JOGOS COOPERATIVOS E A INCLUSÃO SOCIAL1
Autora: Adriana Lena Sassi2
Orientador: Inácio Brandl Neto3
RESUMO: Este artigo tem como tema os jogos cooperativos nas aulas de Educação Física como forma de
inclusão social. Seu objetivo é mostrar como as atividades cooperativas podem ajudar na inclusão social,
através de jogos e brincadeiras com essa filosofia, que pretende uma revisão de valores em relação aos
que já existem que são baseados na competição exacerbada e no desrespeito ao ser humano. A
metodologia utilizada foi um questionário com oito questões para os alunos das quintas e sextas séries
responderem, sendo cinco questões fechadas e três abertas a opiniões, e a aplicação de uma aula semanal
versando sobre o tema, totalizando trinta e cinco aulas. Os resultados de um modo geral indicam uma
tendência à melhoria do relacionamento interpessoal, diminuição da agressividade e da exclusão,
apontando a relevância das atividades cooperativas na escola. Existe a necessidade de jogar uns COM os
outros, superar desafios conjuntos, compartilhar sucessos, vencer juntos e quebrar as barreiras do
individualismo. O confronto é minimizado e dá lugar ao encontro, à união das pessoas em prol da mesma
finalidade, visando à eliminação do medo e do fracasso individual.
Palavras- chave: Jogos cooperativos. Escola. Inclusão social.
ABSTRACT: This article is about Cooperative Games which can be used as a form of social inclusion in the
Physical Education classes. It uses games with a philosophy that changes the view of the regular games,
usually based just on competition and lack of respect to the human being. The methodology used was a
questionnaire with eight questions (three of them to answer with personal opinion) directed to students
attending the fifth and sixth grade and one weekly class on the subject (totaling 35 classes). The results
show a great improvement in the interpersonal relations, a decrease of exclusion and aggressively, what
indicates the relevance of these activities at school. . The Cooperative Games uses the necessity of
collective actions, everybody playing together to reach a common goal. In these games, there is the
necessity of playing WITH and not AGAINST each other, always trying to bit the challenges, sharing the
success and winning together. Everything to overcome the individualism. The confrontation is minimized, so
takes place the union of the players to reach the same objective, eliminating the fear of the individual failure.
Key Words: Cooperative Games. School. Social Inclusion.
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento social é um fator de extrema importância em todos os
segmentos da vida, especialmente no que tange à criança e seu processo de
aprendizagem, o fator da qualidade do relacionamento interpessoal é primordial para o
sucesso ou o fracasso de seu envolvimento no âmbito escolar.
É bastante intrigante perceber entre inúmeros paradoxos, aquele apresentado pela
escola, no sentido de pretender a interação a qualquer custo, porém, sem investir
diretamente na organização de estratégias voltadas a esta finalidade (FREIRE, 1984).
1
Artigo Científico apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.
Professora de Educação Física da Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Paraná, formada pela
Universidade de Passo Fundo – RS, Pós-Graduada em Educação Motora pela UNIOESTE – Campus de
Francisco Beltrão.
3
Professor de Educação Física da UNIOESTE, Mestre em Educação/Educação Motora.
2
2
Com a entrada da criança na quinta e sexta séries do ensino fundamental, é básico
o papel desempenhado por sua identificação no grupo, constituindo-se no elemento chave
para a incorporação dos valores que permeiam a vida.
Nessa fase as necessidades de expressão dos aspectos afetivo-emocionais estão
centradas nas trocas de experiências propiciadas por inúmeras atividades, dentre elas os
jogos, a qual representa um dos meios efetivos nesse processo.
Nesse sentido, a aula de Educação Física é uma excelente oportunidade de se
implementar tais estratégias pedagógicas, que devem ser utilizadas pelo professor com a
finalidade de ampliar a reflexão dos alunos sobre a idéia de que se pode ganhar sempre,
mesmo sem ter que, necessariamente, vencer, e propiciar a implementação de atitudes
éticas durante as relações, lançando desafios que extrapolam os muros das instituições
escolares e refletem, inclusive, no âmbito do lazer. A aplicação de propostas de atividades
que estejam voltadas às ações cooperativas pode tornar-se um diferencial para a
transformação do ambiente de ensino, favorecendo, inclusive, a integração professoraluno-comunidade.
Partindo destes pressupostos é que se estruturou este estudo, que visa observar o
posicionamento dos alunos em relação às problemáticas apresentadas e à possível
inserção dos Jogos Cooperativos no contexto escolar como processo de aprimoramento
do relacionamento interpessoal, diminuição da agressividade e da exclusão. Para tanto,
foi elaborada uma revisão de literatura sobre os elementos teóricos envolvidos e uma
pesquisa exploratória.
O estudo foi desenvolvido por meio da oferta de atividades de caráter cooperativo
para uma população alvo composta de alunos regularmente matriculados na quinta e
sexta série do ensino fundamental de uma escola da rede pública da cidade de Realeza,
no Estado do Paraná. Após essas atividades, procedeu-se uma pesquisa exploratória,
utilizando-se como instrumento um questionário, contendo perguntas abertas e fechadas.
DESENVOLVIMENTO
Revisão de Literatura
PEQUENA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA
No final do século XIX, ano de 1882, Rui Barbosa, deputado geral do Império,
afirmaram a importância da ginástica para a formação do cidadão, equiparando-a em
3
categoria e autoridade às demais disciplinas. A partir de então, a Educação Física tornouse componente obrigatório dos currículos escolares. As práticas pedagógicas escolares
da Educação Física foram fortemente influenciadas pela instituição militar e pela
medicina. A Educação Física se consolidou no contexto escolar a partir da Constituição
de 1937, quando objetivava doutrinar, dominarmos e conter os ímpetos das classes
populares. Com a Reforma Capanema, Lei Orgânica do Ensino Secundário, em 1942,
ampliou-se a obrigatoriedade da Educação Física até os 21 anos de idade, para formar
mão-de-obra fisicamente capacitada para o mercado de trabalho. A partir de 1964, o
esporte consolidou sua hegemonia na Educação Física através do método tecnicista,
centrado na competição e no desempenho. Nesse período, aos olhos do regime militar, a
Educação Física era vista como importante recurso de formação do homem que serviria
ao projeto de Brasil. A disciplina estava ligada à aptidão física. (PARANÁ,Diretrizes
Curriculares do Estado do Paraná).
