31/8/2012
Letras EAD
Profª. Leda Szabo
Diacronia da Língua Portuguesa II
Objetivos
ƒ Refletir sobre a constituição social do
português brasileiro;
ƒ Tratar dos aspectos fonêmicos e
morfológicos
g
da evolução
ç da língua
g
portuguesa;
ƒ Discutir questões relacionadas ao
português do Brasil.
Questões sobre a língua
portuguesa no Brasil
ƒ Brasil: País monolingue?
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Língua e unidade
Monolinguismo: Os falantes são unilíngues
(monolíngues), quando, nas suas comunicações no
interior de uma mesma comunidade soiolinguística,
utilizam somente uma língua (resumo das
diferenças dos níveis de linguagem).
(Fonte: DUBOIS, J. Dicionário de linguística. São Paulo, Cultrix)
Língua e unidade
Bilinguismo: O bilinguismo é a situação linguística
na qual os falantes são levados a utilizar,
alternativamente, segundo os meios ou as
ç
, duas línguas
g
diferentes.
situações,
(Fonte: DUBOIS, J. Dicionário de linguística. São Paulo, Cultrix)
Língua e unidade
Multilinguismo: diz-se que o sujeito é plurilíngue
(multilíngue), quando utiliza, no seio de uma
mesma comunidade, várias línguas conforme o
tipo de comunicação (em sua família, em suas
relações
l õ sociais,
i i em suas relações
l õ com a
administração etc).
(Fonte: DUBOIS, J. Dicionário de linguística. São Paulo,
Cultrix)
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Brasil multilíngue
ƒ Língua oficial: língua dos documentos.
ƒ Língua nacional: língua de unidade
unidade.
ƒ Língua materna: língua aprendida no seio
familiar.
Português: língua oficial do
Brasil
“Assim é que, ao adotar uma língua como oficial por
meio de lei, uma nação plurilíngüe está não apenas
normatizando o assunto,
assunto mas sobretudo explicitando
uma escolha política que, ao oferecer variados graus
de reconhecimento das línguas, visa a contemplar os
interesses dos grupos detentores do poder”. (PAIVA,
1983)
Português: língua oficial do
Brasil
Constituição de 1988, art. 13, caput “A língua
portuguesa é o idioma oficial da República Federativa
do Brasil”.
Art. 210, §2°. O ensino fundamental regular será
ministrado em língua portuguesa, assegurada às
comunidades indígenas também a utilização de suas
línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem.
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Brasil multilíngue
ƒ Línguas indígenas (tupi, guarani, nheengatu,
guarani, tikuna, yanomami, kaingang etc).
ƒ Línguas de imigração (povos imigrantes: italiano,
espanhol, alemão, inglês, japonês etc.).
ƒ Línguas de fronteiras (dialetos fronteiriços).
ƒ Línguas afro-brasileiras (comunidades
quilombolas).
ƒ Línguas de sinais.
Língua e composições
Substrato: designa toda língua falada que, numa
região determinada, por várias razões, foi
substituída por outra língua, cumprindo tomar em
consideração
ç a influência q
que a língua
g anterior p
pode
ter sobre a língua que a sucedeu.
(Fonte: DUBOIS, J. Dicionário de linguística. São Paulo, Cultrix)
Língua e composições
Adstrato: denomina-se adstrato a língua ou o dialeto
falado numa região vizinha daquela em que se fala a
língua tomada como referência; o adstrato pode
influenciar esta última de várias maneiras, sobretudo
no léxico
léxico, rarissimamente na morfologia,
morfologia algumas
vezes na fonologia e com certa frequência na sintaxe.
(Fonte: DUBOIS, J. Dicionário de linguística. São Paulo, Cultrix)
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O português do Brasil e as
línguas indígenas
A chegar aqui, os portugueses encontraram os
habitantes nativos que falavam outras línguas.
O colonizador
l i d procurou iimprimir
i i sua id
identidade
tid d
pela força, pela repressão da(s) cultura(s)
local(is), pela imposição da língua portuguesa.
