XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
CONDIÇÃO DE SAÚDE E NÍVEL DE RENDIMENTO DOS TRABALHADORES
DA CANA-DE-AÇÚCAR
LUIZ FERNANDO SATOLO; FABIOLA CRISTINA OLIVEIRA; ANA LUCIA
KASSOUF.
ESALQ/USP, PIRACICABA, SP, BRASIL.
[email protected]
APRESENTAÇÃO ORAL
MERCADO DE TRABALHO AGRÍCOLA
CONDIÇÃO DE SAÚDE E NÍVEL DE RENDIMENTO DOS
TRABALHADORES DA CANA-DE-AÇÚCAR
Uma aplicação de modelos de regressão linear múltipla.
Grupo de Pesquisa: Mercado de Trabalho Agrícola
RESUMO
O objetivo deste trabalho é identificar algumas relações entre o nível de rendimento
e a condição de saúde dos trabalhadores da cana-de-açúcar, no ano de 2003. As variáveis
consideradas como explicativas para o nível de renda foram: sexo, escolaridade, idade, cor
ou raça, local de residência, posição na ocupação e número de horas trabalhadas. Os dados
foram obtidos PNAD 2003 e seu Suplemento Saúde. Os resultados indicam que a saúde
influencia a remuneração dos trabalhadores no cultivo da cana-de-açúcar: os que avaliaram
seu estado de saúde como regular, ruim ou muito ruim, recebem em média, 7,87% a menos
do que aqueles que se auto-declararam em bom ou muito bom estado de saúde. A
influência de problemas de coluna e de tendinite, isoladamente, não é estatisticamente
significativa. Entretanto, quando seu impacto sobre o rendimento dos trabalhadores foi
testado simultaneamente com o da auto-avaliação da saúde, não se pôde rejeitar a hipótese
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de que as mencionadas variáveis exercem alguma influência sobre a remuneração desses
trabalhadores.
Palavras-chaves: Remuneração – Saúde – Cana-de-açúcar
ABSTRACT
The objective of this paper is to identify to some relations between the income level
and health status of sugar cane workers, in the year of 2003. The explanatory variables for
the income level variations are: gender, education, age, color or race, place of residence,
job status and number of worked hours. The data was collected from PNAD 2003 and its
Health Supplement. The results indicate that the health condition influences the sugar cane
workers’ remuneration: the ones that evaluated their status as regular, bad or very bad, on
average, receive 7.87% less than those who identify themselves in good or very good
health condition. The influence of tendonitis and column problems, separately, is not
statistically significant. However, when their impact over the workers income was tested
together with the one from the self-evaluation, the hypothesis that the mentioned variables
had some influence on the remuneration level of these workers could not be rejected.
Key Words: Earnings – Health – Sugar Cane
1. INTRODUÇÃO
Segundo Figueiredo et al. (2003) o estado de saúde da população brasileira
apresenta um comportamento bastante desigual entre as unidades da federação, e
certamente essas diferenças são encontradas entre os diferentes ramos de atividades, nas
quais os indivíduos estão inseridos. Os mencionados autores apontam que a desigualdade
em saúde reflete, em parte, as diferenças no acesso e na qualidade dos serviços prestados à
população e, em outra parte, está relacionada às condições socioeconômicas, hábitos e
condições de vida.
Diante desse contexto, o estado de saúde pode se constituir como um componente
importante do capital humano individual e social, como destaca Kassouf (2001), e com
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isso pode contribuir para aprofundar o quadro de desigualdade e pobreza que marcam o
processo de desenvolvimento econômico brasileiro.
Em se tratando de desenvolvimento econômico, é mister destacar que um dos seus
principais objetivos é proporcionar melhorias no padrão de vida do cidadão médio de um
país. Assim sendo, tais melhorias podem ser alcançadas através de aumentos na renda
média per capita, o que exige um modelo razoável de distribuição de renda, mas também
podem ser alcançadas através de políticas públicas que proporcionem a esse cidadão
melhorias na sua saúde, nas condições de trabalho e na educação, dentre outros aspectos
relevantes.
