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Evolução das estratégias para o manejo químico de doenças do trigo
Erlei Melo Reis, Sandra Maria Zoldan e Beatriz Germano
OR Melhoramento de sementes Ltda, Passo Fundo, RS.
1. Introdução
O manejo sustentável das doenças do trigo inclui a resistência genética (com maior
sucesso para os fungos biotróficos como oídio e ferrugens e para o mosaico), a
produção de sementes com a menor incidência possível dos fungos que causam
manchas foliares (sob rotação de culturas), o tratamento de sementes com fungicidas
em doses eficientes (carbendazim + iprodiona) e o controle químico das doenças
foliares e da giberela.
Apesar dos grandes esforços, a pesquisa ainda não obteve cultivares
resistentes a todas as doenças do trigo. As maiores dificuldades têm sido com as
manchas foliares, giberela e brusone.
Alguns casos de desenvolvimento de raças e de linhagens de fungos resistentes a
fungicidas tem sido relatados no Brasil o que reduz a eficiência do controle químico.
Nesse sentido, foi relatada a resistência do agente da ferrugem da folha, Puccinia
triticina aos triazóis (Arduim et al., 2012), ao do agente causal do oídio Blumeria
graminis tritici, pelo triadimenol (Reis et al., 2013) e a redução da sensibilidade de
Drechslera siccans e D. tritici-repentis as estrobilurinas (Tonin et al., 2013).
Desde a safra 2006, os produtores têm reclamado da dificuldade de controle das
manchas foliares do trigo. Há a necessidade de se recuperar o controle das manchas
atingindo eficiência >80%.
Os principais fungos envolvidos com as manchas foliares são Bipolaris
sorokiniana, Drechslera siccans, D. tritici-repentis e mais esporadicamente
Stagonospora nodorum (Fig. 1).
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Figura 1.Sintomas da helmintosporiose e da mancha-amarela em folhas de trigo.
A giberela causada por Gibberella zeae (Anamorfo Fusarium graminearum)
continua sendo uma doença altamente destrutiva cujas medidas de controle,
principalmente através da aplicação de fungicidas, não reduzem os danos a níveis
sub-econômicos.
Para que se possa obter controle químico econômico (>80%) das doenças do trigo,
se deve empregar todas as medidas disponíveis em sintonia com o manejo integrado
de doenças.
O controle químico das doenças do trigo tem sido menos eficiente ao longo das
últimas safras. A realidade presente aponta para a resistência de P. triticina aos
triazóis, de Blumeria graminis tritici ao triadimenol, de Drechslera spp. as
estrobilurinas e a necessidade de produzir trigo com menor teor de desoxinivalenol
geraram a necessidade de se aprimorar o controle químico das doenças foliares e das
da espiga do trigo.
2. Tratamento sementes. A mistura de fungicidas mais eficiente para o controle dos
fungos veiculados pelas sementes de trigo é composta pela iprodiona (Rovral 100
mL) + carbendazim (Derosal 100 mL)/100 kg sementes. Os dados científicos que
suportam essa indicação são apresentados no site orsementes-informações técnicas.
Os fungos alvo do controle são Bipolaris sorokiniana, Drechslera siccans, D. triticirepentis, Stagonospora nodorum e Fusarium graminearum.
O tratamento tem como objetivo a erradicação de tal maneira que a semente não
introduza os fungos citados na área cultivada. Quanto menor a incidência em
sementes, maior é a eficiência do tratamento.
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3. Rotação de culturas – ver site orsmentes-informações técnicas.
Além da rotação, elimine também o azevém da área onde será cultivado o trigo
(site: www.orsementes.com.br, indicações técnicas).
4. Controle de manchas foliares – estádios vegetativos.
Definição do momento para a realização da primeira aplicação. O único
critério cientificamente correto indicador do momento da primeira aplicação é o
limiar de dano econômico (LDE). O LDE é, aquela quantidade de doença que
determina uma perda (R$) igual ao custo do controle. O custo da primeira aplicação,
computando o amassamento do rodado do trator e do pulverizador, o combustível, o
salário do operador e do fungicida é estimado em R$ 100,00 a 110,00/ha (Boller et
al., 2013).
Nas Informações Técnicas para Trigo (2015), consta a metodologia para o cálculo
do LDE para o oídio, ferrugem da folha, manchas foliares e para um patossistema
múltiplo (Reunião, 2014). No site da orsementes-informações técnicas, também está
disponível a metodologia para o cálculo do LDE.
Portanto, a primeira aplicação visando ao controle do oídio, da ferrugem da folha
ou das manchas foliares, deve ser feita quando a incidência foliar atingir o LDE.
A chamada aplicação preventiva é inexequível e a baseada em estádio fenológico
não tem respaldo científico.
Intervalo entre as aplicações. Considerar um período de proteção conferido pelo
fungicida de 15 dias, Quanto mais cedo forem iniciadas as aplicações, maior será o
número de pulverizações na fase vegetativa.
5. Fungicidas indicados para o controle de manchas foliares. Utilizar misturas
pré-fabricadas de fungicidas triazóis + estrobilurinas nas doses recomendadas não
esquecendo de usar o óleo indicado pelos distribuidores.
Tem sido demonstrado cientificamente que a adição de 500mL de propiconazol
ou epoxiconazol, as misturas de triazóis + estrobilurinas, aumenta a eficiência de
controle das manchas foliares. Embora ainda sem registro, a adição de iprodiona
(Rovral 500 mL) ou de mancozebe (Unizeb Gold 2.0 kg/ha), também melhora a
eficiência das misturas no controle das manchas. O objetivo é obter controle > 80%.
