Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Julien Marc Hannigan Pigot PROJETO FINAL UMA ABORDAGEM PARA A ESTIMAÇÃO DA TAXA DE JUROS NATURAL DO BRASIL São Paulo 2014 2 Julien Marc Hannigan Pigot Uma abordagem para a estimação da taxa natural de juros do Brasil Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Prof°. Dr°. Ricardo Dias de Oliveira Brito – Insper São Paulo 2014 3 Sumário 1 Introdução.....................................................................................................................4 2 Revisão da Literatura...................................................................................................6 3 Metodologia...................................................................................................................7 3.1 O Produto Potencial - Filtros HP e BP........................................................7 3.2 A Taxa Natural de Juros - Filtro de Kalman..............................................8 3.3 Procedimentos Iniciais - Parâmetros e Defasagens..................................10 3.4 Estimações....................................................................................................11 4 Dados............................................................................................................................14 5 Resultados....................................................................................................................17 5.1 Resultados dos Filtros HP e BP..................................................................17 5.2 Resultados dos Procedimentos Iniciais e dos Espaços de Estados...........18 6 Conclusão....................................................................................................................28 Referências.....................................................................................................................29 4 1 Introdução A estabilidade macroeconômica de qualquer país está fortemente relacionada a seu produto interno bruto (PIB) e a sua taxa de juros. A primeira variável econômica, o PIB, que representa toda a riqueza produzida dentro das fronteiras de um país, é relevante pois indica se o país está ganhando ou perdendo em termos de riqueza. Por sua vez, a taxa de juros possui grande influência sobre o equilíbrio interno de um país, devido a seu impacto na oferta e na demanda do consumo agregado e do investimento agregado, quanto no externo, via equilíbrio monetário e taxa de câmbio. O conceito de Produto Potencial ou PIB Potencial, amplamente conhecido e discutido na literatura, deriva da percepção de que uma economia possui um potencial produtivo a ser atingido dadas suas dotações de capital, força de trabalho e terra, sua produtividade e a seu aparato institucional. Quando por acaso uma economia se encontra acima deste potencial, ou seja, a sua produção vigente é superior à de seu potencial produtivo, surgem pressões inflacionárias, que prejudicam as bases da estabilidade macroeconômica. Da mesma forma, a teoria Wickselliana diferencia a taxa de juros entre taxa de juros vigente no mercado, ou taxa monetária, e a taxa de juros que representa o equilíbrio real entre investimento e poupança, ou taxa natural. À medida que a teoria evoluiu, passou a defender que quando a primeira é maior que a segunda, o nível de investimento é menor que o de poupança e a economia se encontra, consequentemente, em um ponto de consumo sub-ótimo. Quando ocorre o oposto, o nível de poupança é inferior ao de investimento e este cresce sem a devida análise de risco-retorno. A relação entre os dois indicadores é clara: desconsiderando-se distorções competitivas e de racionalidade, quando não existe hiato (diferença) entre o produto potencial e o vigente, e a taxa de juros natural e a vigente, a economia opera em plenitude, ou seja, em pleno-emprego e sem pressões inflacionárias – uma “coincidência divina”, segundo Blanchard and Galí (2007). A taxa de juros natural, portanto, é a taxa de juros real de médio prazo de uma economia que resulta na alocação eficiente dos bens da sociedade e que resulta, consequentemente, no equilíbrio dos vários mercados da economia. Nas palavras do 5 próprio Wicksell, “a more accurate, though rather abstract, criterion [of the definition of the natural interest rate] is obtained by thinking of it as the rate which would be obtained by supply and demand if the real capital were lent in kind without the intervention of money” (Wicksell, 1936). O objetivo desta monografia, portanto, é estimar tanto o Produto Potencial da economia brasileira, quanto a Taxa de Juros Natural, através de metodologias de Espaço de Estados, mais especificamente através do Filtro de Kalman. 