As intensas transformações de alguns indicadores de morbimortalidade da
população brasileira nas últimas décadas, como destacam Barreto & Carmo (2000), em
especial o aumento significativo da expectativa de vida e a redução nas taxas de
mortalidade infantil e por doenças infecciosas, implicam na idéia de que houve melhorias
significativas nos padrões de saúde dos brasileiros. Contudo, tais modificações ocorrem de
forma heterogênea nos diferentes espaços sociais, onde se tem a consolidação de novos
problemas e a persistência das grandes endemias.
Por outro lado, a perversa distribuição de rendimentos, associada à fragilidade da
organização política dos segmentos excluídos, além dos elevados índices de desemprego e
subemprego, que resultam em precárias condições de vida de expressiva parcela da
população, são alguns dos problemas que determinam as condições de saúde e tornam
complexo o desempenho dos serviços de saúde no Brasil (OPAS, 2001, p. 1).
Dentro desse contexto de desenvolvimento econômico, marcado por realidades
regionais e setoriais díspares, este presente trabalho pretende identificar algumas relações
entre o nível de rendimento e algumas variáveis socioeconômicas, incluindo as condições
de saúde, entre os trabalhadores da cana-de-açúcar, no ano de 2003. As variáveis
consideradas como explicativas para o nível de renda, neste estudo, foram sexo,
escolaridade, idade, cor ou raça, local de residência, posição na ocupação e número de
horas trabalhadas. Os dados foram obtidos a partir de uma amostra de trabalhadores na
cana-de-açúcar com base na PNAD 2003 e seu Suplemento Saúde.
2. BASE DE DADOS E METODOLOGIA
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Este estudo é uma investigação empírica que tem como base de dados informações
extraídas dos microdados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD-2003),
e de seu suplemento especial, que nesse referido ano contemplou o tema da saúde.
O sistema de pesquisas domiciliares, implantado progressivamente no Brasil a
partir de 1967, com a criação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD),
tem por objetivo básico a produção de informações para o estudo do desenvolvimento
socioeconômico do país. Desde 1971, a PNAD tem periodicidade anual, sendo
interrompida apenas por ocasião dos censos demográficos dos anos 1970, 1980, 1991 e
2000.
É um sistema de pesquisas por amostra de domicílios que investiga diversas
características socioeconômicas, em que determinadas variáveis possuem caráter
permanente, como as características gerais da população, educação, trabalho, rendimento e
habitação, enquanto outras apresentam periodicidade variável, como as características
sobre migração, fecundidade, nupcialidade, nutrição e saúde.
Frente ao exposto, no presente estudo optou-se por trabalhar com amostras
extraídas entre os trabalhadores do cultivo de cana-de-açúcar, ano de 2003, com a
finalidade de investigar a influência da saúde dos mesmos em sua remuneração.
A partir dessa amostra, realizou-se uma análise exploratória de suas características
(faixa etária, educação, renda, local de residência, condição de ocupação) e das condições
de saúde das pessoas, de acordo com as características extraídas do perfil desta população.
Com a finalidade de analisar a influência da saúde na remuneração dos
trabalhadores foi realizada a estimativa de uma regressão linear múltipla para uma equação
de rendimentos análoga à proposta por Hoffmann & Ney (2004) em um estudo sobre a
desigualdade de rendimentos entre as pessoas ocupadas na agricultura, na indústria e no
setor de serviços. O modelo geral de regressão é:
Yj = α + ∑ βi Xij + u j
(1)
i
onde α e βi são parâmetros e uj são erros aleatórios heterocedásticos com as propriedades
usuais.