(PAIVA, 1983)
Língua geral
Contudo, a língua portuguesa não se tornou, de
pronto, a língua mais falada no Brasil. Na verdade,
primeiramente firmou-se a hegemonia da “língua
geral”, uma língua de contato que se estabeleceu
g
e o português
p
g
—
entre os falares indígenas
utilizada não apenas pelos índios, mas também
pelos portugueses e escravos — e que prevaleceu
até o século XVIII, quando se tornaram
obrigatórios o uso e o ensino da língua do
colonizador. (PAIVA, 1983)
Língua geral
"a língua de que usam, toda pela costa é uma,
ainda que em certos vocábulos difere em
algumas partes, mas não de maneira que deixem
uns aos outros de entender, e isto até altura de
vinte e sete graus, que daí por diante há outra
gentilidade,
tilid d de
d que nós
ó não
ã temos
t
tanta
t t notícia,
tí i
que falam já outra língua. Esta de que trato, que
é geral pela costa, é muito branda, e a qualquer
nação fácil de tomar". (Pero M. Gandavo,
"História da Província de Santa Cruz" Ed. no
Annuario do Brasil, Rio de Janeiro, 1931, p.73.)
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Língua geral
"Em toda esta província há muitas e várias
nações de diferentes línguas, porém uma é a
principal que compreende algumas dez nações
de índios; estes vivem na costa do mar, e em
uma grande corda do sertão, porém são todos
estes de uma só língua, ainda que em algumas
palavras discrepam e esta é a que entendem os
portugueses; é fácil, e elegante, e suave, e
copiosa, a dificuldade está em ter muitas
composições.” (Cardim, 1939)
A imposição da língua
portuguesa no séc. XVIII
Em 3 de maio de 1757, o Marquês de Pombal,
por meio do Diretório dos Índios — primeiramente
direcionado ao Pará e ao Maranhão, e estendido
ao resto do Brasil em 17 de agosto de 1758 —
“instit i o ensino público
“instituiu
público, torno
tornou violentamente
iolentamente
obrigatório o ensino elementar da língua
portuguesa, destruindo línguas e culturas
indígenas” (CUNHA, 1985, p. 80). (PAIVA, 1983).
Em 1759, Pombal expulsa os jesuítas do
Brasil.
Intervalo
(5 minutos)
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Influências da língua geral
indígena
VOCABULÁRIO
Localidades: Boiçucanga, Curitiba, Itabira,
Marajó, Macapá.
Ri
Rios:
IIguaçu, P
Paranapanema, Pi
Piraí,
í Ti
Tietê
tê
Animais: jacaré, jandaia, tamanduá, jiboia.
Plantas, frutas: abacaxi, caju, mandioca
Comidas: pururuca, pipoca
Questões sobre língua
9Tu tu tupi: Hélio Ziskind.
• Duração: 2min52.
http://www.youtube.com/watch?v=saXzjOClLfw
(acesso em 20 de agosto de 2011).
Língua e composições
Superestrato: designa toda língua que é
introduzida largamente na área de outra língua,
mas sem substituí-la, podendo desaparecer
finalmente e deixando alguns traços.
traços
(Fonte: DUBOIS, J. Dicionário de linguística. São Paulo, Cultrix)
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Influências da língua geral dos
escravos
VOCABULÁRIO
Relações pessoais: xingamento, mangação.
Relações familiares: moleque, caçula.
Corpo humano: bunda
bunda.
Alimentos: acarajé, caruru, vatapá, angu.
Vestimentas: tanga, sunga.
Religião: candomblé, umbanda.
Ritmos, danças, instrumentos musicais: samba,
berimbau.
Línguas dos imigrantes
Historicamente, as variações de pronúncia,
entonação e ritmo observados no Brasil espelham a
expansão heterogênea do português desde a
ç do p
país. Tupi-guarani,
p g
, iorubá,, banto,,
colonização
castelhano, holandês, francês, árabe, alemão,
italiano, inglês são alguns dos idiomas que
influenciaram a variação existente no português
daqui.
