, incluindo
os mais jovens. Um programa de trabalho ao nível psicológico, sério e rigoroso,
melhoraria as condições de treino e a qualidade de vida do atleta, assim como o
seu rendimento académico e desportivo (Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito &
Martín, 2004).
Para termos atletas de alto rendimento é indispensável que todos os
agentes que estão associados à sua preparação sejam também de elevado
valor. Este é um tema estratégico, a que todos países têm dedicado uma
especial atenção, atribuindo-lhe um papel de relevo no seu plano de
desenvolvimento desportivo (Zenha, 2010).
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Para transformar um atleta num atleta de alta competição, é necessário
que o treinador seja competente e tenha conhecimentos específicos da
modalidade, que seja ele um especialista capaz de promover a melhoria das
capacidades do atleta. Um treinador que ao assumir um compromisso, se
dedique sem reservas à sua profissão, na procura do sucesso, de resultados
desportivos, criando nos atletas hábitos de superação conducentes à excelência
(Baker, & Côté, 2003; Maia, 2010).
“Os excelentes profissionais do desporto devem ainda possuir um prazer,
uma alegria e uma paixão que os ajudem na perseguição do seu sonho de
excelência, respeitando sempre princípios éticos e morais. A disponibilidade e
capacidade
para
continuadamente
aperfeiçoar
os
seus
desempenhos,
perseguindo a perfeição, poderão conduzi-los à excelência, partindo do
pressuposto que as coisas excelentes são raras mas existem, por isso
pensamos nunca ser de mais a sua procura” (Maia, 2010, p.18)
Baker & Côté (2003) referem, ainda, a existência de fatores ambientais e
motivacionais que também concorrem para a consecução de um desempenho
de excelência. Sublinham ainda a influência dos pais e o papel do treinador.
Temos como certo que é impossível um atleta atingir o alto rendimento
“se não o desejar, se não existir motivação que o motive a mobilizar as suas
energias numa só direção, alcançar o topo na sua modalidade desportiva” (Ruiz
et al., 2006, p.136).
Também Helsen et al. (1998 cit. por Smith, 2003) reforçam a importância
da motivação na formação de um atleta de alto rendimento. Referindo que o
mais difícil é conseguir que os atletas apresentem sempre um nível elevado de
motivação e que se mantenham no ativo o tempo necessário para se tornarem
atletas de excelência.
De acordo com Bompa & Haff (2009) para os atletas poderem atingir o
mais alto nível têm que treinar afincadamente durante um longo período de
tempo. Tendo o treino um papel fundamental no desenvolvimento e otimização
das suas competências.
É através da repetição com correção dos exercícios que os atletas são
capazes de automatizar a execução de “uma habilidade motora e a desenvolver
funções estruturais e metabólicas que os levam ao aumento do desempenho, da
performance física” (Smith, 2003, p.1104).
Bompa & Haff (2009) referem, ainda, a influência da capacidade de
adaptação de um atleta às cargas de treino como um fator determinante no seu
desenvolvimento. Assim, quanto maior for o grau de adaptação ao processo de
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
treino e ao stress competitivo, maior será o seu potencial para atingir a
excelência da prática desportiva.
Ericsson, Krampe, & Tesch-Römer (1993) falam de prática deliberada
como uma prática intencional, altamente estruturada, realizada com o objetivo de
melhorar o desempenho desportivo.
Em consonância, Sampaio, & Lorenzo (2005, p.64) aportam que, “a
prática deliberada aparece definida pelo número de horas dedicadas à prática, é
realizada com o objetivo de melhorar o nível de rendimento e implica que as
tarefas sejam bem definidas e estimulantes, que exista feedback para o atleta e
que lhe sejam dadas as oportunidades necessárias para repetir e corrigir os
erros”.
Neste sentido, Ericsson et al. (1993) referiram como prática deliberada
aquela que: exige esforço e atenção; é intrínseca mas não obrigatoriamente
agradável; promove a melhoria do desempenho; proporciona a emissão
frequente de feedbacks; é orientada por um técnico especializado; e é
direcionada para o rendimento. Assim, os referidos autores defendem que a
quantidade de horas de treino, por si só, não é suficiente para que o atleta
melhore, a qualidade do treino também é determinante na evolução da sua
performance.
Ward, Hodges, Starkes & Williams (2007) também defendem uma relação
direta entre o número de horas de prática deliberada e o nível de desempenho
atingido por um atleta.
Baker & Côté (2003) sublinham a importância do atleta ter acesso a
recursos essenciais para poder atingir o alto rendimento, aludindo que um atleta,
para atingir resultados de excelência, necessita ter os mesmos recursos que os
outros de igual potencial. Enfocam, ainda, a necessidade dos atletas estarem
dispostos a realizar, com um elevado grau de empenho e compromisso, um
grande número de horas de treino durante o seu processo de formação, para
poderem aspirar a um nível de excelência do seu rendimento.
Simon & Chase (1973 cit. por Baker & Côté, 2003) foram os primeiros
autores a referenciar o tempo que um atleta necessita para chegar a um nível de
elite. Realizaram um estudo que ficou conhecido pela “regra dos dez anos”.
Segundo as suas conclusões, seriam precisos dez anos de tempo absoluto de
prática, para um atleta atingir a excelência num determinado domínio.
Ericsson et al. (1993) a partir de um estudo com especialistas de
diferentes áreas defenderam que para se atingir um nível de elite se deve
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
praticar com regularidade durante (mínimo) 10 anos e treinar, com qualidade,
cerca de dez mil horas.
Baker & Côté (2003, p.2) criticam estes longos períodos de treino
intensivo afirmando que “uma prática prolongada produz um aumento monótono
do desempenho”.
Baker (2003) considera que com o aumento do tempo de prática o atleta
melhora os seus resultados, mas, em simultâneo, torna mais difícil a obtenção
de melhorias (futuras) do seu desempenho.
Davids e Baker (2007, p.6) reforçam esta ideia ao afirmar que, nas fases
iniciais de contato com uma modalidade, o desenvolvimento acontece de uma
forma notória, porque há muito para melhorar/aprender. “No entanto, com os
avanços no desempenho, as melhorias tornam-se cada vez mais difíceis de
alcançar, até um ponto onde o treino terá de ser focado nas áreas específicas de
fraqueza, tornando-se o único meio de avanço. Neste ponto, a prática torna-se a
forma mais eficaz de formação”.
Ericsson (2006) analisou o desenvolvimento da performance em função
da idade e dos anos de experiência dos indivíduos. Concluiu que num estádio
inicial o desenvolvimento ocorre rapidamente; que todos os indivíduos melhoram
de forma gradual até atingirem a maturação física; e atingem o nível mais alto de
performance já na idade adulta, aproximadamente aos vinte e cinco anos de
idade.
Bloom (1985), num estudo realizado para perceber como é que atletas de
diferentes modalidades tinham atingido a excelência, descobriu que havia uma
norma comum de desenvolvimento de competências. Identificou três fases de
desenvolvimento a que chamou: iniciação, especialização e aperfeiçoamento.
A “iniciação” da carreira desportiva definiu-a como uma fase de
experimentação, em que a criança pratica desporto por lazer e sem
compromisso. Os pais são muito presentes e partilham o entusiasmo dos filhos.
Os treinadores orientam a sua atuação mais para o ensino da modalidade. Este
período decorre entre os cinco e os doze anos de idade.
O segundo período, a “especialização”, inicia-se aos doze anos e
compreende a adolescência. É nesta fase que ocorre o grande desenvolvimento
do atleta. Este dedica-se a uma só modalidade, procurando melhorar o seu
desempenho. Os treinadores primam por uma atitude mais exigente e os pais
regulam a sua vida de acordo com os filhos.
Na fase de “aperfeiçoamento”, que se inicia a partir dos vinte anos, existe
um total comprometimento do atleta à modalidade. Este pode treinar em média
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
vinte e cinco horas semanais e, algumas vezes, optar pelo profissionalismo.
Nesta fase, os pais já estão totalmente envolvidos no projeto desportivo dos
filhos. A relação treinador-atleta procura o rendimento desportivo.
Também Côté (1999, p.401), num trabalho realizado com atletas de elite
e respetivas famílias, definiu três estádios de participação desportiva, “anos de
amostragem (dos seis aos treze anos), anos de especialização (dos treze aos
quinze anos), e anos de investimento (depois dos quinze anos) ”. Todos os
momentos caraterizados por vários níveis de exigência, que levam a alterações
de comportamento nos jovens e nos pais.
Depois de uma análise exaustiva ao processo de formação de um atleta
de alta competição ressaltam valores intrínsecos ao individuo: a herança
genética, a motivação, o compromisso, a capacidade de superação e de
adaptação às exigências do treino e competição; e fatores exteriores ao
praticante que também concorrem para a o seu rendimento: a influência dos
recursos, dos pais, da qualidade do treino e dos agentes envolvidos, horários
escolares, a competição, etc. Fica, no entanto, evidente a dificuldade em se
atingir a elite, em se conseguir performances de excelência, levando-nos a
corroborar que “ Nenhum vencedor acredita no acaso”.
3.4
Medidas de Apoio à Pratica Desportiva de Alto
Rendimento
“As exigências a que os atletas de alta competição são submetidos, quer
ao nível do processo de treino, quer ao nível das prestações desportivas, criamlhes diversas dificuldades sendo, por vezes, muito difícil conciliar as atividades
educativas e a prática desportiva” (Zenha et al., 2009, p.1).
Perante esta afirmação percebemos a necessidade da criação de
medidas que apoiem a difícil compatibilização entre a prática desportiva de alto
rendimento e a vida académica. Perspetivamos que a aplicação das referidas
medidas proporcione aos atletas a oportunidade de obtenção de sucesso escolar
em paralelo com o sucesso desportivo. Que estas atuem, de uma forma clara,
favorecendo uma articulação saudável entre duas atividades exigentes.
Neste sentido, é importante a análise dos normativos que enquadram os
apoios existentes aos atletas de alto rendimento.
Percorrendo o Decreto-lei n.º 272/2009, descobrimos vários artigos com
apoios específicos para atletas que pretendem conciliar a sua prática desportiva
de alto rendimento com a sua formação escolar:
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
– permissão para se matricularem num estabelecimento de ensino fora
da sua área de residência - Artigo nº 14;
– possibilidade de escolha de horário escolar e regime de frequência que
melhor se adapte à sua preparação desportiva. Possibilidade, ainda, de ser
admitido à frequência de aulas em turmas diferentes, bem como ao
aproveitamento escolar por disciplinas - Artigo nº 15;
– possibilidade de justificação de faltas durante o período de preparação
e participação em competições desportivas mediante declaração emitida pelo
IPDJ - Artigo nº 16;
– o aluno pode solicitar a alteração da data das provas de avaliação, bem
como beneficiar de épocas especiais de avaliação, para tal deve ser
apresentada uma declaração comprovativa da sua participação desportiva,
emitida pelo IPDJ - Artigo nº 17;
– o aluno pode requerer a transferência de estabelecimento de ensino ou
frequentar aulas noutro estabelecimento de ensino, quando o exercício da sua
atividade desportiva o justificar, sendo necessário declaração emitida pelo IPDJ Artigo nº 18;
– nos estabelecimentos de ensino frequentados por praticantes
desportivos de alto rendimento devem ser designados docentes responsáveis
pelo acompanhamento do seu percurso escolar. Nomeadamente, acompanhar a
evolução do seu aproveitamento, detetar dificuldades e propor medidas para a
sua resolução, incluindo, quando necessário, aulas de compensação - Artigos nº
19 e nº 20;
– no final do ano letivo, o professor acompanhante deverá elaborar um
relatório do aproveitamento escolar do aluno. Este relatório deverá ser enviado
ao IPDJ, o qual decidirá se o aluno poderá continuar a beneficiar dos referidos
apoios - Artigo nº 21;
– por despacho governamental, poderão ser concedidos bolsas
académicas aos praticantes desportivos de alto rendimento que pretendam
frequentar, no país ou no estrangeiro, estabelecimentos de ensino que
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
desenvolvam modelos de compatibilização entre o respetivo plano de estudos e
o regime de treinos destes atletas - Artigo nº 22;
– os praticantes desportivos de alto rendimento beneficiam de regime
especial de acesso ao ensino superior, podendo ainda requerer a matrícula e
inscrição em par estabelecimento/curso de ensino superior para que tenham
realizado as provas de ingresso respetivas e tenham obtido as classificações
mínimas fixadas pelo estabelecimento de ensino superior para as provas de
ingresso e para a nota de candidatura no âmbito do regime geral de acesso Artigo nº 27;
– as federações desportivas devem proporcionar os apoios materiais
necessários à preparação dos seus atletas de alto rendimento - Artigo nº 30;
– garantia de especiais condições de utilização de infraestruturas
desportivas no âmbito da sua preparação, designadamente, a utilização
prioritária dos centros de alto rendimento - Artigo nº 31;
– atribuição de prémios em reconhecimento do valor e mérito pela
obtenção de resultados desportivos de excelência - Artigo nº 32;
– assistência médica especializada prestada através dos serviços de
medicina desportiva - Artigo nº 33;
– os praticantes de alto rendimento estão abrangidos por um seguro
especial, nos termos do Decreto-Lei n.º 10/2009, de 12 de janeiro - Artigo nº 34;
– os praticantes desportivos de alto rendimento podem, num prazo de
três anos após o termo da sua carreira desportiva, beneficiar do regime especial
de acesso ao ensino superior mencionado no nº 1 do Artigo 27º - Artigo nº 43.
Analisando o enquadramento legal existente percebemos o objetivo
claro de ver estabelecidas, para os atletas de alto rendimento, medidas de apoio
e complementos educativos que visem contribuir para a igualdade de
oportunidades de acesso e sucesso escolar. Falta, no entanto, estabelecer um
conjunto de boas práticas, de sinergias entre as diferentes instituições, de modo
a melhor operacionalizar todas as medidas de apoio já regulamentadas.
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ALTO RENDIMENTO E SUCESSO ESCOLAR
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
4
4.1
Alto Rendimento e Sucesso Escolar
Articulação entre Alto Rendimento e Sucesso
Escolar
Sabendo a exigência e o rigor que envolve o longo processo de formação
de um atleta de alto rendimento, importa, agora, perceber o que envolve o
sucesso na escola. O que é que contribui para um aluno ser bem-sucedido na
sua vida escolar.
Segundo Leal (2007, p.18) “o sucesso escolar pode remeter-nos para
ideias
bastante
diferentes,
confundindo-se
mesmo,
por
vezes,
o
sucesso/insucesso escolar com o sucesso/insucesso educativo”.
Sobre este tema, Martins (2007, p.12) releva que ao falarmos “de
sucesso/insucesso, não devemos desprezar a correlação entre escolar e
educativo, uma vez que, para além de ensinar conhecimentos, a escola deve
assumir o papel de educar”.
Assim, devemos entender que a escola tem um papel mais abrangente
na formação do indivíduo, funcionando como um centro socioeducativo. Para
além de instruir deve também socializar os alunos, fazê-los crescer em
conhecimentos técnicos e valores (Dias, 2013).
A mesma autora (2013, p.54) defende que o “conceito sucesso escolar é
assim classificado de acordo com a capacidade do aluno em atingir os objetivos
definidos pela escola. Este conceito assume uma conotação positiva e é utilizado
sempre que se pretende valorizar o desempenho ou a aquisição correta de
conhecimentos”.
Perrenoud (2003, p.10) explica que o sucesso escolar dos alunos pode
ser avaliado pelo seu desempenho: “obtêm êxito, aqueles que satisfazem as
normas de excelência escolar e progridem nos cursos”. Afirma ainda que o
“sucesso escolar acaba designando o sucesso de um estabelecimento ou de um
sistema escolar no seu conjunto, sendo considerados bem-sucedidos os
estabelecimentos ou os sistemas que atingem seus objetivos ou que os atingem
melhor que os outros”.
O sucesso escolar é então definido por Estrela (2007, p.16) como
“rendimento ou aproveitamento dos alunos, e ainda como eficácia e eficiência do
sistema, como qualidade e, numa fuga em frente, como excelência”.
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
O sucesso educativo ultrapassa em dimensão o sucesso escolar. O
sucesso educativo representa para o indivíduo a aquisição de autonomia, ser
capaz de fazer as suas escolhas, formular juízos, tomar decisões, ter as suas
próprias opções (Delors et al. 1996).
Castro (2012) refere-se ao sucesso educativo como a capacidade do
aluno compreender o que se passa à sua volta, de aprender a fazer para poder
agir e intervir no seu envolvimento, de aprender a viver com os outros a fim de
poder participar da vida em comum e assim tirar proveito da sua riqueza pessoal.
Reforça, assim, a importância deste ir desenvolvendo atitudes de reflexão e de
autoconhecimento, do aprender a ser em sociedade, que o leva a ser autónomo
e empreendedor.
González-Pienda (2003) indica que são muitas as variáveis que afetam a
aprendizagem e o rendimento escolar. Que não o podemos analisar unicamente
segundo a sua dimensão cognitiva. Dá um exemplo (2003, p.250) ao referir que
a “inteligência é uma potencialidade que poderá levar ou não ao rendimento
escolar”.
Neste contexto, Peixoto (2008, p.194) atesta que “é hoje adquirido que a
inteligência tem um papel decisivo no rendimento escolar, mas é também aceite
que as características da personalidade e os aspetos afetivo-emocionais são
relevantes para o sucesso escolar e também pessoal dos sujeitos”.
González-Pienda acrescenta que o rendimento escolar é influenciado por
um conjunto de variáveis que atribuem o sucesso ou insucesso. Revela que
essas condicionantes são estabelecidas por “um conjunto de fatores limitados
operacionalmente como variáveis que se podem agrupar em dois níveis: as de
tipo pessoal e contextual (sócio ambientais, institucionais e instrucionais) ” (2003,
p.247).
Neste sentido, Peixoto (1999) assevera que o rendimento escolar assume
uma vertente pessoal e uma vertente social. Este duplo sentido transporta-nos
numa primeira fase para as aptidões, competências e características individuais
do aluno. A envolvência social abrange a influência da sociedade, dado que a
avaliação do aluno é realizada tendo em conta os níveis mínimos de
aprendizagem determinados para cada nível de ensino.
Dias (2013, p.55) releva que “o insucesso escolar é usualmente atribuído
ao facto de os alunos não atingirem os objetivos determinados pela escola ou
pelo professor, dentro dos limites temporais estabelecidos adquirindo por si uma
conotação negativa e traduzindo-se na prática pelas taxas de reprovação,
repetências e abandono escolar”.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Podemos, assim, inferir que “a incapacidade que o aluno revela de atingir
os objetivos globais definidos para cada ciclo de estudos” é indicadora de
insucesso escolar (Eurydice, 1995 cit. por Silva 2001, p.20).
No entanto, o que pretendemos aquilatar é qual a relação existente entre
rendimento escolar e o rendimento desportivo. Numa relação dialética que tipos
de influência estabelecem entre si. Quais os aspetos positivos e negativos que
podemos retirar duma vivência em simultâneo de duas atividades tão exigentes.
Dias (2013,p.56) alude que “o sucesso desportivo e sucesso escolar
possuem um carácter ambivalente, que marca presença na maioria das vezes,
ao longo do trajeto desportivo dos atletas de alta competição, pois a prática da
modalidade inicia-se em idades jovens e abrange a idade escolar.”
Como afirmou Lipscomb (2007) a atividade desportiva tem um papel de
relevo, principalmente quando falamos em alunos do ensino secundário. Fez
referência ao facto de, nesta fase, ser muito comum a participação destes em
atividades extracurriculares, particularmente em atividades desportivas.
Estudar a relação presente entre a atividade desportiva regular e o
rendimento escolar de jovens, “coloca em jogo duas variáveis relevantes nesta
etapa da vida: o desporto, pelos benefícios e interesse que suscita e o
rendimento académico que parece concretizar o sucesso escolar destes jovens,
cujo projeto de vida assenta sobretudo na sua formação académica” (Costa,
2007, p.3).
De acordo com Zenha et al. (2009, p.2) “os estudos e o desporto
complementam-se e potenciam-se reciprocamente na formação do indivíduo”.
Costa (2007, p.27) chama a atenção para um fator que influi no equilíbrio
da convivência entre as duas variáveis, ao sublinhar que “não é o facto de os
alunos praticarem ou não desporto que afeta o seu desempenho escolar, mas o
de dedicarem a essa prática mais tempo do que o que seria desejável”.
Neste sentido importa entender como é que o aluno praticante de
desporto de alto rendimento vive com as exigências do atleta. Como é que o
atleta, do ensino secundário ou superior, lida com a exigência escolar após uma
competição no fim de semana. Com que rendimento consegue estar nas aulas
um aluno/atleta, quando treina diária e afincadamente.
Neste contexto, Pérez & Aguilar (2012, p.203) afirmam que “ao esforço
que implica a realização de todas as atividades inerentes à prática desportiva, os
estudantes desportistas têm que juntar as que derivam do seu processo
formativo. Uma situação semelhante vive-se, também, no seu inverso, uma vez
que os estudantes, para além de terem que cumprir com o seu processo de
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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aprendizagem, têm que dedicar uma parte importante do seu tempo à atividade
desportiva, o que compromete as possibilidades de obterem um rendimento
académico excelente.”
Como apontaram Zenha et al. (2009, p.2) o dia-a-dia dum atleta de alto
rendimento “nem sempre é compatível com as atividades educativas e sociais
próprias do cidadão comum”. As exigências vão aumentando, principalmente o
número de horas de treino, implicando uma redução no tempo livre.
Assim, de acordo com Costa (2007, p.29) para ser possível um bom
desempenho escolar é necessário que “os alunos não comprometam algum do
tempo que lhes poderá ser útil para estudar, por se dedicarem excessivamente a
atividades de carácter desportivo” e “que os diferentes agentes educativos
reúnam esforços no sentido de ajudar os alunos a melhor gerirem e organizarem
o seu tempo, de modo a não comprometerem a concretização do seu sucesso
escolar”.
É conhecido que os atletas que obtêm o estatuto de alto rendimento têm
direito, por lei, a algumas medidas de apoio. Contudo, urge encontrar forma de
as operacionalizar, de criar sinergias eficazes no “terreno”, para que estas
possam ser, verdadeiramente, efetivas na sua ação.
De acordo com Zenha et al. (2009, p.2) a “possibilidade de obtenção de
um estatuto desportivo de alto nível não resolve as dificuldades inerentes a esta
vida-dupla de desportista e, na maior parte dos casos, de estudante”. Neste
ponto os professores têm um papel crucial. Quando as instituições tornam
complexo o usufruto dos referidos apoios, deve o professor estar disponível
para, em conjunto com o aluno, encontrar as melhores soluções de ajuda.
No entanto, é indubitável que este empenho do professor, por si só, não é
suficiente. O atleta tem que valorizar uma boa organização e assim poder
rentabilizar o seu tempo. Como concluíram Zenha et al. (2009, p.8), para os
atletas conseguirem um bom rendimento escolar precisam ter a capacidade de
gerir bem o tempo, bem como “possuir qualidades de organização pessoal acima
da média dos jovens da mesma idade”. Só assim será possível compatibilizar os
estudos com a alta competição e, ainda, desfrutar de algum tempo livre para
atividades de lazer e para a família.
Todas as contingências enunciadas tomam uma dimensão de exigência
mais elevada quando os alunos/atletas se encontram a frequentar o ensino
superior.
Vasconcelos (2003, p.9) sobre este assunto refere que “continuamos a
assistir a abandonos precoces, precisamente nos períodos críticos de uma
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
carreira desportiva, ou seja, no início da fase da obtenção dos grandes
resultados de expressão internacional, que acabam por coincidir com a transição
para o ensino superior, com os prejuízos de vária ordem daí decorrentes.”