6 2 Revisão da Literatura A literatura sobre o tema, desde Wicksell, têm se resumido basicamente à menção do conceito de taxa de juros natural para explicar grandes problemas macroeconômicos - como procurou fazer a escola austríaca para a Crise de 1929 – em ambiente de discussão de filosófica da economia. Dentre as principais obras, destacamse “Prices and Production” (1931) de Friederich A. Hayek e “The Great Depression” (1932) de Lionel Robbins. Recentemente, porém, o tema tem sido retomado, como em Laubach and Williams (2003), que estimam a taxa de juros natural e o produto potencial dos Estados Unidos da América, entre 1960 e 2002, baseando-se na aplicação do Filtro de Kalman em uma série de equações auto-regressivas que representam a relação estrutural Investment-Savings (IS) - apresentada por John Maynard Keynes em sua obra “The general Theory of Money, Interest and Employment” (1936) e sintetizada por John Richard Hicks no paper “Mr. Keynes and the Classics: A Suggested Interpretation” (1937) - entre o hiato dos produtos real e potencial e o hiato entre as taxas de juros real e natural, a relação também estrutural entre inflação e o produto potencial - conforme a relação de Phillips – e o hiato da taxa de juros, e a relação entre produção e horas de trabalho. Os resultados por eles obtidos apontam para uma forte relação entre a taxa de juros natural e o produto potencial, e entre os dois hiatos. Laubach e Williams também aplicam a metodologia usada em Hodrick and Prescott (1997), conhecida como Filtro HP, e a usada em Baxter and King (1999) e encontram resultados similares. Baseado nos achados de Laubach and Williams (2003), Duca and Wu (2009) procuram complementar a análise adicionando ao modelo variáveis institucionais como a restrição de reajustes de preços e salários e o limite de depósitos bancários da administração Nixon que impactam, respectivamente, na relação de Phillips e na relação IS. A conclusão dos autores é que estas variáveis afetam o cálculo da taxa de juros natural e do produto potencial. Por fim, outros estudos como Leu and Sheen (2008), Garnier and Wilhelmsen (2005) e Barcellos Neto and Portugal (2009), utilizam a metodologia de Laubach and Williams (2003) para, respectivamente, Austrália, União Europeia e Brasil. 7 3. Metodologia 3.1 O Produto Potencial – Filtros HP e BP Antes de descrevermos o modelo central da estimação do Produto Potencial e da Taxa Natural de Juros do presente estudo, começaremos analisando o resultado da estimação da tendência do Produto através do uso dos filtros de Hodrick-Prescott (HP) e Band-Pass (BP), como em Barcellos Neto and Portugal (2009) e Orphanides and Norden (2002). Estes filtros são usados para decompor séries temporais em duas componentes: a de tendência e a cíclica. A dinâmica do Filtro Hodrick-Prescott consiste na minimização, em relação à componente de tendência τt, da equação , onde (yt – τt)2 representa a variância da componente cíclica (em nosso modelo, o hiato do produto) à qual deve ser somada a variância da diferença entre as primeiras diferenças posteriores e anteriores da componente de tendência. Devemos destacar a importância da constante λ, uma vez que o termo que ela multiplica garante que a minimização de L não se resuma a escolher yt = τt. Usaremos o fator de penalização temporalmente invariante λ = 1.600, como sugerido para séries trimestrais em Hodrick and Prescott (1997). Usando a mesma nomenclatura, a dinâmica do Filtro Band-Pass pode ser descrita como a escolha do vetor Bj,t que minimiza a equação do filtro, como em Baxter and King (1999) 8 Devemos destacar que (i) a extensão da série (134 observação trimestrais entre 1980 e 2012) permite que sacrifiquemos alguns graus de liberdade na aplicação do Filtro BP “simétrico de extensão fixa” (Baxter-King ou Christiano-Fitzgerald) e (ii) supomos que o ciclo de nossa série de PIB real é de 3 anos (12 desvios) a 5 anos (20 desvios). 