4
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Nesse estudo, foram consideradas as seguintes variáveis explanatórias:
a) Uma binária para sexo, que assume valor 1 para homens.
b) A idade da pessoa em anos completos e o seu quadrado (já que a variável Y não
varia linearmente com a idade).
c) Como o efeito da educação é mais intenso ao final de cada ciclo de estudos, a
escolaridade, que varia de 0 (no caso de pessoa sem instrução ou com menos de 1 ano de
estudo) a 14 (no caso de pessoa com 14 anos de estudo) e assumindo o valor 15 para a
pessoa com 15 anos ou mais de estudo, foi agrupada da seguinte forma: analfabetos
(binária com valor 1 para os indivíduos com menos de 1 ano completo de estudos), ciclo
básico (binária que assume valor 1 para os trabalhadores que possuem de 1 a 4 anos de
estudos); ciclo fundamental (binária com valor 1 para os indivíduos que apresentaram de 5
a 8 anos de estudos); ciclo médio (binária com valor 1 para as pessoas com 9 a 11 anos de
estudos) e ensino superior (binária com valor 1 para os indivíduos com escolaridade acima
de 12 anos).
d) Uma variável binária para distinguir cor, que assume o valor 0 para branca e 1 para
as demais.
e) Uma variável binária para distinguir duas posições na ocupação no trabalho
principal: empregado (tomado como base) e empregador (onde assume o valor 1).
f) Uma variável binária que assume o valor 1 quando o domicílio é urbano e 0 quando
o domicílio é rural.
g) Variáveis binárias destinadas a captar o efeito da saúde na remuneração dos
trabalhadores. Supondo-se que a maior parte dos trabalhadores no cultivo da cana-deaçúcar desenvolve trabalhos manuais – por exemplo, como o realizado durante a colheita –
a saúde dos trabalhadores foi representada por alguns dos problemas contemplados pelo
questionário da PNAD e que podem ser diretamente relacionados à produtividade desses
trabalhadores: auto-avaliação da saúde (que assume o valor 0 para muito boa e boa e o
valor 1 para regular, ruim e muito ruim), dores de coluna (0 para quem declarou não sofrer
dessa afecção e 1 para quem declarou que sofre) e tendinite (0 para quem declarou não
sofrer dessa doença e 1 para quem declarou que sofre).
A equação de rendimentos para pessoas ocupadas na agricultura foi ajustada pelo
método de Mínimos Quadrados Ponderados, usando o fator de expansão associado a cada
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pessoa da amostra como fator de ponderação. A variável dependente (Y) foi representada
de duas formas diferentes: o logaritmo natural do rendimento mensal do trabalho principal
dividido pelo logaritmo natural do número de horas semanais trabalhadas ou, sem o
tratamento, apenas o primeiro logaritmo natural do rendimento mensal do trabalho
principal (neste caso, acrescentando o logaritmo natural do número de horas semanais
trabalhadas como variável explicativa no modelo).
Assim, os modelos alternativos podem ser escritos da seguinte forma:
Y = α + β1Sexo + β2Idade + β3 (Idade)2 + K + β13 Tendinite + u
(2)
Y = α + β1Sexo + β2Idade + β3 (Idade)2 + K + β13 Tendinite + β14 ln(Horas) + u
(3)
3. RESULTADOS
3.1 Breve perfil dos trabalhadores na cana-de-açúcar do estado de São Paulo
Ao admitir nesse estudo apenas os trabalhadores na cana-de-açúcar paulistas,
verificou-se através da amostra de 940 observações coletadas pela PNAD em 2003 que
esse universo correspondia a 491.351 pessoas, das quais 52,87% residem nos Estados de
São Paulo e Pernambuco (Ver Figura 1).
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TO
SE
SC
RS
MA
MS
ES
RN
UF
PI
RJ
MG
GO
PR
PB
CE
BA
MG
AL
SP
PE
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
número de trabalhadores no cultivo da cana-de-açúcar
Figura 1. Número de trabalhadores no cultivo da cana-de-açúcar por Unidade da
Federação, 2003.
Fonte: Microdados da PNAD 2003.
Dentre o universo de análise investigado, verifica-se que apenas 9% da mão-deobra na cana-de-açúcar no ano de 2003 correspondem a pessoas do sexo feminino,
destacando a concentração da mão-de-obra masculina nessas atividades (Ver Figura 2).
Isso é muito comum quando se trata de atividades do setor primário como um todo.
