Mini Paper Series Ano 10
o
Agosto, 2015 – N 241
Disrupção da disrupção: um paralelo entre fitas cassete e cloud computing
Henrique von Atzingen Amaral
ra final da década de 80. Depois das atividades distribuídas
entre os colegas da escola, ficou para mim a missão de
gravar as fitas cassete para o churrasco da sala. E lá estava,
com três fitas TDK de 90 minutos nas mãos, ajoelhado no chão da
sala, botões REC e PAUSE pressionados esperando que a rádio da
moda tocasse os hits do momento. Voltando 160 anos atrás
daquele fatídico dia, encontraríamos um certo senhor Ludwig van
Beethoven praticamente surdo compondo sua maravilhosa 9a
sinfonia.
No tempo de Beethoven, música era privilégio de poucos. Só era
possível ao vivo, diante dos músicos. No final da década de 80 a
música já era bem mais acessível. E agora em 2015 tudo está
totalmente diferente no mundo do entretenimento musical. Um
novo modelo de distribuição musical mudou completamente a
forma com que as pessoas interagem
com a música. Esse modelo se chama
cloud.
Naquele tempo em que eu passei o
domingo pressionando PAUSE, e
várias vezes reclamando dos radialistas
que insistiam em falar em cima das
músicas, o mundo musical era
dominado
por
gravadoras
e
distribuidoras. Os cantores e bandas
trabalhavam na composição, gravação e
divulgação de discos, com várias
músicas. Geralmente duas, ou três
músicas eram as mais famosas, pois
tocavam mais nas rádios.
Para ter as músicas em casa, sem vozes de radialistas tagarelas, as
pessoas compravam LPs (os famosos discos de vinil) ou CDs, que
eram tocados em aparelhos de som. Nas salas de visitas, o
aparelho de som tinha seu espaço privilegiado assegurado.
Pensem agora que se a sala de visitas daquela época fosse um data
center, o aparelho de som seria o servidor, os LPs e CDs seriam as
mídias onde estão gravados os softwares, isto é, as músicas! Era
comum ver lojas e mais lojas de música, para se comprar CDs.
Amigo secreto? CD! Dia dos pais? CD! Aniversário do vizinho?
Vale CD!
Só que no final dos anos 90 o reinado do aparelho de som nas
salas de visitas estava caminhando silenciosamente para o fim. Em
1997 o formato MP3 finalmente foi padronizado e adotado em
larga escala. A música deixara de ser uma faixa, agora era um
conjunto de bits e assim poderia ser entregue de outras formas.
E
Os primeiros MP3 players começaram a aparecer no mercado.
Dezenas de marcas, mas nenhum simples e intuitivo. Foi em 2001
que o iPod surgiu. Um aparelho simples, intuitivo e que colocava
no bolso do cidadão comum milhares de músicas. Junto com ele, o
iTunes, um software de gerenciamento de sua biblioteca de
músicas, com interface inteligente, multiplataforma e gratuito.
O iTunes tomou a indústria musical de solavanco. A partir de
então, as pessoas podiam comprar qualquer música e pagar pela
unidade. Nada mais de pagar por 12 músicas para ouvir apenas um
hit. Com o iTunes, montar a playlist para a festa da escola passou
a tomar apenas alguns minutos. A evolução não parou por aí. Nos
14 anos que seguem a popularização da Internet, o advento do
smartphone, proporcionou uma nova revolução na forma com que
a música se faz presente em nossas vidas.
Agora em 2015 o que manda é a cloud!
No mundo de TI estamos acostumados
com as novas tendências de PaaS
(Platform as a Service) e SaaS
(Software as a Service) onde toda uma
plataforma
computacional
com
integrações complexas ou um software
são contratados como serviço.
Proponho então um novo acrônimo,
MaaS (Music as a Service). É isso que
empresas como Spotify, Deezer e
recentemente Apple, fazem. O
pagamento de uma mensalidade me dá
direito a simplesmente toda a
biblioteca musical do mundo. Agora
não é preciso gastar nem um segundo para montar a playlist.
Todos os tipos de agrupamentos musicais imagináveis são
montados pelo próprio serviço. Vai correr? Tem playlist pronta.
Vai ler um livro? Tem playlist. Vai trabalhar? Tem também.
A tecnologia de cloud está fazendo com a música o mesmo que
vem fazendo em TI. Proporcionando enorme variedade de
serviços, escalabilidade imbatível e preço acessível. Antes eu
gastava meu tempo de domingo gravando três fitas cassete, agora
eu consumo em tempo real um serviço mais amplo, simples e
completo. Ainda pago mais barato que pagava pelas três fitas
cassete.
Para saber mais
Facebook: “Hvon IT Talks”
https://br.linkedin.com/in/henriquevon
Henrique von Atzingen atua há mais de 17 anos no mercado de TI no Brasil e atualmente é Head de Mobilidade da IBM Brasil. É formado em
administração pela UFMG, pós-graduado em Marketing pela FGV e Fundação Dom Cabral, e possui curso de formação executiva da IBM em
Boston com professores de Harvard.O Mini Paper Series é uma publicação quinzenal do TLC-BR e para assinar e receber eletronicamente as
futuras edições, envie um e-mail para [email protected].
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