Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura
São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.
ISSN: 2175-4128
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ARMINDO GUARANÁ E SUA PRODUÇÃO NA CASA DE SERGIPE
Anthony Fábio Torres Santana (UNIT)
Aldenise Cordeiro Santos (UNIT)
INTRODUÇÃO
Da São Cristovão ainda capital de Sergipe, emerge a figura de Manoel
Armindo Cordeiro Guaraná incentivador da produção intelectual no estado. Autor
do Dicionário Biobibliográfico Sergipano1 que reúne 647 verbetes de cunho biográfico
reconstitui histórias da sociedade local entre o final do século XIX e início do XX,
obra que o qualifica como biógrafo dentro do contexto historiográfico regional.
Guaraná teve sua vida permeada pelo trabalho na magistratura, função que
desenvolveu em vários estados do Brasil, a exemplo do Ceará e Piauí. Bem como, a
sua paixão pelas produções históricas, estas fundamentadas na composição de um
vasto acervo de verbetes, e artigos biográficos sempre referentes aos sergipanos
contemporâneos a ele.
Parte das suas publicações foi destinada a periódicos e informativos em
geral. Outrossim, segundo o historiador Itamar Freitas, Armindo atuou no começo
da revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe – IHGS, sendo redator da
referida publicação nos números 2, 3, 4 e 5. Como autor publicou cinco trabalhos,
entre eles três biografias, que foi um dos temas mais recorrentes de seus escritos.
Dentre as histórias de vida narradas destaca-se a do Monsenhor Antônio
Fernandes da Silveira. Este que foi o fundador do primeiro jornal de Sergipe, o
Recopilador Sergipano, em setembro de 1832, na cidade de Estância. Acerca da
produção enquanto biógrafo, Maurício dos Reis Santos aponta que “a forma de
escrita de Armindo Guaraná nos jornais pode explicar sobre a sua formação no
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GUARANÁ, Armindo. Dicionário Bio-bibliographico Sergipano. Rio de Janeiro, 1925, Ed. Pongetti & C. 1925.
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tempo em que passou em Pernambuco. A linguagem política, literária, agressiva,
direta ou insinuosa, deve ser herança da sua experiência acadêmica naquela
província” (SANTOS, 2005, p.20).
Os artigos publicados por Armindo Guaraná, entre 1913 a 1920, na revista do
IHGS, estão intitulados: O 1º Jornal de Sergipe, setembro de 1832: Antônio Fernandes
Silveira (1913), que trata da contribuição deste ao contexto sócio-político sergipano;
Brigadeiro Manuel Fernandes da Silveira (1913), o texto apresenta um relato biográfico
do primeiro governador de Sergipe; Glossário etimológico dos nomes da língua Tupi na
geografia do Estado de Sergipe (1916), saindo do universo biográfico, Armindo faz um
levantamento dos termos tupi presentes no vocabulário sergipano; Antônio Muniz de
Souza (1916), regressando ao fazer biográfico, Guaraná constrói passagens da vida,
desse que foi um pesquisador sergipano da época; e Brigadeiro José Pereira Filgueiras
(1920), neste o biógrafo contextualiza o leitor em fatos relevantes do período citado,
onde mostra como o seu personagem militou na Confederação do Equador.
A escolha desse tema foi pautada na viabilidade de disseminar as produções
de Guaraná. Faz-se necessário ressaltar que Armindo se dedicou a apresentar
registros biográficos de sergipanos, e incentivou a contínua produção na “Casa de
Sergipe”.
Vale ressaltar, que dos autores que tratam sobre Armindo, destacam-se, o
historiador Itamar Freitas que em seu livro A Escrita da História na “Casa de Sergipe” –
1913/1999 aborda as produções de Guaraná na revista do IHGS, apresentando
elementos que compunham o teor biográfico dos seus escritos. Sob orientação de
Freitas, o historiador Maurício dos Reis Santos em seu trabalho de conclusão de
curso, intitulado Restos imortais: uma leitura do arquivo de Manoel Armindo Cordeiro
Guaraná (1848/1924) percorre, e organiza o FAG, Fundo Armindo Guaraná,
localizado no IHGS. O autor tece ponderações com relação ao teor da escrita, e
mesmo sobre a vida do biógrafo.