9%
91%
Feminino
Masculino
7
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Figura 2. Distribuição dos trabalhadores na cana-de-açúcar segundo o gênero, 2003.
Fonte: Microdados da PNAD 2003.
Barros et al. (2001) afirmam que a combinação de um sistema educacional público
precário com graves imperfeições no mercado de crédito tem feito com que o nível de
investimentos em capital humano se situe abaixo dos padrões internacionais. O próprio
processo de desenvolvimento econômico brasileiro nas últimas décadas acabou reforçando
as conseqüências da heterogeneidade educacional no país, pois a acelerada expansão
tecnológica brasileira esteve sistematicamente associada a um lento processo de expansão
educacional (Barros, Henriques e Mendonça, 2002).
Os dados sobre educação para esse estudo evidenciam que cerca de 77,5% dos
trabalhadores em atividades de cana-de-açúcar completaram no máximo o primeiro ciclo
escolar, que corresponde a 4 anos de estudos, enquanto que menos de 5,6% possuem um
grau escolar superior a nove anos de estudos. Para uma melhor ilustração ver Figura 3.
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
menos de 1
1a4
5a8
9 a 11
12 ou mais
anos de estudo
Figura 3. Distribuição dos trabalhadores na cana-de-açúcar conforme o nível de
escolaridade, 2003.
Fonte: Microdados da PNAD 2003.
Com relação à idade, verifica-se que em torno de 32% das pessoas que trabalham
em atividades de cana-de-açúcar possuem entre 20 e 39 anos de idade. Essa é a faixa etária
de maior concentração desses trabalhadores, conforme demonstra a Figura 4 com os
grupos selecionados de idade.
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18%
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
14 ou
menos
15 a 19
20 a 24
25 a 29
30 a 34
35 a 39
40 a 44
45 a 49
50 a 54
55 a 59
60 ou mais
grupo de idade (em anos)
Figura 4. Distribuição dos trabalhadores na cana-de-açúcar conforme grupos selecionados
de idade, 2003.
Fonte: Microdados da PNAD 2003.
Quanto à situação da saúde auto-declarada, verifica-se através da Tabela 1 que
aproximadamente 76% dos trabalhadores que compõem a população deste trabalho
afirmaram possuir uma condição de saúde como sendo boa e muito boa. É preciso advertir
que muitos trabalhos que analisam as questões de saúde na PNAD, como o de Dachs
(2002), apontam para a questão da subjetividade desta medida de saúde, já que o indivíduo
responde por sua situação de saúde não com base num laudo médico, mas de acordo com a
sua percepção sobre a mesma.
Tabela 1. Distribuição dos trabalhadores da cana-de-açúcar conforme a situação de saúde
auto-declarada, 2003.
Situação de
saúde
muito boa
boa
regular
ruim
muito ruim
%
20,35
55,54
20,34
3,31
0,46
Fonte: microdados da PNAD 2003.
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Ademais, na PNAD - 2003 foram listadas 12 doenças crônicas, entendidas como
sendo afecções que acompanham o indivíduo por um longo período de tempo, podendo ter
fases agudas, momentos de piora ou melhora sensível. É preciso destacar que, entre essas
doenças crônicas, existem algumas que impactam diretamente na mortalidade. Conforme
destacam Lotufo & Lolio (2000), as doenças crônicas não-transmissíveis constituem uma
das principais causas de morte nos países desenvolvidos e nas grandes cidades brasileiras.
Entre essas doenças estão os cânceres, o diabetes, as doenças cardiovasculares e
respiratórias crônicas. Por outro lado, há doenças que podem provocar impacto direto no
nível de rendimento do trabalhador. Dessa forma, ao analisar as pessoas que trabalham em
atividades da cana-de-açúcar, considerou-se os problemas relacionados à coluna1 e à
tendinite2, tendo em vista o trabalho extensivo em que a maior parte dos trabalhadores
nesse setor de atividade estão expostos, e que tais afecções podem influenciar o nível de
produtividade dos mesmos.
