Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA Abel Rebouças São José Reitor Rui Macédo frice-reitor Paulo Sérgio Cavalcanti Costa Pró-Reitor de Extrnsáo r .Assuntos Comnnitorios Rossana Karla Dias Freiras Gerente de ExtellJà; , .Assuntos Cnlturais Mansa Fernandes Leite Correia Diretora do Mmeu &gional de J 'itária da Conquista Janaina de Jesus Santos Coordenadora Pedagógica Marinho Rosa e Silva (1n ""IIIoliam) arma Alves Souza Sued Sampaio Colaboradores Amara Costa Silva Ana Cláudia Tomagnini Igurrola Ana Vitória Fernandes Almeida Celso Maciel Estagiários Banieck Silva Campos Fabiana Mércia Souto Stefano Fábio Alexis da Silva Sousa João Renê Rodrigues de Oliveira Metnória Conquistense O FIO DA MEMÓRIA: Discurso e História no Sudoeste da Bahia Confecção da Ficha Catalográfica: Elinei Carvalho Santana - CRB 5/1026 F543 Memória Conquistense: Revista do Museu Regional de Vitória da Conquista, v. 8, n. 9. --Vitória da Conquista: Edições UESB, 2009. Dossiê temático: O Fio da Memória: Discurso e História no Sudoeste da Bahia. ISSN 1677 -2342 " Conquista (BA) - História. 2. Discurso - Vitória da I. Vitória da Conquista (BA) - Memória. I. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Museu Regional de Vitória da Conquista. I. T. CDD: 981.42 '~ üil)ffSUIl8 Estrada do Bem Querer, km 4 - 45083-900 - Vitória da Conquista - Bahia Fone: (77) 3424-8716. E-mail: [email protected]@y.hoo.com.br ISS~ Memória Conquistensc Vitória da Conquista 1677-2342 2(K15 PRÓLOGO DE UMA HISTÓRIA PARA A VIDA modelando as memórias do corpo e das identidades Prologue of a history to life: modelling body and identities memories }\,Tilton MlLANEZ1 RESUMO Este trabalho invcsriga a obra Ceramista do Sudoeste n" 1, do artista plástico conquistense Romeu Ferreira, sob a noção de enunciado no interior da Análise do Discurso, a partir dos postulados de Michel Foucault. Dessa forma, evidenciarei o corpo e sua imagem como produção discursiva de identidades na história do cotidiano, cuja memória coloca em evidência o nosso presente histórico. PALAVRAS-CHAVE Discurso. Corpo. História. Memória. ABSTRACT This paper investigares the work Ceramista do Sudoeste n" 1, by Romeu Ferreira, born in Vitória da Conquista, Bahia, Brazil, under the notion of enunciate in the French Discourse Analysis, from the postulates of Michel Foucault. Thus, I will point out the bodv and its image as a discursive production of identities in the quotidian hisrorv, which memory highlights our historic present. KEYWORDS Discourse. Body. Historv, Memorv 1. Olhando para Ceramista do Sudoeste n? 1, de Romeu Ferreira Como chegamos a tocar uma obra de arte? Como essa obra nos toca? Que arte da existência podemos depreender dessa relação entre a obra que nos toca e o sujeito que lhe espreita? Ao nos depararmos I Professor Adjunto de Análise do Discurso na L'niversidadc Estadual do Sudoeste da Bahia (CESB); lider do GRCDlOCORPO/C"-lPq - Grupo de Estudos sobre o Discurso e o Corpo ~e responsável pelo projeto "Corpo e Discurso: lugares de memória e identidades brasileiras na mídia e na literatura" /CESB. Evmail: [email protected] Memória Conquistense Vitória da Conquista Y. 8, n. 9 2005 18 Sillon MilMe;;. com a fotografia Ceramista do Sudoeste n" 1, a partir madeira prensada, de Romeu Ferreira, artista conquistense, procuramos algo que nos possa dar uma resposta, da criação povoa exterioridades abarcam muito mais que suas dimensões aguçar sensibilidades a partir, não do trabalho que passou pela transfiguração históricas que vão além E ainda pelo fato de em si, mas de uma foto do olhar de Sabiá, quem fotografou trabalho de R. Ferreira. Posso afirmar que a compreensão - que agora pertence os efeitos de 80x70 cm. Certamente, do acetato de polivinila sobre a madeira prensada. o desse trabalho àquele que olha e não mais aos Seus artistas (aquele reduzir, ao mínimo, a história que ali retratada então: qual tipo de unidade procuramos? determinado específico tipo de conhecimento, Busquemos, de Romeu frase", gramaticais. "não é uma proposição". de verdadeiro produções que Isso depende objetos conhecimento de como durante tempo e um posicionamento. novamente e na memória, o trabalho outras problematizações. poderia entendemos como a posição que cruzam na história com as apontar esse trabalho? o que é conhecimento. que os sujeitos