CAPA SUMÁRIO setembro 2006 PRODUÇÃO PerformanceCG Foto Morangos em Água Guto Estúdio 27 08 16 ENTREVISTA 08 EM DEFESA DA FRUTICULTURA 34 Entrevista com Betinho Rosado, presidente da Frente Parlamentar de Fruticultura. FRUTAS FRESCAS 16 SONHO REAL Roraima implanta produção de frutas e quer ser nova referência nacional em cinco anos. PROCESSAMENTO 19 PROCESSAMENTO AGREGA VALOR Diversificação para atrair consumidores é a saída para o crescente mercado de frutas processadas. SEÇÕES 04 editorial 06 espaço do leitor 12 campo de notícias Panorama dos principais acontecimentos do trimestre. 14 no pomar Lançamentos, dicas, normas e leis do setor. 31 tecnologia Processo de desidratação de frutas convive com técnicas elementares e sofisticadas. 36 opinião Carla Salomão analisa o crescente mercado de orgânicos. AGROINDÚSTRIA 27 ESPERANÇA DAS GOIABAS Lançamento do guatchup no mercado interno lança novas oportunidades para a goiabicultura. 37 agenda Acontecimentos do trimestre. 38 especial 3a FLV – Ibraf reúne na mesa de negociação produtores nacionais e compradores internacionais. 41 artigo técnico MEIO AMBIENTE 34 PROTEÇÃO DA MATA Cuidados com a mata ciliar protegem água e polinizadores. Manejo pode controlar fungos que prejudicam exportação da castanha-do-brasil. 44 campo & cultura 45 produtos e serviços 46 fruta na mesa Sabor e aroma de pêssego. editorial DIRETOR PRESIDENTE Moacyr Saraiva Fernandes OPORTUNIDADES À VISTA Frutas em deliciosas combinações – sucos, sobremesas, barras de cereais, passas, desidratadas – agregam valor e abrem tendências no Exterior e no Brasil. A qualquer momento, elas estão presentes na rotina das pessoas graças à tecnologia, que desenvolve processos e equipamentos. O mercado se expande e o produtor deve estar atento às oportunidades oferecidas como no caso do guatchup, agora lançado nacionalmente, que surge como uma nova forma de se comer goiabas. E muitas oportunidades de negócio se concretizam em feiras como a 3a. FLV, quando compradores internacionais participaram de rodadas de negócios e conheceram de perto a qualidade e o potencial da fruticultura nacional em expansão constante. VICE PRESIDENTE Aristeu Chaves Filho TESOUREIRO José Benedito de Barros DIRETORES Carlos Prado (Superintendente Nordeste) Roland Brandes (Superintendente Sul) Etélio de Carvalho Prado, Jean Paul Gayet, Paulo Policarpo Mello Gonçalves, Waldyr S. Promicia. CONSELHEIROS Luiz Borges Jr., André Luiz Grabois Gadelha, Américo Tavares, Carla Castro Salomão, Dirceu Colares, Fernando Brendaglia de Almeida, Francisco Cipriano de Paula Segundo, James C. Bryon, Sylvio Luiz Honório, Washington Dias. COMITÊ TÉCNICO-CIENTÍFICO Antônio Ambrósio Amaro (Presidente) Admilson B. Chitarra, Alberto Carlos de Queiroz Pinto, Aldo Malavasi, Anita Gutierrez, Carlos Ruggiero, Fernando Mendes Pereira, Geraldo Ferreguetti, Heloísa Helena Barreto de Toledo, José Carlos Fachinello, José Fernando Durigan, José Luiz Petri, José Rozalvo Andrigueto, Josivan Barbosa de Menezes, Juliano Aires, Lincoln C. Neves Filho, Luiz Carlos Donadio, Osvaldo Kiyoshi Yamanishi, Rose Mary Pio, Tales Wanderley Vital. As fronteiras da fruticultura se ampliam e vão encontrar em Boa Vista, capital do estado de Roraima, ambiente propício para a implantação de um novo pólo fruticultor, de forma semelhante ao Vale do São Francisco. Frutas como uva, manga e maracujá, além das locais, como açaí e bacaba, poderão chegar com mais facilidade à mesa do consumidor da região Norte, que tem difícil acesso a elas em virtude da distância das demais áreas produtivas. As frutas roraimenses miram também o mercado de países próximos, como Caribe e Venezuela. COMITÊ DE MARKETING Jean Paul Gayet (Presidente) Paulo Policarpo Mendes Gonçalves, Pedro Carvalho Burnier, Waldyr S. Promicia, Elis Simone Ferreira Fernandes, Fabio Nino, James Howard Beeny, Angela Maria Maciel da Rocha, Sergio Abreu, Rogério de Marchi. No campo ou na cidade, a vida se fará melhor com a manutenção das matas ciliares, áreas de preservação permanente, que desempenham papel importante para abrigo de polinizadores e outras espécies, além da prevenção do assoreamento. Mas o papel mais vital, maior motivo para cuidarmos da mata ciliar, é a manutenção de nascentes, córregos e rios. Afinal sem água, sem vida. COORDENAÇÃO Luciana Pacheco [email protected] CONSELHO EDITORIAL Moacyr Saraiva Fernandes Maurício de Sá Ferraz Valeska de Oliveira EDIÇÃO Marlene Simarelli MTb 13.593 [email protected] REDAÇÃO Beth Pereira, Marlene Simarelli, Samara Monteiro REVISÃO Vera Bison COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Luciana Pacheco (texto). Boa leitura e até a próxima! Marlene Simarelli Editora [email protected] fale conosco REDAÇÃO para enviar sugestões, comentários, críticas e dúvidas [email protected] PUBLICIDADE José Carlos Pimenta Telefone (11) 3223-8766 [email protected] PRODUÇÃO DE CONTEÚDO ArtCom Assessoria de Comunicação R. Reginaldo Sales, 186 - sala 2 - Vila Maria CEP 13041-780 - Campinas - SP Telefone (19) 3237-2099 [email protected] DIREÇÃO DE ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA Performance Design Gráfico S/C Ltda. Rua Tobias Monteiro, 160 - Sala 02 - Jd. Aeroporto CEP 04355-010 - São Paulo - SP Telefones (11) 5034.8806 / 5034.7806 [email protected] CIRCULAÇÃO Distribuição gratuita do IBRAF - Instituto Brasileiro de Frutas Telefone: (11) 3223-8766 [email protected] IMPRESSÃO E ACABAMENTO Copypress ASSINATURA a assinatura é gratuita e para solicitar seu exemplar [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 Distribuição: nacional. Tiragem: 6.000 exemplares. ANUNCIOS para anunciar na Frutas e Derivados [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do Instituto. Para a reprodução do artigo técnico e do artigo opinião, é necessário solicitar autorização dos autores. A reprodução das demais matérias publicadas pela revista é permitida, desde que citados os nomes dos autores, a fonte e a devida data de publicação. Frutas e Derivados é uma publicação trimestral do IBRAF - Instituto Brasileiro de Frutas, distribuída a profissionais ligados ao setor. “G ostaria de parabenizar o Conselho Editorial da Revista Frutas e Derivados pela beleza de trabalho gráfico e pela qualidade dos artigos publicados. Esta revista será de grande importância não só para mim, mas, também, para os meus estudantes, tanto em nível de graduação em Agronomia e Engenharia de Alimentos, como em Pós-graduação, em nível de Doutorado em Agronomia e Mestrado em Tecnologia de Alimentos com área de concentração em Frutas Tropicais.” Prof. Raimundo Wilane de Figueiredo Departamento de Tecnologia de Alimentos do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará 6 Marcelo Holtz Gte.Comercial Del Monte Fresh São Paulo - SP “ P arabé ns pelas excelentes matérias abordadas na revista. Com toda certeza esta irá enriquecer mais ainda a área da fruticultura!” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “ P rezados amigos, gostaria de parabenizá-los pela excelente entrevista com o Sr. Sussumu Honda que colocou de maneira clara e objetiva a real situação do produtor de fruta com o varejo, identificando os desafios que temos a vencer e as oportunidades de negócios em nosso dia-adia. Por outro lado, a diversidade de matérias e o rico conteúdo das mesmas vêm fortalecer a importância do nosso setor.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Eliane Makimoto São Paulo - SP “ P arabenizo pela iniciativa em lançar uma revista, cuja qualidade, vista via internet, é exemplar, no contexto e imagem.” ○ Aloísio A. B. Rolim Belo Horizonte - MG ○ ○ “P arabéns pela excelência da revista, em cujas reportagens são apresentados assuntos de grande interesse dos fruticultores e dos “candidatos a fruticultores”.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Sérgio Prado Frigo Agropastoril Moria Ltda. ○ ○ ○ ○ “Gostei bastante da segunda edição pelas entrevistas bem elaboradas com pessoas do ramo. Tomara que esse seja um meio de comunicação que retrate e discuta com isenção, realidade e verdade, os assuntos que afligem a fruticultura de forma geral. E, principalmente, no tocante a situação ou posição dos supermercadistas perante os produtores, para que estes compradores sejam conscientes da fragilidade dos produtores face à sua força econômica.” ○ ○ ○ Paulo Ramon Mocelin Fiscal Federal Agropecuário Superintendencia Federal de Agricultura no Distrito Federal ○ ○ ○ “ G ostaria de deixar meus parabéns pelo excelente conteúdo da publicação. Com assuntos inteligentes, a revista proporciona o avanço das tecnologias do agronegócio frutícola gerando renda aos produtores e frutas com qualidade na mesa do consumidor brasileiro e do exterior.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ivan Antônio de Freitas Muzambinho - MG ○ ○ “ Como pequeno agricultor e fruticultor aqui do sul das Minas Gerais, fico entusiasmado com a riqueza da primeira edição e com a perspectiva dos benefícios que esta revista poderá nos trazer de moderna tecnologia. Que o bom Deus irrigue essa iniciativa para que ela frutifique.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ESPAÇO DO LEITOR Gilberto Barbosa São Paulo - SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ FAX (11) 3223-8766 ○ ○ ○ ○ ○ ○ Avenida Ipiranga, 952 12º andar • CEP 01040-906 São Paulo • SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ E-MAIL Na seção “ESPECIAL”, da edição nº 02, página 44, o crescimento do consumo de banana orgânica na Alemanha foi de 162,5% e não 36% conforme publicado. ○ ○ Luciane Ballardin Caxias do Sul, RS ○ ○ “ P arabenizo-lhes pela execelente qualidade do conteúdo publicado nas edições veiculadas até o momento. É uma grande contribuição ao setor da fruticultura!” ERRATA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ENDEREÇO ○ ○ ○ ESCREVA PARA ○ ○ Gisele Zutin Castelani Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos - Campus Araras - SP ○ ○ “Gostaríamos de parabenizá-los pela qualidade e importância das matérias veiculadas nesta revista, que será de grande utilidade para nossos graduandos em Engenharia Agronômica.” ○ ESPAÇO DO LEITOR 7 BETINHO ROSADO ARQUIVO PESSOAL ENTREVISTA EM DEFESA DA FRUTICULTURA Carlos Alberto de Sousa Rosado é natural de Mossoró, Rio Grande do Norte, cidade conhecida nacionalmente por sua produção de frutas, principalmente de melão. Economista, professor universitário e engenheiro agrônomo, Betinho Rosado começou sua vida pública como secretário estadual de Agricultura, em 1974. Após assumir diversos cargos públicos em seu Estado, elegeu-se deputado federal pela primeira vez, em 1995. Filiado ao PFL desde 1986, está em seu terceiro mandato, sendo que sua vida pública sempre esteve vinculada à luta pela defesa da indústria, do comércio, da ciência e tecnologia, e agricultura. Por isso, foi indicado para assumir a presidência da Frente Parlamentar da Fruticultura Brasileira – FPFB –, conquista do setor, para representá-lo no Congresso Na8 cional, após três anos de negociações. Oficialmente constituída a partir de fevereiro deste ano, a Frente é formada por 206 parlamentares, entre deputados e senadores e, tem conseguido se firmar para a defesa dos interesses do setor. Frutas e Derivados - O senhor é de um Estado onde a fruticultura tem muita importância para a economia local e nacional. Em sua opinião, a política agrícola atual beneficia ou prejudica a fruticultura? Por quê? Betinho Rosado - O potencial de geração de empregos na fruticultura é formidável. Considerando esse ângulo, as políticas governamentais estão muito aquém do que a sociedade brasileira preci- ENTREVISTA sa. Os problemas vão desde a falta de crédito para a produção, da logística da distribuição e da movimentação dos produtos, aos incentivos à exportação e às facilidades para o consumo interno. A fruta é alimento, e dos mais saudáveis. Portanto, deve ser incluída nesse grande mercado, que é a merenda escolar. Veja, ainda, que não conseguimos exportar para a Argentina por falta de ação da política externa e, constantemente, estamos sob solicitação de embargos às nossas exportações para a União Européia, por causa do descaso nas respostas àquela comunidade. Frutas e Derivados - Quais os principais benefícios da MP do Bem para a fruticultura? Betinho Rosado - A Lei 11.196/2005 traz no seu bojo enormes facilidades para as exportações de maneira geral, e a exportação de frutas está incluída. Especificamente por demanda dos produtores de frutas, conseguimos incluir nessa lei o Art. 49, que permite a isenção do PIS/Pasep e da Cofins para as embalagens produzidas no Brasil e destinadas à exportação. Nas frutas, o valor da embalagem é absolutamente significativo no preço do produto final, sendo que em alguns casos pode representar até 20%. Frutas e Derivados - O benefício da isenção tributária de 10% para embalagens de frutas precisa de regulamentação. Como está o andamento do processo? Betinho Rosado - Essa isenção tributária foi um marco para toda a fruticultura brasileira e para todo o setor exportador brasileiro e, principalmente, para a indústria das embalagens. No entanto, nos deparamos com o que achávamos mais fácil: a regulamentação do processo. Praticamente, já perdemos as safras deste ano e isso significa que somos obrigados a importar caixas de outros países, exportando também os recursos que deveriam estar na nossa região. Com os impostos cobrados nas embalagens hoje, as caixas produzidas no Brasil não têm preço para concorrer com as importadas. Lamentavelmente, o governo do presidente Lula não compreendeu bem o que o Congresso Nacional aprovou e retarda a aplicação da lei, quando não regulamenta o artigo 49. Ao colocar na lei que precisa ser regulamentado pelo Poder Executivo por meio de decreto e de instrução normativa, coube à Receita Federal cortar na própria carne a renún- BETINHO ROSADO cia fiscal relativa aos justos benefícios cedidos à fruticultura. E cortar na própria carne é possível, mais que vai doer, vai doer. “Considerando a geração de empregos na fruticultura, as políticas governamentais estão muito aquém do que a sociedade precisa.” Frutas e Derivados - Como presidente da Frente Parlamentar de Fruticultura, qual é o seu maior desafio? Por quê? Betinho Rosado - O maior desafio da Frente é mobilizar as forças vivas da nossa sociedade para, com ações competentes, aumentarmos o consumo das frutas. É preciso haver mudança do hábito alimentar na primeira infância e termos leis de incentivo e benefício à merenda escolar e à educação alimentar. Também é importante desenvolver campanhas de nutrição com incentivo ao consumo de frutas regionais, dando à fruta a condição de alimento e não de complemento alimentar. Na esfera do Congresso Nacional, é preciso elaborar a legislação de apoio a esse necessário crescimento e desenvolvimento para haver a desoneração de tributação nas cadeias produtivas da fruticultura. Temos que lutar para obter financiamentos, aos mesmos níveis que são dados às culturas dos grãos, com adequação à periodicidade da suas produções. A vertente política, como a Frente Parlamentar, visto que setor tem um elevado respaldo nas vertentes técnicas, científicas e administrativas, vem para produzir o efeito da maturidade representativa e consistência política como grupo de pressão organizado e articulado que passa a atuar por meio das forças do Poder Legislativo Frutas e Derivados - O que o fruticultor pode esperar da Frente Parlamentar? Betinho Rosado - Uma constante mobilização 9 ENTREVISTA BETINHO ROSADO em defesa dos interesses da agricultura e da fruticultura do Brasil. E isso se dará por meio das ações parlamentares nos debates nas Comissões Permanentes, audiências públicas, na apreciação e votação dos projetos de lei, nos pronunciamentos em fóruns e encontros, que tratem de economia, agricultura, educação, ciência e tecnologia, responsabilidade social, etc., dentro e fora do Congresso Nacional. “O maior desafio da Frente é mobilizar as forças vivas da sociedade para, com ações competentes, aumentarmos o consumo de frutas” Frutas e Derivados - O senhor citou vários benefícios para o produtor trazidos pela Frente Parlamentar. Mas, como o produtor pode reivindicar/solicitar ajuda à Frente? Betinho Rosado - As ações citadas decorreram de problemas diagnosticados pela base que encontraram soluções na legislação. As reuniões nas diversas regiões do Brasil, com diversos grupos de fruticultores, garantirão atualização permanente dos problemas do setor, com ação correspondente da Frente Parlamentar da Fruticultura. O produtor também pode se mobilizar por meio de entidades organizadas, como associações, cooperativas, sindicatos, institutos, sociedades setorias das cadeias temáticas ou produtivas, que venham a se manifestar sobre todo e qualquer assunto pertinente ao setor, que possam ser canalizados pelo Ibraf para a Câmara Setorial da Fruticultura e, em seguida, para a Frente Parlamentar. Frutas e Derivados - Uma de suas frentes de trabalho está voltada para a energia elétrica, custo importante para irrigantes. O Projeto de Lei n o 6.834/ 2006 propõe tarifa reduzida aos agricultores e os desobriga da instalação de medidor para acesso a taxas especiais. Em quanto o senhor prevê a redução para os irrigantes? 