Em meados da década de 1980, começou a se formar uma comunidade científica
na Educação Física, de modo que passaram a existir tendências, cujos debates
evidenciavam severas críticas ao modelo vigente... Entre outras correntes destacam-se as
seguintes abordagens: Desenvolvimentista, construtivista, crítico-superadora, críticoemancipatória. Amparadas nestas leituras, as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná
propõe a inclusão da reflexão sobre as necessidades atuais de ensino e a superação de
uma visão fragmentada de homem.
Não é possível negar a forte ligação e identificação da Educação Física com o
esporte. Conseqüentemente, não é difícil compreender e afirmar que o paradigma da
competição esteja tão incorporado e seja quase inquestionável para parte dos
professores. Essa concepção reducionista da Educação Física já vem sendo criticada há
algum tempo por professores, pesquisadores e autores desta área. Resgatando a origem
do esporte percebe-se a supervalorização da competitividade, atendendo aos anseios da
sociedade capitalista na qual a Escola está inserida.
Se analisarmos um pouco da evolução histórica da humanidade, podemos
constatar que o ser humano nasce motivado a aprender, explorar o mundo, adquirir
conhecimento, experiências, relacionar-se com pessoas, beneficiando-se de todo este
aprendizado. Enquanto somos crianças, aprendemos jogando e explorando o mundo à
nossa volta, na medida em que vamos crescendo, vai ocorrendo toda uma formatação da
escola, família e sociedade para que nos tornemos pessoas sérias, responsáveis, com
uma postura sisuda e rígida. Quando rimos e nos divertimos, há uma libertação dos
bloqueios, da seriedade paralisante, da rigidez (moral/social), libertando a consciência, as
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emoções, o pensamento e a imaginação, que ficam suscetíveis para o aprendizado de
novos conhecimentos, tendo o prazer de aprender.
No decorrer dos anos, nossa cultura se desenvolveu fundamentada e alicerçada na
sociedade capitalista, individualista e competitiva, repassando todos estes valores para
população, inventaram instrumentos de medida para ver se uma pessoa era mais ou
menos inteligente (QI), estimulavam a disputa, rotulavam os alunos e desenvolviam
sentimentos de rancor, intriga, disputa, rivalidade e muitos outros. O TER é mais
valorizado do que o SER, caso não ocorra uma mudança em nosso comportamento, bem
como na forma de nos relacionarmos com os outros e com nosso planeta, certamente,
dentro em breve não haverá mais Planeta Terra.
JOGOS
O tema referente ao jogo tem sido abordado em áreas distintas do conhecimento
humano, evidenciando-se a colaboração da educação física e da educação, entre tantas
outras. Os conceitos de jogo são complexos e dependem especificamente da concepção
filosófica de suas inúmeras teorias. O termo jogo é associado, muitas vezes, à
brincadeira, brinquedo, recreação, no entanto, tem um caráter próprio, favorecendo
resoluções de problemas de diversas naturezas, permeadas de simbologia. O jogo é
intrinsecamente motivado, espontâneo voluntário e prazeroso, tendo um fim em si
mesmo.
Para Caillois (1990), o jogo corresponde a uma ocupação voluntária, que ocorre
dentro dos limites precisos de tempo e espaço. Já para Carneiro (1995), jogo é tido como
um patrimônio do ser humano, tendo sido focalizado sob diversas óticas e significados ao
longo da história da humanidade. Huizinga (1971), posteriormente, salientou o papel do
jogo no desenvolvimento da satisfação de necessidades vitais. Piaget (1982) evidenciou o
papel do jogo no desenvolvimento da inteligência da criança, onde este tem uma evolução
que perpassa pela exercitação, no período sensório-motor; jogos simbólicos, com
predominância na fase escolar e com forte caracterização da imitação, jogos com regras,
pressupondo a existência de parceiros e um conjunto de obrigações, conferindo-lhe um
caráter social favorecendo avanços do pensamento e a preparação, a análise e o
estabelecimento de relações. Este autor salienta ainda que a motricidade inerente à
prática de jogos e brincadeiras intervém nas funções cognitivas nos diversos níveis, onde
todos os mecanismos perceptivos têm suas bases.
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A possibilidade de ativação, especialmente nos jogos motores, evidencia a
capacidade de provocar contatos corporais, alternância dos estados de tônus muscular, o
desenvolvimento postural e a regulação dos estados afetivo-emocionais, enriquecendo
sobremaneira a construção da personalidade, conforme salienta KAMII; DEVRIES (1991).
Além dos aspectos motores, aquelas atividades que provocam a aproximação por
motivos relacionados à cooperação, são altamente relevantes, uma vez que estas podem
catalisar mudanças atitudinais importantes.
Os jogos possuem funções essenciais, muito importantes na formação do ser
humano, como:
- Serve para explorar: o mundo de quem joga, e suas próprias atitudes.
- Reforça a convivência: modifica e aprimora o relacionamento interpessoal.
- Equilibra o corpo: atua como um circuito auto-regulável de tensões e
relaxamentos.
- Produz normas, valores e atitudes: o jogo nos forma em direções variadas, cabe a
cada um de nós fazer a melhor escolha.
- Fantasia: Transforma o sinistro em fantástico.
- Induz as novas experimentações: permite aprender através de erros e acertos.
- Torna a pessoa mais livre: permite a pessoa conduzir-se ou não frente às
dificuldades. No caso o prazer de jogar supera o desejo de vencer
No estilo de jogo em que o espírito competitivo é de exclusão faz as equipes
jogarem umas contra as outras. Há rivalidade, tensão e sentimento de derrota.
Desenvolve-se o egoísmo e o direito aos melhores. A preocupação é com o resultado,
que é o que elimina o adversário.
No estilo de Jogo em que se compete COOPERANDO, as equipes são parceiras,
uma joga com a outra. Ninguém é rejeitado. Desenvolve-se a autoconfiança. Uns
contribuem para adequar as possibilidades dos outros dentro do jogo. O resultado é uma
ação conjunta e o sucesso é compartilhado.
Os Jogos Cooperativos surgiram com a constante valorização dada ao
individualismo e a competição das quais foram condicionadas e aprendidas como única e
melhor forma de caminho existente. Sendo assim, existem duas definições que foram mal
interpretadas e divulgadas durante várias décadas que contribuíram para esse caminho:
A primeira é de Charles Darwin, que fala da seleção natural, em que as maiorias das
pessoas dizem que o melhor está na sobrevivência do mais forte e mais apto para vencer,
afirmando, ainda, que, para a raça humana, o valor mais alto de sobrevivência está na
inteligência, no senso moral e na cooperação social e não na competição.
