SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO
FALAR DA CIDADE DE BRAGANÇA
SIMONE NEGRÃO DE FREITAS
BELÉM-PARÁ
2001
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS
NO FALAR DA CIDADE DE
BRAGANÇA
SIMONE NEGRÃO DE FREITAS
ABDELHAK RAZKY
(Orientador)
BELÉM-PARÁ
2001
AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS
NO FALAR DA CIDADE DE
BRAGANÇA
Por
SIMONE NEGRÃO DE FREITAS
Dissertação de Mestrado em Lingüística,
apresentada à Coordenação do Curso de
Pós-Graduação em Letras da Universidade
Federal do Pará.
Orientador: Dr. Abdelhak Razky
Belém, agosto de 2001.
A meu filho,
a minha mãe e a meu pai,
dedico este estudo.
Meus agradecimentos
a Deus, que me deu forças para realizar essa terefa
a Abdelhak Razky, meu orientador, pelo acompanhamento e pelo estímulo
incansável
à professora Regina Celi Mendes Pereira, da Universidade Federal da
Paraíba, pela ajuda inestimável na coleta das fontes mais importantes para este
trabalho
aos professores Joaquim Nepomuceno e Terezinha Nina, por
disponibilizarem material bibliográfico; à professora Carmem Lúcia Rodrigues,
pelas conversas sobre fonética e fonologia do português; à professora Ana Sueli
Arruda, por ceder gentilmente material para pesquisa de campo, no início do
levantamento,
a todos os amigos de Bragança, em especial, à Gorete, ao Edson e ao
Mário, que muito colaboraram durante minha estadia nessa cidade e que, muitas
vezes, mediaram os contatos com informantes
aos informantes, que possibilitaram a coleta do material lingüístico
utilizado neste estudo
aos pequisadores, bolsistas e voluntários do projeto O Atlas Geosociolingüístico do Pará, que muito ajudaram nas transcrições grafemáticas
à Marilúcia Oliveira, pela leitura atenta deste texto, e ao Jorge Albério,
pelo paciente trabalho de formatação
ao Projeto IFNOPAP e ao Campus Universitário de Bragança, pelo apoio
durante a pesquisa nessa cidade
à coordenação e aos funcionários do Curso de Mestrado em Letras da
UFPA, pelas muitas solicitações atendidas nesses anos de curso
e à CAPES, pela bolsa concedida.
Meus agradecimentos muito especiais
à minha família, principalmente, ao Carlinho, Gizelle e Helen
aos amigos Samuel Sá, Raimundo Moraes e Ana Paula Brito, Paulo
Facundes e Rosa de Moraes, Sylvia Trusen, João Carlos Santos e José Carlos
Fernanades,
pela disponibilidade freqüente e pelo encorajamento e apoio inestimáveis.
FREITAS, Simone Negrão de. As vogais Médias Pretônicas no Falar da Cidade de
Bragança. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Pará, Belém, 2001.
RESUMO
Este estudo, orientado pelo método da Sociolingüística Quantitativa, examina o
comportamento das vogais médias pretônicas /e/ e /o/ do falar da cidade de
Bragança-Pará. As estruturas silábicas básicas consideradas foram CV e CVC, em
posição inicial e medial de palavra. Foram submetidos à análise quantitativa dados de
32 informantes estratificadamente distribuídos por faixa etária, sexo, escolaridade e
renda. Os resultados apontaram para: a predominância das variantes médias [e] e
[o], fortemente favorecidas por vogais médias; para a alta ocorrência da variantes
baixas [E] e [•], favorecidas por vogais baixas; e para a menor freqüência das
variantes altas [i] e [u], principalmente favorecidas pela vogal alta da sílaba
seguinte. A contiguidade da vogal contextual foi considerada traço determinante nesses
casos de favorecimento.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ___________________________________________________ 11
2 – AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA _______ 14
2.1 DO PORTUGUÊS ANTIGO AO PORTUGUÊS BRASILEIRO MODERNO _________________14
2.2 ESTUDOS VARIACIONISTAS SOBRE AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DO PORTUGUÊS DO
BRASIL __________________________________________________________________20
3 – A COMUNDADE PESQUISADA ____________________________________ 26
3.1 UM POUCO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA DO MUNICÍPIO ________________________26
3.2 ASPECTOS HUMANOS E ECONÔMICOS ________________________________________28
3.3 A ÁREA URBANA DE BRAGANÇA ___________________________________________28
4 – METODOLOGIA _________________________________________________ 30
4.1 O MODELO TEÓRICO-METODOLÓGICO DA SOCIOLINGÜÍSTICA ____________________30
4.2 O SUBSÍDIO QUANTITATIVO _______________________________________________31
4.3 O PACOTE DE PROGRAMAS VARBRUL _______________________________________33
4.4 AMOSTRA E COLETA DE DADOS ____________________________________________34
4.5 PROCEDIMENTOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS ___________________________37
4.5.1 Material Lingüístico e Codificação ____________________________________________ 37
4.5.2 Sobre o Tratamento Computacional____________________________________________ 38
4.5.2 Rodadas Experimentais _____________________________________________________ 42
4.6 OBJETO E HIPÓTESES ____________________________________________________52
4.7 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS _______________________________________________54
4.7.1 Variáveis Dependentes______________________________________________________ 54
4.7.2 Variáveis Independentes ____________________________________________________ 55
5 – ANÁLISE DOS RESULTADOS ______________________________________ 60
5.1 CONTEXTO VOCÁLICO DA REGRA __________________________________________61
5.2 CONTEXTO CONSONANTAL DA REGRA ______________________________________77
5.3 CONTEXTO DA REGRA EM DOIS EIXOS PARADIGMÁTICOS _______________________87
5.4 O CONTEXTO SOCIAL DA REGRA ___________________________________________98
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________ 107
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ___________________________________ 111
ANEXOS __________________________________________________________ 114
LISTA DE QUADROS E TABELAS
QUADRO 1: PLANO DA AMOSTRA
34
TABELA 1: VOGAL TÔNICA CONTÍGUA
62
TABELA 2: VOGAL ÁTONA CONTÍGUA
63
TABELA 3: VOGAL TÔNICA NÃO-CONTÍGUA
72
TABELA 4: CONSOANTE ANTECEDENTE
78
TABELA 5: CONSOANTE SEGUINTE
79
TABELA 6: CARÁTER ÁTONO DA PRETÔNICA NO PARADIGMA
89
TABELA 7: CLASSE MORFOLÓGICA
95
TABELA 8: ESCOLARIDADE
100
TABELA 9: TIPO DE ATIVIDADE
104
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS – TÔNICAS
17
FIGURA 2: SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS – ÁTONAS
17
FIGURA 3: LITORAL PARAENSE
27
FIGURA 4: ZONA URBANA DE BRAGANÇA – BAIRROS CENTRAIS
29
FIGURA 5: LOCALIZAÇÃO DOS INFORMANTES
36
1 – INTRODUÇÃO
A diversidade lingüística no Brasil compreende a pluralidade de usos do
português brasileiro, a existência de cerca de 180 línguas indígenas, a presença de várias
línguas de imigrantes, além dos dialetos fronteiriços decorrentes do contato lingüístico
português-espanhol. Longe desta diversidade incluir também complexas questões
étnicas, como ocorre em muitos países africanos, ainda assim é preciso que o
reconhecimento deste caráter multidialetal brasileiro tenha conseqüência políticolingüística e lingüístico-cultural. Neste sentido, as políticas para a educação,
particularmente em relação à língua portuguesa e às línguas indígenas, necessitam
incorporar o conhecimento das pesquisas dialetológicas e sociolingüísticas brasileiras
(Cardoso, 1996).
Em relação ao português brasileiro, os estudos da dialetologia e da
sociolingüística têm dado significativa colaboração nas últimas décadas. O esforço na
produção do Atlas Lingüístico do Brasil, através da geolingüística, iniciou-se na década
de 50, cuja primeira proposta – a de realizar o atlas de uma só vez – logo foi substituída,
mais sensatamente, pela proposta de buscar-se a construção do atlas geral através de
atlas regionais. Desta forma, os resultados já alcançados contam com: o Atlas Prévio
dos Falares Baianos (1963), o Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (1977),
o Atlas Lingüístico da Paraíba (1985), o Atlas Lingüístico de Sergipe (1987) e o Atlas
Lingüístico do Paraná (1995). Além desses trabalhos, há outros em diferentes etapas de
realização, como: o atlas lingüístico dos pescadores do Rio de Janeiro, o atlas
lingüístico do Ceará, o atlas lingüístico da Região Sul, o atlas de São Paulo, o atlas do
Acre, o do Mato Grosso do Sul, o do Pará, o do Amazonas e o atlas do Maranhão.
Respeitante à descrição do português falado no Pará, passos
significativos já haviam sido dados em trabalhos desenvolvidos a partir de dissertações
de mestrado e teses de doutorado. Dentre estes trabalhos, “Aspectos do Falar Paraense:
fonética, fonologia, semântica” (Vieira, 1983) e “Aspectos da Variação Fonéticofonológica na Fala de Belém”(Nina, 1991) destacam-se especialmente, o primeiro como
pesquisa dialetológica pioneira em nosso estado, e o segundo como referência
12
indispensável neste estudo por ser pesquisa variacionista sobre as vogais médias
pretônicas do falar de Belém.
Atualmente, a descrição do português falado no território paraense é
tarefa a que se propôs o projeto “O
Atlas Geo-sociolingüístico do Pará”, da
Universidade Federal do Pará, cuja proposta é baseada no ponto de vista
sociolingüístico, considerado “de máxima importância para determinar as condições e
os contextos intra e extra-lingüísticos onde ocorrem a variação e a mudança
lingüísticas”(Razky, 1998). A pesquisa geo-sociolingüística desenvolvida pelo projeto
quer explicar a variação no tempo e no espaço, observando os indivíduos em interação e
as comunidades de falantes, focalizando a variação fonética e a lexical regionais e as
zonas de flutuação e atrito lingüístico das variedades estudadas. Desta forma, o banco
de dados que está sendo construído apresentará uma realidade histórica que, em função
das variações em andamento, poderá indicar as modificações futuras ou, posteriormente,
vir a explicá-las (Razky, 1998).
É dentro deste projeto, que visa ao estudo sociolingüístico e dialetológico
da fala no estado, que se localiza o trabalho agora apresentado – “Vogais médias
pretônicas no falar da cidade de Bragança”, cujo objeto de estudo é a variação das
vogais médias /e/ e /o/ em posição pretônica, na fala da comunidade urbana de
Bragança, examinadas através da Teoria da Variação ou
Sociolingüística
Quantitativa. Parte do tempo dedicado a este estudo foi usado no trabalho de campo,
cujos dados lingüísticos recolhidos também compõem a amostra urbana desse município
no corpus do Atlas Geo-sociolingüístico do Pará.
O presente estudo tem objetivo puramente descritivo. Portanto, pretende
observar exploratoriamente o comportamento dos fatores envolvidos na análise,
focalizando seu efeito provável nas regras variáveis em questão, sem intentar a
construção formal dessas regras.
Os capítulos que compõem esta dissertação apresentam-se, quanto à
distribuição do conteúdo, da seguinte maneira:
13
O capítulo I faz um breve levantamento do percurso histórico das vogais
médias pretônicas na língua portuguesa, do medievo até o estado atual da língua falada
no Brasil, segundo a visão de Silva Neto e Camara Júnior, passando em seguida a
considerações sobre cinco estudos variacionistas, cujas descrições abordaram o
comportamento dessas mesmas vogais em variedades do dialeto gaúcho, do nordestino e
do nortista – concomitante a essa revisão da literatura, já destaco os primeiros elementos
para a proposição das hipóteses. O capítulo II apresenta a região em que se localiza o
espaço urbano que serviu de campo para esta pesquisa – trata-se de uma curta descrição
de aspectos históricos, geográficos, humanos e econômicos do município de Bragança.
O capítulo III trata da metodologia e se subdivide em: item 3.1, que
descreve o modelo teórico-metodológico adotado; item 3.2, que descreve o subsídio
quantitativo que viabilizou este estudo; item 3.3, que apresenta o instrumento para a
análise estatística – o pacote de programas VARBRUL; item 3.4, que relata a atividade
de campo realizada para levantamento dos dados, bem como informa as técnicas aí
utilizadas; item 3.5, que relata os procedimentos do tratamento lingüístico e
computacional dos dados, inclusive as rodadas experimentais, imprescindíveis para a
análise final; item 3.6, no qual é elaborado o problema, descrito o objeto e propostas as
hipóteses; e item 3.7, que define as variáveis consideradas nesse estudo. O capítulo IV
apresenta a discussão dos resultados, apresentados em forma de tabelas. Nesse capítulo
são verificadas as hipóteses e, concomitantemente, comentados os resultados de outros
estudos .
Por último, a conclusão, em que se destacam os principais achados,
seguida das referências bibliográficas e dos anexos.
2 – AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DA LÍNGUA
PORTUGUESA
2.1 DO PORTUGUÊS ANTIGO AO PORTUGUÊS BRASILEIRO MODERNO
“Ante u e o pequeno há tanta vezinhança que quasi
nos confundimos dizendo uns somir e outros sumir e
dormir ou durmir e bolir ou bulir e outras muitas
partes semelhantes. E outro tanto entre i e e
pequeno como memória ou memórea e gloria ou
glorea.”1
Os textos medievais portugueses, quinhentistas e seiscentistas, refletiam
a variação que as vogais médias pretônicas incorporavam na fala desse período. De
outra forma, como ilustra a citação acima, evidenciam esse comportamento variável das
vogais médias pretônicas, as gramáticas e listas ortográficas do século XVI ao início do
século XVIII2, nas quais era censurada a pronúncia de o e e pretônicos como u e i, que
se generalizava em muitos dialetos portugueses. Todavia, é possível relacionar esse fato
a uma tendência bem mais antiga na língua – observa Silva Neto (1986) que desde o
latim vulgar as vogais átonas tendiam para o fechamento, e exemplifica:
fugere>fogir>fugir, muliere>molher>mulher, fo&ratu>furadu(arc.), fora“re>furar;
furaco(arc.)(>buraco);
virtute>vertude>virtude,
carpeàteiro>carpinteiro,
laetitia>lediça>lidiça(arc.).
Mas, ao que a maioria dos testemunhos indica, essa tendência era de
natureza popular e não era a favor dela que argumetava a erudição. O gramático
1
Sobre este trecho de Fernão de Oliveira, Nina (1991, p. 35), como também fez Silva (1989), assinala o
fato de o referido autor, na primeira metade do século XVI, referir-se em contexto pretônico apenas à
alternância o::u; a alternância e::i é citada mas em contexto depois da tônica.
2
Silva (1989, p. 41) comenta que nas gramáticas e ortografias dessa época eram escassas as referências às
vogais antes do acento. Tratavam principalmente da vogal em posição tônica, uma vez que o objetivo
desses trabalhos era quase sempre fixar a norma para a escrita portuguesa, ainda que alguns poucos
autores dessem alguma atenção à descrição da língua falada em comentários secundários, restritos a
alguma variedade do português ou decorrentes das listas de erros.
15
lisboeta D. Jerônimo Contador de Argote3 documentou que, em Lisboa, no início do
século XVIII, o e medial era pronunciado pelas pessoas que “falavam bem” como e
fechado, pedaço, e que em certos lugares do Algarve o e fechado era pronunciado como
i, pidaço, assim como dizer era pronunciado dezer. Dessas três situações de pronúncia
do e e do i no século XVIII, como em pedaço , pidaço e dezer, muito provavelmente
sem se distorcerem as palavras do autor, será possível situar a primeira numa alternância
relacionada a estratos sociais, e a segunda e a terceira numa alternância relacionada a
dialetos regionais.
Quanto à ocorrência das médias pretônicas abertas /E/ e /•/, a
maioria dos gramáticos do português antigo sobre elas não fez menção, possivelmente,
em função de uma certa preferência dialetal, segundo a opinião de alguns pesquisadores.
Mas Fernão de Oliveira, Caetano de Lima, João de Barros, Monte Carmelo e Feijó,
ortógrafos estudados por Silva (1989, p. 45-9), dão notícia direta ou indiretamente da
ocorrência dessas vogais e, portanto, confirmam a variação E::e
e::i
i e •::o
o::u
u no
português antigo. Numa síntese das informações deixadas por esses ortógrafos e
gramáticos, mais exatamente por João de Barros, Feijó e Monte Carmelo, Silva (1989)
afirma que os contextos das vogais médias pretônicas abertas, nas palavras de uma ou
outra dessas listas ortográficas, eram basicamente os mesmos: /•/ aparecia
normalmente antecedendo grupos consonantais do tipo ct, pç, pt, como em nóctivaga,
nóctiluz, adópção, adóptivo; ou precedendo /r/, como em mórtecôr, mórdomo,
córagem; ou em contextos em que incide acento secundário, como em estópada,
sótavento; quanto a /E/,
/E/ aparecia como vogal em que incide acento secundário seguida
de grupos consonantais do tipo cç4, ct, pç, pt, gm, gn, como em objécçãm, conjéctura,
percépçâm, concéptível, esmégmática, régnânte. A autora diz ainda que muitas das
ocorrências de /E/ posicionavam-se antes de /l/, como em Bélgrádo, Bélmonte,
délgado, o que atualmente ainda ocorre no português europeu; assim como também cita
casos em que, em palavras derivadas, a vogal média anterior aberta conserva a
3
4
Em comentário do gramático brasileiro Filipe Franco de Sá, citado por Silva Neto (1986, p. 608).