É evidente a necessidade de se ter em conta a realidade pessoal destes
estudantes, introduzindo medidas de apoio, orientando o sistema de ensino para
o desenvolvimento, em paralelo, da atividade desportiva de alto rendimento e a
formação académica.
“Sem uma ajuda adequada para gerir a alternância desta dupla atividade,
muitos destes estudantes podem ver-se condenados a situações de stress,
fracasso ou abandono dos estudos ou do desporto” (Pérez & Aguilar, 2012,
p.201).
Neste contexto, também importa referir a importância do desporto na
formação integral do individuo. Na atualidade o acesso ao mercado de trabalho
pressupõe grande concorrência. É um processo que submete os candidatos a
um emprego, a critérios de seleção exigentes, onde, para além de competências
específicas num determinado ramo de conhecimento, também são valorizadas
competências de âmbito mais global, que lhes aportem agilidade para se
moverem neste intrincado mundo socio laboral (Villa & Bezanilla, 2002).
No ensino superior podemos encontrar um crescente número de
estudantes que, para além de se formarem para no futuro serem bons
profissionais, praticam desporto. Esta atividade contribui para a sua formação e
para o seu desenvolvimento integral. Uma prática desportiva regular e exigente,
oferece aos jovens oportunidades para desenvolverem habilidades sociais,
adquirirem responsabilidade no cumprimento de prazos e compromisso no
cumprimento de objetivos, etc. Estas competências têm especial importância no
desporto que praticam, e em todos os outros planos da sua vida pessoal e social
(Rychen & Sal- ganik, 2001; Poblete y García, 2007; Rodríguez, 2007, cit. por
Pérez & Aguilar, 2012).
É de destacar, no que concerne à escolha da área de estudos a realizar
na universidade, a falta de conexão existente entre o desporto que praticam e o
curso em que ingressaram, o que demonstra que para os estudantes
desportistas de alto nível são dois processos que, embora se desenvolvam de
forma paralela, são independentes (Pérez & Aguilar, 2012).
Quando falamos de prática de desporto de alto rendimento colocamos a
relação num nível muito mais difícil de se obter um equilíbrio saudável.
Pérez & Aguilar (2012, p.202) referem que “compatibilizar estas duas
atividades, contudo, não é uma tarefa fácil devido ao alto grau de exigência que
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para estes estudantes implica competir ao mais alto nível e, ainda, cumprir com
as exigências do ensino universitário”.
Valle corrobora esta opinião ao afirmar (2003, p.67) “ ainda que se
satisfaçam com a prática desportiva, ficam evidentes os efeitos que provoca,
nem sempre sentidos como benéficos. As maiores queixas são em relação ao
prejuízo dos estudos e, posteriormente, à capacitação profissional.”
Efetivamente, para os estudantes/atletas de alto nível, as altas exigências
que implica a prática desportiva tornam difícil a compatibilidade com a formação
académica, tendo em conta os requisitos impostos pelo novo modelo de
aprendizagem e com as novas diretrizes na avaliação das aprendizagens
(Sánchez & Zubillaga, 2005).
Ruiz et al. (2008) afirmam que existe uma correlação negativa entre os
estudos e o rendimento desportivo, dado que o processo formativo dificulta de
forma significativa a prática desportiva.
Por este motivo, muitos jovens com excelentes condições para a prática
desportiva e que consideram importante a formação académica para o seu futuro
profissional, optaram por emigrar para países como os Estados Unidos para
poderem harmonizar estudos e desporto, e assim, continuarem a sua formação
enquanto treinam e competem ao mais alto nível (Pérez & Aguilar, 2012).
Neste contexto Marques (1999, p.153) refere que “ os programas
desportivos de alguns países têm vindo a desenvolver modelos de organização
pedagógica baseados em parcerias com escolas, sendo que escolas, clubes e
federações assumem compromissos bem definidos nesses programas”.
Há atletas que só vivem para o desporto. A sua identidade é
unidimensional e não fazem mais nada para além do desporto. Não preparam o
fim da sua carreira de desportista, nem a sua futura inserção no mundo laboral.
Para estas pessoas, o ato de deixar o alto rendimento pode compreender
sentimentos de depressão e uma grande variedade de dificuldades de
adaptação social e emocional, perante um futuro que está cheio de dúvidas e
incertezas (Baillie y Danish, 1992; Brewer, Van Raalte, & Linder 1993; González
y Bedoya, 2008, cit. por Vilanova & Puig, 2013).
Castells (2001) refere que presentemente há uma grande quantidade de
atletas que dedicam a sua vida à prática desportiva. São profissionais do
desporto, vivem de seu rendimento físico, êxito e resultados. Contudo, chega o
dia em que já não conseguem viver do desporto. A sua profissão de desportista
finaliza e têm que encontrar uma nova profissão. Esta nova atividade, pela
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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complexidade do mercado de trabalho, não chegará de um dia para o outro, mas
requererá uma preparação prévia.
Pérez & Aguilar (2012) relevam que a vida de desportista de alto
rendimento é curta e são poucos os que, depois de se retirarem de competição,
conseguem manter atividades profissionais ligadas ao desporto. Daí a
importância de ajudar os estudantes desportistas de alto nível a definir, de forma
progressiva e contínua, um projeto de vida onde seja possível compatibilizar a
atividade desportiva e a formação académica. O desenvolvimento desse plano
permitiria que, no fim da prática desportiva ativa, cada um pudesse progredir no
campo profissional para o qual se tivesse preparado.
Watts & Moore (2001) defendem que o estar envolvido na prática
desportiva pode abrir portas conducentes a experiências muito para além do
mundo do desporto. O desporto enquanto fenómeno de massas leva à interação
com muitas pessoas e instituições, que posteriormente podem vir a tornar-se
muito importante em projetos profissionais futuros.
Outros autores assumem a importância do desenvolvimento de
programas de assessoria académica e vocacional, defendendo que estes
constituem um instrumento vital no apoio e orientação dos desportistas de alto
rendimento nas suas transições (Pallarés, et al. 2011; Vilanova, 2009).
Neste âmbito é referida a “tutoria universitária” como uma das medidas
académicas a implementar na tentativa de superar as principais dificuldades
diagnosticadas na articulação do desporto de alta competição com a formação
escolar (Álvarez, 2002; Álvarez & Lázaro, 2002).
A tutoria universitária apresenta-se como um espaço intimamente ligado
ao ensino e tem objetivos bem definidos na sua relação personalizada com os
estudantes: procura facilitar-lhes a adaptação e integração ao sistema de ensino;
ajuda-os no aproveitamento académico e desenvolvimento pessoal; e prepara a
sua transição para a sociedade e mercado de trabalho (Gros & Romaná, 2004;
Rodríguez, 2004).
García, Asensio, Carballo, García, & Guardia (2005, p.191) definem o
papel do tutor quando afirmam que “ o professor, em convergência com as suas
funções docentes, promove um conjunto de atividades orientadoras e formativas,
para que o estudante obtenha o máximo desenvolvimento a nível cognitivo,
pessoal, académico e profissional”.
Vilanova & Puig (2013, p.65) afirmam “que a compaginação da carreira
desportiva com a carreira académica é uma questão de estratégia. Se se
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desenvolve uma estratégia, é possível compaginar os estudos com o desporto;
se não é assim, isto não é possível.”
Pérez & Aguilar (2012) dizem ser inquestionável o valor que os
estudantes desportistas reconhecem à prática desportiva, pelo papel que
desempenha no seu desenvolvimento integral e na sua promoção como atletas
de alto rendimento. Ao mesmo tempo, referem que os mesmos estudantes
identificam a formação superior como um requisito indispensável e decisivo na
determinação do seu futuro profissional.
Vilanova & Puig (2013, p.65) dividem os alunos praticantes de desporto
de alto rendimento em dois tipos:
- “Desportistas que têm consciência do futuro, que estabelecem objetivos
(alcançáveis e coerentes) a longo prazo para compatibilizar estudos e desporto e
realizam ações para os poder concretizar, graças, principalmente, à influência
familiar;
- E os que não; a diferença fundamental é que estes não têm consciência
da necessidade de preparar o seu futuro profissional. Como eles próprios
descrevem vivem numa “borbulha”, não planeiam objetivos académicos nem tãopouco recebem influências positivas dos agentes socializadores”.
Assim, Pérez & Aguilar (2012, p.211) afirmam que “a melhoria dos
processos de formação e da prática desportiva destes estudantes requer
mudanças que se enraízem progressivamente e que sejam assumidas por
todos”. Defendem que estas alterações devem começar “pela instituição
universitária, que tem agir de forma determinada a favor da igualdade de
oportunidades,
aprovando
normativas
e
ações
específicas
para
estes
estudantes”. Passando depois para “os orientadores, professores e tutores, que
devem facilitar o acesso à informação, adaptar o ensino à realidade de cada
aluno e disponibilizar os recursos necessários para compensar as dificuldades
que decorrem desta vida dupla.” Acrescentam ainda que “ a desatenção perante
estas situações pode influenciar a consecução dos objetivos pessoais dos
alunos e conduzir a situações de fracasso ou abandono dos estudos ou do
desporto”.
Como conclusão parece-nos importante relevar o papel do aluno/atleta
em todo o seu processo de formação. A análise de diferentes autores aponta
para o longo caminho a percorrer até serem criadas as condições conducentes a
uma articulação saudável e equilibrada da formação académica com o desporto
de alto rendimento. No entanto, acreditamos que a “estratégia” que o sujeito
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criar, terá sempre que ser o vetor do sucesso das duas vertentes, quando vividas
em simultâneo.
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INVESTIGAÇÕES DESENVOLVIDAS NESTA TEMÁTICA
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Investigações Desenvolvidas nesta Temática
Percorrendo os estudos que se têm realizado no âmbito da relação
existente entre a formação académica e a atividade desportiva constatamos um
aumento do número de trabalhos de investigação sobre este tema, o que é
demonstrativo da vontade de melhor entender a simbiose existente entre estas
duas atividades. Também é revelador deste interesse as várias perspetivas de
abordagem que cada um dos trabalhos apresenta, sempre com o intuito de
entender a complexidade desta vivência em comum. Para além dos diferentes
contributos que muito aportam para a compreensão do que é exigido ao
aluno/atleta na consecução do seu projeto de vida, também são apontados
caminhos a percorrer para agilizar este processo de formação com o objetivo de
promover a obtenção do sucesso (possível) tanto na escola como no desporto.
Elencamos, a seguir, alguns estudos nacionais e internacionais
desenvolvidos dentro desta temática.
Viacelli, em 2002, realizou um estudo com alunos-atletas e não-atletas,
para verificar a influência da prática desportiva no rendimento escolar,
concluindo que: “os alunos não-atletas tiveram um rendimento escolar pior que
os alunos-atletas”(p.1). A autora asseverou ainda que o rendimento escolar dos
alunos é independente da sua prática desportiva. Porque, como concluiu no seu
estudo, “a prática de atividades físicas não foi capaz de auxiliar e nem de
prejudicar os alunos no que diz respeito ao rendimento escolar”.
Costa, em 2007, efetuou um estudo, no âmbito do ensino secundário,
para avaliar a relação existente entre o rendimento académico e a prática
desportiva, referindo que não é o facto de os alunos praticarem desporto que
afeta o seu desempenho escolar, mas sim o tempo que dedicam à prática
desportiva. De acordo com a autora, “quanto mais tempo os alunos dedicam à
prática de atividades desportivas, pior é o seu rendimento académico,
possivelmente porque sacrificam algum do tempo que poderiam utilizar em prol
de um bom desempenho escolar” (p.27).
Posteriormente, Zenha et al. (2009) realizaram uma investigação com
praticantes de desporto em percurso de alto rendimento ou já detentores do
referido estatuto. Investigaram como é que alunos-atletas de diferentes
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modalidades organizam a sua formação. Avaliaram, ainda, as dificuldades que
sentiam para conciliar as atividades escolares e a prática desportiva. As
principais conclusões revelaram: a importância de uma boa gestão do tempo na
obtenção do sucesso escolar; que os estudos não influenciam negativamente o
rendimento desportivo assim como a prática desportiva não influencia
negativamente o sucesso escolar. Como dificuldades identificaram o pouco
tempo de descanso e a ausência de motivação.
Oliveira et al. (2010) fizeram um estudo denominado “Esportes e escola
na educação de jovens: conciliação ou antagonismo?”. No referido trabalho de
investigação realizaram um questionário a trinta e seis atletas do sexo
masculino, praticantes de um desporto coletivo, com idades compreendidas
entre os quinze e os dezoito anos, alunos do ensino secundário e do ensino
superior. Entrevistaram também três professores.
Apresentaram as seguintes conclusões:
• existem dificuldades em conciliar a prática desportiva com a atividade
escolar;
• como a maioria dos alunos-atletas treina mais de três vezes por
semana, é possível preconizar uma organização onde haja equilíbrio entre o
tempo de treino e o tempo necessário ao estudo;
• é importante o papel da família e do treinador, mas estes não devem
obrigar o aluno-atleta a escolher entre uma das duas atividades;
• as duas atividades conciliadas são importantes na formação integral
do indivíduo. O desporto, quando bem orientado, transforma-se num profícuo
instrumento educativo e os estudos são fundamentais para desenvolver uma
visão do mundo própria do ser humano;
• os atletas querem compatibilizar as duas atividades, apesar de
tenderem para o lado do desporto;
• a conciliação entre atividade desportiva e formação escolar não é
apenas possível, é sim extremamente necessária.
Santos, em 2010, realizou um estudo com doze atletas de alto
rendimento de desportos individuais, com idades entre os quinze e os vinte e
seis anos, que frequentavam o ensino secundário e o ensino superior. Neste
estudo, o referido autor analisou quais as contingências vivenciadas pelos
alunos na conciliação do desporto de alto rendimento com a formação escolar.
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Apurou se usufruíam das medidas de apoio, e que ajudas recebiam os atletas da
família, do clube, da escola/faculdade e da respetiva federação.
Os dados recolhidos indicaram que:
• as principais dificuldades que encontram na conciliação do alto
rendimento e a formação escolar são a fadiga e a falta de tempo;
• avaliam a compatibilização que realizam entre o alto rendimento e a
formação escolar como razoável e exequível;
• consideram o maior constrangimento a impossibilidade de se
dedicarem a outras atividades. Daí pensarem, também, que seriam melhores
alunos se não treinassem e vice-versa;
• nem todos usufruem das medidas de apoio a que têm direito,
principalmente porque ainda não tinham sido necessárias;
•
consideram utópica a existência de um professor acompanhante;
• classificam o apoio prestado pela família como fulcral para obterem
sucesso;
• sentem apoio por parte dos clubes;
• entendem que deveriam ser melhorados os apoios prestados pela
escola/faculdade e pelas federações.
Zenha (2010) desenvolveu uma investigação com doze atletas de alto
rendimento de modalidades coletivas, cujas idades variavam entre os catorze e
os trinta anos. Os referidos atletas frequentavam o ensino secundário e o ensino
superior. O estudo tinha como objetivos avaliar as dificuldades e os apoios a que
os atletas de alto rendimento estão sujeitos no seu quotidiano, assim como a
perceção que os mesmos têm das medidas de apoio que usufruem.
As conclusões apresentadas por Zenha determinam que:
• os objetivos a atingir, tanto a curto como a longo prazo, são
fundamentalmente a nível desportivo;
• a maioria dos alunos não tem hábitos de estudo diários;
• os aspetos negativos que mais se salientam são a falta de tempo livre
tanto para atividades de lazer como para o necessário descanso;
•
a justificação de faltas e a alteração das datas de exames são as
medidas de apoio a que mais recorrem;
• um dos apoios que pretendem ver implementado é a existência de
uma melhor articulação entre a escola e o desporto;
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• consideram que a prática desportiva regular e exigente favorece a sua
formação escolar, porque esta os obriga a uma melhor organização e a um
maior rigor;
• indicam que a atividade desportiva e o desporto se complementam.
Em 2012, Castro realizou um estudo com praticantes de alto rendimento
de uma modalidade coletiva, e com idades entre os quinze e os dezassete anos.
A investigação contou ainda com a participação de quatro elementos do corpo
técnico da respetiva federação. O autor, à semelhança dos trabalhos elencados
anteriormente, procurou identificar as contingências e as medidas de apoio que
influíam no dia-a-dia das atletas, determinar se as atletas tinham conhecimento
das diferentes medidas de apoio existentes na legislação portuguesa, assim
como encontrar as estratégias e medidas que urge aplicar para que seja possível
compatibilizar o alto rendimento e o sucesso escolar. Assim, os principais
resultados revelaram que as atletas:
• apontam o cansaço e a falta de tempo como as maiores dificuldades
que sentem na conciliação da prática de alto rendimento e a formação escolar,
• têm total conhecimento das medidas de apoio em vigor e referem a
justificação de faltas e alteração de datas de exame como as que utilizam mais
frequentemente;
• identificam a família como apoio fundamental ao seu projeto de vida,
apesar de valorizarem o apoio dado pelo clube e federação;
• precisam de mais apoios a nível escolar, dando como exemplo um
menor número de aulas semanal e permitindo, assim, mais tempo livre para
estudar;
•
reclamam a nível desportivo um reforço do estatuto de atleta de alto
rendimento;
• consideram que não seriam melhores alunas se não praticassem
desporto e vice-versa;
• assumem que a atividade desportiva as beneficia na formação escolar,
pois tendem a ser mais organizadas e concentradas;
• avaliam a conciliação do desporto de alto rendimento com a formação
escolar como possível.
As entrevistas feitas aos elementos da equipa técnica da federação,
indicaram que:
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• a principal dificuldade que encontram na compatibilização entre a
formação académica e a prática desportiva é o horário escolar, que por ser
extenso não permite o tempo necessário de treino;
• a presença de uma professora residente no Centro de Alto
Rendimento (CAR) possibilita um acompanhamento permanente das atletas;
• as medidas de apoio que desejavam ver publicadas centram-se numa
melhor articulação entre a vida escolar e a desportiva;
• defendem que as atletas têm melhor aproveitamento escolar por
estarem inseridas num projeto com as caraterísticas do CAR;
• a atividade desportiva de alto rendimento, bem supervisionada, tem
influência positiva na formação escolar, desenvolvendo a organização, a
capacidade de trabalho, a motivação e a gestão do tempo das atletas.
Pérez e Aguilar (2012) realizaram um estudo com alunos universitários
praticantes de desporto de alto rendimento. Os referidos autores procuraram
aferir como se orientava o processo de formação académica desses alunosatletas e identificar as condicionantes que tinham para compaginar o processo
formativo com a atividade desportiva de alto rendimento. Entrevistaram
dezasseis atletas de alta competição matriculados na Universidade de San
Fernando de La Laguna e ainda pediram a colaboração de oito elementos
(especialistas) cuja área de intervenção profissional estava relacionada com a
formação e o desporto, para criar um “grupo de discussão”. Os autores
orientaram a sua investigação de acordo com quatro objetivos específicos: i)
aquilatar a qualidade de informação pré-universitária; ii) identificar os processos
de escolha e de acesso aos estudos universitários e iii) perceber as dificuldades
de adaptação e integração à formação universitária e iv) referenciar as
necessidades dos alunos para compaginar os estudos com o alto rendimento.
Os dados recolhidos evidenciaram que:
• as informações que os alunos receberam durante o ensino secundário
e nas fases que antecederam a sua entrada na universidade foram insuficientes
e não propiciaram as condições necessárias a uma boa adaptação ao ensino
superior;
• os alunos tiveram dúvidas no momento de escolha do curso
universitário, essencialmente devido à referida falta de informação e orientação;
• a eleição da área de estudos que fizeram não esteve relacionada com
o tipo de desporto que praticavam;
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• as principais contingências que sentiram, como atletas de alto nível,
para se adaptarem à vida universitária, foram a falta de tempo para estudar; as
dificuldades para assistir às aulas e para conciliar os exames com as
competições;
• as estratégias de aprendizagem que se revelaram mais eficazes
foram: estudar dia-a-dia; assistir de forma ativa às aulas; planificar bem as
atividades diárias, tanto as referentes ao estudo como as de treino; procurar o
apoio dos colegas de turma para obterem os apontamentos das aulas que não
conseguem assistir;
• os serviços, recursos e ajudas fornecidas pela universidade aos
alunos-atletas são insuficientes.;
• que a compatibilidade da atividade desportiva de alto rendimento com
a formação académica é possível, sendo, no entanto, importante realizar
adaptações no ensino e introduzir novas medidas de apoio.
Todavia, apesar de a universidade apresentar carências a nível das
infraestruturas para a prática desportiva, os atletas realçaram a importância do
apoio que lhes é disponibilizado através do programa de tutorias personalizadas
para desportistas de alto nível (TUDAN). Este programa foi criado pela
universidade no ano letivo 2011-2012 para facultar uma ajuda mais
personalizada aos
alunos-atletas e, assim,
compensar
as dificuldades
académicas que vivenciam por serem praticantes de desporto de alto
rendimento. Dada a eficácia evidenciada nos primeiros anos de vida do
programa, os alunos referiram ser importante que este se torne oficial.
Para finalizar apresentamos dois estudos efetuados em 2013. Primeiro o
realizado por Dias, intitulado “O percurso desportivo de atletas de alto
rendimento no atletismo: conciliação entre sucesso desportivo e sucesso
escolar”, e a seguir um trabalho de investigação elaborado por duas autoras,
Vilanova & Puig.
Dias (2013), no seu trabalho de investigação, procurou: i) aferir se é
possível compatibilizar o sucesso desportivo com o sucesso escolar; ii) identificar
as dificuldades e os apoios sentidos pelos atletas durante a sua carreira
desportiva; e iii) estudar e comparar o percurso desportivo de atletas de
diferentes níveis de performance.
A referida autora realizou o estudo com cinquenta e nove atletas, de
ambos os sexos, todos praticantes de atletismo. Dos cinquenta e nove atletas,
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quarenta
e
um
também
estudavam.
Os
participantes
tinham
idades
compreendidas entre os quinze e os trinta anos.
Em relação às dificuldades de conciliação da prática desportiva com as
atividades escolares, os dados recolhidos revelaram que:
• os atletas têm dificuldades na conciliação do sucesso escolar com a
prática desportiva de alto rendimento;
• as maiores dificuldades que sentem são: a concertação de horários, a
falta de tempo e ainda o esgotamento físico e psicológico;
• a
família,
em
comparação
com
as
outras
instituições
(escola/clube/federação), é a que mais apoia os atletas, proporcionando um
apoio absoluto (financeiro, emocional, médico e logístico);
• grande parte dos participantes não tem conhecimento das medidas de
apoio existentes para atletas de alto rendimento e que poucos usufruem das
mesmas;
• sentem que não seriam melhores atletas caso não estudassem,
havendo no entanto uma tendência para sentirem que teriam melhor
aproveitamento escolar se não competissem.
Relativamente ao estudo da carreira desportiva, as principais conclusões
indicaram que:
• os atletas foram os responsáveis pela escolha do atletismo como
modalidade desportiva. Que iniciaram e se envolveram no desporto por iniciativa
própria. Que os pais não tiveram qualquer tipo de influência nas suas opções;
• os atletas iniciaram a prática desportiva num clube ou na escola, tendo
a maioria praticado apenas atletismo durante a sua carreira desportiva;
• existe uma relação direta entre o tempo dedicado ao treino e o
rendimento alcançado;
• Existe um aumento gradual da frequência semanal de treino
proporcional ao aumento da idade dos atletas;
• Em relação aos fatores que mais contribuem para o sucesso
desportivo, os participantes relevaram a predisposição para o treino, a motivação
pela vitória, e o apoio do treinador.
