INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA
O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA EM FUNÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS
Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação de Lisboa
no âmbito do Mestrado em Ensino Especial
Ana Rute da Silva Morais
2012
INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA
O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA EM FUNÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS
Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação de Lisboa
no âmbito do Mestrado em Ensino Especial
Ana Rute da Silva Morais
Orientação: Professor Doutor João Rosa
2012
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, quero expressar o meu sincero agradecimento, ao
Professor Doutor João Rosa, orientador deste trabalho, por todo o apoio
prestado, pelas reflexões e aprendizagens que me proporcionou, pela sua
disponibilidade e incentivo tão importantes ao envolvimento com que realizei
esta dissertação. Os valores por que se pauta, a compreensão, o envolvimento,
a partilha, a organização e acima de tudo a sua atitude serena, foram decisivos
no meu empenho e envolvimento.
Quero agradecer às direções das escolas, às diretoras, às professoras e
a todas as crianças que participaram no estudo, pelo seu entusiasmo e
interesse. Sem elas, este trabalho não teria sido viável.
À minha diretora e amiga Ana Maria Jordão Marques, que sempre se
mostrou atenta, disponível e compreensiva.
À professora Brigitte pelo apoio técnico no inglês, a sua ajuda foi muito
importante.
Às minhas colegas de trabalho, professoras e educadoras, que sempre
se mostraram atentas e me animaram nos momentos mais difíceis.
À minha amiga de longa data, Carla Simões, que sempre me incentivou
e encorajou, antes, durante e no final deste trabalho.
Aos meus amigos e familiares: o contributo destes foi imenso e
diversificado; para uns a escuta e a transmissão de uma palavra amiga e
reconfortante e para outros a compreensão da minha ausência.
Além de todos, quero agradecer aos meus pais por estarem sempre
presentes, eles assumiram um papel determinante na realização deste estudo.
O apoio incondicional que demonstraram em todos os momentos, através da
sua disponibilidade em ajudar, saber ouvir nas alturas mais difíceis, com a
transmissão de palavras de conforto e de afetos. O meu obrigada.
I
RESUMO
O objetivo deste estudo é verificar se há um efeito diferencial do método
de aprendizagem da leitura no desenvolvimento das competências de fluência,
correção e compreensão, no primeiro ano de escolaridade.
A leitura assume um papel decisivo na aprendizagem e no sucesso
escolar e profissional de qualquer indivíduo. Importa, por isso, conhecer as
teorias de aprendizagem, os modelos de processamento da leitura, os
diferentes métodos de leitura e por último, como é que métodos específicos
influenciam o desenvolvimento das competências de leitura.
O presente trabalho é um estudo transversal e quantitativo, envolvendo
oitenta e duas crianças, de seis anos de idade.
Foram avaliadas através de uma adaptação do teste Neale Analysis of
Reading Ability (Neale, 1976), realizada por (Rosa,1989) em estudo efetuado
com crianças portuguesas. O teste mede a Fluência, a Correção e a
Compreensão leitora.
Os resultados revelaram que as crianças que aprenderam com o Método
de Leitura João de Deus (MLJD) obtiveram scores significativamente
superiores em Fluência, Correção e Compreensão da leitura quando
comparadas com crianças que aprenderam com o Método de Leitura Global
(MLG). Estas diferenças são independentes quer do nível de Conhecimentos
Escolares Gerais em Estudo do Meio e Matemática quer das Habilitações dos
Pais. Apenas os melhores leitores nos dois métodos, que tinham maior
Correção, não apresentavam diferenças significativas nesta última variável,
depois de se controlar o efeito de eventuais diferenças explicadas pelos
Conhecimentos Escolares Gerais.
Como conclusão, salienta-se a importância do tempo de prática formal
da leitura, que é diferente nos dois métodos, e recomenda-se uma mais aberta
abordagem da relevância e insuficiências dos diferentes métodos na formação
inicial e contínua dos professores.
II
Palavras-chave: Aprendizagem da leitura; Método de Leitura Global;
Método de Leitura João de Deus; Competências da leitura.
III
ABSTRACT
The objective of this study is to verify if different reading methods have
significantly different outcomes when it comes to the development of fluency,
correction and comprehension skills in the first year of formal education.
A person’s reading skills take on a decisive role in the learning process
and in his / her academic and professional success. That being said, it is
therefore important to account for learning theories, reading acquisition models,
different reading methods and lastly, how these specific methods influence the
development of reading skills.
This study is both transversal and quantitative.
A group of eighty-two children, six years of age, participated in this study.
They were evaluated according to an adaptation of the Neale Analysis of
Reading Ability (Neale, 1976) Test, carried out by (Rosa, 1989) in a study
carried out on Portuguese children. This test measures fluency, correction and
reading comprehension.
The results revealed that those children learning to read with the João de
Deus Reading Method (MLJD) obtained significantly higher scores in terms of
Fluency, Correction and Reading Comprehension when compared to those
children that had learned to read with the Global Reading Method (MLG). These
differences are independent of both the level of the child’s General Academic
Knowledge in the Sciences and in Mathematics and his / her parents’
educational qualifications. Only the best readers of both methods, that exhibited
higher levels of Correction, did not present significant differences when it came
to this last variable, that is, after the effect of eventual differences explained by
their General Academic Knowledge had been controlled for.
To conclude, it should be noted that the time allotted to formal reading
practice differs from one reading method to another and therefore it is
recommended, that in the context of teacher training courses, these two
IV
methods be analyzed in a more open manner so as to account for their
strengths and short-comings.
Key-words: Reading Acquisition; Global Reading Method; João de Deus
Reading Method; Reading skills.
V
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
1
CAPÍTULO I
REVISÃO DA LITERATURA
1.1.
Leitura: sua conceptualização, componentes e aprendizagem
3
1.2.
Teorias/ Perspetiva sobre a aprendizagem da Leitura
6
1.3.
1.2.1. A teoria da clareza cognitiva
7
1.2.2. A perspetiva psicogenética
9
1.2.3. A perspetiva cognitiva e cultural
11
1.2.4. A perspetiva da abordagem sociocultural
11
Modelos de Processamento de Leitura
1.3.1. Modelos de Processamento Ascendentes
1.4.
1.5.
13
14
1.3.2. Modelos de Processamento Descendentes
16
1.3.3. Modelos de Processamento Interativos
18
Métodos de Leitura
22
1.4.1. Método de Leitura Global
25
1.4.2. Método de Leitura João de Deus
28
Competências de Leitura
35
1.5.1. Fluência
35
1.5.2. Correção
38
1.5.3. Compreensão
39
1.6.
Síntese da Revisão da Literatura
42
1.7.
Hipóteses do Estudo
44
CAPÍTULO II
METODOLOGIA
2.1. Participantes
45
2.2. Design e Variáveis do Estudo
46
2.3. Procedimentos e Materiais Utilizados
47
2.4. Caracterização Socioeconómica das Famílias
49
VI
CAPÍTULO III
RESULTADOS
3.1. Fidedignidade e Enviesamento das Tarefas no Pré-teste
50
3.2. Análise das Médias (e Desvios-padrão) e Significância das Diferenças de
Médias no Texto I
51
3.3. Análise das Médias (e Desvios-padrão) e Significância das Diferenças de
Médias no Texto II
52
3.4. Análise das Médias (e Desvios-padrão) e Significância das Diferenças de
Médias no Texto III
53
3.5. Análise da significância das diferenças de médias em fluência, correção e
compreensão, controlando eventuais diferenças de partida em Estudo do
Meio e Matemática
54
3.5.1. Fluência
54
3.5.2. Correção
55
3.5.3. Compreensão
55
3.6. Análise da Frequência e Percentagem do Nível de Escolaridade e
Profissões dos Pais das crianças
56
3.6.1. Frequência e Percentagem do Nível de Escolaridade das Mães
56
3.6.2. Frequência e Percentagem do Nível de Escolaridade dos Pais
57
3.7. Síntese de Resultados
58
CAPÍTULO IV
CONCLUSÕES E DISCUSSÃO
4.1. Conclusões e discussão
59
4.2. Limitações e sugestões para futuros estudos
62
4.3. Recomendações finais
62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
63
ÍNDICE DE ANEXOS
71
SIGLAS
71
VII
INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é verificar se há um efeito diferencial do método de
aprendizagem da leitura no desenvolvimento das competências de fluência, correção e
compreensão, no primeiro ano de escolaridade.
O desenvolvimento pessoal, social e intelectual do indivíduo, encontra-se em
grande parte dependente da aprendizagem eficaz da leitura. Deste modo, torna-se
preponderante conhecer, compreender, aprender, utilizar e avaliar diferentes métodos
de ensino formal da leitura.
Como docente do primeiro ciclo a lecionar há mais de uma década, utilizando o
MLJD, tinha presente a ambiguidade, e ao mesmo tempo a curiosidade em saber qual
o método de aprendizagem da leitura mais eficiente, em crianças a frequentar o
primeiro ano de escolaridade.
Tal como eu, outros autores sentiram esta necessidade. Campagnolo (1979),
Alves-Martins (1996) e Ruivo (2009), defendem que para aprender a ler numa língua
alfabética como é o português, é fundamental aprender o código alfabético e conseguir
automatizar o procedimento de conversão grafo-fonológico.
Para Sim-Sim, Duarte & Ferraz (1997), Sim-Sim (1998) e Villas-Boas (2002), o
ensino formal e direto da leitura recorrendo a um método, é essencial para organizar e
sistematizar o processo de aquisição desta competência.
Outros autores Alegria, Pignot & Morais (1982) e Chall, et al., (1990),
demonstraram que a utilização de um método fónico, aquando da iniciação da
aprendizagem da leitura, facilita o reconhecimento das palavras.
Para Carvalho (2011), “a aquisição da leitura e da escrita são condicionantes
essenciais de toda a aprendizagem futura, uma vez que são ferramentas essenciais
nas aprendizagens escolares e extraescolares” (p.22).
Após esta introdução, segue-se o primeiro capítulo da revisão da literatura, cujo
objetivo se centrou na conceptualização e nas componentes da aprendizagem da
leitura. Procuramos caracterizar as teorias e os modelos de aquisição da leitura.
Analisamos dois métodos de leitura, o MLG e o MLJD. Por último procurámos
caracterizar as competências da leitura ao nível da fluência, correção e compreensão.
No segundo capítulo descrevemos o processo metodológico referente aos
participantes, ao design do estudo e aos materiais e procedimentos utilizados.
1
No terceiro capítulo analisamos os resultados observados quanto à relação
entre os métodos de aprendizagem da leitura e as competências de fluência, correção
e compreensão. Verificamos, igualmente qual o impacto das habilitações académicas
dos pais, no desenvolvimento da leitura.
No quarto capítulo, baseando-nos nos resultados obtidos para cada uma das
hipóteses, apresentamos e discutimos as conclusões, as limitações encontradas e as
sugestões para futuros estudos, e terminamos com algumas recomendações de
carácter pedagógico, relevantes para a formação dos professores.
2
CAPÍTULO I
REVISÃO DA LITERATURA
1.1.
Leitura: sua conceptualização, componentes e aprendizagem
Definir “ler” não é fácil, as definições para o ato de ler têm sido alvo de
muitas discussões, perspetivas e teorias.
Para Morais (1997), citado em Carvalho (2011),” ler é uma arte, pois tal
como todas as artes cognitivas, uma vez dominada é simples, é imediata e não
exige um esforço aparente; os leitores utilizam a arte de ler sem conhecerem
conscientemente nem os meios nem os processos “( p.23).
Viana e Teixeira (2002), referem a este propósito:
“a polissemia da palavra ler é um indicador da riqueza que o conceito
subjacente encerra. Lemos de muitas formas, através de diversos
meios e com finalidades diferentes. Lemos sinais de aviso, de
antecipação e de cumplicidade, lemos o sentido de gestos, de
entoações e de silêncios, lemos notações e indicadores de projetos e
de trajetos, lemos a nossa própria escrita e o que outros
escreveram...” (p. 5).
Segundo Carvalho (2011), ler é uma atividade complexa, que não pode
ser definida de forma simples, ou recorrendo apenas a um tipo de operações
mentais. Ler implica a coordenação de competências gerais (atenção,
memória, conhecimentos gerais), e de competências específicas em relação ao
tratamento da informação escrita. A especificidade da leitura é a capacidade de
reconhecimento das palavras escritas, identificando a sua ortografia e
associando-a ao significado e pronúncia.
3
Silva (2003), considera que a aprendizagem da leitura é dos maiores
desafios que as crianças têm que enfrentar nas fases iniciais da sua
escolarização. Ganhar esse desafio é, num mundo dominado pela informação
escrita, o primeiro passo para que cada uma das crianças que hoje frequenta a
escola, seja no futuro um cidadão efetivamente livre e autónomo nas decisões
que toma e na procura das informações que precisa. A alfabetização
condiciona não apenas todo o posterior percurso académico, como igualmente
molda o acesso a novos conteúdos e processos intelectuais, determinando, em
parte, os limites daquilo que é a liberdade individual de cada um.
Para Santos (2000), parece pois, importante dotar as crianças e os
jovens da capacidade de ler, no sentido de tornar a leitura uma verdadeira
ferramenta ao serviço das mais diversas necessidades. Para tanto, é preciso
que o ato de ler figure entre as atividades mais comuns do seu quotidiano e
daqueles que o rodeiam.
A dimensão pessoal da leitura poder-se-á expandir quando as condições
materiais e cognitivas da atividade da leitura estiverem reunidas. Para Morais
(1997), a leitura é uma forma particular de aquisição de informação. Esta para
Sim-Sim (1998), pode contribuir para a transformação do círculo sociocultural
onde o indivíduo se insere. Rosing (2003) refere que:
“O ser humano, dotado de consciência, relaciona-se com o mundo
circundante
e
com
o
mundo
da
escrita
com
determinada
intencionalidade. Essa condição possibilita diferentes tipos de relação
do homem com o mundo no qual vive e do homem enquanto leitor de
textos escritos. É da amplitude e da profundidade dessa relação que
poderão ocorrer as transformações culturais, sociais e do próprio ser
humano. O acesso à sociedade letrada, por isso mesmo, viabiliza a
participação do homem na construção e na transformação da
sociedade” (p.56).
4
Citoler (1996) e Cruz (1999), consideram que a aprendizagem da leitura
não constitui um fim em si mesmo, antes se apresenta como um instrumento
que permite melhorar o sistema linguístico e comunicativo do indivíduo,
proporcionando-lhe a chave para o acesso a outras aprendizagens.
Marcelino (2008), refere que antes de aprender a ler, a criança tem de
desenvolver uma série de competências fundamentais. Assim, a fala torna-se
essencial, sendo a etapa anterior à leitura, uma vez que “acaba por despertar e
desenvolver a sua capacidade linguística, fonológica e cognitiva, dando um
sentido e significado àquilo que é enunciado verbalmente” (p. 12).
Silva (2003), defende que a leitura, contrariamente a outras áreas do
desenvolvimento humano, não se adquire espontaneamente. Para Sim-Sim
(1998) e Sim-Sim, Duarte & Ferraz (1997), a aprendizagem exige o ensino
direto, que não termina com o domínio da correspondência grafema-fonema,
prolonga-se, antes, por toda a vida.
Para Rebelo (1993), a aquisição das competências de leitura é uma
condicionante essencial de toda a aprendizagem futura é mais do que
justificada a relevância atribuída pela escola ao ensino destas habilidades.
Como refere Sim-Sim (1998), é fundamental que os educadores
conheçam a função que a linguagem tem como motor e produto no
desenvolvimento de todas as aprendizagens.
Viana (2002), defende que “a leitura de livros é uma atividade
estruturadora da emergência dos comportamentos de pró-leitura e do
desenvolvimento da literacia” (p.45). Assim a facilidade de aprendizagem na
leitura advém das oportunidades que são facultadas às crianças para se
tornarem familiarizadas com a linguagem escrita.
