ADMIN ISTRAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA PÚBLICA: COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DO ADMIN ISTRADOR E DO GESTOR ESCOLAR. Kátia Valéria Ataíde e Silva RESUMO: O presente trabalho reflete sobre a prática do administrador e do gestor escolar nos diversos modelos de administração escolar pública: Administração Tradicional; a “Gestão de Qualidade Total” (GQT) e a Gestão Democrática. Objetivou- se identificar as competências e habilidades do administrador e do gestor escolar, bem como, construir uma reflexão teórica para subsidiar a nossa prática pedagógica, para melhoria do ensino e a formação cidadã. Como metodologia de trabalho, utilizou–se a pesquisa bibliográfica e documental, destacando referencias atuais na relevância da temática. Evidencia-se que o modelo de administração escolar tradicional, vem cedendo lugar ao modelo de gestão democrático, fundado no trabalho coletivo e dialógico, em que o gestor escolar agrega a sua prática profissional, novas competências e habilidades, constituindo - se liderança política no processo administrativo e pedagógico na sua totalidade. Os gestores devem refletir e redefinir a sua prática profissional, coerente com a função social e política da educação escolar, voltado à formação cidadã. Torna-se fundamental, o processo de formação profissional continuada e em serviço para esse profissional escolar. Palavras – chave: Administração – Gestão Democrática – Gestor Escolar. Competências – Habilidades. RÉSUMÉ : Le présent travail se veut une réflexion sur la pratique de l’administrateur et du gestionnaire dans les différents modèles d’administration de l’école publique : Administration Traditionnelle; “Gestion de Qualité Totale” (GQT) et Gestion Démocratique. Nous avons voulu identifier les compétences et les habiletés de l’administrateur et du gestionnaire scolaire ainsi qu’élaborer une réflexion théorique qui vienne appuyer notre pratique pédagogique pour l’amélioration de l’enseignement et de la formation civique. Comme méthodologie de travail, nous avons utilisé la recherche bibliographique et documentaire, mettant en relief des références importantes pour la thématique. Nous avons établi que le modèle d’administration scolaire traditionnel est en train de céder la place au modèle de gestion démocratique, fondé sur le travail collectif et dialogique, où le gestionnaire scolaire agrège à sa pratique professionnelle de nouvelles compétences et habiletés, devenant leader politique dans le processus administratif et pédagogique dans sa totalité. Les gestionnaires doivent réfléchir sur leur pratique professionnelle et la redéfinir, en cohérence avec la fonction sociale et politique de l’éducation scolaire tournée vers la formation civique. Le processus de formation professionnelle continue et en service devient fondamental pour ce professionnel scolaire. Mots clés : Administration Compétences – Habiletés. – Gestion Démocratique – Gestionnaire scolaire. 2 Introdução O contexto das profundas e crescentes transformações ocorridas no mundo do trabalho e na sociedade, nas últimas décadas, tem implicado em grandes mudanças no âmbito da administração pública, no campo da educação e assim, na administração educacional escolar. De acordo com Luck (2000), reformas educacionais nacionais juntamente com iniciativas em âmbito estadual e municipal vêm alterando as práticas pedagógicas e as organizações escolares, na tentativa de dar eficácia à escola e universalizar o seu acesso. É notório que o modelo de administração escolar tradicional, ainda vigente em nossas escolas, vem cedendo lugar ao modelo de gestão participativo e democrático, coerente com o projeto de escola cidadã. Apesar da organização escolar apresentar particularidades que a distinguem das restantes organizações, todo este movimento vem refletindo com grande impacto, na concepção de gestão, bem como, no papel do administrador e do gestor escolar, imprimindo-o um perfil profissional, com novas competências e habilidades profissionais, dentre elas: a competência social, a política, a cultural e a pedagógica somadas, evidentemente, ao aspecto afetivo, tão essencial no processo educativo. A abordagem sobre gestão escolar e o novo perfil do administrador e do gestor escolar tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores, os quais tem procurado contribuir para a compreensão maior da referida temática. Os trabalhos de Paro (1991, 1996, 1999, 2007), Oliveira (1998, 2001), Gadotti (1996,1997), Hora (1998), Luck (1997,2000), Libâneo (2001), Romão (1997), Sander (1995) e Ferreira (2001; 2002) são referências fortes da relevância do assunto e da qualidade dos estudos. A tendência atual na educação, com a emergência de novas estruturas organizacionais, mais democráticas, criativas e participativas, tem inquietado todos aqueles que atuam nos sistemas de ensino e mais particularmente, os gestores escolares. Uma questão é recorrentemente levantada: será que realmente no âmbito dessas mudanças educacionais no processo de administração, existe, necessariamente, a exigência de novas competências e habilidades para o administrador e o gestor poder atuar com sucesso no âmbito da direção escolar? Que competências e habilidades são adequadas e realmente necessárias? 