No referido trabalho de investigação, a autora concluiu que a exigência
desportiva vivenciada pelos praticantes de alto rendimento pode influir no seu
rendimento escolar, não indicando, no entanto, a prática desportiva como
causadora de mau aproveitamento escolar. Dias referiu ainda que, para ser
possível a conciliação das duas atividades, é importante e necessário que as
diferentes instituições coloquem em prática as medidas regulamentadas, dando
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cumprimento ao que está legislado para estes alunos-atletas, ajudando-os,
assim, na sua formação académica.
Vilanova & Puig (2013) realizaram um trabalho de investigação que
chamaram “Compaginar a carreira desportiva com a carreira académica para
uma futura inserção laboral”. Realizaram vinte e seis entrevistas e noventa e
quatro inquéritos telefónicos a desportistas olímpicos, de vinte e seis
modalidades diferentes, com idades compreendidas entre os vinte e três e os
cinquenta e oito anos. Estes atletas, no momento, já não se encontravam no
ativo e estavam inseridos no mundo laboral há pelo menos quatro anos. Para
realizar o estudo as referidas autoras identificaram como “elemento teórico
central” (p.67) o conceito de estratégia (Mintzberg, Quinn & Voyer, 1997 cit. por
Vilanova & Puig). De acordo com os resultados obtidos identificaram duas
situações distintas:
• atletas com consciência de futuro que elaboram estratégias com
objetivos simples e coerentes, a longo prazo, para articular estudo e desporto.
Assim, realizam uma boa gestão do tempo, são assíduos às aulas, escolhem
menos disciplinas por ano letivo, recorrem a professores de apoio, reduzem
pontualmente a atividade desportiva. Nestas opções existe, frequentemente,
orientação e influência da família;
• atletas que embora tenham consciência da necessidade de preparar o
futuro profissional, não elaboram qualquer estratégia nem desenvolvem ações
para o efeito.
Os resultados obtidos também trouxeram informações relevantes para o
desenvolvimento de programas de assessoria académica e vocacional.
Sabemos, também pela experiência descrita por Pérez & Aguilar (2012), que
estes projetos de “tutoria universitária” constituem um instrumento fundamental
no auxílio das transições dos praticantes de alto rendimento. As referidas
autoras indicaram ser fundamental um acompanhamento individualizado para
cada desportista em função das suas necessidades, de modo a ajustar a escolha
do tipo de treino, o estudo, a preparação física e psicológica às caraterísticas do
atleta.
Vilanova & Puig (2013) acrescentaram ainda que estes programas de
assessoria deveriam existir em todas as fases de desenvolvimento do atleta.
Que deveriam ser ministrados mesmo para os desportistas que não revelassem
apetência para a elaboração de estratégias de preparação do seu futuro
profissional. Deram também exemplos de como podem ser realizados os
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referidos programas e indicam o “Tutoresport”, programa de tutoria da
Universidade Autónoma de Barcelona, como uma boa referência.
No final do artigo, Vilanova & Puig (2013,p.66) referem que “a limitação
deste estudo centra-se fundamentalmente em que a validade dos resultados
está confinada à população de desportistas olímpicos. Estes possuem um valor
acrescentado pelo facto de terem participado em Jogos Olímpicos, o qual não
permite generalizar os resultados obtidos a todo o mundo desportivo.” Em jeito
de desafio acrescentam “deveria analisar-se, se num conjunto de desportistas de
nível inferior (desportistas que tenham dedicado toda a sua vida ao desporto,
mas que tenham ficado às portas do alto rendimento) os resultados são
similares” (p.66). E aludiram que “também se poderia realizar o mesmo estudo a
desportistas no ativo para observar mais detalhadamente o processo de
elaboração das estratégias” (p.66).
Observando atentamente os trabalhos de investigação aqui expostos
podemos afirmar que a maioria dos autores considera que conciliação entre a
prática desportiva de alto rendimento e a formação académica é possível
(Castro, 2012; Dias, 2013; Oliveira et al., 2010; Pérez & Aguilar, 2012 e Santos,
2010). Neste âmbito a falta de tempo, tanto para realizar as tarefas escolares
como para as atividades de lazer e o cansaço são as principais dificuldades
diagnosticadas na compatibilização das duas atividades (Zenha, 2010; Castro,
2012; Pérez & Aguilar, 2012 e Dias, 2013). Viacelli (2002), Zenha et al. (2009) e
Castro (2012) defendem que o aproveitamento escolar é independente da
prática desportiva, enquanto Costa (2007) refere que o tempo dedicado à prática
desportiva é que influencia o rendimento escolar. Neste contexto, Santos (2010)
afirma que existe uma correlação negativa entre as duas atividades, com os
alunos-atletas a mencionarem que seriam melhores numa atividade se não
exercessem a outra. Dias (2010) acrescenta que os desportistas indicaram que
não seriam melhores atletas se não estudassem mas que teriam melhor
aproveitamento escolar caso não praticassem desporto de alto rendimento.
Oliveira et al. (2010) realça a importância de se realizarem as duas atividades
em simultâneo para a formação integral do indivíduo. Zenha (2010) fala de uma
complementaridade entre as duas atividades e juntamente com Castro (2012)
defende uma influência positiva da prática desportiva no rendimento escolar.
Estes autores indicam que o desporto de alto rendimento exige aos atletas uma
melhor organização e gestão do tempo, assim como promove uma cultura de
rigor e exigência fundamental na obtenção de bons resultados académicos. A
família é considerada a ajuda mais importante na consecução do projeto de vida
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
destes estudantes-desportistas (Castro, 2012 e Dias, 2013 Oliveira et al., 2009 e
Santos, 2010) e a justificação de faltas e alteração de datas de exame são as
medidas de apoio mais utilizadas pelos alunos (Zenha, 2010). Pérez & Aguilar
(2012) e Vilanova & Puig (2013) sublinham a importância dum acompanhamento
individualizado para estes estudantes, através duma “tutoria universitária”. Vários
autores mencionam a importância de se verem reforçadas as medidas de apoio,
sob pena de estes alunos-atletas fracassarem ou mesmo abandonarem os seus
objetivos escolares ou desportivos (Castro, 2012 e Pérez & Aguilar, 2012 e
Santos, 2010). Por fim realçamos a determinação dos alunos em tornar possível
este desígnio (Zenha et al., 2009) e o papel que a elaboração de uma estratégia
pode ter no sucesso da articulação dos estudos com a prática desportiva de alto
rendimento (Vilanova & Puig, 2013).
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Paulo Carlos Ferreira da Silva
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METODOLOGIA
Paulo Carlos Ferreira da Silva
Página 55
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
6 Metodologia
6.1
Introdução
Neste capítulo reservado aos procedimentos metodológicos do nosso
estudo vamos descrever o processo de realização que adotámos, caraterizando
o campo de estudo, referindo o instrumento de pesquisa e os procedimentos
efetuados.
Neste trabalho a metodologia que elegemos foi a de âmbito qualitativo.
De acordo com o nosso entendimento, a utilização desta metodologia possibilita
uma melhor compreensão da experiência e dos comportamentos humanos
dentro do seu próprio meio. Neste contexto, acreditamos ser o método que
melhor se adequa à nossa investigação.
Para Turato (2003, pág. 262), “a curiosidade e o empenho do
pesquisador estão voltados para o processo, definido como ato de proceder do
objeto, quais são seus estados e mudanças e, sobretudo, qual é a maneira pela
qual o objeto opera”.
Como referem Patton (1990), Stake (1995), Maxwell (1996), Creswell
(1998) e Merriam (1998) citados por Maia (2010, p.73), este “desenho qualitativo
é muito descritivo e auxilia na compreensão do significado de eventos e ações
que decorrem dentro de situações da vida real.” Reforçando esta ideia, podemos
considerar este método como um instrumento muito válido para determinar o que
é fundamental e porque é fundamental; um processo através do qual se
conseguem identificar as questões chave e eleger as perguntas necessárias
para descobrir o que é determinante para cada indivíduo e porquê.
Preferimos o processo de avaliação qualitativo, dado que este releva a
descrição, análise e interpretação dos dados recolhidos, procura compreendê-los
dentro do seu contexto, respeitando a sua multiplicidade e o modo como foram
registados.
O referido método centra-se na compreensão do fenómeno, e não em
enumerar ou medir eventos, raramente apela a um instrumento estatístico para a
análise dos dados. Quanto aos dados descritivos, estes são conseguidos
“mediante contato direto e interativo do pesquisador com o objeto de estudo”
(Neves, 1996, p.1).
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Guedes (2002) defende que a metodologia qualitativa é a única que pode
tornar possível um estudo sério de todos os cenários da vida social.
Fortin, Côté & Vissandjée (1999, cit. por Zenha, 2010) afirmam que a
análise qualitativa coloca o enfoque na compreensão do fenómeno estudado
através da observação, descrição e interpretação do meio e do fenómeno em si,
tal como ele se apresenta.
Para Merriam (1998, cit. por Maia, 2010) o papel do investigador deve-se
regular por: i) atribuir uma preocupação maior ao processo e não ao resultado; ii)
relevar o significado de cada pormenor. O referido autor (2010) carateriza a
investigação qualitativa como indutiva, a que convida o investigador à construção
de conceitos, de hipóteses, de teorias à medida que vão emergindo os dados,
nunca podendo cair na tentação de fazer corresponder os resultados às teorias
pré-concebidas. Salienta que o método qualitativo implica “trabalho de campo”,
obriga quem faz a investigação a estar presente durante as observações que
realiza às pessoas e no registo de comportamentos no seu ambiente natural.
6.2
Campo de Estudo
O presente estudo teve o seu enfoque em dez (10) atletas em percurso
de alto rendimento, do género feminino, com presença regular nas seleções
nacionais de basquetebol. As referidas atletas, durante o ensino secundário,
frequentaram um ou mais Centros de Alto Rendimento da Federação da
respetiva modalidade e, neste momento, são simultaneamente estudantes do
ensino superior e jogadoras da Liga Feminina de Basquetebol. As suas idades
estão compreendidas entre os 18 e os 23 anos.
CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES
Após a seleção, o grupo de estudo foi composto por dez (10)
alunas/atletas que cumprindo os pré-requisitos estabelecidos estudam e jogam
em diferentes pontos do país.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Quadro 1 – Caracterização Geral das Atletas
Atleta
Idade
Local de Residência
Clube
Atl1
21
Vagos
A. D. Vagos
Atl2
19
Coimbra
Olivais F. C.
Atl3
19
Algés
S. Algés e Dafundo
Atl4
18
Coimbra
Olivais F. C.
Atl5
16
Algés
Quinta dos Lombos
Atl6
21
Barreiro
G.D.E.S. Santo André
Atl7
23
Barreiro
G.D.E.S. Santo André
Atl8
20
Vagos
A. D. Vagos
Atl9
19
Porto
Lousada A. C.
Atl10
20
Coimbra
C.D. Torres Novas
Podemos constatar, ao analisarmos o Quadro 1 que, como tínhamos
referido, todas as atletas participantes neste estudo têm idades compreendidas
entre os 18 e os 23 anos e, durante a época desportiva de 2013/14, pertenceram
aos quadros de Clubes da Liga Feminina de Basquetebol. Sublinhamos que
todas são do sexo feminino e que o local de residência plasmado no supracitado
Quadro é o local onde cada uma delas vive durante o ano letivo/ época
desportiva.
Observando o Quadro 2, verificamos que as participantes do estudo
tiveram, durante a presente época desportiva, entre 3 a 9 sessões de treino por
semana e realizaram entre 20 a 60 jogos.
Continuando a analisar o referido Quadro, confirmamos que apesar de
apresentarem poucos anos de prática federada na modalidade, entre 7 e 12
anos, todas elas têm uma participação efetiva numa das competições mais
exigentes disputadas no nosso país, a Liga Feminina de Basquetebol.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Quadro 2 – Caracterização da Prática Desportiva das Atletas
Atleta
Nº de
treinos
por semana
Nº de
jogos
época
Anos
de
Federada
Participação
efetiva em jogos
da Liga Feminina
Atl1
4
32
9
Sim
Atl2
5
20
7
Sim
Atl3
8
45
11
Sim
Atl4
5
40
7
Sim
Atl5
9
45
12
Sim
Atl6
9
35
11
Sim
Atl7
4
35
9
Sim
Atl8
5
60
12
Sim
Atl9
4
20
7
Sim
Atl10
3
23
11
Sim
Passando à caracterização da experiência desportiva das atletas (Quadro
3), as dez participantes são internacionais pelas Seleções de Portugal, com
presença regular nos estágios de preparação e nos Campeonatos da Europa. O
número de internacionalizações situa-se entre 21 e 78. O número de
participações em Campeonatos da Europa varia entre 2 e 5 vezes. Por fim, das
dez atletas participantes, três já venceram um Campeonato Nacional a nível de
Clube 1 vez, duas ganharam 2 vezes; uma conseguiu vencer por 3 vezes e as
restantes quatro nunca foram Campeãs Nacionais.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Quadro 3 – Caracterização da Experiência Desportiva das Atletas
Atleta
Campeonatos
Nacionais
(Clube)
Internacionalizações
Atl1
Sim
Atl2
Campeonatos da Europa
Sub16
Sub18
Sub20
Total
60
Sim
Sim 2x
Sim 2x
5
Não
25
Sim
Sim
Não
2
Atl3
Sim 2x
60
Sim 2x
Sim 2x
Sim
5
Atl4
Não
47
Sim 2x
Sim 2x
Não
4
Atl5
Sim 3x
48
Sim 2x
Sim
Sim
4
Atl6
Sim
28
Sim 2x
Sim
Não
3
Atl7
Sim
78
Sim
Sim 2x
Sim 2x
5
Atl8
Sim 2x
29
Sim
Sim
Não
2
Atl9
Não
21
Sim
Sim
Não
2
Atl10
Não
36
Sim 2x
Não
Sim
3
Quanto à formação académica das atletas, podemos atestar pela
observação do Quadro 4, que todas frequentam o ensino superior, estando seis
no 1º ano, três no 2º ano e uma no 3º ano. Três das participantes estudam em
estabelecimentos de ensino situados em Lisboa, três estudam em Coimbra, duas
em Aveiro, uma no Porto e uma em Setúbal.
Das dez participantes só uma frequenta um curso ligado diretamente à
prática desportiva - Ciências do Desporto - todas as outras optaram por áreas de
estudo não relacionadas com o desporto que praticam em regime de alto
rendimento. A que estuda Fisioterapia pode, eventualmente, mais tarde
direcionar a sua prática profissional para área do desporto.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Quadro 4 – Caracterização da Formação Académica das Atletas
Atleta
Ano
Estabelecimento
de Ensino
Curso
Atl1
2º
Universidade de Aveiro
Engenharia do Ambiente
Atl2
1º
Universidade de Coimbra
Biologia
Atl3
1º
ISCTE- Instituto Universitário
de Lisboa
Gestão de Recursos
Humanos
Atl4
1º
Universidade de Coimbra
Ciências do Desporto
Atl5
1º
Escola Superior de
Tecnologia e Saúde - Lisboa
Ortoprotesia
Atl6
2º
Faculdade de Direito –
Universidade de Lisboa
Direito
Atl7
3º
Instituto Politécnico de
Setúbal
Gestão de Recursos
Humanos
Atl8
2º
ISCAA- Universidade de
Aveiro
Finanças
Atl9
1º
Universidade Fernando
Pessoa- Porto
Fisioterapia
Atl10
1º
Escola Superior de
Educação de Coimbra
Gerontologia Social
6.3
Instrumento de Pesquisa
Como instrumento de recolha de dados, optámos pela aplicação de uma
entrevista
semiestruturada,
caraterizada
pela
existência
de
um
guião
previamente elaborado que serve de fio condutor no decurso da mesma (Côté,
J.et al., 1995).
No desenvolvimento das referidas entrevistas, procuraremos que todas
as participantes respondam às questões que delinearmos como fulcrais,
tentando adaptar o normal desenrolar do diálogo às entrevistadas, refletindo,
assim, uma grande plasticidade na exploração e colocação das perguntas.
De acordo com Lutt (2004, p.58) “o uso das entrevistas e observações
providencia um conhecimento mais profundo do que amplo, sobre um
determinado fenómeno.”
Morgan (1988, citado por Costa et al., 2004) define entrevista como uma
conversa deliberada entre dois indivíduos, embora por vezes possam ser
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
envolvidos mais elementos, orientada por um (entrevistador) com o objetivo de
conseguir informações sobre o outro (entrevistado).
Para Olabuénaga (2003) e Taylor & Bodgan (1984) é fundamental
valorizar a objetividade das perguntas e a sequência em que são realizadas,
para que a entrevista tenha um encadeamento lógico e seja consistente.
Referem, ainda, ser importante o entrevistador ter um papel neutral durante a
entrevista, não emitindo opiniões pessoais ou interpretações às respostas
proferidas pelos entrevistados. Assim, durante a entrevista a atitude do
entrevistador deverá ser facilitadora da comunicação, criadora de um ambiente
onde o entrevistado se sinta à-vontade para expressar e emitir opiniões.
Segundo Manzini (s/d), a entrevista semiestruturada está centrada num
tema sobre o qual elaboramos um conjunto de perguntas principais, que no
decorrer da entrevista serão complementadas por outras questões inerentes às
circunstâncias. Para o autor, esta forma de entrevistar pode fazer surgir
informações de um modo mais espontâneo, não condicionando as respostas a
alternativas previamente padronizadas.
Este processo tem sido utilizado pelos investigadores (Côté et al., 1995;
Bloom et al., 1997 e Bloom & Salmela, 2000; cit. por Maia, 2010) permitindo que
os entrevistados deem respostas livres e sem restrições, que sublinhem detalhes
que julguem ser importantes, opondo-se, assim, à noção única de relevância de
quem faz a pesquisa, quando faz uso de uma entrevista estritamente
estruturada.
De acordo com Moroz e Gianfaldoni (2006) a entrevista semiestruturada
requer a presença do entrevistador que, durante a realização da mesma, procura
respostas: para aquilo que o inquieta, para o que necessita saber; para as
questões próprias da sua investigação.
Para Triviños (1987, pág. 146 citado por Manzini, s/d) a entrevista
semiestruturada tem como caraterística principal o uso de questões simples
apoiadas em teorias e hipóteses relacionadas com o tema da investigação, onde
o enfoque principal é dado pelo investigador-entrevistador. Complementa o
autor, defendendo que a referida entrevista “[...] favorece não só a descrição dos
fenómenos sociais, mas também a sua explicação e a compreensão de sua
totalidade [...]” (p.2), além de exigir a presença consciente e atuante do
investigador durante todo o processo da sua realização.
Entre as vantagens apontadas à utilização da entrevista semiestruturada
releva-se (Costa et al.,2004): i) permitir otimizar o tempo disponível;
Paulo Carlos Ferreira da Silva
Página 62
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
ii) proporcionar um tratamento sistemático dos dados; iii) ser aconselhável para
grupos e iv) permitir selecionar temas para posterior aprofundamento.
Segundo Quivy & Campenhoudt (1998), a entrevista semiestruturada é a
mais utilizada em investigações sociais.
Dadas as características que a entrevista semiestruturada encerra,
parece-nos ser este o instrumento que melhor se adequa ao trabalho de
investigação que pretendemos realizar.
Tendo em conta o descrito, elaboramos o nosso guião de entrevista de
acordo com os objetivos traçados para o trabalho de investigação. As questões
que foram surgindo no processo de determinação das principais finalidades do
estudo, junto com a análise de referências bibliográficas, como Castro (2012),
Santos (2010) e Zenha (2010), levaram à construção de uma primeira versão de
guião de entrevista que, posteriormente foi sendo melhorada.
Esta primeira fase do referido guião foi avaliada para aquilatar a
qualidade do mesmo à luz dos objetivos do estudo. Nessa altura, foram
sugeridas pequenas alterações que levaram à construção de mais duas versões.
De seguida, efetuamos um pré-teste, aplicando o guião de entrevista melhorado
a uma atleta que cumpria com os requisitos do nosso estudo, fazendo parte do
seu universo. Após a análise e transcrição da entrevista, depois de avaliarmos a
sua proficiência e a ação do entrevistador, constatámos não serem necessárias
mais alterações ao guião de entrevista, nascendo assim a sua versão final. (ver
anexo 1 – Guião de Entrevista).
6.4
Procedimentos
Iniciamos os devidos procedimentos entrando em contacto com os clubes
de proveniência das atletas, para os informar da realização das entrevistas e do
âmbito do estudo.
As entrevistas foram realizadas durante o mês de maio 2014, em datas,
horários e locais concertados com o clube, treinador ou selecionador nacional e
as atletas em questão. Na escolha das datas tivemos o cuidado de encontrar
uma fase em que os clubes já tivessem terminado a sua competição, estando as
atletas em fase de transição ou já concentradas nos trabalhos das respetivas
seleções nacionais. Na escolha dos locais assegurámos que o espaço detinha
as condições de recato e silêncio necessárias para estabelecer um clima de
confiança, de partilha de ideias e de aprofundamento das questões inerentes ao
estudo.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
Página 63
Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
No início da entrevista tivemos o cuidado de: i) dar a conhecer em
pormenor o âmbito e os objetivos da pesquisa; ii) solicitar a autorização para a
gravação áudio; iii) garantir o anonimato e, por fim, iv) realçar a importância da
atleta conseguir expressar com naturalidade as suas opiniões. Informamos
também cada uma das atletas da possibilidade de pedir esclarecimento caso
surgisse alguma dúvida, relevando o facto de não existirem respostas certas e
erradas.
As entrevistas tiveram uma duração compreendida entre os 15 e 38
minutos (M= 24 m). O tempo total das entrevistas, às dez atletas, foi de
aproximadamente 3 horas e 56 minutos. Foram gravadas através de uma
Handycam-HDD da Sony e transcritas verbatim para computador em
documentos Word, com o tipo de letra Arial, tamanho 12, com espaçamento
entre linhas de 1,5 pontos, totalizando 94 páginas.
À medida que fomos realizando as entrevistas, para manter o anonimato,
numeramos as atletas de 1 a 10 (ex. Atl1; Atl2;…). Transcrevemos textualmente
as entrevistas logo após a sua realização, sem proceder a qualquer alteração,
valorizando os aspetos relacionados com a linguagem, os silêncios, as frases
por acabar, as repetições e os desabafos de cada uma das entrevistadas,
detalhes à partida com pouca significância, mas que se podem revelar
fundamentais na nossa investigação.
6.5
Técnica de Tratamento de Dados
A técnica de análise de dados utilizada foi a análise de conteúdo (Bardin,
2008).
Segundo Guerra (2006) podemos dividir a técnica de análise de conteúdo
em duas dimensões. Uma descritiva, que espelha o que é revelado nos dados
recolhidos e uma interpretativa que resulta das interrogações do investigador
perante o objeto em estudo.
A referida técnica de análise carateriza-se por um conjunto de ações de
estudo das comunicações que emprega comportamentos sistemáticos e
objetivos de descrição do conteúdo das mensagens (Bardin, 2008).
Esta autora (2008) indica que a análise de conteúdo tem como finalidade
estabelecer elos de ligação, numa lógica explícita, entre as mensagens cujas
características foram inventariadas e sistematizadas.
Para Ferrarotti (1986, cit. por Pereira & Leitão 2007) a utilização desta
técnica reside na análise sistemática de um texto e tem como principal finalidade
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
dar a conhecer os temas que mais se repetem e as associações mentais a que
pretendem dar origem.
De acordo com Quivy & Campenhoudt (1998), a principal vantagem que
advém da utilização da análise de conteúdo, é o facto de esta obrigar o
investigador a manter um permanente distanciamento tanto em relação a
interpretações
espontâneas
como,
em
particular,
às
suas
próprias
interpretações. Assim, não se trata de o investigador utilizar as suas referências
ideológicas ou normativas para julgar as dos outros, mas de analisá-las a partir
de critérios claros que recaem mais sobre a organização interna do discurso do
que sobre o seu conteúdo explícito.