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Como podemos avaliar, várias pessoas utilizaram à palavra sobrevivência como
forma de promover sempre o melhor capacitado por meio de uma competição, da qual
somente um ganha e não na forma que deveria ser, ou seja, de compartilhar o papel de
cada um numa unidade inter-relacionada.
A segunda é do francês Pierre de Coubertin (idealizador da nova era olímpica),
que diz que o mais importante não é vencer, mas tornar parte; importante na vida não é
triunfar, mas esforçar-se; o essencial não é haver conquistado, mas haver lutado.
O esporte tem sua glorificação máxima com a chegada da Olimpíada, cujo ideal é unificar
a paz e a união entre todos os povos do mundo. Como sabemos, porém, a cada ano que
passa tornou-se uma mera máquina de tecnologia, em que atletas são treinados para
ganhar a qualquer custo, mas esquecendo o símbolo que ela representa que é
universalizar culturas e raças para gerarem um momento de confraternização pacífica,
direcionando para a conquista com dignidade e respeito.
Partindo dessas duas visões descritas, buscamos em Brotto (1997, p.33) algumas
definições sobre competição e cooperação: COOPERAÇÃO: é um processo onde os
objetivos são comuns e as ações são benéficas para todos. COMPETIÇÃO: é um
processo onde os objetivos são comuns, mutuamente exclusivos e as ações são
benéficas somente para alguns. Neste sentido, podemos constatar que Cooperação e
Competição são processos distintos, porém, não muito distantes. As fronteiras entre eles
são tênues, permitindo certo intercâmbio de características, de maneira que podemos
encontrar em algumas ocasiões uma competição cooperativa e noutras uma cooperação
competitiva.
Para Orlick (1989,p.118), a principal diferença entre cooperação e competição é
que no primeiro todos cooperam e ganham, eliminando-se o medo do fracasso e
aumentando-se a auto-estima e a confiança em si mesmo. Ao passo que no segundo, a
valorização e reforço são deixados ao acaso ou concedidos apenas ao vencedor, o que
gera frustração, medo e insegurança.
Sendo assim, podemos afirmar que cooperação e competição são direcionadas a
partir de agora em comparações entre as diferenças e atitudes que essas duas palavras
podem tomar:
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COOPERAÇÃO (APRENDE-SE)
A compartilhar, respeitar e integras
diferenças;
A conhecer nossos pontos fracos e fortes;
A ter coragem para assumir riscos;
Sentimentos e emoções com liberdade;
A participar com dedicação;
COMPETIÇÃO (INICIA-SE)
Com a discriminação e a violência;
Com o medo de arriscar e fracassar;
Em fazer por obrigação;
Pela repressão de sentimentos e emoções;
Pelo egoísmo, individualismo e competição
excessiva.
A ser solidário, criativo e cooperativo;
A ter vontade de estar junto.
Vale salientar que não são todas as pessoas no mundo que agem dessa maneira.
Pelo contrário, trabalham, integrando a cooperação e a competição. O que acontece é
que na maioria das vezes somos dirigidos a pensar que a maneira de competir
corretamente é aquela que precisamos sempre vencer a qualquer custo. Partindo das
diferenças entre cooperar e competir, veremos a seguir alguns tipos de padrões de
atitudes de percepção/ação que vivenciamos no dia-a-dia:
OBJETIVO
O OUTRO
OMISSÃO
(individualismo)
Insuficiência
impossível
Ganhar sozinho
Quem?
COOPERAÇÃO
(encontro)
COMPETIÇÃO
(confronto)
Suficiência possível
Escassez, exclusão
Ganhar do outro
Inimigo
Desconfiança e
rivalidade
Jogar contra;
rendimento
Tenso e pesado
Vitória
MOTIVAÇÃO
Jogar sozinho; ser
jogado
Monótono
Individualismo
Alienação e
indiferença
Isolamento
Ganhar junto
Amigo
Parceria e
confiança
Jogar com troca e
criatividade
Leve e ativo
Compartilhamento
Sucesso e
compartilhamento
Amor
RELAÇÃO
Cada um na sua
SENTIMENTOS
Solidão e opressão
Alegria, satisfação
SÍMBOLO
Muralha
Ponte
PERCEPÇÃO/AÇÃO
VISÃO DE JOGO
AÇÃO
CLIMA DO JOGO
RESULTADO
CONSEQUÊNCIA
Acabar logo o jogo
Medo
Insegurança,
frustração
Obstáculo
O propósito desse quadro é mostrar que toda e qualquer experiência humana tem
diferentes possibilidades para perceber e optar por alternativas que propiciam viver uma
mesma situação. Com esta visão, podemos despertar e aperfeiçoar o exercício da
escolha pessoal, com responsabilidade e liberdade.
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No Dicionário Aurélio a palavra competição consta como sinônimo de luta, desafio,
disputa, rivalidade. E a palavra Cooperação como comum, colaboração, ajuda, auxílio.
Follett, afirma que, ao competirmos, nossas paixões e interesses estão em conflito
com paixões e interesses do outro e o "poder-sobre" (se um ganha, o outro perde; se um
domina, o outro é dominado; se um se alegra, o outro se entristece; etc.) passa a ser o
meio de resolução destes conflitos.
Já, em um processo de cooperação, essa relação muda. As paixões e interesses
podem até ser diferentes - e normalmente são - mas os conflitos gerados por elas são
construtivos (buscam a integração de diferenças), pois sua base está, como cita Follett,
no "poder-com": se um ganha, todos ganham, pois este é o poder legítimo, o poder
conjunto que traz enriquecimento e progresso para a alma humana.
Para cooperar é necessário um alto grau de convivência e de doação, assim como
uma boa relação consigo mesmo, o que é um desafio para a maior parte das pessoas,
sendo mais fácil colocarem a necessidade de mudança no outro, e com isso se omitir.
Como trabalhar em conjunto sem querer ganhar do outro a todo custo? Como podemos
nos desenvolver enquanto equipe quando o foco está em competir? A competição dificulta
as relações, gerando um clima de medo, dependência, rivalidade, desconfiança e
estresse; criando barreiras entre as pessoas.
Quando se tem a consciência deste contexto e dos efeitos de ambas as
polaridades, Competir ou Cooperar passa a ser uma questão de escolha pessoal. Muitas
pessoas desejam de fato cooperar, mas dentro de si têm muitas inibições, barreiras,
emoções negativas e terminam voltando ao modelo competitivo.