Línguas dos imigrantes
reconhecer a pluralidade de nossos falares é uma coisa;
outra é identificar precisamente quais foram as marcas
sonoras determinantes trazidas de outras línguas para
cada falar regional brasileiro.
Para Dinah Callou, da UFRJ, é praticamente impossível
t
traçar
um quadro
d completo
l t d
da variação
i ã di
dialetal
l t le
socialmente diferenciada resultante do contato com outras
línguas no Brasil. Podemos, no máximo, apontar pistas,
assinalar as circunstâncias históricas ou indicar prováveis
fatores que possam ter contribuído para fixar tonalidades
características nos distintos dialetos brasileiros.
(MARQUES, Isadora, 2011)
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Línguas dos imigrantes:
Influências do italiano
LÉXICO
Lasanha: lazanha/lasanha;
Nhoque, Espaguete, Muçarela, Pizza, Talharim,
Ravioli, Panetone etc.
Cantina, fiasco, aquarela, bandolin, camarim,
concerto, maestro, piano, serenata, "tchau".
Gaetaninho (Antônio de
Alcântara Machado)
Xi, Gaetaninho, como é bom!
Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua. O
Ford quase derrubou e ele não viu o Ford. O carroceiro
disse um palavrão e ele não ouviu o palavrão.
— Eh! Gaetaninho! Vem pra dentro.
Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto
tão feio de sardento, viu a mãe e viu o chinelo.
— Súbito!
A língua brasileira:
influências estrangeiras
9Samba do Arnesto: Adoniran Barbosa.
• Duração: 2’32
http://www.youtube.com/watch?v=plOezZ6936Y&feature=related
(acesso em 26 de agosto de 2011).
.
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Intervalo
(5 minutos)
PE x PB: Aspectos fonológicos
Vogais tônicas:
PB: 7 vogais Æ /a/ (-entrada); /є/ (deve), /ê/
(medo), /i/ (viga); /ó/ /ɔ/ avó), /ô/ (avô), /u/
((urubu);
)
PE: 8 vogais Além das 7 vogais acima, Æ/ɐ/
(/tɐʎɐ/) : presente do indicativo).
Vogal /e/ antes de lh, ch é pronunciada /a/
ixpalhu (espelho), fachu (fecho).
Aspectos fonológicos
9
Vogais em posição final:
1. PB: 3 vogais Æ /a/ (casa), /i/ (barbante, pronunciado
[barbãti]), /u/ (-menino, pronunciado [meninu] e mesmo
[mininu]);
1. PE: 3 vogais Æ três vogais, /ɐ/, /ɨ/ e /u/. Assim,
diferentemente do Brasil, /ɐ/ é pronunciado com a
língua mais alta, com timbre mais fechado, /ɨ/ é
pronunciado fechado, mas numa posição mais
posterior do que o /e/ do Brasil. O /u/ tem as mesmas
características fonéticas do /u/ brasileiro.
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Aspectos fonológicos
9 Vogais em posição pós- ou pretônica:
1. PB: 5 vogais Æ /a/ (lâmpada), /ê/ (repleto), /i/
(minuto), /ô/ (colorido), /u/ (cômputo)
1. PP: 8 vogais da posição tônica Æ com a
diferença de que o /ê/ passa a /ë/, numa
pronúncia mais central: /a/, /ä/; /é/, /ë/, /i/; /ó/,
/ô/, e /u/.
PE x PB: Aspectos fonológicos
9 Padrão silábico:
PB:Evitam-se os encontros consonantais:
/adivogado/(advogado), /peneu/ /pineu/
(pneu);
PE: Favorece os encontros consonantais, com
a queda das vogais pretônicas: /tulfón/
(telefone), /tulvsão/ (televisão).
