Entrevista - Newsletter Professores Inovadores Perfil 1. Nome - Nuno Miguel da Graça Cardoso. 2. Área de formação – Licenciado em Educação Visual e Tecnológica, Mestrado em Novas Tecnologias Aplicadas à Educação. 3. Há quanto tempo lecciona – Sete anos. 4. Níveis de escolaridade – 5º e 6º Ano do Ensino Básico. 5. Disciplinas leccionadas – Educação Visual e Tecnológica. Opiniões 1. Utilização que faz das TIC (há quanto tempo, motivações, obstáculos) “Eu não ensino. Se eu ensino, quem sabe o que eles aprenderão. Ensinar está fora de questão. Eu digo aos miúdos que não há limites. Podem criar o que quiserem criar. Se é impossível, só vai demorar um pouco mais. A minha principal função é excitar os miúdos e fazê-los considerar coisas que nunca consideraram antes. Eu estou a trabalhar para criar cidadãos numa sociedade global.” Richard Ford Utilizo as TIC diariamente na minha prática lectiva. Com os alunos em ambiente de sala de aula e como elemento de troca de experiências entre professores da minha área. A utilização das TIC e das redes no ensino tradicional, traz três aspectos bastante positivos e que considero importantes. Primeiro, constituem uma fonte de informação e de conhecimento quase inesgotável, quebrando as barreiras espaço / temporais. Desta forma o processo de Ensino / aprendizagem poderá ser mais dinâmico e mais completo. Segundo, potenciam as comunicações, permitindo a troca de ideias entre os intervenientes no processo de ensino / aprendizagem, bem como troca de experiências com elementos que atravessam a mesma fase de aprendizagem, no nosso país ou noutro lugar do mundo. Confrontando os alunos com diferentes realidades, eles tornar-se-ão mais críticos, mais criativos e com maior capacidade para resolver os problemas com que se deparam. As variáveis são maiores tornando o leque de experiências mais diversificado. Perante isto e remetendo para o ponto três, creio que o individuo naturalmente desenvolverá o interesse pela formação ao longo da vida sentindo necessidade de partilhar o saber. Ele saberá que o conhecimento está disponível e saberá pesquisar, seleccionar e ordenar a informação que necessitar de uma forma eficaz. Aprendendo a partilhar tornamo-nos melhores pessoas, mais completas, mais activas. É imprescindível abrir mais canais dentro da sala de aula para a entrada de informação e conhecimento. Se a escola é um local de comunicação, de instrução e de aprendizagem, não faz sentido pensar de outra forma. 2. Diferenças sentidas nos alunos, antes e depois das TIC (enquanto ferramenta de ensino - reacções) São inúmeras! Entre elas: - O uso das TIC gera entusiasmo, motivação e interesse pelas actividades lectivas; - - A comunicação mediada pelas tecnologias não substitui nem diminui o relacionamento directo, antes cria nos alunos a necessidade de conhecer melhor a pessoa com quem interagem; Quando os alunos trabalham individualmente têm menos estímulos para partilhar a informação e ajudar os colegas; As TIC com a articulação do trabalho cooperativo, contribuem para criar ambientes de aprendizagem que estimulam a comunicação entre alunos; O trabalho conjunto que vise um objectivo comum aumenta o interesse dos alunos em partilhar ideias, sucessos e dificuldades resultando em ganhos académicos e sociais; A interacção e a cooperação entre os alunos contribui também para o desenvolvimento das capacidades de compreensão e expressão orais; As TIC em trabalho cooperativo proporcionam apoio e encorajamento aos alunos com mais dificuldades aumentando a sua auto – estima e ajudando-os a superar os seus problemas socio – afectivos e linguísticos; Para alunos com Necessidades Educativas Especiais é possível a integração das TIC no seu plano educativo individual, disponibilizando-se recursos multimédia especializados; Com o apoio dos colegas, do professor e das tecnologias, os alunos conseguem realizar tarefas cognitivamente complexas; O feedback construtivo proporcionado pelos colegas, professor e ajudas tecnológicas é importante para apoiar os alunos nas suas tentativas de “aprender fazendo”; A partir da sua própria experiência e com o avançar do tempo os alunos são capazes de escolher, de um modo autónomo, as ferramentas tecnológicas que melhor se adequam à tarefa a realizar. 