Nesse contexto percebem-se três pontos mais marcantes:
1. A competição é muito forte em nossa sociedade, sendo reforçada a cada
instante como natural e único caminho;
2. Quando a pessoa busca um caminho diferente é estimulada, direta e
indiretamente a seguir com a maioria e precisa de uma força muito grande para insistir em
um caminho alternativo.
3. O condicionamento para a competição está de tal forma instalada dentro do ser
humano que quando ele percebe (se é que percebe), já foi.
A questão do condicionamento está ligada ao nosso sistema de crenças e valores
e este sistema rege o comportamento humano.
Verificar quais as crenças que nos norteiam, ou seja, que tipo de programação
existe dentro da pessoa é fundamental para qualquer realização e mudanças que se
deseje.
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Se
analisarmos
nossa
sociedade,
fica
facilmente
evidenciado
a
sua
competitividade, porém, este não é o grande desafio do ser humano, pelo contrário, não
ganharemos com a derrota do outro, sobrepujando-o em habilidade, força ou inteligência,
mas sim conseguindo conviver e trabalhar com o outro, apesar de suas diferenças,
exercitando o diálogo, a empatia e o respeito. Em suma, eles constituem um instrumento
lúdico, capaz de provocar uma ruptura em nossa subjetividade individualista e competitiva
e, com isso, provocar uma revisão de valores e condutas permeadas em nosso cotidiano,
caminhará em direção de um mundo mais cooperativo, justo e solidário (um caminho para
a paz).
JOGOS COOPERATIVOS
Segundo Orlick (1989), como jogamos na sociedade em que vivemos, o jogo serve
para criar o que é refletido. Muitos valores importantes e modos de comportamento são
aprendidos por meio dessa experimentação.
Com base nas falas registradas aqui, os Jogos Cooperativos têm como conceito
procurar a ensinar e aprender a rever nossas experiências e reciclar pensamentos,
sentimentos, intenções e emoções para que reconheçamos e valorizemos nosso próprio
jeito de jogar e respeitar o dos outros, em seus diferentes modos de ser. E mais, descobrir
que jogando com os outros podemos buscar o crescimento do eu dentro de cada um de
nós.
Os jogos cooperativos nasceram há milhares de anos, quando membros das
comunidades tribais se reuniam para celebrar a vida em volta de uma fogueira. Segundo
Barreto (apud SOLER,2003, p.21), “Jogos Cooperativos são dinâmicas de grupo que tem
por objetivo, em primeiro lugar, despertar a consciência de cooperação, mostrar que a
cooperação é uma alternativa possível e saudável no campo das relações sociais: em
segundo lugar, promover efetivamente a cooperação entre as pessoas, na exata medida
em que os jogos são, eles próprios, experiências cooperativas”.
Devem-se enaltecer então os valores que surgem numa situação de cooperação,
como a amizade, sensibilidade, ajuda mútua, a intercomunicação de idéias e o orgulho
em pertencer ao grupo, que são características das crianças.
Na Educação, novos paradigmas estão mostrando formas diferentes de ver o ser
humano e o mundo, como é o caso da corporeidade, da complexidade e da teoria
sistêmica, que são perspectivas mais humanas. Capra (1996) escreve sobre duas
tendências atuais. A primeira seria a “auto-afirmativa” (cartesiana, tradicional, exclusiva,
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competitiva, diretiva) e, a segunda a “integrativa” (abrangendo as novas perspectivas).
Numa revisão sobre valores ele cita a competição como pertencente à primeira tendência
e a cooperação como pertencente à segunda.
Brotto (2002, p.27) nos traz algumas idéias sobre cooperação e competição.
Segundo ele, a cooperação, “é um processo de interação social, em que os objetivos são
comuns, as ações compartilhadas e os benefícios distribuídos para todos”. E a
competição, “é um processo de interação social em os objetivos são mutuamente
exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas as outras e, os benefícios são
destinados somente para alguns”.
Soler (2003, p.23) explica que “os jogos cooperativos são uma abordagem
filosófica pedagógica criada para promover a ética da cooperação e a melhoria da
qualidade de vida para todos, sem exceção”.
Nos jogos cooperativos, os participantes jogam um com os outros e, não uns contra
os outros, buscando a participação de todos, sem que alguém fique excluído, pois
possuem o objetivo e a diversão centrados em metas coletivas e não individuais. Ganhar
e perder, só serve para o aperfeiçoamento pessoal e coletivo.
Os jogos cooperativos, conforme Soler (2003), tem várias características
libertadoras, coerentes com o trabalho em grupo:
- Libertam da competição: participação de todos para uma meta em comum.
- Libertam da eliminação: buscam a integração de todos:
- Libertam para criar: as regras são flexíveis e, todos podem contribuir para mudar
o jogo.
- Libertam da agressão física: todos trabalham juntos, então não podem brigar.
Também podemos desenvolver algumas atitudes nos jogos cooperativos:
- A empatia: Pôr-se no lugar do outro:
- A cooperação: trabalhar em prol de uma meta comum:
- A estima: reconhecer e expressar a importância do outro:
- A comunicação: Diálogo, intercâmbio de sentimentos, conhecimentos, problemas
e perspectivas.
Segundo Barreto (apud SOLER,2003, p.24), os jogos se baseiam em cinco
princípios fundamentais:
- Inclusão: trabalhar com as pessoas no sentido de ampliar a participação e a
integração delas no processo em curso:
- Coletividade: conquistam e ganhos que somente conseguem coletivamente:
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- Igualdade de direito e deveres: responsabilidade de todos pela decisão e gestão,
como a repartição dos benefícios promovidos pela atividade cooperativa.
- Desenvolvimento humano: o aprimoramento do ser humano enquanto sujeito
social:
- Processualidade: A cooperação privilegia os meios, cada passo é dado levandose em conta os anteriores.
Como ensinar a jogar de forma cooperativa:
A pedagogia dos jogos cooperativos, para Brotto apud SOLER (2003:20) é apoiada
nessas três dimensões de ensino-aprendizagem:
1) Vivência: incentivando inclusão de todos:
2) Reflexão: Incentivar as pessoas a refletir sobre as possibilidades de modificar o
jogo, para melhorar a aprendizagem de todos.
3) Transformação: ajuda a sustentar a disposição para dialogar, decidir em
consenso.
Podemos dizer que o processo do jogo cooperativo é dividido em: Ação – Reflexão
– Ação melhorada.
