Universidade do Minho Escola de Engenharia Departamento de Sistemas de Informação Aldemar de Araújo Santos ESTUDO DE IMPACTOS DE SISTEMAS INFORMÁTICOS INTEGRADOS DE GESTÃO DE INSTITUIÇÕES DE SAÚDE DO BRASIL: UMA ABORDAGEM SOBRE DESEMPENHO Tese submetida à Universidade do Minho para obtenção do grau de Doutor em Tecnologias e Sistemas de Informação (Engenharia e Gestão de Sistemas de Informação) Guimarães, Dezembro de 2002 Dedico este trabalho à minha Família: Raul, meu filho, Mily, minha esposa, Antonio, meu pai, Danilo, meu sogro, Irmãos(a) e Cunhados(a). Tese orientada por: Professor João Álvaro de Carvalho Departamento de Sistemas de Informação Escola de Engenharia Universidade do Minho Co-orientada por: Professor Luiz Carlos Miranda Departamento de Ciências Contábeis Centro de Ciências Sociais Aplicadas Universidade Federal de Pernambuco iv Agradecimentos Na realização deste trabalho, contei com a contribuição e o apoio de diversas pessoas. A todos agradeço e externo a minha gratidão. Ao professor João Álvaro de Carvalho, que viabilizou meu projecto e por ter me apoiado com sua competência, experiência e paciência. Nestes quatro anos, sempre demonstrou boa vontade e prontidão, discutindo os assuntos com profundidade e respondendo com distinção as minhas questões. Ao professor e colega do DCC/UFPE, Luiz Carlos Miranda, pelas orientações, sugestões e debate dos assuntos deste trabalho. Aos amigos Washington Martins, pelo incentivo; Marcus Túllio, Francisco Ribeiro e Josenildo Santos, pelas discussões e apoio. Aos colegas do DCC/UFPE, que aprovaram e incentivaram a minha saída para o doutoramento. Aos professores e amigos Claus Kaldeich, pelas discussões técnicas e assistência pessoal; José Manuel Esteves, pelos trabalhos em conjunto; Luís Polonah, pela correcções do português e a amizade; e Anabela Alves, pelas discussões e apoio logístico. Aos amigos e professores do DSI: Luís Amaral, José Carlos Nascimento, João Nuno, Filipe e Delfina Sá Soares, Miguel Abrunhosa, Carlos Sousa Pinto, Bentes Paulo, José Maria Fernandes de Almeida, Elisabete Paula, Maribel Yasmina, Jorge Sá. À Maria João, Íris Saraiva e Patrícia, que demostraram simpatia e prontidão nas minhas solicitações na Secretaria do DSI; Ao Jorge Figueiredo, Rui e Carlos, pelas ajudas nos Laboratórios. Finalmente, à minha esposa Mily e ao meu filho Raul, que entenderam e apoiaram a minha ausência. Ao meu pai Antonio, ao sogro Danilo, aos meus irmãos(a) e cunhados(a), especialmente, a Fernando Costa Sousa Neto, pela ajuda na programação. Agradeço ainda aos amigos estatísticos José Antonio e Sileide. v Resumo A importância da optimização dos recursos da saúde em países pobres, como o Brasil, é fundamental. Mesmo em países com níveis de desenvolvimento superiores, autoridades, gestores e pesquisadores estão preocupados em implementar acções para diminuir os custos, aumentar a eficiência, o custo-benefício e melhorar a qualidade e a satisfação na oferta de cuidados de saúde aos cidadãos, prestados pelas instituições públicas de saúde. Um componente da solução deste problema é a tecnologia da informação, por meio dos sistemas integrados de gestão de serviços de saúde, os denominados sistemas ERP (Enterprise Resource Planning). Assim, o objectivo desta investigação foi avaliar os impactos que os sistemas ERP podem exercer para melhorar o desempenho de serviços de instituições de saúde do sistema nacional de saúde do Brasil (SUS). A investigação foi planeada e desenvolvida em três fases principais: • Estudo da literatura dos assuntos: sistemas de informação (SI), sistemas ERP e informatização de serviços públicos de saúde. • Definição de elementos, indicadores de SI de serviços de saúde e enquadramento do estudo em modelos de avaliação de sucesso de SI. • Desenvolvimento de estudos de caso em dois hospitais (Recife e Rio de Janeiro) e aplicação de questionários em 21 hospitais de Recife, Fortaleza e Salvador. A discussão dos resultados do estudo constatou que: • Existem evidências de benefícios quantitativos (e.g., produtividade, custo, custobenefício) e qualitativos (e.g., qualidade, eficiência, satisfação) da utilização de sistemas ERP em serviços de instituições de saúde do SUS. • Apesar do volume dos recursos tecnológicos, financeiros e RH, os custos não são factores que impedem a adopção de sistemas ERP. • Existem formas para minimizar impactos negativos de adopção de sistemas ERP em serviços de saúde. vi Abstract The optimisation of health service resources in low-income countries, such as Brazil, is of fundamental importance. Even in more developed countries, health authorities, managers and researchers are involved in implementing initiatives that aim at reducing costs, to increase efficiency and cost-benefit ratio and to improve quality and user satisfaction in the provision of health care services to citizens. One component of the solution to this problem is information technology, by means of integrated management information systems for health services, namely ERP (Enterprise Resource Planning) systems. The aim of this study was thus to evaluate the impact that ERP systems could have on improving the performance of institutions belonging to the Brazilian National Health System (SUS). The research was planned and carried out in three main phases: • Study of the literature on: information systems (IS), ERP systems and computerisation of public health services. • Definition of elements, health service IS indicators and alignment of the study with IS success evaluation models. • Conduction of case studies in two hospitals (Recife and Rio de Janeiro) and application of questionnaires in 21 hospitals in Recife, Fortaleza and Salvador. The discussion of the results of the study concluded that: • There was evidence of both quantitative benefits (e.g. productivity, cost, costbenefit) and qualitative benefits (e.g. quality, efficiency, satisfaction) of the utilisation of ERP systems in SUS health service institutions. • Despite the quantity of technological, financial and human resources, cost is not a factor that inhibits the adoption of ERP systems. • There are ways of minimising the negative impacts of the adoption of ERP systems in health services. vii Índice Agradecimentos .................................................................................................................................... Resumo ................................................................................................................................................. Abstract ................................................................................................................................................. Índice .................................................................................................................................................... Índice de tabelas ................................................................................................................................... Índice de figuras ........................................................................................................ .......................... Siglas .................................................................................................................................................... iv v vi vii viii ix x 1 Introdução .......................................................................................................................................... 1.1 O problema: Contextualização .................................................................................................... 1.2 Objectivos do estudo .................................................................................................................... 1.3 Questões de investigação ............................................................................................................. 1.4 Relevância do estudo ................................................................................................................... 1.5 Estrutura da tese .......................................................................................................................... 1 2 4 5 7 8 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação .............................................................................. 2.1 Introdução ................................................................................................................................... 2.2 Importância da avaliação de SI no contexto organizacional ....................................................... 2.3 Mudança de foco na avaliação de sucesso de SI ......................................................................... 2.4 Evolução de avaliação de sucesso de SI ..................................................................................... 2.5 Influência do modelo de DeLone na avaliação do sucesso de SI ............................................... 2.6 Dificuldades da avaliação do sucesso de SI ................................................................................ 2.7 Avaliação do sucesso de SI no contexto organizacional ............................................................. 2.8 Outros modelos na avaliação do sucesso de SI ........................................................................... 2.9 Conclusão .................................................................................................................................... 12 13 13 14 17 20 22 25 29 37 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional ........................................................... 3.1 Introdução ................................................................................................................................... 3.2 Maturação da função SI .............................................................................................................. 3.3 Funções de coordenação e integração ......................................................................................... 3.4 Introdução a sistemas integrados de gestão: Sistemas ERP ....................................................... 3.5 Padronização e limitações de software ERP ............................................................................... 3.6 Justificações para adopção de produtos ERP .............................................................................. 3.7 Formas de implementação de ERP nas organizações ................................................................. 3.8 Funcionalidade e problemas de ferramentas ERP ....................................................................... 3.9 Estrutura básica de sistema ERP ................................................................................................. 3.10 Benefícios de sistemas ERP....................................................................................................... 3.11 Custos de sistemas ERP ............................................................................................................ 3.12 Conclusão .................................................................................................................................. 39 40 41 42 43 46 47 48 49 51 52 54 57 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de saúde ...................................................................... 4.1 Introdução ................................................................................................................................... 4.2 Ferramentas informáticas do serviço de saúde do Brasil ............................................................ 4.3 Características do serviço de saúde do Brasil ............................................................................. 4.4 Exemplos de soluções informáticas de serviços de saúde .......................................................... 4.5 Necessidade de avaliar recursos de informação em saúde .......................................................... 4.6 Indicadores de desempenho de serviços de saúde ....................................................................... 4.7 Programas de qualidade de saúde de iniciativa institucional ...................................................... 4.8 Conclusão .................................................................................................................................... 59 60 63 68 71 78 83 88 93 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países ............................................... 5.1 Desajustes de sistema integrado no serviço de saúde em Singapura .......................................... 5.2 Gestão de SI de serviços de saúde nas Filipinas ......................................................................... 5.3 Desenvolvimento de SI na Nigéria: Investigação no sector de saúde ......................................... 5.4 Um estudo de utilização de TI no sector de saúde em Moçambique .......................................... 5.5 Implementação de SI de gestão de saúde na área militar ............................................................ 5.6 Quem necessita e utiliza SI de serviços de saúde: Uma experiência .......................................... 5.7 Rede sociotécnica e gestão de SI de saúde na Nova Zelândia .................................................... 5.8 Um sistema de decisão e educação em medicina: Rede de informação ..................................... 5.9 Estratégia de gestão de SI no serviço de saúde do Reino Unido ................................................ 5.10 Conclusão .................................................................................................................................. 95 96 98 102 105 114 118 123 125 127 132 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo ................................................................ 6.1 A metodologia ............................................................................................................................. 6.2 O modelo de investigação ........................................................................................................... 6.3 Enquadramento do estudo no modelo de sucesso de SI .............................................................. 6.4 Utilização do método estudo de caso .......................................................................................... 6.5 Utilização de questionários ......................................................................................................... 6.6 Selecção e validação dos indicadores de desempenho de SI ...................................................... 6.7 Descrição sumária do desenvolvimento do estudo ..................................................................... 134 135 137 138 139 142 143 145 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso ............................................. 7.1 Contextos dos hospitais dos estudos de caso .............................................................................. 7.2 Selecção das unidades e serviços para os estudos ....................................................................... 7.3 Entrevista e observação directa ................................................................................................... 7.4 Estudo no Hospital Universitário Oswaldo Cruz ........................................................................ 7.5 Estudo no Hospital de Traumatologia e Ortopedia .................................................................... 7.6 Realização das entrevistas ........................................................................................................... 7.7 Codificação de categorias e indicadores das entrevistas ............................................................. 7.8 Análise de resultados das entrevistas .......................................................................................... 7.9 Citações de entrevistas sobre indicadores de SI de serviços de saúde ........................................ 7.10 Alguns resultados ...................................................................................................................... 148 149 149 150 151 153 155 156 158 161 167 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários ................................................ 8.1 Introdução ................................................................................................................................... 8.2 Características das instituições de saúde e dos inquiridos .......................................................... 8.3 Resultados das categorias /indicadores de SI utilizados em saúde ............................................. 8.4 Análise dos indicadores de qualidade de sistema: Categoria A ................................................. 8.5 Análise dos indicadores de utilização da informação: Categoria B ........................................... 8.6 Análise dos indicadores de satisfação dos utilizadores: Categoria C ......................................... 8.7 Análise dos indicadores de impacto individual: Categoria D ..................................................... 8.8 Análise dos indicadores impacto organizacional: Categoria E .................................................. 8.9 Importância relativa dos indicadores e das categorias ................................................................ 8.10 Benefícios (financeiros, qualitativos) e custos de utilização do SI ........................................... 8.11 Dificuldades de utilização do SI por funcionários e médicos ................................................... 8.12 Problemas da utilização do SI nos serviços de saúde dos hospitais .......................................... 8.13 Sugestões para a utilização de SI nos serviços dos hospitais .................................................... 8.14 Alguns resultados ...................................................................................................................... 171 172 174 180 183 186 187 188 190 192 194 196 197 199 200 9 Discussão dos resultados do estudo ................................................................................................... 9.1 Introdução ................................................................................................................................... 9.2 Os níveis de integração dos SI atendem aos requisitos do estudo .............................................. 9.3 Houve identificação de impacto organizacional com o modelo ................................................. 9.4 Os benefícios qualitativos de avaliação de SI são relevantes ..................................................... 9.5 A integração de SI ressaltou efeitos positivos e negativos ......................................................... 9.6 Houve satisfação com a utilização das ferramentas ................................................................... 204 205 207 208 211 212 213 9.7 Os custos dos produtos integrados não impedem a adopção ...................................................... 9.8 A adaptação de SI integrados a ambientes de saúde é relativa .................................................. 9.9 Considerações finais sobre a discussão dos resultados ............................................................... 214 215 216 10 Conclusões ....................................................................................................................................... 10.1 Houve queda de qualidade do SI por factores de manutenção ................................................. 10.2 Os SI possuem facilidades de apoio à pesquisa em saúde ........................................................ 10.3 Deve-se priorizar recursos nos SI de apoio directo a pacientes ................................................ 10.4 Os maiores efeitos se referem ao atendimento de pacientes pobres ......................................... 10.5 Os médicos são apenas utilizadores finais dos SI ..................................................................... 10.6 Os profissionais de apoio vêem oportunidades nos SI .............................................................. 10.7 Os projectos de SI em saúde precisam de aprovação de médicos ............................................ 10.8 As falhas de manutenção e infra-estrutura prejudicam os SI .................................................... 10.9 As instituições de saúde investem pouco nos SI ....................................................................... 10.10 Os programas de qualidade são aliados dos SI nas instituições ............................................. 10.11 A integração dos SI de serviços precisam evoluir .................................................................. 10.12 A informação de saúde tem baixa procura .............................................................................. 10.13 A agregação de funções da integração é uma boa solução ..................................................... 10.14 Sugestões sobre novas investigações ...................................................................................... 10.15 Contributo do estudo para as instituições de saúde ................................................................. 10.16 Limitações do estudo ............................................................................................................... 218 220 221 221 221 222 222 222 223 223 224 224 224 225 226 227 229 Referências ........................................................................................................................................... 230 Anexo A - Entrevistas sobre utilização de SI em serviços de saúde .................................................... A.1 As entrevistas sobre utilização de SI em hospitais do SUS ......................................... A.2 Entrevista sobre utilização de SI no serviço de saúde de Portugal .............................. 245 246 272 Anexo B - Ocorrência de indicadores de SI de serviços de saúde: Entrevistas .................................... 276 Anexo C - Inquéritos sobre indicadores /SI utilização em saúde ......................................................... C.1 Modelo dos inquéritos sobre indicadores /SI utilizados em saúde .............................. C.2 Resultados sobre inquiridos, hospitais e características dos SI ................................... C.3 Resultados sobre indicadores de SI utilizados em serviços de saúde .......................... 280 281 289 291 Anexo D - Classificação dos indicadores de SI: Classes A, B, C, D, E ............................................... 294 viii Índice de figuras Figura 1.1 Perspectiva do desenvolvimento da pesquisa .......................................................................... Figura 1.2 Estrutura da tese ........................................................................................................................ Figura 2.1 Níveis de informação e categorias de medidas de sucesso de SI .............................................. Figura 2.2 Modelo de medidas de sucesso de SI ........................................................................................ Figura 2.3 Modelo de causalidade e modelo de processos ......................................................................... Figura 2.4 Modelo de SI de apoio ao trabalho de grupo ............................................................................ Figura 2.5 Modelo de qualidade de serviço e impacto de trabalho de grupo ............................................. Figura 2.6 Modelo de memória organizacional para suporte a actividades ............................................... Figura 2.7 Modelo de relações de causalidade e resultados: Seddon e Kiew (1994) ................................. Figura 2.8 Modelo de causalidade de sucesso de SI .................................................................................. Figura 2.9 Modelo expandido de causalidade de sucesso de SI ................................................................. Figura 2.10 Modelo 3-D de sucesso de SI .................................................................................................. Figura 3.1 Estrutura básica de sistema ERP ............................................................................................... Figura 3.2 Relacionamento dos módulos FI-CO do sistema SAP R/3 ....................................................... Figura 3.3 Níveis de benefícios e valor acrescentado de sistema ERP ...................................................... Figura 4.1 Estrutura do subsistema SONHO /subsistema administrativo do IGIF/SNS ............................ Figura 4.2 Estrutura de projecto de informatização de hospital (PRINCE/NHS) ...................................... Figura 4.3 Contexto interdisciplinar de avaliação de serviços de SI em saúde .......................................... Figura 4.4 Estrutura de recursos de informação aplicados a instituições de saúde .................................... Figura 4.5 Estrutura da função gestão da informação da metodologia CBA/JCAHO ............................... Figura 5.1 Estrutura organizacional e fluxos de informação de saúde: Nível de distrito ........................... Figura 5.2 Estrutura do fluxo de dados do sistema CEIS/MHS ................................................................. Figura 5.3 Estrutura do estudo de necessidade e utilização de SI em saúde .............................................. Figura 5.4 Arquitectura do sistema de educação médica (SHINE) ............................................................ Figura 6.1 Modelo de investigação ............................................................................................................ Figura 6.2 Enquadramento do estudo no modelo de sucesso de SI ........................................................... Figura 6.3 Estrutura de desenvolvimento da investigação ......................................................................... Figura 6.4 Mapa político do Brasil: Regiões, Estados, Territórios e Capitais ........................................... Figura 7.1 Percentuais de categorias de indicadores de SI ......................................................................... Figura 7.2 Indicadores de qualidade do sistema (A) .................................................................................. Figura 7.3 Indicadores de utilização da informação (B) ............................................................................ Figura 7.4 Indicadores de satisfação do utilizador (C) .............................................................................. Figura 7.5 Indicadores de impacto individual (D) ...................................................................................... Figura 7.6 Indicadores de impacto organizacional (E) ............................................................................... Figura 8.1 Mapa do Nordeste do Brasil: Estados e Capitais ...................................................................... Figura 9.1 Frequência acumulada das classes ou categorias de indicadores .............................................. 7 9 19 20 24 30 31 32 33 34 35 37 51 52 53 73 77 79 81 92 108 116 119 126 138 139 146 146 158 158 159 159 159 160 173 209 ix Índice de tabelas Tabela 1.1 Gasto em abril/2000 com pacientes da rede pública de saúde (SUS) ................................... Tabela 3.1 Elementos de custos tangíveis e intangíveis do ciclo de vida de SI ERP ............................. Tabela 3.2 Custos de implementação de módulos de sistema ERP (SAP R/3) ...................................... Tabela 4.1 Principais sistemas de informação de saúde do SUS ............................................................ Tabela 4.2 Variáveis e indicadores de internamentos do sistema SIH/SUS ........................................... Tabela 4.3 Variáveis e indicadores de atendimentos do sistema SIA/SUS ............................................ Tabela 4.4 Atendimentos de ambulatórios e internamentos (sistemas: SIA, SIH) ................................. Tabela 4.5 Indicadores de desempenho de serviços de saúde do HEDIS ............................................... Tabela 4.6 Indicadores de desempenho de serviços de saúde da FACCT .............................................. Tabela 6.1 Classes de indicadores de desempenho de SI de instituições de saúde ................................ Tabela 8.1 Unidades /serviços que mais utilizam x menos utilizam o SI ............................................... Tabela 8.2 Unidades /serviços mais informatizados (mais utilizam o SI) .............................................. Tabela 8.3 Percentuais indicativos de nível de integração dos SI (inputs) ............................................. Tabela 8.4 Percentuais indicativos de nível de integração dos SI (outputs) ........................................... Tabela 8.5 Percentuais indicativos de nível de cobertura dos SI em hospitais ....................................... Tabela 8.6 Resultados dos indicadores de qualidade de sistema (A) ..................................................... Tabela 8.7 Ordem de importância dos indicadores de qualidade do sistema ......................................... Tabela 8.8 Resultados dos indicadores de utilização da informação (B) ............................................... Tabela 8.9 Ordem de importância dos indicadores de qualidade da informação ................................... Tabela 8.10 Resultados dos indicadores de satisfação dos utilizadores (C) ........................................... Tabela 8.11 Ordem de importância dos indicadores de satisfação dos utilizadores ............................... Tabela 8.12 Resultados dos indicadores de impacto individual (D) ....................................................... Tabela 8.13 Ordem de importância dos indicadores de impacto individual ........................................... Tabela 8.14 Indicadores de impacto individual mais importantes (citações) ......................................... Tabela 8.15 Resultados dos indicadores de impacto organizacional (E) ................................................ Tabela 8.16 Ordem de importância dos indicadores de impacto organizacional ................................... Tabela 8.17 Indicadores de impacto organizacional mais importantes (citações) .................................. Tabela 8.18 Importância relativa de indicadores e categorias ................................................................ Tabela B.1 Indicadores por entrevista e classe ....................................................................................... Tabela C.1 Quantidade de inquéritos incluídos na investigação: Resumo ............................................. Tabela C.2 Tempo médio que utilizadores dos hospitais trabalham com SI .......................................... Tabela C.3 Área nos hospitais onde os entrevistados trabalham ............................................................ Tabela C.4 Sector da estrutura do hospital onde os entrevistados trabalham ......................................... Tabela C.5 Tipos de hospitais de origem dos entrevistados ................................................................... Tabela C.6 Informatização das Unidades/Serviços dos hospitais (inquéritos)- Valor (%) ..................... Tabela C.7 Unidades /serviços mais informatizados (citados pelos entrevistados) ................................ Tabela C.8 Dados são alimentados em uma unidade e precisam ser alimentados em mais ................... Tabela C.9 Dados após serem alimentados podem ser acedidos em mais (unidade /serviço) ................ Tabela C.10 Grau de abrangência (ou cobertura) dos SI nos hospitais pesquisados .............................. Tabela C.11 Indicadores de qualidade de sistema: Classe A .................................................................. Tabela C.12 Indicadores de utilização da informação: Classe B ............................................................ Tabela C.13 Indicadores de Satisfação dos Utilizadores: Classe C ........................................................ Tabela C.14 Indicadores de impacto individual: Classe D ..................................................................... Tabela C.15 Indicadores de impacto individual mais importantes (citados pelos entrevistados) .......... Tabela C.16 Indicadores de impacto organizacional: Classe E .............................................................. Tabela C.17 Indicadores de impacto individual mais importantes (citados pelos entrevistados) .......... Tabela D.1Indicadores de Qualidade de Sistema (classe A) .................................................................. Tabela D.2 Indicadores de Qualidade da Informação (classe B) ............................................................ Tabela D.3 Indicadores de Satisfação dos Utilizadores (classe C) ......................................................... Tabela D.4 Indicadores de Impacto Individual (classe D) ...................................................................... Tabela D.5 Indicadores de Impacto Organizacional (classe E) .............................................................. 2 55 56 64 65 66 67 87 88 144 177 178 179 179 180 183 185 187 187 188 188 189 189 189 191 191 192 193 276 289 289 289 289 289 290 290 290 291 291 291 292 292 292 293 293 293 294 295 296 297 298 x Siglas AIH - Autorização de Internamento Hospitalar (SUS) ASIS - Sistema para Apoio à Gestão dos Serviços de Imunohemoterapia (IGIF/SNS) BPO/BPI - Boletim de Produção de Ambulatórios /Individual (SUS) BPR - Business Process Reengineering (processo de reengenharia do negócio) CAT - Computerized Axial Tomography (tomografia por computador) CBA - Consórcio Brasileira de Acreditação de sistemas e serviços de saúde (Brasil) CBO - Organização nacional para a garantia da qualidade (Holanda) CEIS - Corporation Executive Information System (MHS, EUA) CEO - Chief executive officer CGC - Cadastro Geral de Contribuintes (Ministério da Fazenda) CHAMPUS - Sistema de informação médica (MHS, EUA) CIO - Chief information officer CIPE - International Classification for Nursing Practice CO - Módulo de gestão de custo/lucro (Controlling, sistema SAP) CPF - Cadastro de Pessoa Física (Ministério da Fazenda) CQI - Aumento contínuo de qualidade (técnica para aumento de qualidade) CTI - Centro de Tratamento Intensivo (hospitais) DATAPREV - Empresa de processamento de dados da Previdência Social DATASUS - Departamento de Informática do SUS (Ministério da Saúde) DoD - Department of Defense (EUA) DOH - Department of Health (Filipinas) DRG - Diagnosis Related Groups (ou GDH - Grupos de Diagnósticos Homogéneos) DSI - Desenvolvimento de Sistemas de Informação DSS - Decision Support System (ou Sistema de Suporte à Decisão) DW - Data Warehouse ECO - Echocardiogram (ecocardiograma) EDW - Enterprise Data Warehouse EEG - Electrocardiogram (electrocardiograma) EIS - Executive Information System (sistema de informação de apoio a executivos) ERP - Enterprise Resource Planning (sistema integrado de gestão empresarial) EUA - Estados Unidos da América EURO - Moeda adoptada em países da União Europeia FAACT - Fundation for Accountability (órgão de qualidade de serviços, EUA) FAD - Fundação Avedis Donabedian (qualidade em saúde, Barcelona, Espanha) FCA - Ficha de Cadastro de Ambulatórios (SUS) FCH - Ficha de Cadastro Hospitalar (SUS) FHSIS - Field Health Services Information System (DOH, Filipinas) FI - Módulo de contabilidade financeira (sistema SAP) FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz (Ministério da Saúde) FPO - Programação Físico-Orcamentária (SUS) FTP - File Transfer Protocol GDH - Grupos de Diagnósticos Homogéneos ( ou DRG - Diagnosis Related Groups) GI - Função Gestão da Informação da metodologia CBA/JCAHO-JCI GIH - Guia de Internação Hospitalar (SUS) GSI - Gestão de sistema de informação HDS - Health and Disability Services, Lei de privatização da saúde (Nova Zelândia) HEDIS - Health Plan Employer Data Information Set (indicadores de serviços de saúde) HMO - Health Maintenance Organizations (órgãos de serviços de saúde, EUA) HMSO - Health Management Service Organizations (Reino Unido) HOSPUB - Sistema integrado de gestão de serviços de saúde (DATASUS) HTO - Hospital de Traumatologia e Ortopedia (Rio de Janeiro) HUOC - Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Recife) IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Brasil) IDB - Integrated Data Base (SGBD - sistema de software de gestão de bases de dados) IGIF - Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde (SNS, Portugal) INAMPS - ex-Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Brasil) INDEHELA - Methods for Informatics Development for Health in Africa (projecto) IPEA - Instituto de Pesquisa Económica Aplicada (Ministério da Fazenda) IPHO - Integrated Provincial Health Office (Filipinas) IR - Imposto de Renda (Ministério da Fazenda) IS - Information Systems ISO - International Standards Organization (órgão de padrões de qualidade, Genebra) JCAHO - Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (EUA) JCI - Joint Commission International (subsidiária internacional da JCAHO, EUA) LGU - Unidades governamentais locais (Filipinas) MCDT - Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica MF - Ministério de Fazenda (Brasil) MHS - Serviço Militar de Saúde (EUA) MIS - Management Information Systems MRP - Material Requirements Planning (planeamento de recursos materiais) MRP II - Manufacturing Resources Planning (planeamento de recursos de produção) MS - Ministério da Saúde (Brasil, Portugal) MTPS - Ministério do Trabalho e Previdência Social (Brasil) NCQA - National Committee for Quality Assurance (órgão de qualidade, EUA) NHS - National Health Service (serviço de saúde pública do Reino Unido) NHSME - National Health Service Management Executive (órgão gestor do NHS) OAU - Universidade de Obafemi Awolowo (Nigéria) OMIS - Organizational Memory Information System (SI de memória ogranizacional) OMS - Organização Mundial de Saúde (ou WHO - World Health Organization) PGF - Programa de Gestão Financeira (DATASUS) PhD - Philosophy Doctor PRINCE - Método para a gestão de projecto de SI (adoptado pelo NHSME) RH - Recursos Humanos RIS - Rede de Informação da Saúde (SNS, Portugal) RM - Região Metropolitana ROI - Return of investiment (retorno do investimento) SAD - Sistema de Apoio à Decisão (DSS em Inglês) SAM - Sistema de actividades médicas (módulo do sistema SONHO) SAME - Serviço de arquivo médico e estatístico (serviço hospitalar) SAMHPS - ex-Sistema de Assistência Médico Hospitalar da Previdência Social (Brasil) SAP - System Analysis and Program Development (fornecedor de produtos ERP) SAPE - Sistema de actividades de postos de enfermagem (módulo do sistema SONHO) SATG - Sistemas de apoio ao trabalho de grupo SCDE-Sistema de Classificação de Doentes por Graus de Dependência em Enfermagem SGAIH - Sistema de Gestão de Autorização de Internamento Hospitalar (DATASUS) SGBDR - Sistema de gestão de base de dados relacional (software) SHINE - Stanford Health Information Network for Education (Stanford University) SI - Sistema de Informação SIA - Sistema de Informações Ambulatoriais (consultas, exames, terapias, DATASUS) SIDA - Síndroma Imunoeficiência Adquirida (o mesmo que AIDS) SIDUH - Sistema de Informação de Dose Unitária Hospitalar (IGIF, SNS) SIG - Sistema de informações de gestão (MIS em Inglês) SIH - Sistema de Informações Hospitalares (internamentos hospitalares, SUS) SIM - Sistema de Informações sobre Mortalidade (Ministério da Saúde) SINAN - Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação (epidemiologia) SINASC - Sistema de Informações sobre Nados Vivos (Ministério da Saúde) SINUS - Sistema de Informação para as Unidades de Saúde (postos de saúde SNS) SIP - Sistema de informação de apoio ao planeamento estratégico (EIS em Inglês) SIS - Sistema Nacional de Informação de Saúde (Moçambique, África Ocidental) SNCPCH - ex-Sistema Nacional de Controlo de Pagamentos de Contas (MS) SNS - Serviço Nacional de Saúde (Ministério de Saúde, Portugal) SONHO - Sistema Integrador de Informação Hospitalar (IGIF/SNS) SOP - Sistema de informação de apoio a operação de processos (nível operacional) SPA - Serviço de pronto atendimento (SUS) SPP - Sistema Prospectivo de Pagamento (serviço de saúde do Medicare, EUA) SUS - Sistema Único de Saúde, serviço de saúde pública do Brasil TCP/IP - Transmission Control Protocol /Internet Protocol (protocolo da Internet) TI - Tecnologia de Informação TQM (Total Quality Management) - Técnica de gestão de controlo de qualidade UFPE - Universidade Federal de Pernambuco (Recife, Pernambuco) UM - Universidade do Minho (Braga e Guimarães, Portugal) UMLS - Unified Medical language System (Biblioteca Nacional de Medicina, EUA) UNIX - Sistema operativo (software) UPE - Universidade de Pernambuco (Recife, Pernambuco) USA - United States of America USAID - Agência Norte-Americana de Ajuda aos Países em Desenvolvimento (EUA). USD - Moeda norte-americano (dólar) UTI - Unidade de Tratamento Intensivo Web - World Wide Web (WWW, serviço da Internet) WHO - World Health Organization (ou OMS - Organização Mundial de Saúde) Y2K - Problema de software da mudança do milénio ou bug do milénio (ano 2000) Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Capítulo 1 "There are four ways of treating problems: 1) absolution a problem is to ignore it and hope it will go away or solve itself; 2) resolution - a problem is to do something that yields an outcome that is good enough, that satisfies; 3) solution - a problem is to do something that yields the best possible outcome, that optimizes; 4) dissolution - a problem is to eliminate it by redesigning the system that has it". RUSSELL ACKOFF (Ackoff's Best, p. 115) 1 Introdução Nesta tese é apresentado um estudo sobre o impacto de sistemas de informação (SI) integrados de gestão sobre o desempenho de serviços de instituições de saúde do Brasil (SUS). O trabalho foi estruturado e desenvolvido em quatro etapas principais: • estudo dos assuntos da literatura relacionada à investigação (capítulo 1 a 5); • conceptualização do problema e descrição da metodologia utilizada (capítulo 6); • realização da investigação: estudos de caso (2) e questionários (capítulos 7 e 8); • discussão de resultados e conclusões da investigação (capítulos 9 e 10). Este capítulo apresenta uma visão geral do estudo, define elementos conceituais e a forma como o estudo foi desenvolvido. Inicialmente, discute o problema da investigação, destaca necessidades de optimização de recursos para a saúde no Brasil e em outros países, bem como destaca necessidades de melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços nas instituições. Em seguida, apresenta as questões de investigação que nortearam o estudo e mostra a estrutura da tese com base nos capítulos (Figura 1.2). Por fim, discorre sobre a importância dos resultados do estudo para as áreas envolvidas (SI, Saúde), sobre os impactos de SI integrados de gestão sobre serviços de saúde do SUS. 1 Introdução 1 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 1.1 O problema: Contextualização A importância da racionalização e da eficiência dos recursos da saúde em países pobres, como o Brasil, é fundamental. Mesmo em países com níveis de desenvolvimento social e económico superiores, autoridades, gestores e pesquisadores estão preocupados em desenvolver políticas para diminuir os custos, aumentar a eficiência, o custo-benefício e melhorar a qualidade e a satisfação da oferta de serviços de saúde. O Brasil possui actualmente 170 milhões de habitantes, onde a maioria utiliza os serviços públicos de saúde que consomem considerável volume de recursos financeiros do Governo, conforme informações constantes da Tabela 1.1. Como consequência, nos últimos anos o governo tem dado prioridade a medidas de controlo, que visam minimizar os gastos e maximizar o atendimento e a qualidade dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde. Indicador Instituições da rede pública do SUS e prestadores de serviços Unidade Instituição Valor 6.449 Leito 487.338 Factura 1.028.184 Valor pago pelos internamentos hospitalares (AIH, factura) USD 232.658.320 Média de valor pago por internamento de paciente USD 226,28 Número de instituições da rede de atendimento de ambulatórios Instituição 54.078 Número de consultórios da rede de ambulatórios e prestadores Sala 108.215 Quantidade de leitos da rede hospitalar do SUS Autorizações de internamentos hospitalares pagas (AIH, factura) No. de atendimentos ambulatoriais (consulta, exame, terapia) Atendimento 116.512.708 Recursos pagos por atendimentos de pacientes de ambulatórios USD 235.614.900 Média de valor pago por atendimento de ambulatório USD 2,02 Total: internamentos mais atendimentos de ambulatórios USD 468.275.220 [Conversão de moedas: 1 Real (R$) = 0,56 USD, Abril/2000] Tabela 1.1 Gasto em abril/2000 com pacientes da rede pública de saúde (SUS). (Fonte: DATASUS/Ministério da Saúde). (AIH - Autorização de Internamento Hospitalar, sistema SUS). 1 Introdução 2 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Sobre problema semelhante, em Portugal, provedores de saúde e autoridades estão a discutir formas para optimizar os serviços de saúde, diminuir as listas de espera e melhorar a eficiência do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Especialistas e o Governo português têm feito abordagens que coincidem com os exemplos do Brasil e de outros países. A esse respeito, em artigo no periódico Diário de Notícias (12/Junho/2001), o Presidente da República, Doutor Jorge Sampaio, declarou: "[...] É verdade que a evolução dos sistemas de saúde tem acompanhado as dinâmicas sociais e a própria evolução da economia em todo o mundo. Os resultados em saúde transformaram-se num dos mais relevantes indicadores do progresso das sociedades... Mas, há um revés. Comparações internacionais também revelam que a prestação de cuidados de saúde em Portugal envolve custos excessivos relativamente aos resultados obtidos e, portanto, inequívocas ineficiências". Na Suécia, por exemplo, cada vez mais aumentam exigências de eficiência em saúde, onde se buscam possibilidades de melhoria da utilização dos recursos existentes e o aumento da produtividade dos serviços públicos de saúde [Marinho e Façanha 2000]. No Reino Unido, a racionalização de custos e a procura da eficiência dos cuidados de saúde continuam a serem perseguidos pelo governo inglês, como afirmam Crombie e Davies (1999, p. 9): "[…] Concerns about controlling the extent of spending have been a feature of the NHS since its inception. For most its 43 years, and certainly for the whole of the past quarter century, the dominant issue in the NHS has been its cost … it is now widely recognized that public expectations of health care in an affluent society rise consistently and relentlessly". Portanto, esse problema é mundial, complexo e difícil. A solução possui vários componentes e um desses é a tecnologia da informação (TI), por meio dos sistemas de informação (SI), que podem apoiar a organização, o controlo e o funcionamento dos serviços de saúde. Assim, a utilização de TI e SI pode influenciar a racionalização dos recursos, o aumento da eficiência, e o combate a desperdícios e fraudes de prestadores de 1 Introdução 3 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho serviços [Carvalho 1997]. Dentre os tipos de instrumentos informáticos, hoje no Brasil se utiliza um conjunto variado de ferramentas, desde os produtos simples até os sistemas informáticos completos, e.g., os sistemas integrados de gestão organizacional - os denominados sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), amplamente utilizado hoje em outros tipos de organização. Relativamente a SI integrados de gestão organizacional (ERP), cuja presença vem aumentando no sector de saúde do Brasil e de outros países, sabe-se que são produtos complexos e caros, porém, são eficazes e produzem resultados indispensáveis de apoio à gestão das organizações. Consomem razoáveis recursos nos processos de implementação, adaptação e exploração, do qual resultam necessidades de realização de investigações específicas, não só em termos de avaliação de custos financeiros, mas também sobre os benefícios quantitativos e qualitativos que podem produzir para instituições de saúde, utilizadores e utentes. Além dos problemas comuns a todo tipo de organização, a adaptabilidade de ferramentas integradas em instituições de saúde tem um maior grau de complexidade [Soh et al. 2000]. 1.2 Objectivos do estudo Diante dos custos envolvidos, os resultados precisam de ser traduzidos em termos de benefícios, de forma a permitir a escolha de alternativas para ajudar a melhorar a qualidade e a eficiência de serviços de saúde e também para racionalizar a aplicação de recursos financeiros na saúde, cujos montantes são elevados e motivos de discussões por autoridades do governo e a sociedade. No que se refere á utilização de SI integrados de gestão em serviços de instituições de saúde (SUS), gestores apresentam questões do tipo: • Os benefícios de SI integrados utilizados na saúde justificam os custos? • Os níveis de eficiência e qualidade dos serviços de saúde aumentam significativamente quando ferramentas de SI são utilizadas? • Além de benefícios quantitativos, que benefícios qualitativos surgem quando SI integrados são utilizados em serviços de saúde? • O nível do desempenho de serviços de saúde aumenta com a adopção de SI integrado de gestão? 1 Introdução 4 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Portanto, centrado em questões deste tipo relativamente à utilização de SI integrados em serviços de saúde, o objectivo deste estudo é identificar e avaliar benefícios quantitativos (e.g., custo, custo-benefício, produtividade, custo de stocks) e benefícios qualitativos (e.g., eficiência, qualidade, satisfação), relativamente a impactos da utilização de SI integrados de gestão em serviços de instituições de saúde do SUS. Assim, o estudo visa produzir resultados que podem dar suporte à implementação /utilização de acções operativas e de economia relativamente à melhoria de eficiência e qualidade de serviços de saúde, o que poderá, portanto, influenciar em aumento de níveis de satisfação de utentes e adicionar um vector de maior desempenho em relação à utilização de SI integrado de gestão em serviços de instituições de saúde do SUS. 1.3 Questões de investigação A solução do problema deste estudo possui vários componentes e um desses é a adopção /utilização de SI/SI, nomeadamente, os SI integrados de gestão, em serviços de saúde do SUS. A utilização desse tipo de SI em saúde vem aumentando a cada dia e pode influenciar na racionalização de recursos e no aumento de eficiência e qualidade dos serviços. Porém, sabe-se que esse tipo de software é complexo, caro e apresenta dificuldades de implementação, principalmente, em organizações específicas como hospitais [Soh et al. 2000]. Ferramentas integradas consomem muitos recursos em implementação, adaptação e exploração, portanto, surgem necessidades de realização de investigações específicas. Assim, com foco em instituições de saúde do Brasil, é oportuno a realização de estudo sobre a utilização dessas ferramentas de SI, para obtenção de respostas relativas questões de investigação do Quadro 1.1. 1 Introdução 5 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Q1 (Eficiência, Qualidade, Custo-benefício): Instituição pública de saúde que utiliza SI integrado de gestão apresenta melhores níveis de eficiência, qualidade e custobenefício em relação a serviços de saúde oferecidos com o apoio dessas ferramentas? Q2 (Benefícios: Qualitativos, Quantitativos): Instituição pública de saúde que utiliza SI integrado de gestão apresenta melhores benefícios quantitativos e qualitativos para pacientes, utilizadores e gestores da instituição? Q3 (Satisfação): Instituição pública de saúde que utiliza SI integrado de gestão apresenta melhores níveis de satisfação de pacientes, utilizadores e gestores, em relação aos serviços de saúde oferecidos? Q4 (Custos): Os custos de SI integrados de gestão são factores impeditivos de adopção desse tipo de software em instituições públicas de saúde? Q5 (Adaptação): Os SI integrados de gestão são ferramentas funcionalmente adaptáveis a actividades, serviços, ambientes e instituições públicas de saúde? Q6 (Desempenho): Com relação à utilização de SI integrados de gestão, que classes de indicadores podem ser utilizadas para avaliar o desempenho de serviços de saúde? Quadro 1.1 Questões de investigação. Por conseguinte, pretende-se responder a estas questões, por meio do estudo da literatura, desenvolvimento de estudos de caso /questionários em instituições de saúde (SUS), com base em análises e discussões de resultados da investigação, conforme ilustra a Figura 1.1. 1 Introdução 6 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Estudo da literatura: SI, SI integrados e utilização de SI em Saúde Estudos de caso de utilização de SI em serviços de Saúde Instituições de Saúde Resultados sobre impactos de utilização de SI em serviços de Saúde Questionários sobre utilização de SI em serviços de Saúde Figura 1.1 Perspectiva do desenvolvimento da pesquisa. 1.4 Relevância do estudo É inquestionável o apoio de ferramentas de SI integrados de gestão (sistemas ERP) no funcionamento e modernização das organizações. A prática e a tendência dos mercados mostram que esse tipo de software se firma cada vez mais em empresas de todos os sectores de negócio. Na área de saúde ocorre o mesmo, as instituições de saúde mais organizadas foram as primeiras a optarem por software integrado de gestão em actividades administrativas e em apoio à realização dos próprios serviços clínicos. Porém, sabe-se que a tecnologia de SI/TI não avança de modo uniforme nos diversos sectores da sociedade. As áreas de negócio mais organizadas que têm mais recursos, são justamente as que mais rapidamente absorvem esse tipo de tecnologia. A saúde, comparativamente a outros sectores, tem optado lentamente por esses produtos. Nota-se que existem hospitais onde as actividades clínicas e a qualificação de especialistas médicos são excelentes enquanto as actividades de SI ficam aquém do desejado. Isto 1 Introdução 7 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho muitas vezes mascara a eficiência, a qualidade e a satisfação dos serviços clínicos oferecidos pelas instituições a seus utentes. Contudo, neste trabalho estuda-se uma parcela de instituições de saúde do SUS, um sector crítico em termos funcional, administrativo e de gestão. Tomou-se os maiores e melhores hospitais do SUS, pois só esses possuem ferramentas considerados integradas. No entanto, isto foi necessário, porque daí se pode estender alguns resultados que podem ser úteis na condução do problema em hospitais menores, logicamente, também carentes em termos de apoio funcional, administrativo e de suporte à gestão. Outro ponto relevante deste estudo é a situação geográfica onde se desenvolve: o Nordeste do Brasil, que abrange dez Estados e é a região mais pobre do país. O estudo se baseia, principalmente, na rede de hospitais do Recife (Pernambuco), que concentra o maior índice populacional do Nordeste, onde se constatou necessidades de realização de estudo desse tipo. Os resultados podem ser utilizados para subsidiar e apoiar outras investigações ou projectos de melhoria de serviços da rede de instituições públicas de saúde da cidade do Recife, do Estado de Pernambuco e da Região Nordeste. Finalmente, a Região Metropolitana do Recife é considerada o segundo "pólo de saúde" do Brasil (o primeiro é São Paulo), que conta com muitos profissionais médicos, hospitais, clínicas, actividades, serviços e não conta, até agora, com estudo que tenha focado esta linha de investigação. Portanto, os resultados poderão ser úteis para apoiar instituições de saúde em processos de decisão, adopção e implementação de SI integrados de gestão, por conseguinte, poderão contribuir na melhoria de serviços oferecidos à população pela rede de hospitais do SUS. 1.5 Estrutura da tese A tese foi estruturada em três secções principais, conforme mostra a Figura 1.2: • estudo da literatura sobre SI, SI integrado, utilização de SI em serviços de saúde no Brasil e em outros países (capítulos 2 a 5); • definição de elementos e da metodologia de investigação (capítulo 6); 1 Introdução 8 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • realização da investigação, análise dos resultados e conclusões (capítulo 7 a 10). 1 Introdução 2 Avaliação do sucesso de 4 Avaliação de desempenho de sistemas de informação SI de serviços de saúde 3 Sistemas de informação 5 Utilização de SI/TI em integrados de gestão serviços nacionais de saúde de organizacional vários países 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 8 Análise de resultados sobre 7 Analise de resultados sobre SI SI de serviços de saúde: de serviços de saúde: Questionários Estudos de caso 9 Discussão dos resultados 10 Conclusões do estudo Figura 1.2 Estrutura da tese. 1 Introdução 9 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Resumidamente, os demais capítulos abordam os seguintes assuntos: O capitulo 2 trata o processo de avaliação de sucesso de SI em âmbito geral. Aborda a importância da avaliação de SI no contexto organizacional, discute a mudança de foco ocorrido no processo de avaliação e discute as fases e a influência do estudo de DeLone e McLean (1992) em avaliação de sucesso de SI; apresenta tipos, dificuldades e implicações de modelos de avaliação. Por fim, apresenta características de modelos de sucesso de SI que tiveram como base a linha do estudo de DeLone e McLean (1992). O capítulo 3 trata os SI integrados (ERP) na gestão das organizações. Inicia definindo a função de coordenação e integração em gestão da informação no contexto organizacional; entra na discussão dos sistemas ERP, quando discorre sobre a estrutura, os problemas, os custos e os benefícios desse tipo de ferramenta. O capítulo 4 retorna ao foco da avaliação dos SI, agora centrado na caracterização e tipificação de SI de serviços de saúde. Trata os SI de serviços de saúde do Brasil e aborda sobre os serviços de saúde de Portugal e da Inglaterra, para melhor posicionamento da investigação. Em seguida discute a avaliação do desempenho de SI de serviços de saúde, aborda as dificuldades de avaliação de SI nessa área, direccionadores e indicadores de avaliação de serviços e programas de qualidade de instituições de saúde. O capítulo 5 apresenta um conjunto de estudos sobre a utilização de sistemas informatizados em serviços nacionais de saúde de alguns países, e.g., Singapura, Filipinas, Nigéria, Moçambique, Estados Unidos (2), Canadá, Nova Zelândia e Inglaterra. Isto serviu para estabelecer comparações com elementos deste estudo. Capítulo 6 descreve a metodologia de desenvolvimento do estudo, ou seja, conceitua indicadores de desempenho de serviços em relação a SI integrados de gestão, apresenta o modelo de investigação, faz o enquadramento do estudo no modelo de DeLone e McLean 1 Introdução 10 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho (1992), define as classes e o conjunto de indicadores da investigação, mostra as fases de desenvolvimento da investigação. O capítulo 7 apresenta a análise de resultados dos estudos de caso, relativamente à utilização de SI integrados de gestão em serviços de instituições de saúde, no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Recife) e no Hospital de Traumatologia e Ortopedia (Rio de Janeiro). Analisa os resultados sobre os ambientes, unidades /serviços de saúde, utilizadores entrevistados, classes e indicadores de SI orientados à saúde. O capítulo 8 apresenta a análise dos resultados dos questionários sobre os indicadores de desempenho de SI em serviços de saúde. Discute os resultados de caracterização de instituições /inquiridos e dos indicadores /categorias (A a E) de desempenho de SI classifica os melhores e os piores indicadores das categorias e da pesquisa. O capítulo 9 apresenta a discussão global dos resultados do estudo, com base nas questões de investigação, nas informações dos estudos de caso (capítulo 7) e dos questionários (capítulo 8), comparativamente à definição de elementos da metodologia utilizada (capítulo 6). Por fim, o capítulo 10 apresenta um conjunto de conclusões sobre o estudo e algumas sugestões sobre futuras investigações nesta área e destaca os contributos do estudo para as instituições de saúde do SUS. 1 Introdução 11 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Capítulo 2 "Comment voulez-vous gouverner un pays qui a deux cent quarante-six variétés de fromage?" CHARLES DE GAULLE 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação Este capítulo trata aspectos da avaliação do sucesso de sistemas de informação (SI). Apresenta visões sobre importâncias, dificuldades, necessidades e esforços empreendidos em avaliação de medidas de sucesso de SI. Faz abordagens sobre estudos desta área e foca o trabalho de DeLone e McLean (1992), adoptado como linha básica no desenvolvimento deste estudo. Procurou-se estruturar este capítulo estabelecendo-se linhas de apoio em investigações antecedentes e consequentes ao estudo de DeLone e McLean (1992). Com o objectivo de esclarecer dificuldades que o problema encerra e criar alternativas para formulação de soluções condizentes com a investigação, mostram-se diferentes pontos de vista de pesquisados relativamente a métodos, processos e medidas de sucesso de SI. Para melhor entendimento de limitações, contextos, características e aplicabilidade de modelos desta linha de investigação, apresentam-se alguns modelos homólogos ou derivados do modelo de DeLone e McLean (1992), igualmente formulados para avaliação de sucesso de SI em ambientes organizacionais. 