3.2 A taxa natural de juros - Filtro de Kalman Dadas as características distintas da economia brasileira em relação à americana, adaptaremos o modelo de Laubach and Williams (2003) para as estimações deste trabalho. Para as primeiras séries manteremos o mesmo modelo, sendo a taxa de juros real definida por: (1) onde r é a taxa de juros real ex-ante (aqui calculada como a taxa natural de juros subtraída a expectativa de inflação), gc é a taxa de crescimento do consumo per capita, σ é a elasticidade substituição intertemporal do consumo e ϴ é a taxa de preferência intertemporal. Por sua vez, a taxa de juros natural é definida por: (2) onde é a taxa de juros natural (variável inobservável que buscamos estimar), gt é a taxa de crescimento do produto potencial e zt é uma variável que procura explicar a variância de rt* que não é explicada por de gt (as características de zt serão abordadas com mais detalhe a cada estimação). 9 Em seguida, temos uma equação auto-regressiva do produto potencial: (3) onde yt* é o produto potencial (variável inobservável que estimaremos na primeira estimação), gt é a tendência de crescimento do produto potencial (também uma variável inobservável) e ϵ3,t é um erro i.i.d. (0, σ23). Por fim, consideramos que a tendência do crescimento do produto (gt) segue um passeio aleatório (random walk): (4) onde ϵ4,t é um erro i.i.d. (0, σ24). Os Estados (States) dos Espaços de Estados que criaremos neste trabalho serão as mesmas equações (3) e (4) utilizadas por Laubach and Williams (2003), além da equação de zt cuja estruturação, como foi dito anteriormente, variará de acordo com sua especificação, como mencionaremos mais adiante. Em seguida, definiremos os Sinais (Signals) que serão utilizados no presente trabalho. As equações serão apresentadas conforme os resultados dos testes de LAGs realizados por MQO - Mínimos Quadrados Ordinários (OLS - Ordinary Least Squares) apresentados na sessão 3.3. O primeiro destes é uma equação Investment-Savings (IS) auto-regressiva: (5) 10 onde y ̃t é o hiato do produto (diferença entre o produto vigente, yt,, e o produto potencial, yt*) e ϵ5,t é um erro i.i.d. (0, σ25). O segundo Sinal (Signal) será uma equação que relaciona, de forma similar à relação proposta por Phillips (1958), a taxa de inflação à inflação passada e ao hiato do produto. Diferentemente de Laubach and Williams (2003), porém, não usaremos preços de bens importados como termos de troca dada a não relevância estatística destas após estimações preliminares por MQO, preferindo o uso da taxa de câmbio e a expectativa de inflação: (6) onde πt é a inflação IPCA, πet é a inflação esperada, Xt é a taxa de câmbio e erro i.i.d. (0, 6,t é um ). 3.3 Procedimentos Iniciais - Parâmetros e Defasagens Devido às características do Filtro de Kalman, é necessário que tenhamos valores iniciais (preferencialmente próximos ao valor correto) para os parâmetros a serem estimados para que possamos gerar as séries não observáveis. Desta forma, antes de começar a usar de fato o filtro, regrediremos por MQO cada uma das equações que comporão o primeiro Espaço de Estados do estudo (apresentado na subseção 3.3). Para a equação (3), usaremos a tendência do PIB obtida do Filtro HP como proxy para a taxa natural de juros e estimaremos a diferença de um LAG em uma constante. Para a equação (5), regrediremos o hiato entre o PIB e sua tendência obtida pelo Filtro HP em um AR(2), visto que mais LAG são estatisticamente insignificantes. Por fim, para a equação (6), utilizaremos o mesmo hiato em duas defasagens, a inflação de uma defasagem, a taxa de câmbio atual e o hiato da inflação esperada de uma defasagem. 