Conforme Brotto (1997, p.16) os Jogos Cooperativos vêm com a intenção de
compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para correr riscos com pouca
preocupação com o fracasso e sucesso em si mesmo. Eles reforçam a confiança em si
mesmo e nos outros, e todos podem participar autenticamente, onde ganhar e perder são
apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo.
Dentro desta visão, podemos concluir o raciocínio que os Jogos Cooperativos são
uma forma de integrar os valores humanos e a convivência dos indivíduos no
desenvolvimento de uma aprendizagem, de forma a estar jogando uns com os outros ao
invés de uns contra os outros.
Os jogos cooperativos são novas formas de jogar em que todos posarem “vencer”
(o neologismo “vencer” significa vir a ser consigo mesmo e com os outros).
Os Jogos Cooperativos, podem servir como um instrumento da Cultura da
Cooperação, trabalhando o indivíduo na sua integralidade e a sua interdependência com
os demais colegas de sua escola, fazendo com que ele experimente e vivencie os jogos,
nos quais uma nova proposta e um novo paradigma são propostos: o de somar esforços
em prol de um objetivo comum.
Os jogos cooperativos não são apenas uns fins, isto é, simples técnicas de
facilitação ou recreação do trabalho grupal, mas sim os meios através dos quais
poderemos promover experiências portadoras de um significado, que irão dar novos
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sentidos à prática coletiva. Desta forma, podemos trabalhar com os jogos cooperativos de
várias maneiras, desde as práticas grupais, os encontros de estudos e debates, os
festivais, a mesa do bar, o churrasco de final de semana e a partida de vôlei ou futebol,
elementos que servem como instrumento para nos ajudar a levar a cooperação para a
construção de um mundo melhor.
Frente a este novo caminho surgido, foi dado início a aplicabilidade dos jogos como
ferramenta pedagógica de ensino, eis que são versáteis, com regras flexíveis e por isso
adaptam-se a todo o tipo de pessoas, grupos, espaços e competência. A ludicidade
garante o divertimento e o prazer, o aspecto sócio-afetivo de estar com o outro e não
contra o outro, possibilitando trabalhar a idéia de equipe, e uma oportunidade de incluir e
não excluir as pessoas.
Há o resgate de valores que até então, estavam esquecidos, caminhando para
direção de construção de uma sociedade mais cooperativa, emancipadora, democrática,
solidária,
justa,
alegre,
permeada
por
emoções
autenticas
e
verdadeiras.
Por estes motivos, a educação em valores está plenamente vinculada aos jogos
cooperativos, pois há a participação de todos, cada qual com suas competências, não
existindo cobranças, nem julgamentos, pois o que importa, é o todo, o trabalho do grupo,
o processo, resgatando valores esquecidos pela sociedade capitalista/competitiva. O mais
importante é ajudar as pessoas a verem a si mesmas e os outros como seres humanos
igualmente valiosos, tanto na vitória, como na derrota, introduzindo valores adequados no
jogo, tais como, ganhar, perder, sucesso, fracasso, rejeição, jogo limpo, amizade,
companheirismo, aceitação, cooperação e competição sadia.
Na realização destas atividades, inúmeros são os sucessos pessoais que podem
ser oferecidos e desenvolvidos, o qual não tem nada a ver com ganhar, tais como,
melhorar as destrezas, novos movimentos, jogos, exercícios, formações, melhorar o
autocontrole, controlar o temperamento, relaxar-se, melhorar o relacionamento com os
companheiros,
professores,
superação
dos
erros,
discussão
dos
resultados,
contraposição de idéias enfim, uma infinidade de benefícios agregados à aplicabilidade
dos jogos cooperativos, por estes palpáveis motivos, creio que a referência para
construção de um mundo melhor é a cooperação.
Sabemos hoje o quanto os jogos de uma forma geral podem aguçar sensibilidades
e competências como o pensar, criar, tocar, ver, mover-se, etc. Os educadores cada vez
mais utilizam os jogos como método pedagógico de ensino. Entendo que os Jogos
Cooperativos e a Pedagogia da Cooperação estão perfeitamente alinhados com as idéias
de Gardner quanto ao desenvolvimento das Múltiplas Inteligências em muitos aspectos.
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Os Jogos Cooperativos são versáteis, com regras flexíveis e por isso adaptam-se a
todo tipo de pessoas, grupos, espaços e competências. Facilitando inclusive a utilização
de mesmas estruturas para diferentes disciplinas sem perder o desafio do jogo. De forma
geral, os jogos têm uma estrutura simples, o que permite certa facilidade na aplicação, e
profundidade no momento da exploração do jogo e relação com o conteúdo que se deseja
trabalhar de forma ampla, auxiliando na construção do conhecimento, e também de
valores e identidade. São Jogos Inclusivos, ou seja, reforçam competências existentes e
desenvolvem outras de forma respeitosa, sendo exatamente a inclusão, um dos princípios
fundamentais da Pedagogia da Cooperação e do Jogo Cooperativo. Todos participam,
cada qual com suas competências, naquele momento, e não existem cobranças ou
julgamentos, pois nessa proposta o que importa é o todo, o trabalho do grupo e não a
comparação individual como nos jogos competitivos. O processo é muito mais valorizado
que o resultado. Se existe alguém com uma limitação que impediria sua participação,
esse é um desafio para que o grupo encontre alternativas onde o jogo seja possível para
todos, e ao mesmo tempo o jogo seja interessante e desafiador. Nos Jogos Cooperativos,
valoriza-se quem joga, muito mais do que o jogo e desta forma pode-se experimentar o
verdadeiro VenSer.
Vivenciando os Jogos Cooperativos, pode-se sentir essa diferença e analisar qual
situação é mais compensadora, qual postura é mais interessante, tornando-se consciente
do fato e optando-se por uma direção. As pessoas buscam seu bem estar a todo o
momento, mesmo quando estão proporcionando o bem estar ao outro. Os jogos
cooperativos foram organizados de maneira a atenderem à necessidade de promoção de
habilidades interpessoais e de auto-estima, possuindo uma estrutura que favorece o jogo
com o outro e não contra o outro, conforme evidencia BROTTO (2001). Este autor
acrescenta que os jogos cooperativos representam uma abordagem filosófico-pedagógica
criada para a promoção de uma nova ética de cooperação, visando à melhoria da
qualidade existencial.A principal característica destes é o aperfeiçoamento das
habilidades de relacionamento e, com estas, a possibilidade de afetar toda a sociedade,
transformando atitudes, uma vez que a vida em sociedade representa um grande
exercício de solidariedade e de cooperação (ORLICK, 1989; BROTTO, 2001).