Em Silva (1989), está grafado cc, que eu creio deveria ter sido grafado cç, muito embora também tenha
encontrado cc em Nina (1991).
16
qualidade da vogal tônica da palavra primitiva, como em séttáda, sélvática5, processo
ainda muito produtivo modernamente em Portugal e no Brasil.
Silva (1989) conclui, a partir das afirmações de Teyssier quando este
estuda João de Barros, que no século XVI era freqüente a ocorrência das pretônicas
abertas, principalmente /E/,
/E/ ou decorrentes de crases antigas6, ou fonologicamente
motivadas em função da presença de certas consoantes, ou morfologicamente
motivadas quando
mantinham a qualidade da tônica primitiva na tônica
secundária de palavra derivada, como foi dito linhas acima. Tal motivação fonológica
bem como a motivação morfológica, a que se refere a autora, são ainda hoje
consideradas como variáveis para a verificação do comportamento aparentemente
assistemático das vogais médias pretônicas, como poderá ser visto linhas adiante
quando forem apresentados os trabalhos variacionistas tomados como referência.
A respeito da pronúncia moderna das vogais médias pretônicas no Brasil,
tomando por base a fala carioca, Silva Neto (1986) descreve-a como oscilante entre a
harmonização vocálica e a pronúncia padrão da língua escrita.
Segundo esse autor,
o /e/ pretônico submete-se a dois tipos de harmonização vocálica - passa a [i]
quando seguido de sílaba com vogal [i],
[i] como passa a [i] quando seguido de
sílaba com vogal [u]:
[u] feliz>filiz, medida> midida, avenida>avinida; veludo>viludo,
seguro>siguro, peludo>piludo. Considera, no entanto, que o segundo caso,
hamonização de /e/ em [i] seguido de sílaba com vogal [u], é menos comum,
acrescentando o exemplo da palavra verdura como um caso em que a oscilação não
ocorre.
O /o/ pretônico, ainda segundo Silva Neto (1986), apresenta-se pela
variação •::o
o::u
u, como em mócótó, côlôsso, côronel, curuja, buneca, sutaque, havendo
exemplos em que a pronúncia é sempre fechada: porseiro, correcto, professor, coração,
coragem, morar - ao contrário da lisboeta que é sempre [u]. Também por
5
Não mais em relação aos contextos de ocorrência, mas em relação às origens da pretônica aberta,
Cardoso (1999, p. 95) comenta o seguinte: “(...) Teyssier (1959, p. 191) apresenta três origens para a
pretônica média aberta documentada (em obra de João de Barros), duas das quais são de caráter
etimológico e uma de natureza morfológica. No primeiro caso estão as formas procedentes do ditongo
latino ae e do hiato ee, já no português; no segundo se incluem os derivados que costumam conservar
em sílaba pretônica a vogal aberta, primitivamente tônica (adverbial, de advérbio).”
17
harmonização, /o/ passará a [u] quando seguido de sílaba com vogal [i]:
[i]
ortiga>urtiga, cobiça>cubiça, moringa>muringa; e ainda quando seguido de sílaba
com vogal [u]:
[u] gordura>gurdura, fortuna>furtuna, cortume>curtume. O referido
autor, entretanto, não comentou as condições para a ocorrência de [•], como também
nem mesmo citou a ocorrência de [E] no dialeto carioca, aí tomado como base para a
pronúncia moderna do Brasil.
Camara Júnior (1991, p. 44), diferentemente de Silva Neto (1986)7,
afirma que essa tendência à harmonização ocorre na presença de uma vogal tônica alta.
Considerada fenômeno não categórico na língua, Camara Júnior(1991) trata da
harmonização quando explica o sistema vocálico do português brasileiro que, segundo
ele, compreende sete vogais em posição tônica, como mostra abaixo a figura 1.
FIGURA 1: SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS – TÔNICAS
Não-arredondadas
Altas
Arredondadas
/u/
/i/
/o/
Médias
/e/
/• /
Médias
/E/
2º grau
1º grau
/a/
Baixa
Posteriores
Central
Anteriores
Nas posições átonas, continua Camara Júnior, não se mantém esse
sistema de sete vogais: suprimem-se duas, ocorrendo apenas cinco vogais (figura 2) na
pauta pretônica.
FIGURA 2: SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS – ÁTONAS
6
7
Este é o único argumento para a ocorrência das pretônicas abertas, segundo Silva Neto (1986).
Também Houaiss (apud. Nina , 1991), em data bem anterior, quando se refere ao comportamento das
vogais médias pretônicas, explica o alteamento por processo semelhante a este exposto por Silva Neto,
como se pode ver nas palavras de Nina: “Esse autor (refere-se a Houaiss) atribui a variação [e]::[i],
[o]::[u] do falar carioca a “certa harmonização vocálica” que a vogal alta da sílaba seguinte
ocasiona e à regularização morfológica que mantém a vogal média. No primeiro caso considera um
processo popular e, no segundo, uma influência da escrita.”
18
Altas
Médias
Baixa
/u/
/i/
/o/
/e/
/a/
Tal supressão foi assim interpretada: em posição pretônica neutralizamse as médias de 1º e 2º graus8, conservando-se as médias de 2º grau /e/ e /o/,
/o/ como
em caf[E] - caf[e]teira, b[E]lo - b[e]leza, s[•]l - s[o]laço, portanto, estando fora da
pauta pretônica as médias de 1º grau /E/ e /•/. Além da neutralização, o referido
fenômeno de harmonização9 também atua sobre as médias pretônicas, elevando-as por
assimilação à vogal alta tônica (Camara Júnior, 1991), surgindo variantes como
p[e]pino ~ p[i]pino, c[o]ruja ~ c[u]ruja, m[e]nino ~ m[i]nino, conh[e]cido ~
conh[i]cido.
A harmonização vocálica, portanto, é fenômeno produtivo na língua
falada do Brasil, como mostra a exemplificação dada por ambos autores, Silva Neto
(1986) e Camara Júnior (1991) que, entretanto, divergem quando o primeiro se refere a
uma vogal alta da sílaba seguinte, e o segundo a uma vogal alta tônica como elemento
assimilador. Ainda em relação a essa questão, desperta curiosidade o fato de terem estes
estudiosos relacionado ao fenômeno da harmonização apenas o alteamento das médias
pretônicas, sem considerarem como efeito de algum tipo de assimilação também a
manutenção /e/, /o/ ou o abaixamento /E/, /•/.
Portanto, a motivação fonológica a que se referiu Silva (1989),
comentada páginas atrás, possivelmente resulta não apenas da vizinhança de consoantes
mas também da vizinhança de vogais, estas especialmente em posição seguinte e,
hipoteticamente, influentes pela altura e pela tonicidade, ao que as opiniões referidas até
aqui sugerem. Além disso, a motivação morfológica referente à retenção da altura da
8
9
Segundo o próprio Camara Júnior (1991), neutralização define-se como fenômeno através do qual há
perda de um traço distintivo, reduzindo-se dois fonemas a uma só unidade fonológica.
A harmonização vocálica das médias pretônicas, segundo Bisol (1996, p. 167), não possui caráter
sistemático e categórico como a neutralização e, portanto, constitui-se numa das variáveis que
19
tônica de palavra primitiva em subtônica de palavra derivada, geralmente tem sido
verificada, mas atualmente considerando-se o traço de altura da tônica de qualquer item
do paradigma, e não apenas da palavra primitiva, como mostrará o subtópico 2.2.
Das abordagens mais antigas às mais recentes, comentadas neste item,
destacou-se ainda a hipótese de haver uma variável extralingüística muito influente no
comportamento das médias pretônicas. Silva Neto (1986) fez supor um fator de natureza
social ou regional, ao reproduzir as palavras de outros autores sobre o português antigo;
mas também Houaiss (apud. Nina, 1991) propõe claramente, para o português moderno,
a interferência da língua escrita para a manutenção das médias, em concorrência com a
atuação da harmonização vocálica no sentido de alteamento dessas vogais.
Portanto, em autores não-variacionistas referidos acima, algum fator
extralingüístico
é
indicado,
além
dos
intralingüísticos,
como
influente
no
comportamento variável das vogais médias pretônicas. Entretanto, em pesquisas
variacionistas, estes fatores de ordem diversa, intralingüísticos e extralingüísticos, são
pressupostos no próprio modelo da análise, que privilegia as relações desses fatores na
estrutura lingüística (Labov, 1972, p. 120-1). È esse aspecto, bem como a natureza
desses fatores, que se quer destacar nos trabalhos sumariamente comentados a seguir.
modernamente têm-se tornado objeto de estudos variacionistas, segundo o modelo proposto por Labov
em 1966.
20
2.2 ESTUDOS VARIACIONISTAS SOBRE AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DO PORTUGUÊS
DO BRASIL
Segundo Nascentes (1953), na sua proposta de divisão para os subfalares
brasileiros, pode-se inicialmente identificar dois grandes grupos – o falar do norte e o
falar do sul – que se distinguem, segundo o autor, pela cadência e pela existência de
vogais médias pretônicas abertas, considerando que os contrastes entre /o/ e /• / e
entre /e/ e /E/ seriam neutralizados em /•/ e /E/ para os falares do Norte, e em
/o/ e /e/ para os falares do Sul10. Essa diferença de realização das vogais médias
pretônicas tornou-se, desde então, um critério importante na caracterização das áreas
dialetais brasileiras.
Neste sentido, vários trabalhos têm sido desenvolvidos a respeito das
vogais médias pretônicas nas últimas décadas, em diversos dialetos, ainda que – é
importante destacar – não tenham se utilizado sempre da mesma metodologia, ou dos
mesmos critérios para definição das amostras, ou dos mesmos parâmetros na definição
do objeto. Boa parte desses trabalhos são de natureza variacionista e, com certas
restrições, esses estudos confirmam a tese de Nascentes a respeito da divisão entre
falares do sul e falares do norte, os primeiros caracterizados pela ocorrência das médias
pretônicas fechadas, e os segundos pela ocorrência das médias pretônicas abertas.
Dentre os estudos variacionistas sobre as vogais médias pretônicas,
passam a ser comentados, destacando-se as variáveis selecionadas nos resultados
10
Nascentes (1953) expõe da seguinte maneira sua proposta para a divisão dos dialetos brasileiros,
sempre referida por estudos sociolingüísticos e dialetológicos: “Dividi o falar brasileiro em seis
subfalares que reuni em dois grupos a que chamei do norte e do sul. O que caracteriza estes dois
grupos é a cadência e a existência de protônicas abertas em vocábulos que não sejam diminutivos nem
advérbios pertencentes a cada um desses grupos. Eles estão separados por uma zona que ocupa uma
posição mais ou menos equidistante dos extremos setentrional e meridional do país. Os subfalares do
norte são dois: o amazonense, que abrange o Acre, O Amazonas, o Pará, e parte de Góias(...) e o
nordestino, que compreende os Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas e parte de Goiás que vai da Serra do Estrondo à nascente do Paraíba. Os
subfalares do sul são quatro: o baiano, intermediário entre os dois grupos, abrangendo Sergipe, Bahia,
Minas (norte, nordeste e noroeste), Goias(...); o fluminense, abrangendo o Espírito Santo, o Estado do
Rio, o Distrito Federal, Minas (Mata e parte do Leste de Minas Gerais); o sulista, compreendendo São
Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas (Sul e Triângulo), Goiás (Sul) e Mato Grosso.”
21
alcançados: o estudo de Bisol (1981) e o de Battisti (1993), com dados do dialeto
gaúcho; o de Silva (1989) e o de Pereira (1997), com dados de dialetos do nordeste
brasileiro; e o estudo de Nina (1991), com dados da fala de Belém – um dialeto do norte
do Brasil .
Bisol (1981) estudou a harmonização vocálica que atua sobre as médias
pretônicas do dialeto gaúcho, em posição interna do tipo CVC. A amostra utilizada foi
representativa da fala popular e da fala culta, cujos 44 indivíduos eram de cinco grupos
sociolingüisticamente distintos – monolíngües metropolitanos (representantes da fala
popular e da fala culta, estes últimos com nível superior); bilíngües de uma área de
colonização alemã (fala popular); bilíngües de uma área de colonização italiana (fala
popular); e monolíngües de uma área de fronteira com o Uruguai (fala popular). A
análise quantitativa realizada por Bisol revelou o uso moderado da regra de
elevação nesse dialeto, confirmando a predominância da realização fechada das
vogais médias pretônicas. As variáveis lingüísticas que se mostraram relevantes nesse
estudo foram: a vogal alta da sílaba seguinte (como em perdição~pirdição,
procissão~prucissão); a nasalidade, que foi favorável ao alteamento da média anterior
/e/ mas desfavorável ao da média posterior /o/ (acendido~acindido, contido e mais
raramente cuntido); as consoantes palatais, labiais e velares, cujos efeitos se
apresentaram da seguinte maneira – as palatais favoreceram o alteamento de /e/ e /o/
na posição seguinte (melhor~milhor, sonhar~sunhar), as labiais favoreceram a
elevação
da
média
posterior
/o/,
/o/
principalmente
em
posição
precedente
(boneca~buneca, política~pulítica), e as velares favoreceram a elevação da média
anterior /e/ tanto em posição precedente quanto seguinte (querido~quirido,
segunda~sigunda) ; outra variável relevante foi o caráter átono permanente da média
pretônica no paradigma derivacional, que se mostrou fator favorável à elevação das
médias (menino, meninice~mininu, mininice; formiga, formigueiro~furmiga,
furmigueiro); e a presença de sufixos, especialmente –inho, –zinho e –íssimo que
funcionaram como inibidores da regra de harmonização vocálica (molinha, pezinho,
belíssimo). Além dessas variáveis, os resultados de Leda Bisol também apontaram
como relevante o fator social etnia, identificando os metropolitanos como o grupo que
mais eleva as vogais médias, ainda que num índice moderado.
22
Battisti (1993) também examinou a harmonização vocálica das médias
pretônicas no dialeto gaúcho, mas em posição inicial de vocábulo. Sua amostra constou
de 35 indivíduos distribuídos em cinco grupos étnicos, representantes da fala popular e
da fala culta (com nível superior), nos moldes da amostra de Bisol(1981). Os resultados
de Battisti apontam para os descendentes de italianos e para os metropolitanos de fala
popular como os grupos
detentores dos maiores índices de elevação das médias
pretônicas. A pesquisadora concluiu, entretanto, que no dialeto gaúcho há
tendência a preservar as médias pretônicas em sílaba inicial, comportamento
também evidenciado em posições internas de acordo com os resultados de Bisol
(1981). Dos contextos analisados por Battisti, destacam-se pelos altos níveis de
elevação: o da vogal /e/ seguida de /s/ e /N/ e o de /e/ e /o/ seguidas por vogal
alta na sílaba seguinte. A respeito de /e/ seguida de /s/ e /N/, a autora comenta que
esta vogal está em vias de perder o caráter variável por nesse contexto a elevação
apresentar-se de forma praticamente categórica; a respeito de /e/ e /o/ seguidas por
vogal alta na sílaba seguinte, em tal contexto ocorre o desencadeamento de um processo
assimilatório da alta sobre a média, o qual se torna, segundo Battisti, evidência de que
não há princípios especiais regendo a harmonia vocálica das médias em posição inicial,
mas que ou nesta posição ou em posição interna estes princípios são os mesmos.
A partir dessa evidência a que se refere Battisti (1993), pode-se dizer que
o exame da pauta pretônica, respeitante à harmonia vocálica, prescinde da restrição
quanto à posição inicial ou medial da sílaba, em função do comportamento semelhante
entre as vogais médias pretônicas de sílabas em cada uma dessas posições.
O estudo de Myrian Barbosa da Silva, que antecedeu o de Battisti (1993),
já não fez restrições a respeito da posição inicial ou medial da sílaba para examinar a
vogal
em
questão,
mas
sua
análise
considerou
principalmente
a
posição
interconsonântica, por ser a mais freqüente (Silva, 1989, p. 77). Esta autora examinou as
médias pretônicas na variedade culta de Salvador, onde detectou a predominância das
vogais baixas. A amostra examinada por Silva (1989) constituiu-se de um segmento de
24 informantes do corpus do Projeto de Norma Urbana Culta de Salvador (Nurc-SA),
distribuídos por sexo e por três faixas-etárias, todos com nível superior. Dentre os
achados dessa pesquisa, temos que na variedade culta de Salvador, nos contextos
23
CVC11, predominam as vogais baixas, como em n[•]vela e n[E]cessário, exceto em
dois contextos: 1) antes de vogal média não-nasal, como em c[o]rreio e c[e]rveja e;
2) antes de vogal alta, onde, na maioria dos casos, ocorrem vogais da mesma altura,
como em p[u]lítica e p[i]rigo. A média pode variar entre alta, média e baixa,
geralmente em posição que antecede vogal alta da sílaba seguinte, como em
n[i]c[i]ssita, n[e]c[e]ssita e n[E]c[E]ssita; em todos os outros contextos,
médias e baixas estão em distribuição complementar.