Para Marcelino (2008), a aprendizagem da leitura “é um processo
contínuo, que não se limita à competência de decifração de signos gráficos e
ao desenvolvimento da consciência fonológica, também abrange a longa tarefa
de incutir na criança a capacidade de extrair o significado da informação
escrita, o interesse e os hábitos de leitura que se vão construindo ao longo de
toda a escolaridade” (p. 6).
5
1.2.
Teorias/ Perspetiva sobre a aprendizagem da Leitura
Segundo Alves-Martins (1996), “a aprendizagem da leitura implica a
descoberta das intenções comunicativas da linguagem escrita e a descoberta
do princípio alfabético do nosso sistema de escrita por parte das crianças”
(p.72).
O
desenvolvimento
da
consciência
fonémica
é
essencial
na
aprendizagem da leitura.
Aprender a ler parece ser um processo complexo e lento, segundo SimSim (2001):
“…aprender a ler é um processo contínuo que não se esgota
temporalmente no momento em que se domina a tradução dos sons em
letras, característica das línguas de escrita alfabética. Saber ler significa,
fundamentalmente, ser capaz de extrair informação de material escrito,
qualquer que seja o suporte (de papel ou informático), qualquer que seja
o tipo de texto e qualquer que seja a finalidade da leitura, transformando
essa informação em conhecimento” (p.51).
Alves-Martins & Niza (1998), apresentam as principais funções e
objetivos da leitura. A primeira, prende-se com a leitura realizada para obter
uma informação de carácter geral. O objetivo desta leitura é o de compreender
as características principais de um tema, sem o aprofundar, como por exemplo
quando se procede à leitura de um jornal com o intuito de se conhecer as
notícias do dia. É um tipo de leitura que recorre a imagens, títulos e tipo de
formato, para antecipar o conteúdo dos textos.
A segunda, aborda a leitura como fonte de informação precisa. Este tipo
de leitura ocorre em situações em que se pretende localizar, uma ou mais
informações precisas, etiquetar e classificar informação, por exemplo, quando
num jornal se procuram informações referentes ao local e horário de um
determinado filme. Este tipo de leitura incita a utilização de critérios de
ordenação de várias ordens, alfabéticos, temáticos e numéricos.
6
A terceira, prende-se com a leitura realizada para se seguir instruções.
Este tipo de leitura acontece quando é necessário obter instruções sobre algo
em concreto, por exemplo, quando se leem as regras de um jogo para se
conhecer a sua dinâmica. Corresponde a tarefas de leitura em que se podem
utilizar imagens como complemento da informação textual.
Silva (2003), refere que, apesar dos vários esforços e dos significativos
avanços, ainda hoje, não existe uma teoria compreensiva sobre a aquisição da
leitura que seja capaz de integrar coerentemente as várias dimensões
psicológicas, sociais e pedagógicas investigadas ao longo das últimas
décadas.
1.2.1. A teoria da clareza cognitiva
O modelo da clareza cognitiva, que data de 1967, é proposto por J.
Downing numa abordagem integrativa que considera, simultaneamente, o
desenvolvimento da compreensão das finalidades e das funções da leitura, e
das características da linguagem falada que são representadas pelos signos
escritos.
Segundo Viana & Teixeira (2002), sintetizam o modelo de Downing
referindo que, para a aprendizagem de qualquer competência existem três
fases: a primeira denominada pela fase cognitiva, caracterizada pela
construção de uma representação global da tarefa e os meios necessários para
os atingir; a segunda é a fase de domínio, é uma fase de treino e
aperfeiçoamento das operações básicas que envolvem a tarefa; e a terceira e
última fase é a da automatização, em que o treino leva a uma sobreaprendizagem. Para se tornar um leitor é necessário passar pelas três fases
mencionadas anteriormente.
Numa perspetiva cognitiva, a leitura é considerada como uma
competência na qual interagem um conjunto de processos psicológicos de
diferentes níveis que, começando, por um estímulo visual, permitem, através
de uma atuação global e coordenada alcançar a compreensão do texto. Na
leitura intervêm, basicamente, duas importantes componentes: os processos de
reconhecimento das palavras, ou processos de baixo nível e a compreensão ou
7
processos de alto nível. Para Citoler & Sanz, (1993a) os processos de
reconhecimento são aqueles que traduzem a letra impressa para a linguagem
falada e os da compreensão têm como finalidade captar a mensagem ou a
informação que nos proporcionam os textos escritos. Ambos são fundamentais
para que o leitor atinja um nível de leitura eficaz, verificando-se uma influência
recíproca entre eles.
Downing (1972), citado em Viana & Teixeira (2002), verificou que o
desenvolvimento rápido da clareza cognitiva engloba quatro dimensões: a
compreensão das finalidades comunicativas da linguagem escrita; a concepção
da função simbólica da escrita; o domínio da terminologia técnica e a
compreensão do processo de descodificação.
A teoria da clareza cognitiva, Downing (1977), Downing et al, (1982)
citados em Alves-Martins (1996), menciona oito postulados relacionados com a
aprendizagem da leitura. De entre eles destacam-se dois: “O processo de
aprender a ler consiste na redescoberta das funções e das regras de
codificação desse sistema escrito; a redescoberta depende da consciência
linguística que a criança tem dos aspetos comunicativos e formais da
linguagem que foram dados aos criadores desse sistema escrito” (p.61).
Segundo Alves-Martins (1996), “a teoria da clareza cognitiva pode
resumir-se da seguinte forma: para aprender a ler as crianças têm que
redescobrir os conceitos funcionais e formais que levaram à invenção do
sistema de escrita usado na sua língua, ou seja têm que descobrir as intenções
comunicativas da linguagem escrita e a forma como um dado sistema de
escrita codifica a linguagem oral” (p.61).
Assim, segundo Viana & Teixeira (2002), o modelo da “clareza cognitiva”
da aprendizagem da leitura defende que o desenvolvimento da leitura progride
através do aumento da “consciência” (awareness) e compreensão das funções
e das características linguísticas do discurso e da escrita. Este percurso consta
de três fases: a primeira fase, em que a criança sabe em que consiste a leitura;
a
segunda,
onde
aprende
as
regras
essenciais
da
codificação
e
descodificação; e por último, em que se intercepta com a segunda, o
desenvolvimento das técnicas de fluência.
8
1.2.2. A perspetiva psicogenética
Esta perspetiva, representada por Ferreiro e Teberosky (1984), baseiase na teoria geral dos processos de conhecimento de Piaget. Estas autoras,
partiram de um dos postulados básicos da teoria piagetiana - o sujeito é o
construtor activo do conhecimento – e vieram a demonstrar que as crianças
começam a aquisição da linguagem escrita muito antes de entrarem para a
escola.
Viana & Teixeira (2002), consideram que as atividades de pré-leitura e
leitura supõem uma interação entre o sujeito que pensa (e formula hipóteses) e
o objeto de conhecimento (neste caso a leitura), sob a forma de um conflito a
ser resolvido, e cuja resolução requer raciocínio.
A lógica subjacente é idêntica à da teoria piagetiana, na qual a dinâmica
do funcionamento e evolução intelectual, se baseia na interpretação da
realidade externa em função de um qualquer esquema de significados
presentes no sistema cognitivo do sujeito (assimilação), e que, ao mesmo
tempo, vai adaptando esse sistema em função dos desafios que o mundo dos
objetos lhe coloca (acomodação). Assim para Ferreiro & Teberosky (1984), "os
estímulos não atuam diretamente mas são transformados pelos sistemas de
assimilação do sujeito: neste ato de transformação o sujeito interpreta o
estímulo (o objecto em termos gerais), e é somente em consequência dessa
interpretação que a conduta do sujeito se torna compreensível" (p. 27).
Viana & Teixeira (2002), referem que as concepções infantis sobre a
leitura e a escrita passam por cinco níveis evolutivos, desde uma relativa
indiferenciação entre imagem e texto, até ao estabelecimento de uma
correspondência termo a termo entre as unidades do enunciado oral e os
segmentos do texto escrito, de acordo com a seguinte sequência:
- Num primeiro nível, a que chamam de indiferenciação entre imagem e
texto as crianças referem-se ao texto tal como se referem à representação
figurada dos objetos. Para Viana & Teixeira (2002), o texto e o desenho estão
indiferenciados, ambos constituem uma unidade indissociável, e as crianças
9
tanto leem no texto como no desenho. O texto é inteiramente previsível a partir
da imagem e representa os mesmos elementos que o desenho;
- Num segundo nível - que designam por hipótese do nome - existe já
uma diferenciação entre imagem e texto, sendo este considerado uma etiqueta
do desenho. Segundo Alves-Martins (1996), o progresso gráfico mais
importante traduz-se na forma mais definida dos grafemas, que se aproximam
cada vez mais de letras;
- Num terceiro nível, segundo Alves-Martins (1996), a escrita continua a
ser previsível a partir da imagem, mas inicia-se um processo de consideração
das propriedades gráficas do texto, que fornece indicadores que permitem
sustentar a antecipação feita a partir da imagem. As crianças deste nível
perceberam já que a linguagem escrita reenvia para a linguagem oral, o que
representa um salto qualitativo muito importante no seu processo evolutivo;
- O quarto nível, caracteriza-se pela procura da correspondência entre o
enunciado oral e os fragmentos gráficos;
- No quinto e último nível, segundo Alves-Martins (1996) e Viana &
Teixeira (2002), as crianças estão em melhores condições para receber o
ensino sistemático da leitura e da escrita, comparativamente com as crianças
dos outros níveis, uma vez que conseguem estabelecer uma correspondência
termo a termo, considerando as propriedades do texto em termos de
segmentação, comprimento e letras com valor de índice.
Para Silva (2003), neste modelo, deixa de fazer sentido a separação
entre procedimentos de leitura e escrita, uma vez que as atividades de
produção e de interpretação da escrita são igualmente reveladoras das
concepções infantis em relação à linguagem escrita.
10
1.2.3. A perspetiva cognitiva e cultural
Do ponto de vista pedagógico, Silva (2003) refere que este modelo
defende que a aquisição da leitura implica a interligação de três dimensões de
aprendizagem. Em primeiro lugar, a aprendizagem requer a integração das
crianças no universo das práticas culturais à volta do objeto escrito e das suas
utilizações num processo de aculturação. Em segundo lugar, a aprendizagem é
vista como uma aquisição social. Em terceiro lugar, aprender a ler requer
compreender a natureza do código escrito e da atividade de leitura, e nessa
medida é uma aquisição conceptual.
Segundo Chauveau (1997), citado em Monteiro (2003), todo o ato de
leitura inclui três ações que são inseparáveis: uma ação instrumental; uma
ação compreensiva; e uma ação cultural. A primeira, denominada de ação
instrumental é composta por três competências de base: saber descodificar;
saber explorar; e saber reconhecer. A segunda, refere que o ato de ler inclui a
ação compreensiva, isto é, a criança para ler tem de conseguir coordenar os
diferentes procedimentos das três componentes instrumentais. A terceira e
última, a ação cultural entende-se como uma estratégia de leitura em que o
leitor adapta os seus comportamentos em função da tarefa de leitura e das
suas intenções.
1.2.4. A perspetiva da abordagem sociocultural
Mata (2003), apresenta uma visão sociocultural, que permite definir a
aprendizagem da leitura como um processo de articulação entre os oito
seguintes processos: o cultural; o social; o conceptual; o precoce e contínuo; o
ativo e participativo; o contextualizado e significativo; o funcional; e o afetivo.
O processo cultural implica que as dinâmicas sociais e culturais que se
desenvolvem à volta da criança a levem a adaptar-se a essas práticas. Para
Chauveau (1997), a criança torna-se leitora através de um processo de
integração cultural, quer integrando-se nessas mesmas práticas culturais quer
assimilando as várias práticas culturais da comunidade que a envolve.
11
Alves-Martins (1996), refere que “aprender a ler significa também
aprender o sentido das práticas sociais e culturais em torno da linguagem
escrita e esse sentido só pode adquirir-se através da participação nessas
mesmas práticas” (p.19).
Para a mesma autora “as práticas educativas, que promovem o contato
precoce com a linguagem escrita e a reflexão sobre as características formais
da linguagem oral, da linguagem escrita e das suas relações, potencializam a
aprendizagem
da
leitura,
dado
que
possibilitam
o
desenvolvimento
metalinguístico das crianças” (p.204).
O processo conceptual defende que muito antes da entrada das crianças
para a escola, elas já têm uma série de conhecimentos e representações sobre
a tarefa de ler. Chauveau (1997), defende que num processo precoce e
contínuo, os atos de leitura verificam-se desde tenra idade, mesmo sem que as
crianças tenham adquirido as competências cognitivas e linguísticas para ler e
escrever.
É um processo ativo e participante na medida em que as crianças
demonstram curiosidade e interesse em comunicar com os outros sobre o que
sabem sobre a leitura e manifestam desejo de adquirirem mais competências
enquanto leitoras.
É um processo contextualizado e significativo, isto é, para a sua
apreensão ser eficaz, a leitura deve ser contextualizada, integrada em
atividades do quotidiano e, para Mata (2003), deve ser “um processo motivante
e relevante, para a criança” (p.23). Na opinião da autora é necessário envolver
as crianças, não basta haver muita escrita circundante ou um ambiente rico em
escrita.
É um processo funcional, dado que, segundo Alves-Martins (1996), “o
conhecimento e a apropriação pelas crianças das utilizações funcionais da
leitura têm fortes relações com a aprendizagem da leitura” (p.203). Segundo a
autora, as crianças com mais contacto com diferentes utilizações funcionais da
linguagem escrita têm maior sucesso da leitura.
12
Segundo Mata (2003), é ainda um processo afetivo, dado que é bastante
relevante a relação afetiva que se estabelece entre a criança e atividade da
leitura. A autora sintetiza todos estes aspetos ao propor que, a criança tem um
papel ativo, apresentando-se a leitura como um ato social que ocorre em
situações contextualizadas, significativas e funcionais em que os afetos
desempenham igualmente um papel maior.
1.3.
Modelos de Processamento de Leitura
Santos (2000) refere que a complexidade do processo de leitura suscitou
o interesse dos investigadores que, ao longo das últimas décadas, têm tentado
descrever não só os mecanismos que lhe são inerentes, mas também a ordem
segundo a qual estes se operam.
Os modelos de leitura referem-se a esquemas interpretativos que
proporcionam critérios e grelhas de atuação que levam ao processo de
aprendizagem.
Alves-Martins (1996), diz que existem vários modelos de leitura,
divergentes quanto aos elementos que integram, quanto à sua concepção de
leitura e ainda quanto ao modo como explicam os seus vários estádios, visto
por uns como lineares e por outros como interdependentes ou interativos.
No que concerne à aquisição da leitura e aos seus processos, existem
diversos modelos explicativos. Cruz (2007) apresenta três modelos de leitura: o
primeiro, o Modelo de Processamento Ascendente (bottom-up models) ou de
baixo para cima, privilegia a descodificação, através do método fónico,
promovendo a via fonológica, indireta ou sublexical, através da aprendizagem e
associação grafema fonema; o segundo, o Modelo de Processamento
Descendente (top down models) ou de cima para baixo, defende que tal como
as crianças aprendem a falar naturalmente, o mesmo acontece com a leitura.
Este método evidência a compreensão, através do método global ou analítico,
privilegiando a associação direta da palavra ao seu significado, sem fazer um
reconhecimento das letras ou sons correspondentes; o terceiro, é o Modelo
Interativo, que é um misto dos dois modelos anteriormente descritos, em que a
informação é bidirecional.
13
1.3.1. Modelos de Processamento Ascendentes
Os modelos ascendentes (bottom-up models) foram elaborados nos
anos setenta do século XX, altura em que a investigação relativa à
problemática da leitura era relativamente reduzida.
Rebelo (1993), defende que, estes modelos descrevem a compreensão
da linguagem escrita como um processo que parte da detecção inicial de um
estímulo e segue por uma série de estádios. O processo inicia-se com a visão
de letras, seguida da transformação nos sons correspondentes, da junção em
palavras, do reconhecimento ou identificação destas e, finalmente, da
integração das palavras em frases. Os elementos considerados por este
modelo são os seguintes: representação icónica; identificação de letras;
passagem para o léxico mental; procura do seu significado; registo na memória
a curto prazo; e passagem para a memória a longo prazo.