Por conseguinte, a partir dos dados da Tabela 2, verifica-se que dentre os
indivíduos analisados, em torno de 15% declararam o problema de dor nas costas,
enquanto que o problema de tendinite foi auto-diagnosticado por apenas 1,21% dos
trabalhadores na cana-de-açúcar.
Tabela 2. Distribuição conjunta do percentual de trabalhadores na cana-de-açúcar que
referiram doenças crônicas do tipo dor de coluna e artrite, 2003.
Afecção
Problema
de coluna
Total
não
sim
Tendinite
não
sim
84,46%
0,57%
14,33%
0,64%
98,79%
1,21%
Total
85,02%
14,98%
100,00%
Fonte: microdados da PNAD 2003.
1
A doença de coluna ou costas foi definida por problema crônico localizado na coluna ou nas costas por
enfermidade, desvio, curvatura anormal ou deformidade na coluna vertebral, incluído dor nas costas por
esforço muscular. PNAD-IBGE
2
Problema de saúde que ocorre em conseqüência da inflamação aguda de tendões (tendinite) ou de suas
bainhas (tenossinovite) causada por esforços repetitivos decorrente de fatores ocupacionais (bursite de
ombro, síndrome de Quervain ou de túnel do carpo etc.). PNAD-IBGE
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É importante destacar que na análise deste artigo tanto a saúde auto-declarada, que
é uma medida subjetiva, quanto a existência dessas duas doenças crônicas, as quais são
consideradas medidas objetivas do estado de saúde, foram incorporadas ao modelo.
3.2 Análise Econométrica
O resultado das regressões múltiplas usando o método de Mínimos Quadrados
Ordinários encontram-se organizados nas Tabela 4 e 5. No primeiro caso, representando a
variável dependente como a razão entre os logaritmos da remuneração mensal e do número
de horas trabalhadas por semana, os coeficientes estimados para as variáveis sexo, idade,
idade ao quadrado, auto-avaliação da saúde e problemas de coluna apresentaram sinal
contrário ao esperado. Quando apenas o logaritmo da remuneração foi considerado como
variável dependente, a única variável a apresentar sinal contrário ao esperado foi a que
indica que o trabalhador possui problemas de coluna.
Tabela 4. Resultados da estimativa da equação (2) de rendimentos por MQO.
R2 ajustado = 0,2857
F = 29,89*
Variável
Constante
Sexo
Idade
Idade ao quadrado
Ensino Básico
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Cor
Posição na ocupação
Local de domicílio
Auto-avaliação da saúde
Problemas de coluna
Tendinite
Coeficiente
1,6456*
-0,0327
-0,0116*
0,0002*
0,0163
0,0492**
0,2493*
0,6947*
-0,0506*
0,3929*
0,0424*
0,0087
0,0305
-0,0922
Var. dependente =
ln (remuneração) / ln (horas trab.)
Intervalo de confiança
± 0,1227
± 0,0496
± 0,0054
± 0,0001
± 0,0322
± 0,0443
± 0,0678
± 0,2351
± 0,0297
± 0,0883
± 0,0289
± 0,0348
± 0,0411
± 0,1280
* Significativo até o nível de significância de 1%.
** Significativo até o nível de significância de 5%.
Tabela 5. Resultados da estimativa da equação (3) de rendimentos por MQO.
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R2 ajustado = 0,3861
Variável
Constante
Sexo
Idade
Idade ao quadrado
Primário
Ginásio
Colegial
Ensino Superior
Cor
Posição na ocupação
Local de domicílio
Auto-avaliação da saúde
Problemas de coluna
Tendinite
Ln (Horas Trabalhadas)
Var. dependente = ln (remuneração)
F = 43,19*
Coeficiente
Intervalo de confiança
2,4806*
± 0,5230
0,1437**
± 0,1226
0,0239*
± 0,0139
-0,0002**
± 0,0002
0,1193*
± 0,0790
0,2604*
± 0,1087
0,7600*
± 0,1663
2,4971*
± 0,5763
-0,1628*
± 0,0727
1,1332*
± 0,2164
0,1648*
± 0,0709
-0,0820***
± 0,0855
0,0561
± 0,1008
-0,1822
± 0,3139
0,6114*
± 0,1345
* Significativo até o nível de significância de 1%.