PE x PB: Aspectos fonológicos
9 Ditongos:
PB: /ey/ mantém-se /terreiro/ ou pode
transformar se em /e/: /terrero/;
transformar-se
PE: /ey/ transforma-se em /ay/: /t'rrayro/;
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PE x PB: Aspectos fonológicos
9 Consoantes:
PB: /l/ no final da sílaba transforma-se em /w/:
/maw/ (mal);
/t, d/ antes de /i/ transforma-se em africada:
/tʃia/ (tia), /dƷia/ (dia).
PE: /l/ no final da sílaba mantém-se: /mal/ (mal);
/t, d/ antes de /i/ não se transforma em africada:
/tia/ (tia), /dia/ (dia).
PE x PB: Aspectos fonológicos
Vejam o vídeo Raiz Lusa, sobre a História da
Língua Portuguesa, com Jorge Couto, Ivo
Castro e Cláudio Torres. Prestem atenção à
pronúncia do Português Europeu
Europeu.
Duração: 3’14’’
http://www.youtube.com/watch?v=0kGRR13-ssk
(acesso em 26 de agosto de 2011).
Aspectos morfossintáticos
9 Colocação pronominal:
• PB Anteposição do pronome oblíquo ao
verbo Æ João se levantou / Me faz um favor?
(+ oral / - escrito).
escrito)
PE Posposição do pronome oblíquo ao
verbo
Faz-me um favor?
(+ oral / - escrito).
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Aspectos morfossintáticos
9 Uso do gerúndio ou do infinitivo
preposicionado:
• Estou escrevendo. (oral e escrito) [PB]
• Estou a escrever. [PE]
9 Colocação pronominal:
PB Preenchimento da posição sujeito com
pronome do caso reto:
• João, ele fez o trabalho. (+ oral)
Aspectos morfossintáticos
9 Uso do verbo haver para indicar existência:
• PE Usa-se predominantemente o verbo haver
para indicar existência.
Aqui não há nada.
nada
PB Usa-se predominantemente o verbo ter
para indicar existência.
Aqui não tem nada.
Aspectos lexicais
Lisboa: aventuras de José Paulo Paes
tomei um expresso
cheguei de foguete
subi num bonde
desci de um elétrico
pedi cafezinho
serviram-me uma bica
quis comprar meias
só vendiam peúgas
fui dar à descarga
disparei um autoclisma
gritei “ó cara!”
responderam-me “ó pá!”
Positivamente
as aves que aqui
gorjeiam não gorjeiam
como lá
(http://lectusexlibris.blogspot.com/2009/12/lisboa-aventuras-jose-paulo-paes.html
acesso em 26 de agosto de 2011).
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Aspectos lexicais e semânticos
VÍDEOS
A língua será a mesma?
Duração: 2’33
http://www.youtube.com/watch?v=RicJ54xLrv0&feature=related
((acesso em 26 de agosto
g
de 2011))
Português do Brasil,
Português de Portugal
Duração: 1’01’’
http://www.youtube.com/watch?v=U0r2O_QdMmY
(acesso em 26 de agosto de 2011)
Referências
CARDIM, Fernão. Do princípio e origem dos índios do Brasil e de seus
costumes, adoração e cerimônias", in Tratado da terra e da gente do
Brasil. São Paulo, Companhia Editora Nacional,1939).
CUNHA, Celso. A questão da norma culta brasileira. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1985.
GANDAVO, Pero M. "História da Província de Santa Cruz" Ed. no
Annuario do Brasil,
Brasil Rio de Janeiro,
Janeiro 1931,
1931 p.73.)
p 73 )
MARQUES, Isadora. Sotaques da resistência. Língua, 2011.
Disponível em http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11332.
Acesso em: 26/08/2012.
PAIVA, Cláudia Gomes. Brasil, nação monolíngue?Linguasagem –
Revista Eletrônica de Popularização Científica em Ciências da
Linguagem. Ed. 11. Disponível em:
www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao11/artigos_13.php. Acesso em:
26/08/2012.
Boa semana!!!
Profa. Leda Szabo.
Referência de imagens: Banco de imagens
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