3 Neste contexto, percebe-se a necessidade de os gestores escolares refletirem e redefinirem suas práticas, imprimindo-as um novo sentido, pois o papel da gestão como processo mediador e a atuação do gestor escolar constituem-se elementos fundamentais da qualidade da educação. Assim, evidencia-se a coerência da prática estratégica do gestor democrático com o projeto de escola cidadã, pautando-se numa prática política, dialógica e participativa. Assim, ressalta-se, a importância determinante dos cursos de formação e capacitação para os gestores escolares. Uma formação contínua, permanente, e em serviço, estendida não somente aos gestores escolares, mas também, a todas as pessoas envolvidas e interessadas no processo de gestão e processo educativo de qualidade. Objetivos do Estudo Com este trabalho, objetivou-se estudar e analisar os diferentes modelos de administração e gestão da escola pública e identificar, no contexto de cada uma deles, as competências e habilidades do administrador e do gestor escolar. Buscou-se, também, sistematizar a produção científica sobre o tema com vistas a dar subsídios teóricos e conceituais para a reflexão coletiva sobre uma prática pedagógica voltada para a melhoria da qualidade do ensino e para a construção da cidadania. Metodologia Para o desenvolvimento do referido estudo, foi utilizada a pesquisa bibliográfica e documental como metodologia, pois sendo um trabalho estritamente teórico, o contato com vários autores, obras e documentos diversificados, favoreceu consideravelmente a aproximação com o objeto, bem como, a análise e o estudo sistemático sobre a temática em tela. Modelos de Administração e Gestão Escolar: algumas considerações 1 – A Administração Tradicional Clássica A abordagem Clássica da Administração foi concebida no inicio do século XX, a partir do novo panorama industrial estabelecido com a Revolução Industrial. Nesse 4 período, foram elaborados os primeiros trabalhos pioneiros a respeito da Administração, a partir das idéias do americano Frederick W. Taylor (Taylorismo) e o europeu Henry Fayol (Teoria Clássica da Administração). Neste sentido, enquanto a ênfase nas tarefas (divisão racional e técnica do trabalho) é a característica principal da Administração Científica, isto é, do Taylorismo, na Teoria Clássica a ênfase centra-se na estrutura e no funcionamento da organização (todo organizacional planejado e coordenado). Os conceitos de eficiência, eficácia e produtividade eram os critérios básicos da Administração Clássica, concebida sob a lógica econômica e tecnocrática. Foram essas idéias que constituíram por muito tempo a Abordagem Clássica ou Tradicional da Administração e que influenciam até hoje no modelo de Administração pública, na administração e gestão educacional e nos espaços escolares. 1.2 - A Administração Escolar Tradicional Os princípios e idéias do modelo de administração clássica tradicional têm influenciado com grande peso no modelo de administração educacional e escolar. As escolas que se organizam baseadas nesta concepção de administração funcionam à semelhança de uma empresa privada. São administrações puramente formalistas, burocráticas, disciplinadoras e centralistas da organização do poder e da autoridade que desenvolvem relações autoritárias, de dominação e subserviência. Nesse valorizam-se as estruturas organizacionais, modelo de administração com organogramas verticalizados de cargos e funções, em que o poder e a tomada de decisões estão centralizados na figura do chefe, ou seja, “na figura do diretor controlador que é colocado no topo dessa hierarquia, vista como o representante da Lei e da Ordem e responsável pela supervisão e controle das atividades que ai se desenvolve”. (Paro, 1991, p. 132). A administração escolar é orientada por muitas normas, regras e regulamentos impostos, configurando um sistema fechado e burocrático, não admitindo ou, no mínimo, dificultando a participação da comunidade escolar na gestão da escola. De acordo com Libaneo (2001, p. 96), “a organização escolar é tomada como uma realidade objetiva, neutra, técnica, que funciona racionalmente, portanto, pode ser planejada, organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices de eficácia e eficiência”. Nesse contexto escolar com contornos autoritários, conservadores e hierárquicos em que se reforça e reproduz a ideologia capitalista e dominante, a 5 utilização racional dos recursos ressalta o problema da competência técnica no interior da escola. Assim, o diretor escolar, verdadeiro chefe da unidade escolar, terá que ter uma competência estritamente técnica, administrativa, comprometido apenas com a eficiência e a eficácia da organização, devendo desempenhar bem suas funções tecnoburocráticas, principalmente a de agente de controle. Ele deixará, desta maneira, de exercer a sua principal função dentro do âmbito escolar, que é exercer uma liderança política, cultural e pedagógica, cujo objetivo maior seja o de garantir o atendimento das necessidades educacionais, a fim de obter-se a elevação do nível cultural das massas (Hora, 1998). Ainda para Moacir Gadotti (1996, p. 137), “o administrador torna-se o defensor dos interesses do Estado dentro da Escola e não um defensor dos interesses da população no sistema”. 