Rio de Janeiro, 6 de junho de 2008
IDENTIFICAÇÃO
Cirlene Antonia de Abreu Lima Coelho, nascida em 18 de novembro de 1968, natural
de Claudio Manuel Mariana, Minas Gerais.
FORMAÇÃO
Eu sou engenheira geóloga.
Quando eu fazia graduação na Universidade Federal de Ouro Preto havia um
convênio com a Petrobras para os cursos de pós-graduação. Então, eu já tinha
contato com pessoas da Petrobras que faziam pós-graduação lá. Com isso, já
despertou aquele interesse, embora, lá a exploração maior é minério de ferro, tem a
companhia Vale do Rio Doce que me motivou a fazer geologia. Engenharia geológica.
Mas eu sempre tive uma queda pelo petróleo, pelas rochas sedimentares, que são
onde a gente encontra o petróleo. Então, isso e tendo contato com diversas pessoas
da Petrobras foi despertando aquele interesse cada vez maior.
INGRESSO NA PETROBRAS
Eu passei num concurso realizado em 2001, mas eu fui chamada no último dia de
validade do concurso, de dois anos, porque ele foi prorrogado depois de um longo
período que não teve concurso. A Petrobras ficou mais de 10 anos sem ter concurso;
quando voltou a ter concurso eu entrei e fui chamada em 2003. De um concurso de
2001, foi quando eu fiz as provas.
ATIVIDADE ATUAL
Eu trabalho no laboratório de geologia, hoje, o laboratório, o nome atual é
Sedimentologia e Estratigrafia, trabalho como geóloga mesmo, na descrição de
amostras, acompanhamento de poços que estão sendo perfurados.
COTIDIANO
É bastante agitado, porque a gente dá suporte tanto pro pessoal dos ativos de
produção, que é parte reservatório, quanto da exploração mesmo, as locações novas
que a gente, que está tendo agora, que a gente está, aí, com o foco no Pré-sal. Então,
assim, está tendo várias locações e a gente tem trabalhado intensamente nisso daí,
dando o suporte com as descrições de rocha de poços antigos em áreas que, hoje,
estão sendo mais aprofundadas pra verificar se tem petróleo nas camadas abaixo do
sal. Do pré-sal, que é chamado de pré-sal. Então, assim, a rotina é bem acelerada,
assim, têm fases. E nós estamos numa fase bem acelerada, que a gente tem feito
plantão, sábado, domingo, feriado. A gente está aí direto, porque como estão furando
poços importantes - não que os outros não sejam - mas os poços, agora, com esse
foco no pré-sal, a gente tem um acompanhamento mais intenso, porque muita coisa é
nova e não tem muito conhecimento ainda. A gente está correndo atrás pra dar quase em tempo real - a descrição do que está vindo das sondas. Das plataformas de
perfuração, pra dar a informação de rocha, pra ajudar no aprofundamento, na parada
do poço, ajudando mesmo no processo. Como conta muito custo, as sondas são
caras, as tomadas de decisões têm que ser imediatas, então, com isso a gente está
dando esse suporte. Os geólogos de laboratório dão esse suporte, também, junto com
o pessoal das locações.
Eu acompanho o poço desde a descoberta até furar, analisando as rochas. Enquanto
está furando, e, depois que fura a gente pega as rochas, vem, aí, a gente com um
pouco mais de calma, a gente redescreve novamente. E dá outra, fazendo os
relatórios aí pra entendimento.
DESAFIOS
Os desafios são as coisas novas, está vindo muita coisa nova e que a gente tem
pouca gente na Petrobras que tenha conhecimento de igual, das rochas que estão
sendo furadas agora, então, a gente está tendo que correr atrás, com o pouco tempo
que a gente está tendo, porque a gente tem que acompanhar rapidamente, e, esse
desafio de, a curto prazo, a gente tem que dar uma resposta sensata, bem coerente,
porque, às vezes, muitas tomadas de decisões dependem da gente, dos geólogos de
laboratório, pra determinados poços de exploração que estão sendo furados. Então,
isso é um desafio e tanto.
DIVERSIDADE CULTURAL
Isso é muito bom. (risos) A gente começa a conviver com culturas diferentes, pessoas
diferentes, assim. De diversos lugares. Conhecer gente, é, aprende um pouco, ensina
um pouco, então, é tudo, é bem gratificante, assim, esse convívio bem heterogêneo de
(risos) pessoas, assim. De diversos lugares.
FATOS MARCANTES
Eu fiz um ano que é o vivencial, que é chamado. Que é o treinamento no Rio e já vim
direto, lotada aqui em Macaé, no laboratório. Em 2004 eu vim pra cá.
A minha vida aqui foi difícil, porque quando eu fui chamada, nesse último dia... Eu
achava que nem ia mais ser chamada do concurso. Eu estava com um filhinho de 28
dias quando eu fui chamada, aí, tive que vir pra trabalhar. Tive que largar meu filhinho
em Minas, porque tinha que assinar o contrato naquele dia, que era o último dia,
senão, eu perderia a vaga. Não seria chamada mais. Então, desde que eu entrei, eu
entrei fazendo os quatro meses de curso, aí, depois, eu embarquei durante três
meses, fiquei embarcada, tive que desmamar o meu filho, porque eu tive que
embarcar. E fazia parte do programa, eu não tive como mudar isso daí, então, eu
passei embarcando, aí, depois, voltamos de novo pra encerrar o ano com o vivencial.