Apesar desses registros acerca de Armindo
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Guaraná, sentimos que sua participação nas ações primeiras do IGHS, ainda não
foram aprofundadas e desveladas.
Segundo Itamar Freitas (2002), o Dicionário Biobibliográfico Sergipano de
Guaraná criou um banco de informações relevantes a respeito da história de Sergipe.
Sendo este é constituído por informações referentes aos sergipanos que faziam parte
da elite da época. O período natalício de cada biografado perdura entre 1840 e 1900,
sendo que dos que constam no livro, em sua notável maioria eram atuantes na
política e na literatura, até o final de 1920.
O conceito de biografia neste trabalho perpassa o fato de fazer o relato de
momentos da vida de um determinado indivíduo. Ao biógrafo cabe entre outros
papéis, o de dar espaço para que o seu biografado possa se revelar por si mesmo.
No momento que se faz o estudo particular da vida de um indivíduo, e tenta
através desse remontar a estrutura social vivida na sua época, o pesquisador tem que
se manter neutro, pois ele vai “interrogar uma época através das reações desse
indivíduo”, ou seja, ele vai questionar o passado de uma sociedade, através das ações
do seu objeto de pesquisa.
Na sucessão dos fatos e episódios que constituem uma biografia, só
há um personagem em primeiro plano: o biografado. O autor não
deve intervir na sua ação, nem no seu destino; mas deixar que ele
viva naturalmente a sua vida. Nem há numa biografia oportunidade
para considerações críticas, ou julgamentos de valor. Por mais
contraditória ou por mais negativa que possa parecer à vida de um
homem, há sempre uma lógica no seu desenvolvimento – motivos
profundos que a justifiquem e a tornam respeitável. (RABELLO, s/d,
p.1)
A “biografia histórica, não tem por vocação esgotar o absoluto do ‘eu’ de um
personagem, como já se quis e ainda se quer. Ela é o melhor meio de mostrar os laços
entre o passado e o presente” (BORGES, 2005, p. 215). Sendo assim, propõem-se aqui
uma análise do conteúdo histórico-social, contido nestes artigos, que desvelam
discursos dentro das perspectivas de formação e entendimento de quem os escreveu.
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Para atender as expectativas iniciais, no primeiro momento construímos uma
representação biográfica de Armindo Guaraná, focando suas contribuições para o
IHGS. Posteriormente, procedemos com uma análise voltada às produções desse
autor para a revista da referida instituição.
1 - UM HOMEM NAS PRATELEIRAS EMPOEIRADAS DA HISTÓRIA
Em meados do século XIX, em 4 de agosto de 1848, nasce na cidade de São
Cristóvão, ainda capital da Província de Sergipe Del Rei, um dos personagens da
história sergipana, Manuel Armindo Cordeiro Guaraná filho de Teodoro Cordeiro
Guaraná e Andrelina Muniz de Menezes.
Cursou as primeiras letras em sua cidade natal, migrando mais tarde para
outros redutos do conhecimento cientifico como o Atheneu Baiano e o Curso de
Humanidades do Colégio das Artes (1865) em Pernambuco. Posteriormente,
ingressou na Faculdade de Direito do Recife, importante instituição do período,
consagrada por formar uma elite de intelectuais liderados por Tobias Barreto.
Graduou-se em direito no ano de 1871.
Dedicou-se ao jornalismo e a elaboração de diversos trabalhos que
compunham jornais, revistas e outras publicações periódicas entre os anos de 1832 a
1908. Registrando assim, o primeiro dos jornais, o Recopilador Sergipano, editado em
Estância, na Tipografia Silveira & Cia, de propriedade do monsenhor Antonio
Fernandes da Silveira, enumerando publicações jornalísticas e literárias, até 1908, ano
do centenário do aparecimento do primeiro dos jornais brasileiros, o Correio
Brasiliense, editado em Londres, em 1808, por Hipólito da Costa.