11 A tentativa de adicionar mais variáveis ou defasagens mostrou-se estatisticamente irrelevante. 3.4 Estimações i. Primeira Estimação - gt constante e estimativa preliminar de y*t Com os parâmetros de cada equação que compõem o Espaço de Estados em mãos, devemos estimar por MV - Máxima Verossimilhança (ML – Maximum Liklihood) o produto potencial brasileiro. Para tanto, utilizaremos como Estados a equação (3), onde gt será tratada como uma constante g, e como Sinais as equações (6) e (5), onde por ora ocultaremos o hiato da taxa de juros. Usando as estimativas das regressões por MQO anteriores como parâmetros iniciais (como discutido na sessão 3.2), aplicamos o Filtro de Kalman e obtemos uma estimativa de yt*. ii. Segunda Estimação - estimativas preliminares de gt Em seguida, aplicamos o Filtro HP à série da taxa real de juros ex-ante para estimaremos (6) novamente, desta vez acrescida do hiato da taxa de juros (rt - r(hp)t). Usaremos os parâmetros desta e os obtidos do Espaço de Estados anterior como os parâmetros iniciais de um novo Espaço de Estados no qual os Estados serão as equações (3) e (4), o mesmo Sinal (5) e o novo Sinal (6). Para evitarmos o dito problema de pileup apresentado por Stock and Watson (1998), que viesa a variância da equação (4), σ24, para zero, calculamos as estatísticas mediana e exponencial de Wald (MW e EW, respectivamente) e as comparamos à tabela dos autores para encontrar o parâmetro λg, a razão mediana não-viesada Sinal-Ruído (signal-to-noise). Estimamos o Espaço de Estados com os mesmos parâmetros iniciais e impondo as condições σ4 = λg*σ3 e para obtermos uma melhor estimativa de gt. iii. Terceira Estimação - z~AR estacionário 12 Estimamos por MQO a tendência do Filtro HP da taxa de juros real ex-ante na estimativa preliminar da taxa de crescimento potencial gt e guardamos seus resíduos como uma estimativa preliminar de zt. Com estes, estimamos por MQO a equação (5), onde a taxa natural de juros do hiato da taxa de juros será substituída pela equação (2) e estimamos também por MQO um modelo auto-regressivo para os mesmo resíduos zt. Desta forma, obtemos as estimativas para os parâmetros iniciais de (2), (5) e (8), onde (8) que utilizaremos no novo Espaço de Estados que possui (3) e (4) como Estados, (5) com a taxa natural de juros r*t no hiato da taxa de juros, (6) e (8) como Sinais e as mesmas duas condições do último Espaço de Estados, acrescidas as condições e . Obtemos assim estimativas mais seguras de y*t, gt e zt com as quais calculamos r*t. iv. Quarta Estimação - zt constante e estimativas preliminares de y*t e gt Usamos o mesmo formato do Espaço de Estados anterior e seus resultados como parâmetros iniciais com uma alteração: consideramos zt uma constante. Assim obtemos estimativas preliminares de y*t e gt. Assim, podemos estimar uma nova estatística de Wald (MW e EW) para evitar que a variância de (8), σ28, seja viesada para zero. v. Quinta Estimação - zt~RW Procuramos então estimar o modelo completo que segue os mesmo moldes do iii., acrescida a condições de que , e onde (8) segue um Passeio Aleatório (RW) (8) 13 Obtemos assim, outras estimativas mais seguras de y*t, gt e zt com as quais calculamos outra r*t. 14 4 Dados i. Periodicidade Embora a periodicidade das séries em questão nos permita estimar o modelo a partir de 1980, à exceção da taxa de inflação esperada, utilizaremos como data-base o ano de 1995 devido ao comportamento explosivo da inflação entre as duas datas mencionadas que notoriamente torna difícil sua explicação econométrica. ii. Produto Real A série trimestral do produto real, denominada Produto Interno Bruto (PIB) A Preços de Mercado: Índice Encadeado Dessazonalizado (Média 2006=100) foi obtida do IPEADATA, oriunda do IBGE/SCN 2000 Trim.. A série está disponível entre os entre os anos de 1980 e 2014. Verificamos, através do teste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF), que a série possui raiz unitária, como é típico das séries de produto. Usaremos a transformação proposta por Laubach and Williams (2003) e multiplicaremos o logaritmo natural da série por 100, de modo que a diferença