Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição on line do Jornal de Negócios
Rui Silveira exige que BdP admita que não tinha
razões para suspendê-lo do BES
Diogo Cavaleiro | [email protected]
O antigo gestor do BES diz ter sempre feito tudo para salvaguardar os interesses do BES,
pelo que não aceita ter sido suspenso de funções. Quer, por isso, que o regulador admita
que errou.
O antigo administrador executivo do Banco Espírito Santo, Rui Silveira, quer que o Banco de
Portugal admita que não havia razões para suspendê-lo de funções logo após a apresentação dos
prejuízos históricos do banco, em Julho passado.
A 30 de Julho, o BES reportou prejuízos de 3.577 milhões de euros, sendo que praticamente
1.500 milhões se deveram a operações "pouco transparentes" como a recompra de obrigações com
perdas e as cartas de conforto para a Venezuela. Nesse mesmo dia, o Banco de Portugal
comunicou que suspendeu de funções três administradores executivos porque não impediram
aquelas operações. No dia seguinte, o suspenso Rui Silveira demitiu-se.
"As razões que me imputam não são aplicáveis", garantiu Rui Silveira na audição de 22 de
Dezembro na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, onde indicou que só
soube da suspensão de funções pelos jornais. O ex-administrador ainda espera que o Banco de
Portugal admita que errou: "O desagravo tem de ser feito". Ou seja, mesmo tendo-se demitido,
quer perder a indicação de que estava suspenso.
De acordo com documentação enviada aos deputados do inquérito parlamentar, Rui Silveira
enviou uma carta ao conselho de administração do Banco de Portugal, com "especial atenção" do
governador Carlos Costa e do vice-governador Pedro Duarte Neves, a 3 de Setembro. "Com a
presente carta – e não obstante ser irreversível a decisão tomada pelo signatário, no dia 31 de Julho
de 2014, de renunciar às funções que até aí desempenhou na administração do BES – trago ao
conhecimento de vossas excelências factos e documentos que, estou certo, levarão vossas
excelências a concluir que nada me há a apontar".
Na carta, o ex-gestor criticou as "decisões genéricas sem a indicação das circunstâncias de
tempo, lugar e modo que minimamente pudessem legitimar os juízos de inculpação formulados".
Actuação "diligente"
O regulador do sector financeiro terá dito que a suspensão se deveu a "falha grave" na sua
actuação, enquanto membro da comissão executiva do BES e enquanto responsável pelo pelouro
da auditoria interna, tanto na comercialização de papel comercial como nas cartas de conforto a
entidades venezuelanas que garantiram o pagamento, pelo banco, de dívida do Grupo Espírito
Santo. Silveira diz ter sempre actuado de "forma absolutamente diligente".
No caso do papel comercial, dívida de curto prazo emitido por sociedades do GES mas
vendida aos balcões do BES, o gestor disse que o departamento de auditoria não tinha de aprovar
a oferta comercial.
Sobre as cartas-garantia à Venezuela, assinadas por Ricardo Salgado e José Manuel Espírito
Santo, Rui Silveira sublinhou que apenas teve conhecimento a 15 de Julho, juntamente com a
restante comissão executiva, e que nesse mesmo dia ordenou a comunicação do tema ao Banco de
Portugal. As assinaturas daqueles dois membros executivos do BES eram suficientes para ratificar
as cartas, pelo que era impossível ter detectado antes, explicou.
Rui Silveira foi suspenso de funções juntamente com Joaquim Goes e António Souto. Não foi
possível ainda obter uma reacção do regulador do sector financeiro sobre esta pretenção. Neste
momento, ainda são desconhecidas as conclusões da auditoria forense que o Banco de Portugal
ordenou ao BES para averiguar responsabilidades individuais na queda do banco.
2014-12-26
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