Em 25 de outubro de 18722, iniciou seus trabalhos como Promotor Geral da
Comarca de São Cristóvão, em Sergipe, por intermédio do Juiz de Direito da referida
2
Cf. GUARANÁ, 1872. ARQ. IHGS. FAG, S1, Cx208. Doc 15.
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comarca, Alexandre Pinto Lobão. Um ano depois3, foi nomeado Promotor Público da
capital.
Em 16 de março de 18784, Armindo Guaraná foi nomeado secretário da
Província do Piauí, por Carta Imperial. No mesmo ano foi habilitado ao cargo de Juiz
de Direito, por ter exercido por mais de 4 anos o lugar do Promotor Público.
Em 1879, foi nomeado Procurador Fiscal da Tesouraria Provincial de Sergipe,
pelo presidente da Província local, Fernandes Santos, tornando-se em 1881 Promotor
Público da Comarca de Estância, por intermédio do Presidente da Província,
Herculano Marcos Inglez de Souza5.
No dia 13 de maio de 1882, Armindo Guaraná foi nomeado para secretário
da Província do Ceará, por Carta Imperial, e em setembro deste mesmo ano, foi
nomeado Juiz de Direito da Comarca de Oeiras, Província do Piauí, por decreto.
Em 1º de dezembro de 1884, foi transferido para Itabaiana, para exercer a
magistratura. Dentre os cargos exercidos por Armindo Guaraná, vale destacar o de
Chefe de Polícia Interino6 da Província de Sergipe, designado por Jerônimo Sandro
Pereira, em 1889.
No ano de 1890, Armindo Guaraná é nomeado Juiz de Casamentos, em
Aracaju, pelo presidente do Brasil, o Marechal Deodoro da Fonseca. Após doze dias,
o Barão de Sobral lhe comunica essa nomeação, dando-lhe um prazo de três meses
para exercer suas funções.
A trajetória jurídica de Armindo Guaraná termina no dia 09 de março de
1906, quando Leopoldo de Bulhões lhe concede a aposentadoria, como Juiz Federal
pela Secção do Ceará, função que exercia por mais de 20 anos. Após aposentar-se,
Armindo Guaraná vai para o Rio de Janeiro. Na capital federal começa a juntar os
3
Cf. GUARANÁ, 1873. ARQ. IHGS. FAG, S1, Cx208. Doc 31.
Cf. GUARANÁ. 1878. ARQ. IHGS. FAG. S1. Cx.208. Doc. 28.
5
Cf. GUARANÁ. 1879 e 1881. FAG. S1. Cx.208. Doc. 19 e 32.
6
Cf. GUARANÁ. 1889. ARQ. IHGS. FAG. S1. Cx.208. Doc. 40 e 46.
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subsídios necessários para confecção de sua maior obra, o Dicionário Biobibliográfico
Sergipano. Em 1911,7 retorna a Sergipe fixando-se na cidade de Aracaju.
Mais tarde tornou-se sócio-fundador do IHGS, e idealizador do Dicionário
Biobibliográfico Sergipano, sua principal obra, que contitui-se por ser um documento
que possibilita aos leitores e pesquisadores, subsídios para o desenvolvimento de
seus trabalhos acerca da história de vida de sergipanos que viveram entre a segunda
metade do século XIX, e a primeira metade do século XX.
Em 1912, associou-se ao IHGS - instituição que auxilia a várias décadas, o
desenvolvimento de produções literárias e históricas, através do seu acervo
bibliográfico, documental e iconográfico – tendo participado de sua fundação.
Neste instituto, Armindo elaborava diversos artigos, sobre os mais variados
aspectos. Atuou como redator, entre os anos de 1912 a 1916, produzindo textos para
complementar a sua revista trimensal, participou da diretoria do mesmo órgão como
membro da Comissão de História e Arqueologia, sendo o vice-presidente da
instituição, no período de 1912 a 1913. Consta no cadastro social do Instituto, como
Sócio Fundador, tornando-se sócio honorário, em 14 de julho de 19158. Tendo em
vista sua atuação e produção no IHGS, foi possível analisar os artigos, com os quais
tratamos neste trabalho.