Também nos resultados de Regina Celi Pereira, destacou-se o efeito da
vogal subseqüente sobre o comportamento da média pretônica que, assim como no
estudo de Silva (1989), incluiu não apenas a manutenção /e/, /o/ e o alteamento
/i/, /u/ mas principalmente o abaixamento /E/, /•/. Pereira (1997) descreveu o
comportamento variável das médias pretônicas no dialeto de João Pessoa, examinando
uma amostra de 60 informantes estratificados por sexo, três faixas-etárias e anos de
escolarização. A pesquisadora constatou que nesse dialeto, nos contextos CV e CVC
de sílaba inicial predominam as vogais médias abertas (s[E]leção, pr[•]jeto,
m[E]rcearia, g[•]stosona); as variantes elevadas [i] e [u] e fechadas [e] e [o]
têm sua ocorrência fortemente favorecida pela vogal da sílaba seguinte (m[i]nina,
c[u]zinha, s[e]tor, m[o]torista) podendo apresentar-se, entretanto, na variação
i::E
E::e
e e u::•
•::o
o diante de vogais altas orais (pr[i]cisa, pr[E]cisa, pr[e]cisa;
p[u]rtuguês, p[•]rtuguês, p[o]rtuguês), como os dados de Silva (1989) também
evidenciaram. Em relação ao efeito das consoantes precedentes e seguintes, Pereira
(1997) concluiu que as labiais favorecem a elevação de /o/ mais que a de /e/, enquanto
as sibilantes seguintes favorecem a elevação de /e/; a vibrante posterior, tanto em
posição precedente quanto seguinte, é favorável à abertura de /e/, enquanto as alveolares
e as palatais precedentes favorecem a abertura de /o/; as palatais precedentes favorecem
o fechamento de /e/, enquanto que a vibrante posterior, em posição precedente e
seguinte, assim como a palatal, em posição seguinte, favorecem o fechamento de /o/.
Quanto aos fatores sociais, os resultados de Pereira (1997) sugerem que o sexo feminino
favorece as variantes não-padrão no dialeto pessoense – [i], [u], [e], [o].
11
Silva (1989, p. 77) trabalhou dados em contexto do tipo CVC, vogal entre duas ou mais consoantes, das
quais a que segue pode não fazer parte da mesma sílaba.
24
É de se notar que, até onde os estudos acima comentados podem apontar,
a tese de Nascentes para os subfalares brasileiros tem se confirmado: no dialeto
riograndense – do sul do país: Bisol (1981) e Battistti (1993) demonstraram a
predominância de [e] e [o]; e nos dialetos de Salvador e de João Pessoa – do
nordeste do país: Silva (1989) e Pereira (1997) apontaram para [E] e [•] como
predominantes. Entretanto, no dialeto paraense, da região norte do país, não se tem
confirmado o predomínio das média abertas [E] e [•] 12.
Nina (1991) estudou o abaixamento e o alteamento das médias pretônicas
/e/ e /o/ em contextos CVC, numa amostra estratificada com 30 belenenses. Os
resultados da análise quantitativa apontaram para a tendência à manutenção de
/e/ e /o/ como médias e para a realização do abaixamento dessas vogais numa
frequência que supera o alteamento; assim como também levaram à conclusão de
que a regra de alteamento atinge mais /o/ que /e/.
/e/ Os grupos de fatores sempre
selecionados na análise estatística, tanto para o alteamento quanto para o abaixamento
de /e/ e /o/,
/o/ foram: vogal da sílaba seguinte, ponto e modo de articulação da
consoante precedente, ponto e modo de articulação da consoante seguinte e
escolaridade. A autora afirma, a partir de seus resultados, que /e/ e /o/ pretônicos
tendem ao abaixamento preferencialmente diante de vogal baixa ; bem como tendem a
se elevarem, principalmente, em contexto de vogal alta da sílaba seguinte e,
secundariamente, em outros contextos. Quanto aos fatores de ordem social, a análise de
Nina revela que a regra de alteamento como a de abaixamento não constituem, nas
palavras da própria autora, “estigma social”, uma vez que se realizam tanto na fala de
informantes com nível superior quanto na de informantes com primeiro grau; em
relação à idade, a pesquisadora destaca que os informantes mais velhos, das duas
últimas faixas-etárias, são os que mais usam a regra de alteamente de /e/; e que os
homens são os que mais aplicam a regra de abaixamento de /o/. Além da análise dos
fatores estruturais e sociais interferentes no comportamento das médias, Nina sugeriu
12
Vieira (1983) apresenta resultados de um estudo fonológico, que embora não tendo como objeto a
variação das vogais médias pretônicas, apresenta um glossário cujo rápido exame aponta o predomínio
das variantes médias [e], [o] em posições pretônicas, no falar de um área paraense que incluiu o
Médio-amazonas e o Tapajós, no oeste do estado. Nas palavras de Silva (1989, p. 75), se esses registros
representam o falar paraense, é possível levantar-se a hipótese de que o Pará, nesse aspecto, constitui
uma ilha dialetal no falar do Norte do Brasil.
25
que um processo de restrição lexical agiria sobre a aplicação das regras de alteamento e
abaixamento.
Até aqui, os trabalhos comentados vinham usando para definição da
consoante antecedente e seguinte, o critério ponto de articulação. Na análise de Nina
(1991), como se pôde ver, também se utilizou o critério modo de articulação, cujo efeito
não pareceu apontar informação estatisticamente diferente do que se obteve com o
critério ponto de articulação. Já o efeito da variável vogal da sílaba seguinte foi
destacado em todos os estudos aqui comentados, desde os que tratam apenas da
harmonização vocálica, no sentido de elevação (Bisol, 1981 e Battisti, 1993), até os que
examinam o comportamento das médias também em termos de abaixamento (Silva,
1989; Pereira, 1997 e Nina, 1991). Tal variável, a vogal da sílaba seguinte, quando
combinada com a informação sobre a vogal tônica deve indicar evidências mais seguras
das condições que favorecem ou desfavorecem quaisquer das variantes concorrentes:
Silva (1989) para o dialeto de Salvador, fez contrastar o efeito da átona contígua ao da
tônica
contígua e da não-contígua; Bisol (1981) e Battisti (1993), para o dialeto
riograndense, contrastaram o efeito da vogal alta em sílaba seguinte ao da seqüência de
altas e ao de outras seqüências, portanto, identificando as vogais seguintes pelo tipo de
seqüência que constituíam.
Outra variável que mostrou relevância foi o comportamento da média no
paradigma derivacional – como verificaram Bisol (1981) e Silva (1989), a maneira
casual ou permanente de a átona pretônica apresentar-se na família de palavras a que
pertence o item lexical da ocorrência, pode favorecer ou não uma das variantes em
questão.
Desses estudos revisitados, as informações colhidas em torno das
variáveis utilizadas, da relevância que adquiriram no processo de análise, orientaram, na
presente análise, a elaboração das hipóteses, a seleção, inserção ou apagamento de
variáveis consideradas desde o início do tratamento dos dados. O capítulo seguinte
desenvolve tais tópicos da metodologia.
3 – A COMUNDADE PESQUISADA
3.1 UM POUCO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA DO MUNICÍPIO
Fundada a 08 de julho de 1613, a freguesia de Nossa Senhora do Rosário
passou a chamar-se Bragança somente após 1735, quando elevada à categoria de vila.
Em 1854 foi elevada à categoria de cidade. Em 1908, concluiu-se a estrada de ferro
Belém-Bragança, após 25 anos do início de sua construção13. Esta estrada foi vital para
o crescimento do município, que se tornou uma economia importante no estado do
Pará.14.
Este município, localizado no nordeste paraense, na micro-região
bragantina, tem uma área de 2.344.100 km². Sua sede, a 200 Km de Belém, está à
margem esquerda do rio Caeté, a 16 Km do oceano Atlântico. Pelo curso do rio, a
cidade pode ser alcançada por pequenas embarcações, que vão além deste porto com a
alta da maré. O rio forma, com outros rios da região, a bacia do Caeté.
Os limites do município são, a norte, o oceano Atlântico, a sul, Santa
Luzia do Pará e Viseu, a leste, Augusto Corrêa e, a oeste, Tracuateua (veja-se o mapa
do litoral paraense).
13
14
“A Província do Pará”, Belém, 28 mar. 1994. Caderno: História dos Municípios do Pará, p. 135-6.
Em 1965, a estrada foi desativada sob o argumento de representar prejuízo ao estado (Hébette, 1989)
27
FIGURA 3: LITORAL PARAENSE
FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Sem edição).
28
3.2 ASPECTOS HUMANOS E ECONÔMICOS
Com uma população urbana de 56.524 habitantes, sendo cerca de 49%
masculina e 51% feminina15, o homem bragantino é ,principalmente, o caboclo
amazônico em cuja cultura estão presentes os traços europeu, índio e negro. Mas, faz-se
notável também a presença de imigrantes nordestinos, principalmente maranhenses.
Em 1994, o município bragantino possuía 240 escolas do pré-escolar ao
2º grau, além dos cursos de interiorização da UFPA em Letras e Matemática; 292 casas
comerciais; 28 indústrias; 01 agência bancária; 01 posto de serviço dos Correios; mais
de 700 terminais telefônicos instalados e 03 postos de serviço da companhia telefônica.
Ainda em 1994, os meios de transporte incluíam rodoviário, fluvial e aéreo (pequenos
aviões); a pecuária apresentava 25.600 cabeças de rebanho vacum; 4.300 cabeças de
rebanho eqüino; e 9.500 cabeças de rebanho suíno. Na agricultura destaca-se a produção
de arroz, coco, feijão, laranja, milho, pimenta do reino e mandioca, esta última
empregada principalmente na fabricação da farinha de mandioca. A principal atividade
do município, entretanto, é a pesqueira, destinada em boa parte à exportação16.
Destacando-se também o potencial turístico, pelas praias e festas populares-religiosas,
como a de São Benedito (Silva, 1997), comemorada no mês de dezembro.
3.3 A ÁREA URBANA DE BRAGANÇA
A área urbana de Bragança é de 1.610 Km², divididos oficialmente em
doze bairros: Aldeia, Alegre, Centro, Cereja, Morro, Padre Luíz, Perpétuo Socorro,
Riozinho, Samaumapara, Taíra, Vila Nova e Vila Sinhá. Fora esses bairros, há áreas de
invasão em terrenos no derredor (veja-se figura 5, à página 37).
15
16
IBGE, Sinopse preliminar do Senso Demográfico 2000, Pará.
“A Província do Pará”, Belém, 28 mar. 1994. Caderno: História dos Municípios do Pará, p. 135-6
29
As atividades econômicas urbanas principais são o comércio de produtos
agrícolas e de pesca da região, de bens e de alimentos industrializados importados de
outras cidades do estado ou do país. Além disso, há presença de pequenas indústrias
como padarias e movelarias, assim como parte considerável dos recursos humanos é
empregado nos departamentos públicos, principalmente nos educacionais. O sistema de
transportes urbanos apresenta uma pequena frota de taxis e ônibus, que saem do centro
da cidade para os bairros do entorno (vejam-se figura 4, figura 5 e fotos anexas de 1 a
6). O transporte fluvial, em razão de a cidade estar à margem do rio Caeté, é feito por
pequenas embarcações, principalmente para o transporte de produtos agrícolas vindos
de vários distritos do próprio município ou de outros municípios – como Augusto
Corrêa, ou de outros estados – como Maranhão.
FIGURA 4: ZONA URBANA DE BRAGANÇA – BAIRROS CENTRAIS
FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Sem edição).
30
4 – METODOLOGIA
4.1 O MODELO TEÓRICO-METODOLÓGICO DA SOCIOLINGÜÍSTICA
Todas as línguas naturais, nos eventos de fala, apresentam um dinamismo
inerente que, freqüentemente, faz surgirem formas diferentes equivalentes ao mesmo
significado. Essa variação, que ao nível da fonético-fonologia, da morfossintaxe ou do
vocabulário contrapõe usos de regiões do território nacional e de grupos sociais
distintos, é o que constitui o objeto de estudo da Dialetologia e da Sociolingüística.
Encarada como uma subárea da Lingüística que estuda as línguas no seio
da comunidade de fala, a Sociolingüística realiza em sua investigação uma correlação
entre aspectos do sistema lingüístico e aspectos do sistema social, focalizando a
variação, entendida “como um princípio geral e universal das línguas, passível de ser
descrita e analisada” (Mollica, 1994). Isto significa dizer que, do ponto de vista
sociolingüístico, a heterogeneidade da língua é passível de sistematização e, portanto, é
previsível em lugar de aleatória.
A investigação deve buscar o grau de estabilidade ou de mutabilidade da
variação, diagnosticando as variáveis que contextualizam as variantes e descrevendo seu
comportamento preditivo. As variantes, ou formas variantes, podem ser entendidas
como equivalentes semânticos que co-ocorrem num dado estado de tempo na língua; as
variáveis constituem-se de parâmetros reguladores que condicionam positiva ou
negativamente o emprego de formas variantes. Em casos de variação, as variantes
podem manter-se estáveis no sistema durante um período ou até por séculos; em casos
de mudança em processo, uma das formas variantes tende a desaparecer e é substituída
por outra ou outras ao longo do tempo.
Dois eixos definem a variação: o eixo diatópico e o eixo diastrático. O
primeiro define as alternâncias regionais e os limites são físico-geográficos; o segundo
define as alternâncias de acordo com os estratos sociais e os limites são sociais. Nessas
31
duas perspectivas, horizontal e vertical, a variação é contínua, sem demarcações
geográficas ou sociais exatas, a não ser que definidas em termos de tendências a
empregos de certas formas as quais são motivadas por condicionamentos diversos.
Mollica (1994) defende que esses fatores de condicionamento que concorrem para o
emprego de formas variantes são em geral em grande número, agem simultaneamente e
emergem de dentro ou de fora dos sistemas lingüísticos.
Portanto, é possível identificar variáveis internas e externas à língua,
sendo que as primeiras incluem os fatores fono-morfo-sintáticos, os semânticos, os
discursivos e os lexicais; e as segundas incluem: os fatores inerentes ao indivíduo,
como sexo, idade e etnia; os fatores sócio-geográficos, como região, escolaridade, nível
de renda, profissão e classe social; e os fatores contextuais, como grau de formalidade e
tensão discursiva.
A Sociolingüística oferece diferentes modelos teórico-motodológicos
para a análise da variação e mudança.
Dentre estes modelos está o da Teoria
Quantitativa da Variação ou Sociolingüística Quantitativa, proposto por Labov desde
1966.
4.2 O SUBSÍDIO QUANTITATIVO
O pressuposto básico do estudo da variação é o princípio de que a
heterogeneidade lingüística não é aleatória, mas é regulada por um conjunto de regras,
as quais são variáveis e funcionam para favorecer ou desfavorecer, variavelmente e com
pesos específicos, o uso de uma ou de outra das formas variáveis em cada contexto
(Labov, 1994). Quanto à natureza, essas regras variáveis podem ser internas ao sistema
lingüístico ou externas a ele. No primeiro caso estão as regras que envolvem fatores de
natureza estrutural, internos ao sistema; no segundo caso estão as regras que envolvem
os fatores sociais, externos ao sistema.
32
O problema central da Teoria Variacionista, no dimensionamento
quantitativo do seu objeto, consiste em como isolar e medir separadamente o efeito de
um fator, quando tal fator nunca se apresenta isoladamente nos dados, uma vez que na
fala real as categorias se apresentam conjuntamente. Na prática, a operação de uma
regra variável é sempre o efeito da atuação simultânea de vários fatores. Portanto, o
cálculo da incidência desses fatores precisa levar em conta as inter-relações existentes
entre eles, ou seja, precisa definir a força de atuação conjunta de categorias presentes
num dado contexto (Naro, 1994).
O subsídio estatístico da Sociolingüística Quantitativa teve seus
fundamentos teóricos lançados em 1974, por Henrieta Cedergren e David SanKoff. Este
modelo substitui freqüências por probabilidades, e considera como função básica de
atuação conjunta de fatores o modelo de efeito simultâneo de fatores independentes, em
que
“O efeito de cada fator na regra variável é
avaliado em um intervalo de 0 a 1, através de uma
função matemática aperfeiçoada por Rousseau e
Sankoff (...) mais conhecida como Função Logística.
Esse modelo de análise quantitativa propõe que, se
o resultado for um número superior a 0.5, há
probabilidade de a regra ser aplicada quando
ocorrer no contexto aquele determinado fator. Um
resultado inferior a 0.5 demonstrará que a presença
daquele fator no contexto não favorece a aplicação
da regra. Já valores próximos a 0.5 indicam que o
fator não desempenha papel condicionante na
aplicação da regra. Dessa forma, fica
definitivamente descartado o caráter opcional da
regra, provando, então, a sistematicidade e
previsibilidade da regra variável.”(Pereira, 1997, p.