10 Betinho Rosado - Na conta de energia elétrica, o consumidor já paga um adicional para universalização e otimização do consumo de energia elétrica. Esses recursos podem e devem ser utilizados para atender a essa demanda da agricultura, que é a instalação de medidor para acesso às taxas especiais. Quando esse dispositivo estiver em funcionamento, haverá uma expansão nas atividades de irrigação, principalmente as ligadas aos pequenos agricultores. A redução da tarifa nesse período de aproximadamente nove horas diárias é de 90% do custo da energia e, portanto, os benefícios serão imensuráveis pelo volume de pequenos agricultores que o adotarão. Frutas e Derivados - A fruticultura vem trabalhando para o registro de produtos para pequenas culturas. Como a Frente Parlamentar pode ajudar neste processo? Betinho Rosado - Esse tem sido um grande problema. Existe um conselho formado pelos ministérios da Agricultura, Meio Ambiente e Saúde que aprova os defensivos a serem usados em cada cultura, que devem estar em conformidade com as exigências da União Européia. Porém, há dificuldade para tomada de decisão desse colegiado. Um dos motivos das infestações de pragas tem sido justamente a falta de alternativas dos produtos usados. O registro de produtos é fundamental para o moderno processo de comercialização. O consumidor brasileiro e, principalmente, o internacional necessitam do registro desses produtos, que traz embutido as características e a forma em que se deu a produção. Frutas e Derivados - Sabemos que a Espanha está solicitando à União Européia um boicote à entrada de produtos vegetais e animais brasileiros. Como pode a Frente Parlamentar atuar neste contexto? Betinho Rosado - A maior parte das frutas comercializadas no Brasil já tem a isenção do ICMS. A maçã e a pêra, frutas importadas há 20 anos, e para as quais se justificava cobrança do ICMS, ainda não. Elas passaram a ser produzidas no Brasil e hoje geram um excedente exportável. Não há mais nenhuma justificativa para a cobrança desse imposto. O único Estado brasileiro que resiste a essa isenção é Pernambuco, e a Frente Parlamentar já contatou a secretaria de Finanças e o governador Mendonça Filho para resolvermos essa questão. 11 CAMPO DE NOTÍCIAS Luciana Pacheco e Samara Monteiro Açaí na Cadeira do Dentista O açaí saiu da culinária para o consultório do dentista. A pesquisadora da Universidade Federal do Pará, Danielle Emmi, descobriu e criou um produto, cuja matéria-prima é o corante do açaí, para uso odontológico. O produto, quando em contato com os dentes, ajuda a visualização das placas bacterianas. “Primeiramente, queremos disseminar o uso do produto nos consultórios dentários e, num segundo momento, fazer disso um produto para ser usado no domicílio do paciente. Assim, ele fará uma escovação mais correta”, explicou a pesquisadora. O produto não tem efeitos colaterais, por ser derivado de um componente natural. O lançamento comercial ainda não tem prazo previsto, pois está em fase de negociação para produção por empresas. ABNT Lança Norma Sobre Segurança na Cadeia Produtiva de Alimentos A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – lançou, em agosto, a ABNT NBR ISO 22000, que estabelece requisitos para sistema de gestão de segurança na cadeia de suprimento de alimentos e abrange diversos setores, incluindo frutas frescas, processadas e desidratadas. A nova norma substitui a ABNT NBR 14900 – Sistema de gestão da análise de perigos e pontos críticos de controle – Segurança de alimentos, publicada em 2002. Referência para toda a cadeia proutiva de alimentos, a ABNT NBR ISO 22000 agrega valor às organizações. Entre os benefícios resultantes de sua implementação, destacam-se: comunicação organizada e objetiva entre parceiros comerciais; otimização de recursos; melhoria da documentação; melhor planejamento e menos inspeção pós-processual; larga aplicabilidade, porque a norma é focada em resultados finais, entre outros. 12 Todas as organizações, mesmo as de porte muito pequeno, podem implementar um sistema de gestão de segurança de alimentos em conformidade com a ABNT NBR ISO 22000. Estas, porém, precisam demonstrar sua capacidade de controlar ameaças à segurança alimentar para o fornecimento consistente de produtos seguros no momento do consumo humano. Organizações que já conquistaram certificados para seus sistemas de gestão da qualidade poderão estender a certificação para a ABNT NBR ISO 22000. Para mais informações sobre a certificação, ligue para (21) 3974-2300, no Rio de Janeiro, ou (11) 3017-3600, em São Paulo. Ou escreva para [email protected]. Sancionada Lei da Agricultura Familiar Diretrizes e políticas diferenciadas para a agricultura familiar, como juros mais baixos do que os praticados no caso de agricultura empresarial, estão estabelecidas na nova Lei de Agricultura Familiar, sancionada em julho deste ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A lei beneficiará cerca de 20 milhões de produtores que trabalham na agricultura familiar, de acordo com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag –, Manoel dos Santos. Segundo dados do Palácio do Planalto, a agricultura familiar representa 10% do Produto Interno Bruto do Brasil – PIB –, responde por 70% da mão-de-obra no campo e é responsável por 40% da produção agropecuária. A lei classifica como agricultura familiar os produtores, donos de propriedades de 15 a 100 hectares, dependendo da região. Por exemplo, na região Sul, a área pode variar de 15 a 20 hectares, já, nas regiões Norte e Nordeste, a área considerada pode chegar a 100 hectares. Castanha Contra Raios de Sol Pesquisa da Universidade de Brasília – UnB – com os compostos sintetizados a partir do líquido da castanha de caju - LCC -, mostraram-se eficazes contra danos provocados pelos raios solares. As substâncias obtidas pelos pesquisadores foram capazes de absorver a radiação solar UVA e UVB, com fatores de proteção entre 7 e 9. Resultados satisfatórios foram obtidos em testes com animais de laboratório, mas ainda não há perspectivas para a elaboração de um creme de proteção solar para uso em humanos. O LCC é um subproduto do beneficiamento da castanha do caju, largamente utilizado no Exterior para a produção de lubrificantes, tintas, vernizes e outras aplicações de grande valor agregado. “Percebemos que o LCC é constituído por substâncias que poderiam ser modificadas, a fim de produzir compostos capazes de absorver a radiação solar”, conta Maria Lucilia dos Santos, professora do Instituto de Química da UnB. A pesquisadora enfatiza que o óleo da castanha de caju não deve, em hipótese nenhuma, ser usado na forma natural para proteção contra raios solares. “O LCC puro não tem as mesmas propriedades dos compostos sintetizados e pode provocar queimaduras graves, se utilizado na exposição ao sol, porque é cáustico e corrosivo.” Nova Rota Vai Ligar o Ceará à Bélgica Uma nova linha de navegação promete facilitar o escoamento da safra de frutas do Nordeste, com economia de tempo e conseqüente redução de custo para os exportadores. A companhia dinamarquesa Maersk Line, que já está operando no Terminal Portuário do Pecém, localizado em a 56 quilômetros de Fortaleza, vai colocar um navio para a ligação Ceará-Porto de Zeebrugge, na Bélgica, com freqüência semanal. Alain Tulpin, diretor da Tulpin, empresa de logística especializada em frutas, com sede em Ostende, a 20 quilômetros de Zeebrugge, e responsável pela operação, afirma que “esta rota é a mais curta entre o Brasil e a Europa leva 8 dias e Zeebrugge não é um porto congestionado, além de estar localizado no centro entre Paris, Londres, Amsterdã e Alemanha, grandes consumidores de frutas tropicais”. Com essa nova rota, Alain acredita que “o monopólio do porto de Roterdam vai diminuir e os exportadores terão a facilidade de exportar para qualquer país europeu, sem que o importador holandês influencie este fluxo de exportação”. Ele ressalta, também, que “a rota mais curta é uma oportunidade do Brasil de competir com os países africanos, como Costa do Marfim, Senegal, Ghana e Camarões”. Brasil Amplia Área Plantada com Produção Integrada de Frutas Levantamento divulgado pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo –SDC – do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mostra que o Brasil tem hoje uma área plantada de 40,4 mil hectares de frutas sob o Sistema de Produção Integrada, contra 35 mil hectares até julho de 2005. A produção atual chega a 1,1 milhão de toneladas, envolvendo, entre outras variedades, 60% da área cultivada com maçãs, 36% da área plantada com uvas e 35% de manga no pólo de fruticultura do Vale do São Francisco. De acordo com a Coordenação de Produção Integrada e Rastreabilidade da SDC, atualmente, estão sendo conduzidos 23 projetos de produção integrada de frutas em 14 estados, atingindo 17 espécies frutíferas. As atividades desenvolvidas resultaram na adesão de 1.280 produtores ao sistema. Entre os principais benefícios, a PIF reduz os custos de produção devido à economia de 40% no uso de fertilizantes no cultivo da maçã, por exemplo. No caso da uva fina de mesa, em 2005, foi possível racionalizar o uso de agrotóxicos com redução média de 42% de fungicidas, 89% de inseticidas e acaricidas e 100% de herbicidas. O sistema permite, ainda, aumento da produtividade, alta qualidade da fruta produzida, economia do uso da água de irrigação, aumento da infiltração de água no solo e conseqüente elevação do lençol freático. A PIF tem outras vantagens, como a diminuição dos processos erosivos e o incremento na diversidade e população de inimigos naturais de pragas e doenças. Sistema de Consulta para o Comércio Internacional O Ibraf firmou parceria com a Blue Book Services, empresa norteamericana, que oferece uma série de serviços para facilitar e proteger o comércio entre empresas da fruticultura. A parceria permitirá aos associados do Instituto solicitar, gratuitamente, consultas do perfil e o histórico de compras de possíveis empresas importadoras para saber se há alguma restrição, como atraso ou falta de pagamento. Os dados da avaliação das empresas são fornecidos por clientes, que avaliam o método de pagamento e o comprometimento em realizar o negócio. As consultas também podem ser realizadas diretamente pelo site da Blue Book www.bluebookprco.com, porém mediante pagamento, com valor proporcional à quantidade de informação requisitada. Consumo de Melão na Europa Aumenta Graças às Importações do Hemisfério Sul Os avanços em logística beneficiaram o comércio entre os diferentes hemisférios e o melão foi a fruta que melhor se adaptou ao transporte. Ainda que a Europa consuma 80% do melão no verão, conforme a revista Fruittoday, há alguns anos se observa uma tendência de crescimento nas vendas durante o resto do ano, que corresponde às importações do hemisfério sul. Atualmente, a tendência do consumidor é procurar por tamanhos de melão até 1,5 kg, de acordo com as necessidades das famílias. Na Europa, como exemplo os supermercados ingleses, mais da metade do melão comercializado é de quarta gama (ou minimamente processado) em bandejas de 200 gramas, com diversas variedades de melão (charentais, pele de sapo, amarelo etc.). Estudo para o Aumento do Tempo de Conservação da Fruta Pesquisadores do Departamento de Matemática Aplicada da Universidade Politécnica de Cartagena – UPCT –, Espanha, desenvolveram um modelo matemático, que permite aumentar o tempo de conservação dos produtos hortifrutícolas. Segundo fontes da própria instituição, esta pesquisa “ajuda a conservar a qualidade das frutas e verduras em conserva, que são submetidas a atmosferas modificadas, aumentando o período de permanência dos produtos nas prateleiras dos supermercados em perfeito estado de conservação”. O pesquisador Sergio Amat, diretor do Departamento de Matemática Aplicada, ressaltou que “o modelo combina concentrações de oxigênio, gás carbônico e temperatura adequadas para que frutas e verduras envasa-das cheguem em perfeito estado na mesa do consumidor”. O objetivo do trabalho, segundo Francisco Artés Fernández, do grupo de Pós-colheita e Refrigeração, é “prever quanto tempo o produto fica em perfeito estado de conservação, mesmo depois de seu recolhimento, sem utilizar aditivos tóxicos e produtos indevidos”. fonte: www.valencia.fruits.com 13 NO POMAR Samara Monteiro IAC LANÇA ARQUIVO IAC MARACUJÁ-ROXO Maracujá roxo-avermelhado com pintas brancas é coisa que nossos bisavós nunca imaginariam ver. Mas, graças ao melhoramento genético, acaba de ser lançado pelo Instituto Agronômico de Campinas – IAC. Com sabor muito mais doce e pouca acidez, o IAC-Paulista é adequado para a diversificação dos pomares nacionais e indicado para o mercado interno e para a agroindústria. “Um dos produtores que testou a fruta conseguiu, também, comercializá-la para o Exterior, via avião. Por navio, sabemos que a fruta não resiste”, explica a pesquisadora do IAC, Laura Maria Molina Melleti. A coloração da casca – que desperta a curiosidade – tem explicação: “a cor roxa é proveniente do cruzamento do maracujá roxinho nativo com o maracujá-amarelo, de quem herdou o tamanho grande, pesa entre 100 a 160 g. Outra curiosidade é sua polpa, de cor amarelo-alaranjada, que representa cerca de 47% do fruto”, diz a pesquisadora. O maracujá-roxo tem produtividade média de 25 t/ha/ ano, pequena se comparada com outras variedades, como o IAC 227, por exemplo, que produz em torno de 40 a 45t/ha/ano. “Por isso, consideramos que esta seja uma fruta exótica, como era a pinha há mais ou menos 15 anos, e deva ser vendida por unidade para o público classe A, dos grandes centros consumidores: São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro”, enfatiza a pesquisadora. O IAC-Paulista é indicado para produção no centro-sul do País, porque se desenvolve melhor em clima ameno. Os meses de julho e agosto são adequados ao plantio. As mudas já estão à disposição dos produtores. Mais informações sobre onde comprar