de um período desta taxa represente a variação percentual do produto real. PIB 520 510 500 490 480 470 460 450 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 Figure 1 -‐ PIB real trimestral dessazonalizado, 1995 -‐ 2014 15 iii. Nível de Preços Para computar o nível de preços da economia, usaremos a série mensal Inflação: IPCA também disponível no IPEADATA, oriunda do IBGE/SNIPC. A série existe para o intervalo 1980.Jan e 2014.Jun. Para obter a série trimestral do indicador, utilizamos a taxa acumulada em três meses da série para os meses de janeiro (T1), abril (T2), julho (T3) e outubro (T4). IPCA 8 7 6 5 4 3 2 1 0 -1 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 Figure 2 -‐ IPCA trimestral, 1995 -‐ 2014 iv. Taxa de Juros Para medir a taxa de juros do país utilizamos a série mensal Taxa de Juros: Overnight/Selic também obtida do IPEADATA, oriunda de BCB Boletim/M. Finan.. A série existe desde 1974.Jan e para utilizá-la foi necessário realizar o mesmo processo de “trimestralização” realizado no IPCA. SELIC 14 12 10 8 6 4 2 0 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 Figure 3 -‐ Taxa de juros Selic trimestral, 1995 -‐ 2014 2014 16 v. Câmbio A série mensal Taxa de Câmbio Comércio Para Compra: Real RS / Dólar Americano (US$) = Média, obtida do IPEADATA e oriunda de BCB Boletim/BP foi utilizada. A série existe desde 1953.Jan e para adaptá-la à periodicidade desejada, tomamos a média dos três meses de cada semestre da série. CAMBIO 4.0 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 Figure 4 -‐ Taxa de câmbio trimestral, 1995 -‐ 2014 vi. Expectativa de Inflação A série mensal Expectativa Média de Inflação - IPCA - Taxa Acumulada Para os Próximos Doze Meses também foi obtida do IPEADATA e é oriunda de BCB Boletim/Ativ. Ec.. Como a série existe apenas a partir de 2001.Jul, para obtermos uma proxy da série trimestral, dividimos a série por doze e calculamos a taxa acumulada em três meses. Em seguida, realizamos um forecast a partir da regressão da série em um AR(4) com constante. Os valores obtidos do forecast desta série são bastante parecido com os valores da série original para o período 2000 - 2014. 17 IPCAE 28 24 20 16 12 8 4 0 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 Figure 5 -‐ Expectativa de inflação IPCA trimestral, 1995 -‐ 2014 5 Resultados 5.1 Resultados dos Filtros HP e BP i. Filtro HP O resultado do uso do Filtro HP conforme apontado em 3.1 está apresentado abaixo: Hodrick-Prescott Filter (lambda=1600) 520 500 480 4 460 2 0 440 -2 -4 -6 1996 1998 2000 2002 PIB 2004 2006 Tr end 2008 2010 2012 2014 Cycle Figure 6 -‐ Decomposição do PIB (Filtro HP) ii. Filtro BP Por sua vez, o resultado do uso do Filtro BP como abordado na subsessão 3.1 está abaixo representado: 18 Fix ed Length Sym metric (Baxter-King) Filter Frequenc y Respons e F unction 520 500 4 1.2 1.0 0.8 480 0.6 2 460 0.4 0 440 -2 0.2 0.0 -4 -0.2 96 98 00 02 04 06 08 10 12 14 .00 .05 .10 .15 .20 .25 .30 .35 .40 .45 .50 cycles/period PIB Non-cyclical Cycle Actual Ideal Figure 7 -‐ Decomposição do PIB (FIltro BP) Observando-se as séries de ciclo resultantes da aplicação dos dois filtros, percebemos que o PIB apresenta comportamento particularmente cíclico, oscilando entre picos e vales a toda hora. O mais marcante dos quais, são o pico pré-Crise de 2008 e o vale resultante da mesma. Embora ambos os métodos sejam bons para destacar pontos de desvio de uma tendência, o que nos ajuda a entender o impacto dos eventos macroeconômicos globais a níveis mais locais, seu uso esbarra em um problema: a estrutura de frequência das séries macroeconômicas. Segundo Guay and St-Ammant (2005), os filtros destacados são eficazes em separar a tendência do ciclo apenas de séries com picos de variância a Business Cycle Levels (entre 1,5 e 8 anos) - o que é um problema visto que as séries típicas de PIB (e macroeconômicas no geral), como destacado para os Estados Unidos por Granger (1966) e para países da OECD por Levy and Dezhbakhsh (2002), possui forma espectral (spectral shape), ou seja, possui pico em altas frequências - um problema que não se verifica no uso do Filtro de Kalman. 