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 12 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 2.1 Introdução Segundo White e Bytheway (1996), na história dos SI nas organizações é provável que existam mais insucessos que sucessos dos SI, relativamente aos diversos grupos de utilizadores. E se utilizadores forem interrogados sobre as ferramentas de SI usadas em seus departamentos, provavelmente, essas pessoas exibirão um certo grau de indiferença. Muitos desconhecem os recursos de informação da organização onde trabalham. Sabe-se que, com o emprego de metodologias e recursos tecnológicos actuais, os especialistas são capazes de conceberem boas ferramentas de software, que podem ser utilizados com sucesso. Por conseguinte, será que os SI desenvolvidos actualmente não contemplam as reais necessidades e as expectativas requeridas pelos utilizadores finais? No entender de White e Bytheway (1996), os gestores de projectos de SI consideram sucesso quando um projecto é levado a cabo dentro do prazo previsto, sem muitas dificuldades. Porém, os utilizadores finais não conhecem meios para julgarem o que é um SI avançado tecnologicamente. No entanto, em suas visões do trabalho, eles são as pessoas mais indicadas para avaliarem os benefícios para o negócio em que actuam [White e Bytheway 1996, p., 74; Santos 1998, p. 126]. Provavelmente, a avaliação de sucesso de SI é uma actividade mal entendida por profissionais. Nota-se que desenvolvedores de SI precisam de compreender o que significa visão de sucesso na óptica de utilizadores, ou seja, conhecer os múltiplos factores que afectam suas realidades nos contextos organizacionais. Isto é, portanto, um indicativo que novos estudos devem perseguir resultados que apontem para maior equilíbrio entre visões de profissionais de SI, necessidades e expectativas de utilizadores finais. 2.2 Importância da avaliação de SI no contexto organizacional O papel das tecnologias de informação (TI) nas organizações contemporâneas continua a crescer em abrangência e em complexidade, o que dá maior responsabilidade ao investigador e ao profissional de SI relativamente à avaliação de sucesso (ou insucesso) dessas ferramentas, face às grandes dificuldades teóricas, metodológicas, recursos e variedade de resultados envolvidos nesse cenário [Garrity e Sanders 1998]. Em 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 13 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho consequência, torna-se crucial a necessidade de desenvolver teorias e critérios de avaliação de medidas de sucesso de SI aplicados ao trabalho. Em ambientes organizacionais, cada vez mais empresas têm de enfrentar grandes mudanças de mercados competidores, o que exige decisões rápidas. Portanto, nesse processo dinâmico e crescente, os SI representam elementos importantes de apoio à geração de soluções para as instituições. Segundo Moura (1997), a adopção de qualquer SI nas organizações levanta vários problemas. Apesar das potenciais recompensas serem grandes, os riscos e a incerteza envolvidos nesse tipo de recurso são igualmente significativos. Acrescenta o autor: "[...] académicos e não académicos são unânimes em afirmar que a avaliação de sucesso de SI é tarefa particularmente difícil mas, ao mesmo tempo, é essencial responder a esses problemas" (Moura 1997, p. 3). Na avaliação de SI torna-se importante considerar a expansão de horizontes e de perspectivas sobre os múltiplos pontos de vista relativamente às propriedades de um SI de sucesso. Referindo-se à perspectiva sociotécnica, Garrity e Sanders (1998) afirmam que, quando essa é ignorada na concepção do SI, aumenta o risco de implementação de solução desvinculada com o comprometimento do utilizador e com as necessidades da organização. Perspectiva sociotécnica, refere-se à satisfação no trabalho e em outras necessidades intrínsecas e cognitivas de interesses dos utilizadores finais, que implicam mudanças na organização por meio de optimização de actividades, treinamento, aprendizagem, qualificação profissional, as quais contribuem para o crescimento profissional de utilizadores e influenciam a melhoria do desempenho da organização. 2.3 Mudança de foco na avaliação de sucesso de SI Segundo Goodhue e Thompson (1995), as primeiras investigações dos impactos dos SI foram sobre os efeitos da introdução das tecnologias da informação (TI) nas empresas e tratam, predominantemente, de produtividade, dimensão de tarefas, desempenho individual ou alguns atributos de abrangência organizacional, tais como centralização, 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 14 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho descentralização de recursos tecnológicos. Os resultados dos primeiros estudos nessa área indicam que os efeitos dos SI afectam os resultados do trabalho, mas esses resultados são complexos e permeados de outros valores [Joshi e Rai 2000]. Na visão de Symons (1990), King e Kraemer (1986), SI pode ser melhor entendido quando visto não só os recursos técnicos do produto mas também os aspectos sociais envolvidos. Portanto, para melhor compreensão desse processo faz-se necessário o estudo de modelos de SI relativamente a recursos técnicos envolvidos, actividades do negócio e resultados típicos dos trabalhos desenvolvidos nas organizações. No entender de Sarafeimidis e Smithson (2000), a investigação sobre a avaliação de SI vem sendo dominada por um positivismo científico pragmático. A concepção tradicional (racional-formal ou funcionalista) vê a avaliação de SI como um julgamento externo, trata-o como se fosse isolado dos efeitos organizacionais e humanos, quando é dada excessiva ênfase a aspectos tecnológicos e a resultados contabilísticos. Segundo esses autores, assim procedendo, inibem-se valores qualitativos importantes de suporte às actividades da organização. Portanto, "[...] Avaliação de SI é um processo social entrelaçado por resultados formais e resultados informais sobre o qual diferentes actores emitem juízo de valores" (Sarafeimidis e Smithson 2000, p. 94). Muitos autores têm enfatizado que avaliação de SI poderia tornar-se mais completa com a utilização de epistemologia interpretativa, a que oferece uma estrutura de análise que auxilia no entendimento e na valoração dos sentidos atribuídos por indivíduos ao estudo do fenómeno [McLean 1973, Hamilton e Chervany 1981, Johnston e Vitale 1988, DeLone e McLean 1992, Ghorab 1997, Garrity e Sanders 1998]. A avaliação interpretiva da qualidade do SI ajuda a envolver uma variedade maior de grupos de utilizadores, bem como, evidencia entendimento e aprendizagem sobre os objectos envolvidos [Sarafeimidis e Smithson 2000]. Segundo Myers et al. (1997), no final da década de 70 surgiram artigos que discutiam a necessidade de avaliar a contribuição da função SI nas organizações [King e Rodriguez 1978, Matlin 1977, Rolefson 1978]. No princípio, as investigações de análise de medidas 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 15 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho de sucesso de SI concentraram-se em considerações económicas e ideias de que seriam necessárias múltiplas medidas para o desenvolvimento de um quadro mais claro sobre o problema. Os primeiros estudos abordavam medidas de funcionalidade e de desempenho de sistemas computacionais. Por exemplo, o estudo de Borovits e Neumann (1979) que descreve índices de capacidade, tempo de resposta, percentual de overhead, confiabilidade, utilização computacional do sistema, tempo consumido pelo software, velocidade e disponibilidade de recursos de hardware e de software. McLean (1973) foi um dos primeiros investigadores a chamar atenção para uma mudança do foco de avaliação de sucesso de SI, quando advogava mudanças de objectivos computacionais para perspectivas organizacionais, "[...] doing the right thing rather than doing the thing right" (McLean 1973, in Myers et al. 1997, p. 7). Para correcção de perspectivas, além do envolvimento de profissionais de computação seria necessário incorporar profissionais de outras disciplinas, bem como levar em conta os objectivos e as metas perseguidas pelas organizações. O autor diz que eficiência e eficácia são diferentes, portanto, requerem medidas distintas. Uma função eficiente de SI não é necessariamente uma função eficaz. Eficiência refere-se a requisitos internos da função SI, enquanto eficácia requer uma visão externa. Por exemplo, uma medida de eficiência de uma função SI pode ser o número de tarefas concluídas em unidades de tempo; e uma medida de eficácia de função SI pode ser o impacto da informação no apoio do trabalho dos utilizadores finais. Conclui o autor: "[...] eficiência está relacionada com fazer coisas de forma correcta, i.e., correctamente; eficácia está relacionada com fazer coisas certas" (McLean 1973, in Myers et al. (1997), p. 7). Nessa mesma linha, Lucas (1972) apresentou a ideia de participação de utilizadores na avaliação da função SI. Na década de 80 outros autores sugeriram avaliações de SI por meio de inclusão de pontos de vista de avaliadores de diferentes disciplinas. Os estudos de Hamilton e Chervany (1981a, 1981b) focam nessa direção. Garrity e Sanders (1998) afirmam que o sucesso de SI pode ser avaliado de múltiplas perspectivas e formas. No nível organizacional, o sucesso de SI deve ser avaliado 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 16 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho utilizando-se métricas relacionadas com o desempenho organizacional, ou seja, contributos do SI relativos a lucratividade, participação no mercado, retorno de investimento, satisfação de clientes, qualidade de serviços; e no nível de processos e funções, as avaliações podem ser feitas em termos da eficiência de utilização de recursos e de redução de tempos de ciclos de processos, o que coincide com a visão de McLean (1973); finalmente, no nível individual devem ser realizadas análises relativamente à utilização do sistema e à satisfação dos diversos tipos de utilizadores. 2.4 Evolução de avaliação de sucesso de SI Segundo DeLone e McLean (1992), na Primeira Conferência Internacional de Sistemas de Informação (ICIS), Keen (1980) lançou as seguintes questões, que apresentou como importantes a serem resolvidas sobre SI de gestão organizacional (MIS), para estabelecimento de uma área de investigação coerente: (1) Quais são as disciplinas de referência para MIS? (2) Qual é a variável dependente de sucesso de SI? (3) Como SI pode estabelecer uma tradição cumulativa de investigação? (4) Qual é a relação de investigação de SI com informática e com prática? (5) Onde poderiam investigadores de SI publicar seus resultados? DeLone e McLean (1992) optaram por tratar a questão dois relativamente a qual variável dependente na investigação do sucesso de SI. A partir de então, vários investigadores tomaram essa abordagem e acrescentaram outras contribuições ao trabalho destes autores (e.g., Ballantine et al. 1996, Moura 1996, Ghorab 1997, Myers et al. 1997, Seddon 1997, Jennex 1998, Teo e King 1999, Hedman e Borell 2002). Estudos desta linha ajudaram a esclarecer as questões lançadas no ICIS por Keen (1980) e portanto, têm fortalecido a então tradição cumulativa à investigação de SI, notadamente no campo das organizações. No entender de DeLone e McLean (1992), se investigações em SI pretendem construir contribuições para utilizações práticas, é essencial uma boa definição da medida de resultados, ou seja, a definição da variável dependente. No entanto, definir variável dependente em SI é importante mas não é tarefa fácil. A avaliação prática de SI envolve 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 17 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho políticas, processos e resultados organizacionais distintos, que podem ser vistos de vários ângulos, formas e dimensões. Isso produz vários tipos de medidas e o emprego de diferentes estratégias de avaliação e análise. Afirmam estes autores: "[...] sem uma boa definição da variável dependente muitas investigações de SI são puramente especulativas." (DeLone e McLean 1992, p. 61). 2.4.1 Primeiras iniciativas de avaliação da informação Em trabalho pioneiro sobre teoria da comunicação, Shannon e Weaver (1949) sugeriu três níveis, para o melhor entendimento dos mecanismos de produção, transmissão e avaliação da informação. Segundo estes autores, os níveis são: nível técnico que se refere à exactidão e eficiência do sistema que produz a informação; nível semântico, que trata da aplicabilidade ou sucesso da informação relativamente ao significado desejado; e nível de eficácia /eficiência, que se refere ao efeito da informação sobre o receptor ou utilizador (Figura 2.1). Com base no trabalho de Shannon e Weaver (1949), Mason (1978) tratou eficácia como influência e definiu o nível de influência da informação como sendo: "[...] uma hierarquia de eventos que ocorrem na recepção final da informação no SI, que podem ser utilizados para identificar os vários recursos de medidas de saída no nível de influência" (DeLone e McLean 1992, p. 61). Nessas séries de eventos de influências incluem-se o receptor da informação, uma avaliação e utilização da informação, os quais contribuem para mudança de comportamento do receptor e mudança de desempenho do sistema (Figura 2.1). Segundo DeLone e McLean (1992), o conceito de níveis da teoria da comunicação definidos por Shannon e Weaver (1949) demonstra a natureza serial da informação (i.e., uma forma de comunicação). O SI cria informação, que é comunicada ao receptor, e este é então influenciado ou não pela informação. De acordo com a teoria da comunicação, nesse processo a informação flui através de estágios, partindo da produção até a utilização, quando então produz influência na forma de desempenho individual ou desempenho organizacional do sistema. 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 18 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Assim, com base nos estudos anteriores e valendo-se de princípios da teoria da comunicação, DeLone e McLean (1992) classificaram e ordenaram medidas de sucesso de SI em categorias ou dimensões, o que alguns investigadores consideram uma evolução ou paralelismo de modelos precedentes [Ballantine et al. 1996; Myers et al. 1997]. Níveis Shannon & Weaver (1949) Mason (1978) DeLone e McLean (1992) Dimensões de Sucesso de SI Técnico Semântico Produto Produção Qualidade do sistema Qualidade da informação Eficácia ou eficiência Recepção Utilização Influência no receptor Satisfação do utilizador Impacto individual Influência no sistema Impacto organizacional Figura 2.1 Níveis de informação e categorias de medidas de sucesso de SI. (Fonte: DeLone e McLean (1992), adaptado). A Figura 2.1 mostra os três níveis de informação de Shannon e Weaver (1949) juntos com a expansão dos níveis de eficácia ou influência de Mason (1978). Segundo Ballantine et al. (1996) e Myiers et al. (1997), esses conceitos contribuíram com a evolução para as seis categorias distintas ou dimensões de medidas de sucesso de SI de DeLone e McLean (1992): qualidade do sistema, qualidade da informação, utilização, satisfação do utilizador, impacto individual, impacto organizacional (Figura 2.2). 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 19 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 2.5 Influência do modelo de DeLone na avaliação do sucesso de SI Até à década de 80 muitos pesquisadores vinham discutindo os vários aspectos de sucesso de SI no contexto organizacional, quando então estabeleciam difíceis comparações e panoramas divergentes para uma tradição cumulativa de investigação nessa área [Ballantine et al. 1996]. Na década seguinte, o estudo de DeLone e McLean (1992) relativo a vários aspectos de SI, consolidou investigações prévias sobre o assunto, classificou e agrupou medidas de sucesso de SI e apresentou um modelo básico. Esse estudo representa um contributo importante para o desenvolvimento de investigações de avaliação de sucesso de SI, e é considerado por muitos autores como o ponto de partida para investigações empíricas e teóricas da área. Com base em estudos conceptuais e empíricos, DeLone e McLean (1992) revisaram 180 artigos, organizaram e criaram classes de acordo com taxonomias e dimensões identificadas. Centrados na informação de aspectos de sucesso, estruturaram um modelo descritivo "temporal-causal" de medidas de sucesso de SI (Figura 2.2). Qualidade do Sistema Utilização Impacto Individual Qualidade da Informação Impacto organizacional Satisfação do Utilizador Figura 2.2 Modelo de medidas de sucesso de SI. (Fonte: DeLone e McLean (1992), adaptado). Parte dos pesquisadores interessam-se por influências que os produtos da informação podem exercer em decisões gerenciais (impacto individual); outros em níveis de utilização do SI no trabalho e, portanto, têm manifestado preocupações com os efeitos do produto da informação no desempenho dos sistemas nas organizações (impacto organizacional). Surgiram depois outros pesquisadores nesta linha que procuraram detalhar e explorar aspectos ou sub-dimensões de medidas de sucesso de SI [Ballantine et 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 20 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho al. 1996, Moura 1996, Ghorab 1997, Myers et al. 1997, Seddon 1997, Jennex et al. 1998, Teo e King 1999, Hedman e Borell 2002]. Na concepção de DeLone e McLean (1992), os investigadores devem utilizar medidas de uma ou mais categorias do modelo, de acordo com os objectivos de estudo. Se o objecto de interesse está em características do SI, então os investigadores têm focado a primeira dessas categorias (qualidade do sistema). Outros têm escolhido o produto da informação no que se refere a exactidão, tempo, significado (qualidade da informação). No nível de influência, pesquisadores têm analisado a interacção do produto da informação com seus receptores, os utilizadores e/ou decisões tomadas (utilização ou satisfação do utilizador). Os trabalhos de Zmud (1979), Ives e Oslon (1984), precedentes ao estudo de DeLone e McLean (1992), com base na literatura de SI, sugeriram medidas de sucesso que têm sido utilizadas em muitas investigações empíricas. Num estudo de envolvimento de utilizadores finais de SI, Ives e Oslon (1984) adoptaram duas classes de variáveis: qualidade do sistema e aceitação do sistema. Em revisão de diferenças individuais, Zmud (1979) considerou três categorias de medidas de sucesso de SI: desempenho do utilizador, utilização do SI, satisfação do utilizador. DeLone e McLean (1992) afirmam que as revisões de literatura de Zmud (1979), Ives e Oslon (1984) criaram importante contribuição para a compreensão de medidas de sucesso de SI. Os dois estudos preocuparam-se mais com investigação de variáveis independentes (envolvimento do utilizador [Ives e Oslon 1984] e diferenças individuais [Zmud 1979], do que com a variável dependente, ou seja, variável de medidas de resultado de sucesso de SI, a qual foi o objectivo principal da investigação de DeLone e McLean (1992). No entender de Seddon (1997), o estudo de DeLone e McLean (1992) produziu duas contribuições importantes para a investigação de SI: a classificação em seis categorias ou dimensões das múltiplas medidas de sucesso de SI; a criação de um modelo de dependência "temporal-causal" de categorias de medidas de sucesso (Figura 2.2). 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 21 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 2.6 Dificuldades da avaliação do sucesso de SI Pesquisadores têm tentado definir formas efectivas de avaliar o sucesso de SI aplicadas aos processos organizacionais [Myers et al. 1997]. Esse problema foi muito debatido na década de 70. Steers (1975) revisou a literatura sobre eficácia organizacional e notou que medidas de desempenho de SI em organizações são multivariáveis, o que veio a ser confirmado mais tarde por DeLone e McLean (1992). Após comparar dezessete modelos de mutivariáveis da literatura, Steers (1975) concluiu que não havia consenso sobre o que constitui um conjunto de medidas de desempenho de SI usuais ou consideradas válidas. Segundo White e Bytheway (1996, p. 76): "[...] causas de dificuldades de insucesso de SI estão no cerne do campo de gestão de projectos de desenvolvimento". Tal opinião é também partilhada por Carvalho e Amaral (1993), quando identificaram uma área comum de conflito de actividades organizacionais e actividades de desenvolvimento de SI, a que denominaram "problemas de interface", decorrentes de dificuldades de comunicação entre gestores e profissionais, pela existência de linguagens específicas de cada grupo. Para minimizar dificuldades de convivência necessária de equipas de culturas distintas, os autores afirmam que o planeamento do SI motiva o tratamento conjunto de actividades comuns, o que pode resultar em desenvolvimento de SI de melhor qualidade (sucesso). Estudos de Galloway e Whyte (1989) e Jones e Kydd (1988) sugerem que as causas de dificuldades de sucesso de SI poderiam ser indicações de problemas implícitos sobre incerteza (falta de informação), equívoco (falta de clareza, ambiguidade no projecto), inconsistência e falta de coordenação entre elementos chave do projecto, que envolvem, ferramentas de trabalho, tecnologia utilizada, profissionais informáticos, utilizadores finais [Carvalho e Amaral 1993]. Miller (1989) também lança alguma dúvida sobre a capacidade dos métodos de avaliação de sucesso de SI relativamente a produto e processo. No entender de Seddon (1997), pode não ser possível avaliar o resultado do processo de forma exacta. Com relação ao resultado do produto, este autor vê a utilização do SI como um indicador chave, mas conclui que seu conteúdo é composto por um conjunto de significados, e questiona: a 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 22 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho utilização do SI é ampla ou discreta? A influência da informação é alternativa? Que efeito tem a experiência do utilizador na utilização da informação? Que parte da informação obtida é efectivamente utilizada? Com o alargamento de perspectivas e objectivos de avaliação de sucesso de SI, em decorrência da consideração dos múltiplos pontos de vista dos utilizadores, verificou-se a existência de diferentes medidas, cujas identificações dependem de aspectos de abordagens dos estudos de interesse. Segundo DeLone e McLean (1992), algumas dessas medidas têm sido identificadas e utilizadas no trabalho, mas não estudadas empiricamente; outras medidas têm sido avaliadas com o emprego de diferentes instrumentos, o que dificulta comparações entre estudos. 2.6.1 Implicações da não uniformidade dos modelos Na Figura 2.3, baseando-se no trabalho de Newman e Robey (1992), Seddon (1997) ilustra dificuldades identificadas em processos de avaliação de sucesso de SI. A figura destaca diferenças conceptuais entre modelo de causalidade (ou variância) e modelo de processos. Modelo de causalidade pode ser testado empiricamente, por meio de colecta de dados de um conjunto de casos e a correlação de valores por meio de técnicas estatísticas (e.g., mínimos quadrados, regressão linear), para determinação de diferenças de uma população. Nos modelos de causalidade a variância pode ser considerada para os elementos de toda a população. Neste tipo de modelo, resultados de variâncias de variáveis independente são "necessária e suficientemente" causas das variáveis dependentes do modelo (Figura 2.3a). Contrariamente, operações sobre modelos de processos (Figura 2.3b), mostram que certas combinações de eventos de uma sequência particular podem apresentar resultados não esperados. Nesse caso, cada evento no modelo é "necessária mas não suficientemente" causa para o evento seguinte ou efeito de evento anterior (Seddon 1997, p. 241). 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 23 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Relativamente a esses tipos de modelos, há um exemplo conhecido na literatura [Mohr 1982] sobre transmissão de malária, que ilustra efeitos de eventos de modelo tipo causalidade. Exemplo (Figura 2.3b): no evento (A) uma pessoa com malária é picada pelo mosquito (que não possui a malária); (B) o parasita da malária desenvolve-se no estômago do mosquito; (C) após algumas semanas de crescimento, parasitas novos da malária entram na saliva do mosquito; (D) o mosquito com parasitas jovens em sua saliva pica alguém e transmite a malária; (E) passados alguns dias os parasitas jovens da malária adquirem maturidade no corpo da nova vitima; (F) finalmente, a nova vítima desenvolve a malária. Assim, houve uma transmissão indirecta da doença. Variável independente R Variável dependente X Processo de inferência Variável independente S Variável independente T Variável dependente Y (a) Modelo de causalidade (ou variância) Condições antecedentes Resultado F (b) Modelo de processos Evento A Evento B Evento C Evento D Evento E Figura 2.3 Modelo de causalidade e modelo de processos. (Fonte: Seddon (1997), adaptado). No exemplo sobre transmissão de malária, o evento (C) não é causa do evento (D). A ligação entre (C) e (D) explica que, se os eventos (A), (B), (C) ocorreram e (D) ocorre então os eventos (E) e (F) provavelmente ocorrerão. Neste caso, caixas de eventos de modelos de processos representam ocorrências ou não ocorrências de eventos discretos e setas indicam sequências e não causalidade, ao contrário do que acontece em modelos de causalidade. Mohr (1982), Newman e Robey (1992) recorreram a alguns tipos de 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 24 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho doenças para explicar que certas sequências de eventos de modelos de processos podem implicar significados diferentes quando combinados, o que gera alguma imprevisibilidade na avaliação desse tipo de modelo. Na concepção de Seddon (1997), o constructo de DeLone e McLean (1992) combina modelo de causalidade e modelo de processos, o que deu origem a parte dos estudos subsequentes de reorientação de relações das dimensões para explicar o modelo original. No entendimento deste autor, maiores dificuldades de aplicabilidade do modelo de DeLone e McLean (1992) concentram-se na dimensão utilização, motivo pelo que tem dado origem a novos estudos que tentam definir sub-dimensões de maior detalhamento ou esclarecimento do modelo. Apesar de enfrentar discordância, a literatura confirma que o estudo de DeLone e McLean (1992) foi um contributo importante para o processo de determinação de medidas de sucesso de SI. Porém, os próprios autores reconhecem que o investigador deve cercar-se de certos cuidados ao seleccionar as medidas do objecto de estudo. Há outras implicações sobre as dificuldades de avaliações de sucesso, por exemplo, Lucas (1975) afirma que a não utilização do SI também representa um factor a ser considerado na avaliação do sucesso. Contudo, lembra que muitos estudos têm assumido que a maximização de utilização de SI representa sucesso, o que, necessariamente, não é verdade. Há casos em que sistemas são muito utilizados mas os resultados produzidos não representam benefícios significativos para as organizações proprietárias. 2.7 Avaliação do sucesso de SI no contexto organizacional Alguns investigadores têm evitado tratar o sucesso de SI em relação ao desempenho das organizações, devido a dificuldades em isolar outros efeitos sobre o SI, que também influenciam o desempenho organizacional [Ackoff 1969, DeLone e McLean 1992, Ballantine et al. 1996, Garrity e Sanders 1998, Hedman e Borell 2002]. Ackoff (1969) trata o problema e tenta resolver dificuldades e incertezas por meio da definição de um conjunto de variáveis livres (externas à organização), as quais representam influências externas sobre o desempenho dos SI nas organizações. Ballantine et al. (1996) 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 25 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho apresentam raciocínio análogo, quando definem filtros e factores exógenos para representar tais influências externas sobre o SI. Hedman e Borell (2002) propõe um modelo de competição de valores (CVM) composto pela interacção de quadro submodelos: relações humanas (HR), processos internos (IP), metas racionais (RG) e sistemas abertos (OS). Segundo Ishman (1998), o modelo de DeLone e McLean (1992) é multidimensional em termos de níveis e de análise de medidas. Impacto individual, qualidade do sistema e qualidade da informação são consideradas dimensões importantes relativamente à satisfação do utilizador; a utilização do sistema tem sido a dimensão mais investigada. Conceptualmente, utilização do sistema é fácil de entender, todavia, em termos de multiplicidade de medidas e análise de resultados, deve-se, por isso, dar importância a essa dimensão em processo de medidas de sucesso de SI . Historicamente, tem sido uma premissa aceitável que o envolvimento do utilizador é um factor básico para sucesso do SI na organização. Ives e Oslon (1984) encontraram fortes indícios na literatura sobre os efeitos de participação de utilizadores em planeamento e concepção de sistemas. Envolvimento do utilizador pode influenciar positivamente na produtividade e em níveis de satisfação sobre a utilização do SI [Seddon 1997]. As actividades quotidianas das organizações têm comprovado a importância do envolvimento do utilizador, pois "[...] deve-se ter em mente que o utilizador é o maior especialista no problema [...] é o utilizador quem melhor entende detalhes de dados e funções da organização onde trabalha" (Santos 1998, p. 126). Muitas pesquisas que trataram o efeito de SI sobre desempenho individual foram primeiramente estudadas em laboratório, com a participação de estudantes em simulações por computadores. Foram realizados na Universidade de Minnesota [Dickson et al. 1977]. Foram estudados os efeitos de diferentes formatos e modos de apresentação da informação em desempenho de tomadas de decisão sobre gestão de stocks. King e Rodriguez (1978, 1981), mediram desempenho de tomadas de decisão em testes de respostas de participantes relativamente a hipóteses de problemas estratégicos de 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 26 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho organizações. Lucas e Nielsen (1980) avaliaram o desempenho de participantes em termos de ganhos em jogo logístico de gestão empresarial (desempenho organizacional). Em outro estudo, Lucas (1981) investigou os efeitos visuais de telas de programas de computadores em decisões envolvendo gestão de stocks; Remus (1984) utilizou custos de decisões programadas para avaliar efeitos de telas tabulares simples contra telas gráficas. Outros trabalhos de campo e estudos de caso têm tratado influências de SI e relacionado várias medidas de desempenho organizacional com variáveis dependentes [Ballantine et al. 1996, Moura 1997, Ghorab 1997, Myers et al. 1997, Seddon 1997, Jennex et al. 1998, Teo e King 1999, Hedman e Borell 2002]. Chervany et al. (1972) escolheram a redução de custo como variável dependente; Emery (1971) tratou a redução de custo operacional em actividades externas à organização. Portanto, nota-se que a determinação de medidas de desempenho organizacional não é fácil e continua aberta à realização de novas investigações. 2.7.1 Medidas quantitativas e medidas qualitativas Constata-se que a literatura sobre o desempenho de SI dá maior destaque a medidas quantitativas. Porém, resultados quantitativos são insuficientes para representar benefícios tangíveis, sobretudo, não exprimem muitos benefícios intangíveis que influenciam significativamente o desempenho das organizações. Benefícios tangíveis, em termos de custos, são valores que podem ser medidos de forma directa, expressos ou não em termos numéricos ou monetários (e.g., infra-estrutura de hardware, licença de software, consultoria, custo de novas aplicações). No entender de Esteves et al. (2000), por sua vez, custos intangíveis são valores difíceis de serem mensurados porque referemse a valores menos concretos (e.g., custo de tomada de decisão, perda de competitividade, tempo de dedicação de staff, custo de oportunidade). Há, portanto, necessidade de avaliar e considerar também benefícios intangíveis ou qualitativos decorrentes da utilização do SI, tais como planeamento organizacional, agilidade operacional, qualidade de serviços, gestão de cadeia de suprimento, melhoria de relações com clientes e fornecedores. 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 27 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho DeLone e McLean (1992) seleccionaram seis conjuntos multidimensionais de medidas de sucesso relacionados com as respectivas dimensões do modelo de sucesso de SI, parte de cunho quantitativo e parte qualitativo. Exemplos de medidas (DeLone e McLean 1992): • quantitativas redução de custos, redução de pessoal, ganho de produtividade, aumento de rendimentos, aumento de vendas, participação no mercado, lucros, retorno de investimentos, retorno de activos, custo-benefício, preço de stocks; • qualitativas: compreensão da informação, aprendizagem, identificação de problemas, eficácia de decisão, desempenho de tarefas, qualidade de planos, eficácia de serviço, qualidade de serviço, agrado, satisfação com o SI, satisfação com a informação. DeLone e McLean (1992) afirmam que já na década de 80, Jenster (1987) incluiu entre as medidas de sucesso de SI, medidas não financeiras de impacto organizacional (benefícios qualitativos) em estudo de campo de 124 organizações (e.g., inovação tecnológica, qualidade do produto). Johnston e Vitale (1988) propuseram modificação das normas de análise de custobenefício para medir efeitos de SI. Estes autores afirmaram que a análise do custobenefício tradicional é apropriada para identificar benefícios quantificáveis tais como reduções de custos, taxas de rendimento, aumento de vendas de produtos, mas tal medida é imprecisa para quantificar indicadores do tipo: gestão estratégica, custos indirectos, satisfação do consumidor. Em estudo sobre utilizadores de SI organizacionais em nível gerencial, Ghorab (1997) identificou cinco possíveis benefícios de adopção de recursos de SI: aumento de lucros, redução de custos, melhoria de qualidade, aumento de controlos, ganho de vantagem competitiva. Em relação a indicadores de sucesso considerou: produtividade, aplicação em decisões estratégicas, nível de desempenho, abrangência de utilização e satisfação do utilizador. 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 28 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 2.8 Outros modelos na avaliação do sucesso de SI O estudo de DeLone e McLean (1992, p. 88) sugere que sejam desenvolvidos novos estudos relativamente a medidas de sucesso de SI (Figura 2.2). Neste tópico, apresentamse alguns estudos e modelos similares derivados desta linha de pesquisa, que tratam visões complementares, específicas ou mais detalhadas da investigação original. 2.8.1 Modelo de SI de apoio a trabalho de grupo Sistemas de apoio ao trabalho de grupo (SATGs) visam ajudar grupos em realizações dos respectivos trabalhos, procurando fornecer suporte ou apoio computacional adequado às actividades que, inseridas num contexto organizacional, nele se desenvolvam (Ellis et al. 1991, Palmer e Fields 1994, in Moura 1997, p. 32). Esses sistemas tratam de medidas de sucesso, por exemplo: número de alternativas geradas, igualdade de participação entre elementos do grupo, tempo ou rapidez para tomar uma decisão, qualidade da decisão tomada, satisfação com o processo de decisão do grupo, satisfação com o resultado /decisão final [Moura 1997]. Moura (1997) declara que o modelo de DeLone e McLean (1992) visa avaliar medidas de SI capazes de auxiliar os utilizadores em tarefas que desenvolvem a título individual. No entanto, na maior parte das vezes, os indivíduos não actuam isoladamente (Moura 1997, Myers et al. 1997, Jennex et al. 1998). A necessidade de interagir com os outros surge sempre que uma série de limitações (pessoais ou ambientais), restringindo a actuação isolada do indivíduo, o impede de concretizar um determinado objectivo. Assim, há necessidade de considerar também esse tipo de sistema em avaliações de desempenho organizacional (Figura 2.4). De acordo com Moura (1997), de maneira geral, os sistemas de apoio ao trabalho de grupo são idealizados e concebidos com o intuito de melhorarem a eficiência e a eficácia de qualquer tipo de trabalho que seja realizado em grupo. Se os indivíduos e, particularmente, os grupos de trabalho melhoram o seu desempenho e a sua produtividade, i.e., caso haja um impacto positivo por utilizarem o sistema, o mesmo poderá vir a suceder com a organização da qual faz parte. Afirma então: "[...] embora 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 29 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho uma organização não seja o simples somatório das partes que a constituem, em princípio, a forma como essas mesmas partes realizam as tarefas que lhes são confiadas influenciam positiva ou negativamente a organização na sua globalidade" (Moura 1997, p. 74). Qualidade do Sistema Utilização Impacto Individual Impacto organizacional Qualidade da Informação Satisfação do Utilizador Impacto no grupo Figura 2.4 Modelo de SI de apoio ao trabalho de grupo. (Fonte: Moura (1997), p. 75 ). Eis algumas medidas de sucesso de SI de impacto no grupo, apontadas por Carvalho e Moura (1998), com base no estudo anterior: número de comentários, bloqueio na produção, receio de ser avaliado, satisfação geral do grupo, tempo de geração de alternativas, coesão, eficiência da decisão, eficácia da decisão, persuasão /influência do grupo, igualdade de participação, grau de concentração na tarefa, negociação, tempo de classificação de alternativas, objectividade na discussão, negociação, desempenho do grupo, aumento de produtividade do grupo. 2.8.2 Modelo de qualidade de serviço e impacto de trabalho de grupo Myers et al. (1997) realizaram um estudo sobre desempenho organizacional com base no modelo de DeLone e McLean (1992), quando então modificaram o constructo original e incluíram as dimensões qualidade de serviço e impacto de trabalho de grupo (Figura 2.5). Segundo esses autores, o novo modelo acrescenta mais elementos relativamente às medidas de sucesso de SI de desempenho organizacional. 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 30 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho A dimensão de qualidade de serviço refere-se a medidas do tipo: cortesia, facilidade de comunicação, segurança, credibilidade, entendimento, competência, responsabilidade, confiança. Medidas de impacto de trabalho de grupo: ideias geradas pelo grupo, satisfação com processos de trabalho, questões gerais, avaliação do trabalho, participação do grupo. Qualidade de serviço Impacto de trabalho de grupo Utilização Qualidade do Sistema Qualidade da Informação Impacto Individual Impacto organizacional Satisfação do Utilizador Figura 2.5 Modelo de qualidade de serviço e impacto de trabalho de grupo. (Fonte: Myers et al. (1997), adaptado). 2.8.3 Modelo de memória organizacional para suporte de actividades Jennex et al. (1998) desenvolveram um modelo de avaliação de eficiência de informação armazenada em repositórios da organização (memória), a que denominaram OMIS (Organizacional Memory Information System) e definem ser: "[...] um sistema cujas funções possibilitam meios de conhecimento do passado para suportar actividades do presente, com o objectivo de aumentar níveis de eficiência da organização" ([Jennex et al. 1998], p. 1). Essencialmente, este modelo tem a intenção de efectuar medidas de SI considerado OMIS, partindo da premissa que, se o SI recupera informação passada para aumento de eficiência organizacional, então tal modelo é do tipo OMIS, desde que possibilite meios para captar conhecimentos passados para suporte ou ajuda das actividades presentes da organização. 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 31 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho A operacionalidade desse modelo baseia-se no seguinte: "[...] existe um processo de multi-passos de precedência desde qualidade do sistema e qualidade da informação até seu impacto na organização; qualidade da informação produz efeitos na utilização do SI; satisfação do utilizador, por sua vez, produz impacto individual; e finalmente, ocorre impacto sobre a organização" (Jennex et al.1998, p. 7). Segundo Jennex et al. (1998), os três elementos do bloco (A) definem a qualidade do sistema em termos de características operacionais do modelo. Recursos técnicos definem a capacidade de uma organização para desenvolver e manter um SI de memória organizacional. Isto inclui aspectos do tipo: volume de experiências passadas obtidas no desenvolvimento e manutenção do SI, quantidade de especialistas utilizados para desenvolver e manter o SI, tipo de hardware usado e competência dos utilizadores. Portanto, os recursos técnicos terão um impacto na forma e no nível do SI (Figura 2.6). Nível de OMIS Recursos técnicos Forma de OMIS Qualidade do sistema Satisfação do utilizador com OMIS Bloco (A) Qualidade da informação Quantidade de OMIS em utilização Impacto individual Bloco (B) Impacto organizacional Figura 2.6 Modelo de memória organizacional para suporte a actividades. (Fonte: Jennex et al. (1998), adaptado). No estudo de factores associados ao modelo foram analisadas informações quantitativas e qualitativas. Segundo os autores, houve aumento de eficiência organizacional com o 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 32 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho incremento da eficiência do SI, bem como, foram identificadas várias medidas de autocontrolos de optimização do modelo. Afirmam ainda que, impacto organizacional tipicamente não é o somatório de elementos do impacto individual, mas sim a associação entre componentes do impacto individual e impacto organizacional, muitas vezes difíceis de separar; logo, tais dimensões não deveriam ser alinhadas tal como ocorre no modelo de DeLone e McLean (1992). 2.8.4 Modelo de relações de causalidade e resultados: Seddon e Kiew Seddon e Kiew (1994) testaram relações de causalidade de variáveis relativamente a um conjunto de variáveis das dimensões de qualidade do sistema, qualidade da informação, utilização, satisfação do utilizador do modelo de DeLone e McLean (1992), incluíram a dimensão envolvimento do utilizador e determinaram então o modelo da Figura 2.7. Os autores afirmam que envolvimento do utilizador foi anteriormente definida e empregada no estudo de Barki e Hartwich (1989), que refere-se ao nível de interesse ou empenho dos utilizadores em relação ao apoio do sistema às actividades da organização. O nível de envolvimento do utilizador foi avaliado por meio do registo das actividades de trabalho realizadas pelo utilizador com a interveniência do sistema. Envolvimento do utilizador 0.413*** -0.005ns Qualidade do sistema 0.350*** Utilidade 0.260*** 0.349** Qualidade da informação 0.174* Satisfação do utilizador 0.425*** Níveis de significância estatística: *** p < 0.001, **p < 0.01, *p < 0.05 Figura 2.7 Modelo de relações de causalidade e resultados: Seddon e Kiew (1994) (Fonte: Seddon (1997), p. 241, adaptado). 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 33 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 2.8.5 Modelo de causalidade de sucesso de SI A partir de relações de causalidade de variáveis de sucesso (Figura 2.7), esses autores obtiveram uma primeira variante do modelo de DeLone e McLean (1992), Figura 2.8. Segundo Seddon (1997), tais relações de causalidade foram obtidas a partir das variâncias dos dados de 102 utilizadores de sistema de informação contábil, cujos valores das significâncias estatísticas determinadas foram bastante convincentes. Posteriormente, Fraser e Salter (1995) repetiram esse experimento e obtiverem resultados semelhantes. Qualidade do sistema Envolvimento do utilizador Utilização Impacto individual Qualidade da informação Impacto organizacional Satiafação do utilizador Figura 2.8 Modelo de causalidade de sucesso de SI. (Fonte: Seddon (1997), p. 241, adaptado). 2.8.6 Modelo expandido de causalidade de sucesso de SI Em trabalho posterior, Seddon (1997) avaliou as relações de causalidade sobre variáveis das demais dimensões do modelo de DeLone e McLean (1992), aplicou técnicas estatísticas semelhantes ao primeiro estudo de Seddon e Kiew (1994), redefiniu novos relacionamentos e apresentou uma segunda variante do modelo original (Figura 2.9). Seddon (1997) apresenta conceitos e utiliza algumas variáveis de medidas de sucesso de SI: cadeia de benefícios, utilização do sistema, qualidade do sistema, percepção de utilização, satisfação do utilizador, utilização volitária (utilização por iniciativa própria). 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 34 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Comparativamente ao modelo de DeLone e McLean (1992), este modelo apresenta as seguintes alterações: redefine a dimensão utilização para utilidade percebida, inverte os relacionamentos dos blocos impacto individual, impacto organizacional, inclui a dimensão impacto social e acrescenta o submodelo comportamental de utilização do SI. Modelo comportamental de utilização do SI Expectativas sobre a rede de benefícios de utilização do SI 1. Medidas de qualidade do SI Qualidade do sistema Utilização de SI Consequências individual, organizacional, social, sobre utilização do SI 2. Medidas genéricas da rede de benefícios de utilização do SI Utilidade percebida 3. Outras medidas da rede de benefícios de utilização do SI Impacto individual Impacto organizacional Qualidade do informação Satisfação do utilizador Impacto social ... utilização por iniciativa própria Figura 2.9 Modelo expandido de causalidade de sucesso de SI. (Fonte: Seddon (1997), adaptado). 2.8.7 Modelo 3-D de sucesso de SI Na concepção de Ballantine et al. (1996), o modelo 3-D de sucesso de SI desenvolvido no seu estudo melhora o entendimento do conceito de sucesso de SI em relação ao modelo de DeLone e McLean (1992), por meio de definição de três dimensões, camadas ou níveis: desenvolvimento tecnológico do SI, exploração do SI pelo utilizador, liberação de benefícios do negócio (Figura 2.10). O modelo possui ainda um conjunto de filtros entre níveis e mais um filtro que o limita do meio externo (ambiente). Esses dispositivos 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 35 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho conjugam efeitos que inibem ou encorajam a adopção do SI em níveis adjacentes. Exemplo: experiência, envolvimento, expectativas são factores do filtro de implementação os quais produzirão efeitos na adopção do SI na camada de exploração pelo utilizador final. Ballantine et al. (1996) afirmam que, colectivamente, são identificados factores de influência que podem determinar a qualidade do SI em seus respectivos níveis. Alguns desses factores podem trabalhar em mais de um nível, e nem todos os factores precisam ser positivos para cômputo global de um resultado positivo. Pode haver relacionamentos entre factores num mesmo nível ou entre níveis. A influência de factores ou os próprios factores são conduzidos, de preferência, para variáveis (e factores não são variáveis dependentes). Influência de factores que podem ser considerados endógenos ou exógenos. Factores endógenos são aqueles que podem ser ajustados em transferência e controlo de actores no respectivo nível e pode incluir, por exemplo, habilidades técnicas de utilizadores e metodologias de desenvolvimento do SI. Factores exógenos (ou externos) são aqueles que não podem ser assim considerados, por exemplo, factores políticos, sociais, competição mercadológica, situação económica global. Relativamente ao nível de desenvolvimento, segundo Ballantine et al. (1996), um SI é desenvolvido, presumivelmente depois da realização de estudo estratégico da organização. E sucesso do SI neste nível é influenciado por uma variedade de factores endógenos (internos a este nível) relacionados com a complexidade do sistema, qualidade do projecto, tecnologia empregada, metodologia de desenvolvimento, técnicas profissionais, experiência do staff, qualidade dos dados. Portanto, o sistema desenvolvido neste nível tem qualidade técnica comparada ao nível dos factores que o geraram. Dessa forma, nota-se que a analogia de factores endógenos definidos por Ballantine et al. (1996) pode ser associada ao conceito de variáveis organizacionais do SI definidas por Ackoff (1969); e, analogamente, o conceito de factores exógenos associa-se ao conjunto de variáveis livres do mesmo autor, ou seja, efeitos externos sobre o SI (e.g., situação 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 36 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho climatérica, política, económica, mercadológica) que efectivamente afectam o SI, embora estejam fora do contexto e do controlo organizacional. Filtro ambiental (factores políticos, económicos, mercado) Filtros: inibem ou influenciam a adopção do SI no nível adjacente, e.g., experiência do utilizador Nível de benefícios do SI (resultados, objectivos, controlos) Factores exógenos Filtro de integração Plano (estratégia, cultura, acoplamento) de sucesso de Nível de exploração do SI (skill, satisfação, impacto pessoal) Factores exógenos SI Filtro de implementação (experiência, envolvimento, expectativas) Nível de desenvolvimento do SI (TI, metodologia, experiência) Figura 2.10 Modelo 3-D de sucesso de SI. (Fonte: Ballantine et al. (1996), adaptado). 2.9 Conclusão Em relação ao estudo desenvolvido neste capítulo, podem-se destacar algumas considerações sobre avaliação de sucesso de SI no contexto organizacional, tais como: • Investigadores de SI criam lista que abrange muitas variáveis dependentes. Não existe consenso sobre qual a melhor medida de sucesso de SI. Como existem muitos passos na produção e disseminação da informação, também existem 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 37 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho muitas variáveis que podem ser utilizadas como medidas de sucesso de SI [DeLone e McLean 1992]. • Nenhuma medida é melhor que outra. A escolha de uma variável de sucesso é função do objectivo do estudo, contexto organizacional, aspecto do SI, variáveis independentes sob investigação, método de investigação e nível de análise do estudo [Markus e Robey 1988]. • Uma só medida não é suficiente para avaliar influência de SI em desempenho organizacional. Vanlommel e DeBrabander (1975) mostraram que o sucesso de um SI não é um conceito homogéneo e desta forma não é possível captar o desempenho de SI numa organização utilizando-se uma só medida de sucesso. • A determinação de medidas deve envolver profissionais de outras disciplinas. O processo de selecção e determinação de medidas de sucesso de SI deve envolver profissionais de sistemas e de outras disciplinas [McLean, 1973, DeLone e McLean 1992, Ballantine et al. 1996, Garrity e Sanders 1998]. A avaliação de medidas no contexto organizacional é um processo importante e complexo, o qual depende da visão dos diversos tipos de utilizadores. Portanto, procedimentos técnicos tradicionais de avaliação de SI baseados apenas em valores contabilísticos podem limitar a relevância e o papel dos SI nas organizações [Sarafeimidis e Smithson 2000]. • Não é recomendada escolha total ou desordenada de medidas. Ao compor instrumentos de medidas, não é recomendada a selecção aleatória ou o envolvimento de todas as medidas de determinado modelo de SI. Ao invés disso, DeLone e McLean (1992) sugerem a realização de critérios para combinar medidas adequadas ao caso, bem como, considerar variáveis contingenciais ou novas variáveis independentes. Nesse processo devem-se considerar estratégias organizacionais, estrutura, tamanho e ambiente organizacional do estudo, tecnologia empregada, processos de trabalho e características específicas do ambiente sistémico a ser estudado. Esta recomendação vai de encontro ao estudo de Ramos (2000). 2 Avaliação do sucesso de sistemas de informação 38 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Capítulo 3 "Uma democracia é tanto mais sólida quanto mais pode suportar um maior volume de informação de qualidade." LOUIS ARMAND 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional Este capítulo desenvolve um estudo sobre sistemas de informação (SI) integrados e sua utilização na gestão das organizações. Inicia descrevendo o processo de maturação da função SI e sobre conceitos de gestão de recursos da informação em ambientes organizacionais. Em seguida focaliza aspectos estruturais e funcionais de SI integrados de gestão empresarial, os denominados sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), visto que essas ferramentas constituem um aspecto central desta tese. Na parte relativa a sistemas ERP, com base em investigações do assunto, desenvolve-se a discussão em tópicos como: necessidades de padronização de dados, limitações, processo de adopção em empresas, benefícios que podem proporcionar às organizações, custos, formas de implementação, funcionalidade e estrutura de módulos de produtos ERP. No final do capítulo, toma-se um caso real de implementação de sistema ERP em empresa, para comparação e discussão de tipos de custos (tangíveis, intangíveis) com a literatura, quando são analisados valores das fases da implementação e exploração do produto. Finalmente, destacam-se algumas conclusões sobre a utilização da tecnologia ERP em ambientes das organizações. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 39 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 3.1 Introdução Segundo King e Kraemer (1988), a gestão de recursos de informação em contextos organizacionais entrou em cena no princípio de 1980 com muito ímpeto, trazendo consigo intenções louváveis relativamente à gestão da informação. Dentre as intenções figuravam: • gestão efectiva da informação; • implementação de políticas de gestão da informação; • avaliação de medidas da informação; • estabelecimento de mecanismos de controlo da informação; • acompanhamento de políticas de gestão da informação na organização. No entender destes autores, as premissas sobre gestão da informação baseiam-se na crença de que as organizações podem ser vistas como sistemas complexos e que a gestão tem a função de desenvolver e controlar tal sistema, portanto, conceitos organizacionais poderiam ser aplicados à gestão da informação. Organizações assimilam inputs, aplicam mecanismos de controlo sobre objectos e transforma-os de alguma forma em outputs correspondentes. Funções de eficiência e eficácia podem ser obtidas e aperfeiçoadas através de mecanismos de retroalimentação, quando agentes internos no sistema podem utilizar conhecimento adquirido e assim alterar o processo produtivo do sistema organizacional, produzindo então efeito sobre o desempenho. No entanto, King e Kraemer (1988) ressaltam que a visão do sistema organizacional é popular, mas tem limitações. São conceitos positivistas, usualmente mecanicistas. Assim, organizações reais, particularmente as complexas, exibem comportamentos que confundem explanações sistémicas. Por exemplo, muitas organizações não têm metas nem objectivos claros de forma que todos os integrantes da instituição possam acreditar e perseguir certos alvos que não tenham sido previamente estabelecidos. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 40 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 3.2 Maturação da função SI Goodhue et al. (1988) afirma que a fase inicial de maturação da função SI nas organizações, o processo de consumo e gestão da informação apresentava variados tipos de problemas. Todavia, os problemas de descontrolo de dados eram pouco concretos, mas existiam amplamente nas organizações. Por exemplo, seria difícil ou impossível uma instituição bancária ajustar estratégias de negócio para captação de clientes com base em faixas de rentabilidade desses clientes, pois, de modo geral, não havia rigor nas empresas em relação à padronização de dados com base em código único de cliente. Assim, esse tipo de problema era crítico para utilização e gestão dos primeiros SI nas organizações. Na fase seguinte, gestores e utilizadores de SI passaram a dar maior importância à especificação dos dados. Com o emprego das novas TI passou-se então a definir melhor a função SI no contexto organizacional. Conforme Goodhue et al. (1992) afirmam, muitos gestores e utilizadores de SI passaram a perceber melhor a importância do papel da informação, quando então foram estabelecidas melhores condições para resolver os desafios dos novos ambientes empresariais. Tornou-se crescente o acesso a dados de vários subsistemas dentro das organizações relativamente ao atendimento de demanda e competitividade crescente dos mercados. Muitas organizações descobriram que poderiam aceder a informação de múltiplas funções e que, sem a integração lógica de dados (códigos e dados comuns) através dos SI, tornar-se-ia difícil ou impossível estabelecer cruzamentos de dados para responder às múltiplas questões informacionais do negócio. Dessa forma, criaram-se condições para planeamento estratégico dos SI nas organizações, que tinham como objectivo principal a integração de dados e funções do negócio. Tornou-se possível tratar o problema de insuficiência de integração de dados lógicos e passou-se a desenvolver projectos de SI de qualidade considerando-se a total necessidade de informação da organização [Goodhue et al. 1992]. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 41 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 3.3 Funções de coordenação e integração Segundo Lucas (1989), à medida que as organizações se tornam mais especializadas, surgem necessidades de integração de actividades. Unidade "diferenciada" significa a tendência de departamentos organizacionais adquirirem características diferentes dos demais no que se refere a uma maior especialização. Sucesso organizacional está associado a empresas que possuem unidades altamente "diferenciadas" (especializadas) e providas de mecanismos de integração, de acordo com um estudo realizado em várias empresas [Laurence e Lorsch 1967]. Exemplo de integração relativamente ao nível operacional de empresa do sector químico: um grupo especializado de engenheiros poderia ter a responsabilidade de integrar processos de fabrico de produtos em diferentes departamentos de produção. Tais integradores poderiam ter como objectivo a definição de procedimentos de utilização de equipamentos comuns, a optimização de listas de fornecedores ou a obtenção de economia de escala para a organização [Lucas 1989]. Sob uma óptica informacional, a integração pode ser vista como uma forma de coordenação de acções, quando são consideradas formas alternativas de ordenamento da informação. Em ambiente adverso, a oferta de múltiplos fluxos de informação influenciam o surgimento de incertezas e, portanto, aumenta a necessidade de coordenação de acções sobre os recursos de informação desse ambiente. Diferentes unidades de uma organização exibem diferentes tipos de interdependência em relação ao contexto global da organização. Há três classes de interdependência: sequencial, localizada e recíproca [Lucas 1989, Gattiker e Goodhue 2000]. Interdependência sequencial é a mais fácil de coordenar; compara-se a uma linha que liga dois pontos. Cada estação da linha é dependente apenas de estações precedentes. Interdependência localizada, duas sub-unidades dependem de um terceiro polo comum de recursos. Exemplo: duas sub-unidades de uma organização que dependem de recursos de um mesmo departamento a que estão estruturalmente subordinadas. Interdependência 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 42 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho recíproca existe quando duas sub-unidades dependem reciprocamente uma da outra para completar determinada tarefa. É o tipo de interdependência mais difícil de coordenar. Exemplo: profissional de SI e utilizador final são reciprocamente interdependentes: o profissional de SI depende do utilizador relativamente à oferta de dados; o utilizador depende de habilidades técnicas do profissional para o funcionamento de ferramenta. Segundo Lucas (1989), coordenação é uma variável organizacional importante. À medida que as tarefas se tornam mais especializadas aumenta a necessidade de maior coordenação. Coordenação oferece visão informacional da organização por meio de requisitos de informação, que assumem importâncias relevantes em integração de actividades funcionais da organização. Assim, entende-se por coordenação, a acção conjunta em benefício da organização; integração, as acções e estratégias de cooperação coordenada de unidades da organização. Na visão de Teo e King (1999, p. 200): "[...] é amplamente reconhecido que, para o planeamento estratégico de SI ser efectivo deve haver níveis de coordenação entre planeamento da organização e planeamento de SI, condições essenciais para conduzir à integração de dados e processos na organização". Portanto, integração envolve coordenação de actividades da empresa e actividades de SI, de forma que as estratégias de SI sejam alinhadas com os objectivos e as estratégias do negócio, por meio de acções prévias de planeamento de SI. Se não existe coordenação entre as duas funções, torna-se difícil que a função SI suporte adequadamente os objectivos e as estratégias do negócio e assim possa contribuir com valor acrescentado para o incremento do desempenho organizacional [Lederer e Mendelow 1989]. 3.4 Introdução a sistemas integrados de gestão: Sistemas ERP Em princípio de 1969, Blumenthal propôs uma arquitectura integrada que envolvia SI e sistema organizacional [Kumar 2000, Blumenthal 1969]. Todavia, em virtude dos procedimentos comerciais da época e da complexidade técnica associada à implementação do modelo, não foi então possível obter ferramenta de sistema integrado de amplitude organizacional, os chamados sistema ERP (Enterprise Resource Planning), 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 43 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho com operacionalidade aceitável no nível empresarial. Segundo Kumar (2000), do final de 1980 ao princípio de 1990, foram feitas tentativas para desenvolver modelos sistémicos completos de negócio. No entanto, verificaram-se vários insucessos, que foram atribuídos à descontinuidade ou falhas de desenvolvimento, em decorrência do baixo nível tecnológico então existente e do longo percurso de tempo necessário à implementação desse tipo de software, naturalmente complexo pela grande amplitude sobre a operacionalidade do ambiente das empresas. De acordo com Davenport (1998), no tocante ao sistema ERP, integração é vista como a ligação conjunta de informação e processos de sectores distintos da organização, e pode ocorrer entre funções ou entidades operacionais da empresa. Uma transacção em um sistema ERP, é um conjunto de processos instantâneos que actualizam outros processos, de forma automática. Por sua vez, um software ERP permite que diferentes unidades da organização tenham acesso a informação de diferentes transacções do negócio [Davenport 1998, Kumar 2000, Gattiker e Goodhue 2000]. Por conseguinte, sistema ERP, pode produzir benefícios, tais como, rapidez de tomada de decisão, redução de custos e controlo gerencial [Holland 1999a]. Kumar (2000) afirma que, em princípio de 90, enquanto organizações tentavam criar seus próprios sistemas integrados, começou a aparecer na indústria a primeira geração de sistemas ERP. Inicialmente a SAP (System Analysis and Program Development), depois a Baan, ambas companhias europeias, implementaram os primeiros pacotes ERP, que foram adoptados em organizações industriais (e.g., Boeing, Mercedes-Benz, BMW, Ford). O desenvolvimento de sistemas ERP iniciou com software de padronização e controlo de stocks, gestão financeira, planeamento de recursos e necessidades de materiais MRP, MRP II (Manufacturing Resource Planning). Depois favoreceu a expansão e a inclusão de outros processos empresariais, tais como: vendas e distribuição, marketing, compras, gestão interna, controlo de custos, recursos humanos, CRM (Customer Relationship Management) e assim por diante. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 44 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Em meados de 1990, o debate sobre BPR (Business Process Reengineering) desviou as atenções de actividades independentes para as cadeias interligadas de negócio [Scheer 2000]. A gestão de processos de negócio restringia-se a fluxos de informação interdepartamentais, na empresa ou extensivos a fronteiras nacionais. Cooperação e comunicação inter-organizacional raramente foram postos à prova. Consequentemente, os sistemas ERP ficaram restritos ao suporte de processos intra-organizacionais. Depois de várias lições aprendidas sobre BPR e ERP, as empresas viram-se melhor preparadas para redefinição do objectivo do negócio. As empresas entenderam mais das limitações de melhorias intra-organizacionais e da urgência de exercerem um papel activo na comunidade global e-business, originando assim não só o surgimento de companhias web-site, mas também o desenho de processos de empresas, de acordo com novos requisitos do negócio [Scheer 2000]. Hoje em dia existem várias empresas a oferecer produtos ERP, tais como: SAP, Baan, PeopleSoft, JD Edwards, IFS, Oracle. Segundo Kumar (2000), a geração actual de pacotes ERP é baseada na hierarquia tradicional de visão funcional das organizações. Por conseguinte, são necessárias adaptações a nível organizacional e de software, o que é um processo complexo e difícil. Actualmente, com a tecnologia disponível, actividades de organizações podem ser distribuídas em departamentos de regiões geográficas distantes. O nível de descentralização e autonomia de departamentos são básicos para a integração da informação e de processos do negócio, possíveis de serem implementados em software ERP. Se os processos de negócio são redesenhados de acordo com o modelo do negócio, o sistema ERP pode ser configurado e customizado com base nesse modelo conceptual, por meio da interligação de processos. Como as organizações mudam dinamicamente para novas formas e dimensões de negócios, constantemente surgem necessidades de adaptações contínuas de sistemas ERP aos novos limites das organizações. No entender de Holland et al. (1999c), a principal razão do avanço de sistemas ERP em comparação com sistemas proprietários nas empresas refere-se à dificuldade de manutenção destes. Muitas vezes, os sistemas proprietários tornam-se obsoletos em relação às novas tecnologias, inflexíveis e aquém do ritmo de crescimento das 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 45 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho organizações. Holland et al. (1999c) diz que a principal razão para ocorrência dessa situação foi a internacionalização dos mercados e do processo de manufactura que obrigaram as organizações a adoptarem tecnologias e estratégias de negócio, que carecem de permanente alinhamento com o dinamismo de mercados globalizados. 3.5 Padronização e limitações de software ERP Os sistema ERP típicos são pacotes de software criados com base em determinada classe de organizações, que, podem depois serem adoptados em outras empresas. Empregam plataforma única de dados para todo o negócio e requerem padronização de dados para "[...] utilização de definições comuns de códigos e campos de dados em todas as unidades e serviços da organização" (Gattiker e Goodhue 2000, p. 1). Além da padronização dos dados, esses sistemas também impõem padronização de processos do negócio sobre entidades operacionais das empresas. No entender de Gattiker e Goodhue (2000), o software ERP em si é limitado pelos processos do negócio que trazem no cerne da estrutura do produto. Essa limitação decorre da padronização imposta pela restrição de processos, seleccionados do conjunto global de processos, pelos projectista de produtos ERP, quando julgam ser tais elementos destinados para as melhores práticas do negócio das organizações que têm em mente. Além disso, quando os implementadores configuram um produto ERP, também escolhem opções funcionais que acham ser as melhores práticas do negócio que o pacote particular deve prover, o que, dessa forma, pode tornar a aplicação final mais pobre. Assim, um sistema ERP é uma solução genérica cujo desenho reflecte uma série de pressupostos acerca do modo como organizações operam [Davenport 1998]. São, portanto, soluções padronizadas ao contrário de sistemas proprietários que são desenvolvidos à medida de necessidades específicas de empresas. Por conseguinte, sistemas ERP impõem sua lógica sobre estratégia, cultura e estrutura da organização, às vezes impondo mudanças não pretendidas no negócio [Davenport 1998, Soh et al. 2000]. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 46 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Actualmente, há um movimento de convergência baseado na Web e multimédia que exige informações empresariais de vários tipos relativamente à inclusão de documentos de multimédia, tais como, projectos de engenharia, interligação de documentos e descrições de produtos audiovisuais [Holland 1999a]. Outra tendência é a utilização de bancos de dados dos sistemas ERP para suprir dados a sistemas de suporte à decisão DSS (Decision Support Systems ), sistemas de referência por assunto (Data Mining, Data Warehouse) e sistemas de informação para executivos EIS (Executive information Systems). 3.6 Justificações para adopção de produtos ERP Os benefícios oferecidos por sistemas ERP, tais como: integração de funções e dados da organização, aumento da interacção com clientes por meio de ferramentas CRM (Customer Relationship Management), aumento de vendas e diminuição de custos, qualidade de serviços, têm levado muitas empresas nos últimos dez anos a adoptarem sistemas ERP [Davenport 1998, Stein 1999, Gable 2000]. No entender de James e Wolf (2000), existem três razões básicas para que as organizações adoptem sistema ERP: • Padronização de dados. Para que o sistema desempenhe bem seu papel nas unidades do negócio é necessário que todos utilizem o mesmo vocabulário e formato de dados, o que torna os dados mais transparentes, facilita comparação de resultados e ressalta a exposição de anomalias da informação. Assim, pode ser solucionada a utilização de diferentes indicadores de resultados na organização. • Padronização de processos. Sistema ERP requer padronização no que concerne a redução do número de processos de trabalho da organização. Portanto, torna-se necessário mudanças em formas tradicionais de trabalho relativamente ao estabelecimento de novo ordenamento dos processos do negócio. • Organização continuada de mudanças. A implementação de sistema ERP permite efectiva mudança da forma de trabalho de um negócio. Mudanças contínuas e planeadas podem permitir aprendizagem organizacional. Pode permitir liderança do negócio em termos de tecnologia e de nível operacional, que podem posicionar a empresa à frente de concorrentes. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 47 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Em survey sobre adopção de sistemas ERP que envolveu 2.401 empresas dos países da União Europeia, van Everdingen e Waarts (2000) determinaram seis principais critérios que influenciaram a adopção de sistema ERP: (1o) adequação e compatibilidade do produto com processos do negócio; (2o) flexibilidade do software; (3o) custo de aquisição e manutenção do produto; (4o) facilidade de utilização das ferramentas do software; (5o) crescimento evolutivo para novas plataformas de TI/SI; (6o) suporte técnico e treinamento oferecidos pelos fornecedores. Segundo van Everdingen e Waarts (2000), os resultados do estudo mostraram que empresas europeias de médio porte tendem a focar objectivos mais em características do produto do que no tamanho do fornecedor. Para o total de empresas pesquisadas, essas achararam que faz pouca diferença se o vendedor do produto ERP é líder do mercado, uma companhia internacional ou fornecedor menos conhecido. Portanto, o estudo constatou que o sector das médias empresas europeias estão efectivamente interessadas na funcionalidade, qualidade dos produtos e serviços disponibilizados por fornecedores de pacotes ERP. 3.7 Formas de implementação de ERP nas organizações Implementar um sistema ERP completo requer um processo de reorientação das unidades da organização. Isto obriga a empresa a passar por um processo completo de reengenharia, o que pode tornar o sistema ERP um catalisador e agente de mudanças. Assim, benefícios de uma implementação ERP podem vir na forma de mudanças no negócio. No entanto, esse é um processo complexo e difícil que pode consumir muitos recursos. Por conseguinte, pode ser danoso para a organização, falhar ao conduzir implementação de produto ERP [Holland 1999a, Scheer 2000]. Segundo Holland (1999a), existem várias estratégias de implementação de pacote ERP, diferente em termos técnicos e âmbito do projecto. Uma das principais opções técnicas é implementar o pacote ERP com derivação mínima do padrão estabelecido e proceder a 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 48 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho uma posterior adaptação aos requisitos particulares locais. Daí, pode-se partir para o ajuste do sistema aos requisitos da organização. Pode então ser elaborado um plano de acção de como o produto pode ser implementado no princípio e depois então serem acrescentadas funções extras, gradualmente, uma vez que o sistema esteja em operação e os utilizadores familiarizados com o produto. Estratégia mais ambiciosa é implementar o sistema em um só esforço com toda a funcionalidade requerida pela organização. Adaptação de módulos pode ser feita em paralelo com o sistema existente em operação e a implementação em andamento. Grandes projectos internacionais apresentam maior complexidade relativamente à forma de implementação de tecnologia ERP, podendo ser realizados, sequencialmente, de país para país ou por diferentes equipas em projectos paralelos. É evidente que só mediante análise do tipo de estrutura da organização é que será possível determinar a melhor estratégia e forma de implementação de sistema ERP. Por outro lado, um forte argumento técnico na expansão do desenvolvimento de um software ERP é a forma como a organização poderia ser afectada em actualizações do produto. O nível de desenvolvimento depende de como a organização está disposta a mudar o negócio, com base no ajuste do software ou se prefere mudar o software em função do negócio. Todavia, a modificação de produto ERP por meio da reengenharia de processos para se ajustar ao negócio não garante que todos os benefícios do negócio sejam alcançados [Holland 1999a], pois há outras variáveis envolvidas. Contudo, a implementação de tecnologia ERP deve ser posterior no estudo completo do contexto organizacional e das possíveis potencialidades oferecidas pelo produto, pois assim podem ser estabelecidos objectivos com o conhecimento dos dois lados: a organização e o sistema ERP. 3.8 Funcionalidade e problemas de ferramentas ERP Sistema ERP traz no cerne da implementação não só processos de negócio, mas, "modelos de negócio". Historicamente, um problema comum na adopção de pacotes ERP tem sido a ocorrência de "desajustes", que são falhas ou lacunas existentes entre as funcionalidades oferecidas pelo pacote e as necessidades da organização [Soh et al. 2000]. Portanto, a organização tem que escolher entre adaptar-se ao produto com as 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 49 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho diferenças existentes e portanto assumir tarefas complementares de trabalho; ou customizar o produto para resolver o problema de forma mais global. Cresce no mercado a oferta de produtos ERP que se dizem ferramentas de gestão “completas”. O processo de adopção e implementação é geralmente feito por empresas de consultoria, que utilizam técnicas proprietárias e exibem custos considerados altos. No entender de Scheer (2000), customização e implementação de sistemas ERP tornaram-se uma indústria dentro da própria indústria ERP, o que torna difícil a pequenos e médios negócios arcar com despesas de implementação de tecnologia ERP. Em consequência, recorrem a métodos de modelação do negócio ou optam por ferramentas alternativas, à procura de menores custos e maiores facilidades oferecidas por fornecedores de ERP. Produtos ERP, também apresentam problemas de escolha pelas empresas [Goodhue 1992, Soh et al. 2000]. O problema torna-se mais grave com produtos ERP dada a complexidade, integração de módulos, padronização de dados, adopção de modelo de melhor prática de negócio, rede de distribuição de produtos e requisitos de parceiros comerciais. A falta de conhecimento desses produtos pelos utilizadores é marcante. Poucas organizações conhecem seu próprio modelo funcional o suficiente para identificarem implicações de adopção de sistema ERP [Pletsch 1999]. No entender de Scheer (2000), muitos consultores de tecnologias ERP não entendem o suficiente dos processos de negócio de seus clientes. Grandes soluções ERP não atendem ao segmento dos pequenos e médios empreendimentos [Gable 1999]. No princípio, os maiores fornecedores de produtos ERP não estavam interessados em actuar nos sectores dos pequenos negócios porque não obtinham altos retornos financeiros. No Brasil, por exemplo, o sector das pequenas e médias empresas é actualmente atendido pelos produtores de software nacionais que cobrem mais os processos de apoio ao negócio (administração, gestão, logística) e bem menos as funções de actividades finais do negócio, o chamado core business [Santos 1999]. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 50 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 3.9 Estrutura básica de sistema ERP Estudos de sistemas ERP mostram vários tipos de produtos e de concepções, o que significa a existência de estilos diferentes ou modelos base de desenvolvimento de produtos. Tais modelos diferem não só pela quantidade e tipo de módulos objectos, mas também pela lógica utilizada na implementação dos projectos. Basicamente, a filosofia de implementação de software ERP depende de natureza e características das actividades para as quais o produto foi originalmente concebido (e.g., indústria, comércio, serviços). Geralmente, um produto ERP possui dois conjuntos básicos de módulos (Figura 3.1): um relativamente a actividades-fim ou verticais da empresa (e.g., engenharia, controlo de manufactura, gestão da produção, qualidade) e outro conjunto de apoio a actividadesmeio orientado para a administração /gestão da organização (e.g., contabilidade, finanças, custos, recursos humanos, gestão de stocks, vendas e distribuição). Esses dois conjuntos interligados e suportados por plataformas de dados formam a estrutura básica de sistema ERP que deve reflectir, de forma permanente, políticas e estratégias do negócio [Scheer 1994; Corrêa 1999; Miranda 1997]. No entanto, esta classificação é genérica e só pode ser assumida se confrontada com o ambiente da organização com o sistema ERP. Organização Módulos de actividades-fins Módulos de actividades-meios Banco de dados Figura 3.1 Estrutura básica de sistema ERP (Fonte: Scheer (1994), adaptado). 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 51 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Um software ERP baseia-se na existência de bases de dados comuns que permitam a partilha da informação por todos os utilizadores [Davenport 1998, Gattinker e Goodhue 2000]. Dessa forma, qualquer departamento não é proprietário dos dados ou dos módulos do sistema: todas as unidades utilizadoras devem dispor de um conjunto de ferramentas de apoio à execução e gestão do negócio [Machado e Kaldeich 2000]. Por exemplo, o módulo de Gestão de Custos CO (Controlling) e Contabilidade Financeira FI (Financial Accounting) do sistema SAP R/3 são aplicações independentes que trocam continuamente dados e informação no âmbito da organização. Em particular, dados relevantes dos fluxos de custo fluem do FI para o CO (Figura 3.2) e ao mesmo tempo, a informação é disponibilizada para utilizadores de outros módulos e aplicações do sistema. Estes módulos processam contabilização de activos, custos, lucros, etc., e são ligados a vários outros objectos: centros de custo-lucro, processos do negócio, projectos, ordens de clientes, ordens de produção [SAP System R/3 1997c, Machado e Kaldeich 2000]. Contabilidade Financeira (FI) Enfoque contábil-financeiro: empresas áreas do negócio contabilização de activos Gestão de Custos (CO) Consolidação de resultados Enfoque custo-lucro: centros de custo-lucro custo de projectos custo de produtos Figura 3.2 Relacionamento dos módulos FI-CO do sistema SAP R/3. (Fonte: SAP System R/3 (1997c), adaptado). 3.10 Benefícios de sistemas ERP Segundo Gattiker e Goodhue (2000), a literatura sugere muitos benefícios de sistemas ERP, os quais podem ser divididos em quatro categorias: i) Geração de informação de apoio à gestão, relativamente a: • aumento de fluxos de informação entre de sub-unidades da organização; • padronização, facilidades de integração, melhoria de coordenação; • melhor consolidação de resultados e resolução de inconsistências de informação entre unidades da organização; 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 52 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • redução de custos administrativos por meio compartilhamento da informação; • disponibilização da informação no tempo desejado. ii) Processo de padronização e integração de unidades organizacionais de forma a permitir a centralização de actividades administrativas, para permitir vantagens económicas e administrativas. iii) Redução de custos de manutenção do SI e aumento de disponibilidade para criação de novas funcionalidades. A padronização dos SI em unidades organizacionais gera economia de escala no desenvolvimento e manutenção, no trabalho realizado ou programado para realização com o apoio de ERP. iv) Como instrumental de posicionamento da empresa num processo eficiente de utilização de 'melhores práticas' de negócio na área em que a empresa está inserida. Segundo James e Wolf (2000), para organizações que possuem sistema ERP, a chave do sucesso está em traduzir a infra-estrutura em valor acrescentado, de forma a posicionar e manter o negócio à frente de competidores. A Figura 3.3 ilustra o conceito de valor acrescentado relativamente à implementação de sistema ERP [James e Wolf 2000; Wang e Fui-Hoon Nah 2002]. Vantagens económicas com implementação de processos do negócio Aumento de qualidade, eficiência e eficácia da organização Aumento de vantagens competitivas com a adição de novas aplicações (1) (2) (3) Figura 3.3 Níveis de benefícios e valor acrescentado de sistema ERP. (Fonte: James e Wolf (2000), adaptado). 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 53 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Com base na Figura 3.3, supondo que determinada empresa adquiriu tecnologia ERP e se posicionava no nível 1 ao implementar a tecnologia base do produto. Neste caso haveria ganho de eficiência de processos e consequente economia de custos (vantagens económicas). Continuando evolutivamente para ascender ao nível 2 da escala, deveria ocorrer um aperfeiçoamento do produto para diminuir os custos da tecnologia e obtenção de ganho de eficiência /eficácia em processos do negócio. Ao atingir o nível 3, poderiam advir ganhos decorrentes de resultados de novas aplicações, por exemplo, CRM (Customer Relationship Management), e-commerce: B2B (Business to Business), B2C (Business to Customer) e outras. Portanto, a prática tem demonstrado que o aperfeiçoamento contínuo do produto tem acrescentado benefícios progressivos à organização [James e Wolf 2000]. 3.11 Custos de sistemas ERP Sistemas ERP exigem grandes investimentos a nível económico, humano e organizacional. Tal investimento não é somente efectuado na fase inicial, mas durante todo o ciclo de vida do sistema [Esteves, Carvalho e Santos 2002]. Apesar de os sistemas ERP poderem oferecer funcionalidade de suporte aos processos essenciais de uma organização, tem-se verificado que muitos benefícios esperados desses produtos não têm sido atingidos. Sistemas ERP exigem mudanças contínuas na organização; o aumento de exigências dos diversos grupos de utilizadores ajudam a criar condições para obtenção de melhores resultados nas potenciais vantagens que esses produtos são capazes de oferecer [Pui Ng e Chan 1999]. Uma das principais questões que os sistemas ERP levantou é saber se o investimento feito será compensado futuramente. Um inquérito da Meta Group Inc [Craig 1999] constatou que, tipicamente, em termos financeiros, os projectos ERP custam mais que os benefícios esperados, o que implica aumentar o espectro dos resultados para cobrir outros benefícios favoráveis à organização, que podem ser avaliados por meio de sondagens qualitativas. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 54 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Segundo Scheer e Habermann (2000), quantidade considerável dos custos de sistemas ERP vêm das actividades de customização da aplicação, às vezes elevados e permeados de incertezas em decorrência da dificuldades na selecção de ferramentas apropriadas e na determinação da duração da implementação do produto. Portanto, tudo isto possibilita a elevação dos custos envolvidos ao longo do projecto na empresa. A Tabela 3.1 resume elementos de custo de ciclo de vida de sistemas ERP [Esteves, Carvalho e Santos 2002]. Os dados estão categorizados em custos tangíveis e custos intangíveis. Custos tangíveis podem ser mensurados de forma directa, em termos ou não de valores monetários. Custos intangíveis são mais difíceis de determinar, pois se referem a conceitos menos concretos, no entanto, também ocasionam impacto no desempenho da organização. Fase Adopção Aquisição Custos tangíveis Custos intangíveis Custos de tomada de decisão Custos de consultoria Infra-estrutura de hardware Licenças de software Custos de tomada de decisão Custos de oportunidade do negócio Implementação Custos de consultoria Formação de recursos humanos Especificação do sistema Customização, conversão, análise de dados Custos do tempo de dedicação do staff Reengenharia de processos do negócio Manutenção Reconfiguração do sistema Custos de adaptações do sistema Custos de avarias do sistema Custos indirectos de quebra do sistema Perda de competitividade da empresa Evolução Abandono Custos de novas aplicações Custos de oportunidade do negócio Custos de tomada de decisão Tabela 3.1 Elementos de custos tangíveis e intangíveis do ciclo de vida de SI ERP. (Fonte: Esteves, Carvalho e Santos (2002)). A título de exemplo e para dar uma percepção mais concreta de valores de custos de sistema ERP, apresenta-se a seguir os custos referente à implementação de módulos do sistema SAP R/3 em empresa portuguesa do sector financeiro [Esteves, Carvalho e 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 55 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Santos 2002]. Essa empresa pretendia optimizar o processo de negócio com o objectivo de oferecer melhores serviços a clientes e accionistas, o que motivou a adopção e implementação da ferramenta ERP. A Tabela 3.2 resume os custos correspondentes às fases de aquisição, implementação e utilização do sistema. Note-se que: Fase Actividade (Conversão: EURO 1 = 0,90 USD, 05/06/2002) Aquisição do sistema Licenças de utilização do sistema SAP R/3 Total (EURO 1) 475.641 % 23,4 Implementação do sistema na empresa 1.486.748 73,1 15.556 65.656 61.868 0,8 3,2 3,0 Custos da implementação Acompanhamento técnico do projecto Custos de consultoria Custos de formação de pessoal (RH) Utilização e manutenção Desenvolvimento do sistema: Custos de instalação do software (SAP R/3) Aquisição de hardware de desenvolvimento Implementação de módulos: Financeiro, Logística, Recursos Humanos 9.191 44.389 0,4 2,2 969.772 47,7 Testes do sistema: Custos dos recursos humanos internos Aquisição de hardware de testes do produto 105.050 10.024 5,2 0,5 Exploração do sistema: Aquisição de hardware para exploração 205.242 10,1 71.348 3,5 Custos de licenças do produto Total 2.033.737 100,0 Tabela 3.2 Custos de implementação de módulos de sistema ERP (SAP R/3). (Fonte: Esteves, Carvalho e Santos (2002)) • A fase de implementação é a que consumiu os maiores custos 73,1%, enquanto a aquisição, utilização /manutenção foram apenas 23,4% e 3,5%, respectivamente. • A formação de pessoal teve peso 3,0% no total dos custos, valor reduzido comparativamente ao de uma implementação típica, pois, segundo pesquisa do Gartner Group e International Data Corp, os custos de formação de pessoal constituem o mínimo de 15% do investimento desta fase [Marion 1998]. O baixo 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 56 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho valor de 3,0% é explicado pelo facto de parte da formação de pessoal ter sido realizada pela consultora da implementação, sem ónus para a empresa. • O custo do hardware durante a implementação foi 12,7% (2,2+0,5+10,1) do total. A empresa teve necessidade de reestruturar toda a plataforma de equipamentos informáticos e precisou de adquirir mais equipamento, especialmente, para auxiliar no processo de implementação do produto. Optou por contabilizar a totalidade dos custos de hardware nesta fase, não discriminando nenhum valor na fase de aquisição do produto. • O custo do software no final do primeiro ano constituiu 27,3% (23,4+0,4+3,5) do total dos custos. Este valor aproxima-se bastante do valor típico identificado por Kale (2000), para projecto de adopção de sistema ERP (SAP), que é de 30%. • Os custos de consultoria foram apenas 3,2% do total, mas existiram outros custos de consultoria da implementação que não foram incluídos. Sabe-se que tais custos são geralmente elevados [Lozinsky 1998, Scheer 2000]; • Relativamente à fase de utilização e manutenção do produto, somente foram contabilizados custos de licenças do software SAP R/3 (3,5%). Este custo não é representativo na medida em que foram efectuadas tarefas relacionadas com a parametrização de novas rotinas, bem como operações de actualização de bases de dados, cujos custos não foram considerados. Gestores deste tipo de projecto de implementação de produtos ERP ressaltam a necessidade de realização de planos de escalonamentos dos investimentos a serem efectuados, principalmente, durante a implementação, pois a falta de recursos económicos em quaisquer das fases poderá dificultar a realização de metas previstas do projecto [Esteves, Carvalho e Santos 2002]. 3.12 Conclusão Relativamente à utilização de sistemas integrados de gestão (ERP) e sua utilização em ambientes organizacionais, principal tópico deste capítulo, podem-se destacar: • No entender de Soh et al. (2000), os problemas de desajustes mais graves de utilização de software ERP ocorrem na Ásia, pois os modelos de negócio contidos 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 57 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho em pacotes ERP são geralmente de origem europeias ou baseados em práticas industriais ocidentais, diferente dos procedimentos das organizações asiáticas relativamente ao contexto cultural, económico e das leis daqueles países. • Ocorrem também dificuldades na adopção de sistemas ERP em países desenvolvidos. Segundo Pletsch (1999), pequenas e médias empresas canadianas não “pegaram o comboio” dos sistemas ERP em decorrência do preço dos produtos, alto investimento de aquisição de hardware e software, custos de consultoria e de pessoal técnico qualificado. Em 1999 o Gartner Group avaliou que nos Estados Unidos existem cerca de 22 mil pequenas e médias empresas das quais um quarto são indústrias interessadas em sistemas ERP, porém muitas delas ainda desconhecem os benefícios produzidos por esses produtos [Pletsch 1999]. • Sistemas ERP estão mudando a tecnologia das organizações e as próprias relações comerciais. O foco de sistema ERP pode levar a empresa pensar no redirecionamento do negócio. Pode ajudar a empresa a tornar-se mais competitiva e assim responder melhor às pressões do mercado, descobrir oportunidades, flexibilizar configurações de produtos, reduzir de stocks e fortalecer relações comerciais com accionistas, clientes e fornecedores [Sweat 1998]. • Sistemas ERP proporcionam benefícios sem precedentes nas organizações [Gattiker e Goodhue 2000]. No entanto, estes autores apontam as seguintes acções necessárias em relação a produtos ERP: (a) Fornecedores precisam desenvolver melhorias de flexibilidade dos produtos ERP, para os acomodar às características particulares dos utilizadores. (b) A lógica básica dos actuais produtos ERP precisa tornar-se mais transparente para os utilizadores finais. (c) Implementadores de produtos ERP devem tomar mais cuidados nas análises de potenciais diferenças de unidades departamentais e dar maior atenção à forma como os gestores apontam dificuldades e particularidades organizacionais. (d) Há necessidade de disponibilização de mais recursos para formação de utilizadores de produtos ERP. 3 Sistemas de informação integrados de gestão organizacional 58 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Capítulo 4 "Work is love made visible. And if you cannot work with love but only with distaste, it is better that you should leave your work and sit at the gate of the temple and take alms of those who work with joy". KAHLIL GIBRAN 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de saúde Este capítulo trata duas linhas de assuntos: os aspectos da informatização dos serviços de saúde e o processo de avaliação de desempenho de serviços de saúde. Na parte da informatização de serviços de instituições de saúde, toma, como base, ambientes e sistemas informáticos de serviços de saúde do SUS. Acrescenta visões e situações pontuais do problema hoje enfrentado por serviços de saúde outros países, nomeadamente, Portugal (SNS) e Reino Unido (NHS). Nesta primeira fase, desenvolvem-se tópicos relacionados com a informatização de serviços de saúde, evolução e caracterização dos sistemas de serviços de saúde do Brasil. Na segunda parte sobre avaliação de desempenho de serviços em instituições de saúde, apresenta-se formas, processos, problemas e a importância da informatização dos serviços de saúde. Desenvolve-se aqui um estudo mais específico de avaliação, em comparação ao Capítulo 2 que tratou avaliação de SI de forma geral. Fala-se de: 1. outras disciplinas no processo avaliação; 2. estrutura informacional da avaliação em saúde; 3. indicadores e resultados de serviços de saúde; 4. programas de qualidade em instituição de saúde; 5. função de produção de informação e indicadores de qualidade em saúde. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 59 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 4.1 Introdução Nas últimas três décadas, especialistas têm emitido opiniões sobre a introdução da informática na área da saúde, no que se refere à análise, documentação, gestão e controlo de processos de informação, i.e., a utilização de sistemas informação (SI) em saúde, principalmente, em ambientes hospitalares clássicos de prática médica [Protti 1997]. Nesse contexto, a presença de recursos de SI e tecnologia de informação (TI) em instituições de saúde tornou-se necessária, conforme declara Scott (1996, p. 331): "[...] There is no doubt that information technology is transforming not only the organization of hospitals and their business processes but the fundamentals of medicine itself…The ability to store and compare information and add to the global clinical database means that huge trials on alternative therapies can be conducted in a way that was not previously possible". Por conseguinte, médicos e profissionais envolvidos em gestão de saúde necessitam de obter um entendimento básico de SI orientados a instituições de saúde, de forma a tornarem-se hábeis na utilização da informação em processos de gestão e em apoio a actividades clínicas de tratamento de pacientes. Precisam de saber como os SI são estruturados, suas limitações e qual o grau de precisão da informação produzida, para que possam avaliar até onde pode ir a confiança que poderão ter no uso dos recursos de informação. Por outro lado, profissionais de saúde também precisam de adquirir um amplo conhecimento sobre 'custo' da informação, i.e., o custo dos recursos envolvidos na captação e transformação da informação utilizada em saúde [White 1996]. No entender de Scott (1996), a utilidade dos dados de pacientes está directamente relacionada com a facilidade de acesso à informação pelas unidades de saúde da instituição. Assim, torna-se importante a ligação integrada do SI dos diversos serviços de saúde. Este autor afirma: "[…] Whilst most pharmacy departments have some form of computerization, particularly to produce labels, it is often not linked to a full information system. In particular, a considerable quantity of drugs are dispensed as top-up to ward stocks 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 60 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho and cannot be tracked to individual patients. Whilst the existing system helps the pharmacy with its operational business, it does not provide the information which will be useful in a wider management context" [Scott 1996, p. 335]. Segundo Chueh e Barnett (1997), os médicos geralmente necessitam de informação específica referente à aplicação de práticas clínicas de tratamento de pacientes. Se essa informação está disponível e integrada no fluxo de dados da instituição, então a informação pode ser disponibilizado no tempo desejado. No entender do autor, isto é análogo ao conceito de "Just-in-time", presente em outros tipos de organizações, que, no caso de instituições de saúde se refere a técnicas utilizadas como forma de incorporação de evidência científica nas decisões clínicas, à medida que os eventos ocorrem. E o não fornecimento de informação clínica do paciente no tempo solicitado tem sido visto como falha do SI da instituição de saúde em questão. O ambiente hospitalar utiliza, em grande parte, sistemas de informação no nível operacional e sistemas de informação orientados para o processo de gestão. Sistemas de informação de nível operacional são projectados para disponibilizar benefícios imediatos para tarefas que estão em curso, enquanto SI de gestão utilizam dados derivados de actividades operacionais, se destinam a demonstrar o trabalho de áreas específicas, prestam apoio funcional e suportam a elaboração de planos de trabalhos futuros [White 1996]. Sobre informação clínica, Gondin et al. (1999) afirma que essa pode ser conceptualmente dividida em: • Informação local: refere-se a determinado paciente ou instituição, pertence à instituição de saúde em causa e refere-se a procedimentos e acções clínicas específicas de tratamento de pacientes. • Informação global: refere-se a área de conhecimento médico generalizável e consiste, essencialmente, em conhecimentos médicos sobre procedimentos gerais aplicáveis a pacientes de determinada instituição ou região geográfica. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 61 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho A perspectiva de serviços com o foco em SI foi primeiramente ressaltado no trabalho de Bailey e Pearson (1983) e Ives et al. (1983), com a ideia de satisfação do utilizador com a informação. Em período mais recente, Myers et al. (1997) desenvolveram um modelo de avaliação de sucesso de sistemas de informação, com base no estudo de DeLone e McLean (1992), quando então incluiu uma subdimensão para a qualidade de serviços e apresentou algumas medidas de qualidade relativamente ao tema. A avaliação do impacto sobre o sistema de serviços de saúde pode referir-se a um ou mais desses aspectos. É um processo difícil e surgem dificuldades, porque a avaliação pode produzir benefícios em determinada área (efeitos ou resultados sobre utentes, qualidade de serviços), em detrimento de outras instâncias (e.g., custos de serviços, número de profissionais, relações de trabalho, infra-estrutura institucional). Portanto, métodos de avaliação de recursos de informação aplicados à saúde podem destinar-se a um amplo conjunto de questões, envolvendo características técnicas de áreas específicas ou impactos sobre ambiente do domínio de: utilizadores de recursos de SI/TI, pacientes, provedores de saúde, hospitais, clínicas, planos de saúde, empresas seguradoras e também sobre o público do ambiente de referência. No entender de Dismuke (1999), é difícil definir resultados de processo produtivo de instituições de saúde. Os resultados às vezes são medidos pelo total de pacientes ou relação de pacientes/dia, taxas de DRGs (Diagnosis Related Groups), até mesmo por número de visitas externas. Medidas de resultados às vezes têm sido criticadas por não permitirem a distinção entre ineficiência de resultados e qualidade do produto gerado. Na realidade, um aumento de qualidade do serviço de saúde poderia requerer mais dados de entradas para o correspondente volume de saídas. O resultado pode ser considerado ineficiente se atributos de qualidade não são considerados na avaliação. No entender de Dismuke (1999), pode-se tentar resolver esse problema de qualidade de atributos classificando os resultados de saída (discharges) do hospital em dois tipos: resultados desejáveis, e.g., número de casos tratados; resultados adversos, e.g., número de óbitos. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 62 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Na concepção de Graunard (1999), indicadores de qualidade em saúde podem ser classificados em dois grupos: • indicadores relacionados com tratamentos de doenças, que têm como medidas, por exemplo: acessibilidade, qualidade do serviço, avaliação de risco; • indicadores relacionados com a gestão de saúde, cujos principais processos de medidas seriam com base em prevenção, demanda, gestão, satisfação, bem estar. Dever (1997) afirma que a avaliação do desempenho em saúde exige um conjunto de pressupostos, pois, a conhecida lacuna entre percepção (evidência implícita) e a realidade (evidência explícita) torna essencial grandes avanços dos actuais níveis serviços de saúde. Segundo este autor, algumas questões são pertinentes na avaliação de serviços de saúde, por exemplo: O que será avaliado? Existe a informação necessária disponível? Qual a amostra apropriada para a comunidade e /ou para utentes específicos? Como serão interpretados os resultados? 4.2 Ferramentas informáticas do serviço de saúde do Brasil O Departamento de Informática do SUS (DATASUS) tem a responsabilidade de "colectar, processar e disseminar informação sobre saúde". É um órgão de informática de âmbito nacional, representa papel de centro tecnológico de suporte técnico e normativo para a montagem dos sistemas de informação da saúde. Há ainda as extensões regionais de suporte técnico às secretarias estaduais e municipais de saúde. Principais linhas de actuação (DATASUS 2001a): • Manutenção das bases nacionais dos sistemas de informação da saúde. • Desenvolvimento, selecção e disseminação de SI/TI relativas à saúde. • Consultoria e suporte em planeamento, controlo e operação dos SI do SUS. • Normalização de procedimentos, de software e de ambientes de SI/TI para o SUS. • Apoio à formação das secretarias estaduais e municipais de saúde sobre adopção de SI relativamente à saúde. • Incentivo à formação de rede de intercâmbio e disseminação de informação de interesse do SUS via Internet e outras formas complementares de comunicação. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 63 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Carvalho (1997) afirma que o Brasil possui grande quantidade de dados corrente e históricos, armazenados electronicamente. Esse acervo inclui os produtos de uma série de actividades setoriais em saúde, tais como vigilância epidemiológica, estatísticas vitais e administração de serviços (pagamentos, cadastros de estabelecimentos de saúde), que formam grandes bancos de dados nacionais, relativamente aos principais sistemas de serviços de saúde do país (Tabela 4.1), que são: • Sistema de informações hospitalares (SIH/SUS), sobre dados dos internamentos. • Sistema de informações ambulatoriais (SIA/SUS), sobre dados dos serviços de atendimentos de ambulatórios (consultas, exames, terapias). • Sistema de informações sobre mortalidade (SIM). • Sistema de informações (SINASC), referente a dados de nados vivos. • Sistema de informações de agravos de notificação (SINAN), referente a dados de doenças graves de controlos obrigatórios (vigilância epidemiológica). Funções de gestão de saúde SIH/SUS Internamentos hospitalares Vigilância sanitária X Planeamento X Avaliação SIA/SUS Atendimentos hospitalares SIM Óbitos SINASC Nados Vivos SINAN Agravos notificáveis X X X X X X X X X X X X Controlo X X Auditoria X X Principais informações dos SI de serviços de saúde relacionadas a funções de gestão de saúde Tabela 4.1 Principais sistemas de informação de saúde do SUS. (Fonte: Carvalho (1997), adaptado). Existem ainda outras bases de dados nacionais relacionadas com procedimentos de acesso e consistência dos dados de saúde, por exemplo: bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relativamente a dados populacionais; bases de dados do Instituto de Pesquisa Económica Aplicada (IPEA), relativamente a dados 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 64 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho económicos e ainda informações de estudos específicos realizados por universidades e outras instituições nacionais de pesquisa [Carvalho 1997]. 4.2.1 Evolução dos sistemas informáticos de serviços de saúde Após ser implantado o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) em 1991, a este foi atribuída a responsabilidade sobre o processamento e gestão dos dados de serviços de saúde, nomeadamente, dados de internamentos de pacientes (sistema SIH/SUS, Tabela 4.2) e dados de atendimentos de ambulatórios relativamente a consultas, exames, terapias (sistema SIA/SUS, Tabela 4.3), da rede de instituições públicas ou privadas em convénio com o SUS. • • • • • • • • • • Sistema SIH: Internamentos hospitalares Denominação inicial: Sistema Nacional de Controlo e Pagamentos de Contas Hospitalares, implantado em 1983. Reúne informações de aproximadamente 70% de internamentos hospitalares do país. A partir da implantação do SUS/DATASUS em 1991 passou a denominar-se SIH. Em 1994 foi concluída a descentralização e a implantação do SIN/SUS em todo o território nacional. Abrange entidades de saúde: públicas, universitárias, filantrópicas e privadas em convénio com o SUS. Documentos: Autorização de Internamento Hospitalar (AIH1, AIH5), Formulário de Cadastro Hospitalar. Principais variáveis Identificação da AIH, órgão gestor. Código do paciente, procedimento médico autorizado, médicos responsáveis, data de emissão. Procedimentos médicos especiais de pagamentos adicionais. Serviços especiais feitos por outras unidades de saúde. • • • • • • • • Exemplos de indicadores de resultados Tempo médio de permanência ou por causa específica. Valor médio de internação, geral ou por causa específica. Proporção de internação por causa ou procedimento médico. Tempo de utilização de unidade de tratamento intensivo (UTI). Morbidade hospitalar geral, por causa ou por procedimento médico. Relação entre proporções da população, AIHs pagas, valor de internação e de dias de internação por faixa etária e /ou sexo. Índice de gasto com hospitalização por faixa etária (sexo, geral, causa). Índice de hospitalização por faixa etária (e /ou sexo, geral, causa), etc. Tabela 4.2 Variáveis e indicadores de internamentos do sistema SIH/SUS (Fonte: Carvalho (1997), adaptado). Segundo Carvalho (1997), os bancos de dados do Ministério da Saúde possuem dados armazenados desde a década de 70. Porém, foram identificados erros em parte dos dados colectados e armazenados na primeira fase de formação desses repositórios. Além de programas de auditoria que objectivam minimizar possíveis fraudes de pagamentos de serviços de saúde, o DATASUS implementou outras aplicações específicas para garantir a consistência desses bancos de dados. Em consequência, especialistas do sector de saúde 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 65 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho e estudos académicos realizados, apontam que as séries de dados existentes são de boa qualidade [Carvalho 1997, Lessa 1999]. • • • • • • • • Sistema SIA: Atendimentos de ambulatórios (consultas, exames, terapias) Desenvolvido com base no sistema INAMPS para substituir o sistema de Autorização de Pagamentos de Guias. A implantação ocorreu de 1991 a 1995, progressivamente, em todo o território nacional. Abrange entidades de saúde: públicas, universitárias, filantrópicas e privadas em convénio com o SUS. Principais documentos: Cadastro de Ambulatórios (FCA), Programação Físico-Orçamentária (FPO), Boletim de Produção de Ambulatórios /Individual (BPO/BPI). Principais variáveis Unidade executora (nome, CGC, endereço, conta corrente). Caracterização da unidade (tipo, natureza jurídica, consultórios, equipamentos). Recursos físicos e orçamentários, dados de controlo sobre serviços. Programação (procedimentos a serem executados por acções básicas). Exemplos de indicadores de resultados • Número de consultas médicas (ou de qualquer outro item de programação), por habitante ao ano. • Número de consultas médicas (ou de qualquer outro item de programação ou procedimento) por consultório (ou equipamento ou estabelecimento que o realiza). • Número de exames/terapias realizados pelo quantitativo de consultas médicas. • Imposto de renda (IR) pago a prestadores de serviços médicos. Tabela 4.3 Variáveis e indicadores de atendimentos do sistema SIA/SUS. (Fonte: Carvalho (1997), adaptado). Os dados de serviços de saúde cobrem todas as actividades do sector: rede hospitalar pública, universitária, filantrópica e privada em convénio com o SUS. O instrumento de colecta dos dados dos SI de serviços de saúde é a autorização de internação hospitalar (AIH), que dá prioridade a dados de produção de serviços, mas também dispõe de outras informações, por exemplo, dados de morbidez [FIOCRUZ 1998]. A Tabela 4.4 ilustra o montante dos recursos gastos em 1999, no pagamento dos serviços de atendimentos de ambulatórios e em internamentos hospitalares, relativamente a pacientes da rede SUS. O sistema de informações hospitalares (SIH) tem suas origens na década de 70 e foi implantado com o propósito de controlar o pagamento dos serviços prestados pelos hospitais contratados. Em 1991, em razão da implantação do SUS, passou a denominar-se sistema de informações hospitalares (SIH/SUS). Anteriormente, havia assumido outras denominações: sistema nacional de controlo de pagamentos de contas hospitalares (SNCPCH), sistema de assistência médico hospitalar da previdência social (SAMPHPS). O SNCPCH foi implantado entre 1976/1977 e caracterizou-se pelo ressarcimento de despesas acto a acto. Esse mecanismo determinava, com frequência, rejeição de facturas. Como instrumento de captação de dados, o sistema utilizava a guia de internamento 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 66 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho hospitalar (GIH) e a tabela de honorários médicos para os actos profissionais médicos realizados [Levcovitz 1993]. Estado (Unidade Federativa) Total (ano 1999) Atendimentos de ambulatórios Internações hospitalares Pacientes Recursos Média Pacientes Recursos Média 1.429.126.230 3.207.553,5 2,24 Total Recursos Perc Atend 11.950.797 3.076.717,2 257,50 6.284.270,7 100.0% São Paulo [1] 321.738.649 897.182,4 2,79 2.219.107 774.122,8 348,84 1.671.305,2 22.5% Minas Gerais [2] 183.957.976 368.659,9 2,00 1.259.151 319.684,5 253,89 688.344,4 12.9% Rio de Janeiro [3] 126.323.335 311.418,8 2,46 894.298 271.103,9 303,14 582.522,6 8.8% Bahia [4] 93.746.171 184.377,8 1,97 1.059.158 198.147,6 187,08 382.525,4 6.6% Paraná [5] 91.508.666 179.756,9 1,96 787.418 234.694,7 298,06 414.451,6 6.4% Pernambuco [6] 72.974.999 143.012,8 1,96 570.442 137.847,2 241,65 280.860,0 5.1% Rio Grande do Sul [7] 60.127.262 184.480,2 3,07 796.822 252.096,2 316,37 436.576,4 4.2% Ceará [8] 59.186.575 130.197,8 2,20 525.656 117.904,8 224,30 248.102,6 4.1% Maranhão [9] 47.256.921 76.374,9 1,62 388.518 70.660,8 181,87 147.035,7 3.3% Santa Catarina [10] 45.133.206 103.336,3 2,29 406.743 91.037,1 223,82 194.373,4 3.2% Goiás [11] 39.747.955 84.081,8 2,11 363.104 85.910,3 236,61 169.992,1 2.8% Pará [12] 39.093.225 53.887,5 1,38 485.776 78.341,8 161,27 132.229,3 2.7% Mato Grosso do Sul [13] 26.912.268 48.251,1 1,79 193.659 37.713,3 194,74 85.964,4 1.9% Paraíba [14] 26.208.994 53.443,3 2,04 261.363 55.565,2 212,60 109.008,5 1.8% Alagoas [15] 26.184.111 43.084,6 1,64 194.886 40.903,0 209,89 83.987,6 1.8% Piauí [16] 26.036.895 48.368,7 1,86 257.263 50.284,7 195,46 98.653,4 1.8% Rio Grande do Norte [17] 24.123.240 51.668,5 2,15 192.099 37.705,7 196,28 89.374,2 1.7% Espírito Santo [18] 20.957.891 51.561,6 2,46 201.285 46.213,3 228,94 97.774,9 1.5% Sergipe [19] 17.643.572 31.914,4 1,81 133.441 23.979,2 179,70 55.893,6 1.2% Mato Grosso do Sul [20] 16.172.404 32.773,6 2,03 166.412 41.243,3 247,84 74.016,9 1.1% Amazonas [21] 16.109.243 39.993,6 2,48 126.579 22.223,9 175,57 62.217,5 1.1% Distrito Federal [22] 13.779.548 34.636,7 2,52 156.455 41.891,7 267,75 76.528,4 1.0% Tocantins [23] 12.427.564 19.214,6 1,55 97.817 18.597,4 190,13 37.812,0 0.9% Rondônia [24] 12.095.188 18.496,8 1,53 124.376 16.398,4 131,85 34.895,2 0.8% Amapá [25] 4.615.522 6.900,6 1,50 23.393 3.442,3 147,15 10.342,9 0.3% Acre [26] 2.854.550 6.668,2 2,33 48.309 6.773,1 140,21 13.441,3 0.2% 2.210.300 3.850,3 1,74 17.298 2.230, 7 128,95 6.081.0 Valores: recursos USD 1.000, média USD 1; conversão: 1 Real = 0,65 USD (valor médio 1999) 0.2% Roraima [27] Tabela 4.4 Atendimentos de ambulatórios e internamentos (sistemas: SIA, SIH). (Fonte: DATASUS, www.datasus.gov.br, Indicadores e dados básicos Brasil 2000, Recursos SUS). Segundo Travassos (1996), a operacionalização do SNCPCH possibilitava muitas distorções de informação, tais como: registo de pacientes inexistentes, falsificações em diagnósticos, excessiva cobrança de diárias, exames, medicamentos; internamento sem diagnósticos, internamentos e exames desnecessários, reapresentação da conta do paciente, cobrança indevida de honorários e taxas de utilização de unidades de terapia 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 67 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho intensiva e de centros cirúrgicos. Em função de tais problemas, foi desenvolvido um novo sistema, concluído em 1980, o sistema de assistência médico-hospitalar da previdência social (SAMHPS) [Levcovitz 1993]. As bases desse sistema consistiam na utilização de tabela de procedimentos clínicos, valores separadamente discriminados para pagamento dos serviços de hospitais e de profissionais. O sistema tratava índices de valorização de produtividade e desempenho hospitalar. 4.3 Características do serviço de saúde do Brasil O principal documento do sistema SIH é a autorização de internamento hospitalar (AIH). Mensalmente são disponibilizadas quantidades /tipos de atendimentos para as secretarias estaduais de saúde, de acordo com o quantitativo estipulado para o Estado, que desde 1995 é o equivalente a 9% da população residente em um ano, estimada pela IBGE. Variáveis contidas na AIH permitem realizar tanto a análise de produção de serviços de saúde, quanto de morbidade hospitalar. As informações de internações hospitalares dispõem de variáveis que podem ser agrupadas em cinco categorias [Carvalho 1997] 1. Identificação da AIH, contendo número e caracterização do órgão gestor que emitiu o documento. 2. Caracterização do internamento, contendo identificação do paciente, procedimento clínico autorizado, nome e Cadastro de Pessoa Física (CPF) dos médicos responsáveis pela emissão do documento e internamento do paciente, tipo da admissão, campos específicos para casos de acidente de trânsito. 3. Caracterização de procedimentos especiais sobre pagamento de valores adicionais aos estabelecidos em tabelas, como utilização de UTI e insumos especiais. 4. Caracterização de serviços profissionais, onde existem informações detalhadas sobre procedimentos médicos, exames e terapias realizadas. 5. Caracterização da assistência prestada, contendo nome e Código Geral do Contribuinte (CGC) do hospital, data da admissão e alta, motivo da alta e registo de eventual óbito, diagnóstico primário e secundário da internamento e registo do principal procedimento realizado. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 68 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho A partir de 1994 a autorização de internamento hospitalar (AIH) passou a ser gravada em média electrónica (disquete), sendo então eliminado o formulário impresso prénumerado. O retorno dos dados gerados por cada hospital sob convénio com o SUS permitiu em 1995 ao DATASUS elaborar uma série de aplicativos, a exemplo do programa de gestão financeira (PGF) e o sistema de gerenciamento da autorização de internamento hospitalar (SGAIH), que possibilitaram aos gestores de saúde um maior controlo e avaliação dos serviços prestados ao SUS [Carvalho 1997]. A mudança de colecta por meio de formulário para memória magnética ampliou de tal forma a utilização da informação dos serviços hospitalares, que desencadeou um processo de utilização de métodos epidemiológicos como um dos fundamentos do planeamento de políticas governamentais, em confronto com a forte conotação de sistema de informação de apenas pagamento de serviços de saúde [Carvalho 1997]. Os procedimentos e utilização de meio magnético contribuiu muito para melhoria da qualidade dos dados dos serviços hospitalares. A utilização de parâmetros de aceitação de dados na digitação de códigos de diagnósticos (tabelas) reduziu o número de inconsistências da informação. Assim, foi possível criar rotinas que permitem identificar erros em autorização de internamento hospitalar (AIH) e estabelecer correcções nos dados antes do processamento final dos serviços, o que garante a confiabilidade da informação gerada a partir dessa base de dados de serviços de saúde do SUS [Moreira 1995]. No tocante à avaliação de cobertura dos dados do sistema SIH, é importante ressaltar que esse sistema contempla os internamentos realizados em toda a rede do SUS. No entender de Levcovitz (1993), a cobertura do serviço chega actualmente a 80% do universo dos internamentos hospitalares da população brasileira, variando em função dos níveis de complexidade dos procedimentos médicos realizados. No Brasil de 1.000 habitantes, estima-se que 9% procuram hospitais, ou seja, considerase que 9% da população total pode internar-se no decorrer do ano, o que leva o SUS a estabelecer o percentual de 9% como teto para distribuição das cotas de internamentos 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 69 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho hospitalares [Lessa 1999]. De acordo Buss (1993), as taxas de internações, por habitantes, com base nos dados do sistema SIH cresceram de 6,97% em 1984 para 9,29% em 1991. Esse crescimento deve-se, principalmente, à inclusão em 1987 dos hospitais universitários no sistema SUS, e dos hospitais públicos em 1989. Essas taxas, quando analisadas em 1989 por região, mostrava o Norte do país com 10,94% e o Sul com 14,83%, o que demonstra uma diferença considerável entre as duas regiões, justificada pela oferta desigual de distribuição de leitos hospitalares nas diferentes regiões do país. Mesmo apresentando alguns problemas, os dados dos serviços de saúde do sistema SIH são de grande importância para estudo do perfil dos internamentos hospitalares e fonte notificadora para vigilância epidemiológica, principalmente, pela sua agilidade de disponibilização da informação [Travassos 1996]. Esses dados são disponibilizados pelo DATASUS em vários meios, incluindo a Internet, para gestores em menos de um mês e para investigadores, outras instituições e a população no prazo médio de dois meses. No entender de Levcovitz (1993), o sistema de informações hospitalares (SIH) baseia-se no modelo de financiamento antecipado dos serviços de saúde, que é fundamentado na estimativa de custos médicos aplicados a uma unidade determinada e tendo uma base de cálculo pré-definida. Tal modelo parte do princípio que os pacientes apresentam características comuns, os chamados Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDHs) igualmente adoptado em hospitais portugueses ou os DRGs (Diagnosis Related Groups) americanos, definido como um sistema de classificação de doentes internados em hospitais, em grupos clinicamente coerentes e homogéneos do ponto de vista de consumo de recursos médicos [Fetter et al. 1980]. Sistema que tem base em modelo dos GDHs tem vantagens como o carácter de previsibilidade de gastos e possível incentivo de um melhor desempenho hospitalar, além do controlo de variáveis relacionadas com a eficiência do serviço, tais como produção de exames e tempo médio de permanência de internamento hospitalar [Fernandes 2000]. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 70 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 4.4 Exemplos de soluções informáticas de serviços de saúde Mostram-se, a seguir, exemplos de iniciativas de serviços nacionais de saúde do Brasil, Portugal e Inglaterra, relativamente a soluções informáticas disponibilizadas à gestão de instituições executoras de serviços de saúde, nomeadamente, hospitais, postos de saúde e instituições similares que trabalham para os serviços de saúde desses países. 4.4.1 Sistema gestão do serviço de saúde do Brasil Na tentativa de apoiar a instrumentalização do SUS em termos de sistemas de informação, DATASUS desenvolveu um sistema integrado de gestão de instituições de saúde (HOSPUB), hoje colocado à disposição dessas instituições do SUS, geridas pelas secretarias estaduais e municipais de saúde. O HOSPUB foi documentado de acordo com as normas de qualidade para software (ISO9000) e vem sendo implementado em hospitais do país, pelas próprias instituições de saúde ou por meio de outsourcing com empresas de informática previamente treinadas e credenciadas pelo órgão gestor nacional (DATASUS 2001b). Esse sistema possui actualmente os seguintes módulos: • Informação ao público: atendimento do público externo sobre paciente internado. • Arquivo médico (SAME): cadastramento e gestão de prontuários de pacientes. • Emergência: cadastramento e gestão de dados de pacientes atendidos em caracter de emergência e /ou pelo serviço de pronto atendimento (SPA). • Internamento e alta: gestão e controlo da utilização de leitos hospitalares. • Ambulatório: racionalização e gestão do fluxo de atendimentos de ambulatórios. • Laboratório: registo e controlo de realização de exames clínicos de pacientes. • Centro cirúrgico: marcação de cirurgias e emissão de mapas cirúrgicos envolvendo profissionais médicos e recursos utilizados /previstos. • Perinatal: entrada e saída das pacientes em emergências em centros de obstetrícia. Além dos módulos existente, o sistema HOSPUB foi desenvolvido em ambiente de banco de dados relacionais e permite agregar outras ferramentas de apoio à gestão do hospital. Permite, ainda, preparo automático do facturamento das autorizações de internamento hospitalar (AIH) e fichas de atendimentos ambulatoriais dos pacientes, cujas informações 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 71 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho prestam-se para efectivação do pagamento dos serviços de saúde prestados pelo hospital. As informações são incorporadas nas bases de dados dos sistemas nacionais sobre internamentos hospitalares (SIH/SUS), bem como, no sistema de informações sobre atendimentos de ambulatórios (SIA/SUS). 4.4.2 Sistema de gestão do serviço de saúde de Portugal O Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde (IGIF), do Ministério da Saúde de Portugal, tem vindo a implementar software nos hospitais públicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), desde a década de 90. Hoje, a principal ferramenta informática de gestão do IGIF é o Sistema Integrador de Informação Hospitalar (SONHO), uma solução integrada orientada para o controlo clínico-administrativo nas áreas de Urgência, Consulta Externa, Hospital dia, Internamento, Bloco Operatório, Apoio a Actividades do Médico, Apoio à Práticas do Enfermeiro. O modelo de funcionamento deste sistema é comum aos hospitais do SNS. O sistema SONHO também está interligado com um conjunto de sistemas administrativos de apoio à gestão da Saúde, e.g., Contabilidade, Recursos Humanos, Gestão de Materiais, Gestão de Pagamentos e outros (Figura 4.1). O objectivo do sistema SONHO é criar as infra-estruturas que permitam englobar, progressivamente, à medida das necessidades de cada hospital, novos módulos /aplicações interligadas com as já existentes, de modo a assegurar que os critérios implementados sejam assumidos de forma natural por novos componentes [IGIF 2002]. O sistema tem como base a filosofia de - um doente, um número único de identificação hospitalar - e tem o objectivo de controlar o fluxo de dados da instituição, tendo o paciente como modelo funcional central. O módulo integrador do sistema é o elemento necessário à interligação dos diferentes componentes. Este módulo implementa normas de carácter estrutural, que têm o objectivo de construir o "núcleo" do sistema, para assegurar os aspectos relacionados com a parametrização, normalização e integração progressiva de novos elementos. Principais objectivos deste módulo [IGIF 2002]: • evitar redundância de informação e procedimentos; 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 72 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • centralizar as actividades relacionadas com a gestão do sistema; • centralizar funcionalidades genéricas do sistema. (Subsistema ERP Administrativo) Sistema de Contabilidade Recursos Humanos Outras aplicações: SIDUH, SCD/E, ASIS Urgência Gestão de Materiais Módulo integrador (backbone) Hospital Dia Bloco Operatório Consulta Internamento Externa torno desta estrutura normalizada, é viável Gestão de Pagamentos Outros SIs administratios Rede de Informação da Saúde (RIS) SAPE (Enfermeiro) SAM Outros (Médico) a integração de sistemas departamentais Em cujos respectivos modelos funcionais podem variar de hospital para hospital. (SONHO: Subsistema ERP Assistencial de serviços de saúde do SNS) Figura 4.1 Estrutura do subsistema SONHO /subsistema administrativo do IGIF/SNS. (Fonte: IGIF (2002): Sistema SONHO, adaptado). Para viabilizar a integração funcional dos cuidados de saúde, o módulo integrador possui um conjunto de facilidades que permitem a comunicação telemática (partilha da informação) entre o hospital e outras instituições de saúde (hospital ou centro de saúde), através da Rede de Informação da Saúde (RIS). No caso dos centros de saúde, a comunicação é estabelecida com o SINUS (Sistema de Informação para as Unidades de Saúde, análogo ao SONHO). 