pelo telefone (19) 3242-4246 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ FEROMÔNIOS SEXUAIS CONTROLAM PRAGAS DA MAÇÃ CRISTIANO JOÃO ARIOLI ○ Formulação de feromônios para controle de pragas da maçã. 14 Uma nova formulação que utiliza feromônios sexuais foi criada por pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, no Rio Grande do Sul, em parceria com a Isca Tecnologias, para o controle da lagarta-enroladeira Bonagota cranaodes (Lepidóptera: Tortricidae) e da mariposa oriental Grapholita molesta (Lepidóptera: Torticidae) na cultura da macieira. Será a primeira formulação a ser comercializada no mercado brasileiro, contendo, num mesmo liberador, feromônios para o controle de duas pragas simultaneamente. Segundo o pesquisador Agenor Mafra Neto, da Isca, “até o momento, o uso do feromônio sexual da lagarta-enroladeira e da mariposa oriental, de forma conjunta, permitiu uma redução de, no mínimo, 50% do número de aplicações de inseticidas nos pomares, com perdas na colheita equivalentes ao manejo com base no uso de inseticidas tóxicos. Se estes dados forem extrapolados a 50% da área cultivada no Brasil (35 mil hectares), resultaria em 28 toneladas a menos de produtos tóxicos aplicados”. Para que a técnica seja eficaz no manejo das pragas, o pesquisador Marcos Botton, da Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS, aconselha a atentar para alguns fatores: “o uso de feromônios para o controle de pragas deve ser feito complementarmente ao uso de inseticidas químicos; os feromônios sexuais são mais eficazes em situações de baixa infestação das pragas-alvo; ao decidir fazer uso da formulação, o produtor precisa observar a condição do pomar, que deve ser homogêneo, possuir uma superfície mínima de 5 hectares e não ser inclinado. É, também, aconselhável reforçar o número de armadilhas de monitoramento de adultos na área tratada, além de complementar essa avaliação com a análise de frutos danificados, a fim de verificar se o tratamento deve ser complementado com alguma aplicação de inseticida.” ○ ○ ○ ○ ○ ARQUIVO NOLEN TÉCNICAS AUMENTAM PRODUTIVIDADE DO MELÃO para a produção de melão. O A busca para solucionar pesquisador da Embrapa Agroo problema da moscaindústria Tropical, Raimundo minadora do melão é Braga, alerta: “levantamentos constante. Outro desarecentes no Nordeste apontam fio é o aumento de proum incremento dos custos de dutividade da fruta. E produção superior a 10% como um está ligado ao somente para o controle da outro, os cuidados tomosca-minadora, e não tem somados devem estar Novas técnicas e bom manejo aumentam a produtividade lucionado o problema.”Por isso, atrelados. Mudanças no e controlam a mosca no cultivo do melão. o pesquisador ensina que, uso de irrigação convenpara prevenir e controlar a cional para gotedoença, são necessárias algumas medidas de curto e jamento e a aplicação de adubos, via água de irrigação, longo prazos: elevam a produtividade do melão de 12 t/ha para cerca de 30 t/ha. É o que constataram pesquisadores da 1. Colocar em prática todas as técnicas preEmbrapa Semi-Árido. conizadas pelo manejo integrado de pragas; Segundo o pesquisador José Maria Pinto, “a introdução das inovações da produção integrada de frutas (PIF) 2. Plantar novos cultivos sempre na direção pode ajudar o agricultor a economizar cerca de R$ contrária ao vento, a fim de reduzir a mi546,00 por hectare, com fertilizantes”. O PIF orienta a gração de adultos de áreas mais velhas para aplicação de insumos na época adequada e na quantias mais novas, no caso de cultivos dade exigida pela cultura. “A diminuição de custos vai escalonados; da quantidade de água até os diferentes ingredientes na 3. Estabelecer novos campos em áreas afasadubação das plantas. O uso da uréia, por exemplo, cai tadas pelo menos 8 a 10 quilômetros dos de 376 kg/ha para 156 kg/ha; o do potássio diminui de plantios já infestados com praga; 133 kh/ha para 80 kg/ha; quanto às doses de nitrogênio, fósforo e potássio, as reduções registradas com a 4. Realizar o repouso dos campos, evitando fertirrigação foram de 141%, 233% e 66%, respectiplantar mais de uma vez na mesma área vamente”, enfatiza o pesquisador. durante a mesma safra; Outro ponto levantado no estudo é a eficiência no uso 5. Fazer a rotação de culturas, utilizando mide água. “Costuma-se irrigar o melão por meio de sullho ou sorgo como alternativas;e destruir e cos, mas a pesquisa propõe o sistema de irrigação por incorporar os restos culturais do meloeiro gotejamento, que ajuda a economizar quase 45% de imediatamente após a colheita. água e, conseqüentemente, reduz o consumo de energia elétrica”, explica Costa. De acordo com ele, “os meComo ações de longo prazo, o pesquisador sugere “o lões produzidos, segundo o modelo do PIF, ultrapasdesenvolvimento de projetos de pesquisa focados na sam em uma semana a vida útil de armazenamento dos melões cultivados de forma tradicional”. bioecologia da praga, o controle biológico, cultural, quíA mosca-minadora também tem sido um desafio mico e o fortalecimento da transferência de tecnologias”. 15 FRUTAS FRESCAS SONHO REAL A fruticultura espalha-se pelo Vale do Rio Branco, em Boa Vista, capital de Roraima, mobilizando iniciativa privada, universidade e Poder Público. Marlene Simarelli Fotos Leandro Neves/UFRR Das primeiras plantas à primeira colheita, as uvas do Vale do Rio Branco. Numa área de transição entre a floresta Amazônica e as savanas do cerrado brasileiro, com chuvas abundantes e bem definidas durante seis meses do ano e temperaturas médias de 33 ºC, está surgindo um novo pólo de fruticultura: o Vale do Rio Branco. Nessa região, o paranaense de Cascavel, Airton Antonio Soligo, criava gado em Boa Vista, onde está há duas décadas. Uma visita à região produtora de frutas em Petrolina, PE, no Vale do São Francisco, mudou o rumo de sua história e influenciou definitivamente a história de Boa Vista. “A similaridade das regiões, o alto índice de luminosidade de Roraima e a possibilidade de atender aos mercados de Manaus e Caribe, há apenas 500 quilômetros de distância, me impulsionaram a plantar frutas”, explica Soligo. O projeto iniciado em 2004 compreende 18 hectares de uvas das variedades Itália, Thompson e Festival e 70 hectares de mangas das 16 variedades Palmer. Estão em implantação 80 hectares de bananas prata e gran naine, além de quatro hectares de goiaba Paluma. O pioneiro Soligo conta que já fez “duas colheitas de uvas, de qualidade boa e mercado assegurado”. A iniciativa de Airton Soligo não parou aí. Seu sonho, plano e persistência transformaram-se no projeto Vale do Rio Branco. Hoje, o projeto é uma parceria da Prefeitura Municipal de Boa Vista, Ministério da Agricultura, Banco da Amazônia e Universidade Federal de Roraima. O produtor lembra que “a decisão política da ex-prefeita Tereza Jucá, em 2004, que chamou para si o projeto, não pode ser esquecido”. O Vale do Rio Branco produzirá citros (lima ácida e laranja para suco e mesa), uva, banana, abacaxi e coco. O plano piloto agrega 85 produtores, numa área de 250 hectares, com pomares formados e em formação. A previsão é che- gar a 2,5 mil hectares em cinco anos. A Prefeitura fornece tecnologia, assistência técnica e mudas, a título de empréstimo para pagamento após a primeira colheita, a ser feito em mudas de frutíferas ou o equivalente monetário para realimentar o projeto. “Com a concepção do Vale do Rio Branco feito de maneira semelhante ao Vale do São Francisco, quebramos o paradigma da produção de uvas no Brasil”, comemora Manoel Eliseu Alves, secretário municipal de Desenvolvimento Agrícola. MARCA REGISTRADA As frutas produzidas no Vale do Rio Branco já têm marca registrada para divulgação no Brasil e no exterior. São as “Frutas Frescas da Amazônia” ou “Amazon Fresh Fruits”. Soligo observa que “as pesquisas mostram que a palavra Amazônia é o segundo nome mais falado no mundo, por isso patenteamos a marca” e profetiza: “daqui a cinco anos, Roraima estará totalmente inserida no contexto nacional como novo pólo de produção de frutas”. Para atingir essa meta, Alves afirma que “foram investidos R$ 6 milhões na implantação do projeto, sendo que 40% foram destinados à construção do Centro de Difusão de Tecnologia da Fruticultura”. Com inauguração prevista para o final do ano, o Centro receberá o nome do viticultor gaúcho Angelo Soligo, em homenagem ao pai do idealizador do Vale do Rio Branco, Airton Soligo. Alves explica que “o Centro será gerido pela Embrapa, Universidade Federal de Roraima e pelos produtores, numa parceria público-privada”. Soligo ressalta que “o Centro é auto-sustentável porque terá 28 hectares de diversas variedades de frutas para pesquisas, que serão vendidas, e também promoverá cursos de treinamento”. “O maior desafio para a produção de frutas em Roraima é a falta de mão-de-obra especializada”, observa Soligo. A solução será o treinamento já iniciado pelo próprio secretário municipal, especialista em fruticultura da região do São Francisco, onde atuou durante 20 anos. O fruticultor Roberto Tadashi concorda e acrescenta que “está pagando o preço do pioneirismo”. Também produtor de café em Minas Gerais, Tadashi começou a cultivar melancias há três anos e uva há um, dentro do Projeto Vale do Rio Branco. Tadashi garante que “a melancia tem sido rentável” 17 FRUTAS FRESCAS e está animado com a perspectiva de exportação para Venezuela e Caribe, que consomem frutas chilenas. “É um mercado de 37 milhões de pessoas, se consideramos também Manaus”, estima o secretário municipal, Manoel Alves. PLANO MAIOR O Vale do Rio Branco faz parte de um plano maior. É o Arranjo Produtivo Local da Fruticultura, cujo principal objetivo é consolidar e implantar o cultivo de banana, abacaxi, citrus, coco e uva, além de fortalecer as frutas regionais de caju, açaí, cupuaçu, taperebá (ou cajá), buriti, murici e bacaba conhecido como achocolatado da mata por seu sabor e aspecto leitoso de cor escura, após processado e gelado. A afirmação é de Leandro Camargo Neves, coordenador do Programa Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos e chefe do Departamento de Fitotecnia, do Centro de Ciências Agrária da Universidade Federal de Roraima. A viabilização do APL, nascido há cerca oito anos, começou há três, e se tornou o segundo lugar na pauta do agronegócio estadual, segundo Neves, que também atua como coordenador técnico da Câmara Setorial de Fruticultura do Estado. A implantação da viticultura, com matrizes do Vale do São Francisco, é considerada como o passo mais ousado. “Fui chamado de louco quando cheguei para ajudar a implantar a fruticultura no Estado, mais ainda por causa da viticultura”, recorda. ta. Com produtividades dignas do Nordeste (aproximadamente 30 a 35 toneladas por hectare)”. Para o ano de 2007, estão previstos mais 150 hectares irrigados com uva de mesa das variedades Itália, Itália sem semente, Crimpson Seedless, Benitaka e uma pequena parcela de Rubi. Há também o projeto do coco que visa aproveitar a fruta para a fabricação da farinha e uso na indústria de panificação. “A farinha de coco, consorciada com o trigo, melhora o aspecto nutricional do pão e aumenta naturalmente a vida de prateleira, sem alteração de sabor”, afirma Neves. O plantio de coco é feito em sistemas agroflorestais, quase sem retirada da vegetação nativa, para evitar o ataque de pragas à produção. Neves frisa que “a fruticultura para Roraima, por ser área de transição, é preservacionista e respeita as florestas nativas, o que é uma grande vantagem em relação aos demais estados amazônicos”. Neves observa que o objetivo é colocar frutas com valor agregado – embalada ou processada para o mercado, com quantidade e qualidade necessárias apontadas em pesquisa mercadológica já realizada. O mercado para as frutas? Neves sabe bem para onde seguirão. “Temos o mercado Manauara Manga, maracujá, banana, dendê, açai... do viveiro à colheita, Roraima se prepara para a fruticultura. Dos vários projetos dentro do APL Estadual da Fruticultura de Roraima, Neves acredita que o mais importante é o de viticultura. “Não tanto pelo seu tamanho atual, pois banana, manga, coco e abacaxi são bem maiores, mas em termos de desafio tecnológico. Afinal, o centro-sul brasileiro só fala do açaí e do cupuaçu aqui da região Norte”, comenta. Segundo ele, “já foram colhidas 150 toneladas da fru18 (Manaus) com quase dois milhões de habitantes e também as regiões Sul e Sudeste, pois como estamos na região Norte, vamos atuar nas janelas de plantio, quando não há as frutas.” Ele observa também que pretendem conquistar e ampliar mercados “com as fruteiras nativas da Amazônia, que são ricas em anti-oxidantes e anti-radicais livres e por isso são consideradas excelentes alimentos funcionais”. Mercados brasileiro e internacional apontam para crescimento constante do segmento de frutas processadas, que busca diversificação para atrair consumidores. Beth Pereira 19 ARQUIVO NATIVITA PROCESSAMENTO ARQUIVO NATIVITA As frutas processadas foexceções, como o consumo ram incorporadas à rotina das de sucos, néctares e pessoas, em forma de sucos drinques à base de frutas, e polpas, conservas ou desipois, segundo o presidente dratadas, como castanhas, do Ibraf, “são produtos que água de coco, sorvetes, refriatendem às necessidades do gerantes, confeitos, drinques, mundo moderno, com néctares, refrescos, barras de praticidade e até substituincereais, cereais matinais e pedo refrigerantes”, observa. Frutas tropicais desidratadas tiscos. Mas há outras apresenJá, nos países subdesenvolpara mercado interno. tações em misturas com vevidos, a maior ou menor degetais, com soja, com leite e iogurtes; os produtos mi- manda depende da inserção da população no mernimamente processados, as frutas congeladas, além de cado de consumo. itens sofisticados, como molhos à base de frutas, novos De acordo com Fernandes, as exportações bratipos de energéticos e sobremesas. O segmento en- sileiras estão basicamente concentradas em sucos trou na era da diversificação, para atender a nichos de de laranjas (mais de US$ 1bilhão), porém as indúsmercados diferenciados. trias de outros setores estão sendo habilitadas para A evolução das frutas processadas no Brasil e no atender à demanda externa. Conforme explica, a mundo aponta o caminho da agregação de valor. Tan- proposta é sair do patamar anual de US$ 75 mito que o mercado de frutas industrializadas é bem maior lhões, gerados pelas exportações de polpas e condo que o de frutas in natura. Segundo dados do centrados de outras frutas tropicais, como maçã e International Trade Center, as frutas frescas tropicais uva, para US$ 200 milhões, até 2010, por meio do movimentam internacionalmente US$ 8,6 bilhões. Se Programa de Promoção das Exportações das Frutas forem considerados os produtos agroindustrializados, Brasileiras e Derivados, iniciativa do Ibraf com a esse valor sobe para US$ 23 bilhões. “Quando eu co- Agência de Promoção de Exportações e Investimenloco uma uva-passa em uma barrinha ou em um cere- tos – Apex-Brasil. Outras ações para impulsionar o al, o valor pelo qual eu vendo o cereal é bem maior”, crescimento desse mercado são a capacitação de explica o presidente do Instituto Brasileiro de Fruticul- empresas e a adequação de produtos, visando à tura – Ibraf – e da Câmara Setorial de Fruticultura do adoção de gestão pela qualidade, segundo as exiMinistério da Agricultura, Moacyr Saraiva Fernandes. gências dos mercados, por meio do Plano de Desenvolvimento Setorial de Frutas Processadas, reMERCADO EXPORTADOR sultado de parceria entre a Agência Brasileira de DePara se ter uma idéia do crescimento