1. O Gerencialismo e a “Escola de Qualidade Total” (EQT) As últimas décadas do século XX e o início do século XXI estão marcadas por profundas transformações de caráter social, político e econômico, configurando um novo e complexo cenário mundial societário. Estas transformações, sobretudo nos anos de 1990, perpassaram todas as esferas de organização social e política sob a influência da ideologia neoliberal e a defesa da economia globalizada, com grande impacto no campo educacional. No Brasil, neste mesmo período, seguindo a tendência mundial, tem-se como estratégia a reforma do Estado, especialmente nas questões concernentes a sua forma de organização e de gestão para atender as novas demandas contextuais colocadas no cenário das políticas neoliberais. Apresenta-se um “novo” modelo de gerenciamento para a gestão pública estatal que vai refletir diretamente no campo das políticas educacionais em todas as suas instancias e níveis e modalidades de ensino. De acordo com Sander (1995), a idéia é aplicar, no setor público, as mesmas concepções e práticas utilizadas no setor privado (empresa), em particular o modelo de gestão de qualidade total. Nos estudos desenvolvidos por Dalila Oliveira (2001) sobre este referido período, ela chama a atenção para a lógica da racionalidade técnica e da administração gerencial tomadas como orientações pelas reformas do Estado e nas reformas educacionais, em que se verifica a transposição das teorias e modelos de organização empresariais e burocráticos escolares, para incorporando, o interior desta do maneira, sistema conceitos educacional e espaços empresariais flexibilidade, agilidade, descentralização, qualidade, liderança, participação, eficiência, como 6 eficácia e produtividade. Trata-se de modernizar a gestão educacional como estratégia importante para garantir a melhoria da qualidade do processo educacional e o sucesso escolar. No Brasil, o modelo de gerencialismo empresarial na educação será expresso no modelo de Escola de Qualidade Total (EQT) 1 desenvolvido por Cosete Ramos, para o contexto da unidade escolar. Para Cosete Ramos (1994), é fundamental a gestão por liderança ou democrática, para o sucesso na implantação deste modelo. Assim, reserva- se ao diretor escolar o papel de líder do processo gerencial e a responsabilidade de tomar decisões, bem como, através do convencimento e de estimulo, obter o envolvimento e a adesão das pessoas da escola. O importante é exercer bem a função de administrador – líder. Assim, a maior exigência do modelo de gestão de Qualidade Total na Escola continua sendo a competência técnica, secundarizando desta maneira, as competências social, política, ética, cultural e pedagógica. A organização escolar, apesar do trabalho em equipe e participativo, com um caráter mais “humano”, continua funcionando aos moldes de empresa capitalista, em que a autoridade e o poder de decisão centralizam - se nas mãos do administrador (o diretor), distanciando-se das discussões políticas que envolvem a prática pedagógica e menosprezando notadamente, o caráter democrático e participativo da gestão, requisitos indispensáveis para a condução da melhoria da qualidade da educação. A administração e a atuação do gestor assumem essencialmente características técnicas, afastando-se de qualquer intenção política. Percebe-se que, o modelo gerencial da Escola de Qualidade Total não contempla o verdadeiro sentido político do trabalho participativo, bem como, não está coerente com a função social e política da educação. A proposta do modelo de Gestão Democrática escolar, ao contrário do ideário de Escola de Qualidade Total, apresenta – se como alternativa estratégica e coerente para o trabalho do gestor escolar democrático na construção coletiva e participativa da escola pública de qualidade e cidadã. 3 – A Gestão Democrática Escolar 1 O programa de Escola de Qualidade Total (EQT) desenvolvido por Cosete Ramos abrange basicamente as estratégias de aplicação do “Método Deming de Adninistração” – Método de 14 pontos – do americano W. Edwards Deming e complementado pelos princípios de William Glasser, difusor das idéias de Deming no campo escolar. 