ocupam o dia, marcando, Eu o diante de vários em questão francês, enunciado que a proposição ou falso e o enunciado Na mesma linha, pois mesmo que se assemelhe nesse caso, a procurar do indivíduo um enunciado que está realizando se constitui que definem e possibilitam para estabelecer um ato. pelo fato de ele ser por um sujeito, em um lugar institucional, essas questões se submete às escrever), como na filosofia analítica inglesa, a intenção regras sócio-históricas, da também está no nível do discurso entre as formulações. "não é um ato de linguagem", como tampouco a uma estrutura determinado o enunciado. por Coloco o lugar do qual falo, compreendendo Ceramista do Sudoeste n? 1 não apenas como trabalho artístico, mas como da posição dizer (FOL'CAL'LT, o trabalho de sujeitos, determinando 2000b), em um momento de Romeu o que pode e se deve dado. Portanto, investigar Ferreira como enunciado nos dará a dimensão necessária para que eu possa refletir sobre a constituição a formação de identidades no Sudoeste dos sujeitos e da Bahia. assim, um lugar, um Essa tríade revelará o lugar de um sujeito produzindo Entendamos o ato material (falar e/ou "não é uma ou seja, a seus caracteres a essa discussão, à primeira vista, não se propõe, destaque de saber, ou seja, de conhecimento. Mas compreendo no dia-a-dia, tomadas nos seus intrincamentos submetido do pensador equivalências produzido que vivenciamos o não se revela por meio dos constituintes a discussão 1não seja compreendida lugares, fazendo emergir um sentido que nasce das relações de práticas o enunciado (sujeito-verbo-predicado), O enunciado frase. Seguindo Sob essa perspectiva, mas que essa obra seja colocada em relação com outras obras, em outros (2000a). Para Foucault, lingüística canônica discursiva. Essa unidade de que falo faz com que Ceramista do Sudoeste n" na estreiteza dos limites de seu volume material, Para tanto, compreenderei pois não está necessariamente enunciado face a uma unidade Ceramista do Sudoeste n" 1, trabalho do artista como um enunciado, a partir do conceito estabelecido serve à vida. Pergunto, dessa maneira, o que torna uma obra singular. por Michel Foucault e não considera Talvez seja aquela que une um portanto, Ferreira ela mesma acabaria por de uma certa cultura, em espaço do tempo. Ora, estamos, 2. A mão que molda o enunciado prons da madeira ou aquele da foto) - vai além de sua unidade formal. Essa unidade não unifica nem sobrepõe, 19 parece que talvez aquilo como uma unidade que nos liga ao tudo e ao nada. Entretanto, sentido que essa imagem provoca, em PróloL~o de IIIJ/a Iustoria para a l'ida identidades. Em resumo, e sigo me colocando 3. Construções do Imaginário no Sudoeste da Bahia olho ainda mais Ao nos depararmos espectador com Ceramista do Sudoeste n" 1, um sujeito diante de seu objeto, reflexão e reinvenção inicia-se um processo histórico de de imagens, porque nosso corpo ao mesmo tempo em que produz imagens é também receptor delas. Mais especificamente, Nilton Milanez 20 compreendamos que o artista conquistense, "suponhamos que alguém se ocupe com Demócrito, então, a pergunta sempre fica para mim na ponta da língua. Por que não Heráclito? Ou Filon? Ou Bacon? Ou Descartes? - e assim por diante, arbitrariamente. E, então: porque justamente um filósofo? Por que não um poeta, um orador?" E por que em geral um grego, por que não um inglês, um turco? ao construir materialmente seu trabalho, possibilitou a elaboração de uma imagem acerca do povo do sudoeste baiano e, ao nos apresentar essa imagem, ela passa a fazer parte de nosso arquivo midiático, ou seja, o arquivo de imagens que marcou nossa história como sujeitos. Vendo dessa maneira, tanto o trabalho em si, como nosso olhar sobre ele refletem ecosde nossa cultura (COURTINE apud MILANEZ, 2006), inicialmente, regional, para depois, falar de nossa Colocar uma imagem, dessa maneira, em rede, seja com as imagens que nos compõem particularmente cercam tangencialmente, Da mesma maneira, Foucault compreenderá nietzscheano própria história identitária como brasileiros. como sujeitos ou aquelas que nos é olhar discursivamente para um objeto que 21 Prólogode uma histeria para a rida enunciado por meio do questionamento: esse pensamento porque este e não outro em seu lugar?, ou citando Foucault (2000a, p. 49), em sua Arqueologia do