desse merca- senvolvimento Industrial – ABDI – com o Ibraf. “Desdo, pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Bra- sa forma, esperamos apoiar com mais efetividade a sileiro de Geografia e Estatística –IBGE – revela que a adequação das indústrias para elas se internacionavenda de sucos no mercado interno cresceu mais do lizarem com mais facilidade.” que a de refrigerantes e a tendência aponta para contínua expansão. No Frutas em barrinhas de cereais, alto valor agregado. caso do Brasil, Fernandes diz que as frutas representam uma grande oportunidade econômica. Para mostrar o potencial do setor, cita o último recenseamento de 2004, no qual 74% da população pertencente às classes D e E. “Quando se fala em sucos para beber, essa faixa consome apenas 26%. Se aumentar o poder aquisitivo dessa faixa, espera-se que as vendas cresçam na mesma proporção”, diz. “As fábricas existentes podem não ter condições de suprir uma grande demanda”, observa. A perspectiva de consumo mundial de alimentos nos países ricos deve se manter constante com poucas 20 PROCESSAMENTO Segundo Fernandes, o segmento das frutas é bastante diversificado e caminha em duas direções: a agrocomercialização e a agroindustrialização, que podem se sobrepor ou se distanciar. “Enquanto na agrocomercialização, planta-se, colhe-se e distribui-se a fruta in natura, a agroindustrialização transforma a fruta, de modo mais ou menos sofisticado, em produtos diversificados e de alto valor agregado”, explica. O presidente do Ibraf observa que algumas variedades de frutas são mais adequadas ao comércio in natura, enquanto outras se adaptam melhor à industrialização, como cupuaçu, graviola, cacau, entre outras. Por outro lado, ele afirma que há frutas de dupla aptidão, como morango, abacaxi, goiaba, banana e outros. Um papel importante da agroindústria, na opinião do presidente do Ibraf, é a possibilidade de aproveitamento de frutas inadequadas para o consumo in natura. “Um cacho de uva malformado pode virar uva-passa; mangas com manchas na casca podem ser vendidas sob a forma de polpa, cubos ou em pedaços, desde que as partes aproveitadas sejam sadias e as variedades sejam adequadas ao processamento”, exemplifica. DA TRADIÇÃO À MODERNIDADE A história da indústria brasileira de processamento de frutas começou com a produção de doces tradicionais caseiros, em pequena escala comercial, durante a Segunda Guerra Mundial. Diante da dificuldade de importação imposta pela guerra surgiram as primeiras fábricas de conservas importantes, como a Colombo, a pioneira, no bairro paulista do Brás, seguida de outras fábricas, como a Peixe, a Cica e a Pauletti (Etti)”, conta Fernandes. Ele acrescenta que nessa época muitos doces à base de frutas se popularizaram, como a famosa goiaba em calda, de Pesqueira, PE; a marmelada branca, da Peixe, vendida em uma lata retangular, além de doces criativos, como o famoso 4 em 1, da Cica. A partir dessa época começaram a surgir no mercado produtos derivados de frutas cada vez mais variados. “A demanda passou a direcionar os lançamentos, que evoluíram para a formulação de produtos com menos açúcar, mais próximos do natural, menos calóricos, portanto”, observa. Ao mesmo tempo, diz Fernandes, a ampla concorrência fez com que a freqüência de compras de doces tradicionais diminuísse, “embora sempre exista um nicho de mercado para a goiabada cascão e outros doces de tacho, como a cocada”. Hoje, o consumidor tem à sua disposição sobremesas bastante sofisticadas, prontas para consumo, de cremes a musses, passando pela interação entre produtos lácteos e frutas, sucos e néctares de frutas misturados com soja e leite. “Há uma demanda crescente para sobremesas e produtos funcionais, com apelo de saúde e nutrição, o que também inclui néctares enriquecidos com suplementos e fibras”, completa o presidente do Ibraf. Ele acrescenta que nos últimos tempos explodiu o consumo de sucos, drinques e néctares de frutas, com embalagens práticas cartonadas, em tamanhos variados, acompanhadas de canudinhos, o que acaba impulsionando as vendas. “É a categoria que mais tem crescido, com 14% ao ano”, divulga Fernandes. Para fazer 100 gramas de frutas secas é preciso um quilo de frutas frescas. DEMANDA DA INDÚSTRIA Fernandes afirma que as frutas industrializadas estão tendo boa demanda em vários setores, como a indústria láctea e a de sorvetes, assim como o setor de cereais matinais e de barras energéticas, que tiveram uma alavancagem de consumo, além das clássicas uvapassa, ameixa seca e banana-passa, cujo leque de opções tem crescido com a inclusão de damasco, maçã, banana, morango, pêra, entre outras. Outro setor crescente, segundo o presidente do Ibraf, é o setor de balas, confeitos e bombons, que busca derivados de frutas para atender às exigências do consumidor. Mas a demanda por frutas processadas vai além e inclui os produtos destinados à alimentação infantil e à indústria de panificação (panetones, columba pascal e tortas), em que as frutas são ingredientes básicos, processados ou sob a forma de frutas secas. CASTANHA DE CAJU Segundo produto da pauta de exportação do Estado do Ceará, o caju movimentou em 2005 cerca de US$ 142 milhões, equivalentes à produção de 30 mil toneladas de amêndoa, sendo 70% delas destinadas ao mercado dos Estados Unidos e o restante para Canadá, Itália, Líbano, Alemanha e Reino Unido, além do mercado interno, que absorveu 15% do volume. O consumo local, praticamente oriundo do pequeno produtor, girou em torno de 1,5% Secagem e limpeza dos frutos melhora qualidade da castanha e, em consequência, o preço. ARQUIVO IBRAF DUAS DIREÇÕES 21 PROCESSAMENTO Paulo de Tarso, presidente do Sincaju ARQUIVO SINCAJU da produção, apontam os dados do Sindicato dos Produtores de Caju do Ceará – Sincaju. De acordo com o presidente do Sincaju, o engenheiro agrônomo Paulo de Tarso Meyer Ferreira, a amêndoa da castanha de caju ocupava o primeiro lugar na pauta de exportação cearense, porém, há alguns anos, o setor perdeu a posição para a atividade coureiro-calçadista. “No ano passado, as exportações caíram em função de problemas climáticos, que afetaram a produção e a produtividade”, justifica. “Como tivemos um bom inverno e os tratos culturais foram devidamente realizados, este ano a expectativa é de que ocorra um crescimento na oferta de matéria-prima, o que poderá tornar possível um incremento de 25% na produção”, prevê. Atualmente, o quilo da castanha in natura está sendo negociado a R$ 1,10 com o beneficiador. Porém, como ocorre anualmente, ao fim deste mês será definido um preço mínimo para a comercialização do produto da safra 2006/2007. No mercado local, o preço da amêndoa de boa qualidade alcança R$ 20,00 o quilo ao consumidor. Meyer observa que o preço internacional varia em função da classificação do tipo de amêndoa e da variação cambial. Na fabricação de processados, a preferência é a utilização da produção regional de frutas. O sindicato tem orientado os produtores a realizar a secagem e a limpeza do produto, visando melhorar a qualidade da castanha, obtendo conseqüentemente um melhor preço, “além de fazer a interlocução com o setor empresarial”, afirma o engenheiro agrônomo Ésio do Nascimento e Silva, assessor técnico do Sincaju. Outra proposta, acrescenta, é buscar alternativas tecnológicas para aumento de produção e produtividade junto à Pesquisa. O Sincaju reúne produtores de 45 municípios 22 cearenses, considerados potencialmente produtores de caju, em que a maioria são pequenos e médios, e conta atualmente com cerca de 1.500 associados. A colheita do caju vai de agosto a dezembro na região e, segundo Meyer, a cajucultura é a atividade básica dos municípios do litoral leste e oeste cearen-ses, garantindo 150 mil empregos diretos e indiretos durante o ano, com maior intensidade no período de entressafra de outras culturas. NATURAL E FUNCIONAL Há 13 anos, quando fundou a Nativita, em Florianópolis, SC, José Antonio Barnetche, conta que, das frutas secas processadas no Brasil, só havia no mercado a banana e a maçã. “Hoje, já é feita a secagem de manga, mamão, abacaxi, entre outras, e somos pioneiros na fabricação de mix de frutas secas em barras (Saladinha Nativita)”, afirma e acrescenta que as perspectivas mundiais de consumo têm crescido muito. “Na Inglaterra tem até lojas especializadas em frutas secas”, observa, mas lembra que a demanda no Brasil ainda é bastante elitizada. “Basicamente, é voltada para o consumidor que busca qualidade de vida, por meio de uma dieta rica em vitaminas minerais e fibras.” No Brasil, Barnetche diz que o consumo de frutas secas está mais retraído e reflete a conjuntura de mercado. Em busca de alternativas para aumentar a demanda, ele explica que adiciona chocolate diet nas barras de frutas secas e está procurando diversificar, seguindo o caminho dos alimentos funcionais, com baixa caloria. “Desenvolvemos os bolos instantâneos, sem glúten e sem açúcar, feito à base de cereais (farinha de arroz ou de soja), recheados com frutas secas”, conta o dono da Nativita, que anuncia o lançamento das novidades para setembro. Barnetche aponta a tendência de diversificação dentro do próprio segmento, visando conquistar mais consumidores de frutas secas através dos adeptos de uma alimentação mais natural. Nessa linha, ele lembra que têm surgido, por exemplo, paçocas de frutas secas com castanhas e gergelim. “Iniciativas que têm ampliado o leque de opções”, afirma e acrescenta que as ARQUIVO NATIVITA Saladinha, inovação e praticidade para o consumidor. frutas secas são um alimento ideal para merenda escolar. “Poderia haver um incentivo pelas legislações municipais para incentivar o seu consumo”, sugere. A Nativita trabalha basicamente com frutas tropicais: banana, abacaxi, manga e mamão. “São mais fáceis de serem desidratadas por circulação de ar quente”, justifica Barnetche. Há quatro anos, porém, entrou no segmento de frutas com chocolate diet sem açúcar. “Basicamente, é uma camada de frutas prensadas (um mix de frutas), envolvida com chocolate”, descreve. “Tem um apelo melhor, principalmente no inverno.” Ele acrescenta que a produção tem acompanhado a demanda. Por enquanto, diz, o mercado interno não está favorável e há dificuldade para exportar, principalmente para o mercado europeu, que exige certificação de cultivo orgânico. Segundo Barnetche, o preço ainda é a maior barreira. “O consumidor compara o que ele pode comprar, mas não consegue enxergar a parte nutricional. Fazem só a comparação monetária e não dos nutrientes”, salienta e lembra que para fazer 100 gramas de frutas secas é necessário 1 quilo de frutas frescas. APOSTA NA TECNOLOGIA A proprietária da Tropical Passas, de Bauru, SP, Maria Cecília Vasconcellos Paschoal, aponta um aumento de consumo de frutas desidratadas. “Os consumidores de grandes centros buscam maior qualidade e praticidade”, justifica. Tanto que a produção da empresa tem crescido na faixa de 5% ao ano. “Temos realizado investimentos em tecnologia. Agora, queremos diversificar, para oferecer mais opções para o consumidor.” Há oito anos no mercado, a em- 23 ARQUIVO NIAGRO e fábrica em Petrolina, PE, tem como foco a produção de polpas e concentrados de frutas. Segundo o gerente de administração da empresa, Severino Marcelino da Silva, o carro -chefe da produção é a acerola, a maioria produzida na própria região, seguida por manga, caju e outros, como o açaí, cultivado em Belém, PA. Cerca de 80% da produção é voltada para exportação, a maior parte na forma de concentrado, especificamente a acerola, principal produto da empresa, e cuja polpa também começou a ser exporNiagro produz concentrado de acerola a partir de pomares pernambucanos. tada. Os 20% restantes da presa é especializada na desidratação de frutas tropi- produção são comercializados no mercado interno, na cais. Nessa linha, processa banana e abacaxi em rode- forma de polpa, nas principais capitais brasileiras, em las, coco em fita, goiaba em quartos, mamão e melão lojas como Carrefour, Wall-Mart, entre outras. em cubos, morango pela metade, manga e carambola Na avaliação de Marcelino Silva, o consumo de em fatias. “Estamos na fase de lançamento de figo desi- polpas e concentrados está em franca expansão no dratado”, conta. mundo. “O Brasil vem se posicionando e se consoDesde outubro do ano passado, a Tropical Pas- lidando como um grande produtor“, afirma. “Ansas está utilizando um novo processo de desidratação tes, o fornecimento do País era muito limitado; de frutas: o pré-osmótico, em que a fruta passa por tínhamos, basicamente, laranja, manga e abacaxi. uma calda e depois é desidratada. “O produto fica mais Hoje, tem açaí, com fama internacional; as vendas atraente, tem vida de prateleira mais ampliada e apre- de suco de limão têm aumentado e outras polpas senta textura mais macia”, descreve. Cecília diz que estão se tornando conhecidas, como graviola, goia“por enquanto, sua empresa é a única a fazer esse pro- ba e caju”, explana. cesso, em escala comercial. O produto é Em relação ao consumo interno, o gerente da comercializado em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.” Niagro afirma que tem se mantido. “Depois de um A Tropical Passas processa, em média, 10 to- período de crescimento, entre 1995 e 1998, seguineladas de frutas por mês. O abacaxi é o produto de do da reestruturação do mercado, de 2003 a 2005, maior preferência. A empresa compra a maioria das com a saída de algumas empresas e a ascensão de frutas na região. “Apenas o melão, mamão e coco são outras, houve um certo ajuste”, diz. “Hoje o consuadquiridos do Nordeste. A produção é vendida para mo de polpa está mais definido e mais estabilizado grandes supermercados, redes de hortifrutis e lojas e no ano passado a demanda foi excelente, até porespecializadas, como a Casa Santa Luzia, Empório que a indústria teve de buscar uma saída para a criChiapeta, entre outros. se causada pelo dólar fraco.” “Já exportamos para Inglaterra, França e Portugal, mas perdemos mercado, porque o preço da fruta au- ÁGUA DE COCO mentou muito a partir de 2004 e o dólar caiu, não Com produção voltada exclusivamente para o compensando as vendas”, afirma. Porém, com o envasamento de água de coco, a Amacoco cresceu processamento feito pelo sistema pré-osmótico, Cecí- 60% a 70% nos últimos três anos, segundo o direlia conta que está buscando novos mercados. “O pro- tor comercial da empresa, Fabio Nino Pligel, que duto tem maior valor agregado e ganha também em aponta crescimento da demanda interna pelo proaparência, textura e maciez”, observa. “Além disso, a duto nesse período. Conforme dados obtidos em relação produto in natura x produto final é mais 2005, o mercado de água de coco envasada compensadora em relação ao processo anterior.” corresponde a aproximadamente 34 milhões de litros/ano. “Desse total, a Amacoco responde por cerSUCOS E POLPAS ca de 22 milhões de litros/ano”, afirma. Pligel conCom processamento anual de aproximadamente clui que “dentro do segmento de frutas processa10 mil toneladas de frutas ao ano, a empresa das, os sucos de frutas, água de coco e bebidas à pernambucana Niagro, com matriz no Recife e filial base de soja enriquecidas com frutas apresentam o 24 25 PROCESSAMENTO Mercado consumidor de água de coco é, em sua maior parte, nacional. ARQUIVO AMACOCO maior crescimento, “graças ao posicionamento de produto saudável”. De acordo com Pligel, atualmente, o mercado interno representa 96% dos negócios da Amacoco. “Os 4% restantes correspondem às exportações. Nosso objetivo é expandir as vendas de água de coco entre 7% e 8% até 2007”, projeta. Conforme