7 Com o processo de redemocratização do Brasil, no inicio dos anos de 1980, observou-se uma crescente necessidade de construir e reconstruir mecanismos democráticos e participativos, em todas as esferas da nação. Instalam-se as discussões nacionais sobre as reformas educacionais voltadas para a democratização do ensino, das estruturas centrais de educação, a reestruturação da gestão dos espaços escolares e o anseio por uma escola mais participativa e aberta à comunidade. O que se defendia era uma gestão escolar democrática que favorecesse mecanismos mais coletivos e participativos da comunidade nos rumos da escola pública. No campo da educação, considerando as formulações legais, houve vários avanços, entre eles a ênfase e garantia do principio da “gestão democrática no ensino público” (Art. 206, inciso VI), instituído pela Constituição Federal de 1988 e posteriormente, a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, que traz, em seu texto, propostas de mudanças em vários setores da educação, principalmente, nas questões concernentes a sua gestão e descentralização. Ela estabelece como principio a “gestão democrática do ensino público, na forma da lei e da legislação dos sistemas de ensino” (Art. 3, VIII) e define os princípios da Gestão Democrática, sendo a “participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola” e da ”participação das comunidades escolar e local em conselhos de escola ou equivalentes”. (Art. 14; inc. I e II). Neste sentido, a proposta de Gestão Democrática Escolar apresenta-se como novo paradigma de administração escolar. Trata-se de uma nova forma de administrar a educação, fundada no efetivo envolvimento e na participação do coletivo no processo administrativo e no planejamento da prática educativa escolar. Neste modelo de administração escolar, “o poder está no todo e é feito de processos dinâmicos construído coletivamente pelo conhecimento e pela afetividade, constituindo-se em espaço aberto de criação e vivência” (Bordignon & Gracindo in Ferreira, 2001, p. 163). Tal concepção implica desta maneira, em atuar de forma específica na organização educacional. Para Luck (1997), é necessário que se implantem cinco mudanças fundamentais para que a proposta de gestão democrática seja realmente efetivada e assim, cumpra o seu papel social: mudança da ótica fragmentada para a ótica globalizadora; da limitação de responsabilidade para a sua expansão; da ação episódica para o processo contínuo; da hierarquização e burocratização para a coordenação e da ação individual para a coletiva. Nesta perspectiva, a implantação da gestão democrática no espaço escolar requer, 8 principalmente, um repensar da estrutura do poder da escola, tendo em vista a sua descentralização e socialização. Na concepção de gestão democrática escolar o poder é descentralizado, compartilhado, não estando concentrado nas mãos de uma única pessoa, como acontece na proposta de administração clássica ou no modelo de qualidade total. Todas as pessoas são valorizadas e percebidas como agentes e sujeitos da escola, o que não diminui a importância do gestor escolar. Verifica-se a prática da gestão compartilhada, por meio da qual, o poder é delegado, compartilhado com os demais segmentos da unidade escolar cujas responsabilidades são assumidas em conjunto. De acordo com Libâneo (2001, p.79), “a participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática da escola, pois proporciona relações da escola com a comunidade e favorece uma maior aproximação entre professores, alunos e pais”. A participação é um instrumento fundamental capaz de estabelecer relações democráticas e solidárias no âmbito escolar, o que muito contribuirá para a democratização da gestão, sua autonomia e a melhoria da qualidade do ensino. Neste sentido, a criação de espaços participativos na unidade escolar é uma condição básica da gestão democrática, em que se estimula a inovação e a reflexão na organização da escola. Hoje, já existem vários canais de participação na escola pública, a exemplo do conselho escolar, em que todos os segmentos são chamados a participar, conferindo assim, o caráter democrático e participativo da gestão escolar. São espaços para o exercício da democracia e educação política no âmbito da escola pública. As escolas são espaços dinâmicos, complexos, caracterizados por uma rede de relações entre todos os elementos que nelas atuam ou interferem direta ou indiretamente, exigindo-se do gestor escolar que se apresente com uma nova postura, diferentemente, daquelas impressas pela administração escolar burocrática e pela proposta de Escola Qualidade Total, em que para ser um bom administrador escolar cabe apenas ter competência técnica e a capacidade de ser líder, desconsiderando, assim, todo o caráter político e social da sua prática profissional. Na perspectiva de gestão democrática escolar, cabe ao gestor uma atuação mais competente tecnicamente, mas também, uma atuação mais voltada para o social e de cunho político. Só através da visão de conjunto, de totalidade da organização escolar e do processo educativo, o gestor poderá contribuir efetivamente na construção coletiva da escola cidadã. Para isso, deve-se exercer uma gestão com competência técnica, política, pedagógica, ética, e cultural, somadas ao aspecto afetivo, tão importante na 9 condução da