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 73 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 4.4.2.1 Funcionalidades dos módulos As funcionalidades /procedimentos implementados em cada módulo do SONHO, além das actividades específicas, permitem: acesso /ligação a outro módulo cuja disponibilidade seja considerada útil, registo de dados clínico-administrativos, bem como, emissão de relatórios e declarações para o doente (presença do doente /acompanhante, recibos, notas de débito, relatórios para a Polícia, credenciais para exames /análises clínicas), gestão de taxas moderadoras, apuramentos estatísticos. Dentro de cada módulo, os episódios são numerados com um número único e sequencial no ano, que é gerado automaticamente pelo sistema e relacionado com o número de identificação do hospital. Os principais módulos do sistema SONHO têm as seguintes funções [IGIF 2002]: Urgência. Faz o registro e controlo de admissão de episódio de urgência no hospital. Consulta Externa. Procede a gestão da informação associada à marcação e efectivação de consultas. Periodicamente, pode ser introduzido neste módulo o plano de consultas do hospital, para permitir marcação de consultas à distância, a partir dos centros de saúde, via módulo integrador e rede de comunicação (RIS). Internamento. É o módulo responsável pelos procedimentos relacionados com a estadia do doente no hospital, desde a admissão até o momento da alta, e.g., internamento, transferências entre serviços, gestão de listas de espera e camas, registo de dados clínicoadministrativos. Os dados recolhidos incluem ainda as especificações para a facturação via GDH (Grupo Diagnóstico Homogéneo), aplicação integrada ao SONHO. Hospital Dia. Faz a gestão da informação associada à marcação de sessões clínicas em Hospital Dia (marcação /cancelamento de sessões, registo de dados clínicoadministrativos de sessões). Bloco Operatório. É o módulo de gestão dos procedimentos relacionados com actividades de Bloco Operatório, e.g., gestão das listas de espera para o Bloco Operatório em articulação com a lista de espera para internamento. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 74 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Os módulos SAM (médicos) e SAPE (enfermeiros) são orientados para actividades médicas e de enfermagem, relativamente ao registo e exploração dos dados nas perspectivas desses profissionais. A maioria das opções disponíveis no SAM estão em conformidade com os módulos existentes no SONHO. A principal diferença reside no facto da exploração /registo da informação do SAM ser feita na visão do médico e em ambiente Web. Funções indicadas no SAM: • gestão de marcação, registro e pesquisa de dados da consulta; • prescrição de MCDT (Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica); • acesso à "história clínica" do paciente; • prescrição de medicamentos (base em prontuário terapêutico); • visualização de registos antecedentes pessoais e/ou familiares e alertas médicos; • elaboração e visualização de relatórios. O SAPE é uma ferramenta de apoio à actividade do enfermeiro e tem por base a CIPE (Internacional Classification for Nursing Practice). Funções deste subsistema: • registo das intervenções que resultam das prescrições médicas; • registo dos dados resultantes da apreciação inicial de enfermagem; • registo dos fenómenos /intervenções da enfermagem; • gestão do plano de trabalho por turno/dia; • gestão das tabelas do sistema. Além destes módulos, o sistema SONHO possui ainda um conjunto de funcionalidades relacionadas com o Arquivo Clínico e com os Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT), que visam assegurar a articulação entre os módulos do sistema e estes serviços, e.g., gestão de requisição /devolução dos processos clínicos ao Arquivo Médico, registos de análises e resultados exames). Outras aplicações do IGIF da área assistencial de serviços de saúde (Figura 4.1): • SIDUH - Sistema de Informação de Dose Unitária Hospitalar, para apoiar a actividade da farmácia do hospital. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 75 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • SCD/E - Sistema de Classificação de Doentes por Graus de Dependência em Enfermagem. • ASIS - Sistema para Apoio à Gestão dos Serviços de Imunohemoterapia. 4.4.2.2 Soluções técnicas adoptadas O IGIF utiliza sistema operativo UNIX e sistema Oracle de gerência de base de dados relacional (SGBDR). Os técnicos da instituição justificam que o UNIX é um sistema estável e que possibilita implementar mecanismos de segurança fiáveis. Por sua vez, o Oracle é um software que funciona sob qualquer plataforma UNIX, Windows e diversos sistemas operativos proprietários, o que facilita o processo de integração. A nível da estrutura local, o SONHO utiliza tecnologia Ethernet com protocolo TCP/IP e recursos Oracle que disponibilizam um interface não gráfico (Forms versão PL/SQL e Reports). Os módulos SAM e SAPE foram desenvolvidos para Web (interface gráfico) e utilizam tecnologia Wireless (rede de comunicação sem fios). Foram utilizados recursos no SAM e SAPE para funcionarem em computador PDA (PalmTop) ou em computador pessoal. Assim, é possível médicos e enfermeiros consultarem e registarem parte da informação junto à cama do paciente. 4.4.3 Metodologia adoptada no serviço de saúde do Reino Unido Segundo White (1996), em instituições do sistema de saúde inglês (NHS), o fomento e implementação de novas tecnologias de SI pode ser, em muitos casos, geridos sob forma de projecto. No entender deste autor, o NHSME (National Health Service Management Executive), departamento responsável pela gestão do NHS, tem recomendado a adopção da metodologia denominada PRINCE, utilizada para gestão de projectos informáticos da administração pública do Reino Unido; logo, indicada também para as instituições de saúde vinculadas no NHS. Embora seus termos sejam semelhantes aos empregados em outras áreas, os princípios são basicamente os mesmos de qualquer metodologia do projecto de gestão, portanto, o emprego desse modelo pode reduzir potenciais problemas de implementação de SI em saúde (Figura 4.2). Segundo o autor, o envolvimento de médicos na implementação de projectos tem sido positivo, a ponto de aumentar a cada 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 76 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho dia, o número de profissionais de saúde que se juntam às equipas dos projectos informáticos do NHSME. Direcção do projecto de informatização: • Executivo do hospital • Representante dos utilizadores • Representante tecnológico (SI/TI) Coordenação do projecto: • Coordenador de negócio • Coordenador tecnológico • Coordenador de avaliação (representante de utilizadores) Gestor do projecto de informatização Equipa de implementação (SI/TI): • Líder de actividades (1) • Líder de actividades (2) • Líder de actividades (3) ... Figura 4.2 Estrutura de projecto de informatização de hospital (PRINCE/NHS). (Fonte: White (1996), adaptado) No entender de White (1996), uma característica importante desse tipo de modelo de projecto é a existência de uma entidade individual, o gestor da implementação do projecto, que deve dedicar-se em part-time ou a tempo integral ao projecto. A participação efectiva do gestor do projecto cria expectativas para os profissionais envolvidos ou relacionados com as actividades, o que destaca a importância do sistema tecnológico e, portanto, isto tem sido factor de sucesso para conclusão de projectos no tempo previsto e dentro dos limites dos orçamentos planeados pelo NHS. Segundo White (1996), informação é um recurso importante para gestores de saúde. Uma apreciação de dado disponível em sistemas de informação e a forma como tais sistemas são estruturados é uma necessidade para a instituição de saúde. Gestores de saúde necessitam de assegurar que a informação é um elemento imprescindível na tomada de 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 77 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho decisão. Por outro lado, instituições de saúde devem desenvolver estratégias adequadas para gerir e liberar a informação necessária às actividades de prestação de saúde. 4.5 Necessidade de avaliar recursos de informação em saúde No entender de Friedman e Wyatt (1997), a avaliação de recursos de informação em saúde não é simplesmente uma possibilidade, é uma necessidade. Embora seja actividade complexa, a avaliação em saúde é importante e serve para múltiplos propósitos, exemplo: • Promocional. Para encorajar a utilização de recursos de informação em medicina precisa-se de habilidade e dispor de formas para tranquilizar profissionais médicos que SI/TI são recursos seguros e beneficiam a pacientes e instituições de saúde, em relação a custo-eficácia de actividades de saúde e outros benefícios. • Educacional. Considerando que os recursos de SI/TI aplicados à saúde hoje é uma realidade, há então estrutura, função e impacto desses recursos sobre o sector de saúde, o que implica a existência dum método básico para estudar seus princípios e efeitos. Porém, a avaliação de recursos de SI/TI em saúde deve ser vista de diferentes perspectivas para verificação da efectividade de funções implementadas nos produtos e a existência de valor acrescentado na utilização de tais ferramentas na saúde. • Pragmático. Se recursos de SI/TI não são avaliados, profissionais informáticos não poderão conhecer que técnicas ou métodos são mais efectivos ou que práticas falham. Igualmente, não poderão entender erros cometidos e o que poderá contribuir para corrigir projectos futuros. • Médico-legal. Para reduzir riscos de responsabilidade, utilizadores precisam assegurar que ferramentas são eficientes e seguras. Assim, é necessário avaliar o recurso para habilitá-lo ao exercício prático. Tal recurso deve permitir a profissionais de saúde exercer habilidades profissionais e ao mesmo tempo, manter controlos sobre eventuais disfunções do artefacto. Por conseguinte, todo estudo de avaliação é sempre motivado por factores que direccionam o trabalho. A consciência dum conjunto de razões para conduzir uma 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 78 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho avaliação ajuda a construir questões objectivas que podem evitar algum desapontamento relacionado com o desvio do foco inicial do trabalho. 4.5.1 Alargamento do objectivo da avaliação Estudos de avaliação de recursos de informação em instituições de saúde não devem focar somente a estrutura e função desses recursos; devem também considerar os impactos produzidos sobre provedores de saúde, utilizadores, pacientes - o contexto das acções de saúde. Pois, para entender as acções de utilizadores, os investigadores devem comparar lacunas de opiniões particulares, oficiais e comportamentos de utilizadores finais. Segundo Friedman e Wyatt (1997), existem evidências de que o simples acto de estudo de desempenho ajuda a melhorar a qualidade do serviço. No entanto, estes autores entendem que a avaliação de recursos de informação não é simples e requer envolvimento de outras áreas: ciências sociais, estatística e outros campos relacionados. Recursos de SI/TI Medicina e serviços de saúde Avaliação de serviços de SI em saúde Metodologia de avaliação (múltiplas visões) Figura 4.3 Contexto interdisciplinar de avaliação de serviços de SI em saúde. (Fonte: Friedman e Wyatt (1997), adaptado). A avaliação de recursos de informação aplicados à saúde pode ser visto como a intersecção de três áreas, cada uma de notória complexidade (Figura 4.3): medicina e serviços de saúde, sistemas de informação (SI) e tecnologia da informação (TI), metodologia de avaliação. Assim, em decorrência da complexidade de cada área, o 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 79 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho processo de avaliação encontra sérios desafios. No entender de Greenes e Shortliffe (1990), a avaliação utiliza métodos, disciplinas e linhas específicas de trabalho. No que se refere ao envolvimento de outras disciplinas com os serviços de saúde, Ward (1997) relaciona: Saúde Pública, Promoção de Saúde, Epidemiologia, Medicina Social, Psicologia, Pesquisa Básica, Investigação Clínica, Auditoria Clínica, Ciência da Informação, Ciência da Computação, Estatística Médica, Economia Médica, Pesquisa Operacional, Gestão de Empresas. O emprego dessas disciplinas permite desenvolver avaliações de serviços de saúde com visão sobre vários ângulos, exemplo: • Recursos de informação (SI/TI). Deve-se definir o foco da avaliação, seja a utilização e os efeitos no âmbito de recurso específico ou o envolvimento de área maior na saúde, e.g., efeitos da utilização de equipamentos MCDT (Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica) no tratamento clínico de pacientes; ou a utilização de sistemas informáticos em serviço público de saúde. • Eventos clínicos. Método de avaliação de ganho de saúde com base em resultados clínicos, e.g., anos adicionais de vida em consequência de tratamento médico. • Qualidade de vida. Forma de avaliar efeitos de eventos clínicos em termos de ganho de saúde, e.g., serviço ou técnica para melhorar a qualidade de vida de pacientes com derrames cerebrais graves. • Avaliação de ganho de saúde. A saúde em geral tem um amplo conjunto de objectivos. Por exemplo, para pacientes com cancro, a intenção pode ser prolongar vidas; doentes terminais, a intenção é obter redução de sofrimento; para hipertensos, uma ajuda imediata poderia representar redução de pressão arterial; para esquizofrénicos, poderia ser controlo de sintomas da doença. • Economia médica. Permite avaliar serviços e fornecer resultados para uma decisão sobre aplicação de recursos financeiros em actividades específicas de saúde. Pode esclarecer como recursos financeiros destinados à saúde poderiam ser gastos com melhores vantagens, i.e., como conseguir ganho máximo em saúde com dispêndio de valores financeiros mínimos. Alguns indicadores: custo mínimo, custo efectivo, custo útil, custo-benefício. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 80 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 4.5.2 Estrutura informacional de instituições de serviços de saúde Um modelo simples para definição de requisitos de informação é mostrado na Figura 4.4, que tem como base um modelo desenvolvido por Nolan (1979). É um modelo tradicional hierárquico que divide actividades organizacionais e, por conseguinte, requisitos de informação, de acordo com uma tipificação de sistemas [Ward 1997; Silva e Alves 2002], ou seja: Sistemas de Informação de Apoio a Operações de Processos (SOP), Sistemas de Informação de Gestão (SIG ou MIS - Management Information Systems), Sistemas de Informação para o Planejamento Estratégico (SIP ou EIS - Executive Information Systems), Sistemas de Apoio à Decisão (SAD ou DSS - Decision Support Systems). Sistemas de planejamento estratégico: previsão, planeamento, cenários, indicadores de saúde. Nível estratégico Nível gerencial Nível operacional Sistemas de apoio à gestão: recursos humanos; objectivos e metas; listas de espera; gestão de leitos; informação estatística. Sistemas de apoio a processos: registos de pacientes, empregados, diagnósticos, resultados clínicos; admissões e altas, materiais, medicamentos. Figura 4.4 Estrutura de recursos de informação aplicados a instituições de saúde. (Fonte: Morton-Cooper e Bamford (1997), adaptado). Esta estrutura tem sido apresentada como modelo para entendimento de modelos informação de organizações. Mostra como recursos de informação podem ser distribuídos em organizações, no caso, em instituições de saúde. Este modelo vem sendo criticado pela sua simplicidade [King e Kraemer 1984]. No entanto, tal simplicidade tem sido a chave do melhor entendimento e popularidade deste modelo junto de diversos tipos de utilizadores de SI/TI [Ward 1997]. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 81 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Os conceitos envolvidos neste modelo (Figura 4.4) permitem classificar a estrutura de SI de acordo com abordagens orientadas a sectores específicos. Por exemplo, Kydd (1989) afirma que existem quatro grupos de abordagens mais significativas: técnica, comportamental, organizacional, interactiva. Nesse mesmo tipo de abordagem, Ramos (2000) desenvolveu investigação em Engenharia de Requisitos que trata de aspectos estruturais, sociais, políticos e simbólicos, que provocam um impacto no desenvolvimento e utilização da tecnologia da informação em ambientes organizacionais. Segundo Ward (1997), as primeiras avaliações de desempenho no serviço de saúde do Reino Unido (NHS) tiveram a intenção de focar aspectos de recursos financeiros e actividades básicas de instituições de saúde. Até período recente, esse processo foi direccionado, principalmente, para gestores seniors e empregados intermediários; todavia, as instituições de saúde introduziram novas formas de avaliação dos staffs médicos. Assim, passaram então a associar pagamentos de profissionais médicos com indicadores de desempenho, relacionando número de pacientes tratados e factores de sucesso com objectivos financeiros obtidos pela instituição de saúde. De modo particular, a avaliação de recursos financeiros e das actividades correspondentes em saúde é insuficiente e não apropriada, dever-se-ia, por isso, dar atenção a múltiplas outras visões de desempenho do serviço de saúde [Bromwick e Bhimani 1989, Fitzgerald et al. 1991]. Pois, outras dimensões também expressam facetas importantes de qualidade do serviço, possivelmente ignoradas no processo. E se outras dimensões de desempenho do serviço de saúde não forem avaliadas, gerentes clínicos poderão enfrentar conflitos de profissionais médicos que se tornam frustados quando são considerados apenas indicadores de cunho financeiros, em razão destes serem insuficientes para expressar realidades do contexto global dos serviços de saúde. Assim, é importante que gerentes médicos e profissionais de saúde possam ser instruídos e activamente envolvidos nesse processo que deve ser construído à base de objectivos, políticas, metas, indicadores e resultados de instituições de saúde. Portanto, profissionais de saúde e autores acreditam que essa seja a forma mais completa do processo de 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 82 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho avaliação, o qual pode assegurar não só a melhoria da qualidade dos serviços de saúde, mas também produzir efeitos em relação à gestão dos recursos para a saúde e a satisfação global dos utentes [Ward 1997]. 4.6 Indicadores de desempenho de serviços de saúde Segundo Graugnard (1999), certos segmentos da indústria, mais notadamente a manufactura tem desenvolvido muitos indicadores de avaliação de desempenho. Todavia, em saúde, a avaliação de medidas de desempenho é um fenómeno relativamente novo. Assim, a área industrial dispõe de técnicas e ferramentas de gestão de qualidade total (TQM) e procedimentos sobre aumento contínuo de qualidade (CQI) para identificar problemas, explicar variabilidade e disponibilizar mecanismos para produzir aumento de estrutura, desempenho, qualidade e resultados em negócios de empresas. No entanto, em instituições de saúde, eventualmente, medidas de desempenho são definidas e implementadas como parte de melhoria de processo ou de esforço institucional para avaliar o desempenho de serviço de saúde. Um problema crítico é identificar e definir objectivos do negócio saúde e dos processos críticos a serem avaliados. Em qualquer circunstância, a estrutura de medida depende de processos, direccionadores do negócio, características de medidas e resultados desejados. Em saúde, todos os diferentes tipos de medidas e processos podem requerer diferentes formas de avaliar. Além disso existem muitas abordagens, objectivos e formas de avaliação de resultados. Mas, as iniciativas e os requisitos de formulação de planos de avaliação de desempenho em saúde são igualmente similares aos empregados em outros tipos de organizações [Graugnard 1999]. 4.6.1 Perfis de medidas de desempenho em saúde vs. resultados Que medida de desempenho em saúde é mais apropriada? Não existe uma resposta simples. Depende muito do objectivo do estudo, o que está sendo avaliado e do resultado desejado. Todavia, no entender de [Graugnard 1999, DeLone e McLean 1992], a combinação de processos de avaliação /resultados é provavelmente desejável para obtenção de saídas mais adequadas dum plano de medidas de desempenho, dada a 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 83 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho necessidade não apenas de comparar e monitorar resultados, mas também para criar informação de feedback no modelo, de forma a assegurar um incremento contínuo de valor acrescentado de desempenho no sistema de referência em avaliação. Um conceito chave sobre avaliação de desempenho está no estabelecimento de iniciativas para modificar o estado corrente do objecto e assegurar maior e melhor impacto nos resultados produzidos pelo sistema. Segundo Graugnard (1999), medidas de desempenho, processos e resultados em saúde diferem muito em termos de visões e de prioridades em relação ao conjunto de utilizadores do universo de estudo. Por exemplo: • Provedores de planos de saúde interessam-se em determinar o retorno financeiros em relação ao estado da saúde dos utentes ou duma população considerada. • Planos de saúde tendem a preservar controlos sobre determinadas faixas do mercado de saúde e a eficiência monetária do negócio. • Médicos concentram-se na eficiência de tratamento de pacientes com base em resultados clínicos. • Pacientes interessam-se, por exemplo, no impacto de tratamento clínico, dos serviços oferecidos e da qualidade de vida. 4.6.2 Direccionadores e indicadores internos de serviços de saúde Entende-se por direccionadores de saúde certos indicadores ou índices específicos de serviços de saúde destinados a orientar utilizadores em relação à posição presente e perspectivas futuras de determinado serviço no mercado. Por exemplo, o número de serviços credenciados de determinado plano de saúde, a frequência de saída de médicos do serviço. Segundo Graugnard (1999), nos Estados Unidos, onde a saúde é de domínio privado, os principais direccionadores de desempenho de saúde são definidos por organização de desenvolvimento de padrões de qualidade em saúde, tais como FACCT (Fundation for Accountability), JCAHO (Joint Commission for Accreditation of Healthcare Organizations), NCQA (National Commitee for Quality Assurance). 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 84 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Enquanto a primeira prioridade de plano de saúde é atender os requisitos de provedores no que se refere a padrões de qualidade e resultados económicos, começam a ser desenvolvidas medidas adicionais para atender a requisitos internos de instituições de saúde. Pois, como os preços dos serviços se tornam pouco diferenciados, os planos de saúde necessitam de outras formas para distingui-los, e então continuarem proprietários de parcelas no mercado. Assim, os próprios provedores de saúde começam a produzir e divulgar outros indicadores de desempenho internos às instituições de saúde, com o objectivo de reforçar posições no mercado consumidor [Graugnard 1999]. À medida que organizações de saúde procuram integrar e consolidar operações por meio de facilidades de serviços, unidades de negócio e SI de gestão tornam-se necessários para monitorar o desempenho, particularmente, a perspectiva funcional de melhoria dos serviços de saúde. Actualmente, organizações de saúde estão assumindo maiores riscos financeiros em relação à oferta de mais facilidades e serviços, o que implica maior responsabilidade de gerentes médicos em consequência do consumo de recursos para o ajustamento estratégico da gestão dos serviços às exigências dos utentes [Graugnard 1999]. Nos Estados Unidos, mais de 85% das organizações de manutenção de planos de saúde HMO (Health Maintenance Organizations) estão envolvidos em iniciativas de avaliação de resultados de desempenho em saúde. Por conseguinte, o emprego dos sistemas de informação na produção de resultados de serviços de saúde torna-se importante para a avaliação de desempenho e inovação dos serviços de saúde [Graugnard 1999]. 4.6.3 Conceituação de indicadores de desempenho de serviços de saúde Alguns indicadores de desempenho de serviços de saúde podem ser conceituados assim [Scotland 1991, Crombie e Davies 1999, Ball et al. 1999]: • Eficácia - possibilidade de realização de acção, se possível sob condições ideais. • Eficiência - racionalidade de recursos empregados em processo ou acção de saída. • Equidade - diz respeito à igualdade que membros de determinada comunidade ou utentes em relação ao acesso a serviço de saúde. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 85 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • Acessibilidade - facilidade de aceder a serviço de saúde. • Qualidade - nível de perfeição da acção ou do serviço de saúde. • Custo-benefício - abordagem do custo-utilidade relativamente à associação do valor monetário aos benefícios de serviço de saúde. • Satisfação - grau de aprovação de serviço de saúde relativamente ao atendimento de necessidades de utentes. 4.6.4 Indicadores de desempenho de serviços de saúde do HEDIS Actualmente, na área de saúde dos Estados Unidos, o HEDIS (Health Plan Employer Data Information Set) trata um conjunto de agregados de mais de cem indicadores de desempenho, dentre os quais: eficiência do serviço, acesso /disponibilidade, grau de satisfação do utente, estabilidade do plano de saúde, nível de utilização do serviço, custo financeiro, disponibilidade da informação clínica, e assim por diante (Tabela 4.5). A versão mais recente do HEDIS inclui indicadores clínicos de doenças crónicas, doenças contagiosas, alto risco. Indicadores do HEDIS, em relação à saúde básica, avaliam componentes do processo de oferta de serviços de saúde ou intervenções de tratamentos específicos. Relatórios periódicos produzidos com esses indicadores são utilizados para avaliar a adequação da saúde com base em variáveis: tipo e intensidade do tratamento de paciente, local do tratamento comparado com a residência do paciente, momento da intervenção clínica. Incluem ainda: imunização para crianças com menos de dois anos, surto gripal para segmentos particulares da população adulta. Esse agregado de indicadores geralmente são utilizados por membros da área de saúde e demonstram cumprimento de planos e de serviços preventivos de saúde. A fonte básica dos dados desses indicadores são: registo de pacientes, dados administrativos e históricos, que, não são originalmente adequadas para formação de bases de dados clínicos e análises específicas [Graugnard 1999]. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 86 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Indicador Exemplo de medida: Desempenho de serviços de saúde Eficiência do serviço Serviço pré-natal do primeiro trimestre de vida, exame de cancro de mamas, surto gripal de alto risco em adultos Acesso e disponibilidade do Facilidade de acesso ao serviço, meio de acesso (telefone, internet, serviço correspondência, pessoal), serviço de saúde de pré-natal Satisfação do utente Relatório anual de utilização do serviço Estabilidade do plano de Quantificação de saídas de associados, entradas /saídas de médicos, saúde indicadores económicos Grau de utilização dos Frequência de utilização de pacientes, atendimento de crianças nos 15 serviços primeiros meses de vida, nível de utilização de dependentes químicos Custo financeiro do serviço Taxa de alta-ocorrência /alto-custo de DRGs, taxa de tendência do plano. Escolha do plano de saúde Atendimento informativo e orientação de membros, linguagem utilizada. Oferta da informação Certificação de autoridades (MD Board), serviços de planeamento (indicadores oficiais) familiar, avaliação de qualidade, histórico de gestão (case management). Tabela 4.5 Indicadores de desempenho de serviços de saúde do HEDIS. (Fonte: Graugnard in Ball et al. (1999), adaptado). 4.6.5 Indicadores de desempenho de serviços de saúde da FACCT A FACCT (Fundation for Accountability) é uma organização sem fins lucrativos localizada em Portland (Oregon, Estados Unidos), fundada em 1995. É formada por associados públicos e privados. Segundo Graugnard (1999), a FACCT foi organizada parcialmente para minimizar desconfianças de utentes em relação a indicadores HEDIS que, na visão dos utilizadores, não exprimiam suficientemente factores de qualidade e resultados de serviços de saúde. O objectivo da FACCT é, portanto, determinar e fazer consistências sobre os indicadores, para dar maior confiança da utilização dessa informação perante utilizadores /organizações de serviços de saúde (Figura 4.6). Assim, propõe identificar, validar e promover medidas de qualidade e de resultados de saúde. Ultimamente, a FACCT valida indicadores para emissões de relatórios com base em resultados clínicos, atendimento de pacientes, satisfação com serviços de saúde e para fins de seguros do trabalho. A FACCT trabalha em conjunto com o NCQA (National Comittee for Quality Assurance). 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 87 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho i) Exemplos de indicadores de critério de selecção: Cobertura do serviço na população, Custo do serviço de saúde oferecido, Oportunidade de melhoria do serviço, Compromisso e interesse de utentes com o serviço, Conjunto de valores de entrada que podem causar impacto nos resultados do serviço, Diferenciais de planos de saúde em relação aos serviços oferecidos. ii) Exemplos de indicadores de critério de resultados: Grupo de utentes preliminarmente afectado (por idade), Condições pré-estabelecidas para tratamento de utentes, Tipos de serviços oferecidos (preventivo, diagnóstico), Sexo preliminarmente afectado, Impacto especial sobre a população predominante. Tabela 4.6 Indicadores de desempenho de serviços de saúde da FACCT. (Fonte: Graugnard in Ball et al. (1999), adaptado). 4.7 Programas de qualidade de saúde de iniciativa institucional Segundo Donahue e O'Leary (2000), acreditação em saúde é um processo pelo qual um órgão governamental ou não, reconhece instituições de saúde que atendem a certos padrões de qualidade, os quais exigem um aperfeiçoamento constante em suas estruturas, procedimentos e resultados. A submissão a um programa de qualidade de acreditação é normalmente voluntário, de tempo limitado e baseado em análise periódica do órgão acreditador. Actualmente, o órgão acreditador mais antigo e reconhecido em âmbito internacional é a JCAHO (Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations). Foi formada em 1951 pelo Colégio Americano de Cirurgiões, Colégio Americano de Clínicos, Associação Médica Americana, Associação Americana dos Hospitais e Associação Médica Canadense. Desenvolve programas conjuntos de acreditação de qualidade em saúde na Europa, Oriente Médio, Ásia Central, África, Pacífico e América Latina. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 88 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 4.7.1 Experiência de programa de qualidade em Espanha Segundo Bohigas (1998), na Europa, a indústria e outras empresas comerciais têm procurado uma avaliação de qualidade através dos padrões das normas da ISO9000 (International Standards Organization, Genebra), supondo que isso as ajudará a sobreviver num mercado mundial competitivo. Alguns hospitais europeus estão implementando certificação ISO9002, visando um alinhamento com as indústrias no que diz respeito a sistemas de qualidade. No entanto, os padrões ISO não se aplicam facilmente à saúde. Porém, até há pouco tempo não havia programa de acreditação que pudesse oferecer a esses hospitais uma avaliação internacionalmente reconhecida, ao contrário dos padrões ISO que são adoptados mundialmente. Em Espanha, a FAD (Fundação Avedis Donabedian) promove acções de qualidade entre profissionais e organizações de atendimento à saúde. É uma organização sem fins lucrativos fundada em 1988. Seu nome provém do nome do presidente honorário da instituição, professor Avedis Donabedian, autoridade mundialmente conhecida no campo da qualidade em assistência médica. A FAD, em conjunto com a Universidade Autónoma de Barcelona, oferece cursos de pós-graduação em métodos de qualidade em saúde, bem como avaliação externa de qualidade de instituições de saúde e mantém intercâmbio com outros centros europeus de pesquisa em saúde, incluindo: Swedish National Board of Health and Wellfare, CBO (organização nacional para a garantia da qualidade) dos Países Baixos, Instituto Superior de Saúde Italiano, Programa de Acreditação dos Hospitais Britânicos [Bohigas 1998]. 4.7.2 Experiência de programa de qualidade no Brasil Programa de acreditação é um processo importante, actualmente perseguido por instituições de saúde em todo o mundo. Corresponde à avaliação de padrões de qualidade de serviços de saúde, semelhante ao que ocorre em empresas em relação à certificação ISO9000. Baseia-se na análise de funções de instituição de saúde definidas em manuais de padrões que adoptam metodologias específicas na saúde [Temporão et al. 2000]. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 89 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Segundo Noronha et al. (2000), as iniciativas de programas de qualidade em instituições de saúde no Brasil não são novas. E esforços mais sistematizados datam do início da década de 90, quando se iniciou a utilizar a ISO em acreditação de instituições de saúde. Porém, nem todos os padrões dessa metodologia se aplicam às instituições de saúde [Bohigas 1998]. Nos últimos anos passou-se a optar pela metodologia da JCAHO (Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations). As acreditações conduzidas pela JCAHO fora dos Estados Unidos ficam a cargo da subsidiária JCI (Joint Comission International), que actualmente desenvolve um programa de acreditação no Brasil. Actividades de acreditação e a utilização de ferramentas de melhoria da qualidade em instituições de assistência à saúde é uma prática crescente no Brasil, apesar de envolver apenas uma pequena parte dessas instituições [Noronha et al. 2000]. No entanto, existe, pelo menos, um hospital acreditado e outros submetidos a programas de qualidade para acreditação, sob o patrocínio da JCAHO-JCI em conjunto com o Consórcio Brasileiro de Acreditação de sistemas de instituições de saúde (CBA), que tem a participação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Por outro lado, a avaliação de serviços e programas através de indicadores de resultados é uma prática que começa a estabelecer-se. Um exemplo é o programa de saúde da família que introduziu um sistema de monitoramento das principais informações de saúde, o que permitiu estabelecer um conjunto de indicadores de resultados, por exemplo: proporção de indivíduos com hipertensão arterial, número de casos de eclampsia, taxas de anemia hemolítica de recém-nascido. Experiências de programas, que buscam indicadores de resultados para avaliar o impacto em saúde, são citados em diferentes Estados e cidades brasileiras. Exemplo: programa de agentes comunitários, apoiado pelo Ministério da Saúde, que utiliza indicadores do tipo: número de mães que estão amamentando seus bebés até 4 meses depois do parto; proporção de nascimentos de baixo peso; proporção de mortes entre mulheres de 10 a 49 anos. Os dados desses programas são recolhidos sistematicamente e orientam acções correctivas na área da saúde [Noronha et al. 1999]. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 90 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 4.7.3 Função de gestão da informação sobre metodologia de acreditação Dentre as funções do programa de acreditação da JCAHO-JCI está incluída a gestão da informação (GI), que trata da obtenção, administração e utilização da informação, geradas a partir de actividades de instituição de saúde. Temporão et al. (2000) definem assim a importância da função GI da metodologia de acreditação empregada pelo CBA1/JCAHO-JCI: "[...] a utilização da informação deve estar orientada para aumentar o desempenho da instituição de saúde e a capacidade gerencial dos serviços, com a finalidade de melhorar a assistência prestada ao paciente" (Temporão et al. 2000, p. 82). Os principais objectivos da função GI de instituição de saúde definidos no manual técnico da metodologia de acreditação CBA/JCAHO-JCI são: • Identificação de dados /informação necessárias à instituição de saúde. • Organização de SI de apoio à gestão e a cuidados de pacientes. • Definição, colecta, transformação e análise de dados /informação. • Tratamento, utilização, transferência e divulgação de informação relativamente a pacientes e das evidências científicas. • Planeamento, organização, integração e gestão da informação. De acordo com a metodologia do CBA/JCAHO-JCI, os padrões definidos devem reflectir uma visão voltada para a melhoria contínua de processos de gestão da informação em toda a instituição de saúde e devem considerar: acesso fácil à informação em toda a instituição; melhoria da qualidade da informação; segurança dos dados /informação; utilização da informação e de estudos comparativos como estratégia para identificar áreas com possíveis problemas de desempenho. A Figura 4.5 mostra a estrutura da função GI da metodologia CBA/JCAHO-JCI. 1 O Consórcio Brasileiro de Acreditação de instituições e sistemas de saúde (CBA) é constituído pela Academia Nacional de Medicina, Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Cesgranrio (fundação de apoio à gestão do Rio de Janeiro). O CBA em conjunto com a Joint Commission International (JCI) utiliza a metodologia da JCAHO (Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations, Estados Unidos). 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 91 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Demandas dos profissionais de saúde Demandas da direcção e dos dirigentes de serviços Missão, visão e valores da instituição de saúde Demandas dos financiadores dos serviços de saúde Actividades de melhoria de desempenho Necessidades dos pacientes Agências reguladoras, acreditação e órgãos externos Demandas e necessidades de informações identificadas • • • • • Decisão clínica Fontes de dados Padronização e colecta de dados Análise e interpretação de dados Transformação de dados etc. Processos de gestão Investigação em saúde Melhoria de desempenho Educação de pacientes Figura 4.5 Estrutura da função gestão da informação da metodologia CBA/JCAHO. (Fonte: Manual de gestão de informação CBA/JCAHO-JCI, Temporão et al. (2000), adaptado). Segundo os padrões do CBA/JCAHO-JCI relativamente à função GI, as instituições de saúde devem planear e implementar processos para atender necessidades de informação de profissionais de saúde, pacientes, direcção da instituição, dirigentes de serviços e demandas externas. Deve também, desenvolver meios que possibilitem a comparação de dados /informação com os de outras instituições de saúde, bem como, colocar instrumentos à disposição de profissionais de saúde para atender o acesso à informação científica. Actualmente, instituições de saúde brasileiras que atingiram níveis aceitáveis de qualidade estão se preparando ou entraram em programa de acreditação, preferivelmente, com a metodologia do CBA/JCAHO-JCI. Obviamente, instituição de saúde que se submete a um programa desse tipo precisa de atender a padrões de informação definido em metodologia específica. 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 92 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho A metodologia do CBA/JCAHO-JCI define que, além de tratar o atendimento das necessidades internas e externas da instituição, também devem ser previstos, dados /informação para gerar indicadores de acompanhamento contínuo de desempenho específico da instituição de saúde, a nível de estrutura, processos e resultados. A metodologia ainda destaca outros indicadores que o sistema de informação deve considerar, por exemplo: controlo de infecção hospitalar, material radioactivo, cuidados de pacientes, informação para órgãos de regulação e agências financiadoras, informação sobre recursos humanos, materiais e medicamentos, recursos financeiros e dados para investigação em saúde. 4.8 Conclusão Finalmente, acrescenta-se algumas conclusões sobre o estudo deste capítulo. O crescimento e a complexidade das actividades de saúde ressaltam a necessidade de integração de SI de departamentos de instituições de saúde, conforme sugeria o NHS há mais de uma década: "[…] Integrated hospital information system will be essential for the future, providing up to date, accurate data from a variety of sources through a central database. They are expensive and only possible if the hospital makes a corporate decision to move in this direction ... The system should integrate as far as possible with the work of the clinical firm and encourage the development of a way of working which incorporates a continuing process of medical audit" ([HMSO 1989b], p. 9). Não há dúvida que tecnologia da informação (TI) está transformando a organização hospitalar e seus processos de negócio. A TI está também modificando o próprio fundamento do exercício da medicina [White 1996]. Além do factual apoio a actividades clínicas e de gestão, os SI tornam-se ferramentas imprescindíveis para o registo de dados pessoais de pacientes de instituições de saúde, 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 93 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho cujo processo é hoje requisito obrigatório, previsto em legislações específicas dos países, e.g., Brasil, Portugal, Inglaterra. A avaliação de recursos de informação (SI/TI) dá oportunidade à melhoria da saúde, mas, uma advertência faz-se necessária: os utilizadores não podem ver esses recursos como um conjunto de dificuldades sobre a utilização da informação. Precisa-se considerar o porquê da informação necessária à instituição de saúde e como a tecnologia pode melhorar os fluxos de informação. A avaliação de recursos de SI/TI também dá oportunidade para rever e melhorar processos da instituição de saúde [Morton-Cooper e Bamford 1997]. A avaliação de desempenho de serviços de saúde é difícil e exige informação de várias fontes, nem sempre de fácil acesso, conforme afirma [Graugnard in Ball et al. 1999, p. 102]: "[…] Aggregating the information necessary for performance measurement is not easy. Health plans have access to administrative and financial information but not to the detailed clinical and functional status information that resides at the provider level. Few provider organizations have the capacity and IS (Information Systems) resources to store and collect the necessary longitudinal patient clinical information. Also, much of the information requested by external entities is not captured in an automated format. In many instances, it is not captured at all". 4 Avaliação de desempenho de SI de serviços de instituições de saúde 94 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Capítulo 5 "Quanto a mim, o meu método não variou, desde o primeiro romance que escrevi. Admito três fontes de informação: os livros, que me dão o passado; as testemunhas, que me fornecem, seja por obras escritas, seja pela conversa, documentos sobre o que viram, ou sobre o que sabem; e, por fim, a observação pessoal, directa, aquilo que vamos ver, ouvir ou sentir no próprio local." ÉMILE ZOLA 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países Neste capítulo são apresentados nove estudos sobre a utilização de SI/TI em serviços de saúde de diferentes países, (e.g., Singapura, Filipinas, Nigéria, Moçambique, Estados Unidos (2), Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido). Estas soluções de informatização de serviços de saúde de países de diferentes níveis de desenvolvimento, contextos, ambientes e culturas, visam conhecer problemas, realidades e dificuldades da utilização de recursos de SI/TI na área de saúde. Assim, as formas como esses problemas e soluções foram tratados podem servir de base comparativa e assim apoiar fundamentos da presente investigação, relativamente ao estudo dos impactos da utilização de sistemas informáticos no serviço público de saúde do Brasil (SUS). Os estudos aqui apresentados permitem adiantar que a informatização de serviços nacionais de saúde tem sido prioridades de governos; recursos de sistemas de informação e tecnologia da informação (SI/TI) são considerados fortes aliados em implementação de soluções para a aumentar a eficiência em relação à satisfação do utente e diminuir os custos dos serviços de saúde, problema comum dos países e estudos analisados. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 95 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho As seguintes questões são pertinentes, relativamente aos estudos apresentados neste capítulo: Porquê estes estudos? Não haviam outros na literatura? Qual foi o critério de selecção destes estudos? As respostas destas questões são: i) Estes estudos se referem à utilização de SI/TI em serviços públicos de saúde em países diferentes e têm objectivos semelhantes em muitos pontos ao objectivo desta investigação, que avalia impactos da utilização dos sistemas informáticos integrados de gestão no serviço público de saúde do Brasil (SUS). Logo, parte dos conteúdos tratados nos estudos serviram de base para fundamentar elementos tratados na investigação. Adicionalmente, constatou-se que o conhecimento de "realidades" de outros países foi oportuno para o desenvolvimento deste estudo. ii) Foram identificados na literatura outros estudos ligados a este tema, no entanto, estes estudos foram os que mais se relacionaram com a investigação. iii) O critério de selecção foi: o estudo seleccionado deveria ter sido publicado em veículo do meio científico e versar sobre a utilização de recursos de SI/TI em serviço público de saúde, preferivelmente, em âmbito nacional. 5.1 Desajustes de sistema integrado no serviço de saúde em Singapura Soh et al. (2000) estudaram a implementação e funcionamento de sistema de informação integrado (ERP) na rede hospitalar de Singapura (Ásia). Os resultados desse estudo se refere a problemas de adaptabilidade e funcionamento de software ERP na área de saúde. A rede de saúde avaliada é composta de hospitais públicos, na época com mais de 1.500 leitos, que correspondia a 81% dos leitos públicos desse país. Segundo os autores, na adopção do sistema ERP na rede de hospitais, optou-se por uma solução envolvendo módulos de finanças, gestão de materiais e controlo de pacientes. Parte dos hospitais mantiverem seus sistemas de gestão de RH e contas a pagar. O tempo das implementações variou em função de cada hospital. No artigo os autores destacam os principais problemas avaliados, a que denominaram desajustes da ferramenta em relação às características dos hospitais da rede. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 96 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 5.1.1 Tipos de desajustes Foram identificados desajustes de funcionamento de software em relação às necessidades reais dos hospitais. Cada unidade da rede se refere a um hospital específico do sector público ou a necessidades específicas que não se ajustavam às funções do software ERP. Chamaram características específicas às diferenças encontradas em relação à estrutura organizacional, especialidades médicas oferecidas pelo serviço de saúde, estilos de gestão e procedimentos de cada hospital; chamaram desajustes do sector público requisitos de informação sobre procedimentos legais, processos padronizados, reembolso de pagamentos de serviços de saúde e práticas de padrões de leis do trabalho. No entender dos autores, as leis do trabalho de Singapura são genéricas e baseiam-se em regulamentos ou práticas sociais e culturas da nação, diferentes dos procedimentos programados no pacote. Portanto, o impacto de factores específicos variaram em torno de módulos funcionais do software avaliado. De modo contrário, ocorreram poucos desajustes relativamente à contabilidade e finanças, uma vez que as práticas internacionais utilizadas coincidiam. Contudo, ocorreram muitos desajustes em módulos de atendimento de pacientes, onde as actividades variaram de país para país. Foram encontradas incompatibilidades de dados entre requisitos organizacionais e formato de dados do pacote ou sobre relacionamentos de entidades representadas nos modelos organizacionais de dados e nas estruturas representadas no software. Segundo Soh et al. (2000), esse é um problema de difícil solução porque requer mudanças em estruturas e relacionamentos de tabelas e objectos, o que significa mudar o cerne da ferramenta ERP. Foi detectada ainda a necessidade de várias adequações no pacote (customização), que produziria custo adicional elevado para as instituições. 5.1.2 Conclusão Os autores ressaltam que, apesar das dificuldades e dos desajustes, de modo geral o sistema ERP implementado nos hospitais públicos de Singapura tem produzido impactos organizacionais positivos. Além de resolver o problema da entrada no ano 2000 (Y2K), o 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 97 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho sistema acelerou mudanças significativas nos hospitais em termos de gestão e controlo de custos de serviços de saúde. Nesse sentido, afirmou um gestor de um dos hospitais da rede: "[…] só por nós próprios seria muito difícil tomar esta direcção. O sistema ERP aponta-nos a direcção e reorienta-nos para o conceito de centros de custo, os quais permitem determinar custos específicos e rendimentos de nossos serviços hospitalares… A adaptação do sistema ERP também aumentou o nível de padronização dos dados nos hospitais e possibilitou a identificação da informação de cada paciente" (Soh et al. 2000, p. 49). No entender dos autores, os desajustes de informatização dos serviços de saúde de Singapura com a utilização de software ERP não representam posições contrárias à tendência de adopção desse tipo de pacote na área de saúde. Os problemas identificados se referem a diferenças do modelo inserido nos produto em confronto com as culturas, normas e práticas empresariais dos países asiáticos. Por conseguinte, tais ferramentas precisam de expandir requisitos de dados e processos para atender às necessidades das organizações que, por sua vez, precisam de desenvolver mais capacidade de questionamento e investigação sobre os conhecimentos técnicos e as funções dos produtos ERP. 5.2 Gestão de SI de serviços de saúde nas Filipinas Apresenta-se a seguir um estudo de Jayasuriya (1999), sobre um SI de saúde nas Filipinas, país em desenvolvimento situado no sudoeste da Ásia. Foi realizado para examinar resultados e factores que afectaram a evolução do projecto do SI. Apresenta-se a estrutura para entendimento do caracter histórico e o contexto da mudança organizacional ocorrida. 5.2.1 A colecta dos dados Os dados do estudo foram colectados no período 1993-1994 durante o levantamento de informação para desenvolvimento de um projecto público do Serviço de Saúde das Filipinas, gerido pelo DOH (Department of Health). Segundo Jayasuriya (1999) foram 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 98 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho utilizadas várias técnicas e recursos de colecta de dados. Começou com a revisão da documentação (incluindo políticas do DOH), para implementação do novo SI de saúde FHSIS (Field Health Services Information System). Após revisão e discussão com representantes do Departamento de Saúde, foi preparada uma lista de informantes chefes desse órgão em cinco Províncias, que deveriam participar dos trabalhos. Em cada escritório de Província foi envolvida uma pessoa-chave nas actividades do SI e entrevistados gerentes de saúde. Foram realizados encontros com staffs médicos e realizadas visitas a hospitais de Distritos, unidades de saúde rural e postos de saúde. Em cada local de colecta e tratamento de informação foram discutidas percepções sobre os SI existentes. Realizaram-se entrevistas com staff médico para colecta de informação. Ao nível do DOH e de Província, as entrevistas cobriram uma ou duas pessoas, com triangulação de informação das aplicações, registros de dados e relatórios. Nas entrevistas utilizaram-se 45 pessoas /dia durante três meses; foram analisados os sistemas existentes, manuais técnicos, documentos, material contextual [Jayasuriya 1999]. 5.2.2 Desenvolvimento do estudo Segundo Jayasuriya (1999), o serviço de saúde das Filipinas pertence aos sistemas público e privado. Nos últimos 20 anos houve descentralização gradual do serviço público de saúde. Em 1992 o processo de descentralização avançou muito, quando foi devolvida a provisão dos serviços de saúde às Unidades Governamentais Locais (LGU) e às Províncias, excepto a retenção de algumas funções que permaneceram na administração central do DOH. Os primeiros estudos para desenvolver o novo SI concentraram-se na colecta de dados de vigilância sanitária e parâmetros estatísticos de saúde, principalmente, para monitorar e suprir informação estatística para o Governo. O autor afirma que no período de 1980-1985, a principal estratégia do DOH foi expandir os serviços para as áreas rurais e controlar a prevenção de doenças. Foi dada prioridade à implementação e monitoração de cinco programas de impacto: saúde maternal e cuidados da criança, diarreia, tuberculose, malária e esquistossomose. Muitos programas foram 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 99 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho apoiados por fundos de doadores estrangeiros e receberam recursos financeiros adicionais. Assim, os doadores exigiam a informação sobre os impactos dos programas que apoiavam, o que deu origem aos SI desenvolvidos de forma vertical, para controlo e monitoração dos recursos recebidos por tais programas. Jayasuriya (1999) afirma que em 1985 o DOH estruturou e expandiu os serviços de saúde para locais periféricos, quando delegou hospitais e serviços preventivos em Províncias e criou o Escritório Provincial Integrado de Saúde (IPHO, Integrated Provincial Health Office). Na época havia 75 Províncias e, para administrá-las, foram estabelecidos 13 Escritórios Regionais. Todavia, os relatórios dos SI exigiram a alimentação de dados em todas as regiões e do próprio DOH. Foram então gerados relatórios no sistema para as Províncias responsáveis pela análise de desempenho desses programas. Criou-se então um sistema de colecta de dados para fornecer informação das unidades sectoriais para os escritórios provinciais. Nesse estágio foi realizado um survey que identificou 71 relatórios de nível de Província, unidades rurais e do próprio DOH [Maria 1993]. Segundo Jayasuriya (1999), havia uma proliferação de relatórios que consumia 40% do tempo do pessoal; havia duplicação e atrasos em decorrência de muito processamento manual. Para corrigir tais problemas e melhorar a estrutura do SI, foram procuradas agências especializadas e a assistência dos doadores dos programas estrangeiros. Foi então implementado o novo sistema FHSIS com ajuda financeira da Organização Mundial de Saúde (World Health Organization). Os fundos para operacionalização do sistema vieram da Agência Americana de Ajuda aos Países em Desenvolvimento (USAID). Principais objectivos do sistema FHSIS: • Padronizar a colecta de dados e requisitos de relatórios. • Reduzir o tempo de emissão de informação e preparo de relatórios estatísticos. • Fazer a manutenção das bases de dados da informação de saúde. • Prover rápido feedback operacional de relatórios para comparação de dados. Assim, o sistema FHSIS permitiu ao serviço de saúde das Filipinas [Jayasuriya 1999]: • Reduzir a perda de tempo da staff na agregação de dados. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 100 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • Reduzir o tempo de preparo da informação para o DOH. • Disponibilizar banco de dados para análise a nível central e provincial. • Diminuir o tempo de agregação da informação no nível operacional. Segundo o autor, a maior reorganização dos serviços de saúde ocorreu a partir de 1991, quando entrou em vigor nas Filipinas o Código dos governos locais, que deu significativo provimento à autonomia local. O Código beneficiou a descentralização de poder, autoridade, responsabilidade e distribuição de recursos de agências financiadoras para os governos locais, cidades, municípios e vilas. Nesse contexto, o FHSIS foi ferramenta importante para o DOH e para a assistência dos programas doadores, relativamente às iniciativas de uso da informação para tomada de decisão. 5.2.3 Conclusão No entender de Jayasuriya (1999), em contexto de informação, "o porquê" da mudança na organização é um importante resultado. Assim, os principais utilizadores do sistema FHSIS, nomeadamente o DOH e os governos locais (LGU) contribuíram muito para a implementação e mudanças ocorridas no serviço de saúde das Filipinas, principalmente, em termos de descentralização de acções de saúde a partir de 1992. A relação entre "conteúdo" vs. "contexto" neste estudo revela que o projecto do sistema FHSIS não foi inicialmente ajustado ao processo das mudanças da política de saúde nas Filipinas. No princípio dos anos 80 deu-se maior ênfase a programas preventivos de saúde; em seguida, à eficiência gerencial e cuidados primários de saúde; finalmente, em 1992, após a descentralização da estrutura organizacional, procurou-se responder às necessidades de um sistema de saúde mais amplo, quando então a utilização da informação conferiu maior importância ao sistema FHSIS. Assim, este estudo ilustra o resultado face à implementação em larga escala de SI informatizado no contexto de países em desenvolvimento. Jayasuriya (1999) afirma que factores como estrutura organizacional e RH foram elementos importantes na implementação do sistema FHSIS. O caso serviu para ilustrar a importância do 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 101 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho entendimento, dimensão e contexto da situação. Houve necessidade de análise e interpretação de resultados considerando-se a interacção de conteúdo, processo e contexto. No entender do autor, o desenvolvimento do sistema FHSIS só poderia ser bem entendido se valores históricos e contextuais das mudanças organizacionais da saúde nas Filipinas fossem amplamente revelados. 5.3 Desenvolvimento de SI na Nigéria: Investigação no sector de saúde No entender de Soriyan et al. (2001), pacotes de software adequados às instituições de saúde africanas não podem ser adquiridos aleatoriamente, pois as instituições africanas são diferentes das similares europeias ou americanas, origem da maioria dos produtos. Estes autores dizem que os hospitais africanos precisam de maior grau de adaptação aos contextos locais onde é prioritário o desenvolvimento de acções de saúde primária. Assim, defendem neste estudo que pacotes de software orientado para a saúde de países africanos devem ser desenvolvidos localmente. Afirmam, que, os pacotes estrangeiros podem, no entanto, ser utilizado como ponto de partida para adaptação às exigências locais no sector de saúde em países africanos. 5.3.1 Abordagem de objectivos da investigação Soriyan et al. (2001) explicam que o projecto INDEHELA (Methods for Informatics Development for Health in Africa) foi criado para elaborar, no período 1998-2001, uma metodologia de desenvolvimento de sistema de informação (DSI) "Made-in-Nigeria" direccionada para profissionais e necessidades de utilizadores de SI desse país. É um projecto do Departamento de Ciência e Engenharia da Computação da Universidade de Obafemi Awolowo (OAU), Nigéria, e do Centro de Computação da Universidade de Kuopio (Finlândia); utiliza o serviço nacional de saúde nigeriano como principal campo de exemplos e aplicações práticas. O grupo de pesquisa envolvido no projecto consiste num pesquisador sénior (líder do projecto), noutros pesquisadores (candidatos a PhD) da Universidade de Kuopio (Finlândia) e estudantes de último ano de bacharelato (BSc) da Universidade de Obafemi Awolowo (Nigéria). Segundo os autores, os principais objectivos do projecto INDEHELA são: 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 102 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • produzir informação empírica e entender práticas e problemas de DSI na Nigéria; • apoiar os utilizadores /desenvolvedores de SI com métodos, técnicas, práticas e formação de pessoal, em conformidade com as necessidades locais, para beneficiar a população nigeriana em melhoria de serviços de saúde. Não há prioridade em conhecer como o DSI é praticado na Nigéria ou que problemas são percebidos pelos utilizadores. Trata-se, portanto, de uma investigação empírica para construção e aplicação de conhecimento na área de saúde. A elaboração da pesquisa tem três entradas seguida de uma fase construtiva e disseminação de resultados, que são [Soriyan et al. 2001]: • Identificar, por meio de estudo teórico, requisitos e dificuldades de desenvolvimento de SI em Nigéria e África, comparativamente aos países desenvolvidos; desenvolver pesquisa empírica que vise produzir resultados considerados importantes para aquele país. • Aplicar, na Nigéria, métodos, técnicas e práticas desenvolvidas noutros países, após identificá-los por meio de revisão da literatura. • Entender, por meio de pesquisa, problemas e práticas de DSI na Nigéria. Os autores afirmam que o Complexo Hospitalar Universitário (OAU) da Nigéria, adquiriu um SI hospitalar rudimentar em 1989-1991 referente a um projecto de SI que o Departamento de Ciência e Engenharia da Computação, desenvolveu em conjunto com empresa de suporte in-house. Por meio desse projecto, o SI foi actualizado e expandido para a área de saúde. Outro hospital universitário tentou, sem sucesso, adquirir um pacote estrangeiro, pois não havia no país software orientado para a saúde. Nesse contexto precisava-se estudar como as empresas de software operavam noutros sectores, identificar casos e analisar que procedimentos poderiam ser então aplicáveis no serviço de saúde da Nigéria. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 103 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 5.3.2 Visão geral do estudo: Survey Soriyan et al. (2001) afirmam que foram estruturadas e realizadas entrevistas para entendimento da "visão geral" das características dos software existentes na Nigéria. As entrevistas basearam-se em inquéritos de 45 questões e foram realizadas em Fevereiro de 2000, nas empresas de software mais conhecidas que actuavam naquele país. O inquérito foi aplicado junto aos membros de empresas da Associação de Computadores da Nigéria, por pesquisadores e estudantes de Ciência da Computação, previamente treinados. Realizaram-se visitas às empresas porque a experiência anterior mostrara que o tipo de questionário aplicado, via correspondência ou por correio electrónico produz pouquíssimas respostas. Realizou-se entrevistas complementares na Primavera de 2001, especialmente em empresas não representadas em Lagos, principal metrópole comercial do país. 5.3.3 Análise detalhada: Estudo de caso Os projectos de desenvolvimento de SI identificados foram analisados como estrutura de pesquisa baseada na Teoria de Actividade. Segundo Soriyan et al. (2001), resumidamente, uma actividade de trabalho colectiva (e.g., cuidado de paciente em instituição de saúde) consiste em acções de vários actores individuais (médicos, enfermeiras, assistentes de saúde, profissionais de registro de dados, etc.), que actuam directamente na transformação de um objecto de trabalho compartilhado (solução para problema de saúde). Esses actores influenciam o processo de transformação sobre meios de trabalho materiais e não-materiais (conhecimento médico, medicamento, formação profissional em saúde, dados de saúde). Acções de actores individuais que não podem ser necessariamente tomadas em simultâneo no mesmo lugar são tratadas em conjunto por meio de coordenação e comunicação (divisão de trabalho, regras, discussões, informação de saúde) e actores colectivos (equipas profissionais de serviços de saúde). A forma geral de execução da actividade pode ser caracterizada como o modus operandi (e.g., hierárquico, orientado, fragmentado). No entender dos autores, o escopo da análise pode considerar a ampliação da estrutura do estudo ou actividade particular de trabalho. Por exemplo, cuidado de paciente serve à 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 104 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho vida diária da comunidade local para melhoria da saúde, mas também "produz" o objecto de referência da saúde secundária do contexto onde a instituição de saúde se insere. Também se pode analisar quem "produz" meios, objectos, actores, regras, em estudo de actividades. 5.3.4 Discussão: Software na Nigéria na perspectiva do sector de saúde Segundo Soriyan et al. (2001), os maiores sectores de desenvolvimento da Nigéria dão oportunidade para o desenvolvimento da indústria de software, pois, positivamente, as maiores empresas cedem espaços para a expansão da indústria de software local às pequenas e médias empresas, ao sector público, o educacional e os serviços de saúde, que também são importantes vectores para o desenvolvimento do país, embora esses sectores sejam financeiramente menos rentáveis para a indústria de software. Os autores afirmam que a indústria de software na Nigéria tem capacidade técnica e metodológica para oferecer software aplicativo às instituições de serviços de saúde, caso tais clientes ofereçam condições de trabalho. Um factor importante se refere à demanda conjunta dos sectores públicos e privados de serviços de saúde, considerados importantes para a rentabilidade dessa indústria emergente. Na opinião dos autores, o governo, financiadores internacionais e investidores privados devem considerar esse novo mercado de software na Nigéria. 5.4 Um estudo de utilização de TI no sector de saúde em Moçambique Este estudo apresenta resultados sobre utilização e apropriação de tecnologia da informação (TI) em Moçambique (África Oriental), sob o foco do sector de saúde. Segundo os autores [Braa et al. 2001], foram aplicados dois inquéritos nas Províncias de Gaza, Inhambane e Niassa: um sobre habilidades de manuseio de TI por utilizadores de SI; outro sobre formas diversas de utilização da informação por profissionais de saúde. Os autores afirmar que este estudo se baseia em estratégias apropriadas para desenvolver uma infra-estrutura de TI compatível com as necessidades do sector de saúde em Moçambique. O estudo surgiu de um programa de fortalecimento e promoção do 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 105 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho desenvolvimento de SI em saúde e gestão da informação em nível de Distrito e Província, com base no processo de suporte à descentralização do sistema público de saúde. O principal objectivo do estudo foi desenvolver a capacidade de TI e SI a nível de Distrito e Província, necessários para a integração dos serviços de saúde de Moçambique. Este estudo emite uma recomendação sobre desenvolvimento de programas, formação de técnicos de TI, de gestores e profissionais de saúde, a nível de Mestrado e Doutorado em SI/TI orientados para a saúde; faz recomendação específica relacionada com o desenvolvimento de SI de saúde com incidência no Distrito, relativamente a estratégia de integração dos Distritos do país por meio TI. 5.4.1 SI de cuidados primários de saúde e suporte à decisão De acordo com Braa et al. (2001), em 1992 foi introduzido um sistema informático nas Províncias da capital de Moçambique que representou o primeiro SI de saúde implementado no país. Destinou-se à emissão de relatórios de actividades de programas verticais dos Distritos (e.g., imunização, planeamento familiar, distribuição de medicamentos). Esse projecto foi baseado em relatórios de gestores para suporte da decisão a nível nacional, sobre necessidades de informação de programas de saúde. De modo contrário, o desafio do novo SI visou encorajar a análise e utilização da informação a nível local, ou seja, nos Distritos. Em Moçambique há 11 Províncias e 131 Distritos. O survey foi realizado para estudo do SI e se baseou em entrevistas estruturadas que totalizaram 38 profissionais do sector de saúde. As entrevistas exigiram conhecimento específico de saúde pública. Os resultados foram apresentados em três categorias: distribuição geográfica (Distritos, Províncias); perfil sócio-demográfico dos entrevistados; perfil da infra-estrutura existente. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 106 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 5.4.2 O sistema informático de saúde Braa et al. (2001) relatam que, em 1992 o Ministério da Saúde de Moçambique criou um banco de dados e um SI para emissão de relatórios a nível central e de Províncias. Assim, este estudo faz parte do esforço para avaliar e fortalecer tal SI e para estendê-lo a nível distrital. A Figura 5.1 mostra a nova estrutura de fluxos de informação de saúde. O Sistema Nacional de Informação de Saúde (SIS) de Moçambique foi fundado em 1982 e cobre serviços de saúde primária e secundária. Foi então implementado um SI que colecta dados em unidades de saúde e os agrega por Distrito, para transmissão à respectiva Província. O SI foi revisto em 1989 com objectivos de simplificação e para integrar os diversos programas de saúde. Utiliza diferentes tipos de dados, formulários, relatórios e faz a agregação dos dados de saúde a nível de Distrito, Província e do próprio Departamento de Informação de Saúde (Figura 5.1). Possui aplicações de bases de dados que estão sendo utilizadas em Províncias e a nível Nacional [Braa et al. 2001]. Os autores afirmam que alguns programas de saúde não são integrados no SI, o que significa que seus fluxos de dados e rotinas de report não são coordenadas e administradas em conjunto com os procedimentos do SI, e.g., informação financeira e controlo de tuberculose. A falta de integração representa o maior obstáculo para planeamento integrado e gestão da informação a todos os níveis. No processo de revisão do SI em 1989, os formulários de colecta de dados foram reduzidos de 60 para 12 e muitos indicadores de saúde foram incluídos nos novos modelos, a nível dos serviços de saúde nos Distritos. Parte dos formulários de colecta de dados baseou-se em programas e serviços de saúde, e.g., saúde da mãe e da criança, planeamento familiar, imunização, drogas, nutrição, doenças sexualmente transmissíveis. Foram organizados a estrutura, dados e relatórios de importante programa de saúde de controlo de tuberculose. Incluíram-se muitos campos de indicadores de saúde nos novos formulários. A utilização local da informação a nível de Distrito foi um dos objectivos do SI, porém isto não foi materializado de forma suficiente [Braa et al. 2001]. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 107 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Ministério da Saúde Directoria de Administração e Gestão Directoria de Planeamento e Cooperação Directoria de Recursos Humanos Directoria Nacional de Saúde Departamento de Informação de Saúde: Coordenação de Informação Directoria de Saúde de Província Departamento Administração e Gestão Departamento de Saúde da Comunidade Departamento de Planeamento e Cooperação Departamento de Recursos Humanos Departamento de Recursos Humanos Departamento de Informação de Saúde Director de Saúde de Distrito Equipas de Gestão de Saúde de Distrito Núcleos de Informação Hospital Distrital HIV /SIDA Unidades de Saúde Recursos Humanos Medicamentos Programas de Saúde, e.g: Finanças Controlo de Tuberculose Indicadores de Imunização Figura 5.1 Estrutura organizacional e fluxos de informação de saúde: Nível de Distrito. (Fonte: Braa et al. (2001), adaptado) Conforme mostra a Figura 5.1, em cada Distrito há um Núcleo de Informação de Saúde com duas ou três pessoas responsáveis pela colecta dos dados, análise preliminar de indicadores básicos antes da transmissão para níveis superiores. Todavia, o survey 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 108 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho revelou que o manuseio da informação no Distrito consiste, basicamente, em agregar formulários dos programas e serviços de saúde em "Formulários do Distrito", para serem então submetidos à Província. Segundo os autores, um dos principais problemas do SI se refere à estrutura vertical de colecta de dados baseada em necessidades dos programas de saúde e não com base em necessidade de serviços de saúde local. Existem gaps de informação não colectada pelas rotinas do SI, e.g., "total de pacientes atendidos" pelos programas de saúde. Essa informação é importante para a gestão do Distrito no que se refere ao atendimento da população e distribuição de recursos destinados à saúde, porém, tal informação não é captada pelos programas de saúde. Os autores explicam que a nível da Província os dados dos formulários dos Distritos são inseridos na aplicação do banco de dados e transferidos electronicamente. Em algumas Províncias os dados permanecem copiados em memória após serem transmitidos para Maputo (capital). O sistema de alimentação de dados agregados para o nível nacional está funcionando bem em todas as 11 Províncias. Existem maiores falhas e problemas a nível de Distrito. Como todos os dados convergem para o SI nacional, a captura e qualidade da informação local é importante para as Províncias e nacionalmente. 5.4.3 Resultados de survey de informação de saúde Conforme observado, o SI não está funcionando satisfatoriamente em termos de utilização no Distrito e nos serviços locais de saúde. Os principais problemas são [Braa et al. 2001]: • O Sistema Nacional de Informação de Saúde (SIS) de Moçambique está a repassar relatórios e não utiliza a informação local de forma directa. • As rotinas de retroalimentação da Província para o Distrito e deste para os serviços de saúde são pobres em termos de informação. • O SI baseia-se em necessidades de programas verticais de saúde no nível central e não em necessidades locais, onde os dados poderiam ser melhor utilizados. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 109 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • A estrutura vertical dos relatórios do SI e a forma como os dados são agregados torna difícil guardar, manter e analisar dados dos Distritos para suporte da gestão. Por exemplo: a nível de Distrito o foco poderia ser no desempenho dos serviços de saúde dos programas e na comparação entre serviços de saúde. Essa informação não é incluída ou é eliminada na agregação vertical dos dados. Braa et al. (2001) afirmam que muitos gerentes e profissionais de saúde entrevistados afirmaram que as rotinas de feedback do SI são insuficientes e que há necessidade de mais ferramentas nos níveis inferiores. Ficou claro que gestores e staffs não enfatizaram suficientemente a construção dessas ferramentas. Foi dada maior ênfase a relatórios e não ao uso da informação. Os formulários de colecta de dados incluem campos de cálculos de indicadores mas o survey revelou que esses indicadores são calculados de forma limitada e às vezes há incorrecção na informação. Isto evidencia problemas nos Distritos e a níveis locais dos serviços de saúde, que implicam necessidade de mais treinamento e maior suporte para correcção da informação. Segundo os autores, um SI a nível distrital necessita de basear-se na informação de vários serviços de saúde (postos e centros de saúde, hospitais de distrito) de forma a comparar e dar suporte aos serviços prestados aos pacientes. Os dados dos serviços de saúde do actual SI são agregados por Distrito, o que impossibilita validar dados de serviço em separado. Assim, quando os dados dos serviços são reunidos, ocorrem erros que tornam difícil a gestão da informação no Distrito. 5.4.4 Resultados da investigação As principais conclusões são apresentadas a seguir, de acordo com as questões de investigação do estudo [Braa et al. 2001]: i) Qual a utilização e difusão de TI a nível de Província distrito em Moçambique? O estudo mostrou que computadores e internet estão rapidamente se expandido em Províncias e Distritos maiores de Moçambique. Exemplo, em Lichinga havia 35 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 110 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho organizações utilizando computadores e dessas, 18 estavam ligadas à internet. Contudo, o desenvolvimento não é uniforme e apenas os maiores Distritos e as capitais provinciais participam do processo relativamente a TI. ii) Como funciona o SI e como a informação é utilizada em Distrito e Província? O sistema nacional de saúde (SIS) está funcionando bem em termos técnicos. Todavia, como o estudo revela, o SI utilizado é basicamente uma ferramenta avançada de emissão de relatórios; análise e utilização da informação a nível dos Distritos é pobre e suboptimizada nas Províncias. iii) Qual a infra-estrutura e como o suporte à "rede de TI" está sendo desenvolvida? A infra-estrutura e suporte de TI estão sendo desenvolvidos precariamente. Algumas poucas companhias lidam com suportes de hardware e software nas Províncias. Apenas 8,7% dos entrevistados responderam que utilizam suporte de empresa da Província e muitos utilizadores utilizam suporte técnico da capital. Mais de 72% estavam colaborando com outros utilizadores de computadores na área onde actuam, de forma a resolver problemas e a adquirir mais conhecimento técnico. Assim, uma rede informal de utilizadores de computadores é parte importante da infra-estrutura local. Uns poucos utilizadores treinados com técnicas avançadas fazem parte do núcleo da rede TI. O problema é que os utilizadores mais qualificados necessitam de mais formação. iv) Como se treina e se desenvolve RH em TI e no sector de saúde do país? Há um grande mercado de treino /formação em informática em Moçambique. Em todas as capitais provinciais e em muitos Distritos há centros de formação em TI. O problema é que os próprios instrutores precisam de receber mais formação. Assim, o cerne de uma política de TI poderia ser a formação de instrutores. O survey revelou que técnicas de análise e utilização da informação de saúde são baixas e devem-se desenvolver urgentemente programas específicos de formação de RH nessa área. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 111 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho v) Existem "boas práticas" e utilização de TI e de informação de saúde em Distritos e Províncias de Moçambique? É possível encontrar exemplos de adaptação e desenvolvimento de solução no local? Os autores afirmam que há poucos exemplos de desenvolvimento local ou aplicações adaptadas, direccionadas para as necessidades do país. Um considerável número de utilizadores responderam que necessitam de adaptar software para atender necessidades ou problemas particulares (52,5%). No entanto apenas 8,7% responderam que têm feito adaptações às necessidades locais ou desenvolvido software; 64,2% afirmaram que precisam de ajuda de programadores para adaptar software. Portanto, empresas que utilizam computadores necessitam de software adicional mas não existem fornecedores ou técnicos qualificados para ajudá-los. A baixa capacidade técnica de programação é um grande problema. A formação de programadores ou formação avançada foram detectadas como importantes recomendação da política que deveria ser fomentada. vi) O foco de TI em saúde é possível ou apropriado a nível de Distrito? A principal constatação do estudo é que o SI de saúde necessita voltar-se para nível de Distrito, porque a abordagem de serviços de saúde primária é implementada onde os dados são colectados. Utilização e análise da informação por Distrito torna-se necessária para a melhoria da gestão dos serviços de saúde, bem como, para melhoria global da qualidade dos dados, que precisam de ser utilizados e controlados nos pontos de entrada de forma a garantir a qualidade da informação de saúde. 5.4.5 Recomendações Segundo Braa et al. (2001), o estudo de caso sobre imunização no Niassa e as constatações do survey revelaram que a análise local e utilização de informação a nível de Distrito e de serviços locais são cruciais para aumentar a disponibilidade de cuidados e melhorar a gestão da saúde. Portanto, é importante desenvolver SI a nível de Distrito para fortalecer os serviços de saúde primária local. Constataram ainda que o sector de saúde 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 112 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho necessita de TI apropriada para fomentar a capacidade, aprendizagem, absorção e inovação tecnológica. Por conseguinte, o sector de saúde tem potencial para se tornar importante arena de difusão de TI para aprendizagem e desenvolvimento de capacidade institucional de saúde. No entender dos autores, o desenvolvimento da infra-estrutura de informação de saúde auxilia o estado da infra-estrutura de TI como um todo, porque: • O sector de saúde se expande para níveis mais periféricos da sociedade. • A utilização da informação de saúde é crucial para a melhoria da gestão. • Existe um sistema de relatórios de serviços de saúde a nível nacional onde processamentos em níveis provincial e nacional foram efectivamente resolvidos. Vale a pena destacar os seguintes pontos do estudo [Braa et al. 2001]: • Este estudo envolve programa de PhD entre a Faculdade de Medicina e o Departamento de Informática da Universidade Eduardo Mondlane, que faz parte do desenvolvimento do SI de saúde a nível de Distrito e Província, bem como, da criação de infra-estrutura de TI. • Visa dar suporte ao Mestrado em saúde pública e TI. Programas de Mestrado e PhD são importantes esforços para assegurar a sustentabilidade do projecto. • Tem por objectivo desenvolver um programa de formação em análise e utilização de informação para gestão e oferta de serviços de saúde. Deverão ser treinados monitores, técnicos e profissionais de saúde. • Pretende desenvolver a aplicação de bases de dados para armazenar dados de serviços de saúde por Distrito, que permitam cálculos de indicadores de Postos de saúde e Distritos. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 113 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 5.5 Implementação de SI de gestão de saúde na área militar Neste estudo, Mattern et al. (2000) apresentam e discutem um sistema corporativo de informação executiva, denominado CEIS (Corporation Executive Information System), do Departamento de Defesa DoD (Department of Defense), implementado para o Serviço Militar de Saúde (MHS) dos Estados Unidos da América (EUA). Trata-se de SI de gestão de serviços de saúde que tem funções de integrar dados para dar suporte à decisão (DSS Decision Support System) e disponibilizar informação aos executivos. Trata aspectos de precisão, actualização e utilização de informação de saúde; visa facilitar o desenvolvimento de actividades de gestores e comandos militares directivos. Utiliza software comercial de datamining, ferramentas de suporte à decisão e componentes EIS. Os autores afirmam que na ocasião da publicação do estudo (2000), a implementação do sistema CEIS estava na fase final e já era considerado uma forte ferramenta de fomento à mudança organizacional e de suporte para metas estratégicas para os serviços militares de saúde do MHS. 5.5.1 Origem do sistema Mattern et al. (2000) afirmam que, para atender a política nacional de cuidados de saúde, a meta principal do MHS foi prover eficácia e custo-benefício de serviços de saúde a seus beneficiários. Para esse fim, o MHS precisava de um repositório de dados para emissão de informação de tomada de decisão de cuidados e acesso a dados integrados para gestão de saúde. Para responder a esse imperativo, a instituição patrocinou em 1994 o projecto do sistema CEIS que: • Representasse um avanço em serviços e gestão de saúde. • Permitisse a gestão de custos de fundos financeiros e inscrição capital de risco. • Focasse os dados epidemiológicos de tratamento de grupos de risco na população beneficiária. • Permitisse a redução de custos de serviços de ambulatórios de cuidados de saúde. • Desse suporte à prontidão das forças militares como função de avaliação de risco, gestão do retorno dos investimentos, prevenção e detecção de acções de saúde. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 114 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Segundo os autores, a implementação do sistema foi estendida a todo o serviço de saúde militar dos Estados Unidos. A primeira fase focou necessidades de informação de cuidados básicos de saúde dos Comandos militares e staff de direcção. Em 1998 mais de 100 funcionalidades foram disponibilizadas pelo sistema CEIS. A segunda fase do programa se baseou em requisitos de informação de pessoal de comandos intermediários, cirurgia geral, gestão de saúde, organização de serviços militares, e.g., funções de treinamento sobre cuidados de saúde. A segunda fase incluiu forças militares que operam fora dos Estados Unidos. 5.5.2 Estrutura do fluxo dos dados do sistema CEIS O sistema CEIS possui um repositório centralizado que recupera dados de múltiplos sistemas-fonte de colecta de dados. Permite acesso directo e agregação de dados de gestão de desempenho de cuidados de pacientes. Substitui oito sistemas existentes e seu repositório de dados envolve [Mattern et al. 2000]: • Sistema de informação médica da Defesa. • Sistema de análise de case mix retrospectivo. • Sistema de informação médica CHAMPUS (sistema proprietário tradicional). • Projecto de integração de dados CHAMPUS. • Sistema de suporte para análise médica. • Sistema de executivo de informação Naval. • Aplicação de consulta de ambulatórios Managed Care. • Banco de dados estatísticos de saúde CHAMPUS. Os autores afirmam que o projecto do sistema se baseiam numa arquitectura distribuída cliente-servidor, que influencia a disponibilidade de tecnologias comerciais nas camadas de aplicação; utiliza interfaces TCP/IP e FTP. Os dados são alimentados por servidores de bases de dados integrados (IDB, Integrated Data Base) e armazenados em Data Marts regionais. Utiliza subconjuntos de dados para suportar relatórios padrões, ferramentas DSS e EIS. O projecto suporta uma visão integrada de dados por região. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 115 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Segundo Mattern et al. (2000), a estrutura do sistema CEIS continua a evoluir (Figura 5.2). Até 2002, ferramentas de Data Warehouse (DW) e Enterprise Data Warehouse (EDW) substituirão o sistema regional de banco de dados (IDB). Os EDW agregarão dados por região, serviços e dados corporativos para oferecer acesso não paralelo a dados e informação para todos os utilizadores do sistema CEIS. Cuidados directos de pacientes: Entradas Subsistema de pacientes Cuidados de pacientes: Altas Subsistema de ambulatórios Medicina privada (PC) Subsistema de medicina privada (PC) Serviços realizados e custos Data Warehouse (IDB) Data Mart Utilizadores finais Figura 5.2 Estrutura do fluxo de dados do sistema CEIS/MHS. (Fonte: Mattern et al. (200)], adaptado). 5.5.3 Fonte dos dados O sistema CEIS consolida dados de múltiplos sistemas de colecta de dados: financeiros, logísticos, dados clínicos, de pessoal. Inclui dados de pacientes, medicamentos, dados de dependentes de utilizadores, de provedores de saúde e de serviços de medicina privada, das diferentes forças militares. Possui ainda dados de provedores de serviços de saúde, grupos beneficiários, regiões geográficas e outras informações. Incorpora dados para dar suporte a métodos tradicionais de análise de dados e técnicas customizadas. Mattern et al. (2000) afirmaram que o sistema CEIS pode ser visto como um painel de controlo de informação de saúde das organizações militares americanas. Particularmente, é apropriado para descrever o propósito e valor de diversos tipos de relatórios de informação dos serviços de saúde prestados aos militares. A ideia básica foi reunir num repositório um conjunto de resultados operacionais e de desempenho para avaliação 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 116 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho rápida pelos gestores dos serviços de saúde. Assim, relatórios podem sugerir que há problemas, no entanto, podem não identificar causas ou recomendar intervenções específicas. Por conseguinte, o sistema carece de abordagem estruturada para investigar hipóteses sobre resultados. 5.5.4 Ferramentas de suporte para decisão As aplicações de software de apoio à decisão (DSS) são ferramentas de análise de diferentes níveis de detalhe. Possibilitam acesso a relatórios estruturados, dão suporte a consultas padronizadas ou não (queries), relatórios sobre pacientes, serviços clínicos, provedores serviços de saúde e custos de serviços. Segundo Mattern et al. (2000), o sistema DSS é orientado para funções de relatórios, custos, orçamentação, perfil clínico de paciente, informação de provedor de saúde, monitoração de qualidade e controlo de serviços, planeamento estratégico, gestão de case mix, simulação e exame de caso. Comandantes militares e analistas e auditores de serviços de saúde podem utilizar ferramentas DSS para gerar relatórios padrões ajustados às suas necessidades e assim podem rever dados brutos para análise detalhada por meio de utilização de comandos "Why" e "What If". Tais ferramentas são particularmente utilizadas para análise de áreas de negócio, em identificação de novas oportunidades e melhorias de qualidade de serviços ou recursos financeiros. 5.5.5 Sumário: O processo de mudança organizacional Mattern et al. (2000) afirmam que este estudo e outras investigações que ocorrem no MHS constatam que o sistema CEIS dá suporte significativo à gestão e aos serviços de saúde da área militar. Segundo os autores, o SI tem sido particularmente importante para a melhoria dos serviços de saúde relativamente à identificação de situações que pacientes e organização têm se beneficiado com a avaliação da informação produzida. No entender dos autores, a investigação de informação clínica sobre as bases de dados tem produzido aperfeiçoamento operacional dos serviços de saúde do MHS. O processo de investigação envolve em meta comum profissionais médicos e gestores de serviços, 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 117 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho relativamente à maximização de técnicas apropriadas; essa investigação pode direccionar profissionais para a melhoria dos serviços de saúde e o desempenho operacional da organização. Dentre esses assuntos os autores destacam: • Procedimentos de maior volume ou menor margem de DRG (Diagnosis Related Groups) ou os GDH (Grupos de Diagnósticos Homogéneos). • Demanda potencial alta comparativamente a serviços de saúde oferecidos. • Morbidade alta ou suspeita e utilização alta de serviços de saúde. • Custo elevado comparado a competidores locais ou similares. • Estudo de população, condições ou procedimentos clínicos e melhores práticas. • Serviços comuns para grupos identificáveis de profissionais médicos. • Tópicos clínicos de pesquisa de interesse de provedores de saúde. 5.6 Quem necessita e utiliza SI de serviços de saúde: Uma experiência Légaré e Douzou (1995) afirmam que o contexto de "racionalização" de despesas públicas no Canadá e em outros países torna relevante o actual movimento de busca de "experiências organizacionais" relativamente a resultados por meio de redes tecnológicas de informação no sector de saúde, que objectivam auxiliar o entendimento de questões diversas da área de saúde. Por exemplo, tentativas de aumentar a eficiência na oferta de serviços de saúde via redes TI. Por conseguinte, são pertinentes as seguintes questões relativas a ferramentas tecnológicas (TI): • Podem contribuir para redefinir formas de trabalho de profissionais de saúde? • Podem mudar formas como profissionais vêm e desenvolvem actividades? • Podem suportar novas formas e estratégias organizacionais? • Para que medidas e fases, novas formas de trabalho podem produzir "melhores práticas" organizacionais de serviços de saúde, orientadas a grupos de trabalho? No entender dos autores, a investigação de questões desta natureza é importante para entender formas que poderiam afectar ou beneficiar a introdução de ferramentas de redes TI no sector de serviços de saúde, campo de pesquisa pouco documentado actualmente. Portanto, este estudo tem o propósito de ilustrar questões e apresentar resultados de projecto piloto conduzido durante dois anos na cidade de Quebec (Canadá). 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 118 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 5.6.1 Estrutura conceptual A estrutura conceptual apresentada na Figura 5.3 baseia-se na necessidade de entender como um ambiente complexo da vida real, particularmente o sector de serviços de saúde pode se apresentar em contextos tecnológicos e organizacionais. Neste estudo, examinam-se lógicas que actores utilizam em determinadas acções para integrarem ferramentas tecnológicas em acções práticas de saúde. Consideram-se aspectos institucionais das tecnologias e das implementações contextuais, ajustes e desajustes [Soh et al. 2000]. Assume-se que as actividades se tornam possíveis por meio de acções socializadas que organizações envolvidas podem proporcionar ao sistema [Légaré e Douzou 1995]. Tecnologia da Informação (TI) Processo de implementação Aspectos institucionais e flexibilidade interpretativa Processo de monitoração Rejeição de resultados Contexto organizacional Lógicas dos actores e acção situacional Tipo de evolução: Formativa e Contextualista Validação por actores locais Abordagem interpretativa Abordagem indutiva Figura 5.3 Estrutura do estudo de necessidade e utilização de SI em saúde. (Fonte: Légaré e Douzou (1995), adaptado). 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 119 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Os princípios deste estudo tiveram várias implicações metodológicas [Légaré e Douzou 1995]: • Foi preciso utilizar uma abordagem indutiva (avaliação do projecto) em que o projecto de pesquisa, planos de análise e instrumentos somente foram desenvolvidos após conhecimento do contexto da investigação. • Utilizaram-se múltiplos pontos de vista, períodos de tempo, métodos e medidas de avaliação de resultados. • Foram feitas triangulações para entendimento de diferentes resultados sobre diversos locais de realização da investigação. • Validaram-se processos e resultados da investigação por meio de disseminação e feedback de actores sociais envolvidos em diferentes pontos no tempo. 5.6.2 O projecto Segundo Légaré e Douzou (1995), o projecto piloto visou dar suporte, por meio de três diferentes serviços, aos primeiros atendimentos de saúde mental, pela interligação de pacientes a profissionais de saúde mental. A pretensão foi criar colaboração vertical de práticas clínicas, uma forma de trabalho cooperativo auxiliado por computador, para aumentar a qualidade e a eficiência da intervenção clínica sobre o paciente. O estudo empírico foi realizado em 105 locais sob patrocínio de programa de saúde pública e conduzidos em nove localidades com participação de médicos, enfermeiras, assistentes sociais, psicólogos, sob diferentes situações e condições de trabalho. O principal objectivo do projecto foi aumentar o interesse e a competência de práticos de clínicas gerais em detecção, diagnóstico e tratamento de problemas de saúde mental, para dar suporte a práticas médicas quotidianas em contextos e locais de trabalho de pacientes. Os autores afirmam que um objectivo implícito do projecto foi, todavia, utilizar capacidades de sistema de rede tecnológica de serviços para ajudar e incentivar especialistas (psiquiatras, psicólogos, advogados) relativamente à criação de formas práticas de atendimento de cuidados de saúde mental com adopção de abordagens alternativas. Para facilitar a interligação com especialistas foi utilizada documentação e 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 120 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho informação sobre tratamento de saúde mental. Foi então enfatizado o facto de que problemas mentais ocorrem mais frequentemente em conjunto com problemas físicos de saúde, o que combina a acção com consulta por clínico geral. Outros tipos de profissionais foram incluídos na investigação, porque a partir de 1989, foi implantada uma política de saúde mental na cidade de Québec, quando foram estabelecidas as primeiras práticas em serviços de saúde mental formalmente dentro da gestão de centros de serviços locais de saúde mental, onde trabalhavam profissionais psicossociais (psicólogos, assistentes sociais). Esse trabalho foi considerado importante para avaliar a utilização da tecnologia de suporte às primeiras intervenções e manutenção de conhecimento nessas instituições relativamente a práticas clínicas multidisciplinares. A estratégia de implementação foi única para todos os locais e foi criada para fomentar colaboração em torno do sistema, na seguinte condição: apenas um sistema por local, em sala comum, treinamento e difusão da informação para grupos de gerentes, identificação de mensagens de correio electrónico por terminal e não por utilizador. Os serviços oferecidos foram [Légaré e Douzou 1995]: rede de especialistas para consulta em saúde mental; banco de dados farmacológicos de clínica geral; recursos de informação electrónica e boletim científico sobre saúde mental. 5.6.3 Os resultados Segundo Légaré e Douzou (1995), de modo geral, os serviços da rede foram utilizados muito menos que o esperado. O sistema foi utilizado como inovação, sua utilização se tornou esporádica ou simplesmente abandonada após poucas utilizações. Globalmente, as bases de dados sobre medicamentos, que foi instituído como um simples serviço auxiliar de incentivo, foi o recurso mais frequentemente utilizado por muitos grupos profissionais de utilizadores. Os resultados foram agrupados nos temas: utilização, integração de práticas profissionais (individual e colectiva) e efeitos percebidos da utilização dos recursos. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 121 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Os autores afirmam que a colecta inicial de dados permitiu clarificar o contexto sóciopolítico do projecto, a dinâmica organizacional e a delimitação que a implementação poderia ter relativamente aos diferentes grupos de actores envolvidos. Notou-se que o projecto se associou fortemente à própria profissão médica. Dessa forma, foi visto com muita reserva pelos profissionais não-médicos associados as acções multidisciplinares. As expectativas sobre a rede de recursos foram consistentes: clínicos gerais consideraram a obtenção de ganhos de tempo e membros dos outros grupos profissionais consideraram que o estudo contribuiu para aumentar a competência de profissionais e capacidade de trabalho conjunto dos grupos. 5.6.4 Conclusão Segundo Légaré e Douzou (1995), os recursos permitiram a criação e simulação de interesses gerais de clínicos sobre saúde mental e assim permitiram, gradualmente, sentirse a necessidade de aumento de conhecimento. Os resultados, embora de pequena escala, sugeriram efeitos amplos. Ao invés de simulação de assuntos de saúde mental, a escolha desse domínio contribuiu largamente para que médicos aceitassem redes especialistas em consultas sobre saúde mental. Os profissionais utilizaram muito as bases de dados sobre medicamentos, muitas vezes sem nenhuma relação com o tratamento de problemas de saúde mental, quando fizeram uma abordagem de tratamentos tradicionais, portanto menos desejável para os propósitos iniciais do projecto. Sobre a questão da contribuição da redefinição dos profissionais em termos de actividades, em princípio, as tecnologias não induziram a redefinição esperada. Assim, a nova forma organizacional proposta pela tecnologia não foi aceite pelo grupo alvo de médicos. A tecnologia foi utilizada apenas para dar suporte ao padrão tradicional de práticas médicas, que se pretendia conceptualmente modificar. Profissionais não-médicos envolvidos na área de saúde mental provaram ser os mais sensíveis ao potencial da rede, pois se tornaram grandes "experts" do painel electrónico do sistema. Contudo, o processo de implementação falhou na criação de grupos 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 122 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho dinâmicos onde não existiam formalmente, às vezes altamente desejados. A maior forma de sucesso na integração de profissionais foi com grupos multidisciplinares, onde ocorreu autonomia e colaboração funcional. Os autores constataram que, embora aumentem organizações de serviço de saúde, era preciso criar equipas dinâmicas de trabalho com o objectivo de melhorar a qualidade dos serviços e procurar reduzir custos, o que poderia ser proposto em novas implementações da infra-estrutura tecnológica para o sector de serviços de saúde. 5.7 Rede sociotécnica e gestão de SI de saúde na Nova Zelândia Este artigo dá uma visão de uma rede sociotécnica utilizada para ilustrar o binómio tecnologia-organização. Relata a implementação de um sistema EIS (Executive Information System) num hospital de Nova Zelândia. Tinha o objectivo de construir uma rede estável e coerente, onde diversos interesses de actores heterogéneos foram acomodados no projecto do EIS. 5.7.1 Factores de mudanças O estudo se refere a um hospital público de Nova Zelândia, relativamente ao processo de reforma do sector público. Segundo Doolin (1999), o governo de Nova Zelândia, tal como ocorre em muitos países em desenvolvimento, defronta-se com o problema de conciliar o aumento de custos dos serviços públicos de saúde com os níveis de eficiência e expectativa da população. Assim, foi encorajado um novo discurso em relação ao serviço de saúde, com base na implementação de novos conceitos de eficiência, técnica e experiência do sector privado, além de competição, eficácia e leis de mercado que influenciam mudanças estruturais em áreas de negócio, neste caso o sector de saúde. Doolin (1999) afirma que na Nova Zelândia, preliminarmente, essas mudanças estruturais envolveram a separação da oferta dos serviços de saúde, criação de múltiplos compradores e provedores competindo entre si em um mercado quase livre. Em 1993, a Lei sobre Health and Disability Services (HDS) transformou hospitais públicos em empresas de saúde (Crown Health Enterprise), com o objectivo de operarem como 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 123 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho negócio eficiente e de sucesso num sector estruturado. Com a articulação do processo de competição de mercado, a imagem de fábrica em busca de lucro se aproximou da nova visão de gestão hospitalar que permite hoje atrair financiadores para o negócio de saúde e, portanto, pode se inserir na linguagem de gestão, economia, contabilidade e controlo de custos. Assim, os hospitais foram redefinidos de forma similar a fábricas de múltiplos produtos, onde pacientes representam produtos e são responsáveis por custos. A redefinição de eficiência-eficácia em saúde ocorre com a introdução de novos SI projectados para tornar visível a nova contabilidade social. A introdução desse tipo de mercado na Nova Zelândia requer o desenvolvimento de informação detalhada de custos relativamente a práticas médicas como base para contratos e reavaliação da eficiência de recursos para a saúde. O processo foi iniciado num contexto em que poucos provedores de saúde poderiam produzir informação confiáveis de custos de serviços. Portanto, recursos de TI foram considerados antídotos para suprir essa falta de informação [Bloomfield e McLean 1996]. 5.7.2 Conclusão Segundo Doolin (1999), este estudo descreve uma tentativa de construção de uma rede sociotécnica em torno de um sistema EIS num hospital. A abordagem de rede sociotécnica permitiu avaliar como os actores foram traduzindo uma situação organizacional em "soluções" particulares e talvez, por isso, o EIS não foi implementado como um todo, mas foram positivos os conceitos e as discussões dos elementos envolvidos. O autor afirma que foi desenvolvido um SI e construída uma rede que envolveu a combinação heterogénea de vários actores: profissionais médicos, gerentes, profissionais de sistemas e utilizadores do sector de saúde. Todavia, o grupo do projecto foi incapaz de sustentar as simplificações necessárias para o sucesso do projecto. Os gerentes não representaram os papeis particulares prescritos. No entanto, a empresa envolvida (GM Finance) teve a habilidade de formular uma solução 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 124 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho alternativa para a operacionalização do projecto. A tecnologia utilizada se portou como "caixa preta" e não mostrou facilidades para simplificação, o que deu lugar a uma colecção complexa de sistemas alimentadores incompletos que perderam credibilidade perante parte dos actores envolvidos [Doolin 1999]. 5.8 Um sistema de decisão e educação em medicina: Rede de informação Tentativas de disponibilizar suporte à decisão e formação em medicina têm falhado em parte porque não tem sido atendido o acesso à informação no tempo solicitado, actualmente integrada com outras fontes relevantes para especificação de questões que ocorrem em atendimento médico de paciente [Godin et al. 1999]. Esses desafios pressupõem o entendimento da natureza do conhecimento médico, que informação são necessárias aos profissionais de saúde para o processo de decisão, relativamente à complexidade do ambiente de saúde. Este estudo apresenta uma solução com base em tecnologia integrada, através do sistema de rede de formação educacional em saúde, SHINE (Stanford Health Information Network for Education), do Departamento de Medicina da Universidade de Stanford (EUA). 5.8.1 Estrutura do sistema Godin et al. (1999) afirma que o sistema de educação médica SHINE foi estruturado com ferramentas da Web (World Wide Web), Figura 6.4. Sua funcionalidade permite a realização de consultas (query) de múltiplos conteúdos numa única formulação e apresentação dos resultados. Também possui ferramentas especializadas para a área de medicina, e.g., ferramentas de diagnóstico clínico. Permite ao utilizador gravar resultados de consulta em caderno electrónico e reconstruir pesquisa a através do sistema logging (histórico de actividades realizadas). Para integrar recursos distribuídos e heterogéneos na mesma aplicação, o sistema SHINE utiliza recursos de um subsistema mediador que permite integrar dados de fontes diferentes (Figura 5.4). O mediador traduz a consulta do utilizador em sintaxe para a pesquisa-fonte requerida por bases de dados individuais. Normalmente, os conteúdos da consulta são transformados em documento final de modo automático. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 125 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho No processo de pesquisa, consultas de utilizadores são convertidas em linguagem de processamento de serviços que inclui mecanismos de meta-thesaurus e utilizam UMLS (Unified Medical Language System) que tem como base ontológica a Biblioteca Nacional de Medicina (EUA). O meta-thesaurus do sistema SHINE permite ao utilizador navegar sob conceito espacial de forma automática ou manualmente, como forma de refinar a pesquisa. O refinamento de pesquisa ocorre por meio de procedimentos de passagem de sinónimos e conceitos relacionados com a consulta original [Godin et al. 1999]. Interface de pesquisa (Web) Meta-thesaurus (mecanismos de índices) Logging: Histórico de utilização do sistema Subsistema mediador de Banco de dados sobre medicamentos ferramentas de busca e gestão Ferramentas de análise de pesquisa Ferramentas de diagnóstico clínico Dicionário de termos médicos Módulos de Ensino médico Literatura médica (textos) Índice de títulos de medicina Figura 5.4 Arquitectura do sistema de educação médica (SHINE). (Fonte: Godin at al. (1999), adaptado) 5.8.2 Considerações Segundo Godin et al. (1999), essa rede cria ambiente que permite tentar entender e desenvolver um sistema orientado para necessidade de informação e educação continuada de médicos. Tais necessidades são complexas e podem ser entendidas tão somente no contexto do trabalho médico num processo de decisão e mudança de estado dessa área de conhecimento. Segundo o autor, as tecnologias do cliente-servidor, particularmente 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 126 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho baseadas em Web podem eliminar barreiras tradicionais e criar novas possibilidades de comparticipação e integração da informação de saúde. Foram utilizados vários recursos de TI na implementação das ferramentas. Outros desafios se referem à criação de novos modelos de negócio que permitem satisfazer os provedores de saúde. Os autores esperam que a continuidade da investigação e o desenvolvimento do projecto possam, na fase final, beneficiar pacientes e permitir aos profissionais médicos assimilar e aplicar conhecimentos de medicina em práticas clínicas de tratamento de pacientes. 5.9 Estratégia de gestão de SI no serviço do Reino Unido Este estudo examina o planeamento estratégico de gestão de informação no serviço saúde da Inglaterra NHS (National Health Service); discute formas como TI vem sendo utilizada para aumentar competitividade no NHS. Primeiramente, discute a política de gestão do NHS e em seguida trata a estratégia de TI no País de Gales (Wales), especificamente sobre o Ceredigion NHS Trust, instituição credenciada. Segundo Fuller-Love e Cooper (1996), nas últimas décadas ocorreram mudanças significativas na gestão do NHS. A tecnologia da informação (TI) tem tido importância estratégica na implementação dessas mudanças, principalmente, em relação ao aumento das despesas de saúde. O papel das TI se tornou crucial para aumentar a competitividade nos hospitais. No entender dos autores, a competição no NHS relativamente a TI pode ser descrita em três alternativas diferentes: • Se TI pode ser utilizada para aumentar a competição entre diferentes provedores de saúde, pelo oferecimento de dados sobre custos. • Se TI pode ser utilizada para reduzir os custos e aumentar a eficiência, por meio do suporte à gestão da informação. • Se TI pode ser utilizada para aumentar a produtividade dos serviços de saúde, pela disponibilização de informação de pacientes para os profissionais de saúde. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 127 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 5.9.1 Gestão de informação no NHS Os autores afirmam que no Reino Unido a gestão da informação está sendo uma forma de aumentar a competição em instituições públicas, e.g., como British Steel, nos Correios e no NHS. Por serem serviços públicos, tais organizações não sofrem pressões comerciais de concorrentes. Assim, como virtuais monopólios, essas instituições encontram pouca competição em suas áreas de actuação. No campo da saúde privada há competição, mas isto não tem prejudicado os ganhos e lucros deste sector. Portanto, a introdução de elementos de competitividade, e.g., contratos de serviços credenciados no NHS teve a intenção expressa de reduzir custos e aumentar a eficiência dos serviços. Todavia, apesar da tentativa de reduzir custos, os resultados indicam que os gastos do NHS estão aumentando sensivelmente. Por exemplo, um relatório da Audit Commission revelou que os custos de gestão dos credenciados do NHS aumentaram de um bilhão há dois anos para 2,3 bilhões de libras anuais (1996). Fuller-Love e Cooper (1996) afirmam que o crescimento dos custos no NHS tem levado a reformas do sistema de saúde visando aumentar a competitividade e reduzir os gastos com os serviços. As reformas têm incluído contratos em bloco para compra de serviços hospitalares para pacientes. Tais contratos introduzidos pelo Governo para dar suporte ao programa "Working for Patients", em 1989, deram um importante significado à negociação entre "oferta e procura" de serviços de saúde. Os mecanismos dos contratos também exigiram uma nova abordagem da gestão da informação. Segundo os autores, informação sobre custos precisa de ser colectada, analisada e apresentada de forma a poder habilitar o provedor de saúde a competir no sector de saúde. A estratégia de maximização financeira e redução de custos tem aumentado o interesse por indicadores de serviços de saúde, tais como dia-cirúrgico, cuidado comunitário, diainternamento. Essa pressão para reduzir custos tem encorajado o crescimento da competição entre provedores de saúde, afirmam os autores. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 128 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Nesse processo, gestão da informação de saúde e estratégia tecnológica contribuem com os seguintes elementos, que se reflectem na política de saúde do país [Fuller-Love e Cooper 1996]: • Um único número de identificação de paciente. • Uma rede integrada de gestão administrativa. • Uma rede do NHS para partilha e integração da informação. • Um dicionário nacional de termos clínicos. • Padronização nacional de comunicação entre computadores do serviço de saúde. • Uma estrutura de segurança e confidencialidade da informação. 5.9.2 Gestão de informação no NHS do País de Gales A estratégia para implantar TI no País de Gales envolveu o desenvolvimento de projectos piloto. O comprometimento de TI foi redefinido assim: a informação poderia ser justificada pelos benefícios oferecidos aos pacientes. Quando o artigo foi publicado as actividades estavam no seguinte estágio [Fuller-Love e Cooper 1996]: • Em curso: SI para suporte das decisões clínicas: recursos de gestão, iniciativa de projectos pilotos desenvolvidos; revisão de informação e requerimentos do NHS. • Acção planeada: início de recomendação da revisão técnica (1995); preparo da utilização do conjunto de indicadores básicos de saúde para monitorar o desempenho dos serviços (a partir de 1994). • Metas: investir em TI e informação de saúde para benefício de pacientes; reduzir número de retornos de tratamentos com base em indicadores de desempenho. No entender dos autores, uma das formas para criar um mercado interno de serviços de saúde no NHS foi a introdução de indicadores básicos de desempenho, orientados para informar os pacientes sobre a qualidade dos serviços disponibilizados ao público. Por exemplo: pacientes atendidos até 30 minutos; percentual de pacientes da emergência e acidentados atendidos dentro de 5 minutos; tempo de espera para acto cirúrgico. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 129 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 5.9.3 Estudo de serviço credenciado do NHS Uma organização credenciada no NHS assume responsabilidade sobre unidades de serviços de saúde em áreas geográficas do país. É um representante legalmente constituído junto ao NHS, subordinado ao Departamento de Saúde do Governo, órgão similar ao Ministério da Saúde (Brasil, Portugal). Um credenciado possui directores executivos e directores administrativos (conselho), presidente, empregados, staff médica, património (activo) e certa liberdade financeira. O Welsh Office é o representante do Departamento de Saúde no País de Gales (Wales), portanto responsável pelos serviços credenciados e pela política de saúde. O Ceredigion é um dos credenciados do NHS no País de Gales. Fuller-Love e Cooper (1996) afirmam que o Ceredigion inclui cinco hospitais: Aberystwyth (2), Cardigan (1), Tregaron (1), Aberaeron (1) e mais três centros de saúde. A maior unidade de saúde é o Bronglais General Hospital, em Aberystwyth. Recebe recursos financeiros anuais estimados em 22 milhões de libras, possui 1.172 empregados (909 a tempo integral); atende emergências e cuidados de pacientes. Um credenciado do NHS tem autonomia para introduzir mudanças na estrutura organizacional, gestão e serviço de saúde oferecido à comunidade, visando melhorar o serviço, criar maiores possibilidades e liberdade de escolha de oferta de cuidados integrados de saúde aos pacientes. Normalmente, os credenciados atendem linhas específicas de especialidades médicas e poucos cobrem todos os tipos de tratamento. Maior oferta de serviços é utilizada para ressaltar a relação da gestão da informação entre hospitais e a comunidade. Isto é importante para caracterizar o conceito de que paciente de determinado sítio ou região poderia gastar mais ou menos tempo para receber cuidados de saúde [Fuller-Love e Cooper 1996]. 5.9.4 Gestão de informação de serviço credenciado Segundo os autores, a estratégia de gestão da informação no Ceredigion é estabelecida a nível de Conselho. O primeiro gestor de TI foi designado em 1994 com a missão de planear a estratégia de TI para a instituição. O ponto de partida da estratégia foi 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 130 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho identificar a informação necessária para o processo de suporte à decisão do credenciado e também para assegurar a informação necessária em procedimentos clínicos e cirúrgicos de pacientes do serviço. As razões para implementação de TI no Ceredigion foram: disponibilizar mais e melhores serviços a pacientes e agilizar as decisões relativas ao negócio (objectivos, planos, metas). Uma das funções do SI do credenciado foi apoiar procedimentos cirúrgicos e gestão da informação para reduzir custos fixos e melhorar a qualidade dos serviços. Fuller-Love e Cooper (1996) afirmam que muitos credenciados têm regime financeiro austero. Portanto, é à luz de estreitos limites financeiros que credenciados do NHS precisam de avaliar e expandir os recursos de TI. Credenciados, hospitais e autoridades de saúde têm gasto grandes quantias financeiras em SI, com o objectivo de oferecer mais eficiência e reduzir custos dos serviços de saúde, acrescentam os autores. Foi elaborado um plano de TI para os hospitais com base no plano estratégico do credenciado. Foram previstos indicadores estatísticos de saúde para o Governo. Principais medidas e resultados definidos: parâmetros de atendimento de requisitos contratuais; indicadores de qualidade de serviços de saúde; cadastro padrão de pacientes, tabelas de procedimentos de serviços médicos [Fuller-Love e Cooper 1996]. O Ceredigion fez um investimento substancial em hardware para gestão do staff, quando instalou um computador para cada gestor aceder ao SI de saúde. Ao contrário de organizações privadas onde gerentes não precisam de esperar para ter computadores em suas secretárias muitos gestores seniores no Ceredigion, incluindo áreas de gestão e contabilidade não têm ainda um computador pessoal em suas mesas [Fuller-Love e Cooper 1996]. Segundo os autores, no âmbito do programa de TI, o Ceredigion está em processo de integração da informação de gestão e informação clínica-cirúrgica. Todavia, tem havido 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 131 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho muita resistência e há necessidade de persuadir o staff médico que o SI possui mecanismos para assegurar o sigilo e a integridade da informação do ambiente de saúde. A decisão de implementar quaisquer SI depende hoje dos custos e análise de benefícios. Os primeiros dois sistemas foram implementados e outros estão actualmente em estádio de planeamento. Um dos problemas tem sido trabalhar o actual custo de implementação de cada sistema. Por exemplo, sobre a necessidade da infra-estrutura da rede e integração do SI, o CIO do Ceredigion afirmou textualmente: "[...] It's difficult to work out the cost (on the pathology system) … One of the major problems in implementing a pathology system is that information about the patients must be available on the ward. Clinical staff on the wards need the facility to obtain results from pathology on the ward, also the information must be sent to the GPs. The other problem is that the pathology department needs a different database from this system. This is because GPs may send samples for testing for patients who will not be patients at the hospital. There are huge number of patients using the pathology department but who never come into the hospital for treatment and would therefore affect this system" (Fuller-Love e Cooper 1996, p. 225). 5.10 Conclusão Finalmente, destacam-se algumas conclusões deste capítulo relativamente aos estudos apresentados sobre informatização de serviços de saúde: A análise desses estudos confirma pressupostos da literatura e da área de desenvolvimento de SI que consideram a pouca ênfase dada à organização e planeamento de SI [Amaral 1994, Jayasuriya 1999]. Ressalta-se que, como os serviços de saúde de muitos países em desenvolvimento estão nos primeiros estágios de adopção de TI, tem-se a oportunidade de aprender com erros e acertos, o que não é mais possível em relação aos países mais adiantados [Jayasuriya 1999]. Em relação aos países em desenvolvimento, a literatura afirma que existe a necessidade de analisar e entender a visão organizacional, ambiental e cultural na adopção de modelos 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 132 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho e procedimentos utilizados alhures em se tratando de adequação e customização de SI [Jayasuriya 1999, Soh et al. 2000]. Nesse sentido afirma (Jayasuriya 1999, p. 347): "[…] Experience in a number of developing countries reaffirms emphasis is given to planning and organization of the systems technology functions. As health services of many developing countries are in the early stages of IT adoption it provides an opportunity to learn from failures and mistakes. It is not appropriate to assume that what works in developed countries will be appropriate elsewhere. The case study confirm that there is a need to analyze and understand organizational, environmental and cultural issues in adopting models and procedures used elsewhere when managing information systems in developing countries". Em 1995, o plano estratégico de emprego TI no Ceredigion (credenciado do NHS) para o período 1995-2000 apresentou compromissos relativamente à importância da informação de saúde para o NHS, conforme plano do credenciado: "[…] The Trust recognizes that the generation and appropriate use of timely, accurate and relevant information is vital if it is to secure provision of health care to the population of Ceredigion. During the period 1995/2000 the Trust will continue to build on its existing track record for successfully implementing new development in Information Technology" (Fuller-Love e Cooper 1996, p. 225). Instituições de saúde enfrentam um desafio que é a sobrevivência de seu próprio negócio. Ao longo dos anos essas instituições têm adquirido tecnologias de SI que podem disponibilizar dados para análise e informação para tratamento de saúde, porém, raramente esses sistemas se comunicam entre si. São recursos inadequados, de difícil substituição e com custos extremamente elevados [Holt 1998]. 5 Utilização de SI/TI em serviços nacionais de saúde de vários países 133 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Capítulo 6 "As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, E em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; E também as memórias gloriosas Daqueles reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando; E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando - Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte." CAMÕES (Os Lusíadas: I 1-2, a Introdução) 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo Este capítulo descreve a metodologia de desenvolvimento da investigação, nesta ordem: • Conceitua e define indicadores de desempenho para avaliar impactos de SI integrado de gestão no contexto serviços de saúde, com base em modelo teórico de variáveis controladas [Ackoff 1998] ou endógenas [Ballantine et al. 1996]. • Apresenta o modelo de investigação e faz um tratamento de variáveis fundamentado na estatística descritiva (variáveis independentes, dependente). • Escolhe o método de estudo de caso, a utilização de questionários e faz o enquadramento do estudo no modelo de sucesso de SI [DeLone e McLean 1992]. • Formaliza o conjunto de indicadores de SI integrados de gestão relacionados a serviços de instituições de saúde. • Por fim, descreve os principais elementos e fases de desenvolvimento do estudo. 