Entrevista de André David TINOCO MENDES
No dia 7 de novembro de 2013, tivemos a oportunidade de ir visitar o CERN - o laboratório
europeu para a física das particulas - situado na fronteira franco-suissa.
Encontrá-mo nos lá com o senhor André Tinoco Mendes, físico no CERN à quase 13 anos.
Pudemos colocar-lhes algumas perguntas sobre o seu trabalho, as suas motivações, e também sobre
a importância da cultura portuguesa.
André Tinoco Mendes sempre se interessou pelos mistérios da natureza e
acha que é importante tentarmos sempre procurar mais longe, descobrir
coisas novas sobre o Universo que nos envolve. Veio parar ao CERN por
acaso, no ano 2000, após ter estudado física no Instituto Superior
Técnico em Lisboa.
Ser físico não era propriamente um projeto que ele tinha desde o licéu.
Tinha boas notas, gostava de eletrónica e mecânica entre outras matérias
cientificas, mas decidiu só tirar física no Técnico.
Trabalhou sobre o bosão de Higgs, a partícula descoberta no ano passado
no acelerador de particulas do CERN, o que o entusiasmou muito.
A motivação do físico André Tinoco Mendes, hoje, é o facto de que, como ele diz, "é giro descobrir
de que é que o mundo é feito!"
Um ponto positivo do CERN é, para ele, o seu caráter intercultural. É muito interessante ver como
as culturas diferentes reagem a formas de trabalhar diferentes. Por exemplo, os cientistas alemães
são muito bons a seguirem planos, e fazem-no com uma eficácia extraordinária. Ao inverso, os
portugueses têm melhores resultados ao resolverem problemas um pouco mais abstratos, acabam
sempre por encontrar qualquer coisa...
Como diz Tinoco Mendes, existem bons e maus lados em todas as
culturas, e é um desafio fantástico conseguir a coordenar o trabalho
de todos para obter resultados tão importantes para o progresso da
ciência.
Num plano mais pessoal, André Tinoco Mendes tem consciência de
que é importante cultivar a sua língua materna, mesmo se não a fala
regularmente por haver pouco mais de duas centenas de portugueses
(em cerca de 8000 pessoas) a trabalharem no CERN.
Mesmo assim, o físico acha primordial falar português com os
filhos, passando-lhes essa herança cultural.
"Gostava que as minha crianças conhecessem o oceano", diz-ele, sentindo saudades da luz cor-delaranja do sol a pôr-se no horizonte, da praia, e dos pastéis de Belém.
Gosta de Portugal e tenta lá ir regularmente para matar saudades e "expôr os filhos a Portugal".
Por fim, pedimos a André Tinoco Mendes para passar uma mensagem aos jovens que, como nós,
têm agora de fazer escolhas decisivas a propósito do futuro.
Esta é a sua mensagem, incitando os jovems a estudarem física
fundamental :
Não se deve pensar que todas as questões têm resposta. Quais são os
mistérios da antimatéria? O que é a energia negra que compõe 3/4 do
nosso Universo? "Não faço a menor ideia", admite ele, e isso ainda
está por descobrir.
Para além disso, é preciso pensar na quantidade de processos
tecnológicos que acontecem todos os dias, despoletadas por qualquer
ação básica tal como usar um telemóvel. Os grandes avanços da
ciência são devidos, antes de mais, à física fundamental.
Entervista conduzida por : Maurine Chapuis e Lia Ferreira, com a participação de Richard Brenner
e Sophie Désert.
Texto redigido por Maurine Chapuis e Lia Ferreira.
Desejamos agradecer ao senhor André Tinoco Mendes por ter-nos dado um pouco do seu tempo e
por ter respondido às nossas perguntas.
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