gestão democrática da escola pública. Importante ressaltar a capacidade do gestor em trabalhar em equipe, aberto à participação, ao diálogo permanente com a comunidade escolar. Para tanto, é necessário que se estabeleça um clima de confiança, responsabilidade e comprometimento na equipe escolar. Para Luck (2000, p. 42), “a confiança é o cimento fundamental que mantem uma organização unida, facilitando a boa comunicação”. Um outro elemento fundamental para a atuação eficiente do gestor escolar democrático é a competência de interlocução. Não dá para pensar a prática do gestor democrático e participativo sem a competência e habilidade de comunicação, do diálogo e bom relacionamento interpessoal e afetivo no espaço da escola. Portanto, é imprescindível à sua prática profissional, a compreensão global e política dos múltiplos aspectos que estão envolvidos tanto na gestão escolar como no processo pedagógico. Como bem afirma Veiga (1998, p.18), “a gestão democrática exige a compreensão em profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica”. Observa-se, portanto, que a consolidação da proposta de gestão democrática escolar apresenta-se como um grande desafio para os gestores escolares, diante das demandas que lhes são apresentadas por este novo modelo de gestão da escola pública. Neste sentido, aponta-se o investimento, a preocupação com a formação e a capacitação continuada e permanente para os gestores e gestoras especialmente, bem como, para todos os segmentos que convivem e atuam na dinâmica escolar. Partindo da concepção de educação, objeto de provimento pela escola e como apropriação da cultura para a formação integral do homem em sua dimensão histórica, evidencia-se que a proposta de gestão democrática compreende o modelo mais coerente, tanto em seus aspectos administrativos quanto em seus aspectos pedagógicos, na condução de uma educação efetivamente pública, democrática, de qualidade e emancipatória. Conclusão O contexto das transformações ocorridas no mundo do trabalho e na sociedade, nas últimas décadas, tem implicado em grandes mudanças no âmbito educacional e na administração e gestão da escola. Todo esse processo de mudanças refletiu, com grande impacto, na concepção de gestão, na forma de gerir os espaços escolares, bem como, no 10 papel do gestor escolar, imprimindo-o um novo perfil, novas práticas e posturas de trabalho. Hoje, mais do que nunca, o modelo de administração escolar tradicional (empresarial), ainda vigente nas nossas escolas públicas, vem cedendo lugar ao modelo de gestão participativo, democrático e dialógico. Trata-se do processo de superação do modelo autoritário e monocrático de direção escolar pela a adoção de um modelo de gestão colegiada, em que o gestor divide a responsabilidade da gestão da escola de modo participativo e em cooperação com os demais segmentos escolar, nos diversos espaços participativos e democráticos da escola. A atuação do administrador autoritário, controlador e centralizador já não responde as complexas demandas da escola pública na atualidade. Essa postura não está em consonância com a função social e política da educação, comprometida com a formação cidadã dos educandos e educandas. Para contribuir e possibilitar esta formação concebe-se a gestão democrática como uma prática cotidiana nos espaços educativos. Desta maneira, evidencia-se que não basta a competência técnica como requisito básico para a atuação do gestor escolar democrático. É necessário desenvolver novas competências e habilidades: social, política, cultural, pedagógica, somadas evidentemente, ao aspecto afetivo, tão essencial no processo educativo. Desta maneira, evidencia-se a importância da valorização e garantia dos cursos de formação e capacitação para os gestores escolares. É fundamental que esta formação seja continua e permanente, estendida, não somente aos gestores, mas também, a todas as pessoas envolvidas e comprometidas com o processo de gestão escolar. Que ela, não se limite a formação teórica, mas atinja o aspecto político e social, possibilitando aos participantes a vivência de situações práticas no espaço escolar, com discussões, problematizações e troca de experiências. Pensar a escola cidadã em que a educação emancipadora se coloca como fim maior, é conceber e acreditar na gestão democrática escolar, em que se exercita a democracia, a cidadania, formando homens e mulheres participativos, críticos, construtores de uma sociedade mais justa e humana. Há, portanto, que se propagar esta idéia, reforçar este valor, seus significados e suas práticas. 11 REFERÊNCIAS BORDIGNON, G. & GRACINDO, Regina Vinhaes. Gestão da Educação: o município e a escola. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto. & AGUIAR, Márcia Angela. da S. (orgs.). Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000. BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil: Brasília: Senado Federal. Centro Gráfico. 1998. BRASIL. Lei n 9.394/ 96. 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