5.2 Resultados dos Procedimentos Iniciais e dos Espaços de Estados i. Procedimentos iniciais anteriores ao primeiro Espaço de Estados A primeira estimação do modelo se dá por MQO e refere-se à equação (3), na qual usamos como proxy para o produto potencial a tendência do Filtro HP do PIB. O coeficiente é positivo, indicando que há uma tendência de crescimento natural do PIB. 19 Figure 8 -‐ Primeira estimativa de (3) Em seguida, a estimação de (5) nos indica que a série do hiato do PIB segue um AR(2). Figure 9 -‐ Primeira estimativa de (5) Por fim, a estimativa de (6) nos indica que uma defasagem única da inflação e da diferença entre esta e sua expectativa são relevantes para explicar a inflação futura. Da mesma forma, o hiato do produto em duas defasagens e o câmbio atual também o são. 20 Figure 10 -‐ Primeira estimativa de (6) Utilizamos os resultados acima como os parâmetros iniciais do próximo passo. ii. Primeiro Espaço de Estados A divergência entre os parâmetros inicialmente do primeiro Espaço de Estados e seus resultados, abaixo representados, atesta que a estimação conjunta do modelo trás à tona mais informação que a estimação das equações que o compõe separadamente. Muito embora os valores da constante c(30), de c(51), c(61), c(62) e c(64) sejam muito similares, há forte discrepância quanto ao poder explicativo da segunda defasagem do hiato do produto nele mesmo e em na inflação. Figure 11 -‐ Primeiro Espaço de Estados 21 Em termos da estimativa preliminar do produto potencial que o modelo produziu, podemos perceber que ele atua de forma muito similar aos Filtros HP e BP, com pouca divergência. 520 510 500 490 480 470 460 450 1996 1998 2000 2002 2004 PIBN1F 2006 2008 2010 2012 2014 PIB Figure 12 -‐ Estimativa preliminar do PIB potencial e PIB Utilizamos os resultados deste Espaço de Estados como parâmetros iniciais para o próximo Espaço de Estados para as equações (3) e (6), e a série preliminar do produto potencial para estimar . iii. Procedimentos iniciais anteriores ao segundo Espaço de Estados Quando à equação (5) testada em i. adicionamos o hiato da taxa de juros, a segunda defasagem do hiato do produto torna-se estatisticamente irrelevante e o retiramos do modelo. Figure 13 -‐ Segunda estimativa de (5) Utilizamos os resultados destas estimativas para o próximo Espaço de Estados. 22 iv. Segundo Espaço de Estados O segundo Espaço de Estados também mostra discrepâncias quanto aos valores dos parâmetros iniciais e seus resultados. Figure 14 -‐ Segundo Espaço de Estados Utilizamos os resultados deste Espaço de Estados para as próximas estimações. v. Procedimentos Iniciais anteriores ao terceiro Espaço de Estados Primeiramente, usamos a série preliminar do crescimento inato da taxa natural do PIB para estimar o coeficiente c(20) de (2). Guardamos a série dos resíduos desta série para obtermos uma estimativa preliminar da série zt. Figure 15 -‐ Primeira estimativa de (2) Com esta estimativa preliminar, estimamos novamente a equação (5), desta vez substituindo o termo da taxa natural de juros pela equação (2). 23 Figure 16 -‐ Terceira estimativa de (5) Por fim, estimamos (8) onde zt segue um AR(4), também por MQO. Figure 17 -‐ Primeira estimativa de (8) Utilizaremos como parâmetros iniciais para o próximo Espaço de Estados os resultados do segundo Espaço de Estados para as equações (3) e (6), e os três resultados acima para as demais. vi. Terceiro Espaço de Estados O terceiro Espaço de Estados também mostra discrepâncias quanto aos valores dos parâmetros iniciais e seus resultados. É importante destacar que a série do PIB potencial que ela produz é bastante similar aos resultados obtidos tanto pelos Filtros HP e BP quanto pelos Espaços de Estados anteriores. A série da taxa de crescimento do PIB também apresenta comportamento similar à estimativa preliminar obtida no segundo Espaço de Estados. Contudo, a estimativa de zt apresenta resultados de difícil interpretação teórica ou prática. De antemão podemos esperar que a construção da série r*t será indevida. 