22)
33
4.3 O PACOTE DE PROGRAMAS
VARBRUL
Como instrumento para a análise quantitativa utilizou-se o pacote de
programas Varbrul, criado para análise de fenômenos variáveis, constituído basicamente
dos programas Checktok, Readtok, Makecell e Ivarb.
Após a codificação dos dados, o primeiro dos programas a ser rodado é o
Checktok. Este programa necessita ter como entrada, ou input, além do arquivo de
dados, um arquivo de especificação de fatores. Sua finalidade é comparar os símbolos
constantes na cadeia de codificação do arquivo de dados com os símbolos determinados
no arquivo de especificação, na ordem em que foram especificados. Esse programa gera
um arquivo de saída, ou output, que alimentará o segundo programa, o Readtok.
O Readtok é o segundo programa a ser rodado e sua finalidade é ler todas
as ocorrências do arquivo de saída do Checktok, com as devidas correções, e escrever
essas ocorrências corrigidas num arquivo de ocorrências, input para o Makecell. Este
terceiro programa, que já fornece porcentagens, prepara a partir do arquivo de
ocorrências, um arquivo de células, que servirá como input para os programas de regra
variável: o Ivarb, Tvarb ou Mvarb17.
Na presente análise foram utilizados o Ivarb e o Tvarb, respectivamente,
para as rodadas binárias e para as ternárias.
17
Ivarb, Tvarb ou Mvarb, programas de regra variável que fornecerão os pesos relativos, têm pois a
mesma função, distinguindo-se em razão de o primeiro executar os cálculos para análise binária, ou
seja, com duas variantes no grupo da variável dependente; enquanto o segundo – Tvarb, executa
cálculos para a análise eneária de até três variantes; e o terceiro – Mvarb, executa cálculos para a análise
eneária de quatro até cinco variantes (Pintzuk, 1988)
34
4.4 AMOSTRA E COLETA DE DADOS
A amostra inicialmente proposta para este estudo previa 42 informantes
estratificadamente distribuídos, como estabelecido para a pesquisa urbana do projeto “O
Atlas Geo-sociolingüístico do Pará”. O trabalho de campo realizado em Bragança,
resultou em dados de 48 informantes, dos quais 36 foram selecionados para este estudo,
por corresponderem a todos os critérios da seleção.
Posteriormente, a análise
computacional impôs restrições quantitativas que obrigaram um corte mais ou menos
arbitrário na amostra, reduzida de 36 para 32 informantes estratificadamente
distribuídos por sexo, faixa etária, escolaridade e renda, como mostra o quadro abaixo.
QUADRO 1
PLANO DA AMOSTRA
FAIXA ETÁRIA
SEXO
ESC.
S/ ESC. (2)
MASC. (7) 1º GRAU (3)
2º GRAU (2)
S/ ESC. (2)
15 –25 (14)
FEM. (7)
1º GRAU (3)
2º GRAU (2)
S/ ESC. (2)
MASC. (7) 1º GRAU (2)
26 – 45 (14)
2º GRAU (3)
FEM. (7)
S/ ESC. (2)
1º GRAU (2)
2º GRAU (3)
S/ ESC. (3)
MASC. (7)
+ DE 45 (14)
1º GRAU (2)
2º GRAU (2)
S/ ESC. (3)
FEM. (7)
1º GRAU (2)
2º GRAU (2)
BAIXA
AM0b
AM1b
AM1b
AM2b
AF0b
AF1b
AF1b
AF2b
BM0b
BM1b
BM1b
BM2b
BM2b
BF0b
BF1b
BF2b
BF2b
CM0b
CM0b
CM1b
CM2b
CF0b
CF0b
CF1b
CF2b
RENDA
MÉDIA / ALTA
AM1m
AM2m
AF1m
AF2m
BM1m
BM1m
BM2m
BF1m
BF2m
CM0m
CM1m
CM2m
CF0m
CF1m
CF2m
35
Como se pôde notar, as quatro células não preenchidas foram aquelas
correspondentes às faixas etárias de 15 a 25 e de 26 a 45 anos, com renda média e baixa
escolaridade. Os critérios de seleção, os mesmos da pesquisa para o Atlas Geosociolingüístico do Pará, exigem informantes naturais da comunidade pesquisada ou
residentes aí desde a infância; de pais também naturais dessa comunidade; e que não
tenham se ausentado da comunidade por período superior a um ano, principalmente na
fase da infância ou adolescência.
Esses informantes foram selecionados e os dados coletados no período de
junho de 1998 a maio de 1999, na área urbana de Bragança, numa série de cinco viagens
a campo. Na primeira dessas viagens, foram contactadas a coordenação do Campus
Universitário de Bragança e as unidades das secretarias estadual e municipal de
educação, através das quais obteve-se encaminhamento a escolas de ensino fundamental
e médio, onde iniciou-se a seleção de informantes. Além desse meio, foram muito
importantes os contatos com pessoas comuns da cidade18, que muitas vezes ou serviram
de mediadores ou foram os próprios informantes.
As entrevistas foram, na maioria das vezes, marcadas com antecedência,
havendo dessa forma um contato prévio; ou foram realizadas no primeiro contato,
quando este se dava de forma amistosa e o informante concordava, ou mesmo sugeria, a
realização da entrevista naquele momento. Foi aplicada uma ficha de informante19, para
controle dos dados sociais, e realizada a entrevista, cujo assunto girava sempre em torno
da história pessoal, da história e da vida atual da cidade e das suas opiniões pessoais
sobre
assuntos diversos. Para obter material lingüístico onde predominasse
principalmente a espontaneidade do falante, as interferências da entrevistadora
geralmente só ocorreram para estimular a continuação da fala, em gravações de 25 a 30
minutos, realizadas nas residências dos informantes, nos locais de trabalho ou nas
escolas. A figura 5 apresenta a distribuição de residência dos informantes por bairros.
18
A respeito dos procedimentos em campo, principalmente em localidades em que o pesquisador
iniciante não possua vínculos pessoais ou institucionais diretos, há uma série de dificuldades que lhe
devem ser avisadas. Dentre elas a necessidade de encontrar mediadores membros da própria
comunidade que facilitem a tarefa, porque atuam como moderadores da reação de estranhamento ou
rejeição que o contato direto pesquisador-informante pode produzir. Em se tratando de pesquisa que
exija amostra extensa e seleção criteriosa, essas dificuldades somadas ao limite de tempo podem tornarse grandes obstáculos .
19
Ver nos anexos, modelo da ficha de informante.
36
FIGURA 5: LOCALIZAÇÃO DOS INFORMANTES
©
∆
¥
∇
♣
¯
Ï
\
µ
v
♠
%
g
›
V
r
Ä
p
Ù
Y
J
. ³
M
…
[
~
q
£
Í
u
Ö
FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estaística – IBGE (Sem edição).
INFORMANTES
Ù AM0b
∇ AF0b
Ä BM0b
u BF0b
Ï CM0b
~ CM2m
M CF2b
¥ AM1b
v AF1b
› BM1b
J BF1b
³ CM0m
% CF0b
V CF2m
Ö AM1m
£ AF1m
g BM1m
[ BF1m
¯ CM1b
. CF0m
♣ AM2b
© AF2b
r BM2b
p BF2b
Y CM1m
\ CF1b
♠ AM2m
∆ AF2m
µ BM2m
q BF2m
… CM2b
Í CF1m
37
Nas entrevistas foi utilizado gravador Sony TCM-453V; fitas Sony ZX e
Basf FE I, ambas de 60 minutos; microfone unidirecional Aiwa DM-H15; e pilhas
alcalinas Duracell. Os ambientes em que foram realizadas as entrevistas não possuiam
tratamento especial, mas eram áreas reservadas ou livres em que se buscou, dentro do
possível, evitar ruídos interferentes.
4.5 PROCEDIMENTOS PARA O TRATAMENTO DOS DADOS
4.5.1 Material Lingüístico e Codificação
Os dados lingüísticos constituíram- se de 4.094 ocorrências, do tipo
pre'siza, dE'zeàbru, si'guàda, ko'mEhsiw, f•h'maàdu, kus'tura, em que a
realização das vogais médias pretônicas apresentou a alternância e::E
E::i
i e o::•
•::u
u,
retiradas de entrevistas que totalizaram aproximadamente 10 horas de gravação
Inicialmente foi feita a transcrição grafemática dessas entrevistas, depois,
a transcrição fonética dos itens lexicais selecionados para o corpus da análise. A
transcrição fonética20 foi utilizada em função de manter as informações fonéticas
inerentes a cada realização, ainda que nem todas essas informações constituam as
variáveis codificadas para a análise. A transcrição grafemática foi mantida para as
cadeias de ocorrências nos arquivos de dados fornecidos ao Varbrul, que não reconhece
as fontes do alfabeto fonético geralmente usadas nas transcrições fonéticas.
Antes da cadeia de ocorrências em cada arquivo de dados, a cadeia de
codificação incluiu informações codificadas nessa ordem: a variável dependente, as
variáveis independentes lingüísticas e as variáveis independentes sociais. Para uma
20
A transcrição fonética dos itens lexicais, realizada para o corpus desta análise, explicita os aspectos
condicionados foneticamente ou particulares do dialeto em questão, somente quando eles dizem respeito
a segmentos que contextualizam a vogal média pretônica analisada e, por isso, constituirão informação
de uma das variáveis. Particularidades articulatórias geralmente não foram registradas, à maneira de
transcrição fonética restrita ( Silva, 1999, p. 36).
38
ocorrência como pre'siza,
pre'siza nas rodadas experimentais, a cadeia de codificação
agrupou nessa ordem:
e r43wDs* AF2m
variável dependente
variáveis lingüísticas
variáveis sociais
Essa cadeia de códigos colocada à esquerda e a ocorrência ou item
lexical à direita, ordenaram duas colunas que deram esta estrutura ao arquivo de
dados21:
(er43gDs&BF2m
de’zoytu
(er43hLs*BF2m
cume’ço
(er43gDs&BF2m
de’zoytu
(iR65wPp#BF2m
diSli’gadu
(Er63tSx*BF2m
consér’ta
(iR65wPp#BF2m
diSli’gadu
(er43gDs&BF2m
de’zoytu
(er45zXl*BF2m
repe’tiw
4.5.2 Sobre o Tratamento Computacional
Como as primeiras rodadas foram organizadas a partir de regras binárias,
para examinar a série de anteriores como a de posteriores, foram utilizados seis
arquivos.
Para a série das anteriores:
21
O arquivo de dados, bem como os demais necessários para a utilização do Pacote Varbrul, o arquivo de
especificação de fatores e o arquivo de condições, exigem a utilização de formatações específicas, sem
as quais os programas acusam erro e não podem ser rodados. Por exemplo, o abre-parêntesis que inicia
a cadeia de codificação e os espaços desta até o item lexical, ou ocorência, são exigências de
formatação, como outras documentadas em Pintzuk (1989).
39
arquivo da regra de [e] (que opunha as ocorrências de [e] às de [E] e de
[i])
arquivo da regra de [E] (que opunha as ocorrências de [E] às de [e] e de
[i])
arquivo da regra de [i] (que opunha as ocorrências de [i] às de [e] e de
[E]);
E para a série das posteriores:
arquivo da regra de [o](que
[o]
opunha as ocorrências de [o] às de [•] e de
[u])
arquivo da regra de [•](que opunha as ocorrências de [•] às de [o] e de
[u])
arquivo da regra de [u](que
[u]
opunha as ocorrências de [u] às de [o] e de
[•])
Estes seis arquivos das rodadas binárias eram na realidade dois arquivos,
um para as ocorrências da pretônica anterior /e/ e outro para as da posterior /o/, que
de acordo com a variante em questão – manutenção, abaixamento ou alteamento, tinham
alterados na cadeia de codificação os valores de aplicação e não-aplicação da regra.
Essas rodadas binárias foram levadas a efeito principalmente em função
de fornecerem como saída do programa de regra variável, não apenas os pesos relativos,
mas principalmente a informação sobre os grupos de fatores selecionados, ou
estatisticamente relevantes. Por essa razão, rodadas binárias foram realizadas tanto na
fase experimental como na fase final.
As rodadas ternárias, por sua vez, só puderam ser realizadas depois de
um corte considerável nos dados. A amostra inicial com de 36 informantes, utilizada nas
rodadas experimentais, foi reduzida a 32 informantes nas rodadas definitivas, mudando
a estratificação para apenas um indivíduo em cada célula, exceto naquelas não
preenchidas na coleta em campo, como mostra o quadro à página 31. Ainda assim as
rodadas ternárias finais só foram viáveis mediante amalgamações e apagamentos
40
causados pelo excedente de células à capacidade do programa, e pela inserção de
novas hipóteses ou por novos knockouts criados depois do corte de dados22.
Quanto à solução dos knockouts, várias vezes foram resolvidos pela
utilização de dado fictício, introduzido na análise para evitar o apagamento de fatores:
como exemplo, para a variável vogal da sílaba tônica nas rodadas finais, os fatores /u/,
/e/ e /o/ contíguos apresentaram knockout para a variante [•], ou seja, não foi
documentada ocorrência de [•] seguida de vogal tônica contígua /u/, /e/ e /o/.
Para ilustração, desses fatores em knockout apresentam-se ocorrências documentadas no
corpus e as ocorrências possíveis, não documentadas, marcadas com asterisco à direita:
/u/
/e/
/o/
pro
o'kura
pr•
•'kura*
pru
u'kuru
opo
oh'tunu
op•
•h'tunu*
opu
uhtuøi'dadZi
no
o'tuhna
n•
•'tuhna*
nu
u'tuhna*
ko
oS'tura
k•
•S'tura*
ku
uS'tura
ko
o'me
k•
•'me
ku
u'me
*
go
o'vehnu
g•
•'vehnu*
gu
u'vehnu
ko
o'øesu
k•
•'øesu*
ku
u'øesu
bo
o'to
b•
•'to*
to
o'mo
t•
•'mo*
vEhgo
o'øozu
vEhg•
•'øozu*
bu
u'to
tu
u'mo
vEhgu
u'øozu*
Diante do knockout, ou não ocorrência do abaixamento nos contextos
acima exemplificados, como se vê com a presença apenas de formas possíveis indicadas
com asteriscos na segunda coluna, foi necessário adotar uma das alternativas, para
continuar o tratamento computacional:
– ou amalgamar os fatores com outros lingüísticamente afins, e nesse
caso poder-se-ia juntar o fator /u/ ao fator /i/, como o fator /e/ ao fator /o/ para
termos amalgamadas vogais altas e vogais médias;
22
Detalhes desses procedimentos – amalgamações e apagamentos nos dados da análise quantitativa, serão
referidos páginas à frente, no capítulo III.
41
– ou eliminar tais fatores da análise, como ocorreu com o fator /uà/,
eliminado da análise nas rodadas para a série das posteriores23
– ou inserir um dado fictício, permitindo a continuação das rodadas, sem
amalgamar ou eliminar fatores.
A primeira dessas alternativas não resolveria todo o problema uma vez
que, por exemplo, para a vogal da sílaba tônica, ao amalgamar os fatores /e/ e
/o/ contíguos, o knockout permaneceria porque ambos os fatores não apresentaram na
amostra utilizada a ocorrência [•] da média pretônica posterior. Outro contra-ponto
para essa solução consiste no fato de se ter observado em rodadas experimentais,
resultados que apontaram comportamentos bem diferentes em função do traço de
anterioridade/posterioridade da vogal contextual, bem como em função da nasalidade
desta vogal, como se pode observar nas tabelas 1 e 2, nas páginas 47 e 48.
A segunda dessas alternativas – eliminar da análise os fatores em
knockout, muitas vezes significaria perder informações importantes em função da
natureza ternária do fenômeno, que subentende duas outras possibilidades de ocorrência
além daquela não encontrada na amostra. Estas duas outras possibilidades poderiam,
como se vê em pro'kura e pru'kuru, go'vehnu e gu'vehnu, bo'to e
bu'to24, implicar comportamento variável, passível de ser observado nos resultados
estatísticos uma vez resolvido o knockout. Além disso, outra razão a favor de não se
eliminarem tais fatores consistiu em que o próprio fato de o knockout acontecer, já
poderia ser utilizado na análise como índice de um comportamento que, de alguma
maneira, constitui o funcionamento desta forma particular do sistema, ou do próprio
sistema.
Finalmente, a terceira alternativa – inserção de dados fictícios, utilizada
para preencher uma célula nas rodadas de /e/,
/e/ e sete células nas rodadas de /o/,
/o/ foi a
23
24
Como se pode ver na ausência de resultados para este fator na tabela 1, à página 63.
Citam-se neste ponto apenas casos entre as ditas formas mínimas, mas a análise subentende categorias
fonético-fonológicas previamente selecionadas e codificadas, que reunem os dados em células definidas
por tais categorias e não por unidades lexicais. Assim, por exemplo, pode-se dizer que a variação
o::•::u da média posterior pretônica foi constatada na amostra, diante de vogal tônica contígua /E/,
pela ocorrência de formas como ko'lEZu, k•'lEZu e mu'lEki.