2 – A PRODUÇÃO DE ARMINDO GUARANÁ NA “CASA DE SERGIPE”
Os levantamentos das produções de Guaraná junto à revista do IHGS
apontam um total de cinco publicações, sendo destas três de cunho inteiramente
biográfico, característica marcante das suas produções. Além dos artigos citados
anteriormente, podemos encontrar um referente à fundação do primeiro jornal de
Sergipe – o Recopilador Sergipano da cidade de Estância – onde trabalhou nesse
7
Cf. GUARANÁ, 1911. ARQ. IHGS. FAG. S1. Cx 208. Env. 12. Doc. 12 - Correspondência de Armindo Guaraná para
Epiphanio Doria. Rio de Janeiro, 23 de abril de 1911.
8
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE. "Sócios do Instituto Histórico e Geographico de Sergipe". IN:
Revista do IHGS. AnoI, Aracaju, 1912-1913. p. 51
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contexto com a imagem do seu fundador, e por último o Glossário etimológico dos
nomes da língua Tupi na geografia do Estado de Sergipe.
O artigo escrito por Armindo em referência a fundação do primeiro jornal
sergipano, foi publicado no primeiro número da revista do IHGS, o texto intitulado o
1º Jornal de Sergipe, setembro de 1832: Antônio Fernandes Silveira9 aborda elementos da
fundação do jornal e do seu fundador. O texto “trata da contribuição de Antônio
Fernandes Silveira à formação política e social de Sergipe, através da fundação da
imprensa no Estado (Estância) em 1832 – O Recopilador Sergipano” (FREITAS, 2002,
p.66).
Neste artigo desenvolve suas argumentações partindo de um contexto amplo
até chegar ao ponto principal referente às ações do Monsenhor Antônio Fernandes da
Silveira iniciador da imprensa escrita sergipana. Situando o leitor sobre o impacto da
realização dessa empreitada para o contexto sergipano da época.
As produções biográficas propriamente ditas aparecem ainda no primeiro
volume da revista, só que no seu segundo número, com a presença do verbete
Brigadeiro Manuel Fernandes da Silveira10. O primeiro texto de perfil estritamente
biográfico trata da trajetória do primeiro governador de Sergipe. O autor propõe uma
análise do indivíduo, partindo para contextos maiores, com o intuito de situá-lo em
meio às transformações políticas do período. O artigo aponta ainda “traços
biográficos do estanciano Manuel Fernandes da Silveira e comentários sobre a sua
atuação como presidente de Sergipe (1824/1825)” (FREITAS, 2002, p.67).
No decorrer da nossa análise nos deparamos com a pesquisa desenvolvida
por Armindo Guaraná em parceria com o baiano Teodoro Sampaio 11, que mostrou
9
GUARANÁ, A. O 1º Jornal de Sergipe, setembro de 1832: Antônio Fernandes Silveira. Revista do IHGS, Aracaju, v.1, n.1,
1913. p. 43-45
10
GUARANÁ, A. Brigadeiro Manuel Fernandes da Silveira. Revista do IHGS, Aracaju, v.1, n.2, 1913. p. 37 – 41
11
Engenheiro, geógrafo, escritor e historiador baiano. Foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo,
membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1898) e sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1902).
Publicou obras como: O rio São Francisco e a chapada Diamantina (1906), O tupi na geografia nacional (1901), Atlas dos
Estados Unidos do Brasil (1908), Dicionário histórico, geográfico e etnográfico do Brasil (1922) e História da Fundação da
Cidade do Salvador (póstumo).
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outra face dos seus estudos e produções, o Glossário etimológico dos nomes da língua
Tupi na geografia do Estado de Sergipe12.
Nesse glossário encontramos a definição de várias palavras presentes na
oralidade dos sergipanos, estes remetidos ao nosso contexto linguístico, muitas vezes
passam despercebidos, como os nomes de nossos rios, cidades, ou o próprio
significado da palavra “Sergipe”, que segundo os autores seria “Rio dos Siris, que dá
nome ao território entre os rios Real, ao sul, e São Francisco, ao norte” (GUARANÁ,
SAMPAIO, 1916, p. 321).