Para Alves-Martins (1996), a leitura implica um percurso linear e
hierarquizado indo de processos psicológicos primários (juntar letras) a
processos cognitivos de ordem superior (produção de sentido). A linguagem
escrita codifica a linguagem oral. A leitura é entendida como a capacidade de
decifrar ou de traduzir a mensagem escrita no seu equivalente oral.
Simão (2002), defende que estes modelos privilegiam o ensino das
correspondências grafo fonéticas
como base inicial do processo de
aprendizagem e via de acesso ao significado.
Na intervenção pedagógica defende que a aprendizagem deve começar
pelas
competências
de
nível
inferior
privilegiando
os
processos
de
decifração/descodificação. A instrução deve partir das letras para a
descodificação das palavras e, só depois do domínio de algumas palavras, se
chegaria à leitura de frases. De acordo com os defensores deste modelo, a
origem das diferenças individuais na leitura está na descodificação (Stanovich,
Cunningham & Feeman, 1984), sendo que o leitor fluente seria aquele que
domina bem o processo de descodificação.
Elkonin (1973), citado em Silva (2003), propõe uma definição da leitura
que se enquadra bem nesta perspetiva. Para ele, a leitura é “a recriação da
forma sonora da palavra de acordo com o seu modelo gráfico” (p.2).
14
Várias são as críticas apontadas a este modelo, Alves-Martins (1996) e
Silva (2003), destacam as seguintes: o modelo não conseguiu, até hoje,
explicar
os
resultados
relativos
à
importância
do
contexto
para
o
reconhecimento de palavras e os dados de outros estudos que sugerem que os
processos de leitura não se baseiam exclusivamente na mediação fonológica.
A via fonológica como a única via de acesso ao significado e à
identificação de palavras é uma limitação deste modelo. Essa hipótese parece
ser contrariada com base em estudos onde, no âmbito dos paradigmas da
tarefa de decisão lexical e do tempo de latência na nomeação das palavras, se
manipula a regularidade das relações grafo-fonéticas nas palavras. A
manipulação da regularidade grafo-fonética baseia-se no pressuposto, de que
se a leitura decorresse, sobretudo, de procedimentos de mediação fonológica,
a identificação de palavras regulares estaria facilitada em relação às palavras
irregulares.
Coltheart et al. (1979), refere investigação em que se pede aos sujeitos
que digam se um conjunto de letras que lhes é apresentado, num curto tempo,
constitui ou não uma palavra. Mostram que, nem sempre se verificam efeitos
de superioridade das palavras regulares relativamente às irregulares.
Alves-Martins (1996) e Gough (1984) citados em Alves-Martins & Niza
(1998), defendem que se a mediação fonológica fosse a única via de
reconhecimento de palavras, as palavras que contêm grafemas com um único
equivalente a nível fonológico (por exemplo os grafemas P, F, V, que mantêm
uma relação perfeitamente regular com os fonemas que representam), seriam
mais facilmente reconhecidas do que palavras que contêm grafemas que
podem corresponder a fonemas diferentes (por exemplo os grafemas C, G, S,
que mantêm uma relação contextual com os fonemas que representam), o que
parece não se verificar.
Alves-Martins (1996) e Silva (2003), referem que a falta de flexibilidade
apresenta-se como barreira neste modelo. Estes modelos apuram que a única
via de acesso ao significado é o recurso às correspondências grafofonológicas, não podendo haver da parte do leitor uma adaptação de
15
estratégias em função do material a ser lido. A investigação tem mostrado que
as estratégias utilizadas durante a leitura de diferentes tipos de textos variam.
As investigações também mostram que não é certo que todas as letras
sejam processadas de modo sequencial. Segundo Alves-Martins (1996), um
leitor fluente lê em média 300 palavras por minuto, ou seja, demora 0,2
segundos na leitura de cada palavra, o que não parece ser compatível com o
tempo exigido na leitura letra a letra. Os leitores nem sempre identificam alguns
erros ortográficos, o que sugere que nem todas as letras são processadas.
1.3.2. Modelos de Processamento Descendentes
Os modelos de processamento descendente seguem processos
contrários ao dos modelos ascendentes, isto é, partem de unidades
semanticamente significativas (palavras, frases ou um texto), e só depois
passam ao estudo dos seus componentes (sílabas, fonemas e letras).
Os modelos descendentes foram implementados pela escola ativa de
Montessori, Decroly e Freinet, entre outros. Este modelo inspira métodos que
seguem estratégias do tipo top down e baseia-se na ideia de que o ato de ler
consiste em construir a significação a partir de um texto, utilizando o mínimo de
tempo e de esforço possível, recorrendo ao menor número de índices mais
produtivos para edificar a significação.
Neste modelo, segundo Alves-Martins (1996), “O ato de ler seria como
um jogo de adivinhas psicolinguísticas” (p.33), uma vez que o leitor procura a
significação do texto a partir dos seus conhecimentos prévios e da informação
disponível, recorrendo a antecipações que mais tarde poderá confirmar.
Sánchez & Jiménez (2001) e Silva (2003), referem o modelo como um
processo de "redução da incerteza", rejeitando a ideia de que a leitura
necessita de um processamento letra a letra, ou palavra a palavra.
Para Rebelo (1993), este modelo dá muito mais atenção aos
conhecimentos sintáticos e semânticos do que aos fonológicos. Neste modelo,
o leitor dirige a si próprio perguntas sobre o texto antecipando o significado
16
deste. Reage ao texto tendo em conta as suas experiências. Os modelos
descendentes partem do princípio de que ler é compreender.
Alves-Martins (1996), refere que este modelo é antagónico ao anterior,
defendendo que o leitor, recorrendo aos seus conhecimentos e ao contexto,
elabora antecipações que serão confirmadas através de índices do texto
escrito.
Simão (2002), refere que o sujeito confrontado com um texto elabora um
conjunto de expectativas a propósito do mesmo e formula hipóteses sobre o
seu conteúdo.
Para
Goodman
(1976),
a
leitura
é,
portanto,
dirigida
pelos
conhecimentos semânticos e sintáticos do sujeito, estando os aspetos
perceptivo/visuais subordinados aos anteriores. Este modelo considera que os
processos mentais superiores são, assim, determinantes no ato de ler.
Para Silva (2003), o processo de leitura continua a ser sequencial e
hierárquico mas em sentido inverso, na medida em que o ponto de partida são
os processos de ordem superior que induzem a elaboração de hipóteses e
antecipações relativas ao texto, as quais irão dirigir a identificação direta de
signos visuais (palavras), a fim de integrar e verificar as predições iniciais.
Assim, o essencial da atividade de leitura consistiria em prever o que está
escrito no texto, e a verificar-se a existência de desfasamento entre as
hipóteses concebidas e os índices extraídos do texto, seria necessário procurar
mais informações.
Alves-Martins & Niza (1998), criticam os modelos descendentes, dizendo
que as predições realizadas pelo leitor não são explicadas pelo modelo
descendente. Assim, se a via visual fosse a única a ser utilizada na leitura,
ficaria por explicar como é que leitores experientes conseguem ler palavras
desconhecidas.
Segundo Silva (2003), este modelo não esclarece, também, como é que
o leitor pode pesquisar índices grafo-fonológicos, sintáticos e semânticos
relativos a uma palavra ou a uma sequência de letras, que ainda não foram
identificadas.
17
Goodman (1976) e Smith (2003), citado em Alves-Martins (1996),
apoiam os modelos de processamento da informação de orientação
descendente e sugerem que a principal origem das diferenças individuais na
leitura reside no uso de informações sintático-semânticas.
Alves-Martins (1996), acrescenta que este modelo só é possível de ser
utilizado em contextos prenunciáveis e em situações que não contemplam as
aprendizagens iniciais, dado que um leitor em fase inicial de aprendizagem não
pode, ainda, apoiar-se na sua experiência e conhecimentos para fazer
predições.
Segundo Simão (2002) e Santos (2004), as críticas feitas aos dois
modelos apontam para o facto de ambos os tipos de competências
(ascendentes e descendentes) fazerem parte do comportamento do sujeito
leitor. Se o leitor fizesse uso apenas de competências top down seria difícil,
que duas pessoas, pudessem chegar à mesma conclusão, a partir da leitura de
um mesmo texto. Por outro lado, também seria improvável que se pudesse
adquirir novas aprendizagens a partir de um texto, se apenas nos apoiássemos
no conhecimento prévio. Por razões semelhantes, também se considera que a
leitura não pode ser unicamente bottom-up. Se assim fosse, a leitura de um
mesmo texto não despertaria desacordo de opiniões, uma vez que não seria
possível retirar interpretações pessoais, baseadas em diferenças tais como a
idade e as experiências individuais
Enquanto os modelos descendentes parecem descrever melhor o leitor
eficiente, os ascendentes parecem ser melhores descritores da criança que
aprende a ler.
1.3.3. Modelos de Processamento Interativos
Alves-Martins (1996), Alves-Martins & Niza (1998), Viana (2002) e Silva
(2003), referem que nos últimos anos assistiu-se a uma evolução dos modelos
que procuram representar os processos cognitivos mobilizados pelo leitor
fluente. Nesta evolução passou-se a defender modelos que pressupõem um
funcionamento em paralelo, nos quais se considera que o sujeito leitor utiliza
em simultâneo e em interação, capacidades de ordem superior e capacidades
18
de ordem inferior, estratégias ascendentes e descendentes com efeitos
retroativos para ambos os níveis.
Os modelos interativos são aqueles que assumem maior consenso entre
os investigadores e representam uma concepção onde o ato de ler é o produto
da utilização de várias estratégias (ascendentes e descendentes) paralelas e
em interação.
Segundo Santos & Navas (2002), a utilização destes dois processos
oscila com o material que está a ser processado e com a capacidade do leitor.
Na leitura de palavras isoladas e descontextualizadas, necessariamente seria
utilizado o processo bottom-up, enquanto o processo top-down facilitaria tanto
o reconhecimento de palavras como a sua compreensão.
É a partir desta concepção que surgem os modelos interativos propostos
por Rumelhart (1977) e Stanovich (1980), advogando que esses dois
processos – bottom-up e top-down – contribuem para a compreensão da
leitura, pois para se ser um bom leitor o indivíduo deve ter uma boa capacidade
de reconhecimento da palavra, assim como um alto nível de conhecimento
linguístico e conceptual.
Sánchez & Jiménez (2001) e Silva (2003) referem que os modelos
interativos pressupõem, então, que quando um leitor se confronta com um
texto, os seus vários componentes geram expectativas a diferentes níveis: os
traços das letras induzem a suposições em relação à sua identificação; a
identificação das primeiras letras conduz a predições sobre o tipo de palavra; e
por sua vez as palavras identificadas criam expectativas a nível sintático.
Portanto, o processo funciona de modo que a informação identificada a cada
um dos níveis funcione como input do nível seguinte, seguindo um fluxo de
informação ascendente. No entanto, em função dos conhecimentos prévios do
leitor, nomeadamente, ao nível do tema, do tipo de suporte ou da estrutura do
texto, são igualmente construídas expectativas que guiam o processo de leitura
no sentido da verificação das hipóteses elaboradas através dos indicadores
proporcionados pelos níveis inferiores (lexicais, sintáticos e grafo-fonéticos),
seguindo um percurso descendente. A compreensão de um texto implica em
simultâneo conhecimentos sobre o tema, sobre a estrutura e organização dos
19
diferentes tipos de textos, conhecimentos sobre as diferentes estratégias a
mobilizar em função das características do texto e dos objetivos do leitor e
conhecimentos sobre o código linguístico e alfabético.
Santos (2000) e Simão (2002), referem que a característica fundamental
assenta em considerar que qualquer nível ou estádio, independentemente da
sua posição na hierarquia do sistema, pode comunicar e interagir com outro
nível qualquer, já que todos concorrem, em simultâneo, para que a leitura seja
eficaz.
Estes modelos de leitura partem da hipótese construtivista de que a
percepção consiste em representar ou organizar a informação em função dos
conhecimentos prévios do leitor. Para compreender um texto é necessário por
um lado, que o leitor tenha conhecimentos sobre o tema que nele é tratado e
por outro lado, que domine o código linguístico, para que possa compreender
os conhecimentos que o autor do texto quis transmitir.
Alves-Martins (1996), refere por isso que o ato de ler seria o produto da
utilização de várias estratégias (ascendentes e descendentes) simultâneas e
em interação.
Alves-Martins & Niza (1998), consideram que os leitores utilizam
estratégias flexíveis, em função do tipo de texto, do tipo de frase ou do tipo de
palavra com a qual são confrontados. Consideram ainda a existência de dois
sistemas de reconhecimento de palavras, o sistema visual para identificar
palavras familiares e o sistema de correspondência grafo-fonológico, para
identificar palavras não familiares.
Para a leitura ser eficaz é necessário que se comece por uma fase
visual, seguida de uma fase alfabética, na qual os processos fonológicos são
essenciais para o sucesso da leitura, terminando na fase ortográfica. Neste
sentido, Morais (1997), citado em Cruz (2007), sugere que “o leitor hábil
identifica as palavras na base de representações ortográficas e representações
fonológicas “ e “ para chegar à constituição destes processos ortográficos e
fonológicos, o aprendiz-leitor baseia-se essencialmente no princípio alfabético”
(p.133).
20
Viana (2002), dá o exemplo de uma pessoa que saiba facilmente
reconhecer palavras, mas saiba pouco sobre o assunto de que trata o texto.
Esta pode privilegiar estratégias ascendentes de leitura, enquanto uma outra
que não esteja ainda segura no reconhecimento de palavras pode privilegiar
estratégias descendentes, baseadas por exemplo no contexto sintático e/ou
nos conhecimentos gerais sobre o tema.
Alves-Martins (1996), Rebelo (1993) e Sousa (2000) referem que o
modelo interativo compensatório de Stanovich, inspirado no modelo de
Rumelhart, surgiu em 1980, o modelo interativo compensatório defende que
qualquer estádio do processo pode influenciar um outro, acrescentando,
contudo, que os estádios têm, entre si, uma função compensatória, dado que
os pontos fracos de qualquer nível podem ser compensados pelos fortes de um
outro nível. Assim, leitores fracos, com dificuldades de análise e de
descodificação de palavras, poderão servir-se de estruturas cognitivas de nível
mais geral, como o uso de relação e de contextos, para identificar mais
facilmente as palavras, enquanto leitores fortes, ao desconhecerem o contexto
das palavras e das frases, poderão servir-se da descodificação para a sua
identificação.
O modelo interativo na prática educativa, combina os processos de
análise e de síntese e focaliza as aprendizagens a partir dos elementos que
promovem a interação entre os textos e o leitor. Estamos a remeter-nos aos
chamados métodos mistos.
Para os modelos apresentados, e com base neles, surgiram, métodos do
ensino da leitura correspondentes: aos ascendentes, o método fónico; aos
descendentes, o global e aos interativos, o método estrutural ou misto.
Sim-Sim (1995) refere que, “independentemente dos modelos teóricos
explicativos do ato de ler, poderemos sempre falar de dois tipos de produtos e
dos respetivos processos utilizados para os atingir. Assim para ambos os
produtos, o objetivo é o mesmo, obter o significado do que está escrito, embora
através de processos de sentido oposto” (p.215).
Sim-Sim (2005),refere que:
21
”…mais importante do que a aplicação rígida de uma qualquer
metodologia monolítica de ensino da descodificação, a aprendizagem
da leitura faz-se através da prática sistemática e deliberada de
actividades que promovam o domínio do princípio alfabético, através
do uso de estratégias ascendentes, e de actividades holísticas que
possibilitem
a
antecipação
e
compreensão
de
mensagens
significativas para os alunos, através do uso de estratégias
descendentes. Utilizando processos ascendentes e descendentes, a
prática continuada de leitura se encarregará de dotar os aprendizes
de leitor, da fluência necessária para aceder à leitura de textos
progressivamente mais complexos” (p.52).