42
que pareceu recurso capaz de manter na ánalise esses fatores cuja ausência de
ocorrências, em apenas uma das
três variantes, comprometia a continuação do
tratamento computacional, além de evitar nova busca de dados, uma vez que em parte
dos casos o knockout foi causado pela não documentação de uma realização provável,
mas que demandaria mais tempo para ser encontrada25.
Após as primeiras rodadas, que implicaram a reelaboração das hipóteses,
a cadeia de códigos que, por exemplo, apresentava-se como er43wDs*AF2m passou a
apresentar-se como e4w/DsP*2U, e procedimentos como os descritos acima foram
utilizados principalmente na fase final, tanto em rodadas binárias como em ternárias.
Como se tem apontado nas últimas linhas, a análise computacional desses
dados tem dois momentos: o das rodadas experimentais, em que foi considerado um
leque de hipóteses maior com o objetivo de teste; e o momento das rodadas definitivas,
em que as primeiras hipóteses testadas foram reelaboradas, em função dos primeiros
resultados do tratamento computacional e dos achados da literatura, a qual foi revizada
no capítulo II desta dissertação.
4.5.2 Rodadas Experimentais
Essas primeiras rodadas foram feitas, como já foi dito, com uma
quantidade maior de dados, cerca de 6.500 ocorrências, posteriormente reduzida em
função da capacidade do programa de regra variável utilizado na análise ternária.
25
Ao que indica a prática dos pesquisadores brasileiros, o recurso ao dado fictício não costuma ser
utilizado. Mas, a propósito desse uso para solução de knockouts, comenta John Paolillo (1999, cap. 4, p.
5): “The underlying process ( refere-se à inserção de dados fictícios) is still considered to be variable,
but in spite of this one factor shows up with a categorical appearance(...) An alternative means of
dealing with such problems is to add a fictional token to the data containing the appropriate factor and
the appropriate value of the dependent variable(...) It is important to recognize that the created token
in actuality is a fiction, and so the “observations” about variation in this context are similarly
fictional. It is thus only advisable to adopt this strategy when the researcher has good reason to believe
that there is variation in the context of the knockout, and that the observations are somehow at fault”.
43
Também o número de variáveis consideradas nesse primeiro momento era maior, uma
vez que as hipótese iniciais, mais amplas e menos definidas, exigiam verificar o
comportamento de um bom número de fatores em face da variação e::E
E::i
i e o::•
•::u
u
no dialeto bragantino. O tratamento quantitativo de teste foi necessário para a decisão
sobre a relevância e a validade das variáveis consideradas na análise final. Prova disso
pode ser apontada na diferença do conjunto de variáveis utilizadas nos dois momentos
da análise, e na conseqüente necessidade e se desenvolver o presente subtópico.
Portanto, descreve-se aqui o conjunto de variáveis submetidas às rodadas
experimentais, a seleção feita a partir delas, bem como informam-se as reelaborações
feitas a partir das primeiras hipóteses.
4.5.2.1 Variáveis Experimentais
Retomada a cadeia de codificação referida linhas acima, teremos em cada
caracter a posição de uma variável:
er43wDs*AF2m
A variável dependente definiu-se pela alternância e::E
E::i
i, na série de
anteriores,
e o::•
•::u
u, na série de posteriores. Portanto, realizadas nas seguintes
variantes:
[e] e [o], manutenção das médias;
[E] e [•], abaixamento;
[i] e [u], alteamento.
As variáveis independentes linguísticas compreenderam:
Prefixação
Controlou-se com essa variável a presença ou ausência de prefixos.
Portanto, os fatores definem-se como:
44
Ocorrência em prefixo, com a realização da pretônica nesse segmento;
Não ocorrência em prefixo, com a realização da pretônica fora de tal
segmento, caso o item fosse prefixado.
Tipo silábico
A variável tipo silábico definiu-se pela oposição aberto/travado,. Assim,
os fatores foram definidos da seguinte forma:
Tipo aberto, se estrutura CV;
Tipo travado, se estrutura CVC.
Distância da sílaba tônica
A influência da sílaba tônica sobre a regra de variação foi testada pelo
critério distância entre esta sílaba e a sílaba da média pretônica. Os fatores foram
classificados da seguinte forma:
Contíguas;
Distantes uma sílaba;
Distantes duas sílabas;
Distantes três ou mais sílabas.
Vogal da sílaba seguinte
A influência da variável vogal da sílaba seguinte sobre as regras em
questão, foi verificada a partir dos seguintes fatores:
Vogais Orais
vogal alta anterior [i];
45
vogal alta posterior oral [u];
vogal média anterior oral [e]
vogal média posterior oral [o]
vogal média anterior aberta [E]
vogal média posterior aberta [•]
vogal baixa central [a]
ditongo oral [ay aw Ey ey iw •y oy •w ow uy]
Vogais Nasais
alta anterior [ià]
média anterior [eà]
média posterior [oà]
alta posterior [uà]
baixa central [aà]
ditongo [aày aàw eày iàw oày oàw uày]
Consoante Precedente
A variável consoante precedente, na análise das regras variáveis de
e::E
E::i
i e de o::•
•::u
u, foi definida, principalmente, pelo critério ponto de articulação,
nos fatores seguintes:
Bilabiais
[p, b, m]
Labiodentais
[f, v]
Alveolares
[t, d, n, l, r]
Sibilantes
[s, z]
Palatais
[S, Z, tS, dZ, ø, ´]
Velares
[k, g]
46
Fricativa Glotal ou Posterior
[h]
Consoante Seguinte
Os fatores para consoante seguinte foram classificados da mesma forma
como os fatores para consoante precedente, de acordo com os pontos de articulação já
expostos acima.
Classes de palavras
O comportamento variável das pretônicas, nessas primeiras rodadas,
verificou a variável classe de palavras, pelos seguintes fatores:
Substantivos
Verbos
Adjetivos
Pronomes
Numerais
Advérbios
Conjunções
Faixa etária
Por acreditar-se que os falantes mais velhos tendem a preservar as formas
antigas, que alternam com as formas modernas mais usadas pelos jovens, a variável
faixa etária foi introduzida na análise experimental. Foram definidas três faixas, da
seguinte forma:
47
A, de 15 a 25 anos
Faixa etária
B, de 26 a 45 anos
C, de 46 anos em diante
Sexo
Quanto à categoria sexo, a hipótese que a sustenta está na possibilidade
de falantes de sexos diferentes terem propensão ao uso de uma ou de outra forma
lingüística. Portanto, os fatores foram:
masculino
Sexo
feminino
Escolaridade
Através desta variável pretendeu-se testar a hipótese de que os falantes
escolarizados preferem determinadas formas da língua, as ditas de prestígio. Levando-se
em conta a última série escolar freqüentada pelo informante, os fatores foram definidos
da seguinte forma:
baixa escolaridade, até o 4º ano primário
Escolaridade
escolaridade fundamental, do 5º ao 8º ano ginasial
escolaridade média, do 1º ao 3º ano científico
Renda
48
Com esta variável, pretendeu-se fixar índices do poder aquisitivo do
informante, e completar com este dado o caráter estratificado da amostra. A categoria
renda foi definida
a partir do valor aproximado de provento mensal de cada
entrevistado, resultando nos fatores abaixo:
Baixa, até R$ 400,00 mensais
Renda
Média e média-alta, acima de R$ 400,00 mensais
As variáveis descritas acima, utilizadas nas rodadas experimentais,
produziram resultados estatísticos que não serão efetivamente discutidos. Entretanto, no
tópico a seguir os efeitos desses resultados são citados, na medida em que implicaram
ou não, a confirmação da variável como válida ou relevante.
4.5.2.2 Como se reelaboraram as hipóteses iniciais
Do conjunto de variáveis lingüísticas e sociais descritas acima, ao
conjunto que será descrito daqui algumas páginas como variáveis das rodadas
definitivas, há uma relativa semelhança, em função mesmo da manutenção de
determinadas variáveis; enquanto outras sofreram alterações – umas foram mantidas
fora das rodadas finais, e para isso tiradas da cadeia de codificação; outras foram
reelaboradas; uma única foi considerada inválida; e outras, novas, foram inseridas.
O presente sub-tópico discorrerá sumariamente sobre esse momento da
análise, principalmente no que concerne às modificações. Os casos são expostos abaixo
em forma de itens numerados.
1) As variáveis das rodadas experimentais que foram mantidas, são
aquelas geralmente selecionadas como estatisticamente relevantes pelo programa de
regra variável, TVARB. São elas:
49
Tipo silábico
Consoante Antecedente
Consoante Seguinte
Classe Morfológica
Escolaridade
2) Foram excluídas das rodadas finais aquelas que nunca, ou raramente,
foram selecionadas como estatísticamente relevantes, e cujos resultados experimentais,
eventualmente, serão comentados no capítulo final, na análise dos resultados. Essas
variáveis foram:
Faixa Etária
Sexo
Renda
3) As variáveis reelaboradas foram aquelas cujos resultados não foram
suficientes para responder a questões das hipóteses, em razão mesmo de carecerem
melhor definição. Essas variáveis foram:
Distância da sílaba tônica
Vogal da Sílaba Seguinte
Essas variáveis foram, inicialmente, consideradas dessa forma porque
acreditou-se poder cruzá-las entre si, para verificar as duas hipóteses, aparentemente
opositivas, sobre a vogal subseqüente que determinaria fortemente a regra de variação
da média pretônica: a hipótese da influência da vogal imeditamente seguinte à média
(Silva Neto, 1986) e a hipótese da influência da vogal da sílaba tônica (Camara Júnior,
1991). Entretanto, após as primeiras rodadas, a observação dos resultados preliminares,
levou a conclusão de que, sobre a vogal da sílaba tônica, necessitar-se-ia codificar
também a informação de sua natureza além da informação da distância em relação à
média pretônica. Isso levou à tarefa de recodificação e redefinição das variáveis para
Vogal da Sílaba Tônica e Vogal da Sílaba Átona Contígua, que serão melhor definidas
nos tópicos seguintes, 4.5 e 4.6.
50
4) A única variável abandonada a partir dos resultados das rodadas
experimentais foi a variável Prefixação, inicialmente considerada em razão da hipótese
de que a fronteira de morfema seria fator que influenciasse na manutenção de traços
fonológicos de certos afixos, fazendo-os resistir mais à variação. Ou seja, numa
ocorrência do tipo pr[E]medi’tado, a vogal do prefixo manter-se-ia baixa, resistindo à
regra de manutenção ou fechamento das pretônicas, que prediria a forma
pr[e]medi’tado, assim como em caf[e]teira e s[o]laço. Por outro lado, quando
provavelmente o falante já houvesse perdido de vista o processo pelo qual se formou a
palavra, não reconhecendo ali o afixo, mais facilmente atuaria a regra de fechamento
que, por hipótese, é a mais produtiva nesse dialeto. Entretanto, ao final das primeiras
rodadas, observou-se o seguinte:
a) os resultados para a variável Prefixação apresentaram baixíssimo
percentual de aplicação, principalmente para /o/, que se realiza num menor número
de prefixos da língua26. Este déficit se deu porque o padrão silábico CVC, em que se
encaixam os dados do corpus, elimina ocorrências de prefixos do tipo ex-, em-; bem
como, não fizeram parte do corpus as variantes nasais, o que elimina ocorrências como
contra- e con-;
b) a manutenção dessa variável exigiria: ou o reagrupamento dos dados;
ou uma recodificação que, além dos códigos de ocorrência e não-ocorrência de prefixo,
atribuiria valor de não-aplicação para variantes em posições não iniciais, portanto,
demandando mais tempo no tratamento dos dados, além de estender os limites do objeto
em estudo.
Portanto, optou-se por eliminar da análise atual a variável Prefixação,
adiando seu exame para um estudo futuro
5) Finalmente, as variáveis inseridas, por conta de novas hipóteses, e que
serão devidamente descritas no próximo tópico,são:
26
Battisti (1993, p. 44) faz uma enumeração dos prefixos encontrados no corpus de sua análise: apresenta
dez tipos com /e/(des-, de-, re-, pre-, meno-, ex-, penta-, em-, es-, per-), e apenas cinco tipos com
/o/(contra-, con-, co-, por-, sobre-).
51
Caráter Átono da Pretônica
Natureza da Atividade do Informante
Em conclusão até aqui, foram esses procedimentos essenciais para a
definição das hipótes e das variáveis válidas na análise definitiva, descritas nos tópicos
seguintes.
52
4.6 OBJETO E HIPÓTESES
Examinei, neste estudo, o comportamento das vogais médias pretônicas
do falar da área urbana de Bragança, considerando que /e/ e /o/ realizam-se,
respectivamente, pela variação e::E
E::i
i e o::•
•::u
u, caracterizada por manutenção,
abaixamento e alteamento, em contextos silábicos CVC, onde a consoante que segue
pode pertencer à mesma sílaba ou à subseqüente. Constituíram o corpus da pesquisa as
realizações em sílaba inicial ou medial, sendo excluídas aquelas em posição inicial
absoluta, como em escola ou ordenado; as que constituem hiato ou ditongo, como em
peixada ou moeda; e as variantes nasais27, como em lembrança ou montar. Também
foram excluídas as ocorrências em substantivos próprios e siglas (Bisol, 1981, p. 33),
como em Benedito ou Bordalo, e como em Cosanpa. A principal razão para esse
recorte , e que o torna menos arbitrário, é o fato de geralmente haver número escasso de
dados num ou noutro desses contextos eliminados, o que demandaria mais tempo na
busca de soluções, além do pressuposto de que apresentam comportamento diverso em
função de sua natureza diversa. Também foram retirados da amostra os casos de radicais
sufixados por –zinho, -inho, -ão, -ona, -íssimo e –mente, nos quais acredita-se a regra de
harmonização seja interceptada pela presença desses sufixos (Bisol, 1981), fato já
observado em mais de um dialeto. Bem como eliminaram-se as ocorrências da
conjunção porque e do pronome você os quais, embora indicassem certa variação,
apresentaram-se em número de ocorrências muito grande, inflacionando o percentual de
determinados fatores.
O recorte do problema aqui abordado deixa de fora estes casos acima
citados, passíveis de exame com mais aprofundamento em pesquisa futura.
Orientam a análise, hipóteses definidas com base na observação dos
dados e nas informações da literatura, bem como no conhecimento assistemático da
autora como falante do dialeto típico da região Norte, estado do Pará.
27
Consideram-se neste estudo, vogais nasais distintas de nasaladas, como define Silva (1999, p. 91).
53
A hipótese inicial, portanto, reside em considerar a variação e::E
E::i
i e
o::•
•::u
u no dialeto examinado, regida por regras variáveis que agem sistematicamente.
Mostram
isso
principalmente
dados
como
me´
me´ora'ria,
ora'ria
mE´
mE´ora'ria,
ora'ria
mi´
mi´ora'ria;
ora'ria ou sosye'dadZi,
sosye'dadZi s•sye'dadZi,
sye'dadZi susye'dadZi;
susye'dadZi pedago'Zia,
pedago'Zia
pEdago'Zia mas nunca pidago'Zia*;
pidago'Zia koø
koøesi'meà
esi'metu,
àtu kuø
kuøesi'meà
esi'metu
àtu mas
nunca k•øesi'meà
esi'metu*.
à tu
Considerou-se que a regra variável tivesse seu funcionamento fortemente
determinado pelo contexto da vogal seguinte, como em feve'reru,
feve'reru pEska'do e
piri'gozu;
piri'gozu foh'mo,
foh'mo pr•
pr•'grEsu e kuø
kuøisi'meà
isi'metu.
àtu Mas suspeitou-se também
que, favorecendo ou inibindo a variação da vogal média pretônica, outras variáveis
estivessem em jogo, dentre elas, principalmente, as consoantes das margens silábicas, a
classe morfológica do item em que ocorre a pretônica, e até mesmo um fator que
supostamente atuaria in absentia, definido pela relação da pretônica com uma vogal
tônica em algum outro item do paradigma.
Inicialmente, ocorreu a hipótese de que na fala de Bragança
predominassem as variantes médias resultadas da manutenção, em detrimento das altas,
e que as baixas ocorreriam com menor freqüência ainda. Essa hipótese nasceu
principalmente de uma intuição a respeito da variedade paraense que, de certa forma, foi
confirmada pelas conclusões de Nina (1991) e pelas evidências apresentadas no
glossário resultado da pesquisa de Vieira (1983); ainda reforçavam essa hipótese o fato
conhecido de que a ocorrência de altas se dá em qualquer dialeto e na fala de qualquer
segmento social e que, diferentemente, a variante baixa soa estranha na fala de nossa
região, mas é característica marcante dos falares nordestinos.
Por fim, considerou-se possível que concorresse para essa variação, além
da escolaridade, um fator de ordem social caracterizado pelo envolvimento do
informante com atividade relacionada à terra, admitindo-se a interferência de traços do
dialeto rural no dialeto da área urbana.