Saber, "mas entre eles, que relações existem? Porque esta enumeração e não outra?". Ao considerarmos as intervenções de se desloca de seu ponto inicial para se inserir e se juntar à margem com Nietzsche e Foucault, tomamos os discursos e a história que os determina outros enunciados, e como irrupção de acontecimentos. chamamos de "nós". Nessa linha, vou agora escavar camadas de Ceramista Para tanto, compreendamos construindo pouco a pouco o que conhecemos como a noção de "ceramista" se do Sudoeste n I na busca da constituição desse sujeito, elencando sentidos constrói que a própria materialidade história. E atentemos que Ceramista não é, por exemplo, a definição que O do enunciado nos oferece. Comecemos, portanto, pelo próprio titulo do trabalho: Ceramista do Sudoeste n" 1. podemos no percurso encontrar que marca a sua composição como sujeito na em algum site do google como "o cerarnista é o profissional que trabalha com a cerâmica, que é a atividade de produção de 3.1. Porque Ceramista? objetos e artefatos a partir de argilas'", pois cada unidade do discurso não tem em si seu valor, seu lugar ou seu tempo, pois isso se dá a ver à medida A unidade que o discurso comporta não aceita metafísicas que consideramos suas interrupções e seus jogos com discursos alhures~ ou intuições, não há um lugar para o "por acaso". Toda relação no O sentido para Ceramista, portanto, não está dicionarizado ou cristalizado discurso em nossa língua. O sentido para essa designação se constrói por meio de é marcada sobre procedimentos detrimento por uma existência de controle, coagindo-nos de outras no momento compreender histórica, que se constrói a excluir posições em de uma escolha. Ao buscarmos o titulo da obra Ceramista, podemos não poeta, bóia-fira ou ciclista? Considerando questionar materialidades que podemos visualizar na produção discursiva da obra, elementos que pretendo apontar a seguir. porque o sistema de exclusão, 3.2. Materialidades e sentidos do sl!jeito que possibilitou a escolha do titulo que nos remete a sua imagem, é que podemos apreendê-Ia em sua singularidade: unidade da singularização que, para existir e se mostrar, precisa entrar também em rede com os enunciados aos quais não pertence. Isso nos chama a atenção para o não questionamento de uma posição, dizendo que a eleição de um fato exclui outros e traz, assim, conseqüências e intervenções cujas fronteiras precisam ser determinadas. Nietzsche (2003, p. 45) diz: Para nos colocarmos frente à Cerarnista do Sudoeste n? 1, seria interessante recorrer a uma metodologia do olhar, a fim de levar a cabo o projeto de construção discursiva dessa obra. Por isso, ao olhar para a tela, vou me deter a detalhes da maneira como o faria um detetive, um médico, ou um historiador da arte. Como nos ensinou Ginzburg (1990), , Site: Brasil Profissões. Disponível em: <http://,,·ww.brasilprofissões.com.br>. nov, 2008. Acesso em: 5 22 Niiton Milal7ez Prólogo de lima bistória para a vida 23 o essencial está nas particularidades de nosso objeto de estudo, o que me não determina um gênero, mas marca um tipo de força potencial do faz procurar traços e indicios dos contornos sujeito que segura o vaso. Mãos, dorso e braços alongados me remetem para Ceramista, determinado que constituirão o sentido pela identidade Sudoeste. Observando a a uma configuração que poderia ser entendida em nossa sociedade imagem como um médico olha para um raio-X, procuro identificar os brasileira como um traço feminino, por ser bastante sintomas que permitem de novo, não podemos propõe, transparecer a identidade que esse enunciado trazendo quatro lugares de olhar: delicada. Mas, deixar nos levar pelo senso comum, atrelando delicadeza somente à mulher, imaginário comumente mídia. Ora, tal construção reforçado pela não me surpreende, pois estamos diante de um mecanismo que não coloca em relevo um individuo marcado por seu gênero. Este é um exemplo formidável para se compreender a noção de sujeito para a Análise do Discurso. O sujeito é o imbricamento de um "eu" com um "nós", ou se preferirem, de uma identidade com uma alteridade, o que o torna o sujeito clivado por suas relações pessoais/ interindividuais e sociais/institucionais. Isso nos mostra que o sujeito não é livre para fazer o que quiser, quando quiser, mas que está atrelado às coações e contingências