3. Situação/ experiência (enquanto docente) que o(a) tenha marcado de alguma forma e que queira partilhar Neste momento estou a desenvolver um projecto com uma turma que se chama: “Projecto TIC” onde os alunos aprendem a utilizar o computador e as redes como forma de pesquisa e de interacção. Nesta fase estamos a aprender a utilizar o email e como motivação criei um jogo com o nome: Quem sou eu? Em que os alunos têm que descobrir quem é determinada pessoa dentro da comunidade escolar. E qual é a dinâmica do jogo? Foram criadas contas de email para cada aluno e foi entregue a um professor da turma essa listagem. Foi também criada uma conta de email com o nome “quem sou eu” a utilizar pelo professor escolhido para que os alunos identifiquem a origem. Isto já a contar com o spam e correio não solicitado onde eles são alertados para um cuidado acrescido. Tem sido uma experiência bastante interessante porque os alunos, através de pistas enviadas pela conta de email ”quem sou eu” tentam descobrir quem é a pessoa em causa. A única informação que os alunos têm é que a pessoa pertence à comunidade escolar, podendo ser um aluno, um professor ou um funcionário. O interesse, a motivação, a troca de informações entre eles torna-se muito interessante! A turma troca emails, escrevem-me a perguntar se é determinada pessoa, questionam alguns professores. Enfim, interagem mais e ao longo deste processo estão a aprender a utilizar esta ferramenta (email) e vão criando hábitos muito importantes para o aluno de futuro. 4. Visão que tem dos seus pares enquanto utilizadores das TIC O papel do professor é um elemento chave na mudança para uma sociedade mais cultural, mais global, mais geradora de conhecimento. Deixa de ser a fonte do conhecimento para passar a ser o orientador / guia para facilitar a utilização dos recursos e ferramentas. Assim ele terá que desenvolver competências que lhe permitam assegurar este apoio aos alunos e permitam actualizar os seus conhecimentos e destrezas. Considero importantes as seguintes: - Deverá conhecer bem as ferramentas de comunicação; - Ser capaz de desenvolver materiais didácticos para a rede; - Conhecer a dinâmica dos processos comunicativos; - Conseguir orientar grupos de aprendizagem distribuídos; - Deverá participar na concepção de novos materiais e deve ser gestor da comunicação do processo de ensino / aprendizagem; - Guiar os alunos na utilização das bases da informação; - Potenciar para a auto - aprendizagem; - Deverá estar atento a mudanças e inovações; - dar mais ênfase à aprendizagem do que ao ensino. Mas para se potenciar estes aspectos muita coisa ainda tem que ser feita. É necessário perder a insegurança neste domínio e tornarmo-nos mais curiosos, que creio ser uma condicionante real. Já existe muita gente a utilizar as TIC no ensino mas como em toda a evolução, o tempo tem que passar para começarmos a obter resultados. Neste aspecto tento dar o meu contributo através de uma plataforma de trabalho colaborativo por mim dinamizada, que visa a melhoraria de práticas e troca de experiências entre professores de Educação Visual e Tecnológica em http://www.educavisual.informatic.com.pt 5. Imagem da relação que os jovens têm com as TIC Os alunos parecem ter nascido com o dom. São curiosos e perspicazes no que se refere às TIC. Mas também vêem as TIC como um aliado para a realização de trabalhos de uma forma facilitada. Copiam textos e colam nos seus documentos. Não fazem a revisão dos documentos. Eu chamo a isso “copy/past” e tem-se verificado que um mau acompanhamento nos primeiros contactos com as TIC leva a este cenário que não interessa ao aluno, ao professor ou à sociedade. É muito importante um acompanhamento porque as TIC também podem trazer facilitismos muito negativos para o desenvolvimento do aluno. 