Em síntese, o objeto deste estudo é a variação das vogais médias /e/ e
/o/ em posição pretônica, definida pela alternância entre manutenção [e, o],
54
abaixamento [E, •] e alteamento [i, u] no padrão silábico CVC, examinado na
perspectiva da Teoria da Variação ou Sociolingüística Quantitativa; tendo como
hipóteses principais a influência das variáveis estruturais vogal da sílaba seguinte e
consoantes contextuais, e das variáveis sociais escolaridade e tipo de atividade.
4.7 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS
4.7.1 Variáveis Dependentes
As variáveis dependentes constituem-se das vogais médias pretônicas
/e/ e /o/.
O comportamento variável verificado nessas vogais definiu como
variantes: as formas [e] e [o] identificadas como manutenção da média ou médias;
[E] e [•] identificadas como abaixamento ou baixas; [i] e [u] identificadas
como alteamento ou altas. Desta forma, temos:
na série de anteriores, como variantes de /e/
[e] he´iZi'aàw
[E] vE´a'ria
[i] pri'gisa
na série de posteriores, como variantes de /o/
[o] profi'saàw
[•] m•'rava
[u]pude'rozu
55
4.7.2 Variáveis Independentes
4.7.2.1 Fatores Linguísticos
Tipo silábico
A verificação da relevância do tipo silábico, no comportamento da regra
variável em questão, foi feita a partir da oposição aberto/travado. Assim, as estruturas
CV e CVC, ambas permitindo uma segunda consoante à esquerda, caracterizam
respectivamente o tipo silábico aberto e o tipo silábico travado, em posição inicial ou
medial de palavra. Essa variável manteve-se desde as primeiras codificações.
Vogal da sílaba tônica
Essa variável foi reelaborada com a finalidade de verificar o efeito da
tonicidade sobre o comportamento da média pretônica.. A variável vogal da sílaba
tônica, complexa por codificar a natureza da tônica e sua distância em relação à
pretônica, constituiu-se dos seguintes fatores:
⇒ vogal alta anterior oral contígua e a não-contígua
[i]
⇒ vogal alta posterior oral contígua e a não-contígua
[u]
⇒ vogal média ant. oral contígua e a não-contígua
[e]
⇒ vogal média post. oral contígua e a não-contígua
[o]
⇒ vogais baixas contíguas e as não-contíguas
[ E ], [ • ], [ a ]
⇒ ditongos orais cont. e os não-contíguos
[ay, aw, Ey, ey, iw,
•y, oy, •w, ow, uy]
56
⇒ vogal alta anterior nasal contígua e a não-contígua
[ ià ]
⇒ vogal alta posterior nasal contígua e a não-contígua
[ uà ]
⇒ vogais não altas nasais contíguas e as não-contíguas
[ eà ], [ oà ], [ aà ]
⇒ ditongos nasais cont. e os não-contíguos
[aày,
aàw,
eày,
iàw,
oày, oàw, uày]
Vogal átona da sílaba seguinte
A variável vogal átona da sílaba seguinte foi definida pelos seguintes
fatores:
vogal alta anterior oral
[i]
vogal alta anterior nasal
[ ià ]
vogal alta posterior oral
[u]
vogal alta posterior nasal
[ uà ]
vogal média ant. oral
[e]
vogal média post. oral
[o]
vogais não altas nasais
[ eà ], [ oà ], [ aà ]
vogais baixas
[ E ], [ • ], [ a ]
ditongos orais
[ay, aw, Ey, ey, iw, •y, oy, •w, ow, uy]
ditongos nasais
[aày, aàw, eày, iàw, oày, oàw, uày]
Consoante antecedente
57
A consoante antecedente à vogal examinada considerada, principalmente,
pelo ponto de articulação, definiu-se pelos seguintes fatores
⇒ bilabiais
[p, b, m]
⇒ labiodentais
[f, v]
⇒ alveodentais
[t, d, n, l, r]
⇒ sibilantes
[s, z]
⇒ palatais
[S, Z, tS, dZ, ø, ´]
⇒ velares
[k, g]
⇒ fricativa glotal ou posterior
[h]
Consoante seguinte
A consoante do contexto seguinte à vogal pretônica foi definida pelos mesmos
critérios e com os mesmos fatores da consoante antecedente.
Caráter átono da pretônica no paradigma
A fim de verificar na variação a interferência do caráter átono da
pretônica, levando em consideração a família de palavras a que pertença o item lexical
da ocorrência, a variável dependente foi classificada como átona permanente e átona
casual no paradigma, tendo a átona casual se subclassificado em três tipos. Portanto os
fatores são:
Vogal Átona Permanente
Vogal átona casual relacionada à vogal tônica de altura variável, inclusive
alta;
58
Vogal átona casual relacionada à vogal tônica de altura variável, de média a
baixa;
Vogal átona casual relacionada à vogal tônica baixa;
Vogal átona casual relacionada à vogal tônica média.
Classe morfológica
Na perspectiva de examinar, de forma ampla, o efeito do componente
morfológico sobre o comportamento das vogais médias pretônicas, definiram-se os
seguintes fatores para essa variável:
Substantivo
Verbo
Adjetivo
Pronome
Numeral
Advérbio
Conjunção
59
4.7.2.2 Fatores Sociais
Escolaridade
Quanto à escolaridade, as classes consideradas equivalem aos níveis
atuais do primeiro ciclo do ensino fundamental, do segundo ciclo do fundamental e do
ensino médio , definidas, respectivamente, nos seguintes fatores:
Escolaridade baixa – informantes com o equivalente ao primeiro ciclo
concluído ou incompleto;
Escolaridade fundamental – informantes com o equivalente ao segundo
ciclo concluído ou incompleto;
Escolaridade média – informantes com o equivalente ao ensino médio
concluído ou incompleto.
Tipo de atividade
Essa variável implica um controle a respeito do tipo de atividade passada
ou atual do ou da informante, relacionada à terra. Portanto, são dois os fatores:
Atividade rural – já realizada, sistemática ou eventualmente;
Atividade urbana – sempre realizada pelo ou pela informante.
Terminada aqui a definição das variáveis, passa-se agora à análise dos
resultados.
5 – ANÁLISE DOS RESULTADOS
Partindo-se da hipótese da variação o::•::u e e::E::i, como em
ku'mEsiw ~
ko'mEsiw ~ k•'mEsiw, confrontada a ocorrências como
kuøesi'meàtu ~ koøesi'meàtu, mas nunca k•øesi'meàtu*, ou ko'lEzu ~
k•'lEzu, mas nunca ku'lEzu*, na amostra examinada, percebe-se que a regra
variável aí implicada relaciona-se a fatores vários e que, possivelmente, ainda estejam,
muitas das vezes, por definir seu modo de atuação. Dentre eles, os fatores examinados
neste estudo: a vogal contextual, as consoantes antecedente e seguinte, o caráter átono
da pretônica no paradigma, a classe morfológica e as variáveis sociais, escolaridade e
tipo de atividade. A variável tipo silábico foi retirada da análise, no momento em que se
necessitou reduzir o número de células para o TVARB, por não ter sido selecionada
como relevante,.
Apresenta-se, nas páginas seguintes, a discussão dos resultados gerados
como valores absolutos e índices probabilísticos, organizados em tabelas. O exame
desses valores foi orientado por questões introduzidas no texto, a partir das hipóteses
principais. E a exemplificação, quando utilizada foi transcrita foneticamente sem os
colchetes da notação, para simplificar a elaboração e a leitura do texto, como aliás vem
sendo feito desde o capítulo 4. A transcrição grafemática dos itens do corpus encontrase nos anexos.
5.1 CONTEXTO VOCÁLICO DA REGRA
Inicialmente, chamou a atenção nas tabelas 1, 2, e 3, as quantidades de
ocorrência das variantes. Se tomarmos o percentual, também fornecido pelo programa
de regra variável, teremos o seguinte: as variantes médias [e, o] ocorreram em
respectivos 45% e 39% da amostra; as baixas [E, •] ocorreram em 41% e 36% da
amostra; e as altas [i, u] ocorreram em 14% e 26% da amostra. Portanto, as
variantes médias confirmaram a hipótese de sua predominância, ainda que guardem
pouca diferença das quantidades de ocorrência das baixas; as variantes baixas , por sua
vez, apresentaram freqüências maiores do que se supunha encontrar; bem como as altas
que, de forma inversa, apresentaram freqüências menores que as esperadas.
A análise do contexto vocálico da regra variável das médias pretônicas,
na variedade de Bragança, parte da hipótese de que a vogal da sílaba seguinte é fator
altamente influente no processo de assimilação que determina esse comportamento,
como foi apontado para outros dialetos (Bisol, 1981; Silva, 1989; Battisti, 1993; Nina,
1991; Pereira, 1997). Pretende-se aqui , também, testar essa hipótese e as extensões
dela, sobre a relevância da contigüidade da vogal contextual (Silva Neto, 1986), ou da
tonicidade (Camara Jr., 1991).
Portanto, a discussão dos resultados foi feita em sessões, definidas a
partir das já referidas questões.
A seguir as tabelas 1 e 2 , com resultados dos contextos de vogal tônica
contígua e vogal átona contígua.
TABELA 1
VOGAL TÔNICA CONTÍGUA
demago'Zia, f•h'ma, Se'gasi, dZiS'kazu
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
[i]
57/174
.178
3/174
.014
114/174
.808
155/265
.351
16/265
.027
94/265
.623
[u]
18/24
.478
1/24*
.068
5/24
.455
5/17
.117
6/17
.243
6/17
.640
[e]
66/106
.521
1/106
.036
39/106
.443
169/177
.871
1/177
.010
7/177
.119
[o]
53/60
.757
1/60
.020
6/60
.223
110/125
.714
1/125*
.018
14/125
.267
[a] [E] [•]
51/492
.019
356/492
.921
85/492
.060
56/388
.047
317/388
.925
15/388
.029
Dit. Oral
57/90
.451
27/90
.382
6/90
.168
134/184
.514
23/184
.143
27/184
.344
[ ià ]
3/33
.018
1/33*
.024
29/33
.958
11/37
.159
1/37
.010
25/37
.830
[ uà ]
-----
-----
-----
-----
-----
-----
2/32
.081
5/32
.353
25/32
.566
[ aà ] [ oà ] [ eà
]
23/157
.022
116/157
.957
18/157
.021
44/255
.066
204/255
.896
7/255
.038
Dit. Nasal
3/14
.047
7/14
.903
4/14
.050
-----
-----
------
-----
-----
-----
TOTAL
331/1150
513/1150
306/1150
686/1480
574/1480
220/1480
* Dados fictícios
62
TABELA 2
VOGAL ÁTONA CONTÍGUA
profi'saàw, pudero'zu, tEhmi'no, miSi'´aàw
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
[i]
100/154
.336
16/154
.181
38/154
.482
175/259
.539
57/259
.063
27/259
.398
[u]
86/114
.389
2/114
.031
26/114
.580
36/64
.566
14/64
.201
14/64
.233
[e]
99/149
.409
6/149
.248
44/149
.342
72/89
.719
2/89
.019
15/89
.262
[o]
28/31
.846
2/31
.061
1/31*
.093
22/28
.758
3/28
.153
3/28
.089
[a] [E] [•]
28/138
.024
89/138
.929
21/138
.047
19/213
.089
174/213
.802
20/213
.109
Dit. Oral
-----
-----
-----
------
------
-----
16/23
.636
6/23
.349
1/23
.015
[ ià ]
-----
-----
-----
-----
-----
-----
1/28
.000
6/28
.036
21/28
.964
[ aà ] [ oà ] [ eà
]
6/29
.059
8/29
.792
15/29
.150
12/73
.180
56/73
.737
5/73
.084
TOTAL
347/615
123/615
145/615
356/777
318/777
106/777
* Dado fictício
63
64
A primeira questão que se deseja responder é esta: quais são os contextos
vocálicos contíguos mais favorecedores e de quais variantes das médias pretônicas? Por
hipótese, a vogal da sílaba imediatamente seguinte influencia grandemente o
comportamento da média pretônica, na medida em que esta assimila a altura daquela
vogal, mas como age sobre isso a tonicidade?
Para responder essas questões e examinar esta hipótese, inicialmente,
serão verificados os resultados dos contextos contíguos tônico e átono, confrontando-se
os pesos relativos das tabelas 1 e 2.
Comparem-se, primeiro, os resultados de contextos de vogais altas.
Tônica Cont.(Tabela 1)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[i]
.178
.014
.808
.351
.027
.623
[u]
.478
.068*
.455
.117
.243
.640
Átona da síl. Seguinte (Tabela 2)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[i]
.336
.181
.482
.539
.063
.398
[u]
.389
.031
.580
.566
.201
.233
As vogais altas em posição contígua, sejam tônicas ou átonas, geralmente
apresentam-se como favoráveis ao alteamento, exceto quanto ao alteamento da anterior
quando seguida de [u] átono, cuja probabilidade de .233 é desfavorecedora. Em
contextos átonos, aliás, para a anterior, é a manutenção a variante favorecida pelas
vogais altas, como se vê acima com os pesos .539 e .566; para as posteriores, nesses
mesmos contextos, a manutenção, além do alteamento, também é favorecida, mas com
pesos próximos da irrelevância.
65
Os contextos de vogais médias contíguas, tônicas ou átonas, sempre
favorecem a manutenção das médias pretônicas com índices de probabilidade de médio
para alto. Além disso, observa-se um comportamento relativamente favorável dos
contextos de [e] sobre o alteamento da posterior, com pesos .443 e .342, como se
pode observar nos quadros abaixo.
Tônico contíguo (Tabela 1)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[e]
.521
.036
.443
.871
.010
.119
[o]
.757
.020
.223
.714
.018
.267
Átono da síl. Seguinte (Tabela2)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[e]
.409
.248
.342
.719
.019
.262
[o]
.846
.061
.093*
.758
.153
.089
O contexto de vogais baixas orais contíguas, tônicas ou átonas, favorece
unicamente a ocorrência das variantes baixas, com probabilidadedes próximas do índice
de aplicação categórica, .921 e .925, como se vê abaixo.
Tônico contíguo (Tabela 1)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[a] [E]
[•]
.019
.921
.060
.047
.925
.029
Dit. oral
.451
.382
.168
.514
.143
.344
Átono da síl. Seguinte (Tabela 2)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[a] [E]
[•]
.024
.929
.047
.089
.802
.109
Dit. oral
-----
-----
-----
.636
.349
.015
66
Ainda nesses quadros, observa-se que ditongo oral contíguo, tônico ou
átono, sempre é favorável à manutenção das médias, exceto quando átono para a série
das posteriores, onde não foram gerados resultados probabilísticos; ainda no contexto de
ditongo oral, o favorecimento da variante baixa posterior , com .382 quando ditongo
tônico, e da variante baixa anterior, com .349 quando ditongo átono, é apontado por
pesos relativos não significantes, ou próximos do valor de irrelevância. De qualquer
forma, tem-se no ditongo oral contíguo o único contexto vocálico que,
concomitantemente, propicia outra variante ao lado do abaixamento.
Isso faz lembrar que, linhas acima, os contextos de vogais altas e de
médias contíguas, especialmente os contextos da anterior [e], apresentaram
probabilidades que geralmente fazem supor uma espécie de cumplicidade entre as
variantes altas e médias em oposição às baixas, estas que só adquiriram probabilidade
favorável quando aquelas foram inibidas simultaneamente em contextos de
[a, E, •].
Um re-exame desses valores pode verificar a suposta concorrência altas e
médias versus baixas. Para tanto, observem-se no conjunto de resultados vistos até
agora, os índices de probabilidade mais baixos, destacados em azul, principalmente
aqueles tendentes à não aplicação – assim considerados aqueles menores que .100
destacados em azul-claro:
Tônicas Cont. (Tabela 1)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[i]
.178
.014
.808
.351
.027
.623
[u]
.478
.068*
.455
.117
.243
.640
Átonas da síl. Seguinte (Tabela 2)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[i]
.336
.181
.482
.539
.063
.398
[u]
.389
.031
.580
.566
.201
.233
Tônico contíguo (Tabela 1)
67
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[e]
.521
.036
.443
.871
.010
.119
[o]
.757
.020
.223
.714
.018
.267
Átono da síl. Seguinte (Tabela2)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[e]
.409
.248
.342
.719
.019
.262
[o]
.846
.061
.093*
.758
.153
.089
Tônico contíguo (Tabela 1)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[a] [E]
[•]
.019
.921
.060
.047
.925
.029
Dit. oral
.451
.382
.168
.514
.143
.344
Átono da Síl. Seguinte (Tabela 2)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[a] [E]
[•]
.024
.929
.047
.089
.802
.109
Dit. oral
-----
-----
-----
.636
.349
.015
Geralmente com índices de probabilidade próximos da não aplicação,
como se vê no destaque em azul-claro, os contextos de médias e altas contíguas sempre
desfavoreceram as variantes baixas, enquanto favorecem as duas outras variantes na
maioria das vezes. Assim, talvez se possa referir uma provável tendência a um efeito
negativo do contexto de altas e de médias contíguas sobre o abaixamento das médias
pretônicas, fato que parece reforçado quando, no contexto de [u] tônico contíguo, para
a variante baixa posterior, a análise não gerou resultado pela inexistência de
ocorrências.