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 134 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 6.1 A metodologia Segundo Ackoff (1998), a solução de problemas de investigação deve envolver o emprego de metodologia, que, a partir de elementos teóricos e problemas de investigação, permite estabelecer directrizes e formular procedimentos para determinação de soluções optimizadas, um dos objectivos da utilização de metodologia. O autor acrescenta que a determinação de situações de problema de investigação sobre situações de optimização de recursos (maximização ou minimização) em ambientes organizacionais podem ser representados pela relação: (X, Y) V = f (X , Y) (1) Onde: • X e Y são consideradas variáveis independentes e relacionadas pela função f; • X é uma variável vectorial controlada do ambiente do problema, segundo Ackoff (1998) ou variável endógena, segundo Ballantine et al. (1996); • Y é uma variável vectorial não-controlada externa ao ambiente do problema, segundo Ackoff (1998) ou variável exógena, segundo Ballantine et al. (1996). Portanto: • V: corresponde à variável cujo valor de medida se pretende optimizar; • X: variáveis do problema passíveis de serem controladas por agentes do ambiente de estudo: "decisão", "escolha", "controlo", e.g., investimentos, stocks, vendas e distribuição, preços, espaços físicos, equipamentos, tecnologia, recursos humanos. • Y: variáveis do problema que escapam ao controlo de agentes do ambiente de estudo, e.g., globalização de mercados, políticas económicas, variação de moedas, comportamentos de competidores, preferências de consumidores, incentivos fiscais, taxação de produtos, condições climatéricas. 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 135 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Por conseguinte, particularizando-se a medida da fórmula (1) para desempenho organizacional e considerando os demais elementos, pode-se escrever a expressão assim: V (Desempenho) = f (X , Y) (2) Onde X e Y são as variáveis vectoriais, X = (X1, X2, X3, ... Xn) e Y = (Y1, Y2, Y3, ... Ym). No caso desta investigação, trata-se a avaliação de impactos de SI integrados de gestão sobre o desempenho de serviços de saúde, em termos de custo-benefício, produtividade, eficiência, qualidade, satisfação e outros indicadores desenvolvidos com o suporte desse tipo de SI. Assim, tais ferramentas podem atribuir efeitos (impactos) sobre o desempenho dos serviços das instituições de saúde, de acordo com as facilidades disponibilizadas aos utilizadores. Neste estudo considera-se os conceitos para a avaliação de efeitos internos sobre o desempenho do contexto organizacional, onde o conjunto de indicadores são representados pela variável vectorial (X), conforme define Ackoff (1998) e Ballantine et al. (1996). O estudo se limita a efeitos dentro das instituições, ou seja, aos impactos sobre o desenvolvimento de serviços de saúde. Compreende-se a importância da variável vectorial Y relativamente à ocorrência de factores externos, mas a investigação não envolve efeitos do universo exterior dos ambientes institucionais. Portanto, pode-se apenas considerar os impactos da variável controlada X. Por conseguinte, a expressão (2) pode ser restrita a (3), onde X representa uma n-upla formada por indicadores de desempenho intrínseco a ambientes de serviços de saúde. V (Desempenho) = f (X) (3) E a variável vectorial controlada X pode ser expressa assim: X1 (Custo-benefício) = γ1 (X1) X2 (Produtividade) = γ2 ((X2) 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 136 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho X3 (Eficiência) = γ3 (X3) X4 (Qualidade) = γ4 (X4) X5 (Satisfação) = γ5 (X5) e assim por diante. A função γ (gama) representa as condições e procedimentos para determinação de indicadores (custo-benefício, produtividade, eficiência, satisfação etc.), tratados por meio de instrumentos de avaliação de dados /informação de estudos de caso e questionários (Capítulos 7 e 8). Finalmente, substituindo os indicadores de serviços na fórmula (3), a determinação do desempenho relacionado a serviços de instituições de saúde pode ser representado pela função: V (desempenho) = f (custo-benefício, produtividade, eficiência, qualidade, ...) (4) Por conseguinte, neste estudo o valor de desempenho é conceituado pela associação de variáveis controladas ou endógenas (4) relacionadas a serviços de instituições de saúde, definidos como valores específicos de indicadores (custo-benefício, produtividade, eficiência, qualidade, satisfação do utilizador etc.), cuja determinação envolve dados /informação de serviços de saúde e facilidades do SI integrado de gestão adoptados nessas instituições. 6.2 O modelo de investigação Com base nos elementos conceituais do tópico anterior, o modelo de investigação do estudo pode ser representado pela Figura 6.1. A variável independente da investigação é o tipo de SI integrado de gestão de instituição de saúde do SUS, i.e., às ferramentas integradas de software. Os dados /informação sobre desempenho (variável dependente) se referem a serviços de saúde e são definidos por indicadores quantitativos e qualitativos pesquisados na literatura (SI, Saúde) e validados em estudos de caso. Assim, com base nesses indicadores é possível compor e avaliar o 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 137 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho desempenho (variável dependente) de serviços de instituições de saúde, em relação a SI integrados de gestão. Valores da variável controlada são representados por dados /informação de classes de indicadores, e.g., qualidade de SI, qualidade da informação, satisfação de utilizadores, impacto individual /organizacional de adopção de SI [DeLone e McLean 1992]; ou dados de desempenho, e.g., locais e unidades /serviços de adopção de SI, abrangência do SI, nível de integração de SI. Variável vectorial controlada indicadores de serviços de instituições de saúde: X = (X1, X2, X3 ... Xn) Função γ = (γ1, γ2, γ3, ... γn) Valores de indicadores de serviços de instituições de saúde: X* = (γ1(X1), γ2(X2), γ3(X3) ... γn(Xn)) = = X*1, X*2, X*3 ... X*n foγ Função f Desempenho de serviços de saúde relacionados a SI integrados de gestão: V* = f (X*) = = f (X*1, X*2, X*3 ... X*n) Figura 6.1 Modelo de investigação. 6.3 Enquadramento do estudo no modelo de sucesso de SI Neste tópico apresenta-se o enquadramento no modelo de sucesso de SI [DeLone e McLean 1992] na linha básica de estudo seguida por esta investigação (Figura 2.2). Como este estudo desenvolve um trabalho sobre áreas específicas (SI, Saúde), relativamente à avaliação de impactos de SI integrados de gestão de instituições de saúde 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 138 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho (SUS), com base em indicadores quantitativos e qualitativos de desempenho de SI de serviços, precisa-se delimitar o contexto e definir condições para desenvolvimento deste estudo. Assim, a Figura 6.2 mostra o enquadramento da investigação no modelo básico de avaliação de sucesso de SI [DeLone e McLean 1992], linha de investigação seguida neste trabalho. Indicadores quantitativos e qualitativos de desempenho de SI utilizados em serviços de instituições de saúde (SUS, Brasil) Qualidade do sistema Utilização da informação Impacto Individual Qualidade da informação Satisfação do utilizador Impacto organizacional: desempenho de SI integrados de gestão de instituições de saúde (SUS, Brasil). Foco do estudo Figura 6.2 Enquadramento do estudo no modelo de sucesso de SI. (Fonte: DeLone e McLean (1992), adaptado). 6.4 Utilização do método estudo de caso O método estudo de caso permite melhor "campo de visão" no entendimento de resultados de gestão de informação e oferece oportunidade para entendimento do fenómeno organizacional complexo [Benbasat, Goldstein e Mead 1987; Craig 1999]; estudo de caso tem sido utilizado para complementar a investigação de survey. Considera-se que o estudo de caso fornece informação contextual essencial e permite realizar avaliação de modelos genéricos e estruturas complexas para entendimento de questões e resultados [Jayasuriya 1999]. Farhoomand (1987) afirma que o campo de gestão de sistema de informação (GSI) tem sido visto como uma junção de pressupostos organizacionais, tecnológicos e de ciências de gestão, consequentemente, torna-se de capital interesse a forma como processos 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 139 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho inovadores interagem em contextos dessas áreas. Segundo esse autor, existem três razões que apontam para ser estudo de caso uma estratégia viável para este tipo de investigação: • o investigador pode estudar SI em ambiente natural, estender resultados sobre o estado da arte e gerar teorias a partir da prática. • permite ao investigador responder questões "como" e "porque", sobre o entendimento de a natureza e complexidade de processos, e.g., questões do tipo: "como gerentes agregam novas informações tecnológicas relativamente à realização de trabalhos em empresas?". • em relação a processos de ajustamento ou aperfeiçoamento, estudo de caso é apropriado para pesquisar áreas onde se realizaram poucas investigações. Com a rápida mudança das organizações, novos tópicos surgem e isso permite o aumento da utilização de estudo de caso. Estudo de caso é orientado para examinar o fenómeno em ambiente natural, empregar múltiplos métodos de colecta de dados, com o objectivo de reunir informação de uma ou mais entidades [Benbasat et al. 1987, Kaplan 1985, Stone 1978, Yin 1984]; e deve assumir as seguintes características relativamente à investigação [Benbasat et al. 1987]: 1. O fenómeno deve ser examinado em ambiente natural. 2. Os dados devem ser colectados de múltiplas formas. 3. Devem ser examinadas uma ou algumas entidades (pessoas, grupos, organização). 4. A complexidade do objecto deve ser estudada intensamente. 5. É mais indicado para exploração, classificação e desenvolvimento de hipóteses de construção de conhecimento de processos. 6. Não devem ser envolvidos controlos experimentais ou de manipulação. 7. O investigador pode não especificar o conjunto de variáveis. 8. Os resultados derivados dependem fortemente do poder de integração do investigador no processo. 9. Mudanças de locais e de métodos de selecção de dados poderão permitir ao investigador formular novas hipóteses. 10. Estuda-se "porque" e "como" questões de investigação se relacionam em níveis operacionais. 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 140 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 11. O foco deve recair em eventos contemporâneos. Idealmente, deve haver duas ou mais fontes de dados que permitam convergir para obtenção dos resultados. Yin (1984) identifica várias fontes de evidência que se aplicam adequadamente a estudo de caso. O arranjo de fontes apropriadas deve obter um conjunto rico de dados e informação sobre a investigação, que permitam captar a complexidade do contexto envolvido pela investigação. Fontes de dados [Yin 1984, Creswell 1999]: 1. Documentação - materiais escritos, memorandos, periódicos, relatórios oficiais. 2. Arquivos - mapas, registos de actividades operacionais e financeiras. 3. Entrevistas - entrevistas abertas ou padronizadas sobre tópicos específicos. 4. Observação directa - observação e anotação de detalhes de processos, tarefas e acções do ambiente de trabalho. 5. Instrumental - dispositivos, controlos, entradas, saídas. Benbasat et al. (1987) afirmam que dados específicos colectados em estudos de caso dependem da formulação da questão de investigação e unidade de análise escolhida. Esses autores recomendam que as primeiras visitas do investigador ao local de estudo devem ser com o objectivo de conhecer o ambiente e colectar materiais para uma análise preliminar. Deve ser elaborado um plano genérico e flexível envolvendo questões que ajudem a conduzir a investigação. O plano utilizado como guia do trabalho poderá ser modificado de acordo com o julgamento do investigador, com base em observações, resultados, limitações e oportunidades identificadas. A análise dos dados é a parte mais importante para a formulação escrita dos resultados. Tanto quanto possível, o contexto e a riqueza dos dados da investigação deverão ser representadas, o que permite estabelecer uma cadeia de evidências. As explanações e estabelecimentos de causa-efeito ou a elaboração de hipóteses podem ser firmadas e defendidas. O investigador pode partir de objectivos e questões, suposições e elaboração de escolhas, análises de dados para, finalmente, obter possíveis resultados e conclusões da investigação [Benbasat et al. 1987, Creswell 1999]. 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 141 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 6.5 Utilização de questionários Para complementar a utilização do método estudo de caso, foi planeado a utilização de questionários. A combinação das duas formas de pesquisa visa a obtenção de maior detalhamento na análise dos resultados, pois, o trabalho focaliza instituições de saúde no âmbito de um país de grande dimensão. Assim, a adopção de questionário permite captar amostra considerável de dados de instituições de saúde, parte fora do espectro dos resultados dos estudos de caso, o que ajuda a clarificar questões da investigação. Neste estudo foram consideradas as Regiões Metropolitanas (RM) das capitais dos estados como unidade básica do trabalho, cujas características são apresentadas a seguir. O Brasil é dividido em unidades administrativas da federação (UF), ou seja, os estados com suas respectivas capitais, conforme mostra a Figura 6.4. Uma capital de um estado é, de modo geral, a cidade de maior população, que, reunida às cidades circunvizinhas formam uma Região Metropolitana (RM). A Tabela 4.4 (capítulo 4) classifica os estados pela quantidade de atendimentos hospitalares SUS em 2000 (consultas, exames, terapias), que podem ser considerados como base para a ordenação das RMs. As maiores RMs envolvem as capitais em virtude da concentração de actividades económicas, produtivas e administrativas dos estados. São pólos de desenvolvimento que concentram os maiores índices populacionais. Por conseguinte, as RMs estaduais assumem pesos determinantes e podem ser consideradas em captação de dados da população, um procedimento corrente em estudos de dados estatísticos no Brasil. Com base na quantidade de atendimentos do SUS em 2000, a Tabela 4.4 mostra que as três maiores RMs do país são em ordem decrescente: São Paulo (321.738.649), Minas Gerais (183.957.976), Rio de Janeiro (126.323.335); as três menores são: Amapá (4.615.522), Acre (2.854.550), Roraima (2.210.300). Este estudo focaliza as instituições que utilizam SI integrados de gestão e avalia uma amostra dos maiores hospitais dessa rede pública. Assim, pela extensão territorial, quantidade e distâncias entre as capitais, o plano definido foi considerar hospitais das 10 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 142 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho maiores RMs dos 26 estados mais o distrito federal; seleccionar três das 10 maiores RMs para aplicação do estudo (Salvador, Recife, Fortaleza), pertencentes à Bahia, Pernambuco e Ceará, os estados de maior população da região Nordeste. Em 2000, as dez maiores RMs dos estados processaram 1.101.953.760 (77%) atendimentos hospitalares, de um total de 1.429.126.230 e estão assim classificadas em ordem decrescente (Tabela 4.4): São Paulo [1], Minas Gerais [2], Rio de Janeiro [3], Bahia [4], Paraná [5], Pernambuco [6], Rio grande do Sul [7], Ceará [8], Maranhão [9], Santa Catarina [10]. As três RMs seleccionadas para aplicação dos questionários foram responsáveis por 225.907.745 (16%) do total de 1.429.126.230 atendimentos e tiveram os percentuais de participação: Bahia [7%], Pernambuco [5%] e Ceará [4%]. O trabalho de aplicação dos questionários e análise dos resultados faz parte do capítulo 8 e a amostra processada contabilizou 66 questionários aplicados em hospitais das três RMs. A escolha da amostra de RMs /hospitais teve como base o teorema do limite central, que demonstra os seguintes pressupostos (Levine, Berenson, Stephan 1998, p. 260): "1. Para a maior parte das distribuições de população, independentemente do tamanho, a distribuição de amostragem da média aritmética será distribuída de maneira aproximadamente normal, se forem seleccionadas amostras de pelo menos 30 observações; 2. Se a distribuição da população for relativamente simétrica, a distribuição de amostragem da média aritmética será aproximadamente normal, se forem seleccionadas amostras de pelo menos 15 observações; 3. Se a população for distribuída de maneira normal, a distribuição da amostragem da média aritmética será distribuída de maneira normal, independentemente do tamanho da mostra." 6.6 Selecção e validação dos indicadores de desempenho O conjunto de indicadores de SI utilizados em serviços de saúde foram pesquisados da literatura e validados nos estudos de caso de dois hospitais do Brasil. São indicadores de actividades diárias de utilizadores do tipo de SI do estudo e definidos na literatura (tópico 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 143 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 4.6.3): custo-benefício, produtividade, eficiência, qualidade, satisfação, de entendimento referentes a serviços de saúde. Os indicadores foram agrupados em categorias ou classes (A, B, C, D, E; Tabela 6.1), de acordo com a literatura e os modelos de SI seguidos nesta linha de estudo - modelo de medidas de sucesso de SI de DeLone e McLean (1992, Figura 2.2) e o sub-modelo do enquadramento da investigação no modelo de sucesso de SI (Figura 6.2). Classe A - Qualidade do sistema. Grau de perfeição que o SI apresenta em apoio à realização de actividades de serviços de instituições de saúde. Classe B - Utilização da informação. Nível de uso da informação do SI em serviços de saúde. A1 - Entendimento de funcionalidade [I] A2 - Facilidade de acesso 1[I] A3 - Facilidade de utilização1,2 [I] A4 - Integração de unidades /serviços1,2 [III] A5 - Qualidade de recursos gráficos1,2 [I] A6 - Funcionamento do SI sem avaria2 [II] B1 - Frequência de utilização1 [II] B2 - Motivação de utilização1 [I] B3 - Quantidade de utilizadores1 [II] B4 - Utilização em unidade /serviço2 [III] B5 - Utilização em planeamento /gestão1,2 [III] B6 - Utilização em pesquisa de saúde2 [III] B7 - Utilização por órgãos externos2 [III] Classe C - Satisfação dos utilizadores. Grau de aprovação do SI por utilizadores de serviços de saúde. Classe E - Impacto organizacional. Efeitos ou impactos que o SI pode exercer globalmente em apoio a actividades de serviços de saúde. C1 - Satisfação com o sistema1 [I] C2 - Satisfação com a informação1 [I] C3 - Satisfação da unidade / serviço1,2 [I] C4 - Satisfação da direcção da instituição1,2 [I] C5 - Satisfação dos pacientes2 [I] E1 - Apoio a atendimento de pacientes2 [I] E2 - Redução de custo de stocks1,2 [II] E3 - Eficiência de serviços de saúde1,2 [I] E4 - Qualidade de serviços de saúde1,2 [I] E5 - Produtividade de serviços de saúde1,2 [II] E6 - Custo-benefício de serviços de saúde1,2 [II] E7 - Redução de pessoal1,2 [II] E8 - Inovação de serviços de saúde1,2 [I] E9 - Controlo de materiais /medicamentos1,2 [III] E10 - Realização de metas1,2 3[III] E11 - Aumento de facturamento de serviços1,2[II] E12 - Organização de actividades e serviços2 [I] 1 Classe D - Impacto individual. Efeitos sobre os utilizadores de SI de instituições de saúde. D1-Actualização-qualificaçãoprofissional1,2 [I] D2- Auxílio em identificação de problema1,2 [I] D3- Eficiência em tomada de decisão1 [I] D4- Aumento de eficiência pessoal1,2 [I] D5- Aumento de produtividade pessoal1,2 [II] Tabela 6.1 Classes de indicadores de desempenho de SI de instituições de saúde. (Natureza: [I] qualitativo, [II] quantitativo, [III] bivalente - de acordo com o contexto). 1 Indicador pesquisado na literatura, relativamente a medidas de sucesso de SI. Indicador validado nos estudos de caso dos hospitais, relativamente a medidas de sucesso de SI. 1,2 Indicador pesquisado na literatura e validado nos estudos de caso dos hospitais. 2 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 144 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Foram construídos cinco conjuntos relativamente a cinco classes de indicadores de medidas de sucesso de SI, no total de 35 elementos. Decidiu-se não incluir a classe qualidade da informação por ser esta formada de indicadores considerados de difícil entendimento e de pouco significado /aplicabilidade para o tipo de utilizador de SI de serviços de saúde em estudo. Esses indicadores se referem a actividades de utilizadores finais realizados com o apoio do SI de instituição de saúde. Os indicadores foram pesquisados junto aos utilizadores mais familiarizados com as ferramentas, ou seja, chefes de serviços ou empregados que utilizavam directamente o software nos hospitais. Dessa forma, foi possível perceber dificuldades, benefícios e problemas de utilização desse tipo de SI em hospitais. Na codificação, a letra de representação do indicador define a categoria ou classe a que pertence (A, B, C, D, E), seguido do número de ordem do indicador dentro da classe (1 a 12) e os índices que significam: • super-escrito1 - indicador seleccionado da literatura de SI; • super-escrito2 - indicador seleccionado da literatura e em serviços de saúde; • natureza - número entre parênteses, indicador (qualitativa (1), quantitativa (2) bivalente (3), que pode assumir valor quantitativo ou qualitativo, de acordo com o contexto. Desprezou-se indicador considerado muito técnico ou específico à compreensão do utilizador tipificado (e.g., precisão da informação). 6.7 Descrição sumária do desenvolvimento do estudo Conforme mostra a estrutura da tese, este estudo foi dividido nas fases (Figura 1.2): • estudo da literatura da investigação (capítulo 1 a 5); • conceptuação de elementos e descrição da metodologia utilizada (capítulo 6); • realização da investigação: estudos de caso (2) e questionário (capítulo 7 e 8); • análise de resultados e conclusões do estudo (capítulo 9 e 10). 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 145 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Estudo de caso em Recife: ambiente, SI, actividades, serviços, indicadores, etc. Análises: resultados dos questionários triangulação com os estudos de caso Análises: validação dos indicadores de SI integrados de serviços, ambientes, serviços Definição da estrutura do questionário; aplicação em RMs e avaliação de indicadores de SI Estudo de caso no Rio de Janeiro: ambiente, SI, actividades, serviços, indicadores Resultados: impactos de SI em serviços desempenho de instituições de saúde Figura 6.3 Estrutura de desenvolvimento da investigação. Locais de realização da investigação: i) Estudos de caso - Recife e Rio de Janeiro; ii) Questionários instituições de saúde das RMs de Recife, Fortaleza, Salvador. Figura 6.4 Mapa político do Brasil: Regiões, Estados, Territórios e Capitais. 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 146 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Conforme mostra a Figura 6.3, foram desenvolvidos estudos de caso (2) e aplicados questionários, conforme define os tópicos 6.4 e 6.5. Realizou-se um estudo de caso num hospital de Recife (Nordeste) e outro em hospital do Rio de Janeiro (Sudeste), este para ampliação do foco do estudo e conhecimento de ambiente e realidade de região fora do Nordeste, visando-se assim, cobrir um universo maior (Figura 6.4). Os questionários foram aplicados em hospitais das Regiões Metropolitanas de Recife, Salvador, Fortaleza e tiveram o objectivo de colher maior quantidade e especificidade de dados /informação no âmbito do estudo. 6 Descrição da metodologia de desenvolvimento do estudo 147 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Capítulo 7 "Destes Anrique (dizem que segundo Filho de um rei de Hungria experimentado) Portugal houve em sorte, que no mundo Então não era ilustre nem prezado; E, para mais sinal de amor profundo, Quis o rei castelhano que casado Com Teresa, sua filha, o conde fosse; E com ela das terra tomou posse. Este, depois que contra os descendentes Da escrava Agar vitórias grandes teve, Ganhando muitas terras adjacentes, Fazendo o que a seu forte peito deve, Em prémio destes feitos excelentes Deu-lhe o supremo Deus, em tempo breve, Um filho que ilustrasse o nome ufano Do belicoso Reino Lusitano." CAMÕES (Os Lusíadas: III 25-26, a formação do Reino Lusitano) 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso Neste capítulo trata-se de dois estudos de caso: um realizado no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC, Recife) e outro realizado no Hospital de Traumatologia e Ortopedia (HTO, Rio de Janeiro), ambos sobre os efeitos ou impactos que SI integrados podem exercer sobre serviços de saúde. No final dos estudos de caso foram realizadas catorze entrevistas, cujos dados e resultados foram tratados e incluídos no Anexo A. No início, descrevem-se os ambientes hospitalares dos dois estudos de caso, a forma de selecção dos serviços de saúde. Na sequência, apresentam-se os indicadores de desempenho de SI adoptados na investigação (classificados por dimensões ou categorias: A, B, C, D, E); discutem-se os resultados das entrevistas, que são partes os estudos de caso. A análise dos dados foi feita com base nas características dos ambientes dos hospitais, nos conteúdos e indicadores das entrevistas (Anexos A.1, B). A apuração dos indicadores foi realizada com ajuda da técnica open coding do método grounded theory [Strauss e Corbin 1990, Orlikowski 1993]. Para ilustrar os resultados utilizam-se tabelas e gráficos. No final, apresentam-se alguns resultados. 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 148 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 7.1 Contextos dos hospitais dos estudos de caso Estudou-se dois ambientes hospitalares relativamente aos seus sistemas informáticos integrados de gestão para confrontação de informação, procedimentos, categorias, indicadores de desempenho e conceitos envolvidos nesta investigação. Para atingir maior cobertura e diversidade, seleccionou-se hospitais de cidades distantes e realidades sócioeconómicas diferentes: o HUOC - Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Recife, Nordeste) e HTO - Hospital de Traumatologia e Ortopedia (Rio de Janeiro, Sudeste), que SI integrados de gestão e fazem parte do Sistema Único de Saúde (SUS) do Ministério da Saúde (MS), universo da investigação. O primeiro estudo de caso foi realizado no HUOC, no primeiro trimestre de 2001. Esse hospital pertence à Universidade de Pernambuco (UPE), é utilizado em apoio ao ensino de estudantes de Enfermagem, Odontologia, Medicina e possui um programa de residência académica para recém formados. É referência regional nos serviços de cardiologia, pneumologia, oncologia, doenças infecto-parasitárias e cirurgias de transplante de fígado. Possui uma maternidade de referência para gestantes de alto risco. A UPE possui os campus de saúde e um tecnologia, em Recife; mais quatro campus da área de educação (formação de professores) no interior do Estado (Camaragibe, Nazaré da Mata, Garanhuns, Petrolina). Conta hoje com mais de 800 professores, cerca de 15 mil alunos, 2,3 mil funcionários; possui 23 cursos de graduação e mais de trinta cursos de pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado). 7.2 Selecção das unidades e serviços para os estudos O critério de selecção de unidades e serviços de saúde para realização do estudo foi, basicamente, a utilização de SI de gestão nos sectores. Foi dada prioridade a unidades /serviços que mais utilizavam o SI em actividades finais do hospital. Tipos de unidades estudadas: • Unidades médicas utilizadoras directas do SI (prioridade 1): recepção de pacientes, atendimentos ambulatoriais (marcação de consultas, exames, terapias), 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 149 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho tratamento de pacientes (medicação e cuidados), internamento (admissão e alta), gestão de medicamentos (farmácias), gestão de serviços de nutrição e dietética. • Unidades de apoio a actividades do hospital (prioridade 2): facturamento de contas médicas, compras de materiais e medicamentos, controlo de stocks, arquivos e cadastros médicos. • Unidades gestoras do hospital (prioridade 3): coordenação de serviços, directorias, controlos internos, sectores de apoio à gestão (menor ênfase). Preliminarmente, percorreu-se os hospitais para avaliação e selecção de unidades utilizadoras do SI. Definiu-se roteiros, unidades e serviços informatizados. As técnicas utilizadas foram: observação directa, análise de documentos e de ecrãs, consulta a ficheiros e, finalmente, realização de entrevistas padronizadas com utilizadores directos do SI nos serviços estudados. 7.3 Entrevista e observação directa Catorze entrevistas fizeram parte dos estudos de caso: dez no HUOC e quatro no HTO. As pessoas entrevistadas foram seleccionadas nas unidades /serviços, justamente as que mais conheciam a operacionalização do SI integrado de gestão: gerentes de serviços, chefes de sectores, coordenadores médicos, enfermeiros, nutricionistas e responsáveis pela operacionalização do SI. Adoptou-se um modelo de entrevista estruturada (Anexo A.1). Cada entrevista durou uma hora, aproximadamente. Os objectivos das entrevistas foram comparar elementos da metodologia do estudo (capítulo 6), analisar procedimentos e funcionalidades dos SI integrados de gestão nas unidades /serviços; estudar e /ou validar a utilização das classes de indicadores de desempenho de SI de instituições de saúde da investigação (Tabela 6.1). A observação directa de processos, tarefas e acções em unidades /serviços e a realização das entrevistas foram as técnicas mais utilizadas nos estudos de caso para percepção de benefícios, dificuldades e avaliação de problemas de utilização dos SI integrados de gestão nos dois hospitais. 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 150 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 7.4 Estudo no Hospital Universitário Oswaldo Cruz Neste hospital estudou-se, principalmente, a utilização do SI em unidade cardiológica, que trata pacientes que necessitam de cuidados semi-intensivos, ou seja, pacientes que sofreram patologias cardiológicas graves ou estão sob potenciais riscos dessas enfermidades. Na unidade, médicos utilizam o SI como ferramenta de apoio em tratamento de pacientes. Dados sobre medicamentos são disponibilizados à farmácia para designação de remédios a serem administrados aos pacientes. Outros dados são transmitidos aos serviços de nutrição e dietética, para orientar a preparação dos alimentos dos pacientes. Igualmente, os médicos utilizam a informação para acompanhar a evolução do estado de saúde dos pacientes e facturamento de contas médicas. Por exemplo, sobre a utilização da informação clínica do SI integrado de gestão em um dos hospitais estudados, um médico afirmou: "... Podemos citar, dentre os efeitos, a informação que transmitimos à Farmácia e à Nutrição /Dietética (prescrições médicas de medicamentos e para preparo de alimentos de pacientes). Para isto é preciso manter os dados dos pacientes actualizados e manter comunicação electrónica com esses sectores (efeito da integração). É importante citar a rapidez com que as prescrições são aqui feitas e atendidas nas outras Unidades" (Anexo A.1, Entrevista 2, Questão 1.2). Segundo um chefe de unidade cardiológica, o SI tinha sido implementado no serviço há um ano e meio. Constatou-se que os médicos utilizam a ferramenta naturalmente. No entanto, apesar do bom nível de aceitação do SI, médicos reclamaram que precisavam de decorar funções de teclas e códigos de procedimentos, porque o software utilizado não possuía interface gráfica, nem todas as tabelas de procedimentos das actividades cardiológicas. Sobre isto, um médico declarou: "... Seria ideal um sistema que produzisse ficha médica completa ou ficha padrão, de forma que nós não precisássemos de digitar muito" (Anexo A.1, Entrevista 2, Questão 5.1). 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 151 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Um profissional de saúde entrevistado afirmou que as principais vantagens do SI integrado para a sua Unidade são: "... Com o sistema há menos enganos e mais segurança na prescrição médica. Melhor qualidade no entendimento das prescrições (ausência de erros de caligrafia); ganho de tempo para tratamento de pacientes; rapidez na comunicação: envio e consulta de dados entre unidades: Farmácia, Nutrição e Dietética, Admissão de Paciente" (Anexo A.1, Entrevista 1, Questão 3). Acrescentou esse mesmo médico: "... Os benefícios são tão evidentes que, após utilizar o sistema não se admite retorno ao estado anterior (antes do sistema). Por exemplo, não se pensa voltar a fazer prescrição médica de forma manual. Vejo como desvantagem, paradas do sistema por problemas técnicos. Deveria haver outra solução para as interrupções" (suporte de plano paralelo; Anexo A.1, Entrevista 1, Questão 4). O software do HUOC possui vários módulos integrados: atendimento de ambulatórios (marcação de consultas, exames, terapias), admissão de pacientes, tratamento de paciente, laboratórios clínicos, farmácias, serviço de nutrição e dietética, controlo de materiais e medicamentos, licitação e compra, facturamento de contas médicas, gestão financeira. Alguns médicos e funcionários afirmaram que tiveram alguma dificuldade quando iniciaram a utilização da ferramenta, o que foi superado depois. Considerou-se isto normal, tomando-se em conta a formação e o interesse dos profissionais de saúde. Após a fase inicial, empregados e médicos passaram a defender a adopção do produto. Notou-se que, de modo geral, os médicos assimilam rapidamente a utilização das ferramentas integradas, comparativamente a profissionais de áreas não tecnológicas (ciências humanas, sociais, jurídicas). Sobre benefícios de tratamento de pacientes, um coordenador médico declarou: "... Podemos citar a agilidade nas prescrições e tratamento de pacientes; gestão de dados de pacientes, facturamento dos serviços; mais tempo para cuidar de pacientes" (Anexo A.1, Entrevista 2, Questão 3). 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 152 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 7.5 Estudo no Hospital de Traumatologia e Ortopedia O segundo estudo de caso foi realizado no HTO em abril/2001 e seguiu os mesmos princípios do primeiro estudo. Este não é hospital geral ou de emergência, portanto não sofre a pressão a que tais hospitais estão geralmente submetidos. O HTO é uma instituição especializada que trata de pacientes encaminhados por outros hospitais do Rio de Janeiro. É um hospital federal, pertence ao Ministério da Saúde, é referência nacional em tratamento de problemas ortopédicos e traumáticos (muitos decorrentes de acidentes), artrose, doenças da coluna e outras patologias traumáticas e ortopédicas. O HTO trabalha com consultas marcadas e atende grande número de pacientes em tratamento e acompanhamento de problemas traumáticos e ortopédicos. Possui estrutura organizacional moderna, staff médica especializada e funcionários qualificados. Dispõe de residência académica para especialização de médicos. Durante realização do estudo de caso, encontrava-se em fase final de reformas e submetido a processo de acreditação de qualidade pela JCAHO (Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations), entidade internacional de acreditação de instituições de saúde (EUA). Segundo a direcção, concluído o processo, é intenção do Ministério da Saúde utilizá-lo como modelo para avaliar outros hospitais do SUS. Nesse hospital estudou-se com mais profundidade o subsistema de atendimento de ambulatórios (marcação de consultas, exames, terapias). Essa unidade possui empregados treinados para utilizar o SI e sobre outros recursos de informação. O SI informatizado, a rede de comunicação interna e outros instrumentos de informação compõem o sistema de informação global do hospital, que produz efeitos visíveis no desempenho dos serviços oferecidos aos pacientes, conforme declarou um coordenador de atendimento de ambulatório: "... Com o sistema conseguimos rapidez no atendimento, satisfação do paciente, melhor controlo de marcação de consultas" (impacto organizacional; Anexo A.1, Entrevista 11, Questão 2). Durante o estudo constatou-se que o SI do hospital se comporta como forte ferramenta de ajuda em acesso aos serviços de saúde, e.g., na pesquisa de informação de paciente na 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 153 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho bases de dados, a partir de algum dado do solicitante (nome, data de nascimento, nome da mãe). Exemplo: naquela ocasião, uma senhora veio ao serviço de ambulatório e forneceu o nome de uma vizinha ("Ilzete" ou "Ilsete", não sabia a grafia correcta) e a data de nascimento, para marcação de consulta e reinicio de tratamento. Porém, ambos os campos de dados estavam errados. Para resolver o problema, a atendente acedeu o SI com "Il*" e "Josefa*" (início do suposto nome da doente e primeiro nome da mãe). Resultado, a pesquisa encontrou "Ildete ..." (diferente de "Ilzete" ou "Ilsete", informados inicialmente). Segundo as atendentes dos ambulatórios, problemas desse tipo são comuns quotidianamente no hospital. Nem todas as unidades do HTO estão integradas no novo SI (a implementação de mais serviços está em curso). Na realização do estudo neste hospital, verificou-se que o paciente ao ser atendido em serviço de saúde que não tinha sido ainda incorporado ao SI integrado, era-lhe solicitado ir à unidade posterior ou retornar ao serviço anterior para actualizar seus dados. Segundo as atendentes, esse procedimento permitiria assegurar futuros benefícios para pacientes relativamente aos serviços do hospital. Chamou-se tal procedimento de "efeito antecipado ou periférico" da integração dos serviços no SI, ou seja, antes de concluída a implementação, poderia antecipar-se benefícios para pacientes. Embora isso tenha produzido efeitos positivos para hospital e pacientes, constatou-se que criava transtornos para as atendentes e os pacientes. Concluiu-se que só a integração completa do SI permitiria diminuir actividades burocráticas inerentes ao processo, quando então poderiam minimizar-se problemas de controlos adicionais, o que vai de encontro ao estudo de Wang e Fui-Hoon Nah (2002). Durante o estudo identificaram-se ocorrências de construções de "fluxos indirectos de informação" externos ao SI, que significa: por meio da ferramenta iniciavam-se fluxos de informação que prosseguiam e eram completados no exterior do sistema. Terminavam quando os serviços correspondentes eram concluídos. Exemplo: quando um médico precisava de se ausentar de suas actividades no hospital por motivo não programado, sua lista de pacientes era reprogramada com a participação da secretária, central telefónica, 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 154 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Correios e outros actores externos ao sistema. Sobre o ordenamento dos serviços, um chefe de secção de internamento disse: "... Houve melhor organização dos dados dos pacientes: Cadastros e Prontuários (impacto organizacional). No início pode ser trabalhoso mas produz muitos benefícios. Por exemplo, segurança na identificação do paciente" (qualidade, impacto organizacional; Anexo A.1, Entrevista 12, Questão 1.2). O serviço de Atendimento de Ambulatórios do HTO foi avaliado durante uma semana. Foram estudadas as funções do SI e os serviços disponibilizados aos utentes. Nessa unidade, os módulos do software de atendimento exibem facilidades úteis e até complementadas com funções externas ao SI, e.g. avisos telefónicos e telegramas para pacientes. Sobre as actividades do ambulatório, um coordenador afirmou: "... São feitas aberturas de prontuários de pacientes, marcação e confirmação de consultas, fornecem informação sobre utentes (pacientes atuais e antigos); há o agendamento de consultas (por especialidades) e remarcação de consultas agendadas" (remarcação de consulta é comunicado ao paciente por telefone e confirmado por telegrama; Anexo A.1, Entrevista 11, Questão 2). 7.6 Realização das entrevistas Durante o estudo foram feitas catorze entrevistas nos hospitais (HUOC, HTO), com empregados (administrativos, técnicos, gestores) e profissionais de saúde que trabalham directamente com o SI na oferta dos serviços de saúde (médicos, auxiliares, enfermeiros, nutricionistas). Utilizou-se modelo padronizado, i.e., a todos os entrevistados foram feitas as mesmas perguntas para percepção de benefícios, dificuldades e problemas sobre as ferramentas integradas utilizados nos hospitais. A estrutura de cada entrevista contém informação sobre (Anexo A.1): • Dados de identificação: nome, função, formação e hospital do entrevistado. • Dados sobre o SI: nível de integração, efeitos de desempenho, tipo do hospital. • Actividades do hospital relacionados com o SI (nível operacional, planeamento, controlo, gestão, decisão, estratégico). • Benefícios relacionados com o SI (na unidade, no hospital, em órgãos externos). 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 155 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho • Indicadores de desempenho de SI: eficiência, qualidade, custo-benefício, custos, produtividade e parâmetros relativos aos serviços de saúde. • Vantagens, desvantagens, problemas e sugestões sobre a utilização do SI. 7.7 Codificação de categorias e indicadores das entrevistas As respostas das entrevistas foram analisadas e codificadas (Anexo A) com base na técnica open coding do método grounded theory [Strauss e Corbin 1990, Orlikowski 1993] da seguinte forma: os conteúdos foram avaliados de acordo com as categorias de indicadores (A, B, C, D, E), repetida neste tópico para facilitar a análise dos indicadores. Classe A - Qualidade do sistema. Grau de perfeição que o SI apresenta em apoio à realização de actividades de serviços de instituições de saúde. Classe B - Utilização da informação. Nível de uso da informação do SI em serviços de saúde. A1 - Entendimento de funcionalidade [I] A2 - Facilidade de acesso 4[I] A3 - Facilidade de utilização1,2 [I] A4 - Integração de unidades /serviços1,2 [III] A5 - Qualidade de recursos gráficos1,2 [I] A6 - Funcionamento do SI sem avaria2 [II] B1 - Frequência de utilização1 [II] B2 - Motivação de utilização1 [I] B3 - Quantidade de utilizadores1 [II] B4 - Utilização em unidade /serviço2 [III] B5 - Utilização em planeamento /gestão1,2 [III] B6 - Utilização em pesquisa de saúde2 [III] B7 - Utilização por órgãos externos2 [III] Classe C - Satisfação dos utilizadores. Grau de aprovação do SI por utilizadores de serviços de saúde. Classe E - Impacto organizacional. Efeitos ou impactos que o SI pode exercer globalmente em apoio a actividades de serviços de saúde. C1 - Satisfação com o sistema1 [I] C2 - Satisfação com a informação1 [I] C3 - Satisfação da unidade / serviço1,5 [I] C4 - Satisfação da direcção da instituição1,2 [I] C5 - Satisfação dos pacientes2 [I] E1 - Apoio a atendimento de pacientes2 [I] E2 - Redução de custo de stocks1,2 [II] E3 - Eficiência de serviços de saúde1,2 [I] E4 - Qualidade de serviços de saúde1,2 [I] E5 - Produtividade de serviços de saúde1,2 [II] E6 - Custo-benefício de serviços de saúde1,2 [II] E7 - Redução de pessoal1,2 [II] E8 - Inovação de serviços de saúde1,2 [I] E9 - Controlo de materiais /medicamentos1,2 [III] E10 - Realização de metas1,2 6[III] E11 - Aumento de facturamento de serviços1,2[II] E12 - Organização de actividades e serviços2 [I] 1 Classe D - Impacto individual. Efeitos sobre os utilizadores de SI de instituições de saúde. D1-Actualização-qualificaçãoprofissional1,2 [I] D2- Auxílio em identificação de problema1,2 [I] D3- Eficiência em tomada de decisão1 [I] D4- Aumento de eficiência pessoal1,2 [I] D5- Aumento de produtividade pessoal1,2 [II] Tabela 6.1 Classes de indicadores de desempenho de SI de instituições de saúde. (Natureza: [I] qualitativo, [II] quantitativo, [III] bivalente - de acordo com o contexto). 4 Indicador pesquisado na literatura, relativamente a medidas de sucesso de SI. Indicador validado nos estudos de casos dos hospitais, relativamente a medidas de sucesso de SI 1,2 Indicador pesquisado na literatura e validado nos estudos de caso dos hospitais. 5 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 156 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Nesse processo, se as respostas se referiam a impacto de indicadores (Tabela 6.1), seus códigos foram anotados no quadro associado às respostas, conforme ilustra o Quadro 7.1 e os códigos (E5, A4, E12). Nesta codificação a letra indica a categoria e o número representa a ordem do indicador dentro da categoria ou classe. Exemplo (questão): se existe relação do desempenho da utilização do sistema informático integrado no hospital, o que pode ser citado? (Anexo A.1, Entrevista 2, Questão 1.2): E5, A4, E12 "Pode-se citar dentre os efeitos, a informação que transmitimos à Farmácia e à Nutrição e Dietética (prescrições médicas sobre medicamentos e preparo de alimentos dos pacientes)"... relaciona-se a produtividade de serviços de saúde (E5). "Para fazer isto é preciso manter os dados dos pacientes actualizados e estabelecer comunicação electrónica com esses sectores (efeito da integração)"... relaciona-se a nível de integração de unidades e serviços (A4). "É importante citar a rapidez com que as prescrições são aqui feitas e atendidas nas outras Unidades"... relaciona-se a organização de actividades e serviços (E12). Quadro 7.1 Respostas relacionadas com categorias /indicadores (positivos). Quando um entrevistado se referiu à falta ou emitiu conceito negativo em resposta, isto foi codificado com sinal menos à frente do código do indicador (Quadro 7.2: A5-, A4-). Exemplo (questão): que sugestões de melhoria poderiam ser adoptadas no funcionamento do sistema? Adicionalmente, se nenhum indicador foi associado claramente com uma resposta, esta foi considerada apenas comentário do entrevistado (Anexos A.1, B). Foi atribuído valor zero (0) para resposta obrigatória, se o entrevistado não quis ou não soube emitir conceito sobre a questão (falta de informação do entrevistado). 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 157 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho A5-, A4- (Anexo A.1, Entrevista 1, Questão 5.5): "O sistema precisa de utilizar mais telas gráficas"... relaciona-se com a qualidade de recursos gráficos (A5-). " ... para atender mais necessidades do hospital"... relaciona-se com o nível de integração de unidades e serviços (A4-). Quadro 7.2 Respostas relacionadas com indicadores (negativos). 7.8 Análise de resultados das entrevistas Após a análise dos conteúdos das entrevistas, agruparam-se os códigos dos indicadores em categorias e construíram-se gráficos para ilustração de resultados (Figura 7.1 a 7.6). Indicadores de SI de instituições de saúde (SUS, Brasil) O maior percentual das respostas incidiu sobre os indicadores de impacto organizacional (E, 59%), que se apresentaram fortemente relacionados com os ambientes de actuação dos entrevistados. Qualidade do SI (A), utilização da informação (B), satisfação do utilizador (C) e impacto individual (D), receberam menor atenção (5% a 13%). O valor mais baixo (D, 5%) mostra a pouca relação que profissionais de saúde têm com assuntos ligados às TI. 13% 11% 59% 12% 5% A-Qualidade sistema (13%) B-Utilização informação (11%) C-Satisfação utilizador (12%) D-Impacto individual (5%) E-Impacto organizacional (59%) Figura 7.1 Percentuais de categorias de indicadores de SI. Indicador Qualidade do sistema (A) A3- 2 A5- 2 A6- 7 A4- 16 A4 16 Em qualidade do SI destacaramse os efeitos da integração (A4,16). Igualmente, os entrevistados apontaram a falta da integração, quando essa não esteve presente nos serviços (A4-, 16). Houve indicações negativas de casos de avarias dos SI (A6-, 7). Ocorrência Figura 7.2 Indicadores de qualidade do sistema (A). 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 158 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Em utilização da informação (B), o indicador utilização de dados e informação em pesquisa (B6,15) foi o mais apontado. Este facto deve-se às citações dos entrevistados do hospital universitário incluído nos cases (HUOC). O segundo lugar, utilização de dados e informação em planeamento e gestão (B6,12) indicou a importância da informação nessa actividade. Utilização da informação (B) Indicador B2 1 B7 4 B4 6 12 B5 B6 15 Ocorrência Figura 7.3 Indicadores de utilização da informação (B). Satisfação na unidade ou serviço com o SI (C3,13) foi o mais referido, o que sugere aceitação razoável das ferramentas nos hospitais. Satisfação com o SI (C1,7) e satisfação dos pacientes com o SI (C5,6) reforçam a hipótese precedente. Indicador Satisfação do utilizador (C) C1C4 C7 C2 C5 C1 C3 1 3 4 5 6 7 13 Ocorrência Figura 7.4 Indicadores de satisfação do utilizador (C). Indicador Impacto individual (D) D3 D5 D4 D1 D2 1 2 2 3 4 Ocorrência Impacto individual (D) foi a categoria menos citada. Isto pode ser associado à pouca interferência que as TI exercem na formação e no perfil dos profissionais de saúde. Adicionalmente, notou-se que, embora alguns profissionais se interessem por qualificação e novidades das TI, as oportunidades oferecidas pelas instituições são poucas. Figura 7.5 Indicadores de impacto individual (D). 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 159 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Indicador Impacto organizacional (E) E7E1E12E2 E8 E7 E5 E11 E9 E4 E6 E3 E1 E12 1 2 2 2 5 6 8 10 18 20 21 21 38 49 Ocorrência Figura 7.6 Indicadores de impacto organizacional (E). Pela quantidade das respostas da Figura 7.6, constata-se que os entrevistados concentraram a maior parte das opiniões sobre impacto organizacional, o que se considera plausível, pela maior proximidade das actividades dos entrevistados com essa classe de identificadores. Relativamente ao gráfico desta categoria pode-se notar: • Os entrevistados deram maior ênfase à organização de actividades e serviços de saúde (E12, 49) e apoio a atendimento de pacientes (E1, 38), o que confirma a importância do SI em apoio à gestão e execução de serviços de saúde. • O segundo grupo de indicadores: eficiência de serviços de saúde (E3, 21), custobenefício de serviços de saúde (E6, 21), qualidade de serviços de saúde (E4, 20) e controlo de materiais e medicamentos (E9, 18), refere-se a valores específicos (eficiência, custo-benefício, qualidade, controlo de materiais e medicamentos), considerados relevantes pelos utilizadores, para o melhor desempenho da gestão dos serviços de saúde. • O terceiro grupo de indicadores, imediatamente abaixo: aumento de facturamento de serviços (E11, 10), produtividade de serviços (E5, 8), redução de pessoal (E7, 6), inovação de serviços de saúde (E8, 5), relacionados com as actividades 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 160 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho operacionais, importantes na óptica da gestão das instituições, parecem de menor relevância para os profissionais de saúde (dizem ser mais importante a atenção ao 7.9 Citações de entrevistas sobre utilização de SI em serviços de saúde Apresenta-se, a seguir, citações retiradas de parte das entrevistas sobre indicadores de impactos de SI utilizados nos serviços de saúde dos hospitais dos estudos de caso (HUOC, HTO), com base nas questões que originaram as citações. Cada citação termina com um breve comentário. As entrevistas são apresentadas integralmente no Anexo A.1. 7.9.1 Impactos de SI sobre desempenho de serviços Questão 1.2, Anexo A.1: Se existe relação do desempenho da utilização do sistema informático integrado sobre serviços do hospital, o que pode ser citado? Médico de serviço cardiológico: "... O sistema possibilita trabalhar com menos papeis e assim oferece mais agilidade na comunicação entre os sectores. Exemplo: registros de medicamentos para a Farmácia, acesso a dados de tratamento anterior (história pregressa da saúde do paciente). Permite liberar mais tempo dos profissionais médicos para lidarem com pacientes" (Entrevista 1). Comentário: o entrevistado manifestou que o SI integrado atribui impacto positivo no desempenho dos serviços de saúde (classe E), relativamente à produtividade dos serviços, controlo de materiais /medicamentos e na melhoria do atendimento dos pacientes (benefícios quantitativos /qualitativos). Encarregado do SI em sector de nutrição: "... Sobre desempenho pode-se citar a agilidade na execução das tarefas. O controlo dos alimentos era feito manualmente. Rapidez no preparo de dietas, de acordo com stocks de alimentos. Se não há, provê facilidades para aquisição de alimentos (impacto organizacional). Controlo de saída de alimentos perecíveis e não perecíveis, validade de alimentos. Relatórios de movimentação de alimentos, o que não era impossível no passado. Antes do sistema trabalhava-se muito mais, era cansativo e as tarefas atrasavam em média uma semana" (impacto organizacional; 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 161 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Entrevista 6). Comentário: foram referenciados benefícios qualitativos de impacto no desempenho do SI, tais como, aumento da produtividade, custo-benefício e melhoria dos serviços. Chefe de gestão e distribuição de medicamentos: "... Facilidades na centralização de informações de fornecedores. Acesso a custos e a dados de medicamentos. Manutenção e controlos de stocks de medicamentos" (Entrevista 8). Comentário: referência ao impacto organizacional, sobre gestão de actividades e controlo de materiais /medicamentos (benefícios qualitativos /quantitativos). Consultor de sistema: "... O sistema é um instrumento de apoio à gestão do hospital em redução de custos (materiais e medicamentos). Permite agilidade em resultados de exames e atendimentos de pacientes (impacto organizacional). Permite apoio em tratamento e evolução de saúde de paciente" (tratamento e acompanhamento; Entrevista 10). Comentário: o entrevistado apontou impactos da utilização do SI integrado no desempenho de actividades de gestão do hospital (controlo stocks) e apoio ao atendimento dos pacientes (benefícios quantitativos /qualitativos). 7.9.2 Benefícios qualitativos /quantitativos de utilização de SI Citações sobre actividades realizadas com o apoio do SI nos níveis operacional, decisão, estratégico e benefícios para a unidade, o hospital e outras instituições (Anexo A.1). Chefe de sector de admissão de pacientes [operacional]: "... Admissão (internamento) de pacientes. Consulta de dados de pacientes internados, relatórios de internados por procedimentos, pavilhões, religiões (controlo de visitas de comissões religiosas). Movimentações de pacientes entre pavilhões. Atendimento de pacientes por horários" (Entrevista 4, Questão 2). Comentário: foi citado impactos positivos da utilização do SI integrado em actividades de gestão e apoio no atendimento dos pacientes (destacou benefícios qualitativos). 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 162 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Consultor de sistemas [planeamento, gestão, controlo]: "... Apoio à licitação e compra (materiais e medicamentos). Gestão de stocks, bens perecíveis, Farmácia de Manipulação. Processamento do facturamento (ambulatoriais, internamentos). Controlo de custo por centros de custo" (ambulatoriais, internamentos). [Decisão, estratégico] "... Índices dos serviços: internamentos, altas, óbitos, transferências internas e externas ao hospital. Facturamento mensal. Consumo de materiais e medicamentos" (valores quantitativos; Entrevista 10, Questão 2). Comentário: foram citados vários benefícios organizacionais da utilização do SI relativamente à gestão /controlo dos stocks, organização das actividades dos serviços de saúde e apoio ao atendimento dos pacientes (benefícios qualitativos /quantitativos). Gerente de contas médicas [decisão, estratégico]: "... Estatísticas de contas médicas (doença, custo, ganho, prejuízo). Produção mensal para a Directoria" (montantes de contas, valores financeiros; Entrevista 3, Questão 2). Comentário: o entrevistado se refere aos impactos da utilização da informação do SI pela gestão relativamente a valores quantitativos. Chefe de sector de admissão de pacientes: "... Rapidez no atendimento do paciente (impacto organizacional). Melhoria de condições de trabalho no ambiente do hospital (impacto individual, organizacional). Maior interesse em programas de formação profissional. Há pessoas desta Unidade que passaram a estudar informática por conta própria em decorrência da utilização do sistema. Satisfação do paciente" (elogios ao nosso trabalho - impacto no grupo, individual, organizacional; Entrevista 4, Questão 3). Comentário: o entrevistado cita impactos organizacionais do SI (apoio ao atendimento dos pacientes, organização dos serviços), qualificação profissional dos empregados e aumento da satisfação do pacientes do hospital, o que pode ser traduzido como benefícios qualitativos. Chefe de sector de marcação de consultas: "... Marcação de consultas tornou-se mais rápida e os dados legíveis, melhor informação para os médicos, diminuiu filas e houve mais satisfação dos pacientes (impacto organizacional). A introdução do 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 163 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho sistema em nossa Unidade facilitou muito no trabalho" (Entrevista 5, Questão 3). Comentário: há citações de impactos organizacionais (qualidade dos serviços, organização das actividades, atendimento dos pacientes) e aumento de satisfação dos empregados na unidade /serviço (benefícios qualitativos). 7.9.3 Qualidade, eficiência, vantagem /desvantagem de utilização de SI Citações sobre qualidade, eficiência, planeamento, gestão, decisão (Anexo A.1). Gerente de sector de internamento [qualidade]: "... O sistema melhorou a qualidade no atendimento e precisão da informação a nível quantitativo e qualitativo. Hoje os dados também são utilizados pela Universidade em pesquisa, por exemplo, sobre doenças e até sobre religiões. A visão anterior era somente de internamento do paciente" (Entrevista 4, Questão 4). Comentário: o entrevistado citou efeitos do SI na qualidade dos serviços e na utilização da informação em pesquisa de saúde. Gerente de arquivo médico [qualidade]: "... Na área de saúde é muito importante a qualidade dos serviços. Uma coisa é complementar à outra" (Entrevista 14, Questão 5.3). Comentário: refere-se a impacto de qualidade. Gerente de contas médicas [eficiência]: "... Com a utilização do sistema foi possível diminuir para metade, o número de empregados nesta Unidade e reduzir a carga horária de 8 para 6 horas diárias. Hoje as contas dos internamentos são preparadas até o dia 27 do mês e as contas dos ambulatórios até o 4o dia útil do mês seguinte. Antes não era possível processar as contas nos prazos determinados pelo SUS" (Entrevista 3, Questão 4). Comentário: há referências sobre vários indicadores de impacto organizacional positivos (redução de pessoal, eficiência de serviços, aumento de facturamento, produtividade). Gerente de marcação de consultas [eficiência]: "... Com o sistema tudo é mais organizado, mais rápido, diminui papel. Antes cada médico tinha uma pasta. São quase cem médicos que trabalham neste hospital" (efeitos da integração; 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 164 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Entrevista 5, Questão 4). Comentário: o entrevistado citou impactos sobre a organização e a inovação dos serviços de saúde (benefícios qualitativos). Gerente de sector de internamento [desvantagem] "... Paradas do sistema por problemas técnicos. Interrupção do atendimento quando o sistema cai. Assim, deveria haver outra solução para as interrupções do sistema" (apoio de plano paralelo; Entrevista 4, Questão 5.2). Comentário: foi citado impactos negativos no hospital quando do SI integrado pára. Coordenador de serviço médico [desvantagem]: "... Diminuição de RH (desemprego). Perda de dados de pacientes e prejuízos no atendimento quando o sistema pára (falta de plano de contingência de suporte a avarias). Dificuldades de fazer cópias dos dados" (back-up de dados; Entrevista 2, Questão 5.2). Comentário: o entrevistado citou impactos negativos de redução de pessoal e interrupções de serviços apoiados pelo SI integrado. 