Para a autora é no equilíbrio dos dois modelos, que se deve estabelecer
a aprendizagem. Assim, as crianças que iniciam um método que beneficia
estratégias ascendentes (fónico), atingem mais cedo o controlo do segmento
mínimo de som (fonema) do que as iniciadas por um MLG, que favorece
estratégias descendentes.
1.4.
Métodos de Leitura
Grande parte das dificuldades que se manifestam na escola, podem ser
colmatadas, se as metodologias de ensino considerarem os princípios básicos
que dirigem a linguagem oral.
Nas décadas de cinquenta e sessenta do século XX, assistiu-se a uma
preocupação relativa à eficácia dos métodos de leitura existentes.
Viana & Teixeira (2002), referem que ao analisar um método como o
conjunto de estratégias selecionadas pelo professor que organizam e
22
estruturam o seu trabalho face às competências que se pretendem atingir, a
eficácia de um método dependerá, essencialmente, do grau em que: 1)
contribui para o desenvolvimento integral do aluno; 2) promove a atividade do
aluno no processo de aprendizagem, assim como o diálogo entre os alunos; 3)
se adapte ao ritmo e às características individuais de cada aluno; 4) se afigure
como motivante; 5) se desenvolva num ambiente calmo e de liberdade
adequada; 6) possibilite, ao aluno, conhecer os seus progressos, de forma a
permitir a evolução da sua aprendizagem e 7) permita a generalização.
A compreensão das influências que os diferentes métodos de leitura
provocam, coloca em quem aprende algumas questões relacionadas com a
forma como se ensina e na relação com a facilidade ou não em aprender.
Segundo Villas-Boas (2002), “a competência para ler não se desenvolve
naturalmente, isto é, requer um ensino sistematizado e consistente, uma
aprendizagem voluntária e consciente e uma prática continuada de leitura”(
p.10).
Carvalho (2011), refere que durante a iniciação da aprendizagem da
leitura as crianças utilizam as estratégias de substituição, que passamos a
referir. No início da aprendizagem, a criança substitui uma palavra
desconhecida por uma conhecida que se adapte ao contexto. A segunda
estratégia de substituição implica o recurso ao contexto sintático e semântico e
a pistas resultantes da identificação de alguns grafemas.
No final do primeiro ano de escolaridade, muitas crianças já passaram
das estratégias de substituição para estratégias que envolvem o uso de
relações entre a ortografia e o sistema fonético. Inicialmente a criança aplica
regras de correspondência letra-som de forma invariante, indo da esquerda
para a direita, seguindo a apresentação das letras. Esta estratégia é útil para
descodificar consoantes de estrutura mais simples. Assim, a criança aprende o
uso hierárquico de estratégias de descodificação, que consiste em que as
correspondências letra-som nem sempre são transparentes na leitura e na
escrita e existem regras contextuais que têm de ser adquiridas e aplicadas de
acordo com as situações.
23
Cardoso-Martins (1991) realizou uma pesquisa para analisar a eficácia
de dois métodos de leitura, com dois grupos de crianças brasileiras que
frequentavam o primeiro ano de escolaridade. Num dos grupos, as trinta e duas
crianças aprenderam a ler através de um método fonémico. No outro grupo, as
vinte e seis crianças aprenderam por um método silábico. Os resultados
mostraram que a consciência fonémica foi relevante no desempenho em leitura
e escrita apenas para as crianças que aprenderam a ler pelo método fonémico.
No grupo de crianças submetido ao método silábico, a capacidade preditora da
consciência fonémica não foi significativa. Por outro lado, verificou-se que as
crianças ensinadas através do método silábico obtiveram desempenhos
claramente superiores na leitura e escrita e existia neste grupo, uma menor
variabilidade na distribuição dos resultados do que no grupo submetido ao
método fonémico.
Rego (1995), citado em Martins & Valente (2004), fez uma pesquisa
longitudinal com 50 crianças brasileiras alfabetizadas através de um método
silábico. O estudo teve como objetivo investigar a influência da consciência
fonológica e da consciência sintática. As crianças foram avaliadas antes do
período de alfabetização e no final da alfabetização. Os dados mostraram que
o desempenho prévio em tarefas de consciência fonológica não se
correlacionava significativamente com o posterior desempenho em leitura, em
Portugal, os programas de escolaridade não apresentam quaisquer orientações
sobre o método de ensino da leitura, deixando ao critério das instituições de
formação de professores e, mais tarde, ao critério de cada docente a escolha
do método mais adequado.
Segundo Alves-Martins (1996), “o sistema de escrita da língua
portuguesa é um sistema alfabético de escrita, ou seja, um sistema em que
aquilo que é codificado são as unidades mínimas de som que introduzem
diferenças nos significados das palavras, as características deste sistema
impõem um tipo de reflexão – sobre a linguagem oral, sobre a linguagem
escrita e sobre as suas relações” (p.16).
Para aprender a ler numa língua alfabética como é o português, é
fundamental aprender o código alfabético e conseguir automatizar o
procedimento de conversão grafo-fonológico. O conhecimento do princípio
24
alfabético é essencial na leitura, pois permite identificar a maior parte das
palavras conhecidas e é indispensável à identificação das palavras novas.
Segundo um estudo de Castanho (2007) os métodos usados para o
ensino da leitura no nosso país não têm surtido o efeito desejado. O
investimento nos métodos globais/analíticos tem-se revelado desastroso e
contraria investigação internacional relevante que, nas últimas décadas, aponta
os métodos sintéticos como a solução para os problemas do analfabetismo
funcional e para a iliteracia.
1.4.1. Método de Leitura Global
A propagação do MLG deve-se a Ovide Decroly em 1936 Thoyarot,
(1971) Mezeix & Vistorky, (1971). O MLG assenta em princípios de apreensão
global, interesse, avanço do simples para o complexo e prioridade na
percepção visual em detrimento da auditiva.
Borges (1998), refere que a partir do século XIX e início do século XX
intensificaram-se as críticas ao método fónico, realçando o seu caráter
mecânico e alienado das funções sociais da escrita, surgindo, então, o MLG.
O autor refere ainda que convém notar que “o MLG pode igualmente ser
caracterizado pelo facto de tentar promover na criança, desde o início da
aprendizagem, as associações ternárias – sentido expressão/gráfica/expressão
fónica – de que ele necessita no decurso da leitura corrente” (p.12).
Borges (1998), refere que no método global os procedimentos de ensino
da língua escrita partem dos elementos de significação da língua: palavra,
frase, texto, ficando a análise dos seus componentes (sílaba, fonema ou letra)
para um momento posterior. As etapas propostas para a aprendizagem
seguem o caminho inverso do método sintético. O professor lê um texto que as
crianças repetem e que serve de base para o reconhecimento, inicialmente do
significado e posteriormente das palavras que o constituem.
Para Citoler (1996) e Harley (2001), este método dá menos valor ao
ensino das letras que formam as palavras, primando o significado destas e
estimulando o uso de chaves contextuais face a palavras desconhecidas. Com
25
uma prática continuada, consideram que a criança irá desenvolver um
vocabulário de palavras que passará a reconhecer de forma global.
Uma das características mais relevantes do MLG é a importância dada
ao significado, como ponto de referência prioritário, para favorecer a
memorização e para evitar um deciframento reduzido a um mero papaguear.
Outro aspeto prende-se com a consideração da frequência e das unidades
linguísticas e a necessidade pedagógica de começar o ensino pelas mais
frequentes.
Segundo Viana & Teixeira (2002), o MLG insere-se numa pedagogia de
tipo ativo, em que a criança deve ser o principal agente da sua aprendizagem.
Deve descobrir por si própria, e não ser o agente passivo do ensino dado pelo
professor. O desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade constituem
os factores mais importantes reclamados pelos defensores destes métodos na
educação e na formação da personalidade da criança. A criança aprende a ler,
lendo como aprende a falar, falando.
Viana & Teixeira (2002), referem que alguns dos exercícios realizados
pela criança passam pelo reconhecimento, compreensão, memorização e
leitura de palavras que compõem frases.
Morais (1997), menciona que uma variante, destes métodos, foi
introduzida por Freinet (método natural), que substitui o texto escrito pelo
professor por textos escritos pelas próprias crianças e ditados por estes ao
professor.
Sendo a criança um elemento ativo no processo de aprendizagem, esta
vai iniciar por si o processo de análise e síntese de palavras. Assim a criança
de forma voluntária faz a descoberta entre a semelhança de palavras,
visualizando as sílabas que se assemelham. Isto é, partindo de uma palavra
são procuradas outras com as mesmas sílabas, nas mesmas posições. Uma
outra forma de proceder é agrupar palavras recorrendo a uma mesma sílaba,
que pode posicionar-se no início, no meio ou no final da palavra.
Para Campagnolo (1979), o MLG estabelece associações entre as três
fases (gráfica, fónica e semântica) das palavras e das frases. Este método, na
26
fase de estabelecimento das associações básicas, só considera as
combinações de símbolos escritos representando unidades significativas
(palavras e frases) já conhecidas. Considera numa primeira fase, a fase gráfica
das palavras e das frases (ou pelo menos de certas combinações de
palavras).O procedimento implica, por um lado, a escolha do número limitado
de palavras e frases constituindo as associações básicas destinadas a serem
memorizadas diretamente, por outro o ensino de uma “receita” para decifrar
uma palavra ou uma frase escrita, encontrada pela primeira vez.
Alguns estudos, tais como Alegria, Pignot & Morais (1982) e Chall, et al.,
(1990), demonstraram que as crianças quando aprendem a ler com base num
programa de método fónico têm, à partida, uma vantagem no reconhecimento
das palavras. Uma das desvantagens apontadas ao MLG prende-se com o
facto de ele dar pouca importância às percepções auditivas reduzindo o texto a
palavras-chave, limitando a descoberta individual da criança, descurando a
relação entre linguagem oral e escrita.
Morais (1997), Viana (1998) e Sousa (2000) referem que por volta do fim
do segundo ou do terceiro anos de escolaridade, ultrapassam aqueles que
aprenderam a ler segundo o MLG, em termos de velocidade, de compreensão
na leitura silenciosa, no vocabulário e na ortografia.
Para a realização de operações como a decomposição e a associação,
a decifração impõem-se como fundamental e daí a vantagem do método
sintético.
Rebelo (1990), por sua vez, considera que a aprendizagem da leitura
implica vários níveis. Inicialmente os métodos globais revelam-se úteis, uma
vez que permitem à criança realizar um percurso que vai da forma da palavra
ao sentido.
Viana & Teixeira (2002), apontam uma das vantagens do MLG referindo
que é dado à criança uma atividade inteligente que promove o prazer pela
leitura. Contudo como desvantagem, citam a seleção das palavras com o
objetivo de facilitar a aprendizagem.
27
Os mesmos autores referem que, com base nas diferentes críticas e na
evolução da concepção da leitura, surgiram, mais recentemente os métodos
mistos, semi-globais ou analítico-sintéticos, que procuraram integrar o método
fónico e o global.
Os métodos mistos fazem apelo simultaneamente à análise e à síntese e
são perspectivados como processos contínuos. Agrupam duas tendências: a
primeira inicia o ensino pela apresentação global da palavra para, com maior
ou menor rapidez, a decompor em sílabas e letras. A segunda parte da sílaba,
associando rapidamente vogais e consoantes, apresentadas a partir de
palavras com sentido.
Os métodos mistos retomam dos MLG o respeito pela atividade da
criança, e dos métodos fónicos a progressão sistemática. A concepção
subjacente ao ato de ler considera que a compreensão da mensagem escrita
pressupõe previamente a identificação visual dos signos gráficos e,
consequentemente, o conhecimento das relações grafema-fonema.
Contudo, as duas competências - identificação dos signos gráficos e
compreensão – são desenvolvidas, sempre que possível em simultâneo. A
prática pedagógica é ativa, ou seja, solicita a capacidade de observação da
criança, tomando em consideração os seus interesses. Os textos e as palavras
são escolhidos tendo em conta o vocabulário conhecido da criança. O ensino é
orientado de forma a suscitar a descoberta das letras pela criança, a partir da
comparação com outras palavras. Consequentemente, a criança faz constantes
análises e sínteses para descobrir a letra e para formar as sílabas, as palavras
e as frases.
1.4.2. Método de Leitura João de Deus
Alegria (1989), refere que o MLJD insere-se no Modelo Interativo de
leitura, porque utiliza estratégias de leitura do tipo “Bottom-up” e “Top-down”,
associando a capacidade fundamental da descodificação com a compreensão
do que foi lido.
28
Quando o método surge em 1876, já integrava uma série de princípios e
recomendações que foram evoluindo através de investigações feitas à priori.
Segundo Viana & Teixeira (2002), o MLJD tem a vantagem de ter sido
baseado na análise da nossa língua feita através de um processo fidedigno e
graduado com base no raciocínio lógico e numa atitude construtivista de
descoberta de valores e regras que levam à leitura consciente.
Segue uma via original, pois como refere Carvalho (1990), “apresenta as
dificuldades da língua portuguesa seguindo uma progressão pedagógica que
constituiu um verdadeiro estudo desta língua” (p.18).
O pedagogo João de Deus era contra os métodos silábicos e para ele a
unidade principal da leitura é a palavra, como elemento estruturante essencial,
o seu método de leitura, assenta na análise da língua feito através do raciocínio
lógico e numa atitude construtivista de descoberta de valores e regras que
levam à descodificação e à compreensão leitora, de uma forma consciente e
significativa.
João de Deus considerava os métodos silábicos, existentes na altura, de
que era referência o método de Castilho criado em 1830, e usado por muitos
professores, como métodos que não desenvolviam o raciocínio, pois apenas
levavam o aluno a repetir sílabas sem significado. O método de Castilho era
então um silabário, que segundo o poeta, nenhum interesse tinha para os
alunos. Deus (1876) dizia que “ …Assim ficamos livres do silabário, em cuja
interminável série de combinações mecânicas não há penetrar uma idêa!”
p.13).
Segundo Ruivo (2009), no MLJD os sistemas visual e auditivo, são
ativados pelo leitor. Este será tão melhor, quanto melhor for a sua capacidade
de memória visual ao mesmo tempo que conseguem memorizar e
compreender as regras que se traduzem no código linguístico.
A primeira abordagem linguística feita à Cartilha Maternal e por sua vez
ao MLJD, foi realizada por Campagnolo em 1979. Este método explica as
regras de uma forma organizada, sistemática e rigorosa.
29
A cartilha é um suporte físico do MLJD. Sim-Sim (2001), como citada em
Ruivo (2009), refere que “a cartilha maternal suporta as palavras com
sequência, com rigor e estrutura, de forma a poder em cada palavra escolhida,
transmitir conhecimentos linguísticos que levarão o aluno a adquirir a
competência da leitura através de um raciocínio lógico que o leva à
descodificação para o processo de compreensão” (p.118).
A metodologia de João de Deus recusa-se tratar as sílabas
independentemente das palavras em que estão inseridas, permitindo ensinar o
código alfabético num contexto de leitura significativo. As palavras são lidas e
contextualizadas de forma a contribuir para o enriquecimento lexical da criança,
porque, salvo raras exceções, os alunos que entram para o primeiro ciclo
possuindo um vocabulário rico, são os mais capazes de construir frases
corretamente elaboradas.
A metodologia pode ser ministrada a crianças com cinco anos de idade e
isso permitirá dar-lhes mais tempo para que adquiram a competência da leitura.
Segundo Ruivo (2009), o processo é apresentado à criança como que
em forma de jogo que vai progredindo de uma forma construtivista. Tem início
com a apresentação visual das letras, seguindo-se os sons, a leitura de
palavras e a pronunciação destas como entidades globais com significado
próprio.
A Cartilha Maternal associada ao MLJD contém vinte e cinco lições, no
total com setecentos e cinco vocábulos.
O
MLJD
apresenta
uma
ordem
alfabética
facilitadora
para
a
aprendizagem da leitura. Refere Deus (1997), que “a escolha e apresentação
das letras mais fáceis de aprender, obedece a um critério, e é isso que
chamamos “método” (p.12).
