GRAMSCI E ROBERT COX:
HEGEMONIA E RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
UNICURITIBA
Curso de Relações Internacionais
Teoria das Relações Internacionais II
Professor Rafael Pons Reis
Antonio Gramsci (1891–1937)


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Foi um dos membros fundadores do Partido
Comunista Italiano (PCI, em 1921).
Foi preso em 1926 por suas atividades políticas
e passou a maior parte da sua vida na prisão.
Publicou “Cadernos do Cárcere”: 29 cadernos
de tipo escolar escritos numa prisão fascista
entre 1919 e 1935.
Os conceitos de Gramsci são todos derivados
da história; mais do que isto, ele estava
constantemente ajustando seus conceitos às
circunstâncias históricas específicas.
Gramsci e a Hegemonia
Há duas linhas principais que comandam as ideias de Gramsci:
I) Provém dos debates dentro da Terceira Internacional
a respeito das estratégias da Revolução Bolchevique e
da criação do estado socialista soviético.
II) Dos escritos de Maquiavel
Primeira linha de pensamento acerca da Hegemonia
Alguns autores têm procurado salientar o contraste entre
o pensamento de Gramsci e o de Lenin, associando
Gramsci com a ideia de uma hegemonia do proletariado
e Lenin com a ditadura do proletariado.

Refere-se ao proletariado russo
tanto como classe dominante
(implica em ditadura) como
classe dirigente (implica liderar
com o consentimento das classes
aliadas).
Gramsci tomou uma ideia que era
corrente no círculo da Terceira
Internacional: os trabalhadores
exerceriam a hegemonia sobre as
classes aliadas e ditadura sobre
as classes inimigas.
Primeira linha de pensamento acerca da Hegemonia
A originalidade de Gramsci reside em dar uma torção
na sua primeira linha de observação: ele começa
aplicando à burguesia, os aparatos ou mecanismos de
hegemonia da classe dominante.
 Assim, a percepção de hegemonia levou Gramsci a
ampliar sua definição de Estado (sociedade política x
sociedade civil).

Segunda linha de pensamento acerca da Hegemonia
Maquiavel: havia escrito à respeito do problema de se
fundar um novo Estado e esteve preocupado com a busca
de uma liderança e as bases sociais de apoio para
unificar a Itália.
 Gramsci, por seu turno, estava preocupado com a
liderança e as bases de apoio para um alternativa ao
fascismo e preocupado em como engajar o partido
revolucionário no desenvolvimento de um diálogo contínuo
com sua própria base de apoio.

Segunda linha de pensamento acerca
da Hegemonia
Gramsci
tomaria
de
Maquiavel a imagem do poder
como um centauro: metade
homem, metade animal, uma
combinação
necessária
de
consenso e coerção.

Na extensão de que o
aspecto consensual de poder
está em primeiro plano, impera
a hegemonia.

Hegemonia, segundo Bobbio*:
“A potência hegemônica exerce sobre as demais uma
preeminência não só militar, como também
freqüentemente econômica e cultural, inspirando-lhes e
condicionando-lhes as opções, tanto por força do seu
prestígio como em virtude do seu elevado potencial de
intimidação e coerção; chega mesmo a ponto de
constituir um modelo para as comunidades sob a sua
Hegemonia.”
* Dicionário de Política, p. 589.
Hegemonia e a Ordem Mundial
O conceito de hegemonia de Gramsci poderia ser
aplicável no nível internacional ou mundial?
 Frequentemente hegemonia é usada como eufemismo de
imperialismo.
 Cox distingue quatro períodos em sua análise:

1845-1875
 1875 – 1945
 1945-1965
 1965 ao presente

Hegemonia e a Ordem Mundial

1845-1875: A Grã-Bretanha era a potência hegemônica.
As doutrinas econômicas consistentes com a supremacia britânica mas
universais na forma – vantagens comparativas, o comércio livre e o
padrão-ouro – espalharam gradualmente para fora de si mesma.
 A Grã-Bretanha sustentou a balança de poder na Europa, impedindo
desse modo todo o desafio a sua hegemonia vinda dos países
continentais.
 Este país governou os mares e teve a capacidade de exigir dos
países periféricos obediência para as regras do mercado.

Hegemonia e a Ordem Mundial

1875-1945: Sem a presença de uma potência hegemônica.
Outros países desafiaram a supremacia britânica.
 A balança do poder na Europa tornou-se volátil, conduzindo às duas
guerras mundiais.
 Este país governou os mares e teve a capacidade de exigir dos
países periféricos obediência para as regras do mercado.
 O comércio livre foi substituído pelo protecionismo
 O padrão-ouro foi abandonado.
 Trata-se, pois, de algumas características de um período que não se
configura a presença de uma potência hegemônica.

Hegemonia e a Ordem Mundial
1945-1965: Os EUA eram a potência hegemônica.
Criaram as Instituições de Bretton Woods.
 Supremacia do dólar.
 Estabeleceram as regras da ordem mundial pós segunda guerra.
 Comércio: “open door”.
 País líder das democracias liberais.

1965
ao presente: Contestação da potência hegemônica.
Ascensão de novos concorrentes econômicos: Alemanha e Japão.
 Movimentos de contra-hegemonia: Terceiro Mundo (defesa de uma Nova
Ordem Mundial).
 Alargamento do gerenciamento político da Comissão Trilateral (América do
Norte, Europa e Japão).

Hegemonia e a Ordem Mundial
Para um Estado tornar-se hegemônico ele teria que
construir e proteger uma ordem mundial que seria
universal na sua própria concepção, isto é, não seria uma
ordem em que um Estado exploraria diretamente os outros,
mas uma na qual a maioria dos outros Estados (ou pelo
menos aqueles que estão dentro do alcance hegemônico)
achariam compatíveis com os seus interesses.
 Tal ordem dificilmente seria concebida em termos
apenas estatais, provavelmente isso traria para primeiro
plano as oposições entre os interesses dos Estados.

Hegemonia e a Ordem Mundial
Portanto, a hegemonia mundial (fundada por um
Estado poderoso que se submeteu a uma revolução
social e econômica completa) começa com uma
expansão externa da hegemonia interna (nacional)
estabelecido pela classe social dominante.
 As instituições econômicas e sociais, a cultura, a
tecnologia associada com a sua hegemonia nacional,
torna-se o padrão para a sua difusão nas relações
internacionais. *

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