Os mesmos autores (1998) referem que todos os métodos de análise de
conteúdo são adequados ao estudo do implícito. Dado que têm como objeto uma
comunicação reproduzida num suporte material que permite um controle
posterior do trabalho de investigação. Muitas vezes, estes estudos são
construídos de uma forma muito metódica e sistemática sem que isso prejudique
a profundidade do trabalho e a criatividade do investigador.
A primeira fase da análise consistiu na codificação do material transcrito
das entrevistas que se traduz na transformação dos dados retirados do texto
(Bardin, 2008).
Esta codificação é um processo realizado sempre à luz dos objetivos
estipulados para o trabalho de investigação e adaptado às características do
material a estudar. Podemos descrever este processo como o “recorte” do texto
plasmado com o seu sentido imediato, tangível, com o objetivo de descobrir
novos sentidos.
Araújo (1995, cit. por Resende, 2009) afirma que a codificação deve
iniciar com a elaboração de uma grelha baseada numa primeira teoria ou num
primeiro esquema concetual. As categorias em que se vai dividindo o texto
informativo original devem ser criadas por referência a uma base empírica mas
também a um quadro concetual mais amplo.
O sistema de categorização do nosso estudo foi elaborado a priori e a
posteriori.
A categorização a priori teve em conta os estudos desenvolvidos por
Santos (2010), Zenha (2010), Castro (2012) Pérez & Aguilar (2012) e Vilanova &
Puig (2013). A categorização a posteriori deriva dos resultados obtidos na
análise das entrevistas.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
GRELHA DE CODIFICAÇÃO DA ENTREVISTA A ATLETAS DE ALTO
RENDIMENTO
DOMÍNIO I – EXPERIÊNCIA PESSOAL
EXPERIÊNCIA DESPORTIVA
• Influência do CNT e do CAR no Rendimento Desportivo;
• Objetivos a Curto Prazo;
• Objetivos a Longo Prazo;
• Duração da Carreira Desportiva.
EXPERIÊNCIA ACADÉMICA
• Influência do CNT e do CAR no Rendimento Escolar ;
• Influência do Desporto na Escolha do Curso Universitário;
• Influência do Desporto na Escolha da Universidade.
INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO
• Ser jogadora de Basquetebol Profissional;
• Conciliar o Emprego com a Prática Desportiva de Alto Rendimento;
• Opções Após Término da Carreira de Jogadora de Bsquetebol.
Figura 1 – Domínio I – Experiência Pessoal
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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DOMÍNIO II – APOIOS E DIFICULDADES
A- No Ensino Secundário
USUFRUTO DAS MEDIDAS DE APOIO
• Justificação de Faltas;
• Alteração de Datas de Avaliações;
• Aulas de Compensação;
Figura 2 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Secundário
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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DOMÍNIO II – APOIOS E DIFICULDADES
A- No Ensino Superior
PRINCIPAIS DIFICULDADES
• Falta de Tempo;
• Cansaço e Fadiga;
• Desgaste Provocado pelas Deslocações.
USUFRUTO DAS MEDIDAS DE APOIO
• Alteração de Datas de Avaliações;
• Justificação de Faltas.
ALTERAÇÃO DE COMPORTAMENTOS NA ESCOLA
• Professores;
• Colegas de Curso.
Figura 3 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Superior
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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DOMÍNIO III – CONCEÇÃO DE APOIOS E DIFICULDADES
APOIOS
• Escola;
• Clube;
• Federação;
• Sugestões para Melhoria.
PERCEÇÃO DA ARTICULAÇÃO
• Adaptação/Integração no ensino superior;
• Avaliação do Percurso (Possibilidades de Sucesso);
• Importância das Tutorias Universitárias;
• Utilização de Estratégias Conducentes ao Sucesso;
• Prioridade aos Estudos ou à Formação Desportiva.
CONDICIONAMENTO AO ALTO RENDIMENTO
• Vida Pessoal;
• Melhor Aluno;
• Melhor Atleta.
Figura 4 – Domínio III – Conceção de Apoios e Dificuldades
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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7 Apresentação e Discussão dos Resultados
Neste capítulo iremos apresentar e discutir os resultados da nossa
investigação emanados das entrevistas realizadas a dez atletas internacionais
estudantes do ensino superior.
7.1
Introdução
Para conseguirmos um enquadramento geral das componentes em
relação ao objetivo do estudo, apresentamos a organização da informação
retirada das entrevistas às atletas de alta competição em três domínios conforme
se pode identificar no Quadro 5.
Quadro 5 – Domínios Temáticos Vigentes
DOMÍNIOS
Experiência Pessoal
Apoios e Dificuldades
A - No Ensino Secundário;
B – No Ensino Superior.
Conceção dos Apoios e
Dificuldades
C1 Experiência
Desportiva
A- C4 Usufruto das
Medidas de Apoio
C8 Apoios
C2 Experiência
Académica
B- C5 Principais
Dificuldades
C9 Perceção da Articulação
C3 Inserção no
Mercado de
Trabalho
B- C6 Usufruto das
Medidas de Apoio
C10 Condicionamento ao Alto
Rendimento
B- C7 Alterações de
Comportamentos na
Escola
Analisámos as dez entrevistas realizadas numa base de unidades de
significado. A seguir, características comuns entre unidades de significado foram
identificadas criando assim diferentes categorias (Côté et al. 1993, citado por
Zenha, 2010). Deste modo, as unidades de significado foram organizadas em 32
categorias e 10 componentes. No quadro 6 podemos observar como realizámos
a divisão de categorias pelas diferentes componentes por nós elencadas.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Quadro 6 – Distribuição das Categorias pelas Componentes do Estudo
Componentes
Categorias
C1 – Experiência Desportiva
C2 – Experiência Académica
C3 – Inserção no mercado de Trabalho
C4 – Usufruto de Medidas de Apoio (A)
C5 – Principais Dificuldades (B)
C6 – Usufruto de Medidas de Apoio (B)
C7 – Alteração de Comportamentos na Escola (B)
C8 – Apoios
C9 – Perceção da Articulação
C10 – Condicionamento ao Alto Rendimento
Total
4
3
3
3
3
2
2
4
5
3
32
Quanto ao domínio “Experiência Pessoal” apresentamos os resultados
referentes às três componentes que a constituem: C1; C2 e C3.
7.1.1 Domínio I – Experiência Pessoal
7.1.1.1 Experiência Desportiva
Esta componente agrupa quatro categorias.
A primeira categoria diz respeito à Influência do CNT e do CAR no
rendimento desportivo das atletas. Nesta categoria tentámos perceber qual foi o
papel dos centros de treino no crescimento delas enquanto atletas de alto
rendimento. Tendo as participantes neste estudo frequentado, durante o ensino
secundário, os dois centros de treino da FPB, importava aquilatar que peso
atribuíam elas à formação que lá usufruíram na consecução dos seus objetivos
desportivos.
Durante as entrevistas entendemos a relevância que todas as atletas
atribuem aos centros de treino na sua formação desportiva. Todas classificaram
a experiência como decisiva e muito importante no seu crescimento como
jogadoras de basquetebol. Responsabilizam a vivência em Centro de Alto
Rendimento pela performance que hoje apresentam e pela atitude que têm para
com a prática desportiva.
“- É assim, eu costumo dizer que só jogo Basket hoje porque fui para
o Centro de Treino.” (Atl1)
“- Sim, ao frequentar os centros de treino notou-se uma melhoria clara
na minha evolução enquanto atleta, para além de… ganhar
maturidade na maneira como jogo, também evolui muito a nível
técnico e ganhei espírito de sacrifício.” (Atl4)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“- A nível desportivo não podia esperar melhores condições e apoio
por parte de toda a equipa técnica. O nosso rendimento enquanto
atletas melhorou com a nossa presença em CNT e CAR.” (Atl5)
“- Relativamente ao rendimento desportivo, não há qualquer dúvida –
sem a influência do CNT não seria nem metade da jogadora que sou
hoje.” (Atl6)
“- No CNT…treina-se com mais qualidade a todos os níveis:
fisicamente …o treino é muito mais intenso que em qualquer outro
lugar no país… tática e tecnicamente… havia uma maior evolução
nas duas vertentes por parte das todas as jogadoras.” (Atl6)
“- A nível de rendimento desportivo senti que foi bastante positivo
para a minha carreira, aprendi bastante nos centros de treino e
encontrei treinadores espetaculares.” (Atl8)
“- A nível desportivo…o meu rendimento foi aumentando a cada dia,
inclusive quando, ao fim de semana vinha treinar no Clube… as
minhas colegas de equipa notavam diferenças em mim.” (Atl9)
“- A influência que teve em mim… desportivamente… foi muito
positiva, mudou por completo toda a minha postura em relação ao
basquetebol.” (Atl10)
Uma das dez atletas fez ainda referência que não teria aceitado ir para o
CNT caso as condições de acesso ao Estatuto de Alto Rendimento na altura
fossem iguais às presentemente vigentes. Entendemos dar relevância a este
ponto de vista, porque este sentimento de desagrado para com as condições de
acesso ao Estatuto de Atleta de Alto Rendimento é transversal a todas as atletas
e, eventualmente reflete algum desajuste do regulamento à realidade do
basquetebol português.
“- Se fosse hoje, com “as novas regras”, não voltaria a aceitar esta
aventura. Por mais enriquecedor que tenha sido desportivamente”.
(Atl10)
A segunda categoria especifica os objetivos desportivos que as atletas
apontaram querer atingir a curto prazo. Todas as entrevistadas, neste momento,
competem no Campeonato Nacional da Liga Feminina de Basquetebol e
representam com regularidade as seleções nacionais. Constata-se assim, que
nesta conjuntura seis das atletas apresentam objetivos claros dentro destas duas
áreas de ação, com diferentes graus de ambição. As outras quatro associam os
seus objetivos à conciliação da prática desportiva de alto rendimento com os
estudos.
Dentro do primeiro grupo, uma das atletas apresenta metas, a nível
individual, mais ambiciosas.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“-…quero… mais que nada, alcançar um ritmo suficientemente
competitivo para que me possa destacar a nível nacional.” (Atl6)
“-…fazer parte dos estágios da seleção nacional sénior e conseguir
manter médias estatísticas elevadas.” (Atl6)
Três das entrevistadas colocam objetivos de conquista de títulos a
nível nacional associados à sua participação na equipa.
“- É assim, gostava muito de ser campeã nacional da Liga. E ter um
papel importante na equipa, ter um papel, isto é, ter minutos, sentirme útil como atleta” (Atl1)
“- A curto prazo… gostaria de ser campeã nacional sénior.” (Atl4)
“-…pretendo preparar-me o melhor possível para a próxima época e
ajudar o meu clube a ganhar títulos.” (Atl8)
A fechar este primeiro grupo, duas das atletas colocam o enfoque na
participação nas competições.
“- Participar no Campeonato da Europa de Sub-20 Feminino deste
ano e, também no do próximo ano. Conquistar tempo de jogo na
Liga.” (Atl2)
“- A curto prazo… para a época 2014/2015 o meu objetivo é
conseguir dar o meu contributo em todos os jogos do campeonato da
Liga Feminina… ou seja, jogar todos os jogos.” (Atl7)
O facto de todas as participantes no estudo serem alunas do ensino
superior em simultâneo com a sua prática desportiva, concorre para a posição
assumida pelo segundo grupo, de quatro elementos, que identificámos. Este
grupo ao colocar lado-a-lado o prosseguimento de estudos com os objetivos
desportivos, indicia um equilíbrio nas suas prioridades, sublinhando assim o
papel importante atribuído à formação académica, nesta fase da sua formação.
“- Por enquanto é …continuar a conciliar as duas coisas, estudos e
desporto.” (Atl9)
“- Presentemente… pretendo continuar a jogar basquetebol e aliar o
estudo aos treinos.” (Atl10)
Verificámos que apesar das dificuldades inerentes à compatibilização dos
Estudos com a prática desportiva de alto rendimento, seis das atletas
manifestaram objetivos claros e ambiciosos dentro do âmbito desportivo.
Também os resultados obtidos por Santos (2010), Zenha (2010) e Castro (2012)
indicavam que os atletas-estudantes, a curto prazo, privilegiam os objetivos
desportivos. Os nossos resultados sugerem que a maioria das atletas mantém o
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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seu enfoque no rendimento desportivo, organizando a sua vida de forma a ser
possível a consecução dos seus “sonhos”.
A categoria seguinte identifica os objetivos a longo prazo. À semelhança
dos resultados obtidos na categoria anterior, verificámos uma prevalência do
desporto nos objetivos delineados pelas atletas. Quatro das inquiridas assumem
vontade em ir para o estrangeiro e, assim, poderem ser jogadoras de
basquetebol profissional.
“ - …anseio sair do país em busca de melhor basquetebol, melhores
condições e melhores mentalidades. Espanha ou Estados Unidos da
América são os meus destinos-alvo.” (Atl3)
“- …a longo prazo gostaria de jogar no estrangeiro.” (Atl4)
“-…gostava de ir jogar para o estrangeiro, onde o basquetebol é visto
como uma referência.” (Atl5)
“- …espero poder fazer parte ou dar o salto para um nível competitivo
mais elevado, ou seja, ir jogar para fora de Portugal, num estatuto…
profissional.” (Atl6)
Esta atleta (Atl6), para além de querer jogar no estrangeiro como
profissional revela, ainda, outros objetivos de grande ambição.
“- A longo prazo ambiciono chegar ao… topo do basquetebol mundial
– estar entre as melhores. Embora saiba…reconheça que é uma
meta bem difícil de alcançar, assumo-a e comprometo-me com ela,
trabalhando diariamente para a atingir.” (Atl6)
Uma das atletas revela que já teve o objetivo de sair do país, mantém a
vontade de continuar a jogar basquetebol com elevado nível de exigência e
ambiciona chegar à seleção nacional sénior.
Gostava de… de estar na seleção nacional sénior… já tive a ambição
de sair do país, mas… agora já…perdi um bocado…” (Atl1)
Duas das participantes indicam que pretendem continuar a conciliar os
estudos e mais tarde a atividade laboral com o desporto.
“- Longo prazo é continuar a conseguir conciliar os estudos com o
Basket.” (Atl2)
Das dez atletas entrevistadas apenas duas mencionaram a possibilidade
de deixarem de jogar basquetebol e uma referiu ser difícil manter o alto nível
quando tiver que conciliar trabalho e desporto de competição.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“-…longo prazo… não tenho objetivos desportivos porque já trabalho
(…) e tenho receio de ter de deixar de jogar por isso mesmo.
Infelizmente, em Portugal nós jogadoras de basquetebol não somos
profissionais.” (Atl7)
“- Para o ano e se tudo correr como … espero… termino o meu curso
e logo penso e decido o meu futuro em relação à minha carreira
desportiva.” (Atl8)
“-…no futuro é continuar a jogar mas vai ser difícil manter o nível tão
alto quando tiver de conciliar trabalho com desporto.” (Atl9)
Estes resultados são apoiados por Zenha (2010) e Castro (2012), que
verificaram que os objetivos a longo prazo passam, maioritariamente, por jogar
num
campeonato
mais
competitivo,
nomeadamente
no
estrangeiro.
Possivelmente esta ambição, revelada por quatro das atletas que estudámos,
resulta da aposta na vertente desportiva que estas atletas têm feito nestes
últimos anos em simultâneo com a sua formação académica e da vontade de,
num futuro próximo, poderem “capitalizar esse investimento”. Na mesma linha de
pensamento, o possível abandono das duas atletas, poderá estar ligado ao
esforço hercúleo que têm vindo a realizar para ser possível compatibilizar as
duas vertentes, aliado à perceção de que pouco mais podem ambicionar dentro
do basquetebol.
A quarta categoria incide sobre a perceção da duração da carreira. Esta
categoria está estritamente ligada à anterior. Assim, oito das entrevistadas
consideram que vão ter uma carreira longa, fazendo referência que pretendem
continuar a jogar enquanto tiverem aptidão física para o fazer.
“- Portanto, enquanto fisicamente … me sentir apta. Acho que… que
.”
vou jogar (Atl1)
“- …vou jogar até não me aguentar das pernas.” (Atl2)
“-…desde que tenha vontade e disponibilidade física, devo …
continuar a praticar esta modalidade.” (Atl10)
“- Até me sentir bem…saudável e sentir que tenho as condições
necessárias para jogar em alta competição, não há uma idade
definida.” (Atl5)
Deste grupo, três indicam uma idade, ou data, até qual pensam ou
gostariam de jogar e uma acrescenta ao fator saúde a importância de ser viável
a conciliação da carreira desportiva com os estudos, ou com o emprego.
“-…até o meu físico e o meu salário me permitirem. Portanto penso…
estimo jogar em alta competição até aos meus 30, 35 anos…” (Atl3)
“- Gostava de jogar até aos quarenta anos.” (Atl4)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“-...infelizmente, as lesões que vão aparecendo ao longo das duras
épocas, resultado de intenso esforço físico, vão encurtando já a curta
“vida” de um atleta. Mas …ainda assim acho…que devo jogar pelo
menos mais dez a quinze anos.” (Atl6)
“-…até que a saúde e estudos/trabalho o permitirem.” (Atl9)
Assim, só duas consideram colocar um fim prematuro à sua carreira
desportiva para dar prioridade à sua atividade profissional.
“-…até aos meus 25 anos, se conseguir conciliar com o meu trabalho
profissional.” (Atl7)
“- Depois de terminar o curso pretendo trabalhar e tirar
mestrado…simultaneamente. O Basket é algo que tenho que pensar,
mas que passa para um plano secundário.” (Atl8)
Porventura, os resultados apresentados devem-se aos objetivos que as
atletas afirmam ter ao nível desportivo e correspondem ao investimento que já
fizeram na sua carreira desportiva.
No nosso entender é de relevar a vontade das atletas que participaram
no estudo em ter uma carreira desportiva longa dentro do basquetebol. Tendo
começado a competir ao mais alto nível tão cedo, algumas aos dezasseis anos,
podia ser expectável que apresentassem, neste momento, alguma saturação. O
elevado grau de exigência inerente à prática do desporto de competição e as
privações que desde cedo tiveram na sua vida familiar e social, podia levar a que
tivessem perspetivas de abandono da carreira desportiva a curto prazo. O desejo
expresso pela maioria em continuar a jogar por muitos anos revela o
compromisso e a ambição que têm e denuncia um enorme gosto pela
modalidade: “- …vou jogar até não me aguentar das pernas.” (Atl2)
7.1.1.2 Experiência Académica
Esta componente diz respeito à experiência académica das atletas e
reúne 3 categorias.
Na primeira categoria identificamos a influência do CNT e do CAR no
rendimento escolar das atletas durante o ensino secundário. Tendo em conta as
opiniões expressadas pelas atletas, constatamos existirem opiniões muito
diferentes sobre o papel que os centros de treino tiveram na sua formação
académica.
Quatro atletas referiram que a influência no aproveitamento escolar foi
negativa.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“- …a nível escolar já não posso dizer o mesmo… torna-se bastante
difícil conciliar ambos e muitas vezes damos a indevida atenção à
escola, deixando-a para segundo plano.” (Atl5)
“- Sim... A nível académico tive que duplicar o meu esforço para
alcançar os meus objetivos, pois o tempo era menos e o cansaço era
maior.” (Atl8)
“-…sempre que fazemos duas coisas ao mesmo tempo há sempre
uma que não corre tão bem, foi o que aconteceu com os estudos, as
notas não eram más mas também não eram das melhores.” (Atl9)
“- A nível escolar… a influência foi marcante, na medida em que o
tempo para me dedicar à escola era menor, a fadiga física e
psicológica também se fazia sentir nas aulas, e tive que colmatar
esse impacto negativo com mais organização e mais empenho nas
alturas habituais de descanso, como ao fim de semana.” (Atl10)
Encontramos, por outo lado, três atletas que manifestaram que a
experiência vivida nos centros de treino foi muito importante na promoção do seu
sucesso escolar.
“- Eu digo isto muitas vezes que eu entrando no CNT, tive uma
preparação para a vida… tive que cumprir regras, tive que ser
organizada, responsável e isso introduz-se na minha vida académica,
mesmo na minha vida.” (Atl1)
Duas indicaram que o rendimento escolar ficou dentro das capacidades
delas.
“- A nível escolar, o rendimento ficou dentro das minhas capacidades
mas poderia ter sido melhor se tivesse tido mais apoio por parte das
entidades competentes, no entanto aprendi a ser mais organizada
com… o meu tempo e a aplicar-me mais para manter as notas.” (Atl4)
“- Em relação à escola penso que tive o mesmo rendimento, sempre
fui uma aluna com notas medianas. Não influenciou… muito na
escola porque sempre tive o objetivo de estudar e acabar os
estudos.” (Atl7)
Uma atleta assumiu que o seu aproveitamento escolar foi pior por culpa
própria, embora em ambiente de Centro de Alto Rendimento.
“- Na verdade, desci as notas num ano, por falta de estudo sim, mas
por culpa própria e não por não ter absolutamente… tempo para
estudar.” (Atl6)
Tal indicação vai em sentido contrário ao que aconteceu em relação ao
desenvolvimento desportivo, em que as atletas foram unanimes em reconhecer a
importância da influência do CNT e do CAR no seu rendimento, classificando a
experiência como decisiva no seu crescimento como jogadoras de basquetebol.
No que diz respeito à formação académica as opiniões manifestadas são muito
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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díspares. Este resultado impõe alguma estranheza dado que o primeiro objetivo
destes projetos é a compatibilização do rendimento académico com o desportivo.
Castro (2012) aportava no estudo que realizou com doze atletas de centro de
alto rendimento, que a atividade desportiva de alto rendimento, bem
supervisionada, tem influência positiva na formação escolar. Fundamentou este
seu parecer, na opinião das atletas que defendiam que tinham melhor
aproveitamento escolar por estarem inseridas num projeto com as características
do CAR. Os resultados que obtivemos no nosso estudo, possivelmente, são o
reflexo da saturação que as atletas presentemente apresentam, depois de
muitos anos a viver a exigência inerente à conciliação da prática desportiva com
a formação académica.
A segunda categoria corresponde à influência que o desporto teve na
escolha do curso universitário. As respostas são muito claras, sete das atletas
analisadas indicaram que o desporto que praticam não teve qualquer influência
na hora de escolher o curso universitário.
“- … mas o Curso não teve nada a ver com a vertente desportiva.”
(Atl2)
“- Foi a minha primeira opção … curiosamente, não há qualquer tipo
de relação entre o desporto que pratico e a escolha do meu curso.”
(Atl3)
“- Sim, foi a minha primeira escolha, e estranhamente… diriam
alguns, não tem nada que ver com desporto.” (Atl6)
“- Sim eu sempre quis tirar Gestão de Recursos Humanos, foi a minha
primeira escolha e não tem nada a ver com… desporto.” (Atl7)
“- Estou no Curso que queria e foi a minha primeira opção quando me
candidatei ao ensino superior. A escolha nada teve a ver com o
Basket.” (Atl8)
Das restantes três atletas houve uma que escolheu um curso ligado à
prática desportiva e que, mais tarde, pretende profissionalmente exercer uma
atividade relacionada com o treino de atletas de alto rendimento. Outra está a
estudar fisioterapia e que pretende vir a exercer a sua profissão na área
desportiva.