Campagnolo (1979), refere que “as palavras de cada lição são
escolhidas de modo a conter somente figuras anteriormente adquiridas e,
eventualmente, uma nova figura a cuja aquisição é dedicada a nova lição; os
conjuntos de palavras formando cada lição contêm portanto um número
crescente de figuras” (p.60).
30
Esta metodologia beneficia e estimula a criança, uma vez que parte do
mais simples para o mais complexo. Inicialmente, são apresentadas as vogais
e em seguida as consoantes “certas”, e só depois do domínio destas é que são
apresentadas à criança as consoantes “incertas”, o que permite relacionar
conhecimentos anteriores e descobrir por si que a posição da letra na palavra,
ou a sua envolvência, determina o seu valor sonoro, que a diferencia de uma
parecida mas não igual.
Neste método, cada letra consoante é incluída numa lição em que estão
reunidos os seus diferentes valores, as letras consoantes são ordenadas em
função do seu número de valores, sendo ensinadas primeiro as que
correspondem foneticamente a fricativas ”certas”, ou seja aquelas que só têm
uma leitura, um valor, um som.
Assim as primeiras letras consoantes a serem apresentadas à criança
são o v e o f. As letras apresentam um papel dinâmico nas palavras.
O pedagogo atribui nomes a cada figura do alfabeto. Assim estabelece
a correspondência entre símbolos gráficos e os fonemas (valores desses
símbolos).
Segundo Ruivo (2009), “a relação grafema/fonema é a base do método
e o aluno é levado também a tomar consciência dos seus órgãos fonadores e a
saber o que deve fazer aos articuladores para pronunciar corretamente cada
som” (p.146).
As consoantes “incertas” apresentam-se como um jogo de regras e
mnemónicas que levam à compreensão e descodificação, realizada de forma
lúdica pelo raciocínio lógico e pela construção do pensamento. O uso das
mnemónicas é um atributo que diz respeito exclusivamente ao MLJD e o seu
uso facilita a formação temporária dos nomes das consoantes incertas.
Para Ruivo (2009), o método demonstra uma estreita relação entre o
domínio da linguagem e o da leitura/escrita. Recorre ao aspeto visual,
indicando a divisão da palavra em sílabas gráficas, utilizando duas cores
distintas: preto e cinzento. Para Campagnolo (1979), “ o método João de Deus
apresenta as palavras decompostas em sílabas gráficas, e utiliza um artifício
31
simples – sílabas alternadamente pretas e cinzentas – para obter esta
decomposição sem quebrar a unidade gráfica das palavras” (p.57).
Permite sentir o funcionamento dos órgãos fonadores ajudando a
estabelecer uma imagem sonora e consciencializando a noção de fonema e a
sequência de sons nas palavras.
Assim os valores das letras designam os fonemas. Deus (1997), refere
que “ procurámos que entre o método e as regras gramaticais, fonéticas e
fonológicas da língua portuguesa não haja desvios ou erros de falta de rigor”
(p.10).
O MLJD sugere estratégias que auxiliam as crianças a analisarem a
linguagem.
Por exemplo, quando à letra s (consoante incerta) se dá o nome de
cezêxe, esta “mnemónica” faculta à letra diferentes pronúncias mediante as
letras que a precedem ou antecedem. Esta letra tem três valores, que
designam os fonemas, ou as combinações de fonemas.
É fundamental que a criança aprenda a diferença entre os nomes das
letras e os valores que elas podem tomar.
A criança aprende estas regras de leitura progressivamente em cada
lição, isto é, os casos de leitura.
João de Deus, como citado no Guia Prático (1997), destaca que esta
nomenclatura especial, só deixa de ser precisa quando o aluno já lê com algum
desembaraço.
A criança tornar-se-á leitora quando assistir a cerca de noventa lições.
As lições são dadas em pequenos grupos com recurso a uma cartilha
grande, que promove o desenvolvimento de uma série de competências, entre
elas: compreensão da leitura, desenvolve o conceito de leitura e habilitações
pró-leitoras, a lateralidade, em suma, o desenvolvimento dos princípios da
escrita.
32
O MLJD caracteriza-se segundo as seguintes linhas de força referidas
por Ruivo (2009):
“a) Lições curtas e diárias (a criança vai diariamente à lição e esta
é curta e concisa);
b) Fase gráfica das palavras (recurso à divisão silábica por cores);
c) Modelo interativo (utiliza estratégias do tipo “bottom-up”, topdown em sinergia);
d) Papel dinâmico das letras (a criança encontra de uma forma
lúdica os diferentes valores das letras, a aprendizagem é
realizada do simples ao complexo e o pensamento lógico da
criança é satisfeito através das regras de leitura);
e) Uso das mnemónicas (ajuda na aprendizagem);
f) Fomenta a autocorreção (estimula a criança para a reflexão
sobre o que lê);
g) Respeita o ritmo individual da criança (as lições são
ministradas em pequenos grupos mas é dada atenção individual a
cada criança);
h) Estimula as capacidades metacognitivas (as palavras lidas são
relacionadas
com
as
vivências
das
crianças,
a
criança
contextualiza a palavra lida em frase);
i) Ensina regras básicas de acentuação (identificação das sílabas
átonas e tónicas);
j) Respeita a ordem alfabética da cartilha (iniciada com as
consoantes constritivas e posteriormente as oclusivas);
k) Favorece a ortografia (o método facilita uma leitura bem
compreendida) ” p.(145).
33
Em suma, o MLJD privilegia uma aprendizagem estruturada e
progressiva nos domínios da leitura e da escrita.
Buescu, et al. (2012), referem que:
“a leitura e a escrita surgem associadas nos dois primeiros ciclos
de ensino. Sendo funções distintas, elas apoiam-se, porém, em
capacidades que lhes são em grande medida comuns. Por esta
razão, a aprendizagem da leitura e a aprendizagem da escrita
influenciam-se reciprocamente: a consciência dos fonemas é
adquirida em combinação com a aprendizagem das letras e
facilitada quando estas são escritas manualmente pelo aluno; a
escrita consolida a representação dos fonogramas que intervêm
na descodificação das palavras; a prática da leitura permite a
constituição de representações das palavras que também são
utilizadas na escrita e que esta ajuda a tornar mais precisas;
enfim, os resumos escritos fazem parte de certas estratégias de
compreensão em leitura e, em retorno, a leitura de textos com
compreensão ajuda a assimilar processos que inspiram a
composição escrita”(pp.5,6).
A aprendizagem da leitura e da escrita é iniciada de uma forma formal a
partir dos cinco anos de idade, existindo uma série de estimulações desde os
três anos.
Segundo Carvalho (2012), existem estimulações desde os dois e três
anos de idade, pois nas creches existem livros ou palavras escritas nas
paredes. A “Hora do conto” também é fundamental, já que faz com que a
criança adquira duas coisas muito importantes: a primeira, o gosto pela leitura
e pelas histórias; e a segunda, perceber qual a utilidade para a criança em
aprender a ler e a escrever.
34
A lição da cartilha é dada diariamente e sempre a duas/três crianças de
cada vez. Em cada lição estuda-se uma letra, permitindo que a criança aprenda
sons que essa letra tem na língua portuguesa.
A criança é levada a entrar num jogo, do qual vai aprendendo regras e
vai evoluindo de uma forma construtiva. O processo inicia-se com a visão das
letras, seguindo-se os sons correspondentes, a leitura de palavras e
pronunciação destas em entidades globais.
Este método acentua o aspeto da compreensão, salienta as funções da
memória, da atenção e do processamento mental da informação durante a
leitura. As palavras lidas pelas crianças, ativam esquemas da sua memória que
a auxiliam na compreensão do seu significado. Desta forma a criança
consegue fazer a integração das palavras lidas em contextos do mundo real.
1.5.
Competências de Leitura:
Nesta secção descrevem-se alguns estudos sobre as três competências
associadas à leitura, a fluência, a correção e a compreensão, que são objeto
da presente dissertação.
1.5.1. Fluência
Segundo Giasson (1993), a leitura pode ser analisada, tanto em função
dos processos psicológicos acionados pelo sujeito, como em função das
utilizações
que
são
possibilitadas
pela
leitura,
enquanto
instrumento
indispensável para as práticas culturais e intelectuais de uma sociedade.
O mesmo autor salienta que a importância da combinação destas
dimensões, é relevante quando analisamos o que um leitor fluente tem
possibilidades de fazer. Em primeiro lugar, compreende, procurando apreender
o conteúdo essencial do texto, distinguindo o acessório do fundamental,
relacionando as diferentes partes do texto em esquemas de sequência, causa
e
efeito,
ou
outras,
e
aprofunda
a
sua
compreensão
através
do
estabelecimento de pontes com conhecimentos prévios. Em segundo lugar,
adapta, flexibilizando a sua atitude de leitor tendo em conta o suporte, a
35
estrutura do texto e os objetivos que pretende atingir. Através do exercício de
leitura, o seu procedimento evolui para uma leitura mais seletiva e diagonal. A
eficiência na compreensão e na adaptação dos seus procedimentos de leitor
depende ainda do seu gosto e prazer em relação ao ato de ler e aos conteúdos
sobre os quais o ato de leitura é exercido.
Anderson, Hiebert, Scott & Wilkinson (1985), já tinham salientado um
dos marcos mais relevantes da competência leitora que é a fluência de leitura.
Também Morais (1997), defende que a rapidez com que se identifica uma
palavra facilita o processo de compreensão. Quanto mais rápida for a
identificação de cada palavra, mais disponibilidade tem a memória de trabalho
para efetuar as operações de análise sintática, de integração semântica dos
constituintes da frase e de integração das frases na organização textual.
Sim-Sim, Duarte & Ferraz (1997) e Bártolo (2000); referem que a
fluência não se atinge sem treino dos mecanismos de automatização. Este
treino de rotinas e automatização de processos é imprescindível para a
economia e gestão dos recursos mentais, fundamentais no processamento da
informação.
Segundo Sim-Sim (2006), “a fluência de leitura (rapidez e rigor de
compreensão do que é lido), resulta do sucesso e da adequação das
estratégias de compreensão usadas e, claramente, é muito mais limitada num
leitor inexperiente do que num leitor fluente” (p.41).
Carvalho (2011), refere que os leitores mais fluentes identificam palavras
mais rapidamente, permitindo-lhes fazer ligações entre ideias e textos e entre
estes e os seus conhecimentos anteriores. São capazes de ler e compreender
em simultâneo, o que não se verifica com os leitores menos fluentes.
Estudos realizados por Meyer & Felton (1999) e Fuchs et al. (2001)
relacionados com a necessidade de avaliar a fluência de leitura mostram-nos
que uma leitura pouco fluente pode refletir-se em problemas ao nível da
compreensão.
Meyer & Felton (1999), referem que um leitor fluente é aquele que
demonstra autonomia perante um texto, que manifesta habilidade para ler
36
textos rapidamente, suavemente, sem esforço e automaticamente, dando
pouca atenção aos mecanismos de leitura, nomeadamente à descodificação,
que autocontrola a sua compreensão em cada momento da leitura.
Segundo Fuchs et al. (2001), a velocidade de leitura de textos é uma
medida mais adequada da fluência de leitura oral do que a velocidade de
leitura de listas de palavras. Reportam ainda ter encontrado que a fluência de
leitura de textos explica uma parte substancial da variância obtida numa prova
de compreensão da leitura (42%) enquanto a fluência de leitura de listas de
palavras, isoladamente, contribui pouco para esta explicação (1%), se bem que
as duas variáveis em conjunto contribuem para 70% da explicação da
variância. Considera-se que este resultado expressa claramente a necessidade
de avaliar a fluência de leitura através da leitura de textos e não apenas da
leitura de listas de palavras isoladas.
Penner-Wilger (2008), considera que os principais indicadores a ter em
conta na leitura são: a correção, a velocidade, a prosódia e a compreensão.
Por correção entende-se a capacidade para descodificar corretamente as
palavras e requer que o participante tenha desenvolvido a consciência
fonológica e seja capaz de identificar a correspondência letra-som. Por
velocidade entende-se a capacidade para ler rapidamente e com pouco
esforço, sílabas e palavras frequentes. A prosódia refere-se a um critério que
estabelece a qualidade da leitura oral. A compreensão refere-se à competência
para simultaneamente ser capaz de descodificar e compreender o texto que se
está a ler.
Citoler (1996), citado em Ribeiro (2005), acrescenta que, “embora a
compreensão de um texto dependa também de muitos outros componentes e
factores (sintáticos, semânticos, motivacionais e o conhecimento prévio), o
reconhecimento fluído das palavras é um requisito sine qua non para o
desenvolvimento da leitura”(p.70).
Sim-Sim & Viana (2007), publicaram um estudo que analisa os vários
instrumentos disponíveis para avaliar a leitura em Portugal. Neste documento
defende-se que a fluência de leitura assume maior relevância a partir do
segundo ano de escolaridade.
37
Para Carvalho (2011), “ a fluência retrata o ritmo que a criança consegue
ter na leitura em voz alta de um texto e pode ser medida em termos de número
de palavras lidas num minuto” (p.72).
Carvalho (2011), salienta contudo que:
“A fluência não tem só a ver com a velocidade: ler depressa não
é obrigatoriamente ler bem. Outros fatores têm de ser tidos em
conta, como a exatidão da leitura (precisão), a taxa de leitura (ou
número de palavras lidas num dado período de tempo) e a
prosódia.
A fluência é determinante na compreensão da mensagem.
Muitas crianças descodificam bem mas leem com pouca
fluência, não fazendo um reconhecimento automático das
palavras. Estas crianças tendem a despender muita energia
mental
na
procura
da
entoação
certa
das
palavras
desconhecidas, que faz falta para o processo de apreender o
sentido global do texto” (pp.158,159).
1.5.2. Correção
Segundo Carvalho (2011), a competência de correção é uma
componente que mede a exatidão da leitura realizada em voz alta por uma
criança, de um determinado texto, e é traduzida na percentagem de palavras
corretamente lidas. O número de erros dado pela criança depende das
competências fonológicas de descodificação (processo de reconhecimento das
palavras escritas) associadas à aquisição do princípio alfabético. É possível
descodificar sem compreender, mas o inverso já não o é.
Nas fases de iniciação do processo da aprendizagem da leitura a
correção é a competência mais treinada e é ela que vai aumentar o
automatismo da leitura.
38
Para ler sem dar erros é necessário aprender a discriminar e a identificar
as letras. Caso se manifestem problemas ou erros na seleção da pronúncia
correta de um dado grafema ou conjunto destes, aqueles irão repercutir-se
negativamente na leitura, aumentando o número de erros.
Segundo Casas (1988), os tipos de erros mais frequentes ao nível da
descodificação são quatro. Os primeiros, erros na leitura de letras, que se
apresentam como erros de substituição, de inversão, de rotação, de omissão e
de adição. Os restantes designam-se por erros na leitura de sílabas e palavras,
leitura lenta, vacilações e repetições.
1.5.3. Compreensão
Nos primeiros estádios de aprendizagem da leitura a velocidade é
necessariamente muito reduzida, uma vez que o processo de domínio do
reconhecimento das palavras isoladas é obviamente lento. Quando a leitura
evolui, a velocidade de leitura aumenta. Um leitor fluente apresenta-se como
autónomo perante um texto e autocontrola a sua própria compreensão.
Carvalho (2011), refere que a compreensão das frases e do texto, num
leitor experiente, ocorre sem esforço e de forma automática. Tal capacidade
permite reconhecer cerca de quatro a cinco palavras por segundo. Numa
situação natural de leitura, em que a palavra está inserida no meio de outras
com as quais se estabelecem relações sintáticas e semânticas, é fundamental
que o leitor faça um tratamento simultâneo de informações distintas que não
estão presentes quando se trata de identificar palavras isoladas.
Sprenger-Charolles, Colé & Serniclaes (2006), mostraram que o
contexto em que a palavra está inserida influencia a velocidade do seu
reconhecimento, sugerindo que o reconhecimento das palavras escritas
constitui um processo relativamente autónomo relativamente ao implicado na
compreensão de frases ou textos.