** Significativo até o nível de significância de 5%.
*** Significativo até o nível de significância de 10%.
A relação diretamente proporcional entre a remuneração dos trabalhadores no
cultivo da cana-de-açúcar e a presença de problemas de coluna, apesar de não ser
estatisticamente significativa até o nível de 10%, pode ser explicada se a última for
considerada conseqüência – e não causa – da variação da primeira. Ou seja, na busca por
uma melhor remuneração, esses trabalhadores (que são pagos por tonelada de cana
colhida) se dedicam mais do que o suportável, chegando à exaustão física e desenvolvendo
problemas de coluna.
A presença de heterocedasticia, por hipótese existente na estimativa da equação de
rendimentos, é confirmada pelo resultado do teste de Breusch-Pagan / Cook-Weisberg. A
idéia básica por trás desse teste é que, supondo que a variância do erro, σ i2 , possa ser
descrita como:
σ i2 = f (α1 + α 2 Z 2i + K + α m Z mi )
(4)
ou seja, σ i2 é uma função de variáveis não-estocásticas Zs, pode-se testar a homocedasticia
através da hipótese: α2 = α3 = ... = αm = 0 (GUJARATI, 2000). Para este estudo, o
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resultado do teste (χ2 = 108,46) é significativo a 1% e, por isso, rejeita-se a hipótese de que
a variância dos resíduos é constante.
Dessa forma pode-se afirmar que, mesmo que as estimativas de MQO para os
parâmetros sejam não-tendenciosas, elas podem não ser as estimativas não-tendenciosas de
menor variância. Para corrigir o problema de heterocedasticia, uma nova estimativa dos
parâmetros foi realizada, agora com as variâncias e os erros-padrão com a
heterocedasticidade corrigida conforme White (GUJARATI, 2000). Os novos intervalos de
confiança para as estimativas dos parâmetros são apresentados na Tabela 6.
A variação na amplitude do intervalo de confiança é apresentada entre parênteses,
ao lado da respectiva estimativa. De acordo com Gujarati (2000) e conforme pode ser
observado na Tabela 6 as estimativas com heterocedasticia corrigida não apresentam um
padrão de aumento ou redução do intervalo de confiança. Nos casos mais extremos, o
intervalo de confiança foi reduzido em 17% (no caso da variável que indica a presença de
tendinite) e ampliado em 64% (no caso da constante).
Tabela 6. Resultado da estimativa da equação (3) de rendimentos com
heterocedasticidade corrigida.
R2 ajustado = 0,3861
Variável
Constante
Sexo
Idade
Idade ao quadrado
Primário
Ginásio
Colegial
Ensino Superior
Cor
Posição na ocupação
Local de domicílio
Auto-avaliação da saúde
Problemas de coluna
Tendinite
ln (Horas Trabalhadas)
Var. dependente = ln (remuneração)
F = 43,19*
Coeficiente
Intervalo de confiança
2,4806*
± 1,4367 (+64%)
0,1437***
± 0,1602 (+23%)
0,0239***
± 0,0241 (+42%)
-0,0002
± 0,0003 (+47%)
0,1193*
± 0,0773 (-02%)
0,2604*
± 0,1028 (-06%)
0,7600*
± 0,2600 (+36%)
2,4971*
± 0,8635 (+33%)
-0,1628*
± 0,0788 (+08%)
1,1332*
± 0,4993 (+57%)
0,1648*
± 0,0722 (+02%)
-0,0820***
± 0,0917 (+07%)
0,0561
± 0,1179 (+14%)
-0,1822
± 0,2674 (-17%)
0,6114*
± 0,3001 (+55%)
* Significativo até o nível de significância de 1%.