O quarto texto13 escrito para a revista concerne a uma conferência proferida
pelo mesmo, na instituição em 21 de março de 1915. O escrito trata de Antonio
Muniz de Souza (1782/1857), que o autor Itamar Freitas cita como sendo um
“pesquisador sergipano, autodidata, que se destacou na exploração de minerais e
plantas nacionais, como abolicionista e catequista de índios” (FREITAS, 2002, p.77).
Armindo desvela algumas linhas do perfil biográfico de Muniz de Souza,
salientando como certas personalidades padecem nas prateleiras empoeiradas da
história. Assim como outros tantos nomes, assuntos e temas sergipanos que nunca
foram contemplados.
Em seu discurso emprega um tom de criticidade quando percorre os
caminhos da formação intelectual de Muniz de Souza, desde o aprendizado da
língua vernácula a sua experiência profissional. Para introduzir o conteúdo
propriamente biográfico, remete à figura de Tobias Barreto como um dos filhos
ilustres da povoação de Campos do Rio Real, onde nasceu Antônio Muniz na
segunda metade do século XVIII.
Guaraná versa sobre experiências além terras sergipanas, destacando os
contextos das cidades em que o seu personagem passou, como Lisboa e a invasão de
Napoleão Bonaparte em 1807. Portanto, o autor não se detém apenas a
12
______. Glossário etimológico dos nomes da língua Tupi na geografia do Estado de Sergipe. Revista do IHGS, Aracaju, v.2,
n.5, 1916. p. 297-326
13
______. Brigadeiro José Pereira Filgueiras. Revista do IHGS, Aracaju, v. 5, n. 9, 1920. p. 59-64
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particularidade do seu protagonista observa o seu objeto não do alto de uma torre,
mas perpassa-o e analisa o seu entorno. Dialoga até com jornais do Rio de Janeiro
como o Aurora Fluminense, que cita as contribuições das viagens de Muniz de Souza
para a sociedade de medicina.
Detém-se analisar discursos do seu biografado buscando nas entrelinhas
características formadoras de sua intelectualidade. É relevante ressaltar que seu texto
não segue a métrica vigente nas biografias. Usualmente, os textos biografados
salientam um caráter modal com início, meio e fim, perpassando cronologicamente
pelos acontecimentos da vida do biografado. Neste ponto Itamar Freitas indica que:
O ‘fazer’ biográfico raramente foi contrariado em seu modelo.
Guaraná, porém, destacou-se nesse particular quando se distanciou
de um dos (modernamente considerados) maiores vícios da biografia:
substituir a história política do Estado pelo estudo exclusivo do
individual. Em um dos seus trabalhos, o biografado quase serve de
pretexto para denunciar o vigor de tendências aristocráticas e
militaristas em meados da década de 1820. (FREITAS, 2002, p.43-44)
Guaraná argumenta sobre a falta de trabalhos que versam sobre Muniz de
Sousa e transita pelas obras publicadas pelo personagem, referenciando até a
localização dos seus escritos no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
No quinto texto, uma terceira biografia, o autor recompõe a história do
Brigadeiro José Filgueiras, “sergipano de Santo Amaro das Brotas, ex-presidente da
junta governativa do Ceará e militante do movimento Confederação do Equador
1824” (FREITAS, 2002, p. 90).
A biografia discorre acerca dos elementos constitutivos da trajetória do
personagem, não pontuando datas, mas reconstituindo contextos. No trecho em que
trata do local de nascimento de Filgueiras, o autor pondera sobre as características da
antiga vila de Santo Amaro das Brotas. Com pensamento notadamente crítico,
Guaraná expôs configurações políticas que levaram Filgueiras a se tornar militante
da Confederação do Equador.