dos laços que o constroem. sabemos que, como sujeito, somos produto posicionamentos Colocado isso, de uma intersecção de e lugares. O efeito que se produz, portanto, ao meu ver, a partir da construção dessa figura, é que Ceramista não se limita a ocupar um lugar único, per se já é um lugar de constituição de múltiplas identidades, que pode ser ocupado por qualquer um de nós que a figura Figura 1 - Ceramista do Sudoeste, n? 1. Fonte: Acetato de Polivinila toque com o olhar. sobre madeira prensada, 80X70, 1992, Romeu Ferreira. porque ao mesmo tempo em que não estabelece o gênero, também não lingüística , de imediato , apresenta uma narrativa mítica, eu diria, original, mas não no sentido Segundo: a tela, nessa esteira, releva um tipo de sujeito específico, estabelece um tempo marcado. Essa dispersão tão característica do sujeito Primeiro: tomando a materialidade observamos que não há marcação de artigo para Ceramista, denegando de mostrar uma origem, um começo, mas uma divinização do sujeito a presença de um gênero masculino ou feminino, que poderia estar que o insere no tempo e no espaço históricos, de maneira eternalizante, marcado pela presença de "O Ceramista" ou ''A Ceramista". Seguindo, ao modo dos grandes deuses. O efeito provocado é de universalização o apagamento do sujeito. Dessa maneira, a tela eternaliza um momento de gênero não se dá somente na língua, mas também na imagem: o corpo retratado na tela não apresenta formas evidentes ser efêmero, fugaz, representado que pudessem barro ao chão: a tela toma, assim, contornos determinar seu sexo. Ao contrário, braço direito da personagem, alongamento o movimento do passando por cima de sua cabeça com o da coluna, me remete a uma imagem bastante viril, o que que poderia no simples ato de levar o jarro de da fixação de um instante na eternidade. Até aqui, parece que essas inquietações podem marcar qualquer sujeito, impossibilitando o encontro de uma identidade. Porém, é justamente a partir da dispersão histórica do retrato que se encontra 24 Nilton Milatlez a regularidade de se pertencer ao Sudoeste, identidade que se formata nos poucos segundos em que nossos olhos vêem a tela e lêem o título 25 Prólo!!,o de lI",a lustána para a tuia sujeito comum, aquele do dia-a-dia, que vive o cotidiano, escrevendo-se e modelando-se ao se inscrever na história. que a segue. Terceiro: ainda, nesse breve percurso, gostaria de colocar em 4. Uma memória do presente relevo aspectos que tangem a relação do corpo do sujeito na tela, com os objetos que produz: os vasos. A cabeça do sujeito na tela não apresenta identificações pensamos fisiogonômicas, não pelo menos da maneira como encontrar, com traços de homem, mulher, velho ou criança etc. A cabeça, em sua forma redonda, se assemelha, por identificação, ao vaso, criando o efeito de que a cabeça é também um vaso e que está Ceramista do Sudoeste na 1 é, então, o inicio de uma pequena arqueologia do imaginário sobre o sujeito do sudoeste baiano, compondo um arquivo, inferência que faço a partir de "na 1", inicio mais do que de uma série de telas, mas um mosaico das identidades do sujeito baiano. lão há história sem memória e, antes de mais nada, precisamos entender na mesma ordem que eles, trazendo o seguinte percurso: vasos no chão, que discursos isso deflagra. A história que temos presente vaso que vai ser colocado Romeu Ferreira é uma história que tem em si condensada memórias do no chão, vaso/cabeça que se alinha nessa na tela de ordem. Ressalto, também, que a cabeça, o que mostraria a identificação passado, mas que marcam o nosso presente histórico, deixando brechas por meio de um rosto, tomada como vaso, pode ser compreendida para se compreender como o futuro por vir. ão basta olhar para a história a singularidade dessa identidade que se constrói. Por último, chamo a para investigar o seu passado, fechando-se atenção para os movimentos na descontinuidade das linhas do corpo da personagem que nele. Essencial é caminhar histórica, seguindo o fio que ora se enrola ora se colocam-na em relação direta com o vaso. Vaso e ceramista, portanto, desenrola em direções que nem sempre podemos prever. Essencial é ter são partes dos mesmos elementos. em mente a pergunta iluminista retomada por Foucault "Quem somos Quarto: como vimos, o sujeito da tela não é somente aquele que nós