“- Sim, sempre quis o curso de Fisioterapia e além disso este curso
tem tudo a ver com desporto.” (Atl9)
E uma última que entrou numa segunda opção e pretende vir a tirar um
curso relacionado com o Desporto.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“- Não… Apercebi-me ao longo deste ano que não estava no Curso
que queria, fui para este Curso um pouco perdida, visto que não tinha
possibilidades de me inscrever no Curso que tinha em mente,
relacionado com o desporto.” (Atl10)
No mesmo sentido, Zenha (2010) e Castro (2012) aludem que o desporto
não exerce qualquer influência na escolha do curso. Pérez & Aguillar (2012)
concluíram que a eleição da área de estudos, feita pelos atletas de alto
rendimento, não está relacionada com o desporto que praticam. Estes resultados
vêm de encontro aos obtidos por nós, onde a maioria das atletas escolheu áreas
nada relacionadas com o desporto, onde só uma se encontra a estudar
diretamente na área desportiva. Sendo, assim, torna-se evidente a ausência de
influência (positiva ou negativa) do desporto na escolha do curso universitário,
mesmo para atletas de alta competição. Várias razões podiam, porventura, ser
avançadas para explicar esta situação. Parece-nos, no entanto, que a principal
razão poderá estar relacionada com o facto de as atletas gostarem,
essencialmente, é de jogar basquetebol e não do treino, do ensino, da gestão ou
de estudar qualquer outro assunto relacionado com o fenómeno desportivo.
Em relação à terceira categoria, influência do desporto na escolha da
universidade, podemos considerar que das dez atletas que pesquisámos sete
afirmaram que tinham escolhido a universidade mais perto do clube onde já
jogavam ou iam jogar nessa época.
“ -…Porque são as mais perto de onde eu moro e, também, estando
a jogar no Vagos, era juntar as duas coisas.” (Atl1)
“- Eu quando me candidatei à Universidade… tinha recebido o convite
do Olivais, por isso candidatei-me à Universidade de Coimbra.” (Atl2)
“- Era a que ficava mais perto do meu local de residência, muito perto
da minha casa e do Clube onde jogo.” (Atl4)
“- Escolhi por ser a Faculdade mais próxima da minha residência… ou
seja, como estava a jogar Basket no Barreiro e… a viver no Barreiro,
escolhi Setúbal para estudar.” (Atl7)
“- Outro motivo é o facto de jogar no Vagos, o que acaba por ser
perto… é a Universidade que fica mais perto.” (Atl8)
As restantes atletas referiram que a escolha da universidade não esteve
relacionada com o desporto que praticam, ou com o clube onde jogam.
“- Eu quis ficar na escola com melhor reputação, com mais prestígio,
porque seria, em princípio, a escola onde a educação seria mais
exigente.” (Atl6)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“- Penso que a única razão… relacionava-se com o facto de ser em
Coimbra, local onde a minha irmã mais velha se encontra a trabalhar.”
(Atl10)
“- Só pude concorrer à segunda chamada… mas ai …as médias
subiram e como esta Universidade tinha boas referências optei por
ela.”
Estes resultados indicam que no momento da escolha da universidade a
maioria das atletas tenta conciliar a formação académica com a prática
desportiva. Convém sublinhar que, no nosso estudo, o que as levou a optar por
determinada universidade não foi o apoio que o estabelecimento de ensino
presta aos atletas de alto rendimento, não foi o seu projeto educativo, mas a
proximidade em relação ao clube onde elas se encontravam a jogar ou para o
qual tinham sido convidadas. Estes dados poderão levar-nos a pensar que as
universidades que conseguirem congregar diferentes valências: apoios ao atleta
de alto rendimento; projeto educativo e a competição desportiva, dentro da sua
orgânica ou através de parcerias, poderão vir a ter sucesso na captação de
alunos- atletas internacionais.
7.1.1.3 Inserção no Mercado de Trabalho
Nesta componente procurámos aquilatar quais as ideias dominantes em
relação à futura inserção no mundo laboral por parte das atletas de alta
competição, estudantes no ensino superior. Esta componente reúne três
categorias.
Quanto à primeira categoria, ser jogadora de basquetebol profissional,
podemos concluir que seis das entrevistadas não pensam vir a jogar
basquetebol profissionalmente.
“- Dedicar-me inteiramente ao Basket não… porque acho que isso
não é… não me iria...sei lá, não vejo isso como futuro!” (Atl2)
“- Não… e nem… me parece que possa ser uma possibilidade.” (Atl9)
Enquanto quatro manifestaram a vontade em abraçar a carreira de
jogadora profissional de basquetebol logo que terminem os seus estudos.
Corroborando assim, com a ideia de irem jogar para o estrangeiro expressa
quando as questionámos em relação aos projetos a longo prazo.
“- O curso superior é o plano B, é o colchão de queda, onde nos
podemos resguardar, na eventualidade da interrupção involuntária do
percurso desportivo.” (Atl6)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Pensamos que, possivelmente, estes resultados se devem ao facto de as
atletas nesta altura já terem uma perceção clara se podem ou não vir a ser
atletas profissionais. Apesar de ainda serem muito jovens já apresentam uma
larga experiência de alta competição, o que lhes permite avaliar com algum rigor
as reais possibilidades de sucesso caso optassem pelo profissionalismo.
A categoria seguinte reporta à vontade das atletas em conciliar o
emprego com a prática desportiva de alto rendimento, após terminarem a sua
formação académica.
As ideias que retivemos dentro desta categoria complementam as que
temos vindo a expor nas categorias anteriores.
Quatro evidenciaram a vontade de encontrar um emprego, dentro da sua
área de estudo, logo que terminem os seus estudos, e continuar a jogar
basquetebol.
“- Eu gostaria de conseguir jogar e ainda… estar a trabalhar na
minha área.” (Atl1)
“-…continuar a jogar mas vai ser difícil manter o nível tão alto quando
tiver de conciliar trabalho com desporto.” (Atl9)
Quatro anuíram que só pensavam começar a trabalhar quando a sua
carreira desportiva acabar.
Duas indicaram que o começar a trabalhar poderá implicar, a curto prazo,
o abandono da prática desportiva. Uma afirmando que, após dois anos a
conciliar o desporto com o emprego, deverá desistir de jogar basquetebol. A
outra referindo que após a licenciatura quer encontrar um emprego e continuar a
estudar, passando o basquetebol para segundo plano.
“- Depois de terminar o curso
mestrado…simultaneamente.” (Atl8)
pretendo
trabalhar
e
tirar
A terceira categoria desta componente é também a última dentro do
domínio da “Experiência Pessoal” e diz respeito às opções após término da
carreira de jogadora de basquetebol.
Nesta categoria surgem as ligações à formação académica, o que indicia
que esta será fundamental no final de carreira das atletas de alta competição.
Todas as participantes na nossa investigação referem a sua área de estudos
universitários como muito importante na escolha do seu futuro emprego, como
tendo um papel decisivo na sua transição para o mercado de trabalho. Só uma
menciona, de forma ténue, a hipótese de após término da sua carreira como
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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jogadora, não recorrer à sua formação académica mas sim à sua formação
desportiva, para continuar ligada profissionalmente ao basquetebol.
Das nove atletas que afirmam ter como prioridade encontrar um emprego
dentro da sua área de formação universitária, relevamos quatro que não
demonstraram querer continuar ligadas ao desporto.
“- Quando acabar de jogar quero encontrar um emprego… dentro da
área em que estou a estudar.” (Atl5)
Três que assinalaram a vontade de encontrar um emprego na sua área
de estudos e, em simultâneo, continuarem ligadas à modalidade.
“- Continuar a trabalhar na minha área e depois… sim… gostava de
ser treinadora, assim de meninos pequenitos.” (Atl1)
“- Ainda falta tanto tempo… sei lá… depende como estiver… muito, a
minha vida na altura… mas quero continuar um bocado ligada ao
Basket.” (Atl2)
“-…tirar um curso que me permita ser treinadora de basquetebol.”
(Atl10)
E duas que disseram querem continuar a exercer a sua atividade
profissional ligada à prática desportiva por a sua área de estudos estar
relacionada, direta ou indiretamente, com o desporto.
“- Pretendo continuar ligada ao desporto pois foi o curso que escolhi,
talvez tornar-me treinadora ou preparadora física e trabalhar com
atletas de alto rendimento.” (Atl4)
“-De certa forma o desporto e o que estudo estão ligados e, o facto de
praticar desporto poderá me ajudar, pois tenho experiência no que o
atleta sente em determinadas lesões.” (Atl9)
Uma das atletas, embora tenha como prioridade acabar a sua formação
universitária, demonstrou vontade em continuar profissionalmente ligada ao
basquetebol, apesar da sua área de estudos não estar relacionada com a
modalidade.
“- Neste sentido, espero acabar o meu curso superior brevemente
para ter… também alguma coisa a que me agarrar, mas na verdade,
após acabar a minha carreira, gostava de continuar ligada ao
basquetebol.” (Atl6)
Nesta categoria, os resultados demonstram uma clara tendência para as
atletas seguirem uma profissão dentro das suas áreas de estudo. Também é
interessante constatar que setenta por cento das atletas não pretendem
continuar ligadas profissionalmente ao desporto após o final das suas carreiras
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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desportivas, dado que só três pretendem continuar uma carreira profissional
dentro da modalidade desportiva que praticam. Esta ideia converge com os
resultados de Zenha (2010) e Castro (2012), quando referem que a maioria dos
atletas acaba por exercer uma profissão fora da área desportiva.
7.1.2 Domínio II – Apoios e Dificuldades
Vamos dividir este domínio referente aos apoios e dificuldades que
revelaram as atletas participantes na nossa investigação em duas fases. Uma
primeira que reporta ao ensino secundário e uma segunda fase que diz respeito
ao ensino superior.
A- No Ensino Secundário
7.1.2.1 Usufruto de Medidas de Apoio
A quarta componente que plasmamos neste estudo remete para as
medidas de apoio que as atletas sublinharam ter usufruído durante o período em
que estiveram a estudar no ensino secundário. Esta componente está
diretamente relacionada com as medidas que estão presentes no Decreto-lei nº
272/09, de 1 de outubro (nos artigos 14.º a 19.º) para amenizar as contingências
impostas pela conciliação da formação académica com a prática desportiva de
alto rendimento.
O facto das atletas que participaram neste estudo terem estado, durante
o ensino secundário, integradas nos centros de treino da Federação Portuguesa
de Basquetebol (FPB), leva a que, durante este período, tenham usufruído de
medidas de apoio à conciliação dos estudos com a prática desportiva. No
entanto, a maior parte afirmou não ter recebido qualquer medida de apoio
durante esta fase da sua formação.
“-Não, porque não havia qualquer tipo de diferenciação entre os
alunos… ditos “normais” e alunos desportistas de alto rendimento por
parte dos estabelecimentos de ensino” (Atl3)
“- Não senti um apoio escolar por parte da Federação… as escolas
onde as atletas estavam colocadas não estavam preparadas para
receber atletas de alto rendimento e o Regulamento Interno não
especificava tais… situações.” (Atl4)
“- Não, no Secundário nunca houve… pelo menos que façam parte do
meu conhecimento, medidas de apoio para os atletas de alta
competição, que estivessem regulamentadas.” (Atl6)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“- Não, que me lembre …nunca tive qualquer tipo de benefício ou
apoio. Sempre fui tratada como uma aluna normal.” (Atl8)
“- Sinceramente não… o apoio escolar que as escolas nos davam era
o mesmo que os alunos normais, por isso não existia diferença.”
(Atl9)”
De acordo com as informações recolhidas dividimos esta componente em
três categorias, que passamos a detalhar.
A primeira categoria é a justificação de faltas.
Quatro das atletas utilizaram este recurso. As restantes não fizeram
qualquer referência à necessidade de justificar faltas, ou de faltar às aulas. As
faltas são justificadas pelo IPDJ via FPB.
“- …em termos de justificação a Federação também sempre justificou
tudo.” (Atl2)
“-…faltas justificadas, talvez esta seja a medida mais utilizada,
quando estávamos ausentes das aulas por motivos desportivos.”
(Atl10)
Só quatro das entrevistadas justificaram faltas através do IPDJ e FPB, as
restantes não o fizeram. Estes resultados sugerem que algumas atletas, talvez
se tenham esquecido das vezes em que foi necessário justificar faltas às aulas.
As participantes que afirmaram terem usado este recurso referem que era a
medida de apoio que mais vezes tinham que utilizar. As deslocações frequentes
para treinos e jogos levavam a que tivessem que faltar com regularidade às
aulas e que fosse necessário justificar as respetivas faltas.
A segunda categoria assenta na alteração de datas das avaliações.
Três atletas disseram que durante o ensino secundário tiveram que
utilizar esta medida de apoio.
“-…tivesse de dar, assim algumas faltas, algumas não tão
significativas, mas outras assim em dias de testes por exemplo, e
nisso a Escola em si, os professores, acho que esse sistema esteve
bem, porque não se importaram de alterar.” (Atl2)
“- Na medida em que o calendário de testes, no Colégio que
frequentei, ter sido alterado várias vezes.” (Atl5)
Os dados que recolhemos no estudo podiam levar a concluir que esta
medida de apoio não é valorizada, que foi pouco utilizada. Pensamos que no diaa-dia destas alunas, durante o ensino secundário, esta medida era utilizada com
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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alguma frequência. Esta utilização regular pode ter levado a que as atletas a
considerassem um procedimento normal, fruto da compreensão e benevolência
dos professores ou da escola e não uma medida de apoio institucional. Por outro
lado, o facto de estas atletas não terem o Estatuto de Alto Rendimento levou a
que tivessem que fazer os exames nacionais nas épocas normais, mesmo
quando estavam em estágio da seleção nacional, em preparação para o
Campeonato da Europa. Aliás, é muito comum a saída das atletas durante os
estágios para a realização de exames nacionais ou, mesmo, exames de escola.
Esta é mais uma situação muito difícil de conciliação entre os estudos e a prática
desportiva de alto rendimento. Zenha et al. (2009) e Castro (2012) referem que a
adaptação das datas das avaliações é muito valorizada pelos estudantes-atletas.
Neste contexto, os nossos resultados parecem divergir dos apresentados pelos
referidos autores, uma vez que só três atletas disseram que tinham utilizado este
recurso. Esta reduzida utilização, possivelmente, não reflete uma menor
valorização da medida de apoio, mas sim uma agilização do processo de
alteração durante o decorrer do ano letivo e a impossibilidade de a utilizar em
avaliações de âmbito nacional.
A terceira, e última categoria, está relacionada com a frequência de aulas
de compensação. Verificámos que metade das entrevistadas diz ter usufruído
desta medida.
“- No CNT nós tínhamos muitos apoios, até tínhamos apoio à hora de
almoço porque os professores disponibilizavam-se para isso e
notava-se que eles queriam que nós … tivéssemos o maior
aproveitamento e o melhor aproveitamento possível” (Atl1)
“- Houve algumas que eu me recordo de ter utilizado… a alteração
ao calendário testes, justificação de faltas, aulas de apoio, etc.” (Atl5)
“- No CAR tínhamos apoio escolar para quem quisesse e
necessitasse, eu na altura tive a matemática…” (Atl7)
“- …a Federação contratava professores para dar apoio só a atletas.”
(Atl9)
“-…a terceira medida que me lembro eram as ajudas académicas,
com um explicador específico para cada disciplina.” (Atl10)
Como podemos constatar, esta medida está muito relacionada com o
funcionamento do CNT e do CAR. O facto de estes projetos terem recursos
próprios para dar resposta às necessidades das atletas envolvidas, porventura,
faz com que seja menos necessário revindicar junto das escolas a utilização
deste apoio. Sendo esta uma medida prevista pela lei, parece-nos que as
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
escolas não estão sensibilizadas para cumprir com esta obrigação, nem têm,
muitas vezes, meios para o fazer com proficiência. As conclusões dos estudos
de Santos (2010), Zenha (2010) e Castro (2012) apontam para o pouco uso
desta medida de uma forma institucional. No nosso caso esta situação também
ocorre mas porque em sua substituição o apoio é dado ao nível da FPB.
No estudo de Zenha et al. (2009) os atletas pesquisados referem que as
aulas de recuperação depois do estágio ou competições, e as aulas de apoio às
disciplinas a que têm maiores dificuldades são muito importantes como fatores
de êxito no sucesso escolar. Parece-nos evidente que é esta razão que leva a
FPB a incluir estes apoios dentro dos seus projetos de formação.
B- No Ensino Superior
7.1.2.2 Principais Dificuldades
Nesta componente descrevemos as principais dificuldades que as atletas
de alto rendimento têm na conciliação da formação escolar com a prática
desportiva. Esta componente agrupa três categorias.
Quando, nas entrevistas, abordámos este tema, três atletas referiram que
ainda não tinham sentido necessidade de medidas de apoio à conciliação dos
estudos com a prática desportiva.
- Não. Pois os horários são compatíveis e no meu curso os
professores são compreensivos em relação à parte desportiva e é
possível conciliar os estudos com o desporto.” (Atl4)
“- No geral não.” (Atl8)
“- Porque desde que eu estou no ensino superior não foi necessário
qualquer medida para conciliar a minha prática desportiva e a minha
formação.” (Atl10)
Dentro desta componente, a primeira categoria que referimos é a falta de
tempo que foi referenciada por nove entrevistadas. As atletas denunciam uma
grande dificuldade em realizar uma gestão do tempo eficaz de modo a ser
possível dar resposta positiva às exigências e obrigações do dia-a-dia. Falta de
tempo para estudar e para descansar e sobreposição de horários são
contingências com que têm que lidar regularmente.
“…às vezes um treino acaba mais tarde e no dia a seguir calha por
ser o dia em que entro mais cedo na Faculdade.” (Atl2)
“- Arranjar tempo para estudar e acima de tudo…o “curto-circuito” que
tem vindo a existir entre …os horários dos treinos e das aulas.” (Atl3)
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“- …Os horários são demasiado preenchidos, o que nos limita muito
em relação ao tempo de descanso/estudo/deporto.” (Atl5)
“- Claramente… as mais evidentes são ter de optar entre treinar,
estudar ou dormir…” (Atl6)
“-…se calhar não tens as notas tão altas como se calhar tinhas se
tivesses mais tempo para estudar.” (Atl7)
“- …tenho semanas que só durmo cinco horas por noite para
compensar o tempo que não tenho para estudar.” (Atl8)
“- A principal dificuldade é a mesma de sempre, o tempo.” (Atl9)
Santos (2010) indica a falta de tempo como a dificuldade mais evidente
para os estudantes-atletas, impedindo-os de cumprir várias tarefas e de terem o
descanso necessário. Também Cardoso (2007), num estudo efetuado com 86
nadadores, afirma que a ocupação excessiva do tempo livre é um dos principais
fatores de drop out. Em sintonia com Castro (2012), entendemos que esta
dificuldade de conciliação, vivida em permanência e numa situação limite, pode
levar ao abandono de uma das duas atividades. A atividade desportiva será,
talvez, a preterida numa situação de rutura. Pérez & Aguillar (2012) defendem
que se não forem tomadas medidas de apoio que ajudem a resolver estas
situações de conflito, nomeadamente pelas universidades, o risco de abandono
é muito elevado. Dias (2013) também identificou a falta de tempo como uma das
principais dificuldades no dia-a-dia dos estudantes-atletas. Os resultados do
nosso estudo, em que nove das dez atletas referenciam a falta de tempo,
corroboram os dados destes últimos autores.
A segunda categoria criada nesta componente é o cansaço/ fadiga.
Metade das atletas que participaram no estudo fez referência a cansaço e a
fadiga. Quatro indicam que o cansaço condiciona o seu rendimento desportivo e
escolar.
“- …depois é o cansaço… que, que não temos o mesmo rendimento,
estando mais cansadas não aguentamos tanto” (Atl1)
“…apetece-me estudar depois do treino mas venho muito cansada e
não consigo.” (Atl2)
“-…estás tão cansada da direta que fizeste a estudar ou a fazer um
trabalho que no treino só deste 60%.” (Atl7)
Uma apresenta o cansaço como uma das principais dificuldades.
“- É muito cansativo e saturante, a falta de apoio por parte das
escolas também condiciona bastante o nosso rendimento.” (Atl5) .
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Robertson & Elliott (1996, citados por Marques, 1999) indicam o cansaço
como um dos motivos que levam ao abandono do atleta de alto rendimento.
A referência à influência do cansaço no rendimento escolar das atletas
converge com os resultados do estudo realizado por Zenha et al. (2009). Os
referidos autores indicam o pouco tempo de descanso e o consequente cansaço,
como os principais fatores que levam à obtenção de resultados académicos
insatisfatórios.
Castro (2012) também sublinha o cansaço como uma das principais
dificuldades que vivenciam os estudantes-atletas. Dias (2013), neste contexto,
faz referência ao esgotamento físico.
Segundo Marques & Oliveira (2001), as elevadas exigências colocadas
na preparação estão a ter repercussões negativas, mesmo na própria formação
desportiva, por não terem em linha de conta a capacidade de recuperação e os
tempos de descanso dos indivíduos.
Pensamos que os nossos resultados vão ao encontro das análises e
conclusões destes autores.
A terceira categoria diz respeito ao desgaste provocado pelas
deslocações. Três das dez atletas participantes fizeram referência a esta
contingência que, por si só, tem muitas implicações no dia-a-dia de um atleta de
alto rendimento.
“-…vivo no Barreiro e estudo em Lisboa, o que faz com que a viagem
para a Faculdade chegue a ser de 1h30m.” (Atl6)
Outras residem perto da universidade pelo que a dificuldade que
encontram é nas deslocações que têm de fazer para treinar com a equipa.
“- Nomeadamente com quem tem que fazer viagens longas para
praticar alguma modalidade.” (Atl10)
Facilmente conseguimos deduzir as repercussões negativas que a
realização regular destas viagens pode ter no rendimento escolar e desportivo
de um aluno-atleta. O desgaste, menos tempo de descanso, o tempo perdido,
são algumas das situações graves provocadas pelas deslocações diárias que
estas atletas têm que fazer, para ir para o treino ou para a universidade.
Entendemos que casos destes podem comprometer seriamente a saúde e a
possibilidade de obtenção de sucesso dos alunos-estudantes. Mesmo com
grande capacidade de superação e sofrimento, pensamos ser muito difícil a
conciliação dos estudos com a prática desportiva de alto rendimento nestas
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
circunstâncias.
Condições desta natureza elevam
exponencialmente as
possibilidades de drop out.
7.1.2.3 Usufruto das Medidas de Apoio
Pretendíamos verificar, nesta sexta componente, as medidas de apoio
que utilizaram as alunas-atletas durante esta fase do ensino superior e que
dificuldades tiveram no requerimento das mesmas.
À semelhança do realizado na quarta componente para o ensino
secundário, as medidas de apoio de referência são as vigentes no Decreto-lei nº
272/09, de 1 de outubro (nos artigos 14.º a 19.º).
Neste contexto, constatámos que as atletas participantes no estudo, na
sua maioria (9), não têm “Estatuto de Alto Rendimento”. Por isso, à luz da
legislação em vigor, são consideradas alunas “normais” dentro da Universidade,
não usufruindo assim de qualquer medida de apoio.
“- eu sou uma aluna completamente normal. Não tenho qualquer
regalia, ou direito a nada.” (Atl1)
“ - Não, pois não obtive o Estatuto de Alto Rendimento e não posso
usufruir de determinados benefícios tais como justificação de faltas,
alteração de horários e datas de avaliações nem… nem tenho direito
a ir à época especial… “ (Atl4)
“…desde que estou no ensino superior, também não tive nenhum
apoio para a conciliação das duas atividades.” (Atl6)
“- Não… não tenho qualquer tipo de apoio ou benefício.” (Atl8)
“- Eu utilizei o estatuto de alta competição quando… no momento da
candidatura, pois a minha média era inferior à de ingresso, tirando
isso, não tive qualquer tipo de apoio.” (Atl3)
Nestas circunstâncias, reunimos ainda assim duas categorias.