24 Figure 18 -‐ Terceiro Espaço de Estados Desta vez, contudo, a estimativa do produto potencial parece seguir a série do PIB quase perfeitamente, o que leva a crer que isto se deva a uma formação conjunta indevida desta, de gt e de zt. 520 510 500 490 480 470 460 1998 2000 2002 2004 2006 P IBN2A RF 2008 2010 2012 2014 PIB Figure 19 -‐ Estimativa do PIB potencial e PIB, zt~AR(4) Conforme o esperado, a série r*t apresenta resultados incompatíveis com nosso entendimento teórico, na ordem de -2.000. Podemos, portanto, destacar este modelo como adequado. 25 vii. Quarto Espaço de Estados Para o presente Espaço de Estados, usaremos como parâmetros iniciais os parâmetros resultantes da estimação do Espaço de Estados anterior. Deste modelo, eliminaremos a equação (8) e em (5), substituiremos os LAGs de zt por uma constante. Figure 20 -‐ Quarto Espaço de Estados Os resultados se assemelham muito aos obtidos no segundo Espaço de Estados. Utilizaremos estes resultados como os parâmetros iniciais do quinto Espaço de Estados e usaremos as séries de PIB (pibt), taxa de juros real ex-ante (rrt), a estimativa preliminar da taxa de crescimento do PIB potencial (gt) e a estimativa preliminar da própria do produto natural (y*t) para obter . viii. Quinto Espaço de Estados Na estimação do quinto Espaço de Estados, a série (8) é reinserida como um Passeio Aleatório (RW) e o termo zt em (5) não é mais considerado como uma constante. 26 Figure 21 -‐ Quinto Espaço de Estados Mais uma vez, a estimação resulta em estimativas aceitáveis para o produto potencial e sua taxa de crescimento, mas ainda muito estranhos para zt, na ordem de 169. 520 510 500 490 480 470 460 1998 2000 2002 2004 PIB 2006 2008 2010 2012 2014 P IB N3 RW F Figure 22 -‐ Estimativa do PIB potencial e PIB, zt~RW Da mesma forma, a estimativa do produto potencial também não condiz com o comportamento esperado de um filtro, provavelmente devido à má-formação conjunta das séries do produto potencial (y*t), sua taxa de crescimento (gt) e zt. Comparando os resultados do produto potencial dos três filtros apresentados no estudo, percebemos que o Filtro BP apresenta maior variabilidade. Quando comparamos 27 os outros dois, percebemos que o comportamento da estimação do Filtro HP parece mais suave em princípio, dado que para seu funcionamento não são necessários parâmetros iniciais difusos. Contudo, o Filtro de Kalman parece ser mais sensível a choques como a Crise de 2008. 520 510 500 490 480 470 460 450 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 BPFPIBTREND HP TRE NDPIB PIBN1F Figure 23 -‐ O produto potencial obtido peloss três filtros: BP, HP e Kalman 28 6. Conclusão A metodologia de Laubach and Williams (2003), utilizada com sucesso para atualizar os dados das séries americanas até 2014, não apresenta resultados convincentes para o caso brasileiro. Inicialmente, quando estimamos unicamente o produto potencial, o Filtro de Kalman apresenta resultados mais suaves que o Filtro HP e mais sensíveis a choques exógenos que possam alterar o comportamento da série, resultando em quebra estrutural. Isso se deve, provavelmente, à maior quantidade de informação de que dispõe este método, fator que o torna mais do que um simples filtro de tendência. Contudo, o modelo apresenta resultados dúbios quanto à estimação das demais componentes propostas, a taxa de crescimento do produto potencial e da componente cíclica da taxa de juros natural. O mais provável é que isto seja decorrente da maior variabilidade das séries de inflação e da taxa de juros, em relação aos dados americanos, que resulta parametrizações menos precisas das equações que compõem o modelo completo. O modelo torna-se mais problemático uma vez que, à medida em que mais estimativas são demandadas, seja unicamente a taxa de crescimento do produto potencial ou esta e a taxa de juros natural, a estimativa do produto potencial perde força e converge para a própria série do PIB. 29 Referências BARCELLOS NETO, Paulo Chananeco F. de; PORTUGAL, Marcelo Savino. The natural rate of interest in Brazil between 1999 and 2005. 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