Um dos traços mais relevantes das concepções de leitura prende-se
com o objetivo principal da leitura, que é a obtenção de significado. É este um
dos marcos atuais da concepção da leitura: o reconhecimento pela
39
compreensão, em detrimento das perspetivas que reduziam a leitura a uma
atividade instrumental, isto é, unicamente de decifração letra-som. Assim o ato
de ler envolve um processo holístico e outro analítico.
O conceito de compreensão de leitura vai desde a receção de
informação, associada aos modelos ascendentes, até à construção de um novo
conhecimento com base em conhecimentos prévios, associada aos modelos
descendentes e interativos.
A compreensão de leitura por si mesma integra estratégias cognitivas
específicas que visam impulsionar o conhecimento prévio do tema a ler,
retardar o conteúdo com base no conhecimento prévio, sequenciar e
questionar-se acerca da informação nova, resumi-la e construir uma
representação mental do que foi lido.
Carvalho (2011), refere que a identificação das palavras e a
compreensão estão relacionadas por um duplo mecanismo. Assim, quanto
mais autónomo é o processo de acesso ao léxico, mais recursos cognitivos
podem ser canalizados para a compreensão de textos e quanto mais rápida e
concisa for a leitura mais fidedignidade emerge na compreensão.
Segundo Sim-Sim (2006), a criança começa por adquirir e desenvolver a
linguagem oral, assim como a familiaridade e vivências de manipulação com
materiais impressos. Depois, inicia a aprendizagem formal da decifração com a
integração no primeiro ciclo do ensino básico. Por fim, a leitura converte-se
num meio para a fazer chegar à informação.
Existem diferentes taxonomias de compreensão de leitura. Todas as
taxonomias
conjeturam
nomeadamente:
três
compreensão
categorias
de
da
compreensão
informação
de
textualmente
leitura,
explícita,
compreensão de informação implícita e a atribuição de um significado
personalizado à mensagem.
Importa referir também a existência de teorias de compreensão de
leitura. Estas também convergem no que se refere à essência dos processos
considerados. Alba e Asher (1983), citado em Sim-Sim (2006), analisam as
diferentes teorias, encontrando em todas elas quatro processos de codificação:
40
i) seleção de informação; ii) armazenamento do significado da mensagem; iii)
interpretação e iv) integração, isto é, elaboração de uma representação
realizada a partir dos produtos e operações anteriores.
O modelo de desenvolvimento da compreensão leitora defendido por
Perfetti et al (2007), citados, por Carvalho (2011), partiu de cinco pressupostos
que referem que a compreensão cresce simultaneamente com a experiência de
vida do indivíduo e com a aquisição de conhecimentos, sendo:
1 - “A habilidade geral na compreensão leitora aumenta com a
experiência de leitura e com algumas outras competências,
nomeadamente com a experiência na linguagem falada;
2 - A compreensão da leitura e compreensão da linguagem falada
estão relacionadas ao longo do desenvolvimento. A sua relação é
recíproca,
verificando-se
que
a
experiência
numa
afeta
potencialmente o desenvolvimento da outra, apesar de poderem
ocorrer assimetrias substanciais entre ambas;
3 - A capacidade de identificação das palavras limita a proximidade
entre a compreensão leitora e a compreensão da linguagem falada.
Este é um aspeto que afeta especialmente de forma precoce a
compreensão no desenvolvimento da aquisição da leitura;
4 - O conhecimento do significado das palavras é central para a
compreensão. Este conhecimento deriva de múltiplas fontes,
incluindo a compreensão escrita e falada, e cresce indefinidamente;
5 - Altos níveis de compreensão exigem que o leitor aplique um alto
nível de coerência na sua compreensão de texto (o que por vezes
está dependente de fatores como sejam a atenção, a intervenção de
distratores e a motivação para a leitura) ” (pp.75,76);
41
O PNEP (Plano Nacional de Ensino do Português) contribuiu,
decididamente, para a atualização dos professores com vista à introdução de
novas práticas no ensino da Língua Portuguesa e, consequentemente, no
desenvolvimento das competências de leitura, através do ensino explícito da
compreensão.
1.6.
Síntese da Revisão da Literatura:
1 - A abordagem da aprendizagem da leitura foi sofrendo modificações,
ao longo do tempo. Durante décadas a atividade da leitura estava relacionada
apenas com processos de natureza perceptiva, relativos à análise auditiva e
visual. Com o passar do tempo, os processos envolvidos na leitura, os
conhecimentos sobre os leitores, bem como as estratégias utilizadas pelos
mesmos, assumiram cada vez mais importância. A aquisição da competência
da leitura condiciona toda a aprendizagem futura do individuo.
2 - Não existe uma teoria compreensiva sobre a aquisição da leitura que
integre
coerentemente
as
várias
dimensões
psicológicas,
sociais
e
pedagógicas investigadas ao longo das últimas décadas. No entanto a
perspetiva sociocultural da aprendizagem da leitura integra oito processos (o
cultural, o social, o conceptual, o precoce e contínuo, o ativo e participativo, o
contextualizado e significativo, o funcional e o afetivo), considerados como
agentes ativos na aquisição da leitura.
3 - No que diz respeito à aquisição da leitura e aos seus processos,
existem diferentes modelos de leitura que exprimem diferentes concepções do
ato de ler. São apresentados três modelos de leitura. O modelo de
processamento ascendente que privilegia a descodificação, através do método
fónico, promovendo a via fonológica, através da aprendizagem e associação
grafema fonema. O modelo de processamento descendente defende que a
leitura acontece naturalmente. O MLG está inserido neste modelo. Este método
42
destaca a compreensão, como componente fundamental da leitura. O modelo
interativo é um misto dos dois modelos anteriormente descritos, dando relevo à
descodificação e à compreensão. O MLJD enquadra-se neste modelo.
4 - A competência da leitura não se desenvolve naturalmente. É
necessário o recurso a um método de ensino, que organiza e sistematiza o
ensino. Na prática, todos os métodos apresentam vantagens e desvantagens.
5 - Das três competências da leitura analisadas (fluência, correção e
compreensão) destaca-se o papel da fluência como competência que favorece
uma leitura mais correta e consequentemente uma melhor compreensão.
Durante o processo da aprendizagem da leitura a correção é a
competência mais treinada e é ela que vai aumentar o automatismo da leitura.
Para um leitor fluente, a compreensão de frases e de textos, ocorre sem
esforço e de forma automática.
43
1.7.
Hipóteses do Estudo
Na
sequência
da
revisão
pretende-se
agora
verificar
se
o
desenvolvimento da leitura ao nível da fluência, correção e compreensão, em
crianças do 1º ano de escolaridade, varia em função do método de leitura.
Para atingir o objetivo proposto para esta investigação, determinámos as
seguintes hipóteses:
Hipótese 1
Há um efeito diferencial do método de leitura no desenvolvimento da
competência da leitura fluente.
Hipótese 2
Há um efeito diferencial do método de leitura no desenvolvimento da correção
da mesma.
Hipótese 3
Há um efeito diferencial do método de leitura no desenvolvimento da
competência de compreensão.
44
CAPÍTULO II
METODOLOGIA
De seguida, será descrita a metodologia utilizada neste estudo, no que
respeita à caracterização dos participantes, design do estudo, material utilizado
na recolha de dados e os procedimentos realizados, em cada uma das etapas.
2.1. Participantes
Os participantes desta investigação são oitenta e duas crianças, de seis
anos de idade a frequentarem o primeiro ano de escolaridade do primeiro ciclo,
provenientes de dois grupos.
O primeiro, é formado por trinta e cinco crianças que integravam a
mesma escola pública do 1º ciclo, no concelho de Torres Vedras. Estas fazem
parte de duas turmas distintas do primeiro ano de escolaridade, dezanove da
turma A e dezasseis da turma B.
O segundo grupo, são quarenta e cinco crianças que frequentam o
ensino particular e cooperativo, em dois Jardins-Escolas de uma Instituição
Particular de Solidariedade Social (IPSS), pertencentes à mesma Associação,
uma no concelho de Torres Vedras e outra no concelho de Alcobaça. A turma
de Torres Vedras tem vinte e cinco crianças e a de Alcobaça tem vinte e duas
crianças.
Deste modo, os participantes integravam quatro turmas distintas e o
género encontrava-se distribuído da seguinte forma, como indica a tabela 2.1.
Tabela 2.1: Distribuição por local, tipologia institucional e género dos
participantes
45
Género Masculino
Género Feminino
IPSS - Torres Vedras
13
12
IPSS - Alcobaça
9
13
Escola Pública – Torres Vedras
9
10
Escola Pública – Torres Vedras
11
5
42
40
TOTAL
Verifica-se uma homogeneidade no total, uma vez que frequentam
quarenta e dois rapazes e quarenta raparigas, nas quatro turmas.
2.2. Design e Variáveis do Estudo
O presente trabalho tem características de um estudo transversal e
quantitativo. Este estudo foi realizado recorrendo à Análise Exploratória de
Dados (Howell, 2010), como citado em Martins (2011), que reúne um conjunto
de procedimentos que permitem decidir com segurança a que tipo de teste
estatístico – paramétrico ou não-paramétrico – devemos recorrer para testar as
hipóteses de investigação.
As variáveis deste estudo são:
1) Variáveis independentes:
Global (MLG)
- Método de Leitura
João de Deus ( MLJD)
2) Variáveis dependentes:
- Fluência da leitura
- Correção
- Compreensão da leitura
46
3) Variáveis de controlo:
- Medidas de Conhecimentos em Estudo do Meio e Matemática.
- Habilitações académicas dos pais
2.3. Procedimentos e Materiais Utilizados
As direções das instituições foram contactadas e foi-lhes apresentado
um pedido de autorização para a realização do presente estudo, explicitando
os objetivos e os procedimentos envolvidos (Anexo A).
As professoras das quatro turmas foram contactadas e realizou-se um
encontro informal com cada docente, para explicar os objetivos gerais do
estudo, os procedimentos envolvidos e foi-lhes pedido que fizessem chegar
aos encarregados de educação das crianças, uma carta explicitando os
objetivos gerais da investigação e quais os procedimentos implicados.
Foi garantido o anonimato e a confidencialidade de todas as
informações. Foi solicitado aos pais e encarregados de educação o
preenchimento de um documento de consentimento informado referente à
autorização da realização do estudo com os seus filhos (Anexo B).
Foram calendarizados com as respetivas docentes quatro dias, um para
cada turma, para a realização de sessões individuais.
As crianças nas quatro turmas foram avaliadas em função do seu nível
de leitura atual, medido através do teste Neale Analysis of Reading Ability
(Neale, 1976), adaptado por Rosa (1989), em estudo realizado com crianças
portuguesas.
O teste mede a fluência, a correção e a compreensão leitora. Este teste
é organizado por três textos com dificuldade crescente ao nível do vocabulário,
o texto I (Anexo C),é composto por vinte e seis palavras, o texto II (Anexo D),
por cinquenta e uma palavras e por último, o texto III (Anexo E), por setenta e
cinco palavras.
47
Os três textos fazem-se acompanhar de uma ilustração alusiva à
história.
Para cada texto foi criada uma grelha de registo, preenchida pela
investigadora, onde se assinalam as diferentes tipologias dos erros (pronúncia,
substituição, recusa, adição, omissão e inversão) e ainda o tempo de leitura, os
scores de fluência e de compreensão (Anexo F, G e H).
Entende-se por erros de pronúncia, as palavras mal pronunciadas ou
acentuadas incorretamente (estas devem ser anotadas foneticamente na
grelha de registo). Erros de substituição, correspondem às palavras reais
usadas em lugar da palavra presente na narrativa. Erros de recusa, são
aqueles em que a criança pára por não ser capaz de ler, ou que manifeste a
sua recusa dizendo que não quer ler. Erros de adição, dizem respeito às
palavras que a criança introduz ao texto durante a sua leitura. Erros de
omissão, dizem respeito às palavras que a criança omite durante a leitura do
texto. Erros de inversão, são aqueles em que a criança troca a ordem de
sílabas ou de palavras.
Todos os alunos iniciavam a leitura no texto I, de menor dificuldade.
Quando o nível de correção mínima era atingido passava ao texto seguinte.
Caso a criança no decorrer da sua leitura desse dezasseis ou mais erros num
determinado texto não avançava para o texto seguinte.
O tempo de leitura foi registado para que depois se pudesse calcular a
fluência (o número de palavras que compõe cada texto, era multiplicado por
sessenta segundos e dividido pelo tempo de leitura efetuado pela criança em
segundos).
Para apurar a compreensão, no final da leitura de cada texto foram
colocadas questões relacionadas com o conteúdo do mesmo. No caso de a
criança não responder à questão, o examinador passava para a questão
seguinte sem fornecer a resposta correta à questão anterior. O texto I integra
quatro questões de compreensão, os textos II e III têm o mesmo número de
perguntas, oito.
48
No decorrer da realização das perguntas de compreensão de cada texto,
não foi dado por parte do examinador qualquer feedback, relacionado com a
correção das respostas.
Seguiram-se as instruções referidas no original do teste (Neale Analysis
of Reading Ability, Neale, 1976).
No dia em que foram agendadas as sessões individuais para aplicação
do teste de leitura, foram também entregues aos professores duas fichas, uma
de Estudo do Meio (Anexo I) e outra da área da Matemática (Anexo J), para
que os alunos as resolvessem individualmente.
2.4. Caracterização Socioeconómica das Famílias
No sentido de apurar possíveis diferenças no desempenho da criança na
leitura, eventualmente explicáveis pelo impacto das habilitações académicas
dos pais, foi realizado um levantamento do nível académico do pai e da mãe de
cada criança.
Relativamente às habilitações literárias de mães e pais procedemos à
sua distribuição por sete níveis distintos: 4º ano, 6º ano, 9º ano, 12º ano,
Bacharelato, Licenciatura e Mestrado/Doutoramento. Na base de dados as
habilitações foram classificadas por ordem crescente, à medida que a
escolaridade
sobe
(Exemplo:
4º
ano
=
1;
6º
ano
=
2,…,
mestrado/doutoramento=7).
49
CAPÍTULO III
RESULTADOS
3.1. Fidedignidade e Enviesamento das Tarefas no Pré-teste
Apenas foi possível apurar a fidedignidade dos itens respeitantes à
variável Compreensão.
Aquela foi calculada tendo em conta as respostas dadas em todos os
itens de compreensão nos três textos. A análise revelou que as respostas
tinham em elevado nível de coerência interna (α =.84).
Como as restantes variáveis dependentes (Fluência e Correção) são
totais, não é necessário calcular os índices de coerência interna.
A tabela 3.1 mostra o enviesamento das variáveis dependentes
(Fluência, Correção e Compreensão).
Tabela 3.1: Enviesamento das variáveis dependentes
Variáveis
Enviesamento
Erro padrão
z
Skewness
Enviesamento
•T1
.504
.266
1.89
**
•T2
.661
.272
2.43
*
•T3
.763
.306
2.49
*
•T1
2.119
.266
7,97
*
•T2
1.428
.266
5,37
*
•T3
1.16
.266
4.36
*
•T1
-.295
.266
-1.11
**
•T2
-.029
-266
-0.11
**
•T3
.854
.267
3.20
*
Fluência da Leitura
Correção
Compreensão
(*) – Distribuição significativamente enviesada, (z> 1.96)
(**) – Distribuição normal (z ≤ 1.96)
50
Na análise de significância das diferenças de médias, serão usados
testes paramétricos (t-test) com variáveis normalmente distribuídas e testes
não-paramétricos
(Mann-Whitney
U)
nas
variáveis
significativamente
enviesadas.
3.2. Análise das Médias (e Desvios-padrão) e Significância das Diferenças
de Médias no Texto I
Passamos a descrever a análise das médias (e desvios-padrão), bem
como a significância das diferenças de médias no Pré-teste e nos Ganhos
(diferença entre o Post-teste e o Pré-teste).