A base dos princípios que regem a ação cooperativa é centrada na inclusão e no
processo de compartilhamento de ações, onde os resultados apresentam-se de forma
benéfica a todos, repercutindo positivamente na concepção de um grupo, no momento da
ação e posteriormente, com a disseminação destes valores no âmbito da vida diária, o
que salienta sua importância no contexto escolar.Com base nestas perspectivas, o estudo
14
centrou a atenção, então, na possibilidade de ressignificação destes valores no âmbito da
educação escolar, na perspectiva de promoção de novas atitudes.
Para a realização de um processo de conscientização e de redução da competição
e da exclusão é necessário que algumas estratégias, relativas ao universo de atuação
profissional e pessoal referentes a uma melhor estruturação social e de mudanças dos
valores disseminados, sejam repensadas.
Neste âmbito, aparecem como elemento decisivo, as fundamentações das
atividades profissionais do professor de Educação Física, os quais, por meio de uma
adequada seleção dos objetivos e conteúdos pedagógicos, podem sugerir atividades de
conscientização, integração e cooperação, que sejam mais efetivas e preventivas no
combate destas ações de violência.
Este profissional tem inúmeros recursos para incentivar atitudes inclusivas e
fomentar a interação social entre os alunos, pelo fato de lidar com o corpo em movimento,
o que vai ao encontro das expectativas e necessidades biopsíquicas e sociais de todas as
faixas etárias e pela riqueza de exploração do universo lúdico.
É neste contexto que aparecem os Jogos Cooperativos como um dos recursos
sugeridos, possível de serem implementados na Educação Física, por apresentarem uma
estrutura alternativa aos jogos formais, os quais são baseados apenas em atitudes
antagonistas, como ganhar e perder.
METODOLOGIA
Baseada nas idéias dos autores citados e na experiência de vinte anos de trabalho
com turmas, foi selecionada uma escola de ensino fundamental da rede pública da cidade
de Realeza, estado do Paraná através de uma autorização (termo de consentimento) do
diretor permitindo que o estudo pudesse ser desenvolvido no estabelecimento de ensino.
A escolha das turmas a vivenciar as atividades ocorreu dentre duas classes de 5ª série e
três classes de 6ª Série desta escola, conforme compatibilidade de horário. Ao todo,
foram 150 alunos distribuídos entre as 5 turmas. Foram ministradas 35 aulas de 50
minutos durante o ano letivo envolvendo atividades cooperativas. Estas aulas, ministradas
pela professora de Educação Física, consistiam de brincadeiras, jogos e conversas
baseadas em autores já citados na revisão. Após a consulta da literatura, alguns jogos
foram selecionadas e adaptados ao contexto da escola e às características dos alunos.
Foi realizada uma pesquisa exploratória, como complemento à literatura revisada. Foi
15
aplicado um questionário contendo 8 perguntas mistas, aos alunos participantes do
estudo.
O questionário tem as funções de descrição e de medição da proposta
apresentada, tendo como vantagem proporcionar aos participantes maior liberdade e
tempo de reflexão para o preenchimento das respostas em relação a outros instrumentos
de coleta de informações (RICHARDSON, 1989). O questionário foi elaborado junto com
o orientador, baseado em outros já existentes. Mesmo assim ele foi testado com um
grupo de alunos que não participaram da pesquisa. Ele se mostrou consistente, não
necessitando de mudanças.
As perguntas relacionaram-se à visão dos alunos quanto ao perfil das aulas de
educação física e o conhecimento sobre jogos cooperativos. Dentre os 150 alunos
pesquisados, 85 deles pertenciam às classes de 5ª séries e 65 educandos eram das 6ª
séries do ensino fundamental da Escola Estadual Dom Carlos Eduardo. A idade média
dos alunos era de 10 e 11 anos.
Com base nas respostas obtidas por meio dos questionários, procedeu-se à
Técnica e Análise das respostas como recurso interpretativo para se atingir os objetivos
propostos.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A seguir serão apresentados gráficos relativos a cada questão apresentada no
questionário (em anexo) e discutido os resultados obtidos.
A primeira pergunta é relativa ao gostar das aulas de Educação Física. Dos alunos
pesquisados, 99% responderam que gostam por que faze bem a saúde, é divertido, é
alegre, gostam de praticar esportes enfim, associaram as aulas a diversão, alegria,
esportes e saúde. Apenas 0,1% responderam que não gostam por que são deixados de
lado nas aulas, isto é, sentem-se excluídos.
O gráfico 1 está relacionado às atividades desenvolvidas nas aulas de Educação
Física.
16
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Esportes
Jogos e Brincadeiras
Dança
Ginástica
Não opinaram
1ª
2ª
3ª
4ª
atividade atividade atividade atividade
Com relação às atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física, dentre os
alunos entrevistados, 86% enumeraram os esportes como atividade mais trabalhada; 24%
enumeraram os jogos e brincadeiras como atividade mais trabalhada; 80% citaram os
jogos e brincadeiras como segunda atividade mais trabalhada, 8% citaram os jogos e
brincadeiras, 4,6% citaram a ginástica, 3,4% citaram a dança e 4,0% não opinaram; 62%
enumeraram a ginástica como terceira atividade mais trabalhada; 24% citaram a dança;
10% citaram os jogos e brincadeiras como terceira atividade; 2,0% indicaram os esportes
como terceira atividade e 2,0% não opinaram; 64% enumeraram a dança como quarta
atividade mais trabalhada; 22,7% enumeraram a ginástica; 4,0% citaram os jogos e
brincadeiras; 9,3% não opinaram.
O gráfico 2 está relacionado à prática de esportes com as regras oficiais.
70
60
Praticam esportes com
regras oficiais
50
Às vezes praticam com
regras oficiais
40
Não praticam com regras
oficiais
30
20
Não praticam com regras
oficiais
10
Não opinaram
0
Com relação à prática ou não de esportes com as regras oficiais nas aulas de
Educação Física verificam-se no gráfico acima que 67% dos alunos entrevistados
responderam que praticam esportes com as regras oficiais; 15,3% responderam que às
vezes praticam esportes com as regras oficiais; 14,6% responderam que não praticam
esportes com as regras oficiais; 3,1% dos alunos não opinaram.
17
O gráfico 3 refere-se às mudanças nas regras oficiais para que a turma jogue
melhor.