Com o curso de treinamento pra, aí, depois, ser a lotação. Então, assim, o início da
minha vida na Petrobras foi muito difícil, porque na situação familiar. Que estava. Eu
quase desisti de vir, eu já estava, se não fosse o incentivo, assim, de marido, família:
“Não, vai. Se é isso que você sempre quis, vai. A gente supera as dificuldades e fica
aqui com o filho, mas vai”. Mas foi difícil. (riso)
VIDA DE EMBARCADA
Eu embarquei pelo Espírito Santo. Foram três embarques, embarquei só em mar, não
embarquei em terra. Lá, são sondas no mar. E, a primeira plataforma que eu
embarquei, cheguei, eram 115 homens e só eu de mulher, então, já foi (risos) aquela
coisa, assim. Eu chegando pra embarcar, nenhuma mulher, eu já assustada com
aquilo que era muito novo, mas foi muito bom, as pessoas respeitam bastante. Então,
como eu estava amamentando, eu me senti muito mal no período, porque tive que
ficar sob cuidados médicos lá na plataforma o tempo todo, porque eu enjoava muito,
porque o navio sonda balançava muito, aí, o médico da plataforma cuidava de mim,
assim, mas dando remédio e tudo, e, eu tentando fazer o meu serviço, que era pra
isso que estava lá. Mas passou, foi bom, os outros embarques foram mais tranqüilos,
mas tudo muito assustador, assim, porque era uma coisa muito nova. Então, eu não
tinha noção da dimensão que é a Petrobras, a exploração no mar, por exemplo. Então,
isso aí só indo e vendo pra gente ter noção do que é. Contar, às vezes, a gente não
consegue passar o que é. E as outras pessoas não conseguem passar pra gente
como é realmente, só a gente indo ver. Então, é isso daí.
Foram embarques... Tirando o mal tempo, que eu embarquei num período que estava
bem chuvoso, então, os helicópteros vinham, com períodos bem instáveis. Então, a
gente ficava meio assustada, mas marcava pela novidade mesmo, pelo que era novo
mesmo, porque só indo lá pra ver a novidade.
Era um ritmo, também, acelerado, porque, uma vez que a plataforma está furando, a
gente têm amostras direto pra descrever, então, a gente faz 12 horas de trabalho e, às
vezes, até mais. O fuso horário da gente fica todo atrapalhado, que a gente dorme de
dia trabalha a noite, aí, depende do tanto de material que está saindo, o quão veloz
está a sonda, se ela estiver furando muito rápido a gente têm uma grande quantidade
de material pra analisar rápido, então, acelera. A gente fica acelerado, em ritmo meio
que acelerado, não é como o administrativo que eu estou hoje, que eu trabalho as oito
horas ou um pouco mais, mas com o horário mais light, assim. Na plataforma é intenso
o trabalho.
CIDADES / MACAÉ / RJ
A gente vê que a cidade está crescendo assustadoramente, muito, muito. E a cidade
não está absorvendo todo esse pessoal que está vindo. Aqui, a gente têm poucas
opções de lazer, por exemplo, eu que tenho filhos pequenos. Então, a gente vê que
tem pouca coisa pra se fazer, a não ser, ir a praia, se não tem tempo bom não tem o
que fazer, não tem outra atividade. Não tem um shopping legal, não tem. Agora que
está em vias de ter, mas a cidade oferece muito pouco. A infra-estrutura da cidade é
muito, assim, está muito aquém do que poderia ser, com os royalties que têm, com o
que a Petrobras investe, repassa pra cidade. O que a ANP repassa. Então, poderia
estar melhor.
FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS
A Petrobras tem melhorado consideravelmente, em termos de cursos no exterior. A
gente tem uma possibilidade muito grande de fazer cursos, excursões, trabalhos de
campo no exterior e no Brasil. Mas coisa que, pelo o que os colegas relatam, que
antes eles demoravam 10, 15 anos pra conseguir fazer uma viagem pro exterior, eu,
com cinco anos de Petrobras, já fui três vezes pro exterior em missões de excursões
de campo, em cursos. Então, isso aí tem melhorado muito.
Eu já fui pras Bahamas. Ver os carbonatos, lá, nas Bahamas, uma sedimentação
recente. Já fui pra Hungria, também, ver o sistema de gasificação, assim, que é uma
coisa que a gente, também, está sempre buscando análogos pras coisas que a gente
trabalha. E, agora, uns 15 dias atrás, eu voltei da Califórnia, do Vale da Morte, que a
gente foi, também, numa outra excursão.
Tudo para buscar novos modelos pra gente tentar aplicar aos nossos aqui. Depois, a
gente vê a sedimentação de coisas semelhantes, que agente não têm afloramentos, a
gente não tem isso em superfície, a gente tem em sub-superfície, então, a gente
busca as coisas, hoje, nos lugares aonde tenha aflorando, pra gente tentar botar isso
aí pros nossos modelos, no que está em sub-superfície. Então, é buscando análogos.
SER PETROLEIRA
É uma coisa muito boa. Eu me sinto com muito orgulho de ser. Era uma coisa que eu
sempre, assim, vendo os meus colegas, lá, de pós-graduação, eu, enquanto bolsista
da pós-graduação, que eu era bolsista, não bolsista da Petrobras, mas bolsista do
CNPq com colegas bolsistas da Petrobras, então, assim, o meu desejo era sempre ser
Petrobras. E hoje que estou Petrobras é muito bom. Assim, eu acho que a gente é
muito bem visto em qualquer lugar que vai, falar que a gente é um petroleiro, então,
assim, eu acho que tem todo um respaldo de ser Petrobras. Eu sinto isso.
PROJETO MEMÓRIA
É muito bom, é valorizar o que cada um tem pra poder falar. Cada um tem a sua
história, com certeza. Pra contar, umas mais sofridas outras mais alegres, mas, com
certeza, cada um tem alguma coisa pra contar do período que está aqui dentro, que
tem trabalhado na Petrobras. Acho muito bom, muito importante. (riso) Bem legal essa
iniciativa.
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Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2011