Por outro lado, observados os resultados dos contextos de [a, E, •],
a situação se inverte: as variantes baixas são favorecidas, enquanto as variantes médias e
altas são desfavorecidas, estas com probabilidades próximas à não aplicação.
68
Quanto ao contexto de ditongo oral, apesar de ser observável o
favorecimento das variantes fechadas, não se pode seguramente afirmar aí tal tendência,
pois não há resultados gerados em posição átona para as posteriores.
Portanto, até este ponto o que se pode afirmar, com certa segurança, é
que:
– os contextos de vogais médias favorecem principalmente a
manutenção, com probabilidades médias; os contextos de vogais altas geralmente
favorecem o alteamento, também com probabilidades médias; e os contextos de vogais
baixas favorecem exclusivamente o abaixamento, sempre com probabilidades muito
altas;
– as tendências evidenciadas são comuns entre contextos tônicos e
átonos, entretanto, possivelmente há um comportamento de probabilidades mais altas
quando os contextos favorecedores são tônicos.
Com a segunda dessas duas conclusões preliminares, surge a questão
sobre a diferença entre o efeito dos contextos tônicos e átonos, que será verificada daqui
algumas páginas. Agora, passa-se a examinar os contextos vocálicos classificados como
nasais, ainda opondo posição tônica à átona.
Inicialmente não foi levantada nenhuma hipótese que sugerisse tratar o
traço nasalidade da vogal contextual como um fator cujo efeito pudesse se destacar.
Entretanto, os contextos vocálicos considerados nasais mostraram resultados singulares,
ainda que o número insuficiente de dados não permitisse gerarem-se probabilidades
para todos esses contextos, como se pode ver abaixo.
Tônico contíguo (Tabela 1)
[ ià ]
[ uà]
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
.018
.024*
.958
.159
.010
.830
.081
.353
.566
69
[aà] [eà] [oà]
.022
.957
.021
.066
.896
.038
Dit. nasal
.047
.903
.050
-----
------
------
Átono da síl. seguinte (Tabela 2)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
----
----
----
.000
.036
.964
[aà] [eà] [oà]
.059
.792
.150
.180
.737
.084
Dit. nasal
----
----
-----
-----
-----
-----
[ ià ]
[ uà]
Esses vazios, porém, não impedem encontrarem-se elementos para
algumas inferências. Por exemplo, o contexto de / ià / em posição tônica ou átona
favorece o alteamento das médias pretônicas com índices de probabilidade sempre
maiores que os do contexto oral da mesma vogal: enquanto / ià / favorece o
alteamento com índices entre .830 e .964, /i/ favorece com índices entre .398 e .808.
Já o efeito do contexto de / uà/ só pôde ser observado em posição
tônica, para a média anterior, em que o alteamento foi favorecido. Para a média
posterior em contexto de / uà/ tônico não se geraram resultados, bem como não se
geraram resultados para ambas as séries em contexto de / uà/ átono.
Quanto aos contextos de [aà, eà, oà], cujo efeito lembra o do contexto
das baixas [a, E, •], sempre favorecem o abaixamento, com índices muito altos em
posição tônica e menos altos em posição átona.
No contexto de ditongo nasal, por sua vez, geraram-se resultados apenas
em posição tônica, e para a série das posteriores: o efeito aí, assemelhado ao das vogais
baixas e das nasais [aà, eà, oà], é o favorecimento da variante baixa com
probabilidade muito alta.
Dentre os contextos nasais acima, [aà, eà, oà] são os únicos que
autorizam alguma conclusão por terem registrado ocorrências em todas as posições e
para ambas as séries, das posteriores e das anteriores. Portanto, pode-se dizer que os
70
contextos nasais [aà, eà, oà] favorecem com grande probabilidade o abaixamento e
que, por hipótese, já que os resultados desta análise não autorizam uma conclusão mais
segura, os contextos nasais em geral comportam-se semelhantemente aos seus
correspondentes orais em relação à variação das vogais médias pretônicas .
Passa-se agora à questão elaborada linhas atrás: terá o contexto tônico
contíguo maior probabilidade de ser assimilado pela pretônica que o contexto átono
contíguo?
Noutras palavras, o que se quer saber é qual o papel da tonicidade na
regra de assimilação das vogais médias pretônicas. Para isso, será necessária ainda uma
verificação em torno dos valores probabilísticos geralmente mais altos, opondo-se
contextos tônicos a átonos, para medir a relevância do traço tonicidade na referida regra.
Contexto tônico contíguo
[u]
[i]
[i]
.808
.623
[u]
.455
.640
Contexto átono contíguo
[u]
[i]
[i]
.482
.398
[u]
.580
.233
Contexto tônico contíguo
[o]
[e]
[e]
.521
.871
[o]
.757
.714
Contexto átono contíguo
[o]
[e]
[e]
.409
.719
[o]
.846
.758
71
Contexto tônico contíguo
[a] [E] [
•]
[•]
[E]
.921
.925
Contexto átono contíguo
[a] [E] [
•]
[•]
[E]
.929
.802
Tônico contíguo (Tabela 1)
/aà/ /eà/
/oà/
[•]
[E]
.940
.896
Átono da síl. seguinte (Tabela 2)
[aà] [eà]
[oà]
[•]
[E]
.792
.737
Comparativamente, os pesos relativos dos contextos tônicos não
apresentam frequentemente os índices mais altos. Comportam-se dessa maneira apenas
os contextos das anteriores [i] e [e] e das nasais [aà, eà, oà], em que os índices
favorecedores sempre foram maiores em posição tônica. Entretanto, somente uma
amostra mais ampla autorizaria conclusões a esse respeito.
Ainda como parte dessa mesma questão sobre o papel da tonicidade nas
regras em questão, é valido verificar o comportamento dos contextos tônicos não
contíguos, cujos resultados apresentam-se a seguir na tabela 3.
TABELA 3
VOGAL TÔNICA NÃO-CONTÍGUA
loku'saàw, progaàma'saàw, iàtEri'o, piri'gozu
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
[i]
42/85
.272
26/85
.580
17/85
.148
54/97
.303
35/97
.508
8/97
.189
[e]
33/49
.421
1/49*
.317
15/49
.262
22/43
.239
12/43
.456
9/43
.305
[o]
39/68
.260
10/68
.326
19/68
.414
40/72
.215
30/72
.687
2/72
.098
[a] [E] [•]
103/194
.388
35/194
.383
56/194
.229
102/287
.165
142/287
.654
43/287
.181
[aà] [eà] [oà]
47/82
.425
24/82
.402
11/82
.173
57/119
.248
48/119
.655
14/119
.097
Dit. Oral
45/72
.342
3/72
.384
24/72
.274
34/80
.188
25/80
.463
21/80
.350
Dit. Nasa
48/78
.607
24/78
.305
6/78
.088
35/83
.179
44/83
.678
4/83
.144
TOTAL
357/628
123/628
148/628
344/781
336/781
101/781
*Dado Fictício
72
73
A verificação dos resultados dos contextos tônicos não contíguos será
orientada pela hipótese seguinte: é o contexto vocálico contíguo que desencadeia o
processo de assimilação, enquanto a tonicidade é fator apenas cooperante. Em
conseqüência disso, as questões que se colocam são: o contexto tônico não contíguo
sempre terá seu efeito interceptado pelo efeito dos contextos átonos contíguos? Ou será
possível descobrir um comportamento previsível como ocorreu na análise dos contextos
contíguos?
Para responder a essas perguntas, serão confrontados os resultados das
tabelas 3 e 1, opondo-se, portanto, contexto tônico não contíguo a tônico contíguo.
Vejam-se abaixo os resultados em contextos de vogais altas.
Tônico contíguo (Tabela. 1)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[i]
.178
.014
.808
.351
.027
.623
[u]
.478
.068*
.455
.117
.243
.640
Tônico não-contíguo (Tabela. 3)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[i]
.272
.580
.148
.303
.508
.189
[u]
----
----
----
----
----
----
Como se pode notar de imediato, para o contexto de [u] não contíguo
não se geraram resultados. Mas o contexto de [i] não contígua, para o qual foram
gerados resultados, não apresenta o efeito de favorecimento do alteamento que
naturalmente se poderia esperar, ao contrário do que ocorre nas posições contíguas.
O fato de não se haverem gerado resultados para o contexto de [u] não
contíguo, à parte a possível limitação da amostra, por si mesmo pode estar indicando a
ineficiência do contexto não contíguo para avaliar o comportamento variável das vogais
74
médias pretônicas, especialmente porque a vizinhança de altas, naturalmente favoreceria
fortemente a ocorrência de variantes altas.
Abaixo, comparem-se os resultados dos contextos de [e] e [o] não conítiguos
e . [e] e [o] contíguos.
Tônico contíguo (Tabela 1)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[e]
.521
.036
.443
.871
.010
.119
[o]
.757
.020
.223
.714
.018
.267
Tônico não-contíguo (Tabela 3)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[e]
.421
.317
.262
.239
.456
.305
[o]
.260
.326
.414
.215
.687
.098
Face aos resultados dos contextos contíguos de [e] e [o], como se
pode ver acima, os resultados dos contextos não contíguos não apontam a mesma
tendência de favorecimento à manutenção das médias pretônicas.
Quanto aos contextos de vogais baixas, como se pode ver nos quadros
que seguem, a posição tônica não contígua favorece o abaixamento das médias, mas não
de forma exclusiva e com probabilidades mais baixas que aquelas apresentadas pelos
mesmos contextos em posição contígua. Vejam-se abaixo os resultados para essas duas
posições:
Tônico não-contíguo – Tabela 3
[a] [E] [
•]
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
.388
.383
.229
.165
.654
.181
Tônico contíguo – Tabela 1
75
[a] [E] [
•]
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
.019
.921
.060
.047
.925
.029
Para os contextos de nasais [aà, eà, oà], confrontando-se as posições
contíguas e não contíguas , o que se apresenta não é muito diferente do contexto acima.
Observem-se os resultados nos dois quadros:
Tônico não-contíguo – Tabela 3
[aà] [eà] [
oà]
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
.425
.402
.173
.248
.655
.097
Tônico contíguo – Tabela 1
[aà] [eà] [
oà]
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
.022
.957
.021
.066
.896
.038
A tendência ao favorecimento das variantes baixas em contextos
contíguos de nasais [aà, eà, oà] não se repete da mesma forma, no mesmo contexto,
em posição não contígua, ou seja, a tendência bem definida no primeiro caso se desfaz
quando essas vogais contextuais se afastam uma ou mais sílabas da média pretônica.
Em síntese, todos os casos comparados acima levam ao mesmo fato: os
contextos de favorecimento, em posição contígua, são geralmente desfeitos ao serem
observados em posição não contígua. Da mesma forma, a maioria dos contextos de
desfavorecimento em posição contígua, passam a contextos de favorecimento em
posição não contígua.
Sobre os contextos vocálicos da variação da vogal média pretônica, é
possível apresentar algumas conclusões válidas para o dialeto da zona urbana de
Bragança, baseadas na amostra analisada. Para isso, apresentam-se nas Considerações
Finais os principais achados desta seção da análise.
76
Mas antes de finalizar esta seção, pretende-se verificar outra questão. Em
relação à maneira como se chegou a essas conclusões preliminares, através dos pesos
relativos ou probabilidades, há duas perguntas que se podem fazer: o que indicam os
valores absolutos, também fornecidos nas tabelas apresentadas? Esses valores, assim
como as porcentagens que o programa forneceu, podem sustentar as mesmas
interpretações feitas a partir das probabilidades?
Para responder a essas perguntas, tomem-se como exemplos os valores
absolutos fornecidos pelas tabelas 1 e 2, para os contextos de altas contíguas tônicas e
átonas, destacados em vermelho os valores que apontam maior número de ocorrências.
Tônicas contíguas (Tabela 1)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[i]
57/174
3/174
114/174
155/265
16/265
94/265
[u]
18/24
1/24*
5/24
5/17
6/17
6/17
Átona da síl. seguinte (Tabela 2)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
[i]
100/154
16/154
38/154
175/259
57/259
27/259
[u]
86/114
2/114
26/114
36/64
14/64
14/64
A falta de simetria, imediatamente percebida no contraste de cores, já
aponta a não confirmação daquelas conclusões a que se chegou pelas probabilidades. Se
estes valores absolutos forem vistos no detalhe, teremos que a freqüência pode se opor
às evidências dos pesos relativos. Embora noutros contextos, isso não ocorra sempre
assim, o fato é que valores absolutos ou porcentagens são índices de outra natureza bem
distintos das probabilidades.
A realidade percentual, bem como o valor absoluto, considera a
ocorrência de um fator pelo conjunto no qual ele se insere, apresentando um dado onde
na verdade estão cruzadas as ocorrências de vários outros fatores além daquele que se
quer examinar. Quanto aos pesos relativos, o que se tem é a avaliação isolada do fator a
77
partir de suas chances de ocorrência, calculadas pela razão entre o total dos eventos em
que este fator poderia ocorrer e aqueles em que ele realmente ocorreu28. Por essa razão,
são os pesos relativos os principais índices dessa análise estatística, e não as freqüências
5.2 CONTEXTO CONSONANTAL DA REGRA
É a vogal seguinte o elemento desencadeador da assimilação, mas ao
lado dela outros elementos estruturais também interferem nesse processo. O contexto
fonológico da vogal média pretônica, hipoteticamente, influencia na manutenção,
abaixamento ou alteamento dessa vogal em função do ponto onde se dá a obstrução na
realização da consoante que antecede ou da que segue. É essa hipótese, e como ela de
dá, que se pretendeu verificar com os resultados das tabelas 3 e 4, a seguir .
Antes de se passar a discussão desses resultados, é preciso dizer que
inicialmente considerou-se, principalmente pelo ponto de articulação, a classificação
das consoantes vizinhas como bilabiais, labiodentais, alveodentais, sibilantes, palatais,
velares e fricativa glotal ou posterior. Após a primeira rodada, feita com um universo
maior de dados, quando se excedeu o limite de células permitido pelo programa de regra
variável e se necessitou amalgamar fatores, optou-se por unir bilabiais e labiodentais
como um mesmo fator – as labiais. Portanto os resultados que se apresentam nas tabelas
a seguir, referem-se a labiais, alveodentais, sibilantes, palatais, velares e fricativa glotal
ou simplesmente posterior.
28
Vieira (1981, p. 113) apresenta a definição clássica de probabilidade da seguinte forma: “se são
possíveis n eventos mutuamente exclusivos e igualmente prováveis, se m desses eventos têm o atributo
A, então a probabilidade de que ocorra um evento com atributo A é dada pela razão m/n.”
TABELA 4
CONSOANTE ANTECEDENTE
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
LABIAIS
178/608
.179
256/608
.102
174/608
.719
306/681
.433
308/681
.334
67/681
.233
ALVEOD.
217/443
.260
149/443
.581
77/443
.159
413/792
.445
359/792
.498
20/792
.058
SIBILANTES
45/76
.373
7/76
.193
24/76
.435
120/306
.350
99/306
.226
87/306
.424
PALATAIS
14/61
.226
46/61
.590
1/61
.184
79/240
.032
42/240
.014
119/240
.954
VELARES
225/559
.249
155/559
.220
179/559
.531
28/73
.132
18/73
.459
27/73
.409
14/35
.538
19/35
.354
2/35
.108
98/214
.440
110/214
.503
6/214
.056
POSTERIOR
TOTAL
693/1782
632/1782
457/1782
1044/2306
936/2306
326/2306
78
TABELA 5
CONSOANTE SEGUINTE
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Aplic/total
P
Aplic/total
P
Aplic/total
P
Aplic/total
P
Aplic/total
P
Aplic/total
P
LABIAIS
234/503
.448
88/503
.103
181/503
.449
204/402
.405
166/402
.252
32/402
.342
ALVEOD.