A primeira diz respeito à alteração de datas de avaliações. Em situações
pontuais, algumas atletas referiram ter usufruído desta medida de apoio,
principalmente quando estão ao serviço da seleção nacional.
“- Só tive um… um caso foi quando fui ao Europeu de Sub-20 o ano
passado… que tive que faltar a exames… e aí a Federação teve
que… fazer um comunicado por que os meus professores me
pudessem adiar… e eu fiz os exames em época especial.” (Atl1)
“- Como não temos direito ao Estatuto de Alta Competição tornou-se
um pouco mais complicado. Mesmo assim tive direito a realizar os
exames em época especial.” (Atl5)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Uma atleta fez referência a uma atitude de compreensão e benevolência
por parte dos professores por estar num curso de Desporto.
“- Sim. Visto que frequento o Curso de Desporto, os professores são
bastante benevolentes em relação a faltas…lesões e mudança de
avaliações.” (Atl4)
A segunda categoria é sobre justificação de faltas. Nesta categoria só
uma atleta fez referência a situações em que lhe tem sido possível justificar
faltas, fruto da compreensão dos professores, e não como pleno usufruto de uma
medida de apoio.
“-…os professores são bastante benevolentes em relação a
faltas…lesões e mudança de avaliações.” (Atl4)
Ao analisarmos esta componente podemos concluir que estas alunasatletas, apesar do percurso desportivo que detêm, estudam no ensino superior
sem usufruírem de qualquer medida de apoio à conciliação da formação
académica com a prática desportiva. Se a este facto aportarmos que os
trabalhos de seleção nacional coincidem, a maioria das vezes, com os períodos
de exames, percebemos os constrangimentos a que estas atletas estão sujeitas.
Pérez & Aguillar (2012) referiram nas conclusões do seu estudo que a
compatibilidade da atividade desportiva de alto rendimento com a formação
académica é possível, sendo, no entanto, importante realizar adaptações no
ensino e introduzir novas medidas de apoio. Estas alterações, possivelmente,
têm que começar a ser feitas ao nível da universidade. Os referidos autores
salientam que as mudanças que urge introduzir não são para facilitar a vida do
estudante-atleta, mas para, numa perspetiva de justiça, proporcionar iguais
possibilidades de sucesso académico a todos os alunos, sejam eles atletas ou
não. Os nossos resultados reforçam esta ideia de necessidade urgente em
agilizar processos de apoio a estes estudantes-atletas. Dar-lhes as mesmas
hipóteses de sucesso académico que têm os alunos “normais” é um fator
determinante na articulação entre prática desportiva e o desporto de alto
rendimento.
7.1.2.4 Alterações de Comportamento na Escola
A última componente do domínio “Apoios e Dificuldades” é constituída por
duas categorias.
A primeira delas tem por base a alteração do comportamento por parte
dos professores.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Sete das entrevistadas referem que nunca sentiram qualquer tipo de
alteração de comportamento por parte dos professores; destas, três referem que
os professores nem têm conhecimento que elas são atletas.
“- Não, de maneira nenhuma.” (Atl6)
“- Sou considerada uma aluna normal… lembro-me dessa professora
dizer que não é por sermos atletas que íamos ser tratadas de forma
diferente.” (Atl9)
“- Nada, nem sequer conhecem…” (Atl1)
“- Agora na Universidade não… não há nada disso, os alunos são
alunos e… pouco mais interessa do resto da vida.” (Atl2)
“- A Universidade…os professores nem têm conhecimento de que
pratico desporto de alta competição.” (Atl8)
As restantes três entrevistadas indicam que já sentiram alterações
positivas de comportamento por parte dos professores.
“- Sim, felizmente sim. Mas… quero frisar que o facto dessas
alterações terem sucedido, acontecerem… devem-se apenas ao bom
senso e … à maneira de ser por… parte de alguns professores.”
(Atl3)
“-Sim. Visto que frequento o Curso de Desporto, os professores são
bastante benevolentes em relação a faltas…lesões e mudança de
avaliações.” (Atl4)
- Não posso dizer que beneficiamos de uma alteração de
comportamento mas sim um aumento de tolerância por parte de
alguns professores. Alguns tinham noção do nosso cansaço, quando
tínhamos viagens longas na noite anterior para cumprir o calendário
de jogos ou treinos antes das aulas de manhã. No entanto, nunca
senti um tratamento “especial”. (Atl5)
Os dados que encontrámos revelam que a maioria (7) das atletas não
sentiu qualquer alteração de comportamento por parte dos professores e só três
relataram alterações positivas no referido comportamento. Santos (2010) e
Castro (2012), nas suas investigações, obtiveram resultados diferentes. Santos
(2010) refere um equilíbrio entre alterações positivas e negativas, ressaltando a
indiferença e a insensibilidade como os sentimentos dominantes na relação
professor-aluno. Castro (2012) alude que a maioria não sentiu alterações
comportamentais por parte dos docentes, mas acrescenta que cinco
testemunharam terem vivenciado alterações de comportamento; destas, duas
sentiram alterações positivas, duas alterações negativas e uma das atletas
refere que já sentiu apoio e discriminação por parte dos professores. Os nossos
resultados são menos díspares do que os obtidos pelos referidos investigadores.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Relevamos
o
facto
de
não
termos
recebido
qualquer
indicação
de
comportamentos negativos por parte dos docentes.
Em relação à segunda categoria, alterações de comportamento por parte
dos colegas de turma, sete não fazem qualquer referência a alterações de
comportamento por parte dos colegas de curso; duas dizem que os colegas de
curso desconhecem a sua condição de atleta e as dificuldades inerentes à
prática de desporto de alto rendimento; e apenas uma referiu que os colegas de
curso conhecem e respeitam o facto de ela ser atleta.
“- Sim, eles têm e percebem, sei lá…às vezes em termos de… por
exemplo trabalhos ou sessões de estudo, coisas assim… e percebem
perfeitamente e respeitam…” (Atl2)
Quanto à alteração de comportamento por parte dos colegas, a grande
maioria não sente qualquer tipo de alteração, afirmando que são tratadas como
colegas normais. Estes dados convergem com os obtidos por Castro (2012).
7.1.3 Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades
7.1.3.1
Apoios
A oitava componente recai sobre os apoios que são dados a estas jovens
pelas entidades que participam na sua vida e engloba quatro categorias.
A primeira categoria aborda o apoio proporcionado pelas escolas. Nesta
categoria, três das entrevistadas referiram que a universidade não tem
conhecimento que elas são atletas e que não tem qualquer “programa” de apoio
aos atletas de alto rendimento.
“…na Universidade não senti… qualquer tipo de apoio, nem da escola
nem dos colegas nem dos professores. Só senti que estes não tinham
a noção do que é estar comprometida com o desporto e estar ligada,
no meu caso, à seleção e estar a jogar na liga profissional.” (Atl7)
Três também sublinharam não ter qualquer apoio “oficial” por parte da
universidade, ressalvaram, no entanto sentirem alguma compreensão dos
professores.
“-… Os meus professores sabiam desde o início da minha condição
de atleta e sempre me ajudaram a conciliar frequências/exames com
a minha disponibilidade.” (Atl5)
Uma, para além de referir não usufruir de qualquer apoio, refletiu a
importância da atribuição do Estatuto de Atleta de Alto Rendimento para que
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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seja possível à universidade agir, não em benefício do aluno-atleta, mas no
sentido de lhe proporcionar as mesmas possibilidades de sucesso que os outros
alunos.
Três das participantes não fizeram qualquer menção a apoios dados pela
escola.
Estes resultados reforçam a ideia já exposta, de que estas alunas, por
não terem Estatuto de Alto Rendimento, não usufruem de qualquer tipo de apoio
dentro do sistema de ensino. Neste contexto é importante sublinhar que as
referidas alunas estudam em diferentes universidades, de diferentes pontos do
país.
A segunda categoria remete para apoio dado pelo clube. Neste capítulo,
cinco das participantes não fizeram qualquer referência em relação ao clube
quando questionadas sobre os apoios que recebiam. Três mencionaram receber
algum apoio; destas, duas referiram que o clube lhes facultava casa, uma
indicou que o clube tem compreensão pelas dificuldades que tem na
compatibilização entre os estudos e a prática desportiva.
“- Clube, o único apoio que o Clube me deu foi a casa, já foi uma
coisa boa mas… pronto, não sei… às vezes … sinto que poderia …
poderiam dar mais apoios.” (Atl2)
“-…ajudou o facto de ir para a Faculdade e os meus pais não
pagarem casa, porque o meu clube dá às atletas de fora do Barreiro
casa.” (Atl7)
“- Os próprios treinadores compreendem a situação e facilitam o
horário de treino de maneira a não prejudicar o treino nem os
estudos.” (Atl9)
Uma atleta referiu não ter qualquer apoio do clube.
“- Não, o Clube apenas faz o papel dele e … não …não… imagine eu
não falto às aulas para ir treinar, isso para mim é completamente
impossível e o Clube sabe. Não me pode exigir mais do que eu posso
dar. Muito menos prejudicar a minha vida académica pelo… pelo
desporto.” (Atl1)
Os resultados de Santos (2010), Zenha e Castro (2012) apontavam para
uma opinião mais favorável dos atletas em relação aos seus clubes. Os dados
que recolhemos não evidenciam uma má relação entre os atletas e os clubes,
mas algum distanciamento (cinco não tecem qualquer comentário). Estamos em
crer que esta situação se deve ao facto de se tratar de Clubes da Liga Feminina
de Basquetebol, muito focados no rendimento. Esta vontade de obtenção de
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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resultados desportivos obriga a muitas horas de treino e colide muitas vezes com
as obrigações da vida académica. Esta incompatibilidade leva a situações de
stress e de difícil gestão por parte das atletas.
A terceira categoria é o apoio dado pela Federação. No que concerne à
colaboração da federação, cinco atletas não fizeram qualquer referência a
ajudas recebidas. Duas referiram que, em situações pontuais, a FPB ajuda na
mudança das datas de exame ou proporciona a possibilidade de realizar os
exames em época especial às atletas que participam nos campeonatos da
Europa. Duas consideram que a federação tem um papel pouco ativo, que pouco
ou nada contribui para a articulação entre a vertente desportiva e a escolar.
“- Parece que… não têm noção que, para existir uma maior ajuda por
parte das Escolas e Universidades… se calhar, deviam de dar a
conhecer a estas os programas dos Clubes e Seleções. Pois …no
final de contas estamos muitas de nós a representar Portugal, devia
de existir algum tipo de ajudas.” (Atl7)
“-… a Federação não se preocupa o suficiente com a nossa vida
académica.” (Atl8)
Uma refere que não vê de que forma a federação pode ajudar no seu
percurso académico.
“- Federação não sei… não vejo a Federação a intervir diretamente
com os meus estudos Universitários.” (Atl2)
Os resultados obtidos no nosso estudo espelham, também, algum
afastamento entre as atletas e a FPB. A alteração das condições de acesso ao
Estatuto de Alto Rendimento será, porventura, a principal razão das críticas das
atletas, que dizem que a FPB tem sido pouco ativa no seu apoio. A mudança das
regras de acesso ao referido estatuto apanhou esta geração de atletas numa
fase de transição entre o ensino secundário e o ensino superior, com
consequências muito negativas nas suas possibilidades de sucesso desportivo e
escolar.
Pérez & Aguillar (2012) sublinham a importância de acompanhar os
momentos de transição destes atletas. Quanto maior for o conhecimento das
dificuldades inerentes a estas fases de “desequilíbrio”, mais aptos estaremos
para ajudar os atletas a conseguirem melhores resultados.
Na quarta categoria, pedimos às atletas sugestões para melhorar a
compatibilização dos estudos com a prática desportiva de alto rendimento.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Cinco das dez atletas, quando foram questionadas sobre que mudanças
gostariam que fossem implementadas para melhorar a “vida” dos estudantesatletas referiram, de imediato, a alteração das condições de acesso ao Estatuto
de Alto Rendimento como a mais urgente e importante.
“- Uma das coisas que era muito boa de voltar a ser reestabelecida
era o Estatuto de Atleta de… Alto Rendimento.” (Atl2)
“-… o acesso ao estatuto de alta competição deveria ser retificado
pois…pois tenho inúmeros exemplos de atletas que dão tantas horas,
todos os dias à sua modalidade e não conseguem o ….referido
estatuto.” (Atl3)
“- Em primeiro lugar todos os atletas terem direito …de novo, ao
Estatuto de Alta Competição. Também a possibilidade de realização
de exames em época especial de forma a conciliar os treino e jogos
com os exames…é fundamental.” (Atl5)
“-…devia ser mais fácil ter acesso ao Estatuto de Alta Competição.
Não é o facto de se atingir ou não certo resultado, que muda todo o
trabalho que se empregou até ali.” (Atl6)
Duas atletas sugeriram que fosse criado um estatuto dentro da
universidade igual ao estatuto de “Trabalhador-Estudante”.
“- Acho que, e como já disse… a par do trabalhar-estudante, também
o atleta-estudante devia ter algum apoio para poder conciliar os
estudos e o seu desporto, para…que não se tenha que optar por uma
ou outra atividade.” (Atl6)
No âmbito de criação de mecanismos de apoio dentro da própria
universidade, uma atleta sugeriu um estatuto de atleta para quem participasse
nos campeonatos universitários. Neste sentido propõe uma atenção especial à
marcação de momentos de avaliação após os jogos, reposição de aulas e a
existência de um horário de atendimento.
“- Deveria haver um maior cuidado na marcação de avaliações em
dias posteriores a jogos, quando o atleta falta as aulas devido a
prática desportiva deveria ter essas aulas repostas…o aluno deveria
ter uma hora de atendimento adequada ao seu horário de modo a
esclarecer dúvidas com o professor quando necessário. Achava
importante que todos os atletas que participem em campeonatos
universitários deveriam ter estatuto… dentro da Universidade.” (Atl4)
Para melhorar os apoios concedidos pela universidade, as atletas fizeram
algumas propostas.
“- Poderia haver um apoio diferente no caso de ausência das
atletas… principalmente em ausências prolongadas… podendo existir
um apoio posterior como compensação da matéria desenvolvida
durante esse tempo.” (Atl8)
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“- Poderia… também, haver um facilitismo maior na entrega de
trabalhos, visto que o tempo que temos não é o mesmo que um
estudante normal.” (Atl8)
“- Na minha opinião, as escolas poderiam ajudar os atletas com a
criação de apoios só para atletas.” (Atl9)
“- Devia de haver uma maior atenção ao serem feitos os horários … e
devia de haver uma maior flexibilidade e compreensão pela parte dos
professores para o caso de ser necessário alguma alteração de data
de frequência ou exame.” (Atl10)
Uma atleta também propôs a existência de uma parceria entre a FPB e
a(s) Universidade(s).
“- Pois, eu acho que se calhar devia de haver uma parceria entre a
Universidade e alguém da Federação que se responsabilizasse por
isso…principalmente as atletas que frequentam a seleção nacional.”
(Atl1)
Neste contexto, duas atletas sugerem que as Universidades sejam
informadas pelas Federações sobre os alunos que são praticantes de desporto
de alto rendimento.
“- As Universidades deviam estar informadas sobre os alunos que são
de alta competição…ter um acordo com as várias federações.” (Atl7)
Uma das atletas propôs uma alteração de fundo ao modelo competitivo
português, colocando o alto rendimento desportivo e a competição desportiva,
até mais ou menos vinte e dois anos, no âmbito do desporto universitário, dando
como exemplo o modelo vigente nos Estados Unidos da América.
“- Mas o que eu gostava realmente de ver era uma grande mudança
nas Universidades, uma que permitisse conciliar desporto e escola
como um, tal como acontece nos Estados Unidos…os horários de
treinos e de aulas estão feitos para que se enquadrem
perfeitamente…” (Atl6)
“- Isto seria quase impossível de implementar cá, pois a alta
competição em Portugal dá-se… ou a nível de seleções nacionais ou
de um número mínimo de clubes, e não à imagem dos Estados
Unidos, onde se compete pela Faculdade… sendo essa liga uma das
mais competitivas do mundo para a faixa etária que compreende.”
(Atl6)
Segundo Pérez & Aguillar (2012), muitos jovens com excelentes
condições para a prática desportiva e que consideram importante a formação
académica para o seu futuro profissional optaram por emigrar para países como
os Estados Unidos para poderem harmonizar estudos e desporto, e assim,
continuarem a sua formação enquanto treinam e competem ao mais alto nível.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Em Portugal, são conhecidos alguns casos de jovens atletas que optaram
por ir para os Estados Unidos para continuar a evoluir nas suas carreiras.
Acreditamos que, provavelmente, as que deram verdadeira prioridade à prática
desportiva já interromperam os estudos ou foram para Estados Unidos, onde a
articulação entre estudos e prática desportiva de alto rendimento está mais bem
organizada, está regulada para ser possível dentro de um nível alto de exigência,
na procura da excelência.
Ter conhecimento destas situações que ocorreram com atletas que
fizeram um percurso semelhante às deste estudo pode levar ao “sonho” de
também querer emigrar ou, como aconteceu, de gostar da ideia de alterar o
modelo competitivo vigente no nosso país. Os Estados Unidos continua a ser o
paradigma da articulação entre estudos e desporto de competição para os
nossos jovens atletas.
Neste contexto, Marques (1999, p.153) refere que “os programas
desportivos de alguns países têm vindo a desenvolver modelos de organização
pedagógica baseados em parcerias com escolas, sendo que escolas, clubes e
federações, assumem compromissos bem definidos nesses programas”.
Ao nível do ensino secundário, estes programas, com mais ou menos
sucesso, têm vindo a ser implantados nas diferentes modalidades desportivas.
No ensino superior, até porque o nível de exigência é maior, é urgente conseguir
operar algumas mudanças estruturantes e estabelecer as sinergias necessárias
para articular a formação desportiva com a formação académica. A melhoria na
comunicação entre a FPB e as Universidades, como foi sugerido por algumas
atletas, é uma das muitas coisas - simples- que se podem realizar tendentes a
melhorar a vida dos estudantes-atleta.
Brettschneider (1999) refere que os jovens atletas são capazes de
suportar a enorme pressão decorrente da conciliação desporto-escola, se forem
disponibilizados os recursos e se forem potencializados os respetivos apoios. É
fundamental permitir que os jovens atletas adquiram habilitações académicas
sem terem de negligenciar os seus compromissos com o desporto de alto
rendimento. Esta deve ser uma das tarefas mais importantes para aqueles que
se sentem responsáveis pelo desenvolvimento dos jovens.
7.1.3.2 Perceção da Articulação
A nona componente é constituída por cinco categorias, são elas:
adaptação/integração ao ensino superior; avaliação do percurso; importância das
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
“tutorias universitárias”; utilização de estratégias conducentes ao sucesso e
prioridade aos estudos ou à formação desportiva.
Na primeira categoria da componente “Perceção da Articulação”,
procurámos saber como é que as atletas avaliavam a sua adaptação/integração
no ensino superior.
Das dez participantes, nove mencionaram que a adaptação ao ensino
superior tinha sido positiva, que não tinham tido dificuldades de integração.
”-… não foi tão difícil quanto eu estava à espera.” (Atl2)
“- …A minha integração no ISCTE… foi…está a ser bastante
positiva.” (Atl3)
“- Creio que correu bem, o facto de ter estado nos centros de treino
incutiu-me, desde cedo, … o sentido de responsabilidade e
organização de modo a render nas duas áreas.” (Atl4)
“- Foi bastante boa. Se há coisa que os Centros de Alto Rendimento
nos dão é uma capacidade de… promover as relações sociais, dãonos outro tipo de cultura social… o que nos torna mais sociais e nos
permite adaptar facilmente a novos desafios.” (Atl5)
“- Muito boa e rápida. Acho que ter participado no CNT e CAR, tendo
que… coabitar com muita gente que não conhecia de início, numa
cidade desconhecida, e acima de tudo, ter que sair de casa dos pais
muito nova, fez com que a etapa que muitos vivem só na entrada
para o ensino superior, fosse vivida mais cedo.” (Atl6)
“- Eu adaptei-me bem, apesar de ser diferente do ensino secundário,
conhecemos pessoas do país inteiro é muito interessante.” (Atl7)
“- Eu adaptei-me muito bem ao ensino superior.” (Atl8)
“- Acho que foi boa, ao início é tudo muito novo e parece complicado
entender este mundo académico, mas com o tempo fui-me
habituando ao ritmo, à exigência e… a pessoas novas.” (Atl9)
Num universo de dez atletas, só uma teve muita dificuldade em se
adaptar à exigência do ensino superior.
“- Foi muito mau… eu não estava habituada a estudar sequer, não
sabia o que era… não estava… não tinha noção. Custou-me porque
percebi que ou estudava muito ou então não dava. E mesmo a
estudar muito… às vezes não dá.” (Atl1)
Nesta categoria percebemos mais uma influência positiva do CNT e do
CAR. Três das atletas referiram que ter feito parte destes projetos as ajudou na
adaptação ao ensino superior.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Na categoria avaliação do percurso, analisámos as possibilidades de
sucesso da conciliação entre a vida académica e a vida desportiva. Das dez
entrevistadas, nove consideram possível a conciliação com sucesso da formação
académica com a prática desportiva de alto rendimento.
-…podia ser melhor, podíamos ter mais apoios, podíamos ter mais
rendimento, mas é possível. (Atl1)
“- No ensino superior já é diferente porque… consegue-se conciliar na
mesma mas já não é tão fácil…” (Atl2)
“- Acho que sim. Posso acabar por não conseguir chegar ao pico
máximo dos dois mas dá, dá para conciliar e conseguir chegar a um
bom nível.” (Atl2)
“- Não acho impossível mas… é preciso ter mais que …força física,
uma força mental muito superior ao que se pensa... a sensação de
desistência persegue o atleta.” (Atl3)
“- Sim, tem de partir do atleta a vontade de se organizar e querer ser
bem-sucedido nas duas áreas, comunicando sempre com o treinador
e os professores de modo a que todos estejam a par da situação e
haja colaboração das duas partes…” (Atl4)
“- Sim, com muito esforço é possível” (Atl5)
“- Acho possível sim. Contudo, é necessário uma boa gestão do
tempo, espírito de sacrifício e muita vontade.” (Atl8)
“- Sim, acho que é possível…porém obriga a um grande esforço.”
(Atl9)
“- Penso que sim, mas há sempre um problema... nunca consegues
estar a 100% nas duas coisas.” (Atl7)
“- Na minha opinião, é extremamente difícil. A Universidade… por si
só já tem um elevado grau de exigência, e quando aliada a atividades
de alta competição, torna-se muito difícil ter sucesso nas duas áreas.”
(Atl10)
Uma atleta considera impossível a conciliação dos estudos no ensino
superior e a prática desportiva de Alto rendimento quando se procura a
excelência nas duas vertentes.
“- Sem dúvida nenhuma que mais útil e mais seguro são os Estudos.
É aliás, algo que insisto em não descurar, se for possível, e digo isto
porque muitas vezes conciliar a alta competição e a disciplina que ela
exige com um alto rigor e exigência de um curso superior, é
impossível, pelo menos com resultados excelentes nas duas
vertentes.” (Atl6)
“- Não…de maneira nenhuma. Ou melhor… quero dizer…é possível
ter sucesso… se baixarmos a fasquia.” (Atl6)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“- Tudo se baseia no trabalho e se não houver estudo suficiente (e
aqui não falamos de ensino secundário, mas sim de um ensino bem
mais exigente), não há boas notas; da mesma maneira, se não
houver muito treino, não se… atinge uma excelente forma enquanto
atleta.” (Atl6)
Os resultados do nosso estudo, com nove das atletas participantes a
defenderem que a conciliação é possível de se realizar com sucesso, convergem
com os obtidos pela maioria dos autores que foram alvo da nossa análise que
também afirmam ser possível a conciliação entre a prática desportiva de alto
rendimento e a formação académica (Castro, 2012; Dias, 2013; Oliveira et al.,
2010; Pérez & Aguilar, 2012 e Santos, 2010).