Foi realizado o teste de Mann-Whitney U no sentido de averiguar se as
ordens médias entre os dois grupos (MLG e MLJD) independentes ao nível de
uma variável dependente ordinal diferiam.
A tabela 3.2 mostra as médias e Desvios-padrão que foram obtidos, nos
dois métodos de leitura.
Tabela 3.2: Média (e Desvios-padrão), no texto I
Método Global (N= 35)
Método João de Deus (N= 47)
Fluência
Correção
Compreensão
Fluência
Correção
Compreensão
M
33,54
5,40
2,14
67,15
1,49
2,81
(DP)
(24,91)
(4,63)
(1,09)
(28,28)
(1,73)
(1,23)
Para analisar se as diferenças de médias eram significativas em função
dos métodos, realizámos t-testes para as variáveis normalmente distribuídas
(Fluência e Compreensão) e Mann-Whitney U para as que apresentavam uma
distribuição enviesada (Correção).
51
A tabela seguinte, sintetiza os resultados que foram encontrados.
Fluência
t (80) = -5,60, p <.001
Correção
Z = -5,08, p <.001
Compreensão
t (80) = -2,55, p <.01
A análise efetuada permite concluir que há sempre uma significativa
superioridade das crianças que aprendem a ler pelo MLJD quando comparadas
com as que aprendem através do MLG.
3.3. Análise das Médias (e Desvios-padrão) e Significância das Diferenças
de Médias no Texto II
A tabela 3.3 mostra as médias (e Desvios-padrão) que foram obtidas,
nos dois métodos de leitura.
Tabela 3.3: Média (e Desvios-padrão), no texto II
MLG (N= 31)
MLJD (N= 47)
Fluência
Correção
Compreensão
Fluência
Correção
Compreensão
M
27,64
11,83
2,97
51,55
3,81
4,53
(DP)
(22,05)
(10,23)
(2,75)
(21,35)
(4,25)
(2,25)
Para analisar se as diferenças de médias eram significativas em função
dos métodos, realizámos t-testes para as variáveis normalmente distribuídas
(Compreensão) e Mann-Whitney U para as que apresentavam uma distribuição
enviesada (Fluência e Correção).
A tabela seguinte, sintetiza os resultados que foram encontrados.
Fluência
Z = -4,85, p <.001
Correção
Z = -3,43, p <.001
Compreensão
t (80) = -2,82, p = .006
52
A análise efetuada permite concluir que há sempre uma significativa
superioridade das crianças que aprendem a ler pelo MLJD quando comparadas
com as que aprendem através do MLG.
3.4. Análise das Médias (e Desvios-padrão) e Significância das Diferenças
de Médias no Texto III
A tabela 3.4 mostra as médias (e Desvios-padrão) que foram obtidas,
nos dois métodos de leitura.
Tabela 3.4: Média (e Desvios-padrão), no texto III
MLG (N= 31)
MLJD (N= 47)
Fluência
Correção
Compreensão
Fluência
Correção
Compreensão
M
27,63
6,26
.59
39,40
7,06
1,49
(DP)
(14,88)
(8,69)
(1,16)
(14,61)
(5,73)
(1,32)
Para analisar se as diferenças de médias eram significativas em função
dos métodos realizámos Mann-Whitney U dado que todas as variáveis
manifestaram uma distribuição enviesada.
A tabela seguinte, sintetiza os resultados que foram encontrados.
Fluência
Z = -3,22, p =.001
Correção
Z = -2,0, p <.05
Compreensão
Z = -3,42, p =.001
A análise efetuada permite concluir que há sempre uma significativa
superioridade das crianças que aprendem a ler pelo MLJD quando comparadas
com as que aprendem através do MLG.
53
3.5. Análise da significância das diferenças de médias em Fluência,
Correção e Compreensão, controlando eventuais diferenças de partida
em Estudo do Meio e Matemática.
Para analisar se as diferenças anteriormente encontradas ainda se
mantinham significativas após controlar a variância explicada pelas variáveis de
controlo – Medidas de Conhecimentos em Estudo do Meio e Matemática,
realizaram-se ANCOVAS em que as variáveis dependentes eram Fluência (TI;
TII; TIII), Correção (TI; TII; TIII) e a Compreensão (TI; TII; TIII), a variável
dependente o Método de Leitura e as covariantes, Medidas de Conhecimentos
em Estudo do Meio e Matemática.
Desta forma exclui-se a possibilidade de quaisquer diferenças
encontradas se deverem apenas a diferenças de conhecimentos no nível de
partida.
A análise revelou que:
- Nenhuma variância era explicada por eventuais diferenças de partida
em Estudo do Meio.
- As diferenças de partida em Matemática, explicaram uma parte
significativa da variância em todas as análises, à exceção da Correção no TIII e
da Compreensão no TI.
- Após controlar a variância explicada pela Matemática verificou-se então
que:
3.5.1. Fluência
• A variância explicada pelo método era ainda sempre significativa nas
três medidas da Fluência [Texto I (F (1,57)) = 8,39, p =.005; Texto II (F (1,57)) =
7,52, p =.008; Texto III (F (1,57)) = 8,98, p =.004)], mesmo após excluir a
variância explicada por diferenças à partida, em conhecimentos de Matemática.
54
Em conclusão, as diferenças significativas encontradas para o MLJD,
não podem ser atribuídas a diferenças de partida nos conhecimentos gerais,
medidos através das provas de Estudo do Meio e de Matemática.
3.5.2. Correção
• A variância explicada pelo método de leitura era significativa para a
correção nos textos I e II, mas não no texto III [Texto I (F (1,78) = 21,91, p
<.001; Texto II (F (1,78) = 15,23, p <.001; Texto III (F (1,78) =.231, p =.632)].
Em conclusão as diferenças significativas encontradas para o MLJD não
dependem do nível de partida em Matemática, nos textos I e II, mas tal não
acontece no texto III.
Dito de outro modo, os leitores que apresentam o nível mais elevado de
correção não são diferentes em função do método.
3.5.3. Compreensão
• A variância explicada pelo método era significativa nas três medidas de
Compreensão [Texto I (F (1,77) = 4,55, p =.04; Texto II (F (1,77) = 4,20, p =.04;
Texto III (F (1,77) =7,84, p =.006)], mesmo após controlar estatisticamente
eventuais diferenças em conhecimentos de Estudo do Meio e Matemática.
Em conclusão, as diferenças significativas encontradas para o MLJD não
podem ser atribuídas a diferenças de partida nos conhecimentos escolares
gerais de Estudo do Meio e Matemática.
55
3.6. Análise da Frequência e Percentagem do Nível de Escolaridade e
Profissões dos Pais das crianças
3.6.1. Frequência e Percentagem do Nível de Escolaridade das Mães
Tabela 3.6.1. – Frequência e Percentagem do Nível de Escolaridade das Mães
Método de
Leitura Global
Método de
Leitura João de
Deus
Habilitações das Mães
Frequência
Percentagem
Desconhecida
4º Ano
9º Ano
12º Ano
Bacharelato
Licenciatura
Mestrado/Doutoramento
6º Ano
9º Ano
12º Ano
Bacharelato
Licenciatura
Mestrado/Doutoramento
1
1
5
12
1
15
1
4
6
19
3
14
1
2.9%
2.9%
14.3%
34.3%
2.9%
42.9%
2.9%
8.5%
12.8%
40.4%
6.4%
29.8%
2.1%
Pela análise da tabela referente ao MLG pode verificar-se que em maior
número se encontram as mães com Licenciatura, a seguir predominam as
mães com o 12º ano de escolaridade. Assim, um grande número das mães das
crianças que aprendem a ler pelo MLG possui habilitações académicas de nível
superior.
Quanto ao MLJD pode verificar-se que em maior número se encontram
as mães com o 12º ano de escolaridade e a seguir predominam as mães com
Licenciatura. Assim, a maioria das mães das crianças que aprendem a ler pelo
MLJD possui o 12º ano de escolaridade.
56
3.6.2. Frequência e Percentagem do Nível de Escolaridade dos Pais
Tabela 3.6.2. – Frequência e Percentagem do Nível de Escolaridade dos Pais
Método de
Leitura Global
Método de
Leitura João de
Deus
Habilitações dos Pais
Frequência
Percentagem
Desconhecida
4º Ano
6º Ano
9º Ano
12º Ano
Licenciatura
Mestrado/Doutoramento
4º Ano
6º Ano
9º Ano
12º Ano
Bacharelato
Licenciatura
2
1
2
7
12
10
1
4
3
14
10
1
15
5.7%
2.9%
5.7%
20.0%
34.3%
28.6%
2.9%
8.5%
6.4%
29.8%
21.3%
2.1%
31.9%
Pela análise do Quadro referente ao MLG pode verificar-se que em
maior número se encontram os pais como 12º ano de escolaridade e a seguir
predominam os pais com Licenciatura.
Quanto ao MLJD pode verificar-se que em maior número se encontram
os pais com Licenciatura e a seguir predominam os pais como 9º ano de
escolaridade.
Usando os procedimentos anteriormente descritos calculou-se o índice
médio de escolaridade das mães e dos pais, nos dois métodos. É o que
apresentamos na tabela seguinte.
Tabela 3.6.3. – Índice médio e (desvio-padrão) da escolaridade das mães e
dos pais, em função dos métodos de leitura.
Método de Leitura Global (N= 35)
Habilitações
Habilitações
Académicas da Mãe Académicas do Pai
Método de Leitura João de Deus (N= 47)
Habilitações
Habilitações
Académicas da Mãe Académicas do Pai
M
4.71
4.03
4.43
3.98
(DP)
(1.47)
(1.76)
(1.33)
(1.64)
57
A tabela 3.6.3. sugere que não há diferenças no nível de habilitações
literárias das mães e dos pais, em função dos métodos de leitura usados na
aprendizagem dos seus filhos.
Para verificarmos se as diferenças eram significativas realizámos um tteste para grupos independentes.
Os resultados confirmaram que não havia diferenças significativas nem
nas habilitações da mãe (t (80) =.93, p=.36) nem nas dos pais (t (80) = .13,
p=.90), nos dois métodos.
Em conclusão, não se poderão justificar as diferenças significativas
anteriormente encontradas por impactos diferenciais das habilitações dos pais.
3.7. Síntese de Resultados
1 – As crianças do primeiro ano de escolaridade que aprendem com o
MLJD obtêm scores significativamente superiores em Fluência, Correção e
Compreensão da leitura quando comparadas com crianças que aprendem
segundo o MLG.
2 – Estas diferenças são independentes quer do nível de conhecimentos
escolares gerais em Estudo do Meio e Matemática quer das habilitações dos
pais.
3 – Apenas os melhores leitores nos dois métodos, que tinham um nível
elevado de Correção, não apresentavam diferenças significativas nesta última
variável, depois de se controlar o efeito de eventuais diferenças de
conhecimentos escolares gerais (Estudo do Meio e Matemática).
58
CAPÍTULO IV
CONCLUSÕES E DISCUSSÃO
4.1. Conclusões e discussão
Com base nos resultados obtidos para cada uma das hipóteses, vamos
apresentar as conclusões e contribuir para a sua discussão.
Começámos por estudar se havia um efeito diferencial do método de
leitura no desenvolvimento da competência da leitura fluente.
Tal como se evidenciou nos resultados, as crianças que aprenderam a
ler segundo o MLJD obtiveram resultados significativamente superiores.
Importa, por isso, procurar explicar a razão desta superioridade.
Para Santos & Navas (2002), a aprendizagem da leitura requer um
ensino formal mesmo tratando-se de crianças inteligentes e saudáveis. Esta
aprendizagem pode seguir diferentes métodos de ensino, baseados em
distintos modelos teóricos de ensino da leitura.
O MLJD é aplicado a crianças a partir dos cinco anos de idade de uma
forma formal, dando-lhes mais tempo na aquisição da competência da leitura.
Os alunos que aprenderam a ler pelo MLJD, na altura em que os dados
foram recolhidos, já contavam com um ano e meio de aprendizagem da leitura,
uma vez que a iniciaram aos cinco anos de idade.
O grupo de alunos que aprendeu a ler através do MLG beneficiava
apenas de sete meses de aprendizagem da leitura. Esta diferença no tempo de
iniciação da aprendizagem da leitura e da escrita, pode ter influenciado o
resultado obtido.
O nível de leitura fluente que corresponde à terceira fase, designada de
fase de automatização (Silva, 2003) requer a prática contínua até ao domínio
da tarefa sem esforço consciente (Viana & Teixeira, 2002).
Atualmente verifica-se uma preocupação com o domínio da componente
da leitura fluência, uma vez que Buesco et al. (2012), referem nas metas
59
curriculares para o primeiro ciclo, o objetivo de “ler em voz alta palavras,
pseudo-palavras e textos”. Este objetivo enumera diferentes indicadores para
cada ano de escolaridade. No entanto, importa-nos salientar os mais
significativos para o desenvolvimento da fluência leitora: “ler um texto com
articulação e entoação razoavelmente corretas e uma velocidade de leitura de,
no mínimo, 55 palavras por minuto” (p.10). No segundo ano, “ler um texto com
articulação e entoação razoavelmente corretas e uma velocidade de leitura de,
no mínimo, 90 palavras por minuto”(p.16). No terceiro ano, “ler um texto com
articulação e entoação corretas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 110
palavras por minuto”(p.23). No quarto ano “ler um texto com articulação e
entoação corretas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 125 palavras por
minuto”(p.31).
Dados os valores encontrados no presente estudo, colocamos a questão
de saber se estas metas são realistas. Por outro lado, a velocidade de leitura
depende de muitos fatores, de entre os quais a complexidade do texto.
Seguidamente analisámos se havia um efeito diferencial do método de
leitura no desenvolvimento da correção da mesma.
De forma semelhante, encontrou-se uma diferença significativa na
correção para as crianças que aprenderam a ler através do MLJD.
Para a leitura ser eficaz é necessário que se comece por uma fase
visual, seguida de uma fase alfabética, na qual os processos fonológicos são
essenciais para o sucesso da leitura, terminando na fase ortográfica.
O MLJD privilegia todas estas fases e acima de tudo respeita o ritmo de
cada criança. Com isto, a criança só aprenderá a letra seguinte, quando a
anterior está sistematizada.
Também em relação a esta componente da leitura, a correção, a
sistematização da leitura (treino), é um fator preponderante no automatismo da
mesma. Assim o grupo de alunos que aprende a ler através do MLJD
apresenta mais treino e sistematização do que o grupo de alunos que aprende
a ler através do MLG.
60
Finalmente, procurámos perceber se havia um efeito diferencial do
método de leitura no desenvolvimento da competência de compreensão.
Também aqui, as crianças que aprenderam segundo o MLJD mostraram
resultados significativamente superiores.
O MLJD acentua o aspeto da compreensão, salienta as funções da
memória, da atenção e do processamento mental da informação durante a
leitura. As palavras lidas pelas crianças, ativam esquemas da sua memória que
a auxiliam na compreensão do seu significado. Desta forma a criança
consegue fazer a integração das palavras lidas em contextos do mundo real.
Morais (1997), sugere que “o leitor hábil identifica as palavras na base
de representações ortográficas e representações fonológicas“ (p. 188). O
reconhecimento das palavras é, então, o motor que comanda o processo da
leitura. Os resultados da investigação confirmam uma relação entre a fluência,
no reconhecimento das palavras e a compreensão de leitura.
Estanqueiro (1990), Goodman (1987) e Santos (2000) estabelecem uma
associação significativa entre a velocidade leitora e a compreensão. A
velocidade de leitura é considerada como um dos factores que favorece a
captação da mensagem. A este propósito, Goodman (1987) afirma que "a
leitura veloz está associada com alta compreensão, em parte porque, sendo
mais céleres, os leitores não se distraem com as informações irrelevantes do
texto" (p. 19).
Carvalho (2011), refere investigações realizadas por Lesgold, Resnick &
Hammond (1985) que mostraram que a rapidez com que os alunos do primeiro
ano do ensino básico identificavam palavras, permitia prever o nível de
compreensão das frases no terceiro ano de escolaridade.