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Por fim, com uma perspectiva influenciada pelo cientificismo pulsante da
época, Armindo finaliza seu texto com o seguinte pensamento:
Entre as excelsas qualidades que muito recomendam o historiador no
conceito público, nenhuma o elevam mais do que o respeito a
verdade na apreciação dos fatos a transmitir a posteridade. Este é o
lema de que jamais se deve afastar uma linha, para não deturpar a
grandeza de sua nobre missão e, quando termina ela, ufanar-se de
dizer que encontrou em Juvenal a norma invariável dos seus atos no
pensamento: “vitam impendere vero” 14 (GUARANÁ, 1920, P 64).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisarmos os números descritos da revista do IHGS, podemos
visualizar através das produções de Armindo Guaraná, que o mesmo tinha uma
afinidade com a produção biográfica. Outro fator relevante nessa análise é que,
Armindo se detinha a biografar as pessoas atuantes no contexto sócio-político e
cultural da sua época, pessoas estas, ligadas a elite sergipana contemporânea ao seu
tempo. É perceptível também a presença de um significativo número de militares
dentre os biografados, esse aspecto se revela em duas publicações biográficas da
revista dedicada à figura de dois oficiais.
As suas produções relevam por si só, a preocupação que o mesmo tinha de
retratar os acontecimentos importantes da sua terra, como na produção referente ao
jornal o Recopilador Sergipano, e mostra a história de vida das pessoas que
praticavam estas ações no Sergipe de parte dos séculos XIX e XX.
As escritas nessas obras se apresentam bem elaboradas, mostrando que o
autor tinha domínio da escrita, no seu segmento culto, formal, sempre bem
articulado, criando assim conexões interessantes para o desenvolvimento dos seus
enredos, que englobavam a vida dos seus biografados, com o contexto social que o
circundava.
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Guaraná cita o poeta Romano Juvenal (I d.C.), o texto significa “Consagrar a vida à verdade”.
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FONTE
FAG – FUNDO ARMÍNDO GUARANÁ (IHGS).
GUARANÁ, Armindo. “Antônio Muniz de Souza”. IN: Revista do IHGS, Aracaju, v.
3, n. 6, p. 167 – 181 1916.
______. “Brigadeiro José Pereira Filgueiras”. IN: Revista do IHGS, Aracaju, v. 5, n. 9, p.
59-64, 1920.
______. “Brigadeiro Manuel Fernandes da Silveira”. IN: Revista do IHGS, Aracaju, v.1,
n.2, p. 37 – 41 1913.
______. Dicionário Bio-bibliographico Sergipano. Rio de Janeiro, Ed. Pongetti & C. 1925.
______. “O 1º Jornal de Sergipe, setembro de 1832: Antônio Fernandes Silveira”. IN:
Revista do IHGS, Aracaju, v.1, n.1, p. 43-45, 1913.
GUARANÁ, Armindo; SAMPAIO, Teodoro. “Glossário etimológico dos nomes da
língua Tupi na geografia do Estado de Sergipe”. Revista do IHGS, Aracaju, v.2, n.5, p.
297-326, 1916.
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IN: Maria Elisa Cevasco (org.). Linhagens do Presente. Sandra Guardini T.
Vasconcelos (trad.). 1ª Ed. São Paulo: Boitempo Editorial. p. 219-247.
BARRETO, Luiz Antonio. Dicionário Bio-Bibliográfico Sergipano de Armindo
Guaraná.
Disponível
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mindo_Guarana_set2007.pdf>. Acesso em: 20.08.2009.
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Cultura e sociedade no Brasil: ensaios sobre idéias e formas. 2ª ed. rev. Ampliada. –
Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 15-36.
FREITAS, Itamar. A escrita da História na “Casa de Sergipe” – 1913/1999. São
Cristóvão: Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2002.
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Autêntica, 2005.
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SANTOS, Clóvis Roberto dos; Noronha, Rogeria Toler da Silva de. Monografias
científicas: TCC, dissertação, tese. – São Paulo: Editora Avercamp, 2005.
SANTOS, Maurício dos Reis. Restos imortais: uma leitura do arquivo de Manoel
Armindo Cordeiro Guaraná (1848/1924). São Cristóvão, SE, 2005. 56 f. Monografia
(Licenciatura em História) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE,
2005.
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