explica o diretor comercial da empresa, consumidores de alguns países, como Japão e Estados Unidos, já estão desenvolvendo o hábito de consumir água de coco. “Tanto que a empresa começa a ter uma boa resposta em termos de vendas nesses países”, observa. A Amacoco possui duas fábricas de envasamento de água de coco, uma em Belém, PA, e outra em Petrolina, PE. A unidade do Pará, em sua maioria, é abastecida por produção própria – a Amacoco cultiva 800 a 900 mil pés de coco na região –, além de comprar frutas de terceiros. A fábrica pernambucana, por sua vez, adquire a fruta de parceiros da região. A VEZ DAS DESIDRATADAS Embora não haja estatísticas oficiais de consumo de frutas desidratadas no Brasil, segundo levantamento do Ibraf, entre as mais consumidas estão a uva-passa, com demanda atual na faixa de 15.600 toneladas/ ano, seguida pela ameixa seca, com 9.700 toneladas/ano, e damasco, com 1.300 toneladas/ano. Para a banana, que tradicionalmente tem sido comercializada sob a forma de passa, há poucos dados disponíveis. Mesmo sendo grandes as vantagens oferecidas pela desidratação, até há pouco tempo, esse processo era praticamente explorado somente em nível agroindustrial. No caso de banana desidratada ou banana passa, embora haja potencial para sua expansão gradual, o mercado interno tem se mantido praticamente estabilizado nos últimos anos, segundo o Ibraf, em torno de 500 toneladas anuais, enquanto as exportações são um nicho pouco explorado pelo Brasil. Recentemente, a indústria de pães e bolos e, principalmente, o segmento de cereais matinais e barras energéticas têm crescido substancialmente, na mesma proporção do aumento da demanda brasileira por nozes, frutas secas e desidratadas. No mercado mundial, a procura é igualmente crescente e a indústria de alimentos busca cada vez mais frutas desidratadas tropicais para inovar seus produtos, avalia o Ibraf. BANANA E UVA Existe demanda por banana desidratada por parte das indústrias de confeitos e chocolates, como a Garoto, que produz o bombom Caribe. Na fabricação de derivados de bananas, as indústrias são obrigadas, pela legislação agroalimentar brasileira, a colocar o equivalente a 5% em frutas frescas. Com a maioria das diferentes espécies de bananas verdes, pode-se produzir uma farinha nutritiva, com variadas possibilidades de aplicações na alimentação, desde o preparo de mingaus aos biscoitos. A banana-chips, por exemplo, fabricada inicialmente no Norte do Brasil, é feita com a variedade Pacovan. Ainda há um consumo menor de outros tipos de frutas desidratadas, como a maçã, apresentada em fatias desidratadas e mais recentemente na forma de “chips”, lançada no mercado pela empresa Agrícola Fraiburgo. No Sudeste, principalmente durante as festas nata26 linas, é bastante popular o figo seco, desidratado prensado, feito de variedades de figo branco, não produzidas no Brasil, além de uva-passa, ameixa seca, damascos e, ainda em grande parte, maçãs. De acordo com o Ibraf, com o aumento do cultivo de uvas sem sementes no País, a uva-passa é considerada um produto estratégico, principalmente, diante da demanda crescente de frutas desidratadas no mercado internacional. APELO ORGÂNICO O mercado dos alimentos orgânicos também está gerando uma forte demanda por inovações, direcionadas a consumidores que se identificam com o estilo de vida saudável, representando um grande potencial para as frutas desidratadas orgânicas. A América Latina produz cerca de 1,9 mil toneladas de frutas orgânicas desidratadas, com destaque para a banana, com 61% da produção, cujo principal destino é a União Européia. Já a manga, segunda fruta em importância com 19% de participação, é exportada principalmente para os Estados Unidos. Outras frutas em importância comercial são o abacaxi e o mamão. No Brasil, a banana orgânica ofertada pelas redes de varejo, normalmente em pacotes de 200 gramas, está sendo comercializada ao consumidor entre R$ 20,00 a R$ 25,00 por quilo. São 11 as empresas identificadas pelo Centro de Inteligência sobre Mercados Sustentáveis da Costa Rica - CIMS - que realizam a desidratação de frutas na América Latina. Outras duas estão com suas plantas em processo de certificação. Cinco delas ficam no México, que responde por 34% da fruta desidratada produzida na região. Outros países em importância são Equador e Costa Rica. Colômbia e Honduras têm uma pequena participação. Segundo dados dos importadores, o mercado desses produtos mantém taxas de crescimento superiores a 15% ao ano. Com o ingresso de supermercados convencionais nas vendas de alimentos orgânicos, eles acreditam que esse nível de crescimento se mantenha por mais alguns anos. ARQUIVO GOIABRÁS AGROINDÚSTRIA Num cenário estagnado com preços baixos, altos custos de produção e comercialização, o Guatchup nasce como um produto estratégico para a disseminação da cultura da goiaba e conquista de novos públicos. Samara Monteiro O mercado brasileiro vai ganhar um novo sabor agridoce. É o Guatchup, catchup feito à base de goiaba vermelha, a ser relançado pela empresa Predilecta em parceira com a Associação Brasileira dos Produtores de Goiaba – Goiabrás – até outubro. O produto é uma inovação do mercado de processados de goiaba e renasce depois de um processo de adaptação, com uma nova proposta, tamanho e embalagens diferentes, mas com o mesmo sabor do molho lançado em 2001. E o principal é que traz com ele a expectativa de aumentar o consumo de goiabas no Brasil e no mundo. Na opinião do diretor da Predilecta, Antônio Carlos Tadiotti, “o mercado de goiaba se mostra estável hoje, mas o crescimento de plantio está estagnado devido à quebra de compromisso de algumas indústrias processadoras nos últimos dois anos. Os acontecimentos nos levam a acreditar num aquecimento de demanda do setor no próximo ano, pois os estoques das indústrias estão em baixa. Em alguns casos isolados são esperados novos plantios, mas são poucos”. Um pouco mais pessimista, o especialista em goiabas e engenheiro agrônomo da Ceagesp, Hélio Satoshi Watanabe, diz que “no momento, estamos com uma grande oferta do produto e a demanda não é suficiente para consumir toda produção. 27 Além disso, o preço pago pela fruta no mercado é baixo em contrapartida aos altos custos de produção e de comercialização, num cenário onde a goiaba é uma cultura típica de pequenos produtores”, enfatiza. Os dados da produção de goiaba no País também são contraditórios e, segundo Tadiotti, “são imprevisíveis, pois sabemos muito pouco sobre a situação da fruta e as informações que temos vêm de alguns pólos maiores de produção espalhados no sudeste, no Estado de São Paulo, no centrooeste e no nordeste”. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, são produzidas 480 mil toneladas por ano, abrangendo todas as regiões do Brasil e compreendendo fruta de mesa e para processamento industrial. Pernambuco é o maior estado produtor de goiabas, com 168.042 toneladas de frutas produzidas e 4.911 hectares. “Só a Predilecta industrializa cerca de 50 mil toneladas/ano. Creio, mas não tenho certeza, que a oferta para fruta processada se situe na faixa de 90 mil toneladas por ano”, acrescenta o diretor da empresa. Inicialmente, o Guatchup será posicionado para o mercado interno e, numa segunda fase, para o mercado externo. De acordo com dados do Instituto de Economia Agrícola – IEA – sobre produção, oferta e consumo da goiaba de mesa: “em 2005, no Estado de São Paulo, segundo maior produtor brasileiro da fruta, a produção de goiaba branca de mesa foi de 18.373 toneladas e a de goiaba vermelha de mesa foi de 30.058 toneladas. Neste mesmo ano, os números da comercialização foram de 3.094 toneladas da goiaba branca, e 9.203 toneladas da goiaba vermelha.” Segundo o diretor-presidente do Ibraf, Moacyr Saraiva Fernandes, “a comercialização da goiaba tem um crescimento de 5,5%, o equivalente ao crescimento populacional no País”. Watanabe relata que “no final de julho deste ano, a oferta de goiaba vermelha no mercado atacadista da Ceagesp era de, aproximadamente, 30% e a de goiaba branca estava em torno de 70%”. Para o presidente da Goiabrás, Arlindo Piedade Neto, “56% da produção da fruta no Brasil é, atualmente, direcionado para a indústria e 44% para o consumo in natura”. 28 LUIZ ALFREDO ARDITO AGROINDÚSTRIA Guatchup, feito à base de goiaba, para o mercado interno. Poucos são os produtos industrializados feitos com a fruta: suco, polpa para exportação, compota, geléia e a goiabada, ingrediente tradicional de uma sobremesa simples de fazer que, associada ao queijo branco ou, ainda, ao queijo prato, forma o ‘Romeu e Julieta’, uma combinação “que destrói as barreiras sociais, pois é apreciada por todas as classes, de A a E”, enfatiza Neto. No entanto, “com goiabada, não conseguimos conquistar o mundo, pois seu sabor não é facilmente aceito; ela não é conhecida no Exterior e o valor agregado de sua produção é baixo, insuficiente para popularizar a goiaba”, explica. Além disso, divulgar a fruta é difícil, também, por causa da sensibilidade da goiaba e da dificuldade de transportá-la, devido à alta perecibilidade, dificultando o acesso a outros países, por exemplo. “Por causa disso, muitos produtores a colhem antes do tempo, alterando sabor, aparência e características nutricionais da fruta. Este ato também é o principal responsável por um dos mitos mais disseminados sobre a goiaba: que ela prende o intestino. É que, quando colhida antes do amadurecimento, a goiaba tem sua quantidade de tanino aumentada, ocasionando este efeito. Um dos pontos positivos da industrialização é a colheita da fruta no ponto certo de maturação”, enfatiza o presidente da Goiabrás. Por isso, buscando solucionar estes problemas e conquistar novos mercados, renasce o Guatchup: a esperança das goiabas! AGROINDÚSTRIA PROPOSTA SOCIAL E LUCRATIVA O Guatchup não é apenas mais um produto no mercado com o foco em lucratividade. É, também, claro... O mundo é capitalista, oras... Mas muitos outros fatores estão atrelados ao seu surgimento: “o desenvolvimento da goiabicultura; a disseminação da cultura de consumo da goiaba e, conseqüentemente, torná-la importante para a agricultura brasileira; e o beneficiamento de famílias que têm na produção da fruta uma vida de dedicação, conhecimento e sobrevivência”, afirma Neto. Para Antônio Carlos Tadiotti, “a estimativa é o Guatchup conseguir, em pouco tempo, se apropriar de uma fatia de 10% do mercado do catchup, o que já será um ganho enorme para o setor”. O presidente da Goiabrás acrescenta que “com a entrada do Guatchup no mercado, dentro de alguns anos será preciso triplicar a área plantada de goiaba, trazendo mais renda para o produtor. Esta estatística é baseada na realidade do tomate, matéria-prima utilizada na fabricação do principal concorrente do Guatchup, cuja produção é de 91 milhões/toneladas por ano”. Para isso, tanto Goiabrás quanto Predilecta investem na formação e incentivo para os produtores. Enquanto a empresa de processados tem convênios com universidades federais, estaduais e outros institutos isolados para a pesquisa sobre a fruta, a associação desenvolve projetos, e está se preparando para transferir tecnologias de produção mais atualizadas para os produtores. “Ofereceremos a eles mudas selecionadas, geneticamente controladas, propagadas vegetativamente e não por sementes, e assessoria para aperfeiçoamento do manejo”, acrescenta Neto. Outro ponto é a consultoria prestada nacionalmente pela Goiabrás, inclusive para o Pólo de Produção Integrada de Goiaba de Sergipe – PPI –, criado em parceria com o Governo do Estado, em 2004. “O Pólo está localizado nos municípios de Neópolis, com 200 hectares, e Canindé, com 300 hectares. Tudo é feito dentro dos critérios de Arranjo Produtivo Local – APL – e prevê a implantação dos pomares, assessoria para o desenvolvimento 29 ARQUIVO GOIABRÁS nistério do Desenvolvimento”, lembra o presidente da Goiabrás. Mas como vender um produto feito com goiaba em lugares onde as pessoas nunca viram a fruta e, também, sem condições financeiras suficientes para conseguir penetração e divulgação? E, ainda, como criar alternativas para que o produto atenda às diferentes classes sociais? “Esses foram os nossos desafios durante o tempo em que o Guatchup ficou fora do mercado e, para solucioná-los, a parceira com a Predilecta foi fundamental. No início, ele vai ser 80% direcionado para o mercado interno, principalmente para Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Recife, Campinas e Rio de Janeiro, maior consumidor de goiaba. A ampliação do seu consumo no Exterior deve ser conseqüência de um trabalho de qualidade, aliado a divulgação e conscientização das pessoas sobre as propriedades nutricionais da fruta. Outro ponto é a embalagem. Teremos dois tipos de embalagens: a embalagem especial, um plástico com duas camadas de barreiras, para o Guatchup Premium – sem conservantes –, que deve encarecer em 40% o produto, e a embalagem padrão para produtos com conservantes. Neste caso, nem o sabor e tampouco a excelência do produto serão afetados”, explica Neto. Mas o que o Guatchup tem, que o catchup não tem? Algumas vantagens à frente... “Por ser feito de goiaba, o Guatchup pode ser consumido por qualquer pessoa, inclusive por quem apresenta sensibilidade à acidez do tomate, como os portadores de gastrite. Além disso, ele tem 33% menos calorias e 26% menos sal. Sem contar que a goiaba é rica em fibras, vitaminas A, B6 e C, e a quantidade de licopeno presente na fruta, substância importante para prevenção e controle do câncer de próstata, é de 6,5 mg para 100 gramas”, enfatiza o presidente da Goiabrás. do packing house e de uma unidade de préprocessamento. Já são 193 famílias beneficiadas, oriundas da horticultura. Toda a produção, cuja primeira safra deve ser colhida no próximo ano, será vendida para empresas do próprio Estado”, explica o assessor de Promoção, Marketing e Atração de Investimentos do governo de Sergipe e coordenador do PPI, Luís Curado. VANTAGENS À FRENTE Um dos doces caseiros mais antigos é o de goiaba, produzido de forma artesanal desde o século 19. Sua industrialização data de 1950, quando surgiram as fábricas de conservas, como a Colombo, a Peixe e a Cica. O diretor-presidente do Ibraf lembra que “há mais ou menos dez anos, a goiaba tinha a industrialização como destino principal. Hoje, a venda in natura e para a indústria está se equilibrando, graças aos avanços da tecnologia e ao aperfeiçoamento de produção, manejo e pós-colheita.” No Brasil, a goiaba vermelha se popularizou mais do que a branca, em função das indústrias, e, durante anos, a goiabada foi um dos doces mais consumidos e apreciados. “As pessoas não deixaram de comer goiabada, mas, com o surgimento de outras sobremesas, têm mais opções para poder diversificar. Neste sentido, o Guatchup é uma idéia brilhante”, acrescenta. “Quando nasceu, em 2001, depois de um longo processo de pesquisas, o Guatchup trouxe com ele a proposta inovadora de um produto feito sem conservantes, cuja sobrevivência seria garantida pelo uso de embalagens tecnologicamente mais avançadas e, conseqüentemente, mais caras. Sua comercialização estava 80% focada no mercado internacional como, por exemplo, Estados Unidos e Suíça, países onde o produto já esteve graças à parceria com a Agência de Promoção de Exportações e Investimento – APEX –, órgão vinculado ao Mi30 Linha de produção do Guatchup no interior paulista. ARQUIVO PREDILECTA Os irmãos Helena e Mário Piedade Farsoni: que delícia de goiaba!!! FRUTA SEM ÁGUA Pouco explorada no Brasil, a produção de frutas desidratadas se constitui num nicho de