Neste contexto, Dias (2013) acrescentou que para ser possível a
conciliação as duas atividades, é importante e necessário que as diferentes
instituições
coloquem
em
prática
as
medidas
regulamentadas,
dando
cumprimento ao que está legislado para estes alunos-atletas, ajudando-os,
assim, na sua formação académica.
A terceira categoria incide sobre a importância que os inquiridos dão à
existência de “tutorias universitárias”. Depois de realizarmos uma explicação
detalhada de como funcionam os regimes de tutoria, nove das dez atletas
avaliaram como muito importante as universidades terem, no seu seio,
programas desta natureza.
“- Muito mesmo. Era uma mais-valia porque mostrava que alguém se
preocupava… connosco. … Era o apoio que nunca tivemos aqui a
nível Universitário. (Atl1)
“-…era ótimo porque … assim… sei lá, tínhamos sempre alguém a
dar-nos conselhos, a apoiar-nos a explicar-nos as coisas… mas
também acho que isso devia ser aplicado, por exemplo, em casos em
que há mesmo… em que há mesmo alto rendimento.” (Atl2)
“- Sim, sem dúvida… acho importantíssimo. Ainda estou… no meu
primeiro ano de universidade e … já passei por momentos de
angústia e frustração por me sentir perdida e com vontade de desistir
academicamente…” (Atl3)
“- Sim, acho importantíssimo! Este tipo de projetos podem ditar… a
obtenção de sucesso ou… por outro lado, a desistência de uma das
práticas, do termos de escolher entre uma e a outra…” (Atl5)
“- …é necessário existir um regime especial por parte da Faculdade
para permitir o atleta/estudante ter sucesso na vida académica.” (Atl5)
“ - Sim, como disse anteriormente, acho que só faz sentido haver toda
uma estrutura que suporte que… que se preocupe e atente às
peculiaridades da vida de um atleta de alta competição que seja
estudante no ensino superior…” (Atl6)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“ …acho que é importante os atletas sentirem que existe apoio por
parte das Escolas… das Universidades.” (Atl7)
“- Sim, acho que era muito importante termos um apoio extra e penso
que é isso que falta para o sucesso escolar de muitos estudantes que
praticam desporto de alto rendimento.” (Atl8)
“- Acho fundamental...no decorrer deste ano deu para entender que a
velocidade de estudo na universidade não se compara com o
secundário, pois para um bom rendimento é necessário muito estudo,
era ótimo que existisse esse regime, porque para além da justificação
de faltas… existia um maior apoio académico por parte da
universidade. O que eu acho muito importante.” (Atl9)
“- Penso que iria facilitar muito a vida do estudante desportista, visto
que temos conhecimento das dificuldades que podem estar
associadas a esta conciliação.” (Atl10)
Apenas uma não considera necessário a existência de um regime de
tutoria universitária.
“- Não, uma vez que se trata do ensino superior, o aluno já possui
capacidades cognitivas e físicas suficientes para se tornar
independente e responsável por si mesmo. Deve ser capaz de se
organizar de modo a render nos dois campos tanto o escolar como o
desportivo. (Atl4)
Os resultados que obtivemos estão em linha com o mencionado no
trabalho de investigação realizado por Pérez & Aguillar em 2012. Nove das dez
atletas, quando entrevistadas, consideraram muito importante existir, nas
universidades, programas de apoio aos alunos-atletas, que as acompanhe e
ajude na compatibilização entre as atividades escolares e a prática desportiva.
Os referidos autores (2012) indicaram que os alunos tinham realçado a
importância do apoio que lhes é facultado através do programa de tutorias
personalizadas para desportistas de alto nível (TUDAN). Dada a eficácia do
referido programa, os alunos indicaram que este tipo de apoio se devia tornar
“oficial”.
Vilanova & Puig (2013) acrescentaram ainda que estes programas de
assessoria deveriam existir em todas as fases de desenvolvimento do atleta.
Indicaram ser fundamental um acompanhamento individualizado em função das
necessidades de cada desportista, de modo a ajustar a escolha do tipo de treino,
o estudo, a preparação física e psicológica às suas características. Como
exemplo destes programas de apoio referiram o “Tutoresport” da Universidade
Autónoma de Barcelona.
A Universidade do Minho instituiu, em 2005, um programa com as
mesmas
características,
Paulo Carlos Ferreira da Silva
intitulado
“TutorUM”.
Os
resultados
que
tem
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
apresentado revelam a exequibilidade e pertinência de projetos desta natureza.
Os dados que derivam do nosso trabalho reforçam a necessidade destas
“tutorias” e a disponibilidade das atletas para trabalhar em equipa neste árduo
desafio que é a articulação entre a formação académica e o desporto de alto
rendimento.
A categoria seguinte remete para a utilização de estratégias conducentes
ao sucesso.
Seis das inquiridas revelam que colocam o enfoque na resolução dos
problemas diários, procurando dar respostas positivas às exigências do dia-adia.
“- Organizar melhor o tempo, tentar não perder tempo com coisas
desnecessárias e … ter muita força de vontade.” (Atl1)
“-…eu tento fazer com que o Basket não afete os estudos e fazer com
que os estudos não afetem o Basket” (Atl2)
“- Tento aproveitar ao máximo as horas livres para estudar de modo a
não ficar para trás em nenhuma cadeira e… assim, quando chega a
hora de descansar, descanso sem me preocupar com a escola e na
hora do treino estou pronta mentalmente para tal.” (Atl4)
“- Não falto às aulas e… estudo com muita frequência, cumprindo os
meus objetivos escolares. Nos treinos trabalho todos os dias de uma
forma constante e tento sempre ajudar a minha equipa a atingir os
seus objetivos.” (Atl8)
“- Estou tão focada em resolver, em estar a altura de todos os
desafios que tenho que enfrentar no presente que não penso muito
no futuro. Sei que quero continuar a jogar, a treinar… e terminar o
meu Curso. Depois logo vejo o que posso fazer a seguir.” (Atl9)
“- Tento planificar todos os meus compromissos, tanto da escola
como desportivos, gerindo o meu tempo e organizando todo o tipo de
tarefas que tenho de realizar.” (Atl10)
Duas tentam conciliar os estudos e a prática desportiva, fazendo com que
nenhuma das atividades prevaleça em relação à outra. Elaboram planos para o
futuro: terminar os estudos; ir para o estrangeiro para jogar profissionalmente;
utilização dos estudos como “plano- B” da sua carreira profissional.
“- Infelizmente todo o meu ano tem sido… “embrulhado” dentro de
estratégias para poder estar presente nos “dois lados”, como por
exemplo: faltar a certas aulas que se sobrepõem aos treinos com a
equipa e por outro lado, abdicar de treinos individuais de manhã para
poder assistir a algumas aulas ou, às vezes… simplesmente para
estudar.” (Atl3)
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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“- É natural que durante alturas de exames… descure mais nos
treinos facultativos e aposte mais no estudo e…assim, como nos
momentos mais importantes da época, relegue o estudo para
segundo lugar. Já o método e a disciplina, esses vão estar sempre
presentes…” (Atl6)
“- Também tento estudar quase diariamente, para a matéria se ir…
cimentando. A nível desportivo tento fazer com que cada segundo
conte… sempre que treino dou …110%” (Atl6)
Uma tenta também, encontrar soluções para as contingências do dia-adia. Refere como importante a ajuda que os colegas de curso podem dar ao
facultar os apontamentos das aulas a que elas não podem assistir. Pensa
terminar os estudos rapidamente para poder colocar o basquetebol noutro
patamar de exigência.
“- Procuro ter uma boa organização e ser metódica… são algumas
ferramentas que me ajudam, de alguma forma, a compatibilizar os
estudos ao desporto. A colaboração com os colegas que podem ir a
todas as aulas e fornecer os conteúdos abordados nas aulas
enquanto treino é fundamental.” (Atl5)
“- Se conseguir terminar os meus estudos… mantendo a prática
desportiva com bom nível… já estou a dar um forte contributo para
ser possível concretizar, num futuro próximo, os meus planos…”
(Atl5)
Uma das atletas faz referência à importância de determinar objetivos e
estabelecer prioridades para depois organizar o dia-a-dia e orientar as suas
opções.
“- Eu tenho os meus objetivos definidos…” (Atl7)
Entendemos que todas as participantes no nosso estudo revelam grande
vontade e espírito de sacrifício. Estudar na Universidade e jogar na Liga
Feminina exige organização, boa gestão do tempo e uma resiliência fora do
comum. No dia-a-dia procuram resolver os problemas e ultrapassar as
dificuldades à medida que elas vão aparecendo para assim conseguirem com
sucesso compaginar os estudos e o desporto. Para isso, recorrem a estratégias
como: estudar com muita frequência; aproveitar todas as horas livres para
estudar; não faltar às aulas; pedir apontamentos das aulas que não conseguem
assistir aos colegas de curso; planificar bem os compromissos do dia-a-dia,
tantos os escolares como os desportivos; gerir bem o tempo de descanso.
Estes comportamentos confirmam os resultados obtidos por Pérez &
Aguillar (2012), que apontaram estas estratégias como as eficazes na
harmonização entre as exigências do desporto e as da vida escolar.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
No nosso estudo, sete das atletas entrevistadas revelaram colocar o seu
enfoque na resolução dos desafios do quotidiano, tendo em vista o momento
presente, sem grande preocupação em relação ao futuro. Estas atletas, pelas
suas respostas, parecem revelar primazia pela formação académica. Embora
tentem conciliar as duas vertentes, nos casos de conflito, estamos em crer que
optam pelos estudos em detrimento do desporto.
Apenas três revelaram orientar o seu esforço de articulação das duas
valências de forma a ser possível manter a “prática desportiva com bom nível”.
Os seus comportamentos parecem indicar que procuram concluir o mais
rapidamente possível os estudos para, depois, se poderem dedicar à prática
desportiva em exclusivo. Porventura, estas atletas com a obtenção da
licenciatura tentam ficar habilitadas para exercer uma profissão no fim da
carreira desportiva e, ao mesmo tempo, dar resposta aos anseios da sua família.
Vilanova & Puig (2013) relevaram no seu estudo a importância de se ter
uma estratégia por detrás de todas as ações do dia-a-dia, quando se trata de
compaginar os estudos com o desporto. No seu trabalho de investigação, as
referidas autoras (2013) identificaram dois tipos de estudantes-atletas: os que,
com consciência de futuro elaboram estratégias a longo prazo conducentes ao
sucesso na conciliação; e os que, embora tenham consciência da necessidade
de preparar o futuro profissional, não elaboram qualquer estratégia nem
desenvolvem ações para o efeito.
Parece-nos que as estudantes-atletas que participaram no nosso estudo
estão no primeiro grupo evidenciado por Vilanova & Puig (2013), mas ainda de
uma forma pouco consistente e desorganizada. A entrada na universidade e a
vontade expressa por todas em terminar os estudos revela preocupação em
preparar o futuro profissional. As estratégias que aplicam no dia-a-dia
demonstram organização, uma boa gestão do tempo e vontade de obter
sucesso, tanto na parte académica como na parte desportiva. No entanto, a sua
ação carece, a nosso ver, de uma melhor articulação e planeamento a longo
prazo, de forma a ser possível atingir resultados de excelência no desporto e na
escola.
Para que se possa atingir rendimentos de um patamar mais elevado, é
necessário realizar adaptações no ensino e introduzir novas medidas de apoio.
Os serviços, recursos e ajudas fornecidas pelas universidades aos alunos-atletas
são insuficientes (Pérez & Aguillar, 2012).
É neste grau de sucesso que se insere este conceito de estratégia. A
elaboração de um plano que englobe e comprometa: o atleta-estudante; a
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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família; a escola; a federação; o clube e todas as entidades que façam parte da
sua formação. Só nesta dimensão é que podemos verdadeiramente estar a falar
de “articulação entre formação académica e desporto de alta competição”.
A categoria que encerra esta componente prende-se com o aferir se as
atletas dão prioridade aos estudos ou à formação desportiva. Nesta categoria
cinco indicaram dar prioridade à formação académica.
“-… não tenho dúvidas que a prioridade é a vida académica, porque é
isso que me vai dar futuro. Por muito que eu queira nunca irei viver só
do Basket.” (Atl2)
“- Os estudos sempre foram muitíssimo importantes para mim, porque
sempre tive a noção das minhas capacidades no basquetebol e sabia
que é muito difícil ser profissional de basquetebol… fazer do
basquetebol uma fonte de rendimento.” (Atl7)
“- Se os estudos estavam em primeiro o Basket estava logo em
segundo lugar.” (Atl7)
“- Este ano não participei em nenhum estágio por motivos
académicos”. (Atl8)
Quatro pretendem conseguir conciliar estudos com a prática desportiva
para, quando acabarem o curso, se dedicarem a 100% ao basquetebol. O curso
funciona como “Plano –B”. Não querem descurar os estudos mesmo tendo como
objetivo, num futuro próximo, ir jogar para o estrangeiro.
“-…hoje em dia faço o possível e o impossível para poder conciliar as
duas coisas pois sei que por muito que queira apenas dedicar-me a
100% ao basquetebol, um dia mais tarde os estudos vão ser o meu…
plano-B.” (Atl3)
“- O curso superior é o plano-B, é o colchão de queda, onde nos
podemos resguardar, na eventualidade da interrupção involuntária do
percurso desportivo.” (Atl6)
Uma referiu procurar o equilíbrio entre os estudos e a formação
desportiva.
“-…o plano é conseguir um equilíbrio entre estas duas valências
importantes para mim.” (Atl10)
Os resultados que obtivemos em que cinco atletas indicam que nesta
fase da sua formação dão prioridade aos estudos, quatro investem na
conciliação para rapidamente terminarem o curso e assim poderem dar
continuidade à sua carreira desportiva e, finalmente, uma que procura o
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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equilíbrio entre as duas vertentes, refletem e corroboram outros que fomos
descrevendo anteriormente.
7.1.3.3 Condicionamento ao Alto Rendimento
A componente condicionamento ao alto rendimento foi divida em três
categorias.
Uma primeira categoria é relativa à vida pessoal.
Sem ser um tema central deste estudo, ao longo das entrevistas fomos
ouvindo atletas a referir que a conciliação dos estudos com a prática desportiva
de alto rendimento tinha influência na sua vida pessoal. Aludiam que o estar
menos tempo com a família e com os amigos era dos sacrifícios que mais lhes
custava fazer. Esta opção, para estas atletas, já foi feita há muito tempo quando,
para ir para o CNT ou para o CAR Jamor, tiveram que sair da sua cidade, da
casa dos pais e de ao pé dos seus amigos. No entanto, no presente, ainda
referem que a falta de tempo se reflete, essencialmente, em menos
disponibilidade para os seus familiares e para as atividades de convívio de lazer.
É o “preço” que têm que pagar por dar prioridade aos estudos e ao deporto.
Neste âmbito foram seis as atletas que falaram de interferências na sua
vida pessoal.
“- Coloco, também, os meus objetivos escolares e… desportivos
como prioritários… à frente das outras coisas… só assim, é possível
atingir o sucesso nas duas coisas…” (Atl4)
“- Abdicar de vida social, de muitos momentos de vida familiar para
poder estudar” (Atl5)
“-…esse tempo de treino faz com que não tenhamos talvez tanto
tempo para outras atividades como hobbies, e aí admito que o
tempo… esse sim, limitadíssimo.” (Atl6)
“-…por vezes, para conseguir conciliar os estudos e o desporto, a
família e os amigos tem de ficar para terceiro plano.” (Atl7)
“-…embora sinta que me falta tempo para outras atividades que eu
gostava de fazer e não tenho tempo.” (Atl8)
“… ao ter que abdicar de muitas saídas com os amigos para poder
estudar. “ (Atl9)
Estes seis testemunhos confirmam que a vivência em simultâneo da
formação académica com a prática desportiva condiciona a vida pessoal das
atletas, nomeadamente, no pouco tempo para a família, para atividades de lazer
e de convívio com os amigos. Estes resultados convergem com os obtidos por
Zenha (2010), Santos (2010) e Castro (2012), que verificaram que a falta de
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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tempo disponível para si e para o lazer é um dos principais pontos negativos na
conciliação entre o alto rendimento e a formação académica.
Abordamos numa segunda categoria, se seriam melhores alunas se não
estivessem ligadas ao desporto de alta competição.
Nesta categoria encontramos o grupo de atletas dividido. Quatro acham
que não seriam melhores alunas se não praticassem desporto com o nível de
exigência do alto rendimento.
“…acho que não, acho que seria igual ou que, se calhar até pior, não
sei…” (Atl1)
“- Não, pois o fato de ser uma atleta de alto rendimento obriga-me a
ser sempre competitiva e isso traduz-se na escola onde compito com
outros para ter melhores notas.“ (Atl4)
“- Eu acho que não, eu sempre fui uma aluna mediana, e continuei a
ser depois de entrar na Universidade.” (Atl7)
“- Não, sinceramente não.” (Atl8)
Quatro atletas afirmam que, neste momento, seriam melhores alunas se
não praticassem desporto.
“- Neste momento acho…sinceramente, sinto que nem sempre
consigo dar o máximo de mim quer como atleta, quer como aluna por
isso sim, se abdicasse que… qualquer uma das ocupações,
melhoraria na outra.” (Atl3)
“- Sim. Com o nível de exigência que tenho na Universidade ajudava
se não tivesse tantas horas de treino e de jogos ao fim de semana…”
(Atl5)
“- Sem dúvida alguma. Estamos a falar de ensino superior…” (Atl6)
“- Se não me deitasse tão tarde por causa dos treinos, ou tivesse as
tardes mais livres por não ir ao ginásio, se tivesse todo o fim de
semana para me dedicar a um estudo intenso, com certeza e
naturalidade os meus resultados subiriam.” (Atl6)
“- Penso que sim. Pelo menos teria mais tempo para me organizar,
para concentrar as minhas energias, o que poderia contribuir para um
melhor rendimento escolar.” (Atl10)
E duas indicam que “talvez” fossem melhores alunas se não tivessem
que conciliar as duas valências.
– Não sei. Isso é difícil de prever. Mas, claro que se não treinasse
tantas vezes ou se não tivesse tantos jogos, tinha mais tempo livre,
também diria que tinha mais tempo para estudar e… seja para o que
for… não sei, talvez… o sei é difícil de prever…Talvez. (Atl2)
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- Talvez…se não competisse teria mais tempo para estudar, talvez
pudesse ter melhores resultados escolares. (Atl9)
Os nossos resultados aproximam-se aos de Zenha, Resende & Gomes
(2009) que verificaram no seu estudo que 49,4% dos seus inquiridos respondeu
que o desporto não influência negativamente a vida escolar, 27,8% que interfere
e 22,8% assumem algumas dúvidas acerca da interferência. A maior diferença
situa-se no grupo dos que dizem que o desporto interfere negativamente no
rendimento escolar. Enquanto na investigação de Zenha, Resende & Gomes
(2009) 27,8% assumia que o desporto influencia o aproveitamento escolar, no
nosso estudo este número aumentou para 40%. Entendemos que este aumento,
provavelmente, se deve ao facto destas atletas estarem muito focadas no
rendimento e perceberem, também pela sua experiência de vida, que se
pudessem dedicar mais tempo aos estudos melhores resultados conseguiriam.
Os referidos autores também sublinharam nas suas conclusões a importância de
conciliar as duas atividades na formação integral do indivíduo. Provavelmente as
atletas do nosso estudo dão, nesta fase, menos importância à formação integral
por estarem mais interessadas em obter resultados imediatos ao nível do
rendimento escolar.
Zenha (2010) também concluiu que a formação desportiva e a escolar se
complementam. Castro (2012) indicou no seu estudo que as atletas
consideravam que não seriam melhores alunas se não praticassem desporto.
Porventura, a razão principal pela qual quatro atletas do nosso estudo afirmam,
ao contrário do que defende Castro (2012), que seriam melhores alunas se não
fossem atletas é a exigência do ensino superior, mais exigente do que o
secundário, o que implica a necessidade de maior disponibilidade para estudar.
Neste contexto, Santos (2010) aludia que os atletas que investigou
consideravam que podiam ser melhores alunos, caso não fossem atletas de alto
rendimento. O referido estudo aportava que, com mais tempo livre, os alunos
podiam estudar mais e, assim obter melhor aproveitamento escolar. As
participantes do nosso estudo que afirmaram que seriam melhores alunas se
não fossem atletas, baseiam-se neste mesmo princípio para justificar a sua
opinião.
Os resultados de Dias (2013) concorrem para estas conclusões ao
afirmar que tendencialmente os atletas revelavam que podiam ser melhores
alunos se não competissem.
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
A última categoria desta componente visa perceber se na opinião das
nossas entrevistadas, estas seriam melhores atletas se não estudassem.
Neste capítulo oito atletas foram perentórias ao afirmar que seriam
melhores atletas se não tivessem que conciliar a prática desportiva com os
estudos.
“Às vezes sim… às vezes estou o dia todo na Universidade a estudar,
depois tenho um exame e chego ao treino completamente…mesmo a
nível mental… sem, sem resposta, apática.” (Atl1)
“- …sim, pois dedicar-me-ia a cem por cento ao desporto que pratico.”
(Atl4)
“- …com mais tempo disponível poderia treinar mais e melhor…seria,
certamente, melhor atleta.” (Atl5)
“- Tenho ideia que sim, podia-me focar a 100% apenas num objetivo.”
(Atl10)
Deste grupo de oito, três reforçam a ideia ao dizer que só é possível
atingir o nível de excelência quando nos dedicamos a uma só atividade.
“… acho que se nos dedicarmos só a uma coisa acabamos por ser
muito bons nessa coisa… se dividirmos com… com outra coisa
diferente, acabamos por não sermos excelentes nas duas, mas
conseguimos chegar a um nível que nos agrade.” (Atl2)
“- Se não estudasse, teria muito mais tempo para me dedicar a treinar
e, principalmente, para focar todos os meus esforços, tantos os
físicos, como já referi, como os mentais para atingir resultados bem
melhores.” (Atl6)
“-…no entanto fico sempre na expetativa de talvez conseguir ir bem
mais longe, tanto de um lado como do outro, se apenas me dedicasse
a uma dessas duas atividades, comprometendo-me… assim sim, a
100%.” (Atl6)
E uma considera que seria melhor atleta se não estudasse, mas ressalva
a importância de uma formação integral.
“-…penso que sim, mas não seria uma pessoa tão culta. As duas
coisas fazem falta, é muito importante conseguir conciliar tudo.” (Atl7)
De todas as atletas, apenas duas responderam com um “talvez”.
“- Talvez, pois poderia treinar de manhã e ao final do dia sem
qualquer restrição.”
“-… se não estudasse passava mais tempo nos pavilhões a treinar,
talvez me tornasse melhor atleta.” (Atl9)
Nesta categoria os resultados foram muito claros, oito participantes
defenderam que seriam melhores atletas se não fossem estudantes no ensino
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
superior e apenas duas responderam com um “talvez”. Estes resultados
corroboram com uma das conclusões de Dias (2013), que quando se referia à
carreira desportiva defendeu que existe uma relação direta entre o tempo
dedicado ao treino e o rendimento alcançado. As atletas que participaram no
nosso estudo demonstraram estar cientes deste princípio. Só é possível atingir
níveis de excelência no desporto com uma dedicação total e exclusiva.