** Significativo até o nível de significância de 5%.
*** Significativo até o nível de significância de 10%.
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Segundo Hoffmann & Ney (2004), a diferença percentual entre a remuneração
estimada da categoria considerada e da categoria tomada como base pode ser calculada
através da expressão:
∆%remuneração = 100[exp(b) - 1]%
(5)
sendo b o coeficiente estimado para a variável binária. Essas diferenças percentuais
encontram-se organizadas na Tabela 7.
De acordo com os resultados estimados, os homens brancos, analfabetos,
empregados e que residem no meio rural ganham, em média, 15,45% a mais que as
mulheres com o mesmo perfil – ou seja, brancas, analfabetas, empregadas e que moram no
meio rural. Esse raciocínio pode ser estendido para as demais variáveis.
Tabela 7. Diferença percentual na remuneração estimada.
Variável
Sexo
Primário
Ginásio
Colegial
Ensino Superior
Cor
Posição na ocupação
Local de domicílio
Auto-avaliação da saúde
Problemas de coluna
Tendinite
Diferença
15,45%
12,67%
29,75%
113,82%
1114,78%
-15,03%
210,55%
17,92%
-7,87%
5,77%
-16,66%
Além da posição na ocupação, já que a remuneração dos empregadores é mais de 3
vezes a remuneração dos empregados, a variável que apresenta maior impacto sobre o
rendimento dos trabalhadores no cultivo da cana-de-açúcar é a escolaridade: a
remuneração média dobra se o trabalhador, ao invés de ser analfabeto, tiver chegado ao
colegial (ou seja, se tiver entre 9 e 11 anos de estudo) e é aumentada em mais de 1000% se
o mesmo chegar ao ensino superior. As variáveis relacionadas à saúde mostraram pequeno
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impacto sobre a remuneração média dos trabalhadores: os resultados mais expressivos
estão relacionados aos trabalhadores com tendinite (as pessoas que sofrem com essa
doença recebem, em média, 16,66% a menos).
Para verificar se a saúde do trabalhador possui um impacto significativo em sua
remuneração, testou-se conjuntamente a significância dos parâmetros para as variáveis:
auto-avaliação da saúde (β14), problemas de coluna (β15) e tendinite (β16). Algebricamente,
esse teste pode ser expresso como:
H0: β14 = β15 = β16 = 0
HA: β14 ≠ 0 e/ou β15 ≠ 0 e/ou β16 ≠ 0
Esse teste, que segue a distribuição F com (3, 925) graus de liberdade, é
significativo ao nível de 10%: o valor do F calculado foi 2,13. Dessa forma, pode-se
afirmar que a saúde – de acordo com o modelo proposto – influencia na remuneração dos
trabalhadores no cultivo da cana-de-açúcar.
4. CONCLUSÃO
A relação do nível de rendimento dos trabalhadores da cana-de-açúcar no ano de
2003 com as variáveis socioeconômicas, incluindo a situação de saúde e doenças crônicas
foi estimada através de um modelo de regressão linear múltipla. Os resultados mostraram
que as variáveis posição na ocupação e educação são as que mais têm influência sobre o
nível de rendimento desses trabalhadores.
Com relação ao modelo ajustado pelo método dos mínimos quadrados ordinários
foram implementadas técnicas como a análise dos resíduos, testes t e F dos coeficientes e
teste de Breusch-Pagan / Cook-Weisberg, que demonstraram a violação de algumas das
pressuposições do modelo de regressão linear múltipla, como a existência de
heterocedasticia.
Os resultados indicam que a saúde influencia a remuneração dos trabalhadores no
cultivo da cana-de-açúcar: os trabalhadores que avaliaram seu estado de saúde como
regular, ruim ou muito ruim, recebem em média, 7,87% a menos do que aqueles que se
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auto-declararam em bom ou muito bom estado de saúde. A influência de problemas de
coluna e de tendinite, entretanto, não foi estatisticamente significativa.
Como sugestão para estudos posteriores, fica a validação da hipótese levantada no
tocante à relação diretamente proporcional da presença de problemas de coluna e da
remuneração dos trabalhadores cultivo de cana-de-açúcar.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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