mercado. Por isso, é importante conhecer as técnicas para a obtenção do produto, que possui processos diversificados para atender a escalas de produção de artesanal à industrial Parece coisa do tempo dos nossos avós: um tacho grande esquentando no fogão com frutas cortadas em pedaços, imersas numa solução de açúcar. Lembra, mas não é, pois esta técnica simples e artesanal, denominada desidratação osmótica, ainda é uma das maneiras mais utilizadas e baratas para a desidratação de frutas e o princípio básico para a obtenção de frutas cristalizadas. No entanto, mesmo sendo a desidratação o método mais antigo de preservação de alimentos, são inúmeras e variadas, arcaicas e atuais, as tecnologias existentes para sua produção e vão desde processos baratos e fáceis de desenvolver até grandes e caros equipamentos voltados para a produção em larga escala. A pesquisadora da Embrapa Semi-Árido, de Petrolina, PE, e especialista em desidratados, Patrícia Moreira Azoubel, explica que “de acordo com a legislação brasileira, a fruta desidratada é o produto obtido pela perda parcial de água da fruta madura, inteira ou em pedaços, por processos tecnológicos adequados, onde a umidade (g/100g) final deve ser de, no máximo, 25%”. Com isso, dificulta-se e até mesmo impede-se o crescimento e a reprodução de microorganismos responsáveis pela ARQUIVO EMBRAPA SEMI-ÁRIDO Samara Monteiro A pesquisadora Patrícia Azoube é especialista em frutas desidratadas. deterioração dos alimentos. A remoção de água resulta, ainda, em uma maior facilidade de transporte, armazenamento e manuseio do produto final, seja ele para consumo na forma direta ou como ingrediente na elaboração de outros produtos alimentícios. A fruta pode ser seca por meio da energia solar, fonte de calor mais econômica para a remoção da água. Entretanto, a secagem pela exposição direta ao sol tem seu uso limitado às condições climáticas de cada região e é mais demorada, leva, no mínimo, 12 horas. “O clima deve ser seco, com baixa umidade, pouca precipitação pluviométrica (incidência de chuvas), de grande insolação e devese tomar cuidado com a contaminação por fungos, 31 TECNOLOGIA SECAGEM ARTIFICIAL Para frutas em pedaços, tipo frutas passas, o mais recomendado, segundo o pesquisador da área de secagem de frutas e hortaliças do Instituto de Tecnologia de Alimentos – Ital –, de Campinas, SP, José Maurício de Aguirre, “é a secagem artificial por meio de uma estufa com circulação de ar quente, que pode ser utilizado para todas as frutas, com exceção da melancia, e é voltado para produções de pequena, média e grande escalas. Para acelerar a perda de água, pode ser feito, também, um pré-tratamento das frutas, que devem ser imersas num xarope concentrado feito com água e açúcar. Para fazer 100 quilos de xarope, por exemplo, coloca-se 70 quilos da açúcar e 30 de água. O importante é que a solução contenha de 60% a 70% de açúcar”. Já, para a desidratação de polpas de frutas e em forma de flocos, os equipamentos são mais ca- ros e, geralmente, importados, e sua produção é mais rentável, se tiver o foco em exportação. “Para obter este resultado, utiliza-se uma tecnologia de secagem de tambor rotativo, também conhecida como Drum Drying. Neste caso, prepara-se a polpa do produto e efetua-se o tratamento térmico. O princípio da secagem é a formação de uma película na superfície da fruta”, enfatiza o pesquisador. Por sua vez, a secagem do suco da fruta, da qual se obtém o produto na forma de pó, bastante utilizado na indústria alimentícia, é feita por meio da técnica de secagem por atomização, ou Spray Drying. Mas Aguirre enfatiza que “esse tipo de tecnologia não é recomendado para pequenas produções, pois é extremamente sofisticada e cara”. O Ital oferece assessoria no desenvolvimento de produtos e para instalação industrial. Mais informações podem ser obtidas pelo (19) 3743-1844. ESPAÇO PARA CRESCER “Não existem dados estatísticos comprovados sobre a produção de frutas desidratadas no País. Há, sim, bastante especulação. Mas baseados no aumento do consumo de alimentação saudável e prática, atualmente em moda, conjugado aos números do crescimento da exportação de frutas frescas, nos últimos anos, podemos imaginar o poten- ANTONIO CARRIERO / ITAL bactérias e insetos”, explica Azoubel. Já, na secagem artificial, ou sistemas indiretos de aquecimento do ar, onde o calor é produzido artificialmente, as condições de temperatura, umidade e corrente de ar podem ser controladas independentemente das condições do tempo. A pesquisadora ressalta que “esses sistemas podem usar como fonte de energia os raios solares (por meio de coletores solares), a lenha, o gás, óleo, vapor e a energia elétrica. Outro ponto é a sanificação mais facilmente controlada, pois o processo é realizado em sistemas fechados, oferecendo, assim, proteção contra agentes externos”. ANTONIO CARRIERO / ITAL José Maurício Aguirre: Ital dá suporte aos interessados. Estufa de circulação de ar para desidratar. 32 ARQUIVO PROJETO COORIMBATÁ A desidratação de frutas melhorou a vida de Cristina e Elenine. cial existente neste setor, muito pouco explorado, que se constitui num importante nicho de mercado”, afirma o professor titular de secagem da Unicamp, Kil Jin Park. De acordo com o Ibraf, “o mercado europeu de Importação de Frutas Desidratadas atualmente é de 530 milhões de euros e o Brasil já participa de 1% do fornecimento de bananas desidratadas e 3% do fornecimento de mamão (papaia) desidratado”. As frutas desidratadas são famosas nas ceias de Natal e muito lembradas em outras datas comemorativas, como Ano Novo e Páscoa. “Mesmo assim, estima-se que atualmente sejam consumidas por apenas 2% da população nacional”, enfatiza o diretor da Engedrying, Walter Muelli. A Engedrying, empresa de Mogi Guaçu, SP, trabalha com desidratação de frutas. “Sabe-se que os consumidores de uma agroindústria de desidratados formam um universo muito complexo, se concentram em grandes centros urbanos e estão situados, principalmente, nas classes econômicas média e alta. Na Europa, Ásia e Oriente Médio, estes produtos são bastante consumidos”, afirma Patrícia Moreira Azoubel. Para Park, o problema não está somente na falta de demanda e, sim, “na escassez de oferta. Ela não é constante e os produtos, ora encontrados nos grandes supermercados ou lojas especializadas, muitas vezes estão em falta. É preciso fazer um programa e acompanhamento maciço junto aos produtores para promover a produção de desidratados e suas tecnologias, pois é uma grande oportunidade para eles”, afirma. TECNOLOGIA É o que mostra Cristina Acosta dos Santos, que há mais ou menos sete anos trabalha com produção de frutas desidratadas e faz parte da Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (Coorimbatá), de Cuiabá, MT, desenvolvido a partir de pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. “Com um secador, construído de aço-inox, nós desidratamos banana nanica, manga e abacaxi. A cada 20 dias nós produzimos, por exemplo, aproximadamente 80 caixas, de 20 quilos cada, de bananas desidratadas”, explica. Coorimbatá é um projeto pequeno, cujo foco principal não é o de frutas, pois é formado, principalmente, por pescadores. “Mesmo assim, já beneficia algumas famílias, como a minha. Deixei de ser empregada doméstica e passei a atuar como uma pequena empresária. Nosso sonho profissional é exportar e meu sonho pessoal é finalizar minha casa, cuja construção só foi possível por causa desta porta que se abriu para nós”, enfatiza a produtora. Dentro de alguns meses, a Prefeitura de Cuiabá disponibilizará um prédio onde funcionará a unidade de processamento de doces, banana frita e frutas passas da Coorimbatá. Além disso, juntamente com outros órgãos, como a UFMT, continuará dando apoio na estruturação do setor administrativo, central de vendas, assessoria jurídica, capacitação continuada dos cooperados e de equipes a serem incubadas e na coordenação de atividades dos setores produtivos. 33 MEIO AMBIENTE PROTEÇÃO DA MATA As leis ambientais são antigas, a consciência da necessidade de recuperação, conservação e benefícios das matas ciliares também, mas a atuação de produtores e empresas continua tímida. Marlene Simarelli ARQUIVO EMBRAPA MEIO AMBIENTE Conta a história que nos idos do de árvores frutíferas”, observa a bió- saros, insetos e outros animais, que século 19, as divisas das proprieda- loga e pesquisadora científica trarão o equilíbrio. Sabemos que des rurais eram os rios e suas ma- Roseli B. Torres, do Núcleo de teríamos melhor controle biológitas. À medida que a exploração Pesquisa e Desenvolvimento do co, principalmente de lagartas, que madeireira e a necessidade de au- Jardim Botânico do Instituto Agro- atacam muito as frutas. As borbomentar a área produzida cresce- nômico - IAC –, de Campinas, SP. letas seriam comidas pelos pássaram, matas e rios foram perdendo “Quanto maior a diversidade, ros e conseqüentemente reduziseu real significado até a compro- maior o equilíbrio e, por isso, das.” A constatação é de Osvaldo vação de que a água é um bem finito quanto mais simplificada a vege- Dias, da Associação Agrícola de e sua sobrevivência está ligada às tação, mais vulnerável ao ataque Junqueirópolis, SP, maior produtora de acerola do Estado de São Paumatas ciliares e à proteção de áreas de pragas e doenças”, diz. de várzeas e cabeceiras de morro. lo, com 70% da produção do muA mata ciliar é a vegetação florestal nicípio destinada ao processamento localizada às margens dos rios e PENSAR COLETIVO e o restante para comercialização “Sabemos que a repercussão no in natura e fabricação artesanal de córregos, e é uma Área de Preservação Permanente – APP. Sua com- ambiente por causa das matas licores e compotas. posição pode ser floresta úmida, ciliares é muito maior do que a proNas regiões Sul e Sudeste, a veque ocorre em várzeas e áreas teção à água e a prevenção ao getação nativa é bastante fragmeninundáveis, ou floresta de terreno assoreamento. Elas vão atrair pás- tada. As matas ciliares podem inseco, formada em peterligar os remanescenquenas elevações às tes e as espécies que vimargens dos cursos de vem ali, principalmente, águas. A mata ciliar as que precisam de fedeve ser preservada cundação cruzada, aupor força da Lei 4.771, mentando a quantidade datada de 1965. “O de sementes e de indiagricultor tem diversos víduos da fauna. Roseli benefícios com a preTorres ressalta que sença da mata na pro“90% das plantas depriedade. Um deles é pendem de insetos, o aumento do número pássaros, morcegos e de polinizadores, impequenos mamíferos para polinização e disportantes para a produção de muitas espécies persão de sementes”. Mata ciliar preservada, desafio a ser vencido por produtores em benefício de todos. 34 MEIO AMBIENTE Segundo ela, “os produtores precisam pensar nos seus vizinhos, porque o que ele faz interfere na propriedade do outro” e assegura que “eles devem se juntar e pensar a propriedade na paisagem, dentro da microbacia onde estão inseridos”. Osvaldo Dias conta que as matas ciliares estão sendo introduzidas em sua região, por intermédio do programa de Microbacias da Cati. “Mas” – observa – “a introdução está sendo feita lentamente, porque os produtores têm certa resistência para implantar por causa dos cuidados iniciais”. Ele explica que “como normalmente são pequenos produtores, há uma sobrecarga de trabalho e não há como pagar o serviço”. Roseli reconhece as dificuldades para a implantação: “realmente tem custo imediato, porém os retornos são incalculáveis.” PEQUENA PROPRIEDADE As áreas de preservação permanente – APP – em torno de nascentes, represas e às margens dos cursos d’água desempenham papel fundamental na conservação dos solos e na produção de água das bacias hidrográficas. “Como toda APP, a mata ciliar tem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”, lembra a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, SP, Marta Camargo de Assis, que atua nas áreas de caracterização de cobertura vegetal, taxonomia vegetal e avaliação de impacto ambiental. “Ao recuperá-la ou manter a existente, o produtor gozará de todos os benefícios que os serviços ambientais das matas fornecem. Além de uma melhor qualidade da água disponível e da proteção do solo, a mata ciliar fornece o ambi- ente necessário para o refúgio e alimento para os insetos polinizadores de culturas, além de habitat para os inimigos naturais de pragas, auxiliando no controle biológico das pragas das culturas e do solo.” DESAFIO Uma das alegações usadas para não recompor a mata ciliar, principalmente em estados brasileiros, com predominância de pequenas e médias propriedades, é a redução da área produtiva. A pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente observa que “atualmente existe uma flexibilização do Código Florestal, que diferencia a agricultura familiar. De acordo com o Art. 2o da Resolução Conama 369, de 28 de março de 2006, o órgão ambiental competente pode autorizar a intervenção na mata ciliar, desde que devidamente caracterizada como de interesse social, sugerindo o manejo agroflorestal ambientalmente sustentável, praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterize a cobertura vegetal nativa, ou impeça sua recuperação, e não prejudique a função ecológica da área, o que permite ao pequeno agricultor a exploração econômica dessas áreas”. Plantar árvores no campo e nas cidades é hoje um grande desafio para produtores rurais, administrações públicas e toda a sociedade. Entre os papéis que as árvores desempenham, um deles é crucial para a sobrevivência da raça humana: a produção de água. Sem a proteção da cobertura vegetal da mata ciliar e também das cabeceiras de morro, as nascentes, os córregos e os rios terão sua vazão reduzida e muitos desaparecerão e, sem água, não haverá vida. BENEFÍCIOS DAS MATAS CILIARES A mata ciliar é definida pelo Código Florestal como Área de Preservação Permanente, o que confere a esta área o status de área protegida, sujeita às limitações que a legislação estabelece. Seus principais benefícios são: • amortece impacto da água sobre o solo e absorve a água proveniente do escoamento superficial de áreas adjacentes (redução de erosão do solo); • filtra a água contaminada com resíduos químicos por organismos da meso e microfauna associados às raízes das plantas (detoxificação da água); • controla o ciclo de nutrientes na bacia hidrográfica, pela absorção, tanto do escoamento superficial quanto da absorção de nutrientes do escoamento subsuperficial pelo sistema radicular; • infiltra mais lentamente a água no solo, favorecendo o abastecimento do lençol freático, o que aumenta a disponibilidade hídrica; • em escala regional, a evapotranspiração das matas ciliares devolve a água para a atmosfera; • cria um habitat para os inimigos naturais de pragas; • serve como refúgio e alimento (oferecendo pólen e néctar) para os insetos polinizadores de culturas. O produtor deve procurar o órgão ambiental estadual ou regional competente, para orientá-lo e indicar as espécies arbóreas para recompor e recuperar a mata ciliar de sua propriedade. 