Assim, hipotetiza-se que, a significativa melhoria da compreensão das
crianças que aprenderam a ler segundo o MLJD, pode estar relacionada com a
grande diferença já evidenciada na fluência.
61
4.2. Limitações e Sugestões para estudos futuros
Com
base
nos
resultados
obtidos
consideramos
interessante
estabelecer futuras linhas de investigação com as quais podemos dar
continuidade ao presente estudo. Assim, interessaria verificar, em que medida
é que no final do primeiro ciclo do ensino básico, as diferenças verificadas no
primeiro ano de escolaridade (ao nível da fluência, correção e compreensão)
seriam ainda suscetíveis de ser encontradas.
Seria também relevante estudar, como evolui a leitura e a escrita, em
função de diferentes métodos de aprendizagem da leitura, alguns não
abordados neste estudo.
4.3. Recomendações finais
Como docente do primeiro ciclo licenciada na Escola Superior de
Educação João de Deus e a lecionar num Jardim-Escola João de Deus há mais
de uma década, o método de leitura que utilizo limita-se ao MLJD. Tanto a
minha formação superior, como a minha experiência profissional convergem na
prática à utilização do MLJD.
Este método foi criado por João de Deus, considerado um dos maiores
poetas portugueses de sentimentos filantrópicos e que também se notabilizou
como pedagogo, pois foi ele que criou a Cartilha Maternal de João de Deus e
instituiu o MLJD no nosso país. Dada a relevância da sua obra defendo que
esta deveria ser conhecida, valorizada e aprendida na formação inicial de
professores.
Independentemente
das
ideologias
pedagógicas
seguidas
pelas
diferentes instituições superiores de educação no nosso país, seria
enriquecedor que todas contemplassem nos seus currículos, o estudo aberto
dos diferentes métodos de leitura existentes.
62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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and memory codes in beginning readers. Memory and Cognition, 10, 451-456.
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L. Rieben & C. Perfetti (eds.), L’apprento lecteur. Recherches empiriques et
implications pédagógiqies Neuchâtel – Paris: Delachaux et Niestlé.
• Alves, C. (2003). A expansão do método da Cartilha Maternal João de Deus
em Portugal. Minho: Universidade do Minho. Instituto de Educação e
Psicologia.
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ISPA.
• Alves-Martins, M. & Niza, I. (1998). Psicologia de aprendizagem da linguagem
escrita. Lisboa: Universidade Aberta.
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aprendizagem da leitura em duas turmas do 1º ano de escolaridade com
métodos de ensino diferentes. Análise Psicológica I (XXI),pp.193-212.
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• Borges, T. M. (1998). Ensinando a ler sem silabar. Campinas: Papirus Editora.
• Buesco, H. C., Morais, J., Rocha, M. R. & Magalhães, V.F.(2012). Metas
Curriculares de Português. Ensino Básico 1º, 2º e 3º ciclos. Lisboa.
• Campagnolo, H. (1979). João de Deus – Pedagogo Moderno. Lisboa: Museu
João de Deus.
63
• Cardoso-Martins, C. (1991). A sensibilidade fonológica e a aprendizagem
inicial da leitura e da escrita. Cadernos de Pesquisa, 76, 41-49.
• Carlos, L. M. L. (1993). Método João de Deus e Método Analítico-Sintéctico
na Perspectiva do Insucesso Escolar. Estudo Comparativo. Lisboa. Escola
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• Carvalho, A. (1990). La pédagogie de João de Deus Ramos (1878/1953).
Lisboa: Museu João de Deus.
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70
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo A – Carta à Direção da Instituição
Anexo B – Carta aos Pais das Crianças
Anexo C – Texto I
Anexo D – Texto II
Anexo E – Texto III
Anexo F – Grelha de Registo (Texto I)
Anexo G – Grelha de Registo (Texto II)
Anexo H – Grelha de Registo ( Texto II)
Anexo I – Ficha de Estudo do Meio
Anexo J – Ficha de Matemática
SIGLAS
MLG – Método de Leitura Global
MLJD – Método de Leitura João de Deus
71
Anexo A
Exma. Senhora Diretora ………….
Do Agrupamento de Escolas ……………
Assunto: Pedido de autorização de trabalho de investigação no âmbito do Mestrado
O meu nome é Ana Rute da Silva Morais e exerço funções de Professora do 1º ciclo
no Jardim-Escola João de Deus de Torres Vedras. Encontro-me atualmente a
frequentar o Curso de Mestrado em Multideficiência: problemas graves de cognição,
ministrado pela Escola Superior de Educação de Lisboa.
Na sequência deste curso terei de fazer um trabalho de investigação. O estudo que
pretendo realizar tem como título “O desenvolvimento da leitura em função de
diferentes métodos, em crianças de seis anos”. Este trabalho será orientado pelo
Professor Doutor João Rosa, da Escola Superior de Educação de Lisboa.
Far-se-á uma recolha de dados individual em relação à fluência, correção e
compreensão da leitura, com recurso à leitura de textos simples. As crianças farão
igualmente, na turma duas fichas, uma de matemática e outra de estudo do meio.
A sua aplicação está prevista para os meses de abril e maio de 2012.
Para a realização das tarefas com as crianças apresentarei carta com o pedido de
autorização aos respetivos pais, cujo modelo junto se anexa.
O anonimato das crianças, da escola, das professoras e dos pais será assegurado.
Por este motivo, venho solicitar a V. Ex.a que se digne autorizar a realização deste
Estudo em duas salas de primeiro ano, onde as professoras ………………e
………………o Método lecionam o Método Global para iniciação à leitura.
Caso exista alguma dúvida, poderão contactar comigo pessoalmente, através do
telefone 96 7643483 ou do e-mail [email protected] muito gosto em
conversar convosco, sempre que necessitem de algum esclarecimento sobre a forma
como o estudo é conduzido.
Com os melhores cumprimentos
Torres Vedras, 20 de março de 2012
72
Exma. Senhora Diretora ………………
Do Jardim-Escola ………………….
Assunto: Pedido de autorização de trabalho de investigação no âmbito do Mestrado
O meu nome é Ana Rute da Silva Morais e exerço funções de Professora do 1º ciclo
no Jardim-Escola João de Deus de Torres Vedras. Encontro-me atualmente a
frequentar o Curso de Mestrado em Multideficiência: problemas graves de cognição,
ministrado pela Escola Superior de Educação de Lisboa.
Na sequência deste curso terei de fazer um trabalho de investigação. O estudo que
pretendo realizar tem como título “O desenvolvimento da leitura em função de
diferentes métodos, em crianças de seis anos”. Este trabalho será orientado pelo
Professor Doutor João Rosa, da Escola Superior de Educação de Lisboa.
Far-se-á uma recolha de dados individual em relação à fluência, correção e
compreensão da leitura, com recurso à leitura de textos simples. As crianças farão
igualmente, na turma duas fichas, uma de matemática e outra de estudo do meio.
A sua aplicação está prevista para os meses de abril e maio de 2012.
Para a realização das tarefas com as crianças apresentarei carta com o pedido de
autorização aos respetivos pais, cujo modelo junto se anexa.
O anonimato das crianças, da escola, das professoras e dos pais será assegurado.
Por este motivo, venho solicitar a V. Ex.a que se digne autorizar a realização deste
Estudo na sala do primeiro ano.
Caso exista alguma dúvida, poderão contactar comigo pessoalmente, através do
telefone 96 7643483 ou do e-mail [email protected] muito gosto em
conversar convosco, sempre que necessitem de algum esclarecimento sobre a forma
como o estudo é conduzido.
Com os melhores cumprimentos
Torres Vedras, 20 de março de 2012
73
Anexo B
Exmos. Pais
Assunto: Estudo sobre “O desenvolvimento da leitura em função de diferentes
métodos, em crianças de seis anos”.
O meu nome é Ana Rute da Silva Morais e sou Professora do 1º ciclo no JardimEscola João de Deus de Torres Vedras.
Encontro-me atualmente a frequentar o Curso de Mestrado em Multideficiência:
problemas graves de cognição, ministrado pela Escola Superior de Educação de
Lisboa.
Como requisito deste curso, terei de realizar um trabalho final de investigação. O
estudo a realizar pretende identificar o efeito de diferentes Métodos de Leitura, em
crianças de seis anos de idade. Este trabalho será orientado pelo Professor Doutor
João Rosa da Escola Superior de Educação de Lisboa.
Venho por este meio solicitar a vossa colaboração e pedir-vos autorização para que
o/a vosso/a filho/a possa participar comigo, numa recolha de dados individual em
relação à fluência, correção e compreensão da leitura, com recurso à leitura de textos
simples. As crianças farão igualmente, na turma duas fichas, uma de matemática e
outra de estudo do meio.
A participação do seu educando é voluntária. Os resultados deste estudo não têm
qualquer interferência na avaliação escolar.
Mais acrescento, o anonimato das crianças, da escola, das professoras e dos pais
será assegurado
Caso os pais tenham alguma dúvida, poderão contactar comigo pessoalmente, através
do telefone 96 7643483 ou do e-mail [email protected] muito gosto em
conversar convosco, sempre que necessitem de algum esclarecimento sobre a forma
como o estudo é conduzido.
Certa de que poderei contar com a vossa ajuda e importante participação agradeço
desde já a vossa colaboração.
Com os melhores cumprimentos
A professoraTorres Vedras, 20 de março de 2012
74
Nome do aluno(a)_________________________________________________
Autorizo
Não autorizo
O meu educando a participar no estudo sobre “O desenvolvimento da leitura
em função de diferentes métodos, em crianças de seis anos”
____________________________________
(Assinatura E.E.)
75
Anexo C
Texto I
O pai dá uma caixa grande à Ana.
A Ana coloca a caixa na mesa.
Vê se é uma boneca.
Salta de lá um coelho bonito.
76
Anexo D
Texto II
O João e a Ana estavam a pescar. De repente ouviram um
grande barulho.
Um lenhador tinha caído no lago. Não podia nadar porque
estava ferido.
As crianças tentaram puxá-lo para fora. Era muito pesado.
Então o João segurou-lhe a cabeça fora da água e a Ana correu a
pedir socorro.
77
Anexo E
TextoIII
O boneco articulado olhava para as crianças que estavam a
arranjar o teatro de fantoches. Sentia-se inútil. Era poucas vezes
escolhido para representar porque usava roupa esquisita. As
crianças estavam a combinar a sua nova peça.
- Precisamos de uma pessoa corajosa para os salvamentos
na montanha, explicou o rapaz.
Cada fantoche tentou parecer-se com o herói procurado.
Todos aclamaram a escolha do rapaz. A caminho do palco lá ia o
boneco articulado, tímido mas feliz.
78
Anexo F
Grelha de correção
Texto I
Nome:_________________________________________Data:_____/_____/_______
Palavras
que
compõem
o texto
Tipologia do Erro
Pronúncia
Substituição
Recusa
Adições
Omissões
Inversões
O
pai
dá
uma
caixa
grande
à
Ana.
A
Ana
coloca
a
caixa
na
mesa
Vê
se
é
uma
boneca.
Salta
de
lá
um
coelho
Bonito.
TOTAL
Tempo de leitura:_________________________ Fluência:____________________
79
Compreensão:
Questões
Respostas Obtidas
1 – Quem deu a caixa à Ana?
2 – Onde é que a Ana colocou a caixa?
3 – O que é que ela pensava que estava na caixa?
4 – Qual era a surpresa?
80
Anexo G
Grelha de correção
Texto II
Nome:__________________________________________Data:_____/_____/______
Palavras que
compõem o
texto
Tipologia do Erro
Pronúncia
Substituição
Recusa
Adições
Omissões
Inversões
O
João
e
a
Ana
estavam
a
pescar.
De
repente
ouviram
um
grande
barulho.
Um
lenhador
tinha
caído
no
lago.
Não
podia
nadar
porque
estava
ferido.
As
crianças
tentaram
puxá-lo
para
fora.
Era
muito
pesado.
Então
o
81
João
segurou-lhe
a
cabeça
fora
de
água
e
a
Ana
correu
a
pedir
socorro.
TOTAL
Tempo de leitura:__________________________ Fluência:____________________
Compreensão:
Questões
Respostas Obtidas
1 – O que é que o João e a Ana estavam a fazer no
lago?
2 – O que é que eles ouviram?
3 – O que é que tinha acontecido?
4 – Porque é que o lenhador não podia nadar?
5 – O que é que as crianças tentaram fazer?
6 – Porque é que eles não conseguiram puxá-lo para
fora?
7 – Como é que o João ajudou o homem?
8 – Como é que a Ana ajudou?
82
Anexo H
Grelha de correção
TextoIII
Nome:_________________________________________Data:_____/_____/______
Palavras que
compõem o
texto
Tipologia do Erro
Pronúncia
Substituição
Recusa
Adições
Omissões
Inversões
O
boneco
articulado
olhava
para
as
crianças
que
estavam
a
arranjar
o
teatro
de
fantoches.
Sentia-se
inútil.
Era
poucas
vezes
escolhido
para
representar
porque
usava
roupa
esquisita.
As
crianças
estavam
a
combinar
a
sua
nova
peça.
83
-Precisamos
de
uma
pessoa
corajosa
para
os
salvamentos
na
Montanha,
explicou
o
rapaz.
Cada
fantoche
tentou
parecer-se
com
o
herói
procurado.
Todos
aclamaram
a
escolha
do
rapaz.
A
caminho
do
palco
lá
ia
o
boneco
articulado,
tímido
mas
feliz.
Tempo de leitura:___________________________Fluência:____________________
84
Compreensão:
Questões
Respostas Obtidas
1 – O que é que o boneco articulado estava a ver no
início da história?
2 – Porque se sentia inútil?
3 – Porque não foi escolhido o boneco articulado,
mais vezes, para a peça de teatro?
4 – Que tipo de herói queria o rapaz para a nova
peça?
5 – Que tipo de trabalho teria o herói que fazer na
peça?
6 – Que esperança tinham os fantoches?
7 – Como sabemos que todos estavam contentes
com o herói escolhido?
8 – Como é que o boneco articulado se sentiu
quando foi escolhido?
85
Anexo I
Ficha de Estudo do Meio – 1º Ano
Nome:______________________________________________Data:____/____/2012
1. Assinala com um (x) o teu género.
Feminino
Masculino
2. Ordena com 1, 2, 3.
O que fazes primeiro?
3. Rodeia os objetos.
De que precisamos para lavar os dentes?
4. Risca o que está errado em cada grupo.
4.1 - Deves lavar:
86
4.2 - Deves comer todos os dias:
5.Rodeia os animais que estão virados para o lado esquerdo.
6.Rodeia os seres vivos:
7.Pinta as imagens que mostram atitudes corretas.
8. Numera de 1 a 5 por ordem de crescimento.
9. O nosso corpo divide-se em três partes. Coloca 1,2,3 de forma correta.
87
ANEXO J
Ficha de Matemática – 1º Ano
Nome:______________________________________________Data:____/____/2012
1. Pinta o número de velas que corresponde à tua idade.
2. Assinala com um (x) onde há menos árvores.
3. A Rita tinha 13 balões. Sete deles voaram.
Quantos balões ainda tem?
13
7 =
A Rita ainda tem ____ balões.
4. Rodeia o número menor.
18
14
15
13
12
5. Rodeia o número maior.
9
1
7
11
18
88
6. Escreve os números imediatamente antes e depois.
12
18
7. Coloca um (x) na opção correta:
Em casa tenho 12 livros.
uma dezena
Os meus livros representam
uma dúzia
meia dúzia
8. A Ana tinha 7 flores.
Apanhou mais 6 flores.
Com quantas flores ficou a Ana?
+
=
9. Observa a imagem:
9.1 - Quantas maçãs contas na árvore?____
9.2 – Quantos coelhos vez na imagem?____
10. Observa os números:
20
5
17
8
19
10.1- Coloca-os por ordem crescente:
________________________________________________
10.2- Coloca-os por ordem decrescente:
_________________________________________________
89
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O desenvolvimento da leitura em função de diferentes métodos