nesse momento?" (FOUCAULT, 2001, p.783), no encontro desse fabrica os vasos, mas é também o próprio vaso. Sob essa perspectiva, ser e "hoje" com uma memória do presente, eternalizada na tela apresentada. fazer se encontram no mesmo nivel discursivo. Por isso, gostaria de refletir Dessa maneira, podemos sobre o ato de modelar. Modelar significa colocar em molde, o que traz, a história , memória e identidade no interior dos estudos sobre o discurso. priori, uma idéia de normatização, homogeneização, disciplina coercitiva, o que apagaria o processo de fabricação no binômio fabricação/invenção. Contrariando a idéia primeira da disciplinarização, a tela reproduz discurso de uma força plástica criadora, uma vez que a produção começar a compreender Para finalizar, ao lado de Nietzsche, compreendo as relações entre que Ceramista do Sudoeste na 1, de Romeu Ferreira, para além de uma tela, é o marco de o uma "história que serve à vida" (NIETZSCHE, 2003, p. 27). dos vasos nasce, sobretudo, de uma massa disforme, a argila, que respeitará os 5. Referências desejos e vontades do criador das formas em cerâmica. Aqui está, a meu ver, o traço identitário que o enunciado deixa transparecer: esse sujeito, caracterizado pelo ato da fabricação, ou seja, da invenção, é a configuração FOUCAULT, Michel. O que são as luzes? In: 11, 1976-1988. Paris: Quarto-Gallimard, o Dits et Ecrits 2001. de um sujeito marcado por uma força plástica, que reinventa os sujeitos. E como não poderia deixar de ser, essa história não é apresentada pelas grandes autoridades ou governantes, não estamos diante da história dos célebres. O lugar que esse sujeito da recriação ocupa está ancorado no ____ 2000a. o Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, I I 26 ___ i~'iltonAlilamz o Ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2000b. ALÉM DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA O GIZSBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário, In: Mitos, emblemas, _ sinais: morfologia e História. 1. reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. MILANEZ, cineasta Glauber Rocha na mídia conquistense Beyond History and Memory: the cineast Glauber Rocha in the press of Vitória da Conquista Janaina de J. SAI\JTOS1 Nilton. O corpo é um arquipélago. In: NAVARRO, Pedro (Org.). Estudos do texto e do discurso. Mapeando conceitos e RESUMO métodos. São Carlos: Claraluz, 2006. p. 153-179. MILANEZ, Nilton. A escrita do corpo - fios e linhas do jogo escrituristico na revista. In: FONSECA-SILVA , Maria da Conceicão: .' , POSSENTI, Sírio. Mídia e rede de memória. Vitória da Conquista: Este trabalho se propõe a discutir a constituição da identidade do homem contemporâneo, registrada na mídia, em Vitória da Conquista - BA, em torno da figura do cineasta Glauber Rocha. Ao pensar identidade, nos questionamos sobre posições sujeito, a partir dos postulados de Michel Foucault, sob a ótica da Análise do Discurso, discutimos qual vontade de verdade está materializada e como está envolvida na história. Edições UESB,2007. p. 77-91. PALAVRAS-CHAVE Discurso. História. Memória. Mídia. Sujeito. NIETZSCHE, Friedrich. Segunda consideração intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003. Recebido em 05/01/2009 Aprol'ado em 28/01/2009 ABSTRACT This paper proposes to discuss the idcntiry constitution of contemporary men registered in newspapers of Vitória da Conquista, Bahia, Brazil, araund the image of the cineast Glauber Rocha. When we think identity, we question about subject positions frorn the works of Michel Foucault, under the postulates of the French Discourse Analysis. Also, we discuss which will of truth is materialized and how it is involved in historv, KEYWORDS History. Memorv, Media. Subject. 1 A materialização da história Michel Foucault e da memória fundamenta uma teoria para se pensar os discursos, ao mesmo tempo em que nos adverte sobre os perigos de entrar em sua ordem (2007b), a qual envolve o discurso de opacidade I Mestranda em Estudos Lingüísticas, área de concentração em Análise do Discurso, na Universidade Federal de Uberlándia (CFl'); Coordenadora Pedagógica do Museu Regional de Vitória da Conquista/ PROEX/UESB; membro do Grupo de Estudos sobre o Discurso e o Corpo - Grudiocorpoj C~Pq. E-mail: [email protected] Memória Conquistense Vitória da Conquista 2005