35 Fonte: pesquisadora Marta Camargo de Assis, Embrapa Meio Ambiente OPINIÃO O mercado e o consumo dos alimentos orgânicos estão crescendo no mundo inteiro. Animados por esta afirmativa, os ingênuos podem pensar que está no ar uma nova “corrida do ouro”. Mas e o consumidor? Quem você conhece que (só) compra ingredientes orgânicos? O mais provável, se você estiver no Brasil, é que os índices de inserção sejam bem baixos. Péssima notícia para você que já se via faturando alto... Depende. Podemos manter a postura empreendedora, analisando alguns dados disponíveis. Pesquisa recente (Willer & Yussefi, 2006) indica que há cerca de 31 milhões de hectares sob cultivo orgânico no mundo. O Brasil possui a sexta maior área: 887,6 mil hectares (em 2000, eram 100 mil hectares). tanha de caju, suco concentrado de laranja, óleo de palma, chocolate em pó e carne. Em volumes menores, frutas, peixes, mel, barras de cereais, fécula de mandioca, feijão adzuki, gergelim, especiarias (cravo-da-índia, canela, pimenta-do-reino e guaraná) e óleos essenciais. Ainda este ano, o Brasil passará a ter estatísticas de exportação de produtos orgânicos dentro do Siscomex – Sistema Integrado de Comércio Exterior. Com isso, será possível mensurar o tamanho real e os preços médios praticados desse mercado. A Ásia é o terceiro maior mercado mundial, com crescimento anual de 15%, representando um volume de US$ 3,5 bilhões. O Japão é grande importador de alimentos orgânicos tais ando e criando espaços exclusivos de venda desses produtos com marcas específicas. Os pontos de comercialização englobam processadoras, distribuidoras, lojas, restaurantes naturais, hotéis, feiras, grandes e pequenos varejistas, centrais atacadistas e hospitais, além da entrega de cestas domiciliares, uma característica marcante da comercialização de alimentos orgânicos. Os produtores orgânicos, que vendem para os exigentes mercados externos, conseguem preços que podem ser 50% superiores ao convencional. O sobrepreço pode variar de 20% até 300%. Mas na produção orgânica, o custo é maior, pois a transição para esse modelo não é imediata. Para ter sucesso nessa “corrida do ouro” é preciso Orgânicos conseguem preços até 50% superiores ao convencional. A agricultura orgânica no País tem um crescimento estimado de 30% ao ano e potencial para atingir 3 milhões de hectares em curto prazo, segundo o Instituto Biodinâmico – IBD. O mercado mundial movimenta cerca de US$ 30 bilhões e o nacional cerca de US$ 250 milhões, com potencial de crescimento anual médio de 25%. Aproximadamente 60% da produção é exportada, com forte demanda, principalmente de Japão, Estados Unidos e União Européia, onde os consumidores podem pagar mais caro por um gênero de qualidade, internacionalmente certificado. América Latina e Europa possuem, juntas, 68,5% das unidades de produção. Os principais produtos exportados são soja, café, açúcar, cas- 36 como massas, cereais, café, vinho, cerveja, óleo, presunto, mel, vegetais congelados, nozes, frutas secas e frescas, carne bovina e de aves, açúcar, pão, molhos, grãos e produtos à base de soja, além de salmão. O sistema de distribuição dos alimentos orgânicos varia de acordo com o país. Os EUA, maior mercado consumidor de orgânicos, têm a maior parte da venda em mercados menores, mostrando que esse consumidor procura canais de vendas com uma relação mais próxima da produção, ou seja, quer ter um contato mais próximo com quem produziu o alimento que vai consumir. No Brasil, cerca de 70% dos produtos são vendidos em supermercados. Nos grandes centros urbanos estão ampli- resolver os gargalos da cadeia produtiva como um todo – fluxo de produção, volume e variedade de produtos, logística para escoamento e distribuição dos diferentes mercados, certificação, informação dos consumidores, marketing –, além de uma legislação eficiente, do investimento em centros de pesquisa, ensino e extensão e da organização dos elos de comercialização, viabilizando o crescimento das exportações brasileiras e o aumento do consumo interno Carla Castro Salomão Sastro Consulting Ltda. Conselheira do Ibraf - Instituto Brasileiro de Frutas. Comitê Técnico de Logística da AEB Associação do Comércio Exterior do Brasil. set 11 a 14 • FRUTAL 2006 – 13 A SEMANA INTERNACIONAL DA FRUTICULTURA, FLORICULTURA E AGROINDÚSTRIA (Instituto de Desenvolvimento da Fruticultura e Agroindústria) Centro de Convenções de Fortaleza (Fortazeza/CE) • Info: Instituto Frutal (85) 3246-8126 • [email protected] • www.frutal.org.br 07 a 24 • FESTA DE FLORES E MORANGOS DE ATIBAIA (Prefeitura da Estância de Atibaia) Parque Municipal Edmundo Zanoni (Atibaia/SP) • Info: Secretaria de Desenvolvimento Econômico 0800-555-979 • www.atibaia.sp.gov.br 12 a 14 • 12 a FEIRA INTERNACIONAL DE SOLUÇÕES E TECNOLOGIA PARA A INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA (VNU Business Media do Brasil) Transamérica Expo Center (São Paulo/SP) • Info: VNU Business Media do Brasil (11) 4613-2013 • [email protected] • www.fisa.com.br out nov out 20 a 24 • PMA (PMAA - Produce Marketing Association) San Diego Convention Center (San Diego - Califórnia/EUA) • Info: Sheli Parlier (1) 302 - 738-7100 • [email protected] • www.pma.com/freshsummit 25 a 28 • AGRITEC (Over Fair Exibition & Service) Qatar International Exhibition Center (Qatar/Doha) • Info: William Atui (11) 3891-0227 • [email protected] • www.ifpexpo.com 24 a 26 • REFRIBRASIL Parque de Exposições FENAC (Novo Hamburgo/RS) • Info: Verbus Feiras Profissionais (51) 3387-3219 • [email protected] • www.refribrasil.com.br 7 a 10 • FISPAL NORDESTE (Fispal) Centro de Convenções de Pernambuco (Recife/PE) • Info: Fispal - Central de Relacionamento (11) 5694 -2666 • www.fispal.com 17 a 19 • IFE FRESH PRODUCE (Multi Rep) Expocenter - Moscow (Moscou/Rússia) • Informações: Andrea Batazzi (44) 20 7886-3116 • [email protected] • www.ifeworldwide.com 22 a 26 • SIAL (Báumle Organização de Feiras Ltda) Parc d’Expositions de Paris (Paris/França) • Info: Vânia Mendes (11) 3521-8000 • [email protected] • www.sial.fr 19 a 21 • EXPOFRUIT 2006 - Feira Internacional da Fruticultura Irrigada (Coex - Comitê Executivo de Fitossanidade do RN) Campus da Esam (Mossoró/RN) • Info: João Manoel/Sâmara Fernandes (84) 3312-6939 • [email protected] • www.expofruit.com.br 01 • FOOD KOREA (At Korea Agro-fisheries Trade Corp) Center Yangjae-Dong (Seoul/Korea) • Info: Yangjae-Dong, Seochu-Gu (82) 26300-1492-7 • [email protected] • www.foodexkorea.com nov 7 a 9 • CONBATER – 3O CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL (Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz) Auditório do Cati (Campinas/SP) • Info: Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (19) 3417-6604 / 3422-2755 • [email protected] • www.fealq.org.br 17 a 21 • SAUDI AGRICULTURE (Over Fair Exhibition & Service) Riyadh Exbitions Centre (Riyadh/Arábia Saudita) • Info: William Atui (11)38910227 • [email protected] • www.recexpo.com 16 a 18 • WORLD JUICE (Agra Informa Ltd.) Fire Palace Barcelona (Barcelona/Espanha) • Info: David Monaghan (44)0-20 7017 7500 • [email protected] • www.worldjuice.com 18 a 20 • FENACOOP (Fenaccop Feiras e Eventos Ltda) Centro de Exposições Imigrantes (São Paulo/SP) • Info: Renata Figueiredo (11) 2193-7711 • [email protected] • www.fenacoop.com.br 25 a 27 • BIOFACH AMÉRICA LATINA 2006 / EXPO SUSTENTAT 2006 (Ifoam - International Federation of Organic Agriculture Movements) Transamérica Expo Center (São Paulo/SP) • Info: Planeta Orgânico (21) 25407707 • [email protected] • www.biofach-americalatina.com.br 16 a 20 • POLAGRA FOOD (Conceito Brazil) Expo Pozna (Pozna/Polônia) • Info: Tatiana Rodrigues (11) 3831-4700 • [email protected] • www.conceitobrazil.com.br 4 a 10 • FRUITTRADE (Fruittrade) Hotel Sheraton Santiago (Santiago/Chile) • Info: Fruittrade • [email protected] • www.fruittrade.ch 26 a 28 • FEPAL – 8 A FEIRA DE EQUIPAMENTOS E PRODUTOS ALIMENTÍCIOS (Vêndor Feiras e Eventos, Sebrae/RS e Sindipan/RS) Centro de Exposições da Fiergs (Porto Alegre/RS) • Info: Vêndor Feiras e Eventos (51) 3066-5959 • [email protected] • www.fepal.com.br 08 a 11 • XX CBCTA- CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS (SBCTA) Expo Trade, Rod João Leopoldo Tacomel, 10.454, Pinhais (Curitiba/PR) • Info: Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos (41) 3022-1247 8 a 11 • FENAGRI 2006 (Fiepe) Petrolina (PE) • Info: Patrícia Canuto (81) 3412.8354 / 3412.8300 • [email protected] • www.fenagri.com.br internacionais set nacionais nov AGENDA 08 a 10 • IFE AMERICAS (Conceito Brazil) Miami Beach Convention Center (Miami/EUA) • Info: Cristina Novaes ou Sabrina Tressoldi (11) 3831-4700 • [email protected] • www.conceitobrazil.com.br 15 a 16 • AGF (Biuro Reklamy S.A.) Varsaw Exhibition (Varsóvia/Polônia) • Info: Slawomir Majman 4822- 849 60 06 • [email protected] • www.brsa.com.pl 16 a 19 • FOOD TECH (Compas Sexpo Ltd.) Athens Exhibition Centre-Elliniko (Atenas/Grécia) • Info: (30) - 2107568888 • [email protected] • www.foodtech-expo.com 37 Compradores internacionais visitaram Packing Ruette. FRUTOS DA FLV A 3a FLV proporcionou negócios para empresários da cadeia frutícola do Brasil e exterior e, também, para o setor de horticultura. Empresas de fruticultura de São Paulo, Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná concretizaram negócios no valor de US$ 480 mil durante a 3a Conferência e Feira de Flores, Frutas, Legumes e Verduras, FLV-2006, realizada em julho, em São Paulo, SP. Foram 109 contatos que podem gerar ainda negócios para as frutas e seus derivados na ordem de US$6,5 milhões durante os próximos doze meses, resultados da rodada de negócios Brazilian Fruit, promovida pelo Instituto Brasileiro de Frutas – Ibraf –, em parceria com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos – Apex-Brasil –, durante o evento. A FLV-2006, realização conjunta da Associação Paulista de Supermercados – Apas – e Ibraf, abordou o tema “Saúde para dar e vender”, para mos- 38 trar a influência da preocupação da sociedade por uma alimentação mais saudável, no crescimento do setor. Os hortifrutis representam, atualmente, entre 8% e 12% no faturamento dos supermercados. “Quando bem trabalhada, a seção atrai e fideliza o consumidor que, em busca de produtos frescos, costuma freqüentar o ponto-de-venda várias vezes por semana, aumentando as vendas por impulso em outras seções da loja”, afirma Sussumu Honda, presidente da Apas. RODADA DE NEGÓCIOS Valeska Oliveira, gerente executiva do Ibraf, explica que “as rodadas permitiram um intercâmbio entre produtor e importador, com a oportunidade do contato face a face, o que é muito importante, além de representar um investimento menor ao produtor, se comparado com uma viagem interna- ESPECIAL Rodadas de negócios aproximaram produtores nacionais e compradores internacionais. Equipe Ibraf, que atuou durante os três dias da 3a FLV. cional”. Produtores brasileiros e compradores da Alemanha, dos Estados Unidos, da Itália, Holanda e de Porto Rico participaram da rodada de negócios Brazilian Fruit. “Este ano, conseguimos trazer seis empresas, uma delas com oportunidade de exportação também para a Rússia, mercado que apresenta muitos desafios e, por isso, ainda pouco explorado pela fruticultura brasileira”, observa Valeska. Ela ressalta que “os resultados demonstram a maturidade e a bagagem conquistadas pelo empresariado brasileiro nas negociações com os compradores internacionais”. IMAGEM NO EXTERIOR Paralelamente à feira, os compradores internacionais de frutas visitaram pomares, packing house e redes de varejo para conhecer a qualidade e a estrutura da fruticultura brasileira. Impressionados com a variedade e qualidade das frutas nacionais, muitas desconhecidas no Exterior, os importadores também conheceram as condições de segurança alimentar e do trabalho, fatores discutidos mundialmente e impactantes na conclusão de negócios. Segundo a gerente executiva do Ibraf, “retratamos sempre esta exigência aos produtores brasileiros, que já estão se adaptando às normas internacionais e os visitantes puderam verificar essa atuação no local”. Sítio da Chuva, produtor e exportador de limão taiti; Ruette Spices, empresa exportadora, principalmente de tangerina, laranja e limão taiti; canais de comercialização Hortifruti, Casa Santa Luzia e Mercado Municipal de São Paulo, fizeram parte do roteiro de visitas. A jornalista espanhola María Angeles Recio da revista Fruittoday, publicação bilíngüe – inglês e espanhol –, com circulação em toda a Europa, participou do roteiro e da feira. A visita da jornalista faz parte do Projeto Imagem, do Ibraf, que, por meio de formadores de opinião, visa promover a imagem de qualidade e saudabilidade das frutas brasileiras no Exterior. A FEIRA Ibraf, em parceria com Apex, promoveu as frutas brasileiras. A aproximação de produtor e supermercadista, em virtude da crescente importância da seção de hortifrutis nas redes de varejo, é o objetivo principal da promoção da FLV, que este ano foi realizada simultaneamente com a Feira de Gestão em Centrais de Negócios – FCN. As duas feiras movimentaram cerca de R$ 56 milhões em negócios e receberam um público de aproximadamente 8 mil pessoas. A 3a FLV foi aberta com a presença de autoridades, como o governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo; secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Alberto Macedo; presidente da Apas, Sussumu Honda; e presidente do Ibraf, Moacyr Saraiva Fernandes, entre outros. 39 FOCO NO FUTURO A I Confruti, grande fórum de discussão frutícola, reuniu lideranças e apresentou propostas para fortalecer a fruticultura irrigada com o objetivo de aprimorar a atividade no Nordeste. tura irrigada de maneira que, em breve, o Nordeste venha poder negociar melhor apoio e parcerias, para tornar realidade o grande potencial natural que a região oferece”. A fruticultura irrigada na região tem grande impacto na economia do Estado. Segundo dados da Secretaria da Agricultura – Seagri –, o setor gera mais de 20 mil empregos diretos e movimenta cerca de 300 milhões por ano.Exportou em 2005 US$ 44 milhões de frutas frescas representando 10% da exportação nacional. Segundo Prado, a II Confruti poderá ser realizada em abril de 2007, em Mossoró, RN, a convite do presidente da Coex, Francisco Segundo. O próximo evento contará novamente com o apoio do Ibraf e de várias das instituições apoiadoras deste ano. Estiveram presentes na I Confruit cerca de 130 profissionais, sendo 59 do setor produtivo de vários estados brasileiros e os demais de instituições, como órgãos governamentais, chefes dos principais centros de pesquisa da Embrapa, representantes de universidades, além das entidades de financiamento da pesquisa e da produção. Os participantes foram divididos em 12 grupos de trabalho, cada um representando um setor da cadeia produtiva, a fim de oferecer uma visão global do assunto sob pontos de vista diferentes, na discussão das propostas e políticas para estabelecer o desenvolvimento da atividade para os próximos dez anos. FOTOS DIVULGAÇÃO CONFRUTI Integração da pesquisa com o setor produtivo para que os recursos destinados à pesquisa atendam à demanda existente; estabelecimento de programas de capacitação profissional adequados às necessidades da fruticultura irrigada; incentivo à formação de parcerias, entre produtores, processadores e exportadores; divulgação, a curto prazo, para o setor produtivo, das pesquisas já concluídas e disponíveis nas diversas instituições; dotar o Ceará de infra-estrutura laboratorial, que possibilite o suporte aos trabalhos de qualificação de produtos exportáveis; e incentivo ao controle biológico. Após dois dias de total imersão, essas foram as principais propostas da I Confruti – Conferência da Fruticultura Irrigada em Busca do Futuro –, realizada em agosto, em Beberibe, Ceará. O evento foi promovido pela Faec – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará –; Senar-CE – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Ceará –; Univale – União dos Agronegócios do Vale do Jaguaribe –; Embrapa Agroindústria Tropical; Sebrae-CE e Ibraf – Instituto Brasileiro de Frutas. A Confruti foi criada com o objetivo de desenvolver, fortalecer e integrar a pesquisa e a transferência de tecnologia ao desenvolvimento do agronegócio da fruticultura irrigada no Ceará. Carlos Prado, diretorsuperintendente do Ibraf na região Nordeste, afirma que “a idéia é organizar o setor produtivo da fruticul- Participantes apontaram propostas para o futuro da fruticultura irrigada cearense. 