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6. Fungicidas indicados para o controle da ferrugem da folha. O controle da
ferrugem é garantido pela estrobilurinas, pois o fungo P. triticina (Fig. 2)
desenvolveu resistência aos triazóis. Consequentemente os triazóis não devem ser
usados isoladamente (Ver site:orsementes-informações técnicas). Portanto, aplicar
fungicidas contendo estrobilurinas + triazóis (Arduim et al. 2012).
Figura 2. Sintomas e sinais da ferrugem da folha em folha do trigo
7. Fungicida indicado para o controle do oídio. O agente causal do oídio do trigo,
Blumeria graminis f.sp. tritici (Fig. 3) desenvolveu resistência aos triazóis, por isso,
o melhor controle é obtido pela aplicação do fenpropimorfo (Corbel, 750 mL/ha).
Figura 3. Sinais do oídio em folha de trigo
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8. Controle de doenças da espiga – giberela (Fig. 4).
Figura 4. Sintomas de branqueamento de espigueta causado pela giberela
Momento da aplicação. A aplicação de fungicida visando ao controle da giberela
deve ser feita após o início da floração e antes da ocorrência de chuva nesse período,
prevista pelo INPE - CPTEC (24-72 h antes da chuva). Sem a ocorrência de chuvas que
resultem no molhamento das espigas > 48 h e temperatura > 15oC não ocorre a doença.
Portanto, não chovendo não se deve aplicar fungicida. Assim, a aplicação de fungicidas
visando ao controle da giberela deve ser feita somente quando houver a previsão de
chuvas (antes da chuva prevista) (Fig.5).
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Figura 5. Chuva em lavoura de trigo.
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Fungicidas indicados. Os fungicidas mais potentes para o controle da giberela são
o protioconazol, metconazol e tebuconazol (não devem ser aplicados isoladamente).
Ainda não está disponível no Brasil, a mistura de protioconazol + tebuconazol. Essa tem
sido considerada uma das melhores opções de controle da giberela nos Estados Unidos e
no Canaá (Paul et al., 2008.
Tem sido relatado que a aplicação de estrobilurinas e/ou carbendazim pode
aumentar a contaminação de desoxinivalenol (DON) nos grãos de trigo giberelados
(Wegulo, 2012). As misturas de fungicidas, hoje disponíveis no mercado brasileiro,
contém estrobilurinas em suas formulações. Por isso, se sugere aplicar metconazol (1000
mL) + tebuconazol (750 mL/ha).
Cobertura das laterais das espigas. Considerando-se que as anteras presas (Fig.
6) estão relacionadas com os sítios de infecção da giberela, as laterais das espigas devem
receber a melhor cobertura possível da pulverização (Reis et al., 2013). Para isso, por
exemplo, utilizar pontas Magnojet AS-IA-7030 (110-025). Os jatos da pulverização são
laçados 30o para a frente e 70o para trás.
Figura 6. Espigas de trigo com anteras presas na extremidade apical das glumas
Decorridos 15 dias após a primeira aplicação, e havendo espigas verdes, sujeitas
a novas infecções, fazer nova aplicação havendo nova previsão de chuva.
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9. Referências.
Arduim, F.S.; Reis, E.M.; Barcellos, A.L.; Turra, C. In vivo sensitivity reduction of
Puccinia triticina races, causal agent of wheat leaf rust, to DMI and QoI fungicides.
Summa Phytopathologica, v.38, n.4, p.306-311, 2012.
Boller, W.; Brustolin, De Rossi, R. L.. Análise econômica da aplicação de fungicidas em
órgãos aéreos do trigo. In: Reis, E. M. (Org.). Indicadores do momento para a aplicação
de fungicidas visando ao controle de doenças nas culturas da soja e do trigo. 2a ed. Revista
e ampliada. Passo Fundo, Berthier, 2013, p.53-65.
Paul, P. A., Lipps, P. E., Hershman, D. E., McMullen, M. P., Draper, M. A., and Madden,
L. V. Efficacy of triazole-based fungicides for Fusarium head blight and deoxynivalenol
control in wheat: A multivariate meta-analysis. Phytopathology 98:999-1011, 2008.
Reis, E. M.; Brustolin, R.; De Rossi, R.; Boller, W. Avanços na tecnologia de aplicação
de fungicida visando ao controle da giberela em trigo. Revista plantio direto, Passo
Fundo, ano XXI, ed. 133, jan./fev., p. 28-32, 2013.
Reis, E.M.; Basso, D.F.; Zanatta, M. Loss of sensitivity of Blumeria graminis f. sp. tritici
to triadimenol applied as seed treatment, Tropical Plant Pathology, vol. 38(1):055-057,
2013.
Reunião da comissão brasileira de pesquisa de trigo e triticales (8.:2014): Canela RS.
Informações técnicas para trigo e triticales – safra 2015. VIII Reunião da Comissão
Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale; Gilberto Rocda Cunha e Eduardo Caierão,
editores técnicos – Brasília, DRF.: Embrapa, 2014. 229, p.;il. Color.; 15,5 x 21,5.
Tonin, R.F.B.; Reis, E.M.; Danelli, A.L.D. Etiologia e quantificação dos agentes causais
de manchas foliares na cultura do trigo nas safras 2008 a 2011. Summa
Phytopathologica, v.39, n.2, p.102-109, 2013.
Wegulo, S. N. Factors influencing deoxynivalenol accumulation in small grain cereals.
Toxins, 4 (11):1157-1180, 2012.
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