70
60
50
40
30
Alunos que
concordam com
mudanças nas
regras para que a
turma jogue melhor
Não concordam com
mudanças nas
regras
20
10
0
Cconcordam em
parte com mudanças
nas regras
De acordo com o gráfico no que se refere a mudanças das regras oficiais dos
esportes para que a turma jogue melhor verifica-se que 69,3% concordam que as regras
podem ser mudadas para que a turma jogue melhor; 22.6% não concordam com as
mudanças nas regras; 4.6% concordam em parte com a mudança nas regras; 0,4% não
opinaram.
O gráfico 4 refere à forma pedagógica aplicada nas aulas de Educação Física, se o
trabalho é realizado mais individualmente ou mais em grupos.
100
80
60
40
Alunos que citam o
trabalho em grupo como
o mais trabalhado
Trabalho individual
como o mais trabalhado
20
0
De acordo com os dados da pesquisa referente à forma de trabalho nas aulas de
Educação Física ser realizado mais individualmente ou mais em grupos, verifica-se que
98% dos alunos entrevistados citaram o trabalho em grupo como o mais trabalhado; 2%
citaram o trabalho individual como o mais trabalhado.
O gráfico 5 refere-se ao que mais se busca nas atividades realizadas nas aulas de
Educação Física: a competição ou a cooperação.
18
50
Alunos que acham que
busca-se mais a
competição
40
30
Alunos que acham que
busca-se mais a
cooperação
20
Não opinaram
10
0
Com relação ao que se pretende nas atividades realizadas nas aulas de Educação
Física, se se busca mais a competição (onde alguém ou uma equipe sempre sai
vencedora) ou mais a cooperação (onde todos brincam ou jogam, ou tocam na bola, ou
trocam de equipes, e saem sentindo-se vencedores – contentes alegres – sendo mais
importante brincar, jogar e aprender, do que vencer), verifica-se que, 50% dos alunos
responderam que se busca mais a competição; citaram a competição; 46.7%
responderam que se busca mais a cooperação; 3.3% não responderam.
O gráfico 6 é relativo ao sentir-se excluído (a), deixado (a) de lado, triste,
desmotivado (a) para participar das aulas de Educação Física.
70
60
50
40
Sim
30
Não
20
10
0
De acordo com os dados obtidos com relação a sentir-se excluído e desmotivado
para participar das aulas de Educação Física nota-se que, 34,7% dos alunos já se
sentiram excluídos por diversos motivos como: preconceitos, não serem “atletas”, terem
dificuldades nas atividades físicas e brigas entre outros; 65,3% não se sentem excluídos
por que jogam bem, todos são amigos e se gostam, todos se ajudam por que são alegres,
as aulas são legais, todo mundo participa em equipe, a professora não deixa ninguém
sem participar entre as respostas mais citadas.
19
O gráfico 7 é referente ao gostar de participar de jogos onde todos se divertem,
aprendem, melhoram e saem vencedores, e ainda podem participar da elaboração das
regras do jogo ou criar um.
100
80
60
40
Sim
Não
20
0
Com relação ao gostar de jogos onde todos se divertem e aprendem e a
possibilidade de participar da elaboração de um jogo, 99,3% respondeu que sim; 0,7%
responderam que não.
O gráfico 8 refere-se à opinião dos alunos sobre para que servem as aulas de
Educação Física.
60
50
40
30
20
10
0
Exercitar, se divertir, faz bem a saúde além de adquirir novos conhecimentos
Educar e ensinar jogos diferentes
Ter um futuro melhor
Sair da sala de aula e desestressar das outras matérias
Correr, brincar, melhorar a coordenação, aprender a trabalhar em grupo e
cooperar
Estudar, ensinar, aprender a perder, aprender as regras dos jogos
Melhorar o físico, aprender a fazer ginástica e exercícios antes de jogar
Estimular a educação do corpo e mente, além de realizar atividades
coordenadas com o nosso corpo
20
Com relação aos dados referentes à pergunta para que servem as aulas de
Educação Física, 58.7% responderam que as aulas de Educação Física servem para nos
exercitarmos, faz bem a saúde, nos divertirmos e adquirir novos conhecimentos; 14,0%
responderam que as aulas servem para educar e ensinar jogos diferentes; 4%
responderam que as aulas servem para ter um futuro melhor; 2% responderam que as
aulas servem para sair da sala de aula e desestressar das outras matérias; 16.0%
responderam que servem para correr, brincar, melhorar a coordenação, para aprender a
trabalhar em grupo, aprender cooperar; 7.3% responderam que as aulas de Educação
Física servem para estudar, ensinar, aprender a perder; para aprender as regras dos
jogos; 6.0% responderam que as aulas servem para melhorar o físico, aprender fazer
ginástica e exercícios antes de jogar; 2,7% responderam que as aulas servem para
estimular a educação do corpo e mente e realizar habilidades coordenadas com o nosso.
Análise geral dos resultados encontrados
A diminuição da agressividade e da exclusão foram as principais diferenças sentidas
nas aulas onde foram empregados os jogos cooperativos, devido ser, o elemento mais
importante deste tipo de proposta exatamente o fato de um ajudar o outro.
Ainda que dificilmente os alunos cheguem a brigar durante as aulas, as crianças
apontaram que houve uma diminuição das brigas em função os jogos cooperativos. Este
resultado corrobora com as idéias de Orlick (1989), quando este salienta que a introdução
de comportamentos e valores, utilizando-se como recursos os jogos e brincadeiras,
poderão afetar a sociedade como um todo, para além do momento exclusivo da quadra
ou do espaço o jogo.Da mesma maneira, os estudos de Weinstein e Goodman (1993)
indicam que os modelos cooperativos no jogar podem oferecer melhores condições de
lidar com a competitividade e exclusão que envolve a vida cotidiana.Há menor
agressividade nas aulas de jogos cooperativos em relação às aulas tradicionais de
Educação Física. Apontando esta diferença entre os aspectos cooperativos e
competitivos, Deutsch (apud Rodrigues 1972) evidencia haver alguma indicação de que a
competição é mais geradora de insegurança pessoal e de expectativas hostis e
agressivas do que no âmbito das atividades cooperativas, confirmando, desta maneira, o
s resultados da aulas onde foram aplicados os jogos cooperativos.
Os alunos concordaram que as aulas de jogos cooperativos favoreceram a reflexão
sobre como respeitar os demais. Além do respeito, os alunos perceberam a importância
da colaboração entre os colegas.