6. Visão da ‘sala de aula do futuro’ “Palco de aprendizagem do futuro. Acordo pela manhã e preparo-me para ir dar aulas. Agora tudo está diferente. Estas novas fórmulas pedagógicas e as ferramentas tecnológicas para o ensino permitem que os alunos se interessem mais pelo saber, são autónomos e as aulas são muito mais interessantes. Ontem à noite estive em vídeo - conferencia com um colega de profissão que se encontra na América Latina. Diferentes pontos de vista podem ser abordados em tempo real. O conhecimento é extraordinariamente divulgado através das redes e sem dúvida que é uma mais valia para todos nós. As TIC vieram complementar em larga medida o processo de Ensino / Aprendizagem. Este processo já não é aborrecido e ainda bem. Para nós professores e para os alunos. Dar aulas já não é uma tarefa rotineira. Antes de sair de casa recebo uma mensagem no telemóvel indicando que tenho uma nova mensagem de correio electrónico. Após consultar o mesmo reparo que é o trabalho de um aluno. Passo o trabalho para o telemóvel através de Bluetooth e saio cheio de pressa porque já estou atrasado. Ao chegar à escola os alunos encontram-se na sala de aula, realizando pesquisas, consultando manuais e conteúdos multimédia. Eles já se desenrascam sozinhos e eu ajudo-os a encontrarem o saber. Por vezes o papel inverte-se e eles ensinam-me a mim. Nestas questões da Internet e redes eles parecem nascer com um dom. Faz parte da geração... O trabalho que lhes tinha proposto desenvolver consiste em pesquisar informação sobre a vida e obra do pintor Espanhol Pabblo Picasso. Com os seus computadores portáteis e através de rede sem fios, têm procurado em bibliotecas virtuais, portais de arte, motores de busca... e os resultados são surpreendentes. Conseguem pesquisar, organizar e sintetizar a informação. Tento desenvolver a capacidade que eles possuem de utilizar e gerar conhecimento. Existe neles o espírito da descoberta e ainda bem. Ligo o meu computador portátil e acedo aos conteúdos que disponibilizei on-line, para que os alunos em casa possam continuar com os trabalhos. Existem algumas aplicações neste espaço on-line para os alunos trocarem experiências e colocarem dúvidas. Desde fóruns, chats, email... que utilizam com grande dinamismo. Aproveito para acrescentar mais umas hiper-ligações que o Maurício me transmitiu na noite passada relacionados com o tema e de grande importância. Descarrego o trabalho que se encontra no meu telemóvel e começo a sua análise. Entretanto um aluno aborda-me referindo que tem dúvidas em relação à informação que consta numa página que ele encontrou. Reparo que a informação está incorrecta e adiciono esse link na minha base de dados de “lixo” na rede. Explico à turma em que medida a informação está errada, abro o debate sobre o assunto, os alunos participam e questionam. Vão trocando impressões entre si e continuam a desenvolver os trabalhos com bastante empenho e dedicação. Para terminar esta unidade de trabalho trago uma nova proposta para recapitular a matéria dada. Encontrei um trabalho disponibilizado por um colega Espanhol. Um jogo educativo com as obras mais importantes de Picasso. Os alunos vão adorar. Será mais uma actividade de lazer e desta forma aprendem brincando. Depois desta actividade termina a aula. O jogo consolidou os conteúdos. Amanhã as actividades decorrerão on-line. Necessito de me ausentar mas estarei disponível para uma sessão de vídeo – conferência. Sem dúvida que dar aulas já não é como dantes e aprender também não. “ Excerto de Nuno Cardoso - Escenario de aprendizaje del futuro. IUP - 2005