40 O painel de idéias abriu oportunidade de participação a todos. ARTIGO TÉCNICO As práticas de manejo da castanha-do-brasil, desde o momento da coleta até a armazenagem, podem controlar a ocorrência dos fungos, que prejudicam a exportação. Fotos Embrapa Acre Pesquisadora Joana Maria Leite de Souza, Embrapa Acre. ON C ATÃ O portações brasileiras do produto. A exportação média anual do Brasil, durante muitos anos, foi de 40 a 50 mil toneladas, mas decresceu em 60%. Dentre as várias explicações para a crise provocada pela queda nas exportações da castanha-do-brasil, podemos citar o ingresso da Bolívia no mercado internacional. Outro motivo, com reflexos econômicos LENN tação média varia de 1.400 a 2.800 mm/ano (Clement, 2002). É uma excelente fonte de proteína, lipídios e minerais, como o selênio, um antioxidante. A castanha-do-brasil é um produto importante para a economia da maioria dos Estados da Amazônia, sendo 60% da produção exportada para países europeus, Estados Unidos e Japão. Esses países têm estabelecido legislações, cada vez mais rigorosas, quanto aos níveis de tolerância às contaminações, o que representa uma forte ameaça às ex- JOHN A castanheira-do -brasil (Bertholletia excelsa H.B.K.) é uma árvore de grande porte, alcançando até 50 metros de altura (Locatelli, 1990). Distribui-se no Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Guianas e Equador. No Brasil, é ainda fruto do extrativismo nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Ocorre, principalmente, em solos pobres, bem estruturados e drenados, com textura média a pesada. Vegeta naturalmente em clima quente e úmido, onde a precipi- 41 bem desfavoráveis para a região, é a ocorrência de aflatoxinas (toxinas produzidas por mofos, especialmente por Aspergillus flavus) em castanhas deterioradas, devido as condições a que são submetidas desde o momento da queda até chegar ao pátio das beneficiadoras. REDUZINDO CONDIÇÕES FAVORÁVEIS Na cadeia toda, as etapas de amontoa, seleção dos ouriços e castanhas na floresta, transporte da floresta para a colocação, secagem e armazenagem na colocação, e transporte para local de beneficiamento foram identificadas como críticas. Após a queda dos frutos na floresta, nos pontos de coleta e durante o transporte fluvial, as condições são favoráveis para o desenvolvimento de mofos, capazes de penetrar através das cascas e infeccionar as amêndoas. A etapa de secagem constitui um momento crucial, uma vez que, por razões de logística na recepção da castanha-do-brasil úmida procedente das colocações – áreas onde residem as famílias extrativistas – e a inexistência de estruturas de secagem em relação à concentração da colheita no período chuvoso de janeiro a abril, muitas vezes as castanhas permanecem na floresta, aguardando condições propícias ao transporte, em lombo de animais ou carretas de tratores. A umidade da castanha-dobrasil durante a armazenagem é aspecto primordial para controle de mofos e cada qual apresenta uma umidade preferencial para o seu desenvolvimento. Há mofos que se desenvolvem com produção de toxinas em condições especialmente baixas, entretanto, a maioria deles prefere faixas de 25°C a 28 oC. Para reduzir as condições favoráveis ao mofo, é preciso fazer o manejo das castanhas, tais como fazer pelo menos dois revolvimentos diários para reduzir a umidade; utilizar armazéns secadores com a utilização de telados para impedir a entrada de insetos e fazer o armazenamento em local onde não haja acesso de pessoas, animais domésticos, roedores e insetos. Com a adoção dessas práticas, a população de mofos fica natural, ou seja, não aumentará, já que o fungo está presente nas castanhas, porém não produzindo as toxinas. IDENTIFICANDO AÇÕES Estudo realizado por Freire (2000) em castanha-do-brasil com casca, coletada em várias localidades do estado do Pará detectou 27 espécies de mofos, dentre os quais A. flavus foi encontrado em 27,5% das amostras analisadas, A. niger em 12%. Souza et al. (2002) e Souza (2005) conduziram um estudo em seis áreas de extrativismo (colocações) no município de Brasiléia, entre os meses de janeiro e maio/2001. Após 0, 30, 60 e 90 dias de queda dos ouriços, observaram que Árvores da castanheira. Atividade ainda é essencialmente extrativista. 42 ARTIGO TÉCNICO a micro-flora das castanhas constituía-se dos seguintes mofos: Aspergillus sp, A. niger, Grupo flavus, A. clavatus, A. fumigatus, Rhizopus sp, Trichoderma sp, Fusarium sp, F. sacchari, Penicillium citrinum entre outros. Em 20% das amostras, predominou mofos do Grupo flavus. A presença de indivíduos do Grupo flavus, Aspergillus sp, A. niger, Penicillium e Fusarium em 65% das amostras indica a necessidade de estabelecimento de ações, que inibam ou reduzam o desenvolvimento destas populações, uma vez que esses gêneros estão envolvidos com a síntese de micotoxinas. Em função da importância econômica, social, ambiental e nutricional da castanha-do-brasil para a Amazônia, a Embrapa Acre desenvolve, desde 1999, ações para identificar e investigar os diversos aspectos que compõem a cadeia produtiva da casta- nha-do-brasil, como reordenamento das estradas usadas na coleta, identificação dos pontos de contaminação das amêndoas por aflatoxinas, na floresta e dentro das usinas de beneficiamento, viabilidade econômica do sistema de coleta empregado pelos extrativistas e diversificação dos produtos à base de castanha-dobrasil. Concretamente, coleta, amontoa, seleção de ouriços e castanhas na floresta, manejo com revolvimentos diários da castanha úmida, durante cinco a sete dias, no interior dos armazéns secadores testados nas áreas extrativistas (Souza, 2006), separação daquelas já manejadas (secas), armazenamento em local que impeça a recontaminação por pessoas, animais domésticos e protegido das chuvas, contribuirão em muito para manter a qualidade da castanha-do-brasil dentro dos níveis recomendados pela legislação (Souza, 2004). Essas ações receberam apoio financeiro e logístico do Ministério da Agricultura, do MCT/Finep, do CNPq e do Banco da Amazônia, entre outros. Como resulta- dos dessas ações destacam-se: a definição de práticas de manejo e a identificação de pontos críticos de controle durante o beneficiamento da castanha-dobrasil, que possibilita conhecer os perigos aos quais o produto está submetido e permitindo o maior controle das condições ambientais que influenciam diretamente sobre a qualidade das amêndoas, etc. Ainda este ano, outros projetos iniciarse-ão contemplando a definição de práticas de manejo, desde a floresta até o beneficiamento, o treinamento para técnicos e extrativistas, o desenvolvimento de produtos, a definição de metodologia para amostragem, entre outros temas identificados como gargalos na cadeia produtiva da castanha-dobrasil (Santos, 2001). 1. Joana Maria LLeite eite de Souza; Cleisa Brasil da Cunha Cartaxo e LLucia ucia Helena de Oliveira W adt Wadt Embrapa Acre - (68) 3212-3260 [email protected] 2. Felicia Maria Nogueira LLeite eite Secretaria de Extrativismo e Produção Familiar / Governo do Estado Armazenagem é feita próximo à residência das famílias extrativistas. 43 CAMPO & CULTURA A CITRICULTURA BRASILEIRA EM MIL PÁGINAS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Lançado pelo Centro APTA Citros Sylvio Moreira, do Instituto Agronômico (IAC), organiza, em uma só obra, o conhecimento acadêmico, o aplicado e a capacitação de recursos humanos. Com essa finalidade e baseando-se no diagnóstico da demanda de informações do setor, os editores buscaram competências em várias áreas da citricultura e em diferentes instituições do Brasil. Organizado em seis áreas temáticas – história, genética, produção, fitossanidade, resíduos, pesquisa e desenvolvimento, a publicação aborda praticamente todo o conhecimento que envolve a atividade citrícola. Temas como aspectos econômicos, distribuição e características de variedades, botânica, fisiologia, genética, tecnologia de produção, colheita, processamento dos citros e demanda tecnológica da cadeia produtiva, também estão presentes no livro. A obra foi escrita por 82 autores de diversas instituições, a fim de manter forte a competitividade da produção e gerar recursos para proteger o principal ativo do negócio citrícola – os pomares. Citros é direcionado a técnicos, citricultores, cientistas, estudantes de graduação e pósgraduação. O livro é vendido somente no Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, (19) 3546-1399, e-mail: [email protected]. ○ ○ ○ ○ ○ ○ Autores: José Dagoberto De Negri, Rose Mary Pio e Jorgino Pompeu Junior, liderados por Dirceu de Mattos Junior e outros pesquisadores do IAC Páginas: 929 Editora: IAC Preço: R$ 200,00 ○ ○ ○ Autor (Fotos e Textos): Silvestre Silva Site do autor: www.silvestresilva.com.br Páginas: 120 Editora: Escrituras Preço: R$ 59,80 ○ ○ Frutas nativas da região amazônica, do cerrado, típicas do sertão nordestino, frutas exóticas que não parecem frutas. Frutas raríssimas como a jabuticaba branca, frutas com nomes diferentes, como umbu, feijoa, sapoti, bacaba, bacupari, chichá, araçá, butiá, mandacaru, kinkan e pequi se misturam às tradicionais carambola, castanha-do-brasil, guaraná, café, caqui, cacau, laranja e goiaba. Todas estão registradas pelas lentes do fotógrafo e pesquisador Silvestre Silva, no livro Maravilhas do Brasil – Frutas (Wonders of Brazil – Fruits), publicado pela Escrituras Editora. Silvestre Silva nos traz do cerrado toda a beleza do pequi – que se tornou árvore símbolo da resistência contra a destruição dos cerrados para a cultura extensiva de grãos – , a gabiroba, o araticumdo-cerrado, a mama-cadela, a fruta-de-lobo, o murici e a macaúba. Da Mata Atlântica, nos mostra frutas nativas, como palmito-juçara, butiá, cambuci, cambucá, chichá, vários araçás, caraguatá, uvaia, sapucaia e maracujás. No Nordeste, focaliza o caju, a mangaba, o cajá, a pitomba, a pitanga e o jenipapo. E da caatinga, nos mostra o juá, o umbu, o mandacaru, o araticum e o murici. Das frutas introduzidas, o coqueiro, que faz parte do cenário do litoral brasileiro, a jaca, os jambos, a fruta-pão e o sapoti, que também se adaptaram muito bem à região nordestina, e a manga, que veio da Índia e hoje está em todo o País. ○ ○ ○ ○ MARAVILHAS DO BRASIL UVA, MAMÃO E LARANJA Tecnologia de Produção, Pós-Colheita, Comercialização e Mercados para as culturas de uva, mamão e laranja são retratados em três livros da editora Cinco Continentes. As publicações descrevem todo o processo da produção à comercialização da fruta, ressaltando as características adequadas para plantio e cuidados necessários para assegurar a qualidade do fruto. Os livros abordam a importância econômica das culturas, analisando os principais produtores e exportadores no Brasil e no mundo, além da descrição da planta, raízes, folhas, flores, frutos, tipo de clima e de solo apropriados. São apresentadas, também, as principais cultivares, desde os métodos de melhoramento, a orientação para produzir mudas de primeira qualidade e o seu plantio correto no campo até os tratamentos de pós-colheita, embalagem, transporte e o seu armazenamento em condições controladas. Para comprar e saber mais informações acesse www.5continentes.com.br MAMÃO 44 Tecnologia de Produção, Pós-Colheita, Exportação, Mercados Autores: Ivo Manica, David dos S. Martins e José A. Ventura Páginas: 361 Editora: Cinco Continentes Preço: R$ 72,00 UVA Do Plantio a Produção, Pós-colheita, Mercado Autores: Ivo Manica e Celso V. Pommer Páginas: 192 Editora: Cinco Continentes Preço: R$ 59,00 CITRICULTURA Laranja: Tecnologia de Produção, Pós-Colheita, Industrialização e Comercialização Autor: Otto Carlos Koller Páginas: 400 Editora: Cinco Continentes Preço: R$ 89,00. PRODUTOS E SERVIÇOS 45 FRUTA NA MESA SABOR E AROMA DE PÊSSEGO Marlene Simarelli HISTÓRIA E PRODUÇÃO A textura, o sabor e o aroma do pêssego começam a chegar nas mesas dos brasileiros em outubro. “A fruta, apreciada mundialmente, é originária da China, mas o nome provém da Pérsia, que foi erroneamente aceito como país de origem da espécie”, revela o pesquisador Edvan Alves Chagas, do Instituto Agronômico de Campinas – IAC –, seção Fruticultura, em Jundiaí, SP. A adaptação da fruta, típica de clima temperado, às condições brasileiras deve-se às pesquisas do IAC, a partir de 1940, e da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS. “O pessegueiro (Prunus persica L. Batsch) era conhecido no mundo greco-romano, um século antes de iniciar a era cristã. Foi introduzido no País no início do século XVI por Martim Afonso de Souza, por meio de mudas trazidas da Ilha da Madeira e plantadas em São Vicente, SP”, relata Chagas. Ele acrescenta que “o Rio Grande do Sul destaca-se como o principal produtor de pêssegos, com mais de 50% da produção nacional, seguido por São Paulo (21%), Santa Catarina (13%), Paraná (8%) e Minas Gerais (5%). O Rio Grande do Sul produz 90% das frutas destinadas ao processamento. Em São Paulo, o pessegueiro representa a segunda prin- cipal frutífera de clima temperado, destinada principalmente ao consumo in natura, com cultivo em diversas regiões, entre elas, Guapiara, Mogi das Cruzes, Jundiaí e Atibaia”. PÊSSEGO E SAÚDE O pêssego é fonte de sais minerais, vitaminas, fibras, proteínas e frutose, que é o açúcar das frutas. “Podemos destacar em seu conteúdo: cálcio, magnésio, fósforo, potássio, vitaminas C e do complexo B”, afirma Lucia Maranha, coordenadora de Nutrição da Metrocamp – Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas, SP. “O pêssego tem baixo teor energético – cada 100g do fruto possui 36 kcal e 1,4g de fibras. Além de ser saborosa, a fruta possui diversos nutrientes importantes para o organismo, sendo uma boa fonte de vitaminas A, C, K, B5 e ferro, além de ser rica em carotenóides”, explica e acrescenta: “A pectina, fibra insolúvel presente no fruto, reduz a concentração plasmática de colesterol e melhora a tolerância à glicose. O conteúdo de potássio presente no pêssego e demais frutas é um provável fator de proteção para hipertensão arterial e para os acidentes cerebrovasculares.” Em Jarinu, SP, os irmãos Waldir, Edison, Nilton e Ilso Parise plantam as variedades de mesa Aurora, Dourado e Flor da Prince, há oito anos. Por serem mais precoces, a colheita é feita de setembro a novembro. Andreia Musselli Parise aproveita essa época e prepara doce em calda e pavê com a fruta. Para o doce em calda, ela usa 1 quilo de pêssegos sem a casca, ½ quilo de açúcar e ½ litro de água. Primeiro, faz a calda com a água e o açúcar, colocando os pêssegos para ferver apenas por cinco minutos porque são pêssegos macios. “Para quem quer fazer em metades, a dica é primeiro riscar o pêssego até o caroço, torcer as metades para soltá-lo e então descascar”, ensina Andreia. Com o doce pronto, ela prepara o pavê. Para isso, usa dois pacotes de bolacha champanhe e um creme preparado com 1 litro de leite, 1 lata de leite condensado, 1 lata de creme de leite e 4 colheres de amido de milho. Em uma travessa, coloca a metade do creme, as bolachas umedecidas na calda do doce e os pêssegos. Faz várias camadas com a bolacha e o doce. Por último, cobre com a metade reservada do creme, enfeita com pêssegos e leva para gelar.