21
Sobre estes aspectos, Deutsch (citado por Orlick, 1989) evidencia que é a
atmosfera de cooperação e não a de competição que leva à maior coordenação de
esforços, maior diversidade de contribuições dos membros, maior produtividade, atenção,
amizade, respeito e colaboração.
O aspecto mais importante das aulas de jogos cooperativos sentido pelo grupo foi
o fato de um ajudar o outro. A maioria das crianças afirmou que recebeu ajuda dos
demais durante as aulas. Além da ajuda mútua, os alunos indicaram a união entre os
colegas como elemento importante destas aulas.
Brown (1994) salienta que, em situação cooperativa, ampliam-se as possibilidades
de se ver as coisas a partir da perspectiva do outro, sustentando um clima de trocas e de
minimização de situações hostis.
Em todos os aspectos explorados na avaliação sobre o relacionamento entre os
alunos, os participantes justificaram a união, a cooperação, a ajuda mútua e a ausência
de exclusões como benefícios advindos das aulas de jogos cooperativos.
Com base na perspectiva de articulação de uma ética cooperativa no contexto
escolar, Fontanella (1995) salienta a necessidade de co-articular a potencialidade do jogo
com o exercício da cidadania, no sentido de se encontrar os caminhos para uma
educação com maior preocupação como respeito sobre a unicidade humana.
A maioria dos alunos afirmou que o relacionamento da classe foi modificado com
as aulas de jogos cooperativos. Brotto (2001) salienta que cada pequeno passo em
direção à atmosfera cooperativa representa um extraordinário avanço sentido por aqueles
envolvidos e que,paulatinamente, reverbera por outros espaços e contagia outras
pessoas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo teve por finalidade a implantação de jogos cooperativos nas aulas de
educação física com o objetivo de inclusão social e uma nova visão a respeito da
competição.
Os resultados do estudo indicam uma tendência à melhoria do relacionamento
interpessoal, na visão dos alunos, apontando a relevância das atividades lúdicas
cooperativas nas mudanças axiológicas, dentro do contexto escolar.
A dimensão cooperativa, mostrou-se eficiente no processo de aprimoramento de
relacionamentos interpessoais, apontando para a necessidade de criação de modelos
22
cooperativos que possam potencializar tais valores e atitudes dentro do âmbito da escola,
capazes de aprimorar na sociedade uma ética pautada na solidariedade.
Sugere-se a implementação de projetos e ações que maximizem a aplicação deste
tipo de atividades no contexto escolar, tendo em vista as constatações referidas às
possibilidades de interferências positivas nas mudanças de atitudes e valores que
perpassam o ambiente escolar, compossíveis reverberações em todo o contexto da
dinâmica social.
A visão holística ou do todo, é o que exatamente nos permite visualizar um mundo
de recursos e possibilidades praticamente inesgotáveis. Precisamos privilegiar modelos
pedagógicos que incentivem as pessoas a olhar além, a buscar outras possibilidades que
obrigatoriamente passarão pelo desafio da convivência, da conquista da confiança e da
celebração conjunta da vitória. Como fantástico instrumento do exercício de valores
positivos para uma nova sociedade, estão os Jogos Cooperativos, que através da criação
de "mini-sociedades" através do exercício do jogo, podem exercitar modelos de
relacionamentos, produção e distribuição de bens que gostaríamos de viver em nosso
mundo real e elaborar estratégias para ampliar o horizonte do nosso jogo, do quarto para
a casa, da casa para o quarteirão, do quarteirão para o bairro, a cidade, o estado, o país,
o planeta.
Deve-se acostumar com determinadas expressões como "visão holística" e "visão
global, ação local", sem entretanto exercitarmos seu ensinamento, que vale lembrar o
ditado Zen: "- Saber e não fazer, é ainda não saber".
Percebeu-se os jogos cooperativos como um meio eficaz para a construção de
uma relação pedagógica alicerçada numa educação em valores humanos. Viu-se que,
tanto os jogos cooperativos quanto a Educação em valores humanos, podem ser
contemplados na formação de novos professores de Educação Física, com vistas a uma
inclusão e participação de todos os alunos. Os resultados sugerem que é preciso mais
que novas propostas pedagógicas, mas uma efetiva qualidade de relacionamento entre os
seres humanos na exaltação do valor à vida no espaço de sala de aula.
Assim compreender a Educação Física sob um contexto mais amplo significa
entender que ela é composta por interações que se estabelecem na materialidade das
relações sociais, políticas, econômicas e culturais dos povos. Portanto é importante
reconhecer as maneira como o modo de produção capitalista influencia as formas de
pensar e agir sobre o corpo e os seus efeitos diretos na prática pedagógica da Educação
Física.
23
Embora a constituição histórica dos conteúdos da disciplina nem sempre estivesse
relacionado à lógica da sociedade de classes, sempre sofreu uma abordagem pedagógica
vinculada às relações de poder. Pode-se afirmar que, em muitos casos, tais conteúdos
continuam subordinados às contradições sociais, o que indica a necessidade de tratá-los
criticamente para a sua superação.
REFERÊNCIAS
BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: O jogo e o esporte com um exercício de
convivência. Santos, SP: Projeto Cooperação, 2001.
BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: Se o importante é competir o fundamental é
cooperar. Ed. Renovada, Santos, SP: Projeto Cooperação,1997.
DEACOVE, Jim. Manual de Jogos Cooperativos. Santos, SP: Projeto Cooperação,
2004.
BROWN, Guillermo. Jogos Cooperativos: Teoria e prática. São Leopoldo RS: Sinodal
Editora, 1994.
FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e prática da Educação Física.
São Paulo, SP: Scipione, 1991.
CORREIA, M. M.Trabalhando com jogos cooperativos. Campinas: Papirus Editora,
2006.
ALBERTI. H.; ROTHENBERG. O ensino dos Jogos Esportivos. Rio de Janeiro. Ao Livro
Técnico, 1984.
RANGEL, I. C. A.; DARIDO. S. S. C. Jogos e brincadeiras. In Darido, e Rangel, I. C. A
(coordenadoras). Educação Física na Escola: Implicações para a prática pedagógica, Rio
de Janeiro, Guanabara Doogam, 2005.
PARANÁ – DIRETRIZES CURRICULARES DO ESTADO DO PARANÁ – Educação
Física – SEED/CURITIBA/2006.
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JOGOS COOPERATIVOS E A INCLUSÃO SOCIAL1 Autora: Adriana