7.9.4 Custo-benefício de utilização do SI Coordenador de serviço médico [custo-benefício]: "... Diminuiu a necessidade de RH. Os benefícios qualitativos são evidentes. Possibilita estudos de casos clínicos. Agilidade na administração da medicação, o que é fundamental em tratamento de pacientes" (Entrevista 2, Questão 4). Comentário: são citados indicadores qualitativos de utilização do SI e uso da informação em pesquisa de saúde. Chefe de sector de internamento [custo-benefício]: "... Por meio do Prontuário do paciente nota-se que houve melhoria de benefícios porque hoje há uma visão do que ocorre com o paciente no hospital (efeito da integração). Por outro lado, as informações do paciente são igualmente úteis para as demais Unidades, incluindo o Facturamento (efeito da integração). Isto compromete a todos em atender e facilitar a alimentação do SI para obtenção de melhores benefícios para o hospital" (efeito da integração; Entrevista 4, Questão 4). Comentário: o 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 165 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho entrevistado se refere a benefícios para actividades e a integração da informação dos serviços de saúde. Gerente de arquivo médico [custo-benefício]: "... Há maior custo-benefício. Há melhor dinamicidade até na função arquivo (SAME). Hoje há o conceito de arquivo activo, realizam-se muitas pesquisas. Ao contrário de antigamente, houve grande motivação dos funcionários" (impacto individual, organizacional; Entrevista 14, Questão 4). Comentário: foram referenciados indicadores organizacionais de custo-benefício e qualidade relativamente à utilização do SI. Chefe de serviço médico [custo-benefício]: "... Vale a pena porque favorece a factores de economia, controlo, eficiência e qualidade do serviço. Exemplo, compra de material que pode estar sobrando em outras Unidades" (Entrevista 1, Questão 5.3). Comentário: o entrevistado destacou a eficiência e a qualidade dos serviços, o controlo de materiais /equipamentos e a redução de stocks. Gerente de contas médicas [custo-benefício]: "... Os benefícios do SI superam os custos. Exemplo: quando este hospital adoptou o sistema há mais de quatro anos outros três grandes hospitais da cidade também adquiriram o mesmo software. Quando mudaram as Directorias dos outros hospitais as novas direcções devolveram os seus sistemas porque acharam os contratos elevados. A partir de então, passaram a ter prejuízos com o aumento de glosas (rejeição) de contas do facturamento, quando então adquiriram o sistema" (Entrevista 3, Questão 5.3). Comentário: foi mostrado que aumentam os benefícios em decorrência do aumento do facturamento (benefícios quantitativos). Gerente de marcação de consultas [custo-benefício]: "... Vale a pena, creio que os benefícios superam os custos. Este serviço tem que ser informatizado. Por exemplo: uma paciente diz: "Não sei meu número, nem médico e data da consulta" ... A resposta para esse tipo de pergunta é muito importante para o paciente e para o serviço. Facilita muito ao atendimento" (Entrevista 5, Questão 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 166 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 5.3). Comentário: o entrevistado destacou a satisfação dos utilizadores, o apoio no atendimento dos pacientes e a organização das actividades e serviços de saúde. 7.10 Alguns resultados Os dois hospitais dos estudos de caso (HUOC, HTO) foram seleccionados após um levantamento no Departamento de Informática do SUS (DATASUS) em Brasília, e realização de consultas de fornecedores de software da área de saúde em Recife, São Paulo e Brasília. Realizou-se também uma pesquisa via meio electrónico. Os objectivos dos estudos de caso nos hospitais foram: • Obter possíveis respostas de questões da investigação (Quadro 1.1). • Comparar elementos da metodologia (capítulo 6), validar indicadores de desempenho de SI orientados à saúde (Tabela 6.1). • Analisar impactos positivos e negativos da adopção de SI integrados de gestão em saúde, comparativamente à estrutura teórica da tese (capítulos 1 a 5). • Avaliar procedimentos e funcionalidades dos SI integrados de gestão nas unidades /serviços de saúde (capítulo 7). • Estudar variáveis /indicadores para estruturação do questionário aplicado em instituições de saúde do SUS (Recife, Salvador, Fortaleza - capítulo 8). Algumas conclusões deste estudo são apresentadas a seguir. As conclusões mais gerais da investigação fazem parte do capítulo 9. Nos estudos de caso, verificou-se nas unidades /serviços que as ferramentas de gestão dos hospitais apresentavam nível razoável de integração, de acordo com os resultados das entrevistas e informação da observação directa de processos de entrada, saída e transferência de dados entre os sectores avaliados. Segundo os utilizadores entrevistados, os níveis de desempenho dos produtos relativamente a custo-benefício (qualitativo, quantitativo), satisfação, eficiência, produtividade atendem às instituições (Ref. Q1, Quadro 1.1). Foram analisadas actividades de entrada de dados, geração de relatórios, consulta de informação e transacções de transferências dados /informação de tratamentos 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 167 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho clínicas de pacientes e de gestão dos hospitais. Em geração de relatórios /informação, notou-se que o nível operacional dos hospitais apresentaram grau bom de atendimento, de acordo com os utilizadores questionados. No entanto, nos níveis gerencial e estratégico observou-se grau deficiente de produção de informação, o que vem provocando reclamações de utilizadores relativamente ao atendimento de informação para as necessidades, principalmente, em acções de planeamento de médio e longo prazo das actividades dos hospitais. De acordo com os utilizadores, os SI integrados de gestão são boas ferramentas de auxílio à investigação médica. O produto instalado no HUOC ressaltou essa função, provavelmente, por ser este um ambiente universitário onde a pesquisa é actividade de rotina de médicos, professores e estudantes de saúde. Os utilizadores relataram vários benefícios qualitativos da utilização dos SI em actividades dos hospitais. Isto permitiu constatar que em instituições que cuidam de saúde os benefícios qualitativos dessas ferramentas podem ser mais realçados por utilizadores que os benefícios quantitativos (Ref. Q2, Quadro 1.1). Esta constatação contrariou algumas expectavas do estudo, que esperava evidenciar mais os valores quantitativos (e.g., custo, produtividade, benefício quantitativo, desempenho de ferramenta). Por exemplo, no HUOC, por meio de instrumentos de pesquisa (queries) em bases de dados, médicos e outros profissionais de saúde identificam ocorrências epidemiológicas por meio da análise da frequência dos dados dos pacientes. Os resultados deste trabalho são vistos pelos médicos como uma ajuda importante na investigação, pois permite programar intervenções localizadas sobre determinada população. Verificou-se nos estudos de caso que os utilizadores, especialmente os médicos, aprendem com facilidade o manuseio dos produtos integrados. Muitos afirmaram que encontraram algumas dificuldades nos primeiros contactos com a ferramenta, mas isto é superado após a fase inicial. Constatou-se que, após se familiarizarem com os produtos, 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 168 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho os utilizadores passam a pedir a adição de novos módulos ou funções para atendimento de novas actividades de unidades /serviços (Ref. Q5, Quadro 1.1). Nos estudos de caso notou-se que o software de um dos hospitais possuía mais recursos gráficos que o produto do outro hospital. O produto que possuía menos recursos gráficos apresentou algumas funcionalidades direccionadas aos processos de formação das bases de dados, para atendimento de necessidades de gestão do hospital, porém mostrou ineficientes em actividades clínicas e atendimento de pacientes. Notou-se que a falta de recursos gráficos causava disfunções operacionais e produziam dificuldades nas tarefas dos utilizadores. Consequentemente, isto produzia impactos na insatisfação dos utilizadores /pacientes. Os médicos foram os utilizadores que mais reclamaram da ineficiência de recursos gráficos nos pacotes. Porém, o produto que possuía mais recursos gráficos e que estava apoiado num conjunto maior de parâmetros /tabelas, apresentou mais facilidades funcionais e nível maior de satisfação de utilizadores, principalmente, em relação ao atendimento de ambulatórios e tratamento clínico de pacientes. Observou-se que o impacto positivo ou negativo da utilização dos SI integrados dos hospitais relacionam-se a outras funções de gestão, por exemplo: • Coordenação de serviços: constatou-se necessidades de desenvolvimento de acções contínuas de encaminhamento de soluções de pacientes, relativamente a composição de informação para inputs do SI e produção de informação de atendimento em unidades /serviços. Isto exigia uma forte interacção dos coordenadores dos serviços dos hospitais. • Formação de atendentes: esses funcionários devem possuir boa formação em relacionamento interpessoal e precisam ser treinados nas ferramentas do SI. • Pesquisas sobre bases de dados: o software deve ser apoiado em bases de dados actualizadas e deve possuir bons arranjos para pesquisar informação nas bases de dados, relativamente ao atendimento de muitas questões do atendimento de ambulatório e do tratamento clínico dos pacientes, que são actividades-fonte de boa ou má satisfação de utilizadores dos SI nos hospitais. 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 169 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho • Suporte do sistema de informação do hospital: o software integrado também deve se apoiar no sistema de global de informação do hospital, que, geralmente, é formado de setas de orientação, placas luminosas, mostradores electrónicos, sistemas de som e outros instrumentos de informação. Esses recursos ajudam na resolução de problemas dos pacientes, portanto, podem influenciar de forma positiva ou negativa nos efeitos da ferramenta integrada de gestão sobre os serviços da instituição de saúde. 7 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Estudos de caso 170 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Capítulo 8 "Mas já o príncipe Afonso aparelhava O lusitano exército ditoso Contra o Mouro que as terras habitava De além do claro Tejo deleitoso; Já no campo de Ourique se assentava O arraial soberbo e belicoso, Defronte do inimigo sarraceno, Posto que em forma e gente tão pequeno. Em nenhua outra cousa confiado Senão no sumo Deus que o Céu regia, Que tão pouco era o povo baptizado Que, para um só, cem mouros haveria, Julga qualquer juízo sossegado Por mais temeridade que ousadia Cometer um tamanho ajuntamento, Que para um cavaleiro houvesse cento." CAMÕES (Os Lusíadas: III 42-43, D. Afonso Henriques e os Mouros) 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários Neste capítulo analisa-se os resultados dos questionários (Anexos C, D) aplicados em instituições de saúde, sobre as categorias dos indicadores de desempenho de sistemas informáticos integrados de gestão (SI) utilizados nesses serviços do SUS. Os questionários foram aplicados em hospitais das Regiões Metropolitanas de Recife, Salvador e Fortaleza. As análises dos resultados foram realizadas na ordem dos tópicos do questionário - características dos hospitais e dos entrevistados; indicadores de desempenho de SI utilizados em serviços de saúde e quadro final (opcional). Conforme os procedimentos definidos no tópico 8.3.1, os indicadores foram classificados para identificação dos melhores ou piores, com base na distribuição dos percentuais das respostas, quando os elementos que obtiveram os maiores percentuais de respostas nos graus superiores de importância (5, 4, 3) foram considerados os melhores e os que obtiveram os menores percentuais nestes pontos ou maiores percentuais nos graus inferiores (0, 1, 2) foram considerados os piores. Procedeu-se ainda uma análise visual dos valores e triangulações com os estudos de caso, o que permitiu ordenar indicadores ou esclarecer dúvidas. A utilização de questionários foi definida no tópico 6.5. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 171 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 8.1 Introdução A análise dos resultados dos inquéritos teve como base o modelo do enquadramento desta investigação (Figura 6.2) no estudo de sucesso de SI [DeLone e McLean 1992] e as categorias /indicadores de avaliação de SI utilizados em serviços de instituições de saúde, validados nos estudos de caso (capítulo 7). Classe A - Qualidade do sistema. Grau de perfeição que o SI apresenta em apoio à realização de actividades de serviços de instituições de saúde. Classe B - Utilização da informação. Nível de uso da informação do SI em serviços de saúde. A1 - Entendimento de funcionalidade [I] A2 - Facilidade de acesso 7[I] A3 - Facilidade de utilização1,2 [I] A4 - Integração de unidades /serviços1,2 [III] A5 - Qualidade de recursos gráficos1,2 [I] A6 - Funcionamento do SI sem avaria2 [II] B1 - Frequência de utilização1 [II] B2 - Motivação de utilização1 [I] B3 - Quantidade de utilizadores1 [II] B4 - Utilização em unidade /serviço2 [III] B5 - Utilização em planeamento /gestão1,2 [III] B6 - Utilização em pesquisa de saúde2 [III] B7 - Utilização por órgãos externos2 [III] Classe C - Satisfação dos utilizadores. Grau de aprovação do SI por utilizadores de serviços de saúde. Classe E - Impacto organizacional. Efeitos ou impactos que o SI pode exercer globalmente em apoio a actividades de serviços de saúde. C1 - Satisfação com o sistema1 [I] C2 - Satisfação com a informação1 [I] C3 - Satisfação da unidade / serviço1,8 [I] C4 - Satisfação da direcção da instituição1,2 [I] C5 - Satisfação dos pacientes2 [I] E1 - Apoio a atendimento de pacientes2 [I] E2 - Redução de custo de stocks1,2 [II] E3 - Eficiência de serviços de saúde1,2 [I] E4 - Qualidade de serviços de saúde1,2 [I] E5 - Produtividade de serviços de saúde1,2 [II] E6 - Custo-benefício de serviços de saúde1,2 [II] E7 - Redução de pessoal1,2 [II] E8 - Inovação de serviços de saúde1,2 [I] E9 - Controlo de materiais /medicamentos1,2 [III] E10 - Realização de metas1,2 9[III] E11 - Aumento de facturamento de serviços1,2[II] E12 - Organização de actividades e serviços2 [I] 1 Classe D - Impacto individual. Efeitos sobre os utilizadores de SI de instituições de saúde. D1-Actualização-qualificaçãoprofissional1,2 [I] D2- Auxílio em identificação de problema1,2 [I] D3- Eficiência em tomada de decisão1 [I] D4- Aumento de eficiência pessoal1,2 [I] D5- Aumento de produtividade pessoal1,2 [II] Tabela 6.1 Classes de indicadores de desempenho de SI de instituições de saúde. (Natureza: [I] qualitativo, [II] quantitativo, [III] bivalente - de acordo com o contexto). 7 Indicador pesquisado na literatura, relativamente a medidas de sucesso de SI. Indicador validado nos estudos de casos dos hospitais, relativamente a medidas de sucesso de SI 1,2 Indicador pesquisado na literatura e validado nos estudos de caso dos hospitais. 8 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 172 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho As categorias e os índices dos indicadores definidos (Tabela 6.1), são reproduzidos a seguir, para facilitar as análises, que têm os significados: • super-escrito1 - indicador seleccionado da literatura de SI; • super-escrito2 - indicador seleccionado da literatura e em serviços de saúde; • natureza do indicador - número entre parênteses, pode ser: qualitativa (1), quantitativa (2), bivalente (3), que pode assumir valor quantitativo /qualitativo. O modelo do inquérito foi dividido em três secções (Anexo C.1): 1. Perfil dos hospitais e dos inquiridos: origem, sector de trabalho, tempo que utiliza o SI; localização e tipo da instituição; nível de integração dos SI (parte destinada a pessoas que trabalhavam no sector de informática). 2. Indicadores de desempenho do SI, que se referem às questões de colecta dos dados dos indicadores (categorias A, B, C, D, E). 3. Quadro adicional com 4 questões (opcionais) sobre benefícios, dificuldades, problemas e sugestões de utilização do SI na instituição de saúde. Figura 8.1 Mapa do Nordeste do Brasil: Estados e Capitais. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 173 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Nos tópicos que se seguem, dentro desta ordem, apresenta-se a análise dos resultados dos 66 inquéritos referentes a 16 hospitais das Regiões Metropolitanas de Recife (Pernambuco), Fortaleza (Ceará) e Salvador (Bahia), Figura 8.1. Os inquéritos foram aplicados em 21 hospitais, porém foram eliminados cinco instituições (12 inquéritos), porque estes não atenderam aos requisitos definidos para a pesquisa. 8.2 Características das instituições de saúde e dos inquiridos Este tópico refere-se aos resultados das características básicas relativas aos hospitais e aos entrevistados, apresentados a seguir. Visam contextualizar e auxiliar a análise dos resultados das categorias e dos indicadores. 8.2.1 Tempo médio de utilização dos SI nas instituições Nos hospitais das três regiões pesquisadas, os utilizadores apresentaram os seguintes tempos médios (ano) de utilização das ferramentas de software: 4,3 (Recife), 3,7 (Salvador), 4,4 (Fortaleza), o que resultou na média de 4,1 ano (Anexo C, Tabela C.2) . Estes resultados mostram que as ferramentas foram implementadas nas instituições há pouco tempo, em relação a organizações de outros sectores. Ressalta-se que foram descartados os utilizadores que iniciaram a trabalhar com o SI depois da implementação, pois esta foi uma das pré-condições para a selecção dos entrevistados. Isto visou captar percepções mais precisas sobre a utilidade e o potencial dos produtos, comparativamente a soluções anteriores. 8.2.2 Sectores de actuação dos inquiridos nas instituições Conforme a Tabela C.3 (Anexo C), os inquiridos pertencem aos seguintes sectores dos hospitais: saúde (15,2%), administração (43,9%), informática (33,3%), outro (7,6%). Nota-se que o sector de saúde apresentou um percentual relativamente baixo (15,2%) de utilizadores em comparação aos empregados da área de administração (43,9%)e da informática (33,3%) que concentraram mais que o dobro da saúde. Isto evidencia que 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 174 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho muitos profissionais de saúde não passaram ainda a utilizar eles próprios as ferramentas dos SI em actividades clínicas. Por conseguinte, os profissionais da área de saúde nos hospitais precisam contar com o apoio de profissionais de outras áreas (e.g., administração, informática). O baixo percentual de 7,6% (outro) indica que a amostra representou exactamente os inquiridos das áreas de saúde, administração e informática, como pretendeu delimitar o estudo. 8.2.3 Actuação dos inquiridos na estrutura organizacional As áreas de trabalho dos entrevistados nas estruturas organizacionais dos hospitais ficaram assim distribuídas (Tabela C.4): operacional /apoio (51,5%), administração /gestão (48,5%), direcção /decisão (0%). A concentração dos percentuais de 51,5% e 48,5% nas duas primeiras alternativas atenderam aos objectivos do estudo que procurou focar os utilizadores finais que actuam em nível operacional ou de apoio à saúde (médicos, assistentes, enfermeiros, farmacêuticos, atendentes, laboratoristas) e gerentes de unidades /serviços executados com o suporte dos SI. Como gestores de escalões superiores (direcção, decisão) não utilizam tais ferramentas nos atendimentos directos aos utentes, o inquérito evitou captar percepções desse tipo de profissional para não mascarar os resultados. 8.2.4 Tipos de instituições de saúde dos inquiridos Os entrevistados estão assim distribuídos nas instituições de saúde (Tabela C.5): 39,4% pertencem a hospitais públicos; 34,8% hospitais universitários; 19,7% instituições filantrópicas; 6,1% de hospitais privados que prestam serviços ao SUS. Nota-se que os hospitais públicos apresentaram o maior percentual (39,4%) e os privados o menor (6,1%), visto que poucos hospitais privados têm interesses em prestar serviços ao SUS; as instituições filantrópicas se referem, maioritariamente, às "santas casas de misericórdia" que fazem parte da rede de saúde do SUS no Brasil (e do SNS em Portugal). 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 175 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 8.2.5 Nível de informatização dos serviços de saúde A Tabela 8.1 exibe os percentuais indicativos da informatização das unidades /serviços de saúde, i.e., onde os SI são mais utilizados nos hospitais. As colunas desta tabela representam: a unidade /serviço utiliza SI (A); a unidade /serviço não utiliza SI (B); o hospital não possui a unidade /serviço (C). Como se vê, as unidades /serviços que mais utilizam o SI em serviços de saúde são (coluna A, Tabela 8.1): • 42-Facturamento de contas médicas (1o); • 03-Admissão de pacientes (2o); • 17-Farmácia e 40-Almoxarifado (3o); • 01-Atendimento de ambulatórios, 09-Laboratórios de análises clínicas; • 37-Departamento financeiro (4o) e 38-Departamento de pessoal (5o). Os percentuais das unidades /serviços da coluna (A) são confirmados pelas citações das entrevistas dos estudos de caso. Por exemplo, verificou-se que o sector de Facturamento de contas médicas (42) é informatizado em todos os hospitais pesquisados (exigência do SUS), bem como, Internamento (03), Atendimento de ambulatórios (01), Farmácia (17) e Almoxarifado (40), também possuem SI de gestão. De modo contrário, as unidades /serviços que menos utilizam o SI são (coluna B, Tabela 8.1) são: 20-Lavanderia (1o), 21-Limpeza (2o), 35-Directoria médica (3o), 45-Biblioteca (4o), 43-Planeamento e 47-Segurança (5o). Constatou-se nos estudos de caso que este tipo de unidade /serviço dependem muito de informação para implementação de acções de controlo, mas há poucos SI implementados nessas unidades, o que produz impacto negativo na gestão, segundo gerentes de serviços de saúde (Anexos A.1, A.2, B). 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 176 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Unidade /serviço 01 Atendimento de ambulatórios 02 Emergência 03 Admissão de pacientes 04 Centro terapia intensiva 05 Centro cirúrgico /obstetrícia 06 Centro material esterilizado 07 Enfermagem 08 SAME-arquivo médico 09 Lab. de análises clínicas 10 Diagnóstico por imagem 11 Radioterapia 12 Métodos gráficos 13 Pediatria /neonatalogia 14 Anatomia patológica 15 Hemoterapia 16 Serviço social médico 17 Farmácia 18 Reabilitação 19 Nutrição /dietética 20 Lavanderia 21 Limpeza 31 Recepção do hospital 32 Acesso /circulação no hospital 33 Caixa /tesouraria 34 Directoria 35 Directoria médica 36 Departamento administrativo 37 Departamento financeiro 38 Departamento de pessoal 39 Departamento de património 40 Almoxarifado 41 Licitação /compra 42 Facturamento contas médicas 43 Planejamento 44 Auditoria de contas 45 Biblioteca 46 Manutenção 47 Segurança A (%) 4.3 3.2 5.1 2.7 2.7 1.6 2.7 3.5 4.3 1.9 1.9 0.8 2.4 1.9 1.1 2.1 4.6 1.1 3.8 0.5 0.8 3.5 1.3 2.7 3.2 1.9 3.8 4.3 4.0 2.7 4.6 3.5 5.6 0.8 1.1 0.3 3.2 0.8 Class (4o) o (2 ) (4o) (3o) (4o) (5o) (3o) (1o) B (%) 1.6 1.3 0.7 1.6 2.6 3.9 3.6 2.6 1.3 3.3 2.9 2.0 2.0 1.3 2.3 3.6 1.3 3.3 2.3 5.5 5.2 2.0 3.6 2.3 2.9 4.6 2.3 1.3 2.0 3.6 1.3 2.6 3.9 3.3 4.2 2.3 3.9 Class (1o) (2o) (3o) (50) (4o) (5o) C (%) 4.2 5.1 2.5 2.5 0.8 3.4 4.2 10.2 5.1 8.5 8.5 1.7 5.9 1.7 1.7 1.7 4.2 3.4 0.8 5.1 5.9 5.9 1.7 5.1 Class (5o) (4o) (5o) (1o) (4o) (2o) (2o) (3o) (5o) (4o) (3o) (3o) (4o) Tabela 8.1 Unidades /serviços que mais utilizam x menos utilizam o SI. A classificação obtida a partir das respostas que os utilizadores atribuíram às unidades /serviços que não possuem a unidade /serviço (coluna C, Tabela 8.1) ficou assim: • 12-Métodos gráficos (1o) e 14-Anatomia patológica, 15-Hemoterapia (2o); • 18-Reabilitação, 44-Auditoria de contas médicas, 45-Biblioteca (3o); • 04-CTI, 13-Pediatria /Neonatologia, 43-Planeamento, 47-Segurança (4o); • 32-Acesso /circulação no hospital, 02-Atendimento de emergência (5o). 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 177 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Relativamente a estes serviços, verificou-se que muitos hospitais não os possuem e preferem utilizar serviços sub-contratados (outsourcing). Notou-se ainda que os hospitais públicos dificilmente possuem sectores de Planeamento ou Biblioteca (excluindo-se as instituições universitárias). Isto produz efeitos negativos em acções de gestão e investigação, segundo os profissionais de saúde. Na questão seguinte do inquérito, foi pedido aos utilizadores que, com base na Tabela 8.1, apontassem três unidades /serviços mais informatizados. A Tabela 8.2 mostra os resultados, análogos à tabela anterior. No grupo dos serviços mais informatizados, a maioria se refere a actividades-fim das instituições de saúde, o que indica certo grau de prioridade na informatização dos serviços de saúde, comparativamente a actividades de apoio (administrativas). Unidade /serviço mais informatizado (mais utiliza o SI) Facturamento de contas médicas (42) Atendimento de ambulatório (01) Admissão de pacientes (03) SAME - Arquivo médico (08) Laboratório análises clínicas (09) Almoxarifado (40) Farmácia (17) Recepção do hospital (31) Emergência (02) Departamento financeiro (37) Outros Total Citações (%) Classificação 21,3 11,5 11,5 9,8 9,8 6,6 4,9 4,9 3,3 3,3 13,1 100.0 1o 2o 2o 3o 3o 4o 5o 5o 6o 6o - Tabela 8.2 Unidades /serviços mais informatizados (mais utilizam o SI). 8.2.6 Níveis de integração dos SI Foram desenvolvidas questões no inquérito sobre a avaliação do nível da integração dos SI nos hospitais (dirigidas somente aos profissionais de informática). As questões e os resultados (Tabela 8.3): (i) Os dados do SI do hospital após serem alimentados em uma unidade /serviço, esses mesmos dados (inputs). 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 178 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Questão (i): a) Não precisam ser alimentados em nenhuma unidade /serviço? b) Precisam ser alimentados em uma unidade /serviço? c) Precisam ser alimentados em duas unidades /serviços d) Precisam ser alimentados em mais de duas unidades /serviços? Total % 58,8 35,3 5,9 0,0 100,0 Ordem 1a 2a 3a 4a - Tabela 8.3 Percentuais indicativos de nível de integração dos SI (inputs). Nota-se que os indicativos dos níveis de integração dos SI pesquisados nos hospitais parecem razoáveis, pois em 58,8% dos SI, uma vez os dados alimentados em uma unidade /serviço, não são mais inseridos no SI. No entanto, 35,3% dos inquiridos afirmaram que precisam alimentar os dados em mais de uma unidade /serviço, o que evidencia que uma parcela considerável das ferramentas revela um nível baixo de integração de dados e processos. A questão seguinte do inquérito, análoga à anterior, procurou relacionar indicativos dos níveis de integração dos SI com as facilidades de acesso da informação (outputs) em diferentes sectores dos hospitais. Assim, as questões e os resultados foram (Tabela 8.4): (ii) Após os dados serem alimentados em uma unidade /serviço, esses mesmos dados (outputs) podem ser acedidos em: Questão (ii) % Ordem 4a a) Uma (1) unidade /serviço? 5,9 b) Duas (2) unidades /serviços? 5,9 4a c) Três (3) unidades /serviços? 11,8 3a d) Quatro (4) unidades /serviços? 17,6 2a e) Mais de quatro unidades /serviços? 58,8 1a 100,0 Total Tabela 8.4 Percentuais indicativos de nível de integração dos SI (outputs). De modo análogo, constata-se que os indicativos de níveis de integração da Tabela 8.3 relacionam-se com os indicativos da Tabela 8.4, que apontam um razoável grau de integração de parcela dos SI dos hospitais (d, e); porém, estes resultados indicam que há produtos abaixo do nível mínimo esperado para esse tipo de ferramenta, como revelam os baixos índices dos resultados das questões (a, b, c). 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 179 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Em seguida, tentou-se saber até que ponto os SI cobrem a informatização dos serviços dos hospitais, ou seja, com base no universo das unidades /serviços, que parcela desse todo está sendo atendida pelos SI. Elaborou-se as questões (Tabela 8.5): (iii) Qual é o grau de cobertura (ou abrangência) do SI no hospital? Os indicativos de níveis de cobertura dos SI nos hospitais foram quase linearmente distribuídos (Tabela 8.5), o que permitem afirmar que há hospitais ao longo de toda a faixa do processo de informatização, o que significa dizer, parte dos utilizadores afirmaram que seus serviços estão minimamente atendidos, outros acham que estão na faixa mediana e alguns dizem que estão satisfeitos com os recursos dos SI. Questão (iii) a) Mínima cobertura? b) Pouca cobertura? c) Média cobertura? d) Muita cobertura? e) Máxima cobertura? Total % 11,8 23,3 17,7 17,7 29,5 100,0 Ordem 4a 2a 3a 3a 1a Tabela 8.5 Percentuais indicativos de nível de cobertura dos SI em hospitais. 8.3 Resultados das categorias /indicadores de SI utilizados em saúde A segunda parte do inquérito refere-se aos resultados dos indicadores de desempenho de SI utilizados em serviços de saúde. Estes resultados estão divididos em tabelas de acordo com as categorias ou classes (A, B, C, D, E, Tabela 6.1). O total de 35 indicadores está assim distribuído (Anexo D): • Qualidade do sistema, 6 elementos; • Utilização da informação, 7 elementos; • Satisfação dos utilizadores, 5 elementos; • Impacto individual, 5 elementos; • Impacto organizacional, 12 elementos. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 180 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 8.3.1 Estrutura e aplicação dos inquéritos nas instituições de saúde O questionário (Anexo C.1), exibe as classes dos indicadores em tabelas, define os elementos e orienta os inquiridos como responder. Cada tabela possui duas colunas: à esquerda, com as definições dos indicadores; à direita, possui escalas numeradas de 0 a 5 que representam "o grau de importância ou utilidade do indicador". Assim, foi orientado ao inquirido para circular um grau em cada escala, com base nas definições: • 0 - se não tinha ideia do significado ou importância (falta de informação); • 1 ou 2 - se considerava o indicador de pouca importância (regular); • 3 - se considerava o indicador importante (grau médio, bom); • 4 ou 5 - se considerava o indicador de muita importância (excelente). Em cada hospital foi escolhido um responsável pela distribuição, orientação e recolha dos questionários. Mesmo assim, alguns exemplares tiverem de ser excluídos da amostra, pois não atenderam aos critérios preestabelecidos no estudo. Foram eliminados 12 (14,4%) dos 78 inquéritos, permanecendo na amostra 66 documentos (84,6%). Outra razão para eliminação foi o SI do hospital não ter atingido o nível mínimo de integração definido para o estudo, i.e., que significou: • para o hospital entrar na amostra, o SI de gestão de serviços de saúde deveria ser considerado ferramenta integrada; • ferramenta integrada, seria um software que tivesse, pelo menos, duas unidades /serviços interligados e no mínimo uma dessas deveria ser de apoio directo a serviço de paciente (actividade-fim de gestão de serviço de saúde, Anexo A.1). 8.3.2 Processamento e rateio dos percentuais dos indicadores Os graus das escalas dos indicadores foram avaliados em percentuais (%). Para permitir a comparação de um indicador dentro de cada tabela (classe), bem como, desse com elementos de outras tabelas, foram atribuídos percentuais iguais a todos os indicadores, da seguinte forma, são 35 indicadores, então 100 % : 35 = 2,86 % para cada elemento (linha de tabela). O rateio de 100% entre as tabelas ficou assim: 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 181 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho • Qualidade do sistema, 6 elementos: 6 x 2,86 = ............. 17,16 % • Utilização da informação, 7 elementos: 7 x 2,86 = ....... 20,02 % • Satisfação dos utilizadores, 5 elementos: 5 x 2,86 = .... 14,30 % • Impacto individual, 5 elementos: 5 x 2,86 = ................. 14,30 % • Impacto organizacional, 12 elementos: 12 x 2,86 = ...... 34,32 % (total: 100%). No processamento das tabelas esses percentuais foram distribuídos de acordo com os graus de importâncias das respostas atribuídas pelos inquiridos aos indicadores. Por exemplo, se um utilizador marcou 4 na escala do indicador A2 (facilidade de acesso) da tabela A (qualidade do sistema), isto foi computado na coordenada: A (2, 4). Generalizando, a notação pode ser assim definida: tabelax (indicadori , importânciaj). Por conseguinte, se uma coordenada da tabela (indicador, importância) foi a mais citada (circulada pelos inquiridos), então essa posição recebeu o maior percentual no rateio dos graus de importância da escala (0 a 5); ao contrário, se uma coordenada foi menos citada, então essa recebeu menor percentual; se não foi citada ficou em branco (0%). Utilizando-se este procedimento, tornou-se possível comparar cada posição de tabela, a partir do seguinte conceito dos graus de importância: • horizontal - a linha da tabela define a importância do indicador (0 a 5) relacionada ao percentual (2,86%) - quanto mais à direita (limite 5), melhor é o indicador; • vertical - cada posição da coluna possui um percentual - na mesma coluna, o indicador que tiver maior percentual é melhor dessa em relação às demais. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 182 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 8.4 Análise dos indicadores de qualidade de SI: Categoria A O processamento dos dados dos indicadores de qualidade de sistema (categoria A), produziu a distribuição dos percentuais da Tabela 8.6. - !------- Grau ------" + Indicador (rateio: 100.0/35*6 = 17,16 %) 0 1 2 3 4 5 A1-Entendimento de funcionalidade - - 0,47 0,73 0,86 0,77 A2-Facilidade de acesso - - 0,38 0,69 0,86 0,90 A3-Facilidade de utilização - - 0,34 0,69 0,95 0,86 A4-Integração de unidades/serviços 0,25 0,25 0,38 0,90 0,34 0,69 A5-Qualidade de recursos gráficos 0,30 0,34 0,30 0,90 0,64 0,34 A6-Funcionamento sem avaria 0,04 0,17 0,34 0,82 0,82 0,64 Média 0,20 0,25 0,37 0,79 0,75 0,70 Tabela 8.6 Resultados dos indicadores de qualidade de sistema (A). Nota-se nesta tabela que não houve nenhuma referência aos graus 0 e 1 nos indicadores A1, A2, A3; logo, os inquiridos não tiveram dúvida (0) nem consideraram estes indicadores de pouca importância (1) relativamente à utilização dos SI nos serviços de saúde dos hospitais. Estes indicadores também concentraram os maiores percentuais nos graus 4 e 5 (excelente), assim são os melhores da classe. Verifica-se ainda que: • A distribuição dos percentuais do indicador entendimento de funcionalidade (A1) foi ligeiramente superior em 3 e 4 (curva normal), o que indica que os utilizadores consideram este indicador no nível intermediário (bom), mas poderia ter sido melhor se as respostas tivessem produzido maior percentual no grau 5 (excelente). • Facilidade de acesso (A2), apresentou um ligeiro deslocamento dos percentuais para a direita, com maiores valores em 4 e 5; logo, os entrevistados sentem-se mais satisfeitos com qualidade das facilidades de acesso do que com as funcionalidades das ferramentas. • Além de apresentar o mesmo valor no grau 4 (bom), o indicador facilidade de utilização (A3) têm o maior percentual no grau 5 (excelente); logo, este é o melhor dos três e desta categoria. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 183 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Os indicadores A4, A5 e A6 apresentam percentuais distribuídos de 0 a 5, o que retrata todo tipo de resposta: falta de informação (0), alguns pouco satisfeitos (1, 2), uma parcela considerou as ferramentas de boa a excelente (3, 4, 5). Para determinar os melhores e os piores indicadores procedeu-se a classificação das linhas em ordem decrescente, quando os melhores ficaram no início das listas e os piores no fim, com base no conceito sobre os graus de qualidade das respostas (tópico 8.3.1). Para implementar as classificações, calcularam-se os seguintes parâmetros (Anexo D): i) Grau de distribuição geral dos percentuais ao longo da escala de importância: percentual do grau 3, menos os percentuais nos graus (0, 1, 2), mais os percentuais dos graus (4, 5), ou seja (DistGeral): G3-(G0+G1+G2)+ (G4+G5). ii) Grau de distribuição dos percentuais a partir do grau 3, ou seja (Dist>=G3): G3+G4+G5. iii) Grau de distribuição dos percentuais depois do grau 3, ou seja (Dist>G3): G4+G5. Com base nestes parâmetros, cada tabela foi ordenada e construídas três hipóteses: i) H1 (DistGeral) - tendência da distribuição geral dos percentuais nos graus (0 a 5): quanto maior for este parâmetro, mais à direita se posiciona os valores dos percentuais, logo esse indicador é o melhor da categoria. ii) H2 (Dist>=G3) - tendência da distribuição dos percentuais nos graus de importância a partir do grau 3: se um indicador apresenta maiores percentuais nos graus (3, 4, 5 ), esse é o melhor da categoria. iii) H3 (Dist>G3) - tendência da distribuição dos percentuais nos graus de importância depois do grau 3: se um indicador apresentar maiores percentuais nos graus (4 e 5), esse é o melhor da categoria. Conceptualmente, estas hipóteses são análogas e podem ser explicadas assim: • H1: os melhores indicadores são aqueles que têm a maior quantidade de respostas à direita na escala geral de importância (percentuais maiores nos graus relativos). • H2: os melhores indicadores são aqueles que têm a maior quantidade de respostas 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 184 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho em 3, 4, 5 (foram considerados de bom a excelente). • H3: os melhores indicadores são aqueles que têm mais respostas em 4, 5 (foram considerados excelente). A Tabela 8.7 apresenta os indicadores classificados em ordem decrescente, do melhor ao pior da classe qualidade de sistema (A). A ordenação da tabela com os três parâmetros produziram listas iguais, i.e., as três hipóteses coincidiram (Anexo D.1). INDIC G0 G1 G2 G3 G4 G5 D=G3 D>=G3 D>G3 DistG A3 0 0 34 69 95 86 69 250 181 216 A2 0 0 38 69 86 90 69 245 176 207 A1 0 0 47 73 86 77 73 236 163 189 A6 4 17 34 82 82 64 82 228 146 173 MA 20 25 37 75 75 70 75 220 145 138 A4 25 25 38 90 34 69 90 193 103 105 A5 30 34 30 90 64 34 90 188 98 94 Tabela 8.7 Ordem de importância dos indicadores de qualidade do sistema. Assim, de acordo com a Tabela 8.7, os melhores indicadores de qualidade de sistemas (classe A) apontados pelos utilizadores dos serviços de saúde dos hospitais pesquisados são, na ordem decrescente de importância: • A3- Facilidade de utilização, • A2- Facilidade de acesso, • A1- Entendimento de funcionalidade, • A6- Funcionamento do SI sem avaria, • (MA, média aritmética da categoria), • A4- Integração de unidades /serviços, • A5- Qualidade de recursos gráficos. Pode-se notar, que, a análise dos resultados da Tabela 8.6 coincide com a classificação da Tabela 8.7; logo, o indicador facilidade de utilização (A3) define melhor qualidade que facilidade de acesso (A2) ou entendimento de funcionalidade (A1), no desempenho ou impacto dos SI de gestão utilizados nos serviços de saúde dos hospitais. Por outro lado, 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 185 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho qualidade de recursos gráficos (A5) e integração de unidade /serviço (A4), são os indicadores que produziram os menores efeitos em relação aos SI dos hospitais. O último grupo de indicadores estão abaixo da média aritmética da classe (linha MA), o que confirma serem os de menor desempenho da categoria. Relativamente ao indicador funcionamento do SI sem avaria (A6), este se posicionou no meio da lista, o que o qualifica apenas como medianamente aceitável. Assim, isto indica que existem problemas quanto ao efeito do indicador na operacionalidade dos SI nos hospitais, e.g., os entrevistados nos estudos de caso (Anexo A.2) e nos inquéritos (Anexo B.2) apontaram ocorrências de muitas interrupções dos SI nos hospitais, o que coincide com a qualidade mediana deste indicador. 8.5 Análise dos indicadores de utilização da informação: Categoria B As respostas dos utilizadores sobre a utilização da informação dos SI nas instituições de saúde produziram a distribuição dos percentuais da Tabela 8.8. Os três primeiros indicadores (B1, B2, B3) apresentam resultados semelhantes, inclusive ausência de percentuais em 0 (falta de informação); os indicadores frequência de utilização (B1) e motivação de utilização (B2) são quase idênticos e mostram um ligeiro deslocamento dos percentuais para a direita nos graus (4, 5) em relação ao indicador quantidade de utilizadores (B3). O indicador utilização na unidade /serviço (B4), apesar de depositar um pequeno percentual no grau 0, apresenta o maior percentual do grupo no grau 5, portanto, este é o melhor da categoria. O indicador utilização em planeamento /gestão (B5) produziu uma distribuição quase horizontal; utilização em pesquisa de saúde (B6) e utilização por órgãos externos (B7), tiveram percentuais parecidos até ao grau 3 e alternaram-se a partir deste ponto. No entanto, os três indicadores (B5, B6, B7) apresentam percentuais consideráveis no grau 0 (falta de informação). Portanto, isto evidencia que B5, B6 e B7 são os piores elementos da classe, conforme indica a classificação da Tabela 8.9, relativa à terceira hipótese da classificação destes indicadores (Anexo D.2). 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 186 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho - !------- Grau ------" + Indicador (rateio: 100.0/35*7 = 20,02%) 0 1 2 3 4 5 B1-Frequência de utilização - 0,08 0,30 0,69 0,69 1,08 B2-Motivação de utilização - 0,12 0,30 0,73 0,64 1,03 B3-Quantidade de utilizadores - 0,17 0,43 0,82 0,56 0,86 B4-Utilização na unidade/serviço 0,04 0,12 0,21 0,51 0,64 1,29 B5-Utilização em planejamento/gestão 0,12 0,34 0,47 0,69 0,64 0,56 B6-Utilização em pesquisa de saúde 0,25 0,30 0,69 0,73 0,34 0,51 B7-Utilização por órgãos externos 0,34 0,38 0,47 0,69 0,77 0,17 Média 0,19 0,22 0,41 0,69 0,61 0,79 Tabela 8.8 Resultados dos indicadores de utilização da informação (B). INDIC G0 G1 G2 G3 G4 G5 D=G3 D>=G3 D>G3 DistG B4 4 12 21 51 64 129 51 244 193 207 B1 0 8 30 69 69 108 69 246 177 208 B2 0 12 30 73 64 103 73 240 167 198 B3 0 17 43 72 56 86 72 214 142 154 MB 19 22 41 69 61 79 69 209 140 127 B5 12 34 47 69 64 56 69 189 120 96 B7 34 38 47 69 77 17 69 163 94 44 B6 25 30 69 73 34 51 73 158 85 34 Tabela 8.9 Ordem de importância dos indicadores de qualidade da informação. 8.6 Análise dos indicadores de satisfação dos utilizadores: Categoria C Nota-se na Tabela 8.10 que os indicadores desta categoria produziram distribuições semelhantes e globalmente homogéneas ao longo dos graus de importâncias (0 a 5), o que dificulta, visualmente, tirar conclusões precisas sobre os elementos. Os resultados produziram curvas quase normais, cujas maiores frequências se concentraram nos graus 3 e 4, o que permite considerá-los de importância mediana. Isto indica que os utilizadores não estão plenamente satisfeitos com o desempenho dos SI dos hospitais, porque os percentuais do grau 5 (excelente) são baixos em comparação a outras classes. A classificação dos indicadores produziu duas listas idênticas (hipóteses H1, H2) e uma muito parecida (H3), Anexo D.3. As duas hipóteses (H1, H2) mantiveram em último lugar o indicador satisfação dos pacientes (C5) e em penúltimo a satisfação da direcção da instituição (C4), ambos abaixo da média da classe. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 187 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho - !------- Grau ------" + Indicador (rateio: 100.0/35*5=14,30%) 0 1 2 3 4 5 C1-Satisfação com o sistema 0,04 0,25 0,38 0,90 0,77 0,47 C2-Satisfação com a informação 0,04 0,21 0,21 1,08 0,90 0,38 C3-Satisfação da unidade/serviço 0,04 0,17 0,34 0,69 0,99 0,60 C4-Satisfação da direcção do hospital 0,25 0,25 0,30 0,69 1,03 0,30 C5-Satisfação de pacientes 0,38 0,34 0,17 0,77 0,77 0,38 Média 0,15 0,25 0,28 0,83 0,90 0,43 Tabela 8.10 Resultados dos indicadores de satisfação dos utilizadores (C). Com base nos resultados, nota-se que os utilizadores dos SI ficaram divididos em relação aos níveis de satisfação das ferramentas, pois concentraram parte das respostas nos graus 3 e 4 (apenas bom) e menor parcela no grau 5 (excelente). Adicionalmente, nota-se também que muitos utilizadores marcaram falta de informação (0) nos indicadores satisfação da direcção da instituição (C4) e satisfação dos pacientes (C5), que têm percentuais altos (0,25 e 0,38), motivo pelo qual estes dois indicadores estão nas últimas posições de satisfação dos utilizadores (Tabela 8.11). INDIC G0 G1 G2 G3 G4 G5 D=G3 D>=G3 D>G3 DistG C2 4 21 21 108 90 38 108 236 128 190 C3 4 17 34 69 99 60 69 228 159 173 MC 15 25 28 83 90 43 83 216 133 148 77 C1 4 25 38 90 47 90 214 124 147 C4 25 25 30 69 103 30 69 202 133 122 C5 38 34 17 77 77 192 115 103 77 38 Tabela 8.11 Ordem de importância dos indicadores de satisfação dos utilizadores. 8.7 Análise dos indicadores de impacto individual: Categoria D A distribuição dos indicadores de impacto individual apresenta alguns destaques, e.g., aumento de eficiência pessoal (D4) e aumento de produtividade pessoal (D5), com os maiores percentuais em 4 e 5 (excelente), além de não atribuírem percentuais no grau 0 (falta de informação) e possuírem valores baixos em 1. Eficiência em tomada de decisão (D3) e Auxílio em identificação de problema (D2), estão no segundo nível, pois seus percentuais foram alternativamente concentrados entre 3 e 5 (bom a excelente). Logo, os resultados da Tabela 8.12 permitem ordenar os indicadores desta categoria na seguinte 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 188 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho ordem: D5, D4, D3, D2, D1. O indicador D1 ficou na última posição porque apresentou percentuais maiores em 0, 1, 2 (graus de menor importância). A Tabela 8.13 confirma esta classificação em duas das três hipóteses (Anexo D.4). - !------- Grau ------" + Indicador (rateio: 100.0/35*5 = 14,30 %) 0 1 2 3 4 5 D1-Atualização-qualificação profissional 0,08 0,30 0,51 0,86 0,56 0,51 D2-Auxílio em identificação de problema - 0,34 0,34 0,86 0,77 0,51 0,04 0,25 0,38 0,51 0,86 0,77 D4-Aumento de eficiência pessoal - 0,21 0,25 0,69 0,99 0,69 D5-Aumento de produtividade pessoal - 0,17 0,30 0,43 0,95 0,99 0,06 0,25 0,36 0,67 0,83 0,70 D3-Eficiência em tomada de decisão Média Tabela 8.12 Resultados dos indicadores de impacto individual (D). INDIC G0 G1 G2 G3 G4 G5 D=G3 D>=G3 D>G3 DistG D5 0 17 30 43 95 99 43 237 194 190 D4 0 21 25 69 99 69 69 237 168 191 MD 6 25 36 67 83 70 67 220 153 153 D3 4 25 38 51 86 77 51 214 163 147 D2 0 34 34 86 77 51 86 214 128 146 D1 8 30 51 86 56 51 86 193 107 104 Tabela 8.13 Ordem de importância dos indicadores de impacto individual. Indicador Absoluto D5-Aumento de produtividade pessoal 39 D4-Aumento de eficiência pessoal 39 D1-Actualização-qualificação profissional 34 D2-Auxílio em identificação de problema 30 D3-Eficiência em tomada de decisão 26 % 23,26 23,26 20,28 17,90 15,52 Tabela 8.14 Indicadores de impacto individual mais importantes (citações). A Tabela 8.14 mostra o resultado das citações de questão sobre os indicadores de impacto individual (D) que os inquiridos achavam mais importantes na utilização dos SI nos serviços de saúde. Comparando os resultados das duas tabelas, nota-se que houve concordância nos dois primeiros indicadores (D5, D4), uma inversão de posições (D2, D3) e mudança radical de D1 (actualização-qualificação profissional), que apareceu no última posição da Tabela 8.13 e surgiu no meio da Tabela 8.14. Esta contradição pode ser explicada com base no seguinte: 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 189 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho • Os resultados da Tabela 8.14 têm como base uma questão opcional do inquérito, quando parte dos utilizadores não citaram os indicadores que achavam mais importantes, conforme mostra os valores absolutos das respostas. • A Tabela 8.13 mostra a situação de facto do impacto individual, enquanto a Tabela 8.14 mostra a situação desejável na visão dos utilizadores. 8.8 Análise dos indicadores impacto organizacional: Categoria E Comparando-se os maiores percentuais dos graus 4 e 5 (excelente) da Tabela 8.15, podese destacar o primeiro grupo dos melhores indicadores desta categoria: • qualidade de serviços de saúde (E4), • produtividade de serviços de saúde (E5), • custo-benefício de serviços de saúde (E6), • controlo de materiais /medicamentos (E9), • aumento de facturamento de serviços de saúde (E11), • organização dos serviços de saúde (E12). O segundo grupo de indicadores: eficiência de serviços de saúde (E3), inovação de serviços de saúde (E8) e realização de metas (E10) apresentam distribuições quase lineares e sem destaques, bem como, os percentuais nas colunas 4 e 5 (excelente) apenas estão um pouco abaixo do grupo anterior, o que permite classificá-los como o segundo grupo na ordem de importância. Adicionalmente, o indicador redução de custos de stocks (E2) que produziu percentual relevante do nível 4 (bom, 1,08), pode ser incluído também no segundo grupo. Por fim, nota-se que o indicador redução de pessoal (E7) e redução de custos de stocks (E2) não apresentaram destaques nas distribuições e depositaram percentuais altos em 0 (falta de informação), o que indica serem estes os piores da classe, conforme a classificação da segunda hipótese da Tabela 8.16 (Anexo D.5). 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 190 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho - !------- Grau ------" + Indicador (rateio: 100.0/35*12 = 34,32 %) 0 1 2 3 4 5 E1-Apoio a atendimento de pacientes 0,08 0,12 0,34 0,43 1,08 0,77 E2-Redução de custo de stocks 0,17 0,17 0,21 0,60 0,82 0,86 E3-Eficiência de serviços de saúde 0,08 0,12 0,25 0,64 0,82 0,90 E4-Qualidade de serviços de saúde - 0,21 0,17 0,82 0,69 0,95 E5-Produtividade de serviços de saúde - 0,12 0,21 0,47 1,12 0,90 E6-Custo-benefício de serviços de saúde 0,04 0,25 0,08 0,60 1,21 0,64 E7-Redução de pessoal 0,12 0,25 0,43 0,95 0,60 0,47 E8-Inovação de serviços de saúde 0,08 0,17 0,21 0,51 0,99 0,86 E9-Controle de materiais/medicamentos 0,17 0,08 0,21 0,30 0,69 1,38 E10-Realização de metas 0,08 0,12 0,30 0,69 0,95 0,69 E11-Aumento de facturamento de serviços 0,08 0,08 0,17 0,47 0,86 1,16 E12-Organização de actividades/serviços 0,04 0,04 0,08 0,56 0,82 1,25 Média 0,09 0,15 0,22 0,59 0,89 0,90 Tabela 8.15 Resultados dos indicadores de impacto organizacional (E). INDIC G0 G1 G2 G3 G4 G5 D=G3 D>=G3 D>G3 DistG E12 4 4 8 56 82 125 56 263 207 247 E11 8 8 17 47 86 116 47 249 202 216 E5 0 12 21 47 112 90 47 249 202 216 E4 0 21 17 82 95 82 246 164 208 E6 4 25 8 60 121 64 60 245 185 208 ME 9 15 22 59 89 90 59 238 179 192 E9 17 8 21 30 69 138 30 237 207 191 E8 8 17 21 51 99 51 236 185 190 69 86 E3 8 12 25 64 82 90 64 236 172 191 E10 8 12 30 69 95 69 69 233 164 183 E1 8 12 34 43 108 77 43 228 185 174 E2 17 17 21 60 82 86 60 228 168 173 E7 12 25 43 95 60 47 95 202 107 122 Tabela 8.16 Ordem de importância dos indicadores de impacto organizacional. Análogo ao que ocorreu na categoria anterior, a Tabela 8.17 mostra o resultado das citações de questão dos inquéritos sobre indicadores de impacto organizacional (E) que os utilizadores achavam mais importantes na utilização do SI em serviços de saúde. Comparando-se os resultados da análise da Tabela 8.15 com a Tabela 8.17, notam-se as seguintes concordâncias: 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 191 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho • Os seis indicadores apontados como os melhores na Tabela 8.15 (E4, E5, E6, E9, E11, E12,) fazem parte dos 9 citados como os melhores (Tabela 8.17). • Os seis indicadores apontados como os melhores na análise da Tabela 8.16 (E4, E5, E6, E9, E11, E12,), 5 estão acima da média da Tabela 8.16 e apenas controlo de materiais /medicamente (E9) ficou imediatamente abaixo da média. • Houve discordância nas três Tabelas 8.15/16/17 quando à classificação dos indicadores redução de pessoal (E7) e redução de custos de stocks (E2). Porém, como visto, as Tabelas 8.15/16 retractam a situação de facto, enquanto a Tabela 8.17 mostra a situação desejável relativamente aos efeitos dos indicadores. Indicador Absoluto E4-Qualidade de serviços de saúde 25 E5-Produtividade de serviços de saúde 22 E1-Apoio a atendimento de pacientes 22 E2-Redução de custo de stocks 20 E11-Aumento de facturamento de serviços 19 E3-Eficiência de serviços de saúde 19 E9-Controlo de materiais /medicamentos 17 E12-Organização de actividades /serviços 15 E6-Custo-benefícios de serviços de saúde 7 E8-Inovação de serviços de saúde 7 E10- Redução de metas 6 E7- Redução de pessoal 2 % 13,86 12,20 12,20 11,09 10,54 10,54 9,44 8,33 3,91 3,91 3,36 1,15 Tabela 8.17 Indicadores de impacto organizacional mais importantes (citações). 8.9 Importância relativa dos indicadores e das categorias A Tabela 8.18 mostra uma lista geral dos indicadores e das médias de todas as categorias. Nesta lista, os indicadores considerados mais importantes figuram no início e os inferiores no final da lista. Por exemplo, constam das hipóteses como melhores: • organização de actividades e serviços (E12, impacto organizacional), • aumento de facturamento de serviços (E11, impacto organizacional), • produtividade de serviços de saúde (E5, impacto organizacional), • facilidade de utilização do SI (A3, qualidade do sistema), • frequência de utilização do SI (B1, qualidade da informação). 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 192 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho NDIC G0 G1 G2 G3 G4 G5 D=G3 D>=G3 D>G3 DistG E12 4 4 8 56 82 125 56 263 207 247 A3 0 0 34 69 95 86 69 250 181 216 E11 8 8 17 47 86 116 47 249 202 216 E5 0 12 21 47 112 90 47 249 202 216 B1 0 8 30 69 69 108 69 246 177 208 E4 0 21 17 82 69 95 82 246 164 208 E6 4 25 8 60 121 64 60 245 185 208 A2 0 0 38 69 86 90 69 245 176 207 B4 4 12 21 51 64 129 51 244 193 207 B2 0 12 30 73 64 103 73 240 167 198 ME 9 15 22 59 89 90 59 238 179 192 E9 17 8 21 30 69 138 30 237 207 191 D4 0 21 25 69 99 69 69 237 168 191 D5 0 17 30 43 95 99 43 237 194 190 E3 8 12 25 64 82 90 64 236 172 191 E8 8 17 21 51 99 86 51 236 185 190 C2 4 21 21 108 90 38 108 236 128 190 A1 0 0 47 73 86 77 73 236 163 189 E10 8 12 30 69 95 69 69 233 164 183 E1 8 12 34 43 108 77 43 228 185 174 E2 17 17 21 60 82 60 228 168 173 86 A6 4 17 34 82 82 64 82 228 146 173 C3 4 17 34 69 99 60 69 228 159 173 MG 14 22 33 71 80 70 71 221 150 152 MD 6 25 36 67 83 70 67 220 153 153 MA 20 25 37 75 75 70 75 220 145 138 MC 15 25 28 83 90 43 83 216 133 148 B3 0 17 43 72 56 86 72 214 142 154 C1 4 25 38 90 77 47 90 214 124 147 D3 4 25 38 51 86 77 51 214 163 147 D2 0 34 34 86 77 51 86 214 128 146 MB 19 22 41 69 61 79 69 209 140 127 C4 25 25 30 69 103 30 69 202 133 122 E7 12 25 43 95 60 47 95 202 107 122 A4 25 25 38 90 34 69 90 193 103 105 D1 8 30 51 86 56 51 86 193 107 104 C5 38 34 17 77 77 38 77 192 115 103 B5 12 34 47 69 64 56 69 189 120 96 A5 30 34 30 90 64 34 90 188 98 94 B7 34 38 47 69 77 17 69 163 94 44 B6 25 30 69 73 34 51 73 158 85 34 Tabela 8.18 Importância relativa de indicadores e categorias. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 193 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho De modo contrário, constam no fim das listas como de menor impacto, os indicadores: • utilização da informação em pesquisa de saúde (B6, qualidade da informação), • utilização da informação por órgãos externos (B7, qualidade da informação), • qualidade dos recursos gráficos do SI (A5, qualidade do sistema), • integração de unidades /serviços de saúde (A4, qualidade do sistema), • actualização-qualificação profissional (D1, impacto individual). Nesta tabela as médias são acompanhadas pelo seu conjunto de indicadores, ou seja, se a média está mais acima então o grupo de indicadores da classe tendem a subir na lista, e.g., impacto organizacional (ME), que teve a melhor das médias tende a puxar seus indicadores para cima. No entanto, embora ME seja a maior media, é evidente que seus piores indicadores descem na lista pois são ultrapassados pelos melhores indicadores das outras categorias. A Tabela 8.18 mostra que, exceptuando-se impacto organizacional (ME), as demais classes estão agrupadas num cluster na metade inferior da lista, o que indica que seus resultados produziram desempenhos parecidos, conforme mostra a segunda hipótese da classificação de todos os indicadores, as respectivas médias, inclusive a média global (Anexo D.6). 8.10 Benefícios (financeiros, qualitativos) e custos de utilização do SI Nos tópicos 8.10 a 8.13, apresentam-se parte das citações dos questionários sobre benefícios, custos, dificuldades, problemas e sugestões relativamente à utilização de SI em serviços de saúde nos hospitais onde foram aplicados os inquéritos (questões facultativas A, B, C, D do quadro 6 final - Anexo C.1). Inicialmente, emite-se a questão base das citações, seguida de respostas retiradas de questionários. A análise será apresentada no final (8.14). Questão A: Na sua opinião, os benefícios (financeiros e funcionais) produzidos pelo SI do hospital justificam os custos? Se sua resposta for Sim, por favor cite os principais benefícios. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 194 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho "Sim. No tocante a marcação de consultas justificam os custos, pois o sistema possibilita maior agilidade no atendimento e diminui o tempo de espera na fila". "Sim. Maior produtividade, menor risco de erros, agilidade, eficiência dos serviços". "Sim. Com o SI foi agilizada a pesquisa da informação. Gasta-se menos tempo e dinheiro, tornando assim os resultados mais eficientes e precisos. Houve aumento da produtividade, facturamento e controlo dos materiais que são utilizados no hospital". "Sim. No início os funcionários tiverem algumas dificuldades. Hoje posso classificar em 80% o avanço no processo da informatização do hospital". "Sim. Economia nos gastos e rapidez na oferta da informação". "Sim. Porque há controlo nos principais sectores do hospital (Almoxarifado, Farmácia), o que é importante para que seja feito um balanço para distribuição de materiais e medicamentos". "Sim. Os benefícios do sistema são relevantes tanto no aspecto organizacional como operacional do hospital". "Sim. Depois do sistema aumentou a agilidade, diminuiu o tempo de atendimento e os custos; melhorou o atendimento e proporcionou mais eficiência do serviço". "Sim. Torna o serviço rápido e eficiente". "Sim. Houve uma significativa redução de custos dos stocks e aumento do facturamento do hospital". "Sim. Houve maior rapidez no facturamento, maior eficiência das actividades, aumento no quantitativo de contas facturadas, dentre outros". 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 195 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho "Sim. A utilização do sistema poderá reduzir o número de funcionários em todos os sectores do hospital, além de proporcionar maior agilidade nos pedidos da farmácia e dos materiais em geral. Poderá interligar informação entre as diversas clínicas". "Sim. O sistema produz maior agilidade, acessibilidade, produtividade e integração". "Sim. O sistema possibilita administração eficiente da gestão, redução de custos dos stocks, melhor administração dos stocks, informação precisa para a tomada de decisão e aumento do facturamento do hospital". "Sim. Houve maior adequação de stocks, integração contábil e agilização de processos". "Sim. Melhor controlo de stocks, atendimento ao paciente e qualidade do serviço". "Sim. Aumento de qualidade do serviço, redução de tempo, aumento de produtividade, satisfação pessoal". "Sim. Maior taxa de ocupação das vagas ambulatoriais, redução de duplicidade de prontuários e maior controlo de absenteismo de médicos". 8.11 Dificuldades de utilização do SI por funcionários e médicos Questão B: Funcionários ou médicos deste hospital sentem dificuldades quando utilizam o actual SI? Se sua reposta for Sim, por favor cite as principais dificuldades. "Sim. Necessitamos de um treinamento dos usuários, mais computadores e melhor funcionamento da rede". "Sim. Ao iniciar o uso de um novo sistema sempre temos dificuldades em aprender, por exemplo no meu sector (marcação de consultas) foi um pouco difícil. Hoje é diferente, a marcação de consultas é rápida e eficiente". 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 196 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho "Sim. Falta pessoal mais qualificado tecnicamente". "Sim. Acredito que a maior dificuldade vem do facto de que funcionários não utilizam o computador diariamente, pois se queixam de não saberem incluir prescrições para pacientes novos. Alegam que isto requer muito tempo". "Sim. Médicos encontram dificuldade em manusear o sistema (acham muito burocrático); alimentar os dados (não percebem a importância); consultar o sistema informatizado (as pessoas não conhecem bem o sistema)". "Sim. Falta de treinamento e melhor acesso à rede". "Sim. Dificuldade de acesso, falta de treinamento adequado e pouca motivação de uso". "Sim. Com o treinamento dos funcionários diminui as dificuldades". 8.12 Problemas da utilização do SI nos serviços de saúde dos hospitais Questão C: Que problemas funcionais poderiam ser apontados no SI do hospital? "Impressoras sempre com problemas, 'mouses' não funcionam adequadamente". "Nenhum, se todas as pessoas que utilizam o sistema fizessem um treinamento antes". "Concluir a informatização com a integração do sistema em todos os sectores". "O sistema deveria ser mais integrado e ter mais controlos nas informações". "Número de terminais menor que o número de usuários, ausência de equipamento tipo no-break para resolver problemas de oscilação da energia; necessidade de disponibilização de todo o sistema em rede". 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 197 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho "Perdas de dados quando os usuários estão utilizando o sistema, devido a oscilação na rede de energia, visto que nem todos os departamentos têm no-breaks". "Algumas vezes, perdas ou duplicação de dados, tendo-se que parar todo o sistema até que o problema seja solucionado, muitas vezes durante várias horas". "Por estar em fase de implantação de novos módulos, surgem problemas previsíveis e imprevisíveis, os quais são sanados à medida do possível". "Precisa-se concluir a implantação do sistema em todos os sectores do hospital". "Treinamento de pessoal e número reduzido de profissionais para viabilizar os projectos". "Versão ultrapassada e lenta (atrapalha um pouco), computadores velhos sem muita condição de uso (quebram constantemente e prejudicam o andamento do serviço); lentidão no acesso e na utilização; falhas técnicas (que causam duplicidade de cadastros); sistema central com problemas (às vezes pára toda a rede e impede a continuidade de serviços)". "Cadastros, rotinas e relatórios incompletos". "Maior entrosamento entre os profissionais da firma com os usuários do hospital". "Falta operacionalizar a integração do sistema em todos os sectores do hospital". "Muitas vezes o sistema cai, falta manutenção nos finais de semana". "Poucas informações sobre os sistemas implantados no hospital". "Banco de dados muito lento e fechamento sem confiabilidade na informação final". 