Santos (2010) defende que existe uma correlação negativa entre as duas
atividades, com os alunos-atletas a mencionarem que seriam melhores numa
atividade se não exercessem a outra. Os nossos resultados confirmam a parte
de que seriam melhores atletas se não fossem estudantes.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
CONCLUSÕES
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
8 Conclusões
Terminado a presente estudo, pretendemos agora apresentar as
conclusões e dar resposta aos objetivos traçados desde o início para a nossa
investigação.
Analisámos um grupo de atletas em percurso de alto rendimento, com
presença regular nas seleções nacionais, estudantes do ensino superior e a
competir na Liga Feminina de Basquetebol. Procurámos perceber, através dos
seus olhos e do seu pensar, quais as dificuldades que vivenciam, que
estratégias utilizam e que soluções apontam para articular, com sucesso, a
formação académica com a prática de desporto de alto rendimento. De uma
forma mais concreta os objetivos do nosso estudo foram: (i) identificar que tipos
de apoios têm os estudantes em percurso de alto rendimento durante o ensino
secundário e que influências têm no seu rendimento escolar e desportivo; (ii)
identificar os constrangimentos que vivem os alunos praticantes de desporto de
alto rendimento na sua adaptação e integração ao ensino superior; (iii) identificar
que apoios e que recursos, consideram os alunos do ensino superior praticantes
de desporto de alto rendimento, fundamentais para articular a formação
académica com a prática desportiva; e (iv) perceber que estratégias
desenvolvem os desportistas de alto rendimento para compatibilizar a formação
académica com a prática desportiva.
No decorrer da investigação emergiram três domínios: a experiência
pessoal; apoios e dificuldades (no ensino secundário e no ensino superior) e a
conceção dos apoios e dificuldades.
Em relação ao primeiro objetivo a que procurámos dar resposta identificar que tipos de apoios têm os estudantes em percurso de alto rendimento
durante o ensino secundário e que influências têm no seu rendimento escolar e
desportivo - percebemos que o facto das atletas que participaram neste estudo
terem estado, durante o ensino secundário, integradas nos centros de treino da
Federação Portuguesa de Basquetebol, levou a que, durante este período,
tenham usufruído de medidas de apoio à conciliação dos estudos com a prática
desportiva.
Durante as entrevistas aquilatámos a relevância que elas atribuem a esta
experiência na sua formação desportiva, dado que todas a classificaram como
decisiva e muito importante no seu crescimento como jogadoras de basquetebol.
Em suma, responsabilizaram a formação que tiveram em Centro de Alto
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Rendimento, durante o ensino secundário, pela performance que hoje
apresentam e pela atitude que têm para com a prática desportiva de alto
rendimento.
No entanto, em relação à formação académica, constatámos existirem
opiniões muito diferentes sobre a influência dos centros de treino. Quatro atletas
referiram que a influência no aproveitamento escolar foi negativa; três
manifestaram que foi muito importante na promoção do seu sucesso escolar;
duas indicaram que o rendimento escolar ficou dentro das suas capacidades e,
por último, uma assumiu que o seu aproveitamento escolar piorou mas por sua
responsabilidade.
Esta disparidade de respostas aportou alguma estranheza, dado que o
objetivo principal destes projetos é a compatibilização do rendimento académico
com o desportivo.
No que concerne à utilização de medidas de apoio, as atletas
entrevistadas identificaram três como as que usufruíram durante esta fase do
ensino secundário. Quatro das participantes indicaram a “justificação de faltas”
como a medida que mais vezes tiveram que utilizar. As deslocações frequentes
para treinos e jogos levavam a ausências regulares às aulas tornando, assim,
necessária a respetiva justificação de faltas. Três das atletas fizeram referência à
“alteração de datas de avaliações”. A participação durante a semana em treinos
e jogos obrigava a que, com alguma frequência, fosse necessário mudar o dia
das avaliações. Por outro lado, podemos afirmar que o facto de estas atletas não
terem Estatuto de Alto Rendimento levou a que não pudessem recorrer, nesta
fase, a esta medida de apoio e, assim, tivessem realizado os exames nacionais
nas épocas normais, mesmo quando estavam em estágios da seleção nacional,
em preparação para os Campeonatos da Europa. Por último, as atletas
indicaram as “aulas de compensação”. Constatámos que metade das
participantes relataram ter usufruído deste tipo de apoio. Parece-nos importante
ressalvar que as referidas aulas foram disponibilizadas, maioritariamente, no
âmbito do funcionamento dos centros de treino.
Quanto ao segundo objetivo, predispusemo-nos a averiguar que
constrangimentos vivem os alunos praticantes de desporto de alta competição
na sua adaptação e integração ao ensino superior.
Das dez participantes, nove asseveraram que a adaptação às exigências
do ensino superior foi positiva, que não sentiram dificuldades de integração. No
entanto, identificaram três contingências como as mais importantes no seu dia-aPaulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
dia de estudante-atleta. A primeira mais mencionada foi a “falta de tempo”. Foi
referenciada por nove entrevistadas e denuncia a dificuldade que elas
apresentam em realizar uma gestão do tempo eficaz para dar resposta positiva
às exigências e obrigações do seu quotidiano.
Falta de tempo para estudar e para descansar, e a sobreposição de
horários são condicionalismos com que têm que lidar regularmente.
Neste sentido, metade das atletas que participaram no estudo indicou o
“cansaço e a fadiga” como das principais dificuldades que têm que enfrentar.
Quatro aludiram que o cansaço condiciona o seu rendimento escolar e
desportivo. Identificámos, assim, o cansaço como uma das principais razões
para o insucesso, tanto escolar como o desportivo, e uma das causas para o
drop out.
Três das dez atletas entrevistadas fizeram referência ao “desgaste
provocado pelas deslocações”. As viagens que, diariamente, estas atletas
realizam para ir para o treino ou para a universidade implicam maior desgaste,
menos tempo de descanso e muito tempo perdido.
Num outro plano, seis testemunhos afirmaram que a vivência em
simultâneo da formação académica com a prática desportiva condicionou a sua
“vida pessoal”, nomeadamente, no pouco tempo disponível para a família, para
atividades de lazer e de convívio com os amigos. Confirmando a falta de tempo
para si e para o lazer, como um dos pontos negativos na conciliação entre o alto
rendimento e a formação académica.
À pergunta se seriam “melhores alunas” se não estivessem ligadas ao
desporto de alta competição encontrámos o grupo de atletas dividido. Quatro
consideraram que não seriam melhores alunas se não praticassem desporto
com o nível de exigência do alto rendimento; quatro afirmaram que seriam
melhores alunas e duas indicaram que “talvez” fossem melhores alunas se não
tivessem que conciliar as duas vertentes.
Em relação ao rendimento desportivo, oito atletas foram perentórias ao
afirmar que seriam “melhores atletas” se não tivessem que conciliar a prática
desportiva com os estudos. De acordo com os resultados encontrados existe
uma correlação negativa entre as duas atividades, com as alunas-atletas a
mencionarem que seriam melhores jogadoras de basquetebol se não
estudassem, em simultâneo, no ensino superior. As atletas que participaram no
nosso estudo demonstraram ser conhecedoras que só é possível atingir níveis
de excelência no desporto com uma dedicação total e exclusiva.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
O terceiro objetivo passava por analisar quais os apoios e que recursos
consideram fundamentais os alunos do ensino superior praticantes de desporto
de alto rendimento para articular a formação académica com a prática
desportiva.
Neste contexto, constatámos que as atletas participantes no estudo, na
sua maioria (9), não têm Estatuto de Alto Rendimento e por isso, à luz da
legislação em vigor, são consideradas alunas “normais” dentro das instituições
de ensino superior, não usufruindo assim de qualquer medida de apoio. Importa,
ainda, sublinhar que as referidas alunas são provenientes de diferentes
universidades, de diferentes pontos do país.
Nestas circunstâncias algumas atletas mencionaram ter recebido, em
situações pontuais, apoio dentro das instituições de ensino. Duas referiram que
puderam mudar datas de avaliação quando estiveram ao serviço da seleção
nacional, e uma fez referência a alguma compreensão em relação à justificação
de faltas e mudança de datas de avaliação, por estar a estudar num curso da
área de desporto.
No âmbito da alteração de comportamentos por parte dos professores
durante as atividades letivas, sete das entrevistadas anuíram que nunca
sentiram qualquer tipo de alteração e as restantes três indicaram que já sentiram
alterações positivas. Quanto aos colegas de curso, sete não fizeram qualquer
referência a alterações de comportamento; duas disseram que os colegas de
curso desconhecem a sua condição de atleta e as dificuldades inerentes à
prática de desporto de alto rendimento; e apenas uma referiu que os colegas de
curso têm conhecimento e respeitam o facto de ela ser atleta.
No que diz respeito à ligação clube-atleta, os dados que recolhemos não
evidenciam uma má relação entre os atletas e os seus clubes, mas algum
distanciamento (cinco não tecem qualquer comentário). Acreditamos que esta
situação se deve ao facto de estarmos a falar de Clubes da Liga Feminina de
Basquetebol, muito direcionados para o rendimento. Este enfoque nos
resultados desportivos obriga a muitas horas de treino e colide, frequentemente,
com as obrigações escolares. Esta incompatibilidade leva a situações de stress
e de difícil gestão. Das atletas que participaram no nosso estudo só três
referiram algum apoio dado pelo seu clube. Duas referiram que o clube lhes
facultou alojamento; uma aludiu alguma compreensão pelas suas obrigações
escolares.
No entanto, convém ressalvar que das dez atletas que pesquisámos sete
afirmaram que tinham escolhido a universidade mais perto do clube onde
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
jogavam ou iam jogar nessa época e só três referiram que a escolha da
universidade não esteve relacionada com o desporto que praticam, ou com o
clube onde jogam.
Neste sentido tentámos, também, aquilatar que tipos de apoio recebiam
as atletas da sua federação. Os resultados obtidos no nosso estudo traduzem,
também, algum afastamento entre as atletas e a FPB. Cinco atletas não fizeram
qualquer referência a ajudas recebidas. Duas referiram que, em situações
pontuais, a FPB as ajudou na mudança das datas de avaliações e lhes
proporcionou a possibilidade de realizar os exames em época especial quando
participaram em Campeonatos da Europa. Duas consideram que a federação
tem um papel pouco ativo e que pouco ou nada tem contribuído para a
articulação entre a vertente desportiva e a escolar. Uma referiu não saber como
é que a federação a poderia ajudar no seu percurso académico.
Feita a diagnose, importava então analisar que apoios e recursos
consideravam as atletas que deviam ser implementados/melhorados para
facilitar a articulação da formação académica com a formação desportiva. Cinco
das dez atletas referiram a alteração das condições de acesso ao Estatuto de
Alto Rendimento como a mais urgente e importante. A mudança das regras de
acesso ao referido estatuto apanhou esta geração de atletas numa fase de
transição entre o ensino secundário e o ensino superior, com consequências
muito negativas nas suas possibilidades de sucesso, tanto a nível desportivo
como escolar.
Neste contexto duas atletas sugeriram que fosse criado um estatuto
dentro da universidade igual ao estatuto de “Trabalhador-Estudante”. No âmbito
de criação de mecanismos de apoio dentro da própria universidade, uma atleta
propôs uma atenção especial à marcação de avaliações após os momentos de
competição, reposição de aulas e a existência de um horário de atendimento
para atletas de alto rendimento. Três atletas referiram que a federação devia ter
uma relação mais estreita com as universidades, mantendo-as informadas, por
exemplo, sobre os atletas praticantes de desporto de alto rendimento,
particularmente aqueles que estão envolvidos nos trabalhos de seleção nacional.
Uma das atletas sugeriu uma alteração de fundo ao Modelo Competitivo
Português colocando o alto rendimento e a competição desportiva, nestas
idades, no âmbito do desporto universitário, dando como exemplo o modelo
vigente nos Estados Unidos da América.
Analisando detalhadamente as entrevistas dadas pelas participantes
deste estudo emerge a ideia que, à semelhança do que acontece no ensino
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
secundário, é urgente conseguir operar mudanças estruturantes, estabelecer
sinergias para harmonizar a formação desportiva com a formação escolar no
ensino superior e, assim, permitir que os jovens atletas adquiram habilitações
académicas sem terem de desistir dos seus objetivos no desporto de alto
rendimento.
Estas alterações, potencialmente, têm que começar no seio das
universidades. As mudanças que urge introduzir são para conceder aos atletas –
estudantes, possibilidades de sucesso académico iguais a todos os outros
alunos. É neste contexto que se inserem as “tutorias universitárias”
Depois de realizarmos uma explicação pormenorizada de como
funcionam estes regimes de tutoria, nove das dez atletas avaliaram como muito
importante as universidades terem, na sua matriz, programas desta natureza. Os
dados que derivam do nosso trabalho reforçam a necessidade destas “tutorias” e
a disponibilidade das atletas para trabalhar em equipa neste árduo desafio que é
a articulação entre a formação académica e o desporto de alto rendimento.
Perceber
que
estratégias
desenvolvem
os
desportistas
de
alto
rendimento para compatibilizar a formação académica com a prática desportiva
foi o nosso quarto objetivo.
Neste âmbito importa enquadrar as atletas participantes no nosso estudo
em relação aos seus objetivos a nível desportivo, académico e de inserção no
mercado de trabalho.
À pergunta sobre que prioridades estabeleceram nesta fase da sua
formação, cinco atletas indicaram que deram prioridade aos estudos, quatro que
investiram na conciliação entre a formação académica e a prática desportiva
para rapidamente terminarem os estudos e encetarem uma carreira desportiva.
Por último, uma afirmou que tem procurado o equilíbrio entre as duas vertentes.
Quando questionadas sobre os seus objetivos a curto prazo verificámos
que, apesar das contingências de um dia-a-dia de grande exigência, seis das
atletas apresentaram objetivos claros e ambiciosos a nível desportivo; as outras
quatro associaram os seus objetivos à conciliação da prática desportiva de alto
rendimento com os estudos.
Relativamente ao longo prazo, verificámos uma prevalência do desporto
nos objetivos delineados pelas atletas. Quatro das inquiridas assumem vontade
em ir jogar para o estrangeiro; duas pretendem conciliar a sua atividade laboral
com a prática do basquetebol; uma mantém a vontade de continuar a jogar
basquetebol a alto nível em Portugal e apenas duas mencionaram a
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
possibilidade de deixarem de jogar basquetebol. Uma referiu considerar ser
difícil manter o alto nível quando tiver que conciliar trabalho e desporto de
competição.
Quanto à duração da carreira desportiva, oito das entrevistadas
declararam querer ter uma carreira longa, continuando em atividade enquanto
tiverem aptidão física para o fazer; só duas consideraram a hipótese de
antecipar o fim da sua carreira desportiva para dar prioridade a uma atividade
profissional.
Neste âmbito, seis das entrevistadas não pensam vir a jogar basquetebol
profissionalmente e só quatro indicaram ter vontade em seguir uma carreira de
jogadora profissional de basquetebol logo que terminem os seus estudos.
Todas as participantes na nossa investigação referiram a sua área de
estudos universitários como muito importante na escolha do seu futuro emprego,
como tendo um papel decisivo na sua transição para o mercado de trabalho.
Como complemento das ideias expostas, questionámos as referidas
atletas sobre as que tinham como objetivo conciliar uma atividade laboral com a
prática desportiva. Quatro evidenciaram a vontade de encontrar um emprego e
continuar a jogar basquetebol; quatro anuíram que só pensavam começar a
trabalhar quando a sua carreira desportiva acabar; e duas indicaram que o
começar a trabalhar poderá implicar, a curto prazo, o abandono da prática
desportiva.
Colocámos, também, a pergunta sobre o que pretendiam fazer quando a
sua carreira como jogadoras de basquetebol chegar ao fim. Nove das inquiridas
afirmaram ter como prioridade encontrar um emprego dentro da sua área de
formação
universitária;
só
uma
manifestou
a
vontade
em
continuar
profissionalmente ligada ao basquetebol, apesar da sua área de estudos não
estar relacionada com a modalidade. Estes resultados revelam que a maioria
das atletas pretende exercer uma atividade profissional fora da sua modalidade
desportiva.
Perante o exposto importava perceber que tipos de estratégias
delinearam as atletas para atingirem, com sucesso, os objetivos a que se
propuseram.
Seis das inquiridas revelaram que colocam o enfoque na resolução dos
seus problemas, procurado dar respostas positivas às exigências do dia-a-dia;
duas referiram que tentam conciliar os estudos e a prática desportiva fazendo
com que nenhuma das atividades prevaleça em relação à outra, agem em
função dos planos que têm para o futuro (terminar os estudos, ir para o
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
estrangeiro para jogar profissionalmente, etc.). Uma tenta também encontrar
soluções para as contingências do dia-a-dia; referiu como importante a ajuda
que os colegas de curso lhe dão ao facultar os apontamentos das aulas a que
ela não pôde assistir, pensa terminar os estudos rapidamente para poder colocar
o basquetebol noutro patamar de exigência; e, por último, uma fez referência à
importância de primeiro determinar objetivos e estabelecer prioridades, e só
depois organizar o seu dia-a-dia e orientar as suas opções.
Entendemos que todas as participantes no nosso estudo revelam grande
vontade e espírito de sacrifício. Estudar na universidade e jogar na liga feminina
exige organização e uma resiliência fora do comum. Como estratégias mais
habituais referiram: estudar com muita frequência; aproveitar todas as horas
livres para estudar; não faltar às aulas; pedir aos colegas de curso apontamentos
das aulas a que não conseguem assistir; planificar bem os compromissos do diaa-dia, tantos os escolares como os desportivos e gerir bem o tempo de
descanso. Estas ações configuram estratégias eficazes na harmonização entre
as exigências do desporto e as da vida escolar.
A inscrição no ensino superior e a determinação expressa por todas em
concluir os estudos é reveladora de algum cuidado em preparar o seu futuro
profissional. No entanto, a sua ação carece, a nosso ver, de uma melhor
articulação e planeamento a longo prazo de forma a ser possível atingir
melhores resultados.
Terminado o estudo, entendemos que apesar das dificuldades inerentes
a uma vida desportiva e académica intensa, a articulação entre o sucesso no
desporto e o sucesso na escola é possível. Nove das atletas participantes
responderam em consonância com esta conclusão. Apenas uma classificou este
desígnio como impossível, quando o objetivo é a excelência nas duas vertentes.
Concluímos também que para que se possa atingir rendimentos de um
patamar mais elevado é fundamental sermos capazes de realizar adaptações no
ensino e introduzir novas medidas de apoio para os estudantes-atletas.
É neste grau de sucesso que se insere este conceito de estratégia. A
construção de um plano que reúna e comprometa: o atleta-estudante; a família;
a escola; a federação; o clube e todas as entidades que contribuam para a sua
formação. Só nesta dimensão é que estaremos, verdadeiramente, a falar de
“Articulação entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento”.
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
Sugestões para Futuras Investigações
Findo este trabalho de investigação, consideramos que ele é um pequeno
contributo no que concerne ao estudo da articulação entre a formação
académica e o desporto de alto rendimento.
Assim sendo, pensamos ser importante deixar algumas sugestões para
possíveis estudos a realizar, no futuro, dentro desta temática.
Neste contexto indicamos a realização de um estudo semelhante ao
nosso, mas com atletas do sexo masculino. No basquetebol existem muitos
atletas com um percurso escolar e desportivo igual ao descrito para as atletas
internacionais que constituíram a amostra do nosso estudo. Seria muito
interessante aquilatar que perspetivas e comportamentos caracterizam os jovens
jogadores estudantes universitários da Liga masculina de basquetebol (LPB).
Consideramos também ser importante realizar estudos com atletas com
percursos idênticos mas praticantes de outras modalidades, tanto coletivas como
individuais.
Por último, sugerimos a realização, num futuro mais distante, de estudos
de análise do percurso destes atletas ao nível do sucesso e da duração da
carreira desportiva e ao nível da sua inserção do mundo do trabalho, tentando
perceber o que resultou da estratégia e do esforço por eles despendido, na
articulação da vertente escolar com a desportiva.
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BIBLIOGRAFIA
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Paulo Carlos Ferreira da Silva
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ANEXOS
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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ANEXO 1 - Guião de Entrevista
Paulo Carlos Ferreira da Silva
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Guião de Entrevista
Identificação da Atleta:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Nome?
Idade?
Local de Residência?
Modalidade?
Clube?
Competição?
Nº de jogos por época?
Nº de treinos semanais?
9. Participação em estágios de seleção nacional? Qual? Quantos estágios
nesta época?
Formação e Experiência Desportiva
1.
2.
3.
4.
Há quantos anos és federada nesta modalidade?
Registos competitivos que possas referenciar como currículo?
Quantas internacionalizações ao longo da carreira?
Já alguma vez participaste em Campeonatos da Europa? Quantas e em
que escalão?
5. Quais os objetivos a curto, médio e a longo prazo?
6. Até quando pensas que vai durar a tua carreira de atleta de alta
competição?
7. O que pensas fazer depois? (o que lhe será mais útil no futuro para a sua
inserção no mercado laboral… o Desporto ou os Estudos?)
Formação Académica
1. Que curso estás a frequentar? Em que ano?
2. Estás no curso que querias? (foi a tua 1ª escolha; relação do desporto
que praticas com a escolha da área de estudos, …)
3. Qual o estabelecimento escolar que frequentas?
4. Quais as razões que te levaram a optar por esta Escola?
Apoios / Dificuldades na Conciliação
1. Durante o teu percurso no ensino secundário tiveste ou beneficiaste de
medidas de apoio à conciliação do desporto de alto rendimento e a
formação e sucesso escolar?
Se não, porquê?
Se sim, quais as desenvolvidas pela escola? Qual a mais utilizada?
Quais as desenvolvidas pelo clube? Qual a mais utilizada?
Quais as desenvolvidas pela federação? Qual a mais utilizada?
Paulo Carlos Ferreira da Silva
Página XXI
Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento
Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol
2. O facto de teres feito, durante o ensino secundário, parte de projetos
como o centro nacional de treino e/ou centro de alto rendimento (CAR
Jamor) teve alguma influência no teu rendimento desportivo e escolar?
Se não, porquê?
Se sim, que tipo de influência ou benefícios sentiste?
3. Desde que entraste no ensino superior tens tido ou usufruis algum tipo de
apoio no sentido conciliação entre a prática de desporto de alto
rendimento e a formação e sucesso académico?
Se não, porquê?
Se sim, quais as desenvolvidas pela escola? Qual a mais utilizada?
Quais as desenvolvidas pelo clube? Qual a mais utilizada?
Quais as desenvolvidas pela federação? Qual a mais utilizada?
4. O que consideras fundamental que fosse melhorado ou alterado? (2 ou 3
propostas)
5. Sentiste alguma alteração de comportamento por parte da “escola” pelo
facto de seres uma aluna praticante de desporto de alto rendimento? Se
sim, de que forma?
6. Achas importante a existência de um regime de “tutoria universitária” de
apoio ao estudante desportista?
7. Nas condições atuais achas possível a obtenção de sucesso no Desporto
de alto rendimento e na formação académica no ensino superior, quando
vividos em simultâneo?
8. Como é que avalias a tua adaptação/integração ao ensino superior?
Achas que serias melhor aluna se não competisses?
E vice-versa? Serias melhor atleta se não estudasses? Tens sentido
dificuldades na conciliação dos estudos com o desporto? Se não,
porquê?
Se sim, quais as dificuldades mais evidentes? Que estratégia (s) aplicas,
no teu dia-a-dia, para compatibilizar os estudos e a prática desportiva? E
para atingir os teus objetivos a curto, médio e longo prazo?
Paulo Carlos Ferreira da Silva
Página XXII
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