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 198 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho 8.13 Sugestões para a utilização de SI nos serviços dos hospitais Questão D: Por favor, apresente comentários finais (se achar necessário) e sugestões que poderão ser adoptadas para melhorar funcionamentos de sistemas informáticos de gestão (SI) de hospitais. "Actualização do sistema informático, computadores modernos, instalação do sistema em outros sectores, por exemplo, microfilmagem de prontuários de pacientes". "Todos os sectores do hospital deveriam possuir uma unidade de informática própria". "Manutenção diária nas máquinas e periféricos ('mouses', impressoras); substituição dos computadores por modelos mais avançados". "Atender os pedidos de actualização no software do sistema. Mais agilidade nos pedidos de modificações, que chegam a demorar mais de 6 meses". "Melhorar a forma de apresentação das telas de acesso ao sistema, principalmente no que se refere aos relatórios". "Maior interacção entre os usuários, hospital e empresas que fornecem o SI, para melhorar a eficiência do serviço, beneficiar o hospital (facturamento), os pacientes (qualidade de serviço), usuários (eficiência) e as empresas (aprovação do mercado de trabalho)". "Mais pessoas qualificadas, treinamento para os que já utilizam o sistema, melhores condições de trabalho (horário limitados, melhor infra-estrutura)". "O profissional do serviço público precisa ter uma visão mais progressista do trabalho; é preciso implantar uma cultura nova no serviço público: cuidar e inovar". "Todos os serviços deveriam ser informatizadas, integrados e interligados em rede". 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 199 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho "A cada dia o SI se torna mais produtivo e de fácil compreensão para nós usuários. Espero continuar assim e que surjam oportunidades para os que querem utilizá-lo". "Melhorou muito em todo o hospital: nos sectores, gerencial, funcional, atendimento à população". "Para funcionamento melhor do SI deveria ser feito um trabalho a nível de conscientização do pessoal sobre os benefícios e a importância da informática no hospital através de palestras e demonstrações". "Maior divulgação do que é um sistema integrado, que metas devem ser atingidas, quais os resultados apresentados e o que se pode obter com o conhecimento e uso do sistema como um todo. Mais treinamento a respeito do sistema". "Trocar o sistema para sistema operacional mais popular e intuitivo (Linux, Windows) e implantar o sistema em todas as unidades do hospital". 8.14 Alguns resultados Conforme definido na metodologia da investigação (tópico 6.5), foi aplicada uma amostra de 66 questionários em 16 hospitais (Anexo C, Tabela C.1) nas Regiões Metropolitanas de Recife, Fortaleza e Salvador. A análise dos resultados foi desenvolvida neste capítulo e visou complementar resultados e clarificar dúvidas do estudo. Este trabalho se refere à complementação da investigação e constou da captação de amostra de dados em hospitais, via questionários, cuja estrutura tratou um conjunto de tabelas (Anexos C, D) e os indicadores de SI orientados a instituições de saúde (Tabela 6.1). A análise dos resultados foi desenvolvida na ordem da estrutura do questionário. Visando obter maior praticidade, muitas conclusões foram apresentadas neste capítulo durante a análise, mediante ilustrações de valores. As conclusões mais gerais da investigação constam no capítulo 9. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 200 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Adicionalmente, comenta-se a seguir, citações de utilizadores dos tópicos 8.10 a 8.13, relativamente a benefícios, custos, dificuldades, problemas e sugestões de utilização de SI integrados de gestão em instituições de saúde (Anexo C.1, Quadro 6, Questões A a D). O tópico 8.10 de refere a benefícios dos SI integrados, comparados a custos (Questão A). Nesta questão os utilizadores foram unânimes ao afirmar (Sim), que os benefícios (financeiros e funcionais) produzidos por SI integrado de gestão do hospital justificam os custos (Ref. Q4, Quadro 1.1). Exemplos: "Sim. Sobre benefícios financeiros: tivemos uma redução no custo de material de expediente; sobre benefícios funcionais: houve melhor atendimento ao público, mais eficiência, produtividade e segurança da informação". "Sim. Permite agilizar as rotinas, melhor organização do serviço, maior controlo da farmácia e integração da informação (clínica, laboratório, farmácia, internamento, facturamento)". No entender dos utilizadores, factores de custos relacionados aos SI integrados de gestão (ERP) não devem inibir a utilização desse software em instituições de saúde. Por conseguinte, a questão da investigação sobre custos (Q4, Quadro 1.1) foi respondida favoravelmente, na visão dos inquiridos. Isto coincide com os resultados dos estudos de caso, que não apontam custos como factor de impedimento de adopção de produto integrado em instituições de saúde. O tópico 8.11 abordou dificuldades de utilização do SI integrado de gestão (Questão B). As citações, que foram poucas, versaram mais sobre falta de formação /treinamento. De acordo com a análise das respostas, pode-se notar que as dificuldades de utilização não se referem ao software, mas, basicamente, à falta de infra-estrutura, pessoal qualificado e focaram problemas de hardware, redes, falta de pessoal qualificado, pouca formação /treinamento. 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 201 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho Assim, pode-se associar estes resultados à questão de investigação relativa a adaptação /facilidade (Q5, Quadro 1.1) e considerar que não existe impedimento ou falta de adaptabilidade de ferramentas integradas em instituições públicas de saúde. Pode-se concluir que em termos adaptabilidade e facilidade existem produtos que atendem as instituições de saúde no Brasil. Exemplos de citações (se o inquirido sente dificuldade ao utilizar o produto integrado): "Sim. No começo sim, depois com os treinamentos torna-se fácil. Benefícios funcionais: organização dos sectores, facilitando o trabalho dos funcionários com ganho de tempo para outras actividades. Benefícios financeiros: controlo do que é realizado no sector, para que os procedimentos não fiquem sem cobrança e os resultados sejam mantidos exactos". "Sim. Existem pequenas dificuldades no início, que desaparecem à medida que os funcionários vão sendo treinados". O tópico 8.12 apresentou problemas do SI integrado de gestão (Questão C). Novamente, os utilizadores citaram em maior número a falta de infra-estrutura dos hospitais: defeitos de hardware, falta de treinamento, panes de redes, falta de manutenção de hardware. Em segundo plano são citados problemas do software: necessidade de mais controlos, demora de implementação, rotinas incompletas, falta de manutenção, ineficiência de ferramentas de bases de dados. De modo análogo, com base nestas citações, nota-se que a maioria dos problemas operacionais dos produtos integrados no Brasil não são originados no software, mas, na fragilidade da infra-estrutura das instituições de saúde. Exemplos de citações sobre problemas apontados pelos utilizadores: "Número insuficiente de funcionários da prestadora de serviços de informática para dar um treinamento intensivo nos sectores mais deficientes sobre a utilização do sistema no hospital". 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 202 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma bordagem sobre desempenho "Maior suporte e manutenção dos equipamentos e da rede, para melhorar a informatização e os serviços, e.g., dificuldades de acesso, quebra do sinal da rede e necessidade de funcionários de suporte". No tópico 8.13 foi facultado espaço no questionário para sugestões de melhoria do funcionamento da ferramenta integrada na instituição de saúde (Questão D). Além de problemas administrativos referentes à gestão da instituição, prevaleceu sugestões sobre necessidades de implementação de melhorias da infra-estrutura. Assim, pode-se concluir que a fragilidade da infra-estrutura é a dificuldade mais acentuada da adopção de ferramentas integradas em instituições públicas de saúde no Brasil. Finalmente, seguem exemplos de sugestões de inquiridos no questionário: "Verificamos que os problemas ocorridos com o sistema se dá em virtude de falta de manutenção preventiva dos computadores e a não actualização dos mesmos; sugestão: adquirir computadores e impressoras novas e fazer manutenção preventiva regularmente". "A sugestão seria que, obrigatoriamente, todos os sectores recebessem treinamento, com a participação de todos os funcionários. O trabalho que às vezes é iniciado em um sector sofre discriminação pela falta de interesse de sectores que estão fora do sistema". 8 Análise de resultados sobre SI de serviços de saúde: Questionários 203 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Capítulo 9 " - Quem é, me dize, estroutro que me espanta Pergunta o malabar maravilhado Que tantos esquadrões, que gente tanta, Com tão pouca, tem roto e destroçado? Tantos muros aspérrimo quebranta, Tantas batalhas dá, nunca cansado, Tantas coroas tem, por tantas partes, A seus pés derribadas, e estandartes! Este é o primeiro Afonso - disse o Gama Que todo Portugal aos Mouros toma, Por quem no Estígio Lago jura a Fama De mais não celebrar nenhum de Roma. Este é aquele zeloso a quem Deus ama, Com cujo braço o Mouro inimigo doma, Para quem de seu Reino abaixa os muros, Nada deixando já para os futuros." CAMÕES (Os Lusíadas: VIII 10-11, D. Afonso Henriques) 9 Discussão dos resultados do estudo De acordo com a estrutura da tese (Figura 1.2), a discussão dos resultados da investigação levou em consideração: • estudo da literatura envolvida, abordados nos capítulos 1 a 5; • definições dos elementos da metodologia utilizada, descrita no capítulo 6; • análises dos resultados dos estudos de caso (HUC e HTO, capítulo 7) e da amostra de 66 questionários aplicados em 16 hospitais (capítulo 8). Assim, nesta discussão, toma-se como base as questões de investigação (capítulo 1, Quadro 1.1), os resultados do estudo (capítulos 7 e 8) e, obviamente, as definições e discussões prévias da literatura e dos elementos que constam nos capítulos precedentes. Portanto, para tornar este trabalho mais sucinto e prático, quando necessário, serão referenciados elementos de outros capítulos (figuras, tabelas, tópicos, resultados), relativamente a abordagens ou conclusões contextuais que influenciam, negam ou confirmam resultados desta discussão que tem caracter geral e conclusivo. No final são acrescentadas algumas considerações sobre a discussão. 9 Discussão dos resultados do estudo 204 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 9.1 Introdução As análises dos resultados dos estudos de caso e dos questionários (capítulos 7 e 8) destacaram e evidenciaram resultados sobre indicadores, classes e factores de desempenho, relacionados a impactos de utilização de SI integrados de gestão em instituições de saúde, comparados com os elementos da metodologia do desenvolvimento da investigação (capítulo 6). A discussão deste capítulo toma como base o estudo da literatura, as análises dos resultados dos capítulos 7 e 8 e as questões de investigação. Inicialmente, para facilitar a referência a elementos da discussão, serão reproduzidas as questões de investigação (Quadro 1.1). Q1 (Eficiência, Qualidade, Custo-benefício): Instituição pública de saúde que utiliza SI integrado de gestão apresenta melhores níveis de eficiência, qualidade e custobenefício em relação a serviços de saúde oferecidos com o apoio dessas ferramentas? Q2 (Benefícios: Qualitativos, Quantitativos): Instituição pública de saúde que utiliza SI integrado de gestão apresenta melhores benefícios quantitativos e qualitativos para pacientes, utilizadores e gestores da instituição? Q3 (Satisfação): Instituição pública de saúde que utiliza SI integrado de gestão apresenta melhores níveis de satisfação de pacientes, utilizadores e gestores, em relação aos serviços de saúde oferecidos? Q4 (Custos): Os custos de SI integrados de gestão são factores impeditivos de adopção desse tipo de software em instituições públicas de saúde? Q5 (Adaptação): Os SI integrados de gestão são ferramentas funcionalmente adaptáveis a actividades, serviços, ambientes e instituições públicas de saúde? Q6 (Desempenho): Com relação à utilização de SI integrados de gestão, que classes de indicadores podem ser utilizadas para avaliar o desempenho de serviços de saúde? [Quadro 1.1 Questões de investigação (capítulo 1)]. 9 Discussão dos resultados do estudo 205 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Conforme a abordagem do capítulo 1, a primeira parte da tese tratou o estudo da literatura (SI, ERP, informatização de serviços de instituições de saúde) que, apresenta, no final dos capítulos 2 a 5, um conjunto particular de conclusões sobre resultados contextuais do trabalho desenvolvido. Essas conclusões estão nos tópicos 2.9, 3.5, 4.8, 5.10 e são consideradas ou referenciadas nas discussões deste capítulo. No desenvolvimento preliminar dos estudos de caso, notou-se que os ambientes dos hospitais apresentavam diferenças consideráveis em termos dos recursos utilizados (RH, SI). Embora as ferramentas de SI apresentassem níveis aceitáveis de integração, essas não cobriam todas as unidades e serviços de saúde. Assim, foi necessário estabelecer procedimentos para a selecção dos locais estudados, pois seria impraticável e improdutivo analisar todas as unidades dos hospitais. Houve também a necessidade de tipificar os utilizadores envolvidos nos estudos de caso, cujos perfis foram adoptados no desenvolvimento dos questionários, instrumento complementar aplicado na rede de hospitais do SUS. Assim, as unidades /serviços definidos nos hospitais para os estudos de caso foram (tópico 7.2): • unidades médicas utilizadoras directas do SI (prioridade 1); • unidades de apoio a actividades do hospital (prioridade 2); • unidades gestoras do hospital (prioridade 3). Foi definido que os entrevistados dos estudos de caso, bem como, os respondentes dos questionários deveriam ser os empregados dos hospitais que utilizassem directamente o SI e que tivessem iniciado a trabalhar nas actividades antes da implementação do software na unidade /serviço (Anexo C.1). Com base nestes pressupostos, foram seleccionadas as unidades /serviços e os respondentes (entrevistados e inquiridos) nos hospitais para o estudo. Portanto, os resultados da investigação reflectem informação de sectores /profissionais que utilizam directamente as ferramentas de SI em actividades de saúde. As pré-condições visaram dar condições para a realização da investigação e a obtenção de maior confiabilidade nos resultados. 9 Discussão dos resultados do estudo 206 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 9.2 Os níveis de integração dos SI atendem aos requisitos do estudo Os hospitais pesquisados se localizam nas Regiões Metropolitanas (Recife, Fortaleza, Salvador) e a investigação foi direccionada às maiores instituições. Dezesseis, das 21 instituições pesquisadas, atenderam as condições implementadas nos instrumentos de colecta dos dados, relativamente aos níveis mínimos de integração que as ferramentas de SI deveriam apresentar. De acordo com a análise dos resultados dos questionários (Tabelas 8.1 a 8.5) que retratam resultados sobre unidades /serviços informatizados, cobertura dos produtos nos hospitais e pontos de alimentação /utilização da informação, pode-se concluir que os níveis de integração dos SI incluídos na investigação são aceitáveis, embora se tenha verificado alguns resultados abaixo do nível esperado, conforme destacam as Tabelas 8.3 e 8.4. Os resultados dos questionários coincidiram com as informações das entrevistas, relativamente a depoimentos que enfatizaram vantagens da integração dos SI, conforme afirma um gerente de contas médicas de um dos hospitais estudado: "... Com a integração do sistema pode-se fazer cobrança das contas dos internamentos e dos ambulatórios, controlo de materiais (Almoxarifado) e medicamentos (Farmácias). O sistema permite cálculos de custos de materiais e medicamentos. Um ponto forte do sistema é o atendimento de ambulatório (marcação, remarcação de consultas) e admissão de pacientes, que produzem directamente dados para o facturamento (efeito da integração, impacto organizacional). Os resultados têm sido função do pessoal das Unidades. Certos sectores alimentam os dados de forma correcta. Quando isto é feito não precisamos dar entrada dos dados dos serviços realizados" (efeitos da integração; Anexo A.1, Entrevista 3, Questão 1.2). Como este trabalho se baseou na existência de SI integrados de gestão em ambientes de instituições de saúde, conforme exprimem as questões de investigação (Quadro 1.1), foi necessário, preliminarmente, identificar hospitais cujos SI atendessem às características de integração dos SI para aplicação dos instrumentos de colecta de dados, relativamente ao atendimento de padrões mínimos de níveis de integração dos produtos, cujos valores 9 Discussão dos resultados do estudo 207 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho são confirmados na análise dos resultados dos estudos de caso (capítulo 7) e dos questionários (capítulo 8). Em relação à importância da integração de SI em serviços de saúde, um médico chefe de departamento de cardiologia de hospital de referência em Portugal, afirmou (Anexo A.2, resposta 3): "... a informação clínica é disponibilizada internamente aos serviços de cardiologia e também a outros sectores. Portanto, os serviços de urgência podem aceder os dados do doente, supondo-se que o paciente cá esteve internado há anos e retorna ao serviço de urgência em um terminal de computador ... assim, o doente pode ser examinado com o apoio de uma série de dados e exames, portanto, notas altas e históricos de exames que ele fez quando cá esteve internado, seja avaliação por médico dos serviços de urgência ou outro serviço onde, eventualmente, o doente possa ser examinado em decorrência de outra patologia!". Os tópicos que seguem apresentarão discussões de resultados relacionados com as questões de investigação (Quadro 1.1). 9.3 Houve identificação de impacto organizacional com o modelo [ref. questão Q1, Q2, Q6, Quadro 1.1] De acordo com a análise dos resultados dos estudos de caso (capítulo 7), os utilizadores dos SI integrados de gestão deram maior importância à classe de indicadores de impacto organizacional (59%, capítulo 7, Figura 7.3); as demais categorias produziram menores valores, i.e., qualidade de sistema (13%), utilização da informação (11%), satisfação do utilizador (12%), impacto individual (5%). A Figura 9.1 mostra a frequência acumulada das respostas dos entrevistados, relativamente a estes percentuais, na ordem: (1) a categoria qualidade do sistema (A); (2) a categoria anterior (A) mais utilização da informação (B); (3) as categorias anteriores (A+B) mais satisfação dos utilizadores (C); (4) as categorias anteriores (A+B+C) mais impacto individual (D); (5) as categorias anteriores (A+B+C+D) mais impacto organizacional (E). 9 Discussão dos resultados do estudo 208 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Frequência acumulada das classes 400 350 300 250 200 150 100 50 0 339 120 136 81 A +B +C +D A +B +C +D +E A +B +C A +B A 43 Figura 9.1 Frequência acumulada das classes ou categorias de indicadores. Nota-se no gráfico, um crescimento normal entre (1) e (2), estabilidade entre (2) e (4) e maior crescimento entre (4) e (5). Assim, a função mostra aceitação razoável dos SI relativamente às categorias (A, B, C), o que combina com a relação de intimidade que os utilizadores têm com os efeitos destas classes de indicadores. A categoria (D) foi a que menos contribuiu com a função, por conter indicadores que expressam menor interesse do entrevistado; logo, tal categoria mostrou que tem pouca relação com o perfil do profissional de saúde. Por último, nota-se que a categoria (E) contribuiu significativamente com o crescimento do gráfico, o que sugere fortes efeitos dos indicadores de impacto organizacional, por conseguinte, define maiores impactos dos SI sobre a realização e o ordenamento dos serviços das instituições de saúde, o que vai de encontro às questões de investigação Q1, Q2 e Q6, respectivamente. A distribuição destes resultados também confirma os pressupostos do enquadramento do estudo no modelo de sucesso de SI (Figura 6.2), que toma esta linha de investigação e foca o trabalho no estudo de impactos de SI integrados de gestão sobre serviços de instituições de saúde (impacto organizacional), objectivando captar efeitos positivos e negativos da utilização desse tipo de software em instituições do SUS. Portanto, o percentual de 59% de citações atribuído à classe de indicadores de impacto organizacional mostra a importância e o grau de convergência que os elementos definidos na investigação atribuem aos resultados do estudo (Figura 6.2). 9 Discussão dos resultados do estudo 209 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho No entanto, de acordo com o estudo da literatura de SI (capítulos 2, 3 e 5) e as confirmações dos resultados, uma só dimensão ou categoria de identificador é insuficiente para retractar constatação de estudo específico de avaliação de efeitos de SI em contextos organizacionais. Portanto, embora o foco da investigação seja sobre efeitos de SI em ambientes organizacionais, isto potencializa a importância da classe de indicadores de impacto organizacional. As outras classes foram igualmente consideradas no enquadramento da investigação no modelo de DeLone e McLean (1992, Figura 6.2) e tratadas na aplicação dos instrumentos de captação dos dados. Porém, os utilizadores se interessaram menos em atribuir respostas para as classes antecedentes de impacto organizacional (E), conforme mostrou os baixos percentuais resultantes (Figura 9.1). Porém, houveram casos em que os entrevistados concentraram respostas pontuais em alguns indicadores, e.g., indicadores que se referem a factores da integração das ferramentas da classe qualidade de sistema (A), o que pode ser atribuído à importância que tais indicadores assumem no contexto do estudo, relativamente ao significado de qualidade de sistema (A) na avaliação de SI integrado de gestão. Assim, a análise dos resultados dos questionários e dos estudos de caso confirma que impacto organizacional (E) é a categoria que produz os maiores efeitos dos SI sobre desempenho de serviços de instituições de saúde. Confirmou-se ainda que esta categoria não é a soma ou o valor directo de impactos de outras classes, nem depende fortemente de efeitos de impacto individual (D), a categoria adjacente no modelo. Por conseguinte, constata-se que relativamente a instituições de saúde, a classe impacto organizacional (E) recebe efeitos, mas não é fortemente dependente das demais categorias do modelo (6.2). Sobre impactos positivos da integração em serviços de saúde (Q1, Q2, Q6), um chefe de departamento de cardiologia de hospital de Portugal (Anexo A.2, resposta 13) afirmou: "... Exactamente, há impacto ... aliás, com a organização, a data da consulta pode ser programada no tempo ... 8, 8:30, 15:20 horas e assim pode-se separar no tempo e facilitar a vinda dos doentes ao hospital. Portanto, não se cria 9 Discussão dos resultados do estudo 210 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho aglomerações. Isto facilita muito nossa vida, das pessoas que trabalham e fundamentalmente dos doentes ... Por sua vez é possível também mostrar ao doente o que se passa, portanto, o grau de organização que é uma coisa agradável e é sempre bom vermos que tudo isso está organizado. Ao mesmo tempo, temos a possibilidade de ter imagem, mostrarmos ao nosso cliente ... olha meu senhor, tem isto ou aquilo, esta artéria está apertada, tem esta válvula assim ... Portanto, podemos mostrar de maneira objectiva, de forma que o doente perceba a sua patologia, qual vai ser o impacto do seu tratamento que vamos fazer, tudo isso podemos dizer ao doente, motivá-lo e tirar-lhe a angústia e os medos que de facto tem enquanto condição de doente". 9.4 Os benefícios qualitativos de avaliação de SI são relevantes [ref. questão Q1, Q2, Q6, Quadro 1.1] Conforme visto nos tópicos anteriores, os entrevistados concentraram grande parte das respostas na categoria de impacto organizacional (Figura 7.3 e 9.1). No entanto, além da preferência maior por essa classe, individualmente, os indicadores que receberam o maior número de respostas relacionam-se a benefícios qualitativos de serviços de saúde, conforme interrogado a questão Q2. Por exemplo, na Figura 7.6, os indicadores da classe impacto organizacional foram os preferidos e definiram significados tipicamente qualitativos, pois: • 49 citações, organização de actividades e serviços de saúde (E12, qualitativo); • 38 citações, apoio a atendimento de pacientes (E1, qualitativo); • 21 citações, eficiência de serviços de saúde (E3, qualitativo); • 21 citações, custo-benefício de serviços de saúde (E6, qualitativo, quantitativo); • 20 citações, qualidade de serviços de saúde (E4, qualitativo); • 18 citações, controlo de materiais /medicamentos (E9, qualitativo, quantitativo). Portanto, os benefícios qualitativos foram vistos pelos utilizadores dos SI como um factor importante na oferta de serviços de saúde relacionados à utilização dos SI integrados de gestão. Assim, isto evidência que, conforme aponta a literatura de avaliação de medidas de SI, valores qualitativos (custos intangíveis) são igualmente importantes e assim devem 9 Discussão dos resultados do estudo 211 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho ser considerados em estudos sobre avaliação de SI em ambientes organizacionais, conforme define as Tabelas 3.1 e 3.2 (tópico 3.4.7). Em muitos contextos, os valores qualitativos estimados são relativamente superiores a medidas de natureza quantitativa. Conforme expressa a questão Q2, suspeitava-se que os benefícios qualitativos fossem tão importantes quanto os quantitativos. Pelas características dos ambientes do estudo, os profissionais e as actividades envolvidas, já se esperava que os indicadores qualitativos poderiam até superar os quantitativos, como mostra os resultados e as citações dos respondentes (tópicos 7.9, 8.10 a 8.13; relativamente a Q1, Q2 e Q6). Além dos índices expressos nos resultados, as citações dos entrevistados mostraram que os utilizadores percebem claramente valores quantitativos e qualitativos inerentes a serviços de saúde relacionados aos SI, como relata de um gerente de contas médicas de um dos hospitais pesquisados: "... Com o sistema obtém-se melhor custo-benefício (quantitativo). Exemplo: sem o sistema ocorreria rejeição de muitas contas, o que seria um grande prejuízo para o hospital. Além dos benefícios quantitativos ocorreram outros relacionados com a qualidade dos serviços: agilidade no acesso aos dados de pacientes, facilidade de licitação e compra de materiais e medicamentos, redução dos stocks; em pesquisa (qualitativo): quantos pacientes tiverem enfartes, onde habitam pacientes de determinada doença. Por exemplo, analisando os dados, um médico identificou foco endémico (surto de coceira) em Itamaracá, provocado por uma espécie de caranguejo nativo daquele local" (Anexo A.1, Entrevista 3, Questão 4). 9.5 A integração de SI ressaltou efeitos positivos e negativos [ref. questão Q1, Q2, Q6, Quadro 1.1] Os resultados do indicador integração de unidades /serviços (A4, Figura 7.4), da classe qualidade de SI expressaram dois tipos de significados: • positivos, quando se verificaram a presença de facilidades da integração do software na unidade /serviço de saúde; 9 Discussão dos resultados do estudo 212 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho • negativos, quando não se verificaram ou que eram frágeis as facilidades da integração do software na unidade /serviço. Exemplo de efeito positivo (existência da integração), conforme relata um chefe de unidade médica: "... Depois da implantação do sistema houve melhora da qualidade dos serviços e dos dados /informação; não há ocorrência de erros de caligrafia" (Anexo A.1, Entrevista 2, Questão 4). Exemplo de efeito negativo (falta da integração), conforme relata um coordenador de serviço de cardiologia: "... Deveria aumentar a quantidade de informação padronizada no sistema (tabelas), para diminuir a necessidade do médico digitar muitos dados; deveriam ser inseridas tabelas de factos médicos (requisitos da integração)" (Anexo A.1, Entrevista 2, Questão 5.5). Isto mostra que o utilizador de ferramenta integrada tem consciência da existência e da importância das facilidades embutidas nos produtos, seja ao ressaltar aspectos positivos ou quando reclamam negativamente de falhas ou necessidade de incorporação de facilidades aos produtos. Por conseguinte, a importância e a necessidade expressa por utilizadores de ferramentas integradas, foco principal deste estudo, atribui informação afirmativa sobre as questões da investigação e assim realça os impactos produzidos pelos SI integrados de gestão sobre serviços de instituições de saúde (Q1, Q2, Q6). 9.6 Houve satisfação com a utilização das ferramentas [ref. questão Q3, Quadro 1.1] Apesar de problemas de infra-estrutura e imperfeição dos produtos implementados nos hospitais, os níveis de satisfação de utilização de ferramentas de SI foram razoáveis, como ilustra os resultados dos indicadores da Figura 7.6. O depoimento de um responsável pelo SI, num sector de nutrição de um dos hospitais pesquisados reforça este ponto: "... Com o sistema houve agilidade e eficiência do serviço de nutrição e dietas de pacientes (impacto organizacional); aperfeiçoamento profissional decorrente de 9 Discussão dos resultados do estudo 213 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho práticas com informática (impacto individual). Antes do sistema éramos submetidas a estresses pelo atraso constante do trabalho. Agora, ao retornar de férias, mesmo sem deixar substituta, actualizo os dados em uma semana (impacto individual, organizacional). Ocorreram melhorias em todas as Unidades onde o sistema atende. Vejo isto nos sectores, da compra ao consumo dos alimentos. Melhorou nosso serviço com os sectores e deles connosco (impacto no grupo e organizacional)". (Anexo A.1, Entrevista 6, Questão 3). 9.7 Os custos dos produtos integrados não impedem a adopção [ref. questão Q4, Quadro 1.1] De acordo com a análise dos resultados dos indicadores de impacto organizacional (E, Tabela 8.15, tópico 8.8), os indicadores desta classe que obtiveram os maiores percentuais e foram classificados (ordem decrescente) como os melhores: • qualidade de serviços de saúde (E4), • produtividade de serviços de saúde (E5), • custo-benefício de serviços de saúde (E6), • controlo de materiais /medicamentos (E9), • aumento de facturamento de serviços de saúde (E11), • organização dos serviços de saúde (E12). Como se nota, este grupo encerra indicadores de significados qualitativos, mas há também uma forte presença de elementos de significados quantitativos relacionados a custos, e.g., E5, E6, E9, E11. Constatou-se no estudo, que, embora os custos dos produtos integrados de gestão ainda sejam relativamente altos, isto não constitui factor impeditivo de adopção desse tipo software. As necessidades das instituições e as facilidades disponibilizadas pelos produtos superam os custos, conforme citaram os inquiridos (tópico 8.10). Por exemplo, relativamente aos custos destes produtos um gerente de contas médicas afirmou: "... Exemplo de economia financeira ao adquirir o sistema: este hospital tem um facturamento médio mensal do SUS de R$ dois milhões (800 mil US$) e gasta, 9 Discussão dos resultados do estudo 214 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho aproximadamente, R$ 20 mil (US$ 8 mil) com o sistema ao mês. Sem o sistema ocorreria no mínimo 2% de desperdício de contas, o que daria um prejuízo mensal de R$ 40 mil (16 mil US$), ou seja, se perderia o dobro do valor gasto com o sistema. Há outras vantagens não financeiras: controlos, facilidades, pesquisa em saúde, satisfação de profissionais e de pacientes". (Nota: 1USD = 2,5 R$ (Reais), 20/01/2002; Anexo A.1, Entrevista 3, Questão 5.2). 9.8 A adaptação de SI integrados a ambientes de saúde é relativa [ref. questão Q5, Quadro 1.1] Este tópico merece maior reflexão, conforme mostra estudo similar desenvolvido no serviço público de saúde de Singapura (Soh et al. 2000; tópico 5.1), que aponta desajustes de produtos integrados empresariais tradicionais em relação a ambientes hospitalares. Verifica-se que um dos problemas que está na origem dos produtos, normalmente, muito distante do cliente, o que dificulta maior assistência do fornecedor. Portanto, os resultados deste estudo confirmam que os produtos nacionais devem ser os mais indicados, porque as instituições de saúde são organizações específicas, carecem de maior nível de adaptação nos projectos e assim precisam estabelecer um forte relacionamento e interacção com os fornecedores, cujo processo é facilitado quando se trata de parceiro de mesma região e país. Constatou-se na análise dos resultados da questão sobre dificuldades do questionário (tópico 8.11), que muitos respondentes apontaram problemas relativamente à utilização de SI integrados de gestão em instituições de saúde. Constatou-se também que tais dificuldades se relacionaram a problemas de infra-estrutura, avaria e falta de formação de utilizadores. Em relação ao software, as maiores dificuldades se relacionaram a necessidades de adaptação, falta ou demora em manutenção de rotinas de software. Dessa forma, o estudo demonstrou que há necessidade de adaptar as ferramentas integradas para serem utilizadas em instituições de saúde, como afirma um médico chefe do departamento de cardiologia de um hospital de Portugal, especialista e pioneiro na introdução e utilização desse tipo de ferramenta no SNS (Serviço Nacional de Saúde): 9 Discussão dos resultados do estudo 215 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho ".. No início, houve alguma resistência dos médicos ... o sistema informático estava em "bruto", só a parte de gestão, depois todo o resto foi desenvolvido internamente, inclusive, tivemos aqui, durante cerca de um ano e meio, um engenheiro informático da firma que fez meu programa ... em colaboração com os quais foram feitos diversos écrans, portanto, à medida do hospital" (Anexo A.2, resposta 4). 9.9 Considerações finais sobre a discussão dos resultados Embora se tenha identificado na literatura um número maior de identificadores de avaliação de sucesso de SI em contexto organizacional, neste estudo foram utilizados apenas os identificadores que se mostraram de fácil entendimento para os utilizadores tipificados. A adopção de categorias de pequena dimensão visou estabelecer um ponto de equilíbrio entre os objectivos e a viabilidade da investigação. Relativamente à aceitação por profissionais de saúde, notou-se boa receptividade do software por médicos e funcionários dos hospitais. Muitos entrevistados afirmaram que no início da utilização da ferramenta encontram algumas dificuldades, no entanto, ultrapassada a fase inicial esse problema foi superado. Considerou-se isso normal, comparativamente ao tipo de formação dos profissionais de saúde. Os estudos de caso, os questionários e as entrevistas mostraram que, após se familiarizarem com as ferramentas, os médicos e os funcionários passam a defender a utilização do software e pedem a incorporação de novas facilidades ao produto (conforme mostra os Anexos A e C). Em várias situações da análise e discussão dos resultados utilizou-se o processo de triangulação de informação para dirimir dúvidas de resultados. Por exemplo, para esclarecer incertezas sobre a categoria de impacto individual (D), que demostrou pouco significado nos resultados dos questionários. No entanto, nas entrevistas dos estudos de caso, os profissionais de saúde expressam que o envolvimento pessoal com a utilização de SI em serviços de saúde não tem muito a ver com progressões profissionais na área de saúde, daí o pouco interesse que demonstraram pelo conjunto de indicadores de impacto individual. Este tipo de informação coincide com os resultados dos questionários. 9 Discussão dos resultados do estudo 216 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho A codificação dos indicadores das entrevistas dos estudos de caso por meio da técnica open coding (grounded theory) [Strauss e Corbin 1990; Orlikowski 1993] foi importante para identificar, previamente, os conceitos que os utilizadores tinham sobre os identificadores e as categorias nos questionários. A técnica utilizada facilitou a validação dos identificadores e deu suporte à definição de conteúdos do estudo (Anexo A). Embora as categorias utilizadas não sejam de grande dimensão e os indicadores encerrem naturezas diferentes (quantitativa, qualitativa, bivalente), o emprego de técnicas de pontuação das importâncias das respostas (grau 0 a 5), tabulação, procedimentos de cálculos e classificação dos resultados foram importantes para apoiar análises e estabelecer distinções de resultados (Anexos B, C, D). Constatou-se que foi oportuno desenvolver a investigação com base em 5 das 6 dimensões do modelo original (ficou de fora a 6a classe, qualidade da informação, que se mostrou inadaptável ao estudo). Assim, o envolvimento das cinco categorias permitiu entender impactos, estabelecer comparações e descobrir destaques particulares de indicadores. Por exemplo, a forma como os entrevistados encararam a importância do indicador integração da unidades /serviço (A4, da classe qualidade se sistema), que significa o seguinte (Figura 7.4): • quando ocorreu a presença de facilidades da integração nos serviços de saúde, isso foi visto como impacto positivo dos SI nos serviços das instituições de saúde; • quando essas facilidades não se fizeram presentes (ou eram frágeis), isso foi visto como falta, necessidade, desvantagem, propriedade própria do SI. 9 Discussão dos resultados do estudo 217 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Capítulo 10 "Vês Europa cristã, mais alta e clara Que as outras em polícia e fortaleza; Vês África, dos bens do mundo avara, Inculta e toda cheia de bruteza, Co'o cabo que até'qui se vos negara, Que assentou para o Austro a Naruteza; Olha essa terra toda, que se habita Dessa gente sem lei, quase infinita. Vê do Benomotapa o grande Império, De salvática gente, negra e nua, Onde Gonçalo morte e vitupério Padecerá pela Fé santa sua. Nasce por este incógnito hemisfério O metal por que mais a gente sua. Vê que do lago, donde se derrama O Nilo, também vindo está Cuama." CAMÕES (Os Lusíadas: X 92-93, a África, o ouro e a morte do Pe. Gonçalo) 10 Conclusões Resumidamente, a investigação foi desenvolvida da seguinte forma: 1. Estudo da literatura: avaliação de sucesso de SI, SI integrados de gestão (ERP), avaliação de desempenho de SI de serviços de saúde, utilização de SI/TI de serviços de saúde de outros países (capítulos 2 a 5). O capítulo 1 é a introdução. 2. Apresentação da metodologia (capítulo 6): definição de elementos, indicadores de SI orientados à saúde, enquadramento do estudo em modelo de sucesso de SI. 3. Desenvolvimento de estudos de caso (capítulo 7) em dois hospitais (Recife, Rio de Janeiro) e aplicação de questionários (capítulo 8) em amostra de dados de hospitais das Regiões Metropolitanas de Recife, Fortaleza, Salvador. 4. Os capítulos 7 e 8 apresentam informações parciais; outros resultados foram discutidos no capítulo 9. Este capítulo apresenta conclusões e recomendações sobre futuros trabalhos nesta área. 5. Os anexos A, B, C, D reúnem os dados e os resultados dos estudos de caso e dos questionários desenvolvidos nos capítulos 7 e 8, respectivamente. 10 Conclusões 218 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho O estudo da primeira fase estabeleceu bases de definição e planeamento da investigação, por meio de pesquisa da literatura. Teve-se a preocupação de apoiar este trabalho em autores que trataram o assunto nas primeiras abordagens e também em especialistas da actualidade. A literatura foi orientada para as duas áreas do tema: • avaliação de sucesso de SI (capítulo 2), SI integrados de gestão (ERP, capítulo 3); • avaliação de desempenho de SI de serviços de sistema de saúde (SUS) do Brasil (capítulo 4). Adicionalmente, foi oportuno conhecer características de dois sistemas nacionais de saúde: Portugal (SNS), Reino Unido (NHS). Numa tentativa de aprofundar o estudo, foram seleccionados e analisados artigos de utilização de SI/TI de informatização de serviços nacionais de saúde de alguns países (capítulo 5), e.g., Singapura, Filipinas, Nigéria, Moçambique, Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido. Isto serviu para entender problemas, dificuldades e soluções similares e assim poder agregar mais conhecimento ao estudo. A definição da metodologia (capítulo 6) enquadrou a investigação no modelo escolhido [DeLone e McLean 1992]. Apesar de receber algumas críticas, o estudo destes autores é visto como um marco significativo em avaliação de sucesso de SI no campo das organizações, e vem sendo utilizado com frequência em investigações desta linha de pesquisa. Parte desses estudos tem produzido modelos similares (tópico 2.8). No capítulo 6 foram ainda definidas cinco classes ou categorias de 35 indicadores de SI orientados serviços de saúde. Os indicadores foram seleccionados do estudo de DeLone e McLean (1992), de outros trabalhos desta linha de pesquisa ou identificados em uso corrente nos estudos de caso, onde foram avaliados e/ou validados. Foram escolhidas duas regiões sócio-económicas diferentes para realização dos estudos de caso (Figura 6.4): Região Nordeste (HUOC, Recife), formada por 9 dos vinte e seis Estados brasileiros; Região Sudeste (HTO, Rio de Janeiro), com quatro Estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espirito Santo). Os estudos visaram tratar situações de realidades diferentes para obtenção de maior consistência de resultados (capítulo 7). 10 Conclusões 219 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Adicionalmente aos estudos de caso, definiu-se uma amostra de dados de hospitais de três Regiões Metropolitanas mais representativas do Nordeste (Recife, Fortaleza, Salvador - capítulo 8). Com base nas distâncias e no intuito de facilitar a execução do trabalho, programou-se não aplicar os questionários fora região Nordeste. As análises de resultados procuraram responder as questões da investigação (Quadro 1.1), com base nos estudos de caso e nas informações dos questionários, desenvolvidos nos capítulos precedentes e por meio das discussões apresentadas a seguir. 10.1 Houve queda de qualidade do SI por factores de manutenção Muitas citações sobre prejuízos de funcionalidades de ferramentas não se referiam à qualidade conceptual dos produtos, mas, maioritariamente, sobre problemas de infraestrutura, avarias de hardware ou demora e falta de atendimento em manutenção de rotinas do software, conforme constam os resultados dos estudos de caso (Anexo A.1) e citações dos questionários (8.10 a 8.13). Exemplo de citação de utilizador de SI relativamente ao item sugestão do questionário (Anexo C.1, quadro final): "... É um recurso avançado imprescindível; facilitou, integrou e agilizou a emissão de relatórios, estatísticas de serviços e atendimento de pacientes; para preenchimento dos campos com dados deveria haver tabelas de códigos para agilizar nesse processo; há necessidade de treinamento constante dos RH (sobre entendimento, utilização de equipamentos e recursos disponíveis); precisa-se substituir os equipamentos que apresentam maior frequência de manutenção por novos, com configurações mais actualizadas". A análise dos resultados dos questionários, relativamente à classe de qualidade de sistema (Tabelas 8.6, 8.7, tópico 8.4) confirma esta assertiva, quando atribui maiores valores a indicadores associados a facilidades de serviços e avalia negativamente os indicadores que se relacionam a funções do hardware, manutenção do software e problemas de avaria de equipamentos. 10 Conclusões 220 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 10.2 Os SI possuem facilidades de apoio à pesquisa em saúde Além da utilidade dos SI integrados em actividades clínicas e de gestão de serviços de saúde, verificou-se nos estudos de caso que tais ferramentas podem auxiliar directamente à investigação em saúde. O estudo feito no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HTO) ressaltou essa função. Exemplo: por meio de utilização das ferramentas, médicos do hospital têm identificado focos epidémicos com base no número (frequência estatística) de doentes originários de certas áreas geográficas do Estado de Pernambuco. Isto é um factor positivo de sucesso e permite concluir que a categoria utilização (sistema, informação) do estudo de DeLone e McLean (1992) se confirma nesse contexto. 10.3 Deve-se priorizar recursos nos SI de apoio directo a pacientes Constatou-se nos estudos de caso que, prioritariamente, levando-se em conta os benefícios oferecidos aos pacientes, os primeiros módulos de um SI que devem ser implementados em hospitais são aqueles que produzem efeitos directos e imediatos sobre os pacientes (e.g., cadastros e prontuários, atendimento de ambulatório, atendimento de emergência, admissão de pacientes, controlo de visitas, gestão de centros cirúrgicos, laboratórios clínicos). Isso produz benefícios positivos (impactos) sobre os serviços, minimiza problemas relacionados a pacientes e ajuda a elevar o nível de qualidade e eficiência dos serviços prestados pela instituição. 10.4 Os maiores efeitos se referem ao atendimento de pacientes pobres Pacientes podem deter todas as informações que precisam, podem não dispor de quase nenhuma informação ou às vezes nem sabem exprimir correctamente suas necessidades. Verificou-se a ocorrência de casos nos dois extremos. No estudo de caso do HTO (Rio de Janeiro), onde se concentra uma população de melhor nível económico e cultural, constatou-se que os pacientes que possuem melhor escolaridade e, portanto, mais informação sobre seus problemas, são atendidos com mais rapidez nos serviços de saúde. Porém, comparando-se as dificuldades que enfrenta um paciente de nível cultural mais baixo, observou-se que esse tipo de utente é, proporcionalmente, o mais beneficiado pelos recursos do SI, ou seja, as ferramentas se mostraram relativamente mais úteis para 10 Conclusões 221 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho os utentes mais pobres que detinham o mínimo de informação dos problemas que pretendiam resolver. 10.5 Os médicos são apenas utilizadores finais dos SI Os médicos entendem que os SI são úteis e portanto devem ser utilizados nos serviços de saúde. Dizem que têm formação diferente e portanto não mostraram interesses em ultrapassar os limites da condição de utilizadores finais das ferramentas de SI. Porém, o desenvolvimento de projectos de SI na área de saúde sem a participação directa de médicos tem menor chance de sucesso. Assim, o envolvimento directo de médicos em implementação de projectos de SI é importante para as instituições de saúde, não em função técnica mas em função de coordenação, líderes de projectos ou de equipas. 10.6 Os profissionais de apoio vêem oportunidades nos SI O profissional que tem outra formação e trabalha nas actividades de apoio aos serviços de saúde, vê nos SI uma oportunidade de ascensão profissional. Assim, demonstram empenho e esforço adicional na utilização das ferramentas. No entanto, apontam falhas que prejudicam suas actividades: falta de treino /formação, fragilidade da infra-estrutura computacional e falhas de manutenção de hardware /software. 10.7 Os projectos de SI em saúde precisam de aprovação de médicos Sabe-se que, historicamente, a classe médica sempre conduziu as acções da saúde. Assim, os projectos dos SI em saúde precisam da parceria e aprovação desses profissionais. Sobre isto, presenciou-se uma situação de conflito numa instituição de saúde, quando um gestor, premido pela necessidade de viabilizar um projecto de SI, adquiriu uma solução em carácter emergência que não possuía a qualidade técnica necessária. Depois, sem realizar um plano de exploração e treinamento, a instituição passou a utilizar a ferramenta. Tal situação gerou um conflito entre a equipa do projecto e os profissionais da saúde, assim a direcção resolveu suspender a utilização da ferramenta. Portanto, devese levar em conta que os médicos e outros profissionais de saúde utilizam regularmente 10 Conclusões 222 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho produtos da Internet, Web e outras facilidades modernas, por conseguinte, ferramentas da saúde precisam de mesmo nível técnico dos produtos existentes no mercado. Por exemplo, para resolver problemas desse tipo, o órgão gestor da informática do SNS de Portugal, o IGIF (Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde), teve a iniciativa oportuna de implementar uma aplicação específica para os médicos e outra para os enfermeiros (tópico 4.4.2). Estas, actualizadas com recursos gráficos e facilidades da Internet e da Web, relativamente aos serviços clínicos dos pacientes, para assim adaptar as visões dos médicos e dos enfermeiros com o sistema de gestão SONHO (Sistema Integrador de Informação Hospitalar) dos hospitais públicos do SNS. Por conseguinte, em ambiente particular, por meio de interfaces específicas, os profissionais desenvolvem suas actividades, à medida que as aplicações interagem com o sistema global de gestão, em termos de leitura e registo dos dados. Segundo o IGIF, tais aplicações foram implementadas para atender às solicitações dos médicos e dos enfermeiros, com base nos suas actividades e necessidades. 10.8 As falhas de manutenção e infra-estrutura prejudicam os SI Os resultados deste estudo mostraram que um problema sério dos SI nas instituições de saúde se refere à falta de manutenção, fragilidade da infra-estrutura computacional e falta de treino de pessoal. Isto ficou registado todas as vezes que os utilizadores intervieram no estudo. Portanto, tais dificuldades precisam ser resolvidas senão parte dos SI das instituições de saúde podem ser inviabilizados. Para resolver esse tipo de problema, poderia ser elaborado uma plano com acções que incluísse: • redefinição de planos e políticas de SI de serviços de saúde; • criação de programa paralelo para correcção de distorções; • agregação de soluções estruturadoras de serviços de instituições de saúde. 10.9 As instituições de saúde investem pouco nos SI Hoje não existe mais o problema de convencer os gestores sobre a importância dos SI nas instituições de saúde. A dificuldade é que o sector de saúde dispõe de poucos recursos para implementar muitas prioridades, segundo os gerentes de serviços. Isto é um 10 Conclusões 223 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho problema de difícil solução. Parte dos técnicos das instituições não entendem e chegam a apontar falta de sensibilidade dos gestores, o que não deve chegar a tanto. 10.10 Os programas de qualidade são aliados dos SI nas instituições Um forte reforço para o fortalecimento dos SI de serviços nas instituições de saúde são os programas de acreditação em qualidade (tópico 4.4). Esses programas exigem o cumprimento de normas de qualidade de serviços de saúde, bem como, a existência de procedimentos de gestão da informação e de ferramentas para tratamento e difusão da informação de saúde. Esses programas contemplam um conjunto de normas de qualidade e se tornam hoje uma exigência internacional. Assim, os SI de serviços de saúde tiram partido desse processo. No Brasil, há em desenvolvimento vários programas de qualidade, alguns de cunho regional outros estaduais e alguns internacionais, e.g., a instituição americana JCAHO (Joint Commission for Accreditation of Healthcare Organizations) e a ISO9002 (International Standards Organization). 10.11 A integração dos SI de serviços precisam evoluir Os resultados do inquérito mostraram que os indicativos dos graus de integração dos SI de gestão de serviços nas instituições de saúde precisam evoluir (tópico 7.6.1 e Anexos A.2, B.2), pois foram considerados apenas de níveis intermediários ou razoáveis em relação à integração de dados e processos, aquém do atendimento e das necessidades das instituições de saúde do Brasil. 10.12 A informação de saúde tem baixa procura Os indicadores da categoria utilização da informação apontaram que a utilização de dados e informação é baixa nas próprias instituições e em organizações externas. Ao contrário de empresas de outros sectores onde a procura da informação é relativamente alta. Os SI de gestão em saúde se limitam a produzir informação para o nível operacional e não beneficiam, suficientemente, os níveis superiores das instituições de saúde (estratégico, decisão). Acredita-se que a falta de ênfase na produção de informação pelos SI de saúde para funções destes níveis seja uma das razões da informação de saúde ser pouco utilizada em instituições ou em pesquisa, comparativamente a outras organizações. 10 Conclusões 224 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 10.13 A agregação de funções da integração é uma boa solução O IGIF (Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde) adoptou a seguinte proposta para informatização das instituições de saúde do SNS (tópico 4.4.2): • Formação de dois subsistemas integrados entre si (Figura 4.1): um de aplicações verticais de serviços de saúde (e.g., atendimento de urgência, consultas, internamento de pacientes, hospital dia, bloco operatório) e um subsistema de aplicações administrativas /gestão (e.g., contabilidade, recursos humanos, gestão de materiais, gestão de pagamentos). • Atribuição de um sistema ERP para cada grupo de aplicações. • As aplicações administrativas (algumas integradas), serão implementadas num produto ERP tradicional do mercado. • As aplicações verticais dos serviços de saúde estão sendo implementadas e integradas no ERP de gestão de serviços de saúde, o sistema SONHO. • A integração completa (hoje parcial) dos ERP: o sistema de gestão administrativa /gestão e o sistema vertical dos serviços de saúde (SONHO). Nota-se que a solução proposta pelo IGIF para o SNS é interessante porque separa actividades e funções distintas; aproveita produtos ERP do sector empresarial para administração /gestão das instituições de saúde, cujas funções são análogas a outros tipos de organização; adicionalmente, define e implementa soluções ajustadas às necessidades dos serviços do SNS; por fim, pode integrar os dois modelos num só sistema. 10 Conclusões 225 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 10.14 Sugestões sobre novas investigações A seguir, apresenta-se algumas sugestões sobre novas investigações nesta área de estudo. 1) Desenvolvimento de indicadores nacionais de serviços Existem várias instituições de origem americana que produzem indicadores de desempenho de serviços de saúde (e.g., HEDIS 4.6.4, FACCT 4.6.5). Estudos sobre serviços de saúde utilizam, geralmente, indicadores de origem americana ou europeu. No entanto, tais indicadores foram desenvolvidos para realidades e situações diferentes. Por conseguinte, seria oportuno o desenvolvimento de um estudo para definição e validação de indicadores de desempenho de serviços de saúde no Brasil, com base em contextos regionais e nacional. 2) Estudo com o universo: pacientes e utilizadores de serviços Esta investigação tratou utilizadores finais das instituições de saúde como universo. Para a melhor adequação do estudo a resultados mais consistentes, o universo foi limitado a utilizadores directos dos SI nas instituições, quando a estes foi permitido externar pontos de vista também sobre os pacientes dos serviços de saúde. No entanto, seria interessante realizar uma pesquisa incluindo os próprios utentes no universo. Poderia incluir pacientes de serviços de ambulatórios ou egressos de internamentos hospitalares, sobre benefícios e custos e/ou benefícios de serviços da rede pública e/ou privada. 3) Grau de adaptabilidade de software estrangeiro à saúde Estudos anteriores levantaram algumas questões sobre a adaptabilidade de produtos ERP estrangeiros a ambientes e serviços nacionais de saúde [e.g., Soh et al. 2000 6.1; Jayasuriya 6.2]. Assim, seria interessante uma investigação sobre implementações de pacotes ERP (SAP, Baan, PeopleSoft, JDEdwards) em instituições privadas de saúde. 10 Conclusões 226 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho 4) Comparação de modelos num mesmo problema Seria oportuno uma pesquisa que pegasse um problema e aplicasse mais de um modelo, por exemplo: • modelo de sucesso de SI [DeLone e McLean 1992] e/ou modelos derivados (2.8); • modelo de avaliação de competição de valores (Hedman e Borell 2002); • modelos matemáticos /emprego de testes estatísticos. 5) Desempenho de SI de serviços na saúde privada O universo deste estudo refere-se às instituições públicas do SUS. Seria importante o desenvolvimento de investigação similar para avaliar o desempenho dos SI/TI de serviços em organizações de saúde privada. 10.15 Contributo do estudo para as instituições de saúde No início deste estudo foram levantadas algumas questões de investigação (Quadro 1.1), sobre dúvidas em relação a impactos positivos e negativos da utilização de SI integrados de gestão (ERP) em instituições de saúde do SUS. Sabe-se que há uma tendência notória de adopção desse tipo de SI na área empresarial. No entanto, a saúde expressa algumas interrogações quanto à adopção de software integrado, basicamente, em relação ao volume recursos que consomem e o processo organizativo necessário comparados aos benefícios quantitativos /qualitativos que as ferramentas produzem para utilizadores, pacientes e a gestão das instituições de saúde. Contudo, constatou-se no desenvolvimento do estudo que: • A literatura realmente aponta problemas de implementação de produtos integrados em instituições de saúde, mas, o estudo produziu resultados que sugerem formas de minimizar impactos negativos de processos de adopção, implementação e operacionalização desses produtos na área de saúde. • É verdade que esses produtos consomem consideráveis parcelas de recursos (tecnológicos, financeiros, RH especializados), porém, o estudo mostrou que isto não constitui obstáculo inultrapassável na adopção de ferramentas integradas na 10 Conclusões 227 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho área de saúde, mesmo em relação à rede de instituições, que possui poucos recursos. • O estudo abordou formas de minimizar recursos e maximizar benefícios proporcionados pela implementação desses produtos em instituições do SUS, isto em função de melhores escolhas de produtos e utilização de técnicas adequadas de implementação e utilização dessas ferramentas no sector de saúde. • Os resultados do estudo mostraram que os benefícios qualitativos e quantitativos relativamente a facilidades de SI integrados, para utilizadores e utentes, foram tão evidentes que não deixam dúvidas quando à necessidade de adopção dessas ferramentas em instituições públicas de saúde do SUS. Portanto, de acordo com as conclusões, os resultados da investigação são úteis porque esclareceram dúvidas e sugerem soluções sobre a adopção de SI integrados de gestão em instituições de saúde, que carecem de informação, conhecimento e acção para apoiar processos de optimização de recursos e maximização de benefícios /satisfação de utilizadores e utentes de serviços de saúde. As respostas do estudo são oportunas e se referem a uma parcela considerável de instituições do SUS, um sector crítico que precisa de suporte para o desenvolvimento de actividades clínicas e de gestão dos serviços de saúde. Os resultados do estudo podem ser úteis no encaminhamento de soluções da faixa superior das instituições estudadas. De forma parcial, podem ser estendidos para instituições menores, logicamente, as mais carentes desse tipo de suporte tecnológico. Um ponto relevante do estudo é a situação geográfica onde o estudo foi desenvolvido: o Nordeste do Brasil, a região mais pobre do país. Os resultados podem ser utilizados como ponto de partida para apoiar outras investigações ou projectos de melhoria de serviços de saúde do Recife, de Pernambuco e do Nordeste. A Região Metropolitana do Recife, por exemplo, possui uma concentração de instituições de saúde que conta com muitos profissionais médicos, hospitais, clínicas, actividades, serviços similares e não há até agora, nenhum estudo que tenha focado esta linha de investigação. Assim, os resultados 10 Conclusões 228 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho representam um contributo à decisão, adopção, implementação e utilização de SI integrados de gestão em instituições de saúde do SUS. 10.16 Limitações do estudo No contexto deste estudo, as instituições de saúde foram tratadas como um tipo especial de organização, particularizado para instituições do SUS. Desse universo, tomou-se os SI integrados de gestão, para a avaliação do impacto que esse tipo de software pode exercer sobre o desempenho de serviços de instituições de saúde. Estuda-se um tipo particular de sucesso de SI em parcela de hospitais do SUS, os que possuem essas ferramentas. Adicionalmente, considerou-se um utilizador final típico, os profissionais que trabalham directamente com o software e foram considerados os mais indicados para a investigação. Não foi possível aplicar o estudo nos pequenos hospitais, pois, adoptou-se o pressuposto que a instituição de saúde deveria possuir software integrado de gestão e os pequenos hospitais, geralmente, não possuem esse tipo de ferramenta. Assim, os resultados do estudo não são totalmente aplicáveis a considerável parcela de hospitais: as pequenas instituições de saúde do SUS. Os resultados do estudo são baseados em pré-condições próprias, operacionalizadas nos instrumentos de colecta de dados dos estudo de caso e do questionário. Portanto, os resultados e as conclusões da investigação devem ser consideradas e limitadas a essas condições e contextos. 10 Conclusões 229 Estudo de impactos de sistemas informáticos integrados de gestão de instituições de saúde do Brasil: Uma abordagem sobre desempenho Referências Ackoff, R. L. (1969). A Concept of Corporate Planning. Wiley-Intercience, New York, London, Sydney, Toronto. Ackoff, R. L. (1998), Ackoff's Best: His Classic Writings on Management. John Wiley & Sons, Inc. Amaral, L. A. (1994). PRAXIS: Um Referencial para o Planejamento de Sistemas de Informação. Universidade do Minho, Departamento de Informática. (Tese de Doutorado em Informática: Sistemas de Informação). Bailey, J. E., S. A. Pearson (1983). Development of a tool for measuring and analyzing computer user satisfaction. Management Science, Vol. 29, No. 5. Ball, M. J., J. V. Douglas, D. E. Garets (1999). Strategies and technoligies for healthcare information: Theory into practice. New York, London: Springer. 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