136/481
.249
270/481
.557
75/481
.194
172/410
.383
193/410
.273
45/410
.344
SIBILANTE
44/116
.186
14/116
.030
58/116
.784
323/606
.349
204/606
.310
79/606
.340
PALATAL
124/275
.336
49/275
.322
102/275
.342
148/312
.195
68/312
.086
96/312
.719
VELAR
64/157
.218
76/157
.545
17/157
.237
119/341
.164
151/341
.210
71/341
.626
POSTERIOR
91/249
.157
135/249
.800
23/249
.043
78/235
.179
154/235
.804
3/235
.017
TOTAL
693/1781
632/1781
456/1781
1044/2306
936/2306
326/2306
79
80
Tomando-se os pesos relativos atribuídos a cada fator nas duas tabelas,
temos o seguinte
Posição antecedente (Tabela 3)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Labiais
.179
.102
.719
.433
.334
.233
Alveodentais
.260
.581
.159
.445
.498
.058
Sibilantes
.373
.193
.435
.350
.226
.424
Palatais
.226
.590
.184
.032
.014
.954
Velares
.249
.220
.531
.132
.459
.409
Posterior
.538
.354
.108
.440
.503
.056
Em posição antecedente, favorecem a manutenção das médias pretônicas,
a fricativa glotal com probabilidade significante, e as sibilantes com probabilidade
tendente à irrelevância; as alveodentais favorecem apanas a manutenção da média
anterior. O abaixamento das médias pretônicas é favorecido, em posição antecedente,
pelas alveodentais, e pela fricativa glotal ou posterior, esta que não oferece tão boa
probabilidade de abaixamento para a média posterior quanto oferece para a anterior; já
as palatais propiciam apenas o abaixamento das posteriores, com boa probabilidade. O
alteamento é favorecido, em posição antecedente, pelas sibilantes e pelas velares com
probabilidade razoável; as labiais favorecem apenas o alteamento da posterior, com boa
probabilidade
Posição seguinte (Tabela 4)
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Labiais
.448
.103
.449
.401
.425
.354
Alveodentais
.249
.557
.194
.383
.273
.344
Sibilantes
.186
.030
.784
.349
.310
.340
Palatal
.336
.322
.342
.195
.086
.719
Velar
.218
.545
.237
.164
.210
.626
Posterior
.157
.800
.043
.179
.804
.017
81
Quanto as consoantes em posição seguinte, a manutenção da pretônica é
favorecida pelas labiais com bons índices de probabilidade; as alveodentais e as
sibilantes favorecem apenas a manutenção da anterior, com índices próximos da
irrelevância.
O abaixamento é favorecido pela fricativa glotal; as labiais favorecem
apenas o abaixamento da vogal anterior; enquanto as alveodentais e velares favorecem
apenas o abaixamento da vogal posterior.
O alteamento da vogal posterior é favorecido pelas palatais, com índice
próximo da irrelevância; o alteamento da vogal anterior é favorecido com bons índices
de probabilidade pelas palatais e pelas velares, mas com índices quase irrelevantes pelas
labiais, alveodentais e sibilantes em posição seguinte.
Agora, a discussão passará a verificar cada um dos fatores, e para isso
tomará em sessões os resultados probabilísticos acima.
Tomaram-se inicialmente os resultados das labiais em contexto
antecedente e seguinte
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Antecedente
.179
.102
.719
.433
.334
.233
Seguinte
.448
.103
.449
.405
.252
.342
O efeito favorável das labiais, simultaneamente em posição antecedente e
seguinte, incide sobre: a aplicação do alteamento da vogal média posterior; e sobre a
aplicação da manutenção da média anterior. Já o efeito desfavorável das labiais,
simultaneamente nas duas posições, incide sobre o abaixamento da vogal média
posterior.
Se partirmos da hipótese de que as labiais seriam contexto
desfavorecedor das vogais mais altas, em virtude de não incluírem em sua produção a
elevação da língua, por outro lado, podemos justificar, ao menos, o favorecimento da
82
variante [e]. Um outro traço das labiais que deve estar atuando é a labialidade ou
arredondamento, que também caracteriza, em graus diferentes, os segmentos [o] e
[u], formas das variantes favorecidas, a primeira quando a labial em posição seguinte;
e a segunda quando a labial ou numa ou noutra posição.
Já as variantes [•] [E], ou abaixamento, sempre desfavorecidas pelas
labiais, implicam diminuição do arredondamento dos lábios e posicionamento mais
baixo da língua; bem como a variante [i] implica distenção dos lábios e
posicionamento
mais
alto
da
língua.
Portanto,
a
produção
das
variantes
[•], [E], [i] afasta-se mais da articulação das labiais, contrariamente ao que
ocorre com as variantes [o],[u],[e]
As alveodentais em posição antecedente e seguinte, cujos resultados
estão abaixo, sempre favorecem o abaixamento, e desfavorecem as outras variantes.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Antecedente
.260
.581
.159
.445
.498
.058
Seguinte
.249
.557
.194
.383
.273
.344
Como se trata de articulação que subentende elevação da ponta da língua,
supôs-se que as alveodentais propiciassem a ocorrência das variantes mais altas.
Contrariamente, em ambas as posições não é o alteamento, ou mesmo a manutenção a
realização favorecida. Isso leva à consideração de mais um aspecto da produção das
alveodentais: trata-se de um tipo de articulação em que se eleva a ponta da língua, mas
se mantém a maior parte do corpo desse órgão abaixado. Consideradas desse modo,
parece mais natural que as alveodentais propiciem variantes mais baixas que médias ou
altas
Quanto às sibilantes, o que se apresenta com índices mais bem definidos
é o alteamento da vogal média posterior; o alteamento da média anterior possui bom
índice de favorecimento com sibilantes apenas em posição antecedente.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
83
Antecedentes
.373
.193
.435
.350
.226
.424
Seguintes
.186
.030
.784
.349
.310
.340
A classe das sibilantes foi, na verdade, definida pelo modo de articulação
– critério que, na classe das alveodentais, também destaca as laterais e as oclusivas. A
razão porque as sibilantes foram isoladas do grupo das alveodentais, neste estudo, reside
no fato de a literatura já haver considerado as sibilantes fator atuante na variação da
vogal média pretônica, além de o contato com os dados haver provocado algumas
questões.
As palatais apresentam um resultado interessante, na medida em que não
favorecem o alteamento da média posterior, mas favorecem o alteamento da média
anterior. Ainda nesses resultados, surpreende que as palatais em posição antecedente
favoreçam o abaixamento da média posterior, uma vez sendo consoante alta. Esse
comportamento que, de certa forma, podemos chamar dissimilador, já foi verificado em
outros estudos.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Antecedentes
.226
.590
.184
.032
.014
.954
Seguintes
.336
.322
.342
.195
.086
.719
É preciso observar, entretanto, que ao menos em relação à anterioridade é
a variante alta anterior, e não a posterior, a que mais se aproxima do ponto de
articulação das palatais
Quanto às velares, em ambas as posições favorecem apenas o alteamento
da média anterior; outras variantes são favorecidas mas numa ou noutra posição.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Antecedentes
.249
.220
.531
.132
.459
.409
Seguintes
.218
.545
.237
.164
.210
.626
Esse resultado é apenas em parte o esperado, uma vez que sendo as
velares consoantes altas, supôs-se que propiciassem o alteamento nas duas séries das
84
médias pretônicas. O resultado, entretanto, confirmou isso para a média anterior; para a
posterior, a variante [u] é favorecida apenas quando há consoante velar em posição
antecedente, velares em posição seguinte desfavorecem essa variante.
A fricativa glotal, em ambas as posições, favorece apenas a manutenção
da média anterior. Em posição antecedente, essa consoante favorece com bons índices
de probabilidade as variantes [o] e [e]; em posição seguinte favorece com alto
índice de probabilidadea variante [•].
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Antecedente
.538
.354
.108
.440
.503
.056
Seguinte
.157
.800
.043
.179
.804
.017
Em relação à posição seguinte, esses resultados confirmam uma
tendência já observada desde o português arcaico quanto à ocorrência de [•] seguido
de fricativa glotal, como em mórtecor, mórdomo, córagem., exemplos citados à página
15 do presente estudo.
Os fatores desfavorecedores para qualquer das variantes raras vezes
chegam a níveis próximos da não aplicação, bem como raras vezes são apresentados
índices próximos da aplicação categórica. Apresenta-se, no contraste de cores no quadro
abaixo, a distribuição desses índices para os fatores da consoante antecedente: fatores
desfavorecedores próximos da não aplicação categórica, aqueles abaixo de .100, são
indicados com marcas vermelhas; fatores favorecedores próximos da aplicação
categórica, aqueles maiores que .900, são indicados com marcas azuis; indicaram-se
também fatores com índices médios de favorecimento, índicados com marcas verdes;
aqueles com índices médios de desfavorecimento, com marcas pretas; e aqueles com
índices na faixa considerada muito próxima da irrelevância, de .273 a .383, com marcas
amarelas.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Labiais
X
X
X
X
X
X
Alveodentais
X
X
X
X
X
X
Sibilantes
X
X
X
X
X
X
85
Palatais
X
X
X
X
X
X
Velares
X
X
X
X
X
X
Posterior
X
X
X
X
X
X
Como se observa, quanto ao efeito das consoantes antecedentes, apenas
as palatais apresentam índice próximo da aplicação categórica, quando favorece a
ocorrência da variante [i]; enquanto que índices próximos à não-aplicação categórica
são resultados do efeito das alveodentais sobre a aplicação de [i], das palatais sobre
[e] e [E], e da fricativa glotal sobre [i]. Dentre esses casos, o efeito das palatais
sobre a série das anteriores, favorecendo grandemente o alteamento e desfavorecendo
grandemente as duas outras variantes, toma a forma bem definida do que podemos
chamar distribuição complementar, também manifestada, mas de forma menos definida,
para os casos em que se opõem índices favoráveis a índices desfavoráveis dentro de
uma série, para os efeitos de um determinado fator: como exemplo, o efeito
desfavorável das labiais em posição antecedente sobre a aplicação de [e] e de [E],
oposto ao efeito favorável das mesmas consoantes sobre a aplicação de [i].
Ainda no quadro acima, é possível observar quais consoantes em posição
antecedente atuam favorecendo as mesmas variantes em ambas as séries. Assim, vemos
que a manutenção é favorecida nas duas séries, posterior e anterior, apenas pela fricativa
glotal; o abaixamento é favorecido nas duas séries apenas pelas alveodentais; e o
alteamento é favorecido nas duas séries pelas sibilantes e pelas velares.
Se criarmos um quadro semelhante para consoante seguinte, teremos o
que se apresenta abaixo:
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Labiais
X
X
X
X
X
X
Alveodentais
X
X
X
X
X
X
Sibilantes
X
X
X
X
X
X
Palatais
X
X
X
X
X
X
Velares
X
X
X
X
X
X
Posterior
X
X
X
X
X
X
86
X Fator favorável/ X Próximo da irrelevância/ X Desfavorável/ X Próximo da não-aplicação
Pelo contraste de cores, pode-se observar que: o fator consoante seguinte
não produz índices próximos da aplicação categórica; já os índices próximos da nãoaplicação categórica resultam dos efeitos das sibilantes sobre a aplicação de [•], da
fricativa glotal sobre [u] e [i], e das palatais sobre [E]. Na situação aí apresentada,
o que se propôs como distribuição complementar manifesta-se na maioria dos casos
onde, por exemplo, opõe-se um efeito favorável à dois outros desfavoráveis.
Ainda no quadro acima, as consoantes em posição seguinte que atuam
favorecendo as mesmas variantes em ambas as séries, são: as labiais, que favorecem a
manutenção; e a fricativa glotal, que favorece o abaixamento.
Portanto, juntando a isso o que se pôde ver no quadro dos efeitos da
consoante antecedente, é possível concluir que não há um comportamento favorecedor
de uma das variantes, que possa ser generalizado para as duas séries de vogais médias
pretônicas; de outro modo, é possível encontrar, tanto em posição antecedente quanto
seguinte, índices próximos da irrelevância no efeito da fricativa glotal sobre [i], e no
efeito das palatais sobre [E].
87
5.3 CONTEXTO DA REGRA EM DOIS EIXOS PARADIGMÁTICOS
Caráter Átono da Pretônica no Paradigma
O exame dessa variável apóia-se na hipótese de que a vogal média
pretônica tenderia a manter a natureza da vogal tônica com que estivesse relacionada em
palavra primitiva, como em popula'saàw cuja primitiva é p[o]vo, ou sE'teàbru
cuja primitiva é s[E]te, em função de o falante guardar na lembrança a natureza da
vogal acentuada (Bisol, 1981).
Silva (1989), ao referir as listas ortográficas de gramáticos do português
antigo como Fernão de Oliveira e Caetano de Lima, explica através do mecanismo
exposto acima a ocorrência das formas abertas [E] e [•] documentadas e prescritas
por esses gramáticos, como em estópada, sótavento, séttáda, sélvática, em que a forma
vocálica tônica primitiva determina a natureza aberta da átona derivada, na qual inside o
acento secundário29.
Dentre os estudos sobre o comportamento de vogais pretônicas aqui
considerados, aqueles que lançaram mão do exame da pretônica relacionada à tônica
primitiva em um determinado paradigma derivacional (Bisol, 1981 e Silva, 1989),
utilizaram o pressuposto de que a vogal tônica pode ocorrer em qualquer palavra do
paradigma e não necessariamente na palavra primitiva, bem como admitiram a busca
daquela relação dentro do paradigma flexional, além do derivacional30.
Portanto, a hipótese que orienta a verificação dessa variável em questão
na presente análise, consiste em supor que o comportamento variável da vogal média
29
O acento secundário ou dito subtônico, de menor intensidade que o tônico, pode ocorrer, em português,
sobretudo em derivados de três ou mais sílabas (Lima: 1992, p. 20), ou em certos compostos e
derivados (Coutinho: 1976, p. 82).
30
Isso é atestado muitas vezes na exemplificação das autoras, como em “créscente ~ crêsço e crésce
(Silva, 1989, p. 184).
88
pretônica no falar da cidade de Bragança, também receba essa interferência, a partir de
qualquer palavra do paradigma derivacional ou flexional.
Para fazer referência aos fatores dessa variável31 de forma mais prática,
simplificaram-se as definições da seguinte maneira:
Átona casual relacionda à tônica de altura variável, incluindo alta, passou
a definir-se por Parentes inclusive alto;
Átona casual relacionada à tônica de altura variável entre média e baixa,
passou a definir-se por Parentes médio e baixo;
Átona casual relacionada à tônica baixa, passou a definir-se por Parente
baixo;
Átona casual relacionada à tônica média, passou a definir-se por Parente
médio;
Átona permanente manteve esta mesma definição.
A seguir são apresentados os resultados gerados para essa variável
31
Silva (1989, p. 81) introduziu a seguinte classificação de fatores para a variável em questão: o fator
átona casual relacionada à tônica de altura variável apresenta-se em dois subtipos – o fator átona casual
relacionada à tônica ora baixa ora média, e o fator átona casual relacionada à tônica ora alta ora média;
Bisol (1981) manteve apenas um fator relacionado à tônica de altura variável. – aquele que inclui átona
relacionada também à tônica alta. É a divisão proposta por Silva (1989) o modelo aqui adotado.
TABELA 6
CARÁTER ÁTONO DA PRETÔNICA NO PARADIGMA
[o]
Apli/total
Parentes inc.
[•]
P
Apli/total
[u]
P
Apli/total
[e]
P
Apli/total
[E]
P
Apli/total
[i]
P
Apli/total
P
19/69
.197
2/69
.113
48/69
.690
84/195
.094
34/195
.324
77/195
.581
120/257
.255
127/257
.715
10/257
.030
188/299
.440
99/299
.341
12/299
.219
Parente Baixo
99/444
.132
296/444
.772
49/444
.096
113/424
.102
270/424
.468
41/424
.430
Parente Médio
49/114
.277
6/114
.028
59/114
.695
117/148
.890
28/148
.100
3/148
.010
406/897
.293
201/897
.314
290/897
.393
542/1240
.116
505/1240
.085
193/1240
.799
Alto
Parentes Médio e
Baixo
Átona
Permanente
TOTAL
693/1781
632/1781
456/1781
1044/2306
936/2306
326/2306
89
90
Em linhas gerais, a questão que inicialmente deve orientar o exame
desses fatores, é a seguinte: a partir dessa variável, haverá alguma tendência que se
generalize no corpus examinado, à maneira da assimilação das vogais contextuais, como
já foi visto no subtópico 5.1?
Para verificar essa questão, tomem-se os pesos relativos:
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Parentes inc.
alto
.197
.113
.690
.094
.324
.581
Parentes médio e
baixo
.255
.715
.030
.440
.341
.219
Parente baixo
.132
.772
.096
.102
.468
.430
Parente médio
.277
.028
.695
.890
.100
.010
Átona
Permanente
.293
.314
.393
.116
.085
.799
Favorecem a manutenção, apenas da anterior, o fator parentes médio e
baixo e o fator parente médio. Favorece o abaixamento, de ambas as séries, o fator
parente baixo; favorece o abaixamento, apenas da posterior, o fator parentes médio e
baixo. Favorecem o alteamento, de ambas as séries, os fatores parentes inclusive
alto e átona permanente; favorece o alteamento, apenas da posterior, o fator parente
médio; bem como, favorece o alteamento, apenas da anterior, o fator parente baixo.
Num aspecto, os resultados não diferem dos achados de Silva (1989),
sobre o dialeto da cidade de Salvador, e dos achados de Bisol (1981), sobre o dialeto
gaúcho: nesses estudos também propiciaram o alteamento a átona permanente e a átona
relacionada à tônica de altura variável, aqui chamada parentes inclusive alto. Além
dessas autoras, Pereira (1997), que também verificou o efeito dessa variável no dialeto
pessoense, interpretou-a como irrelevante para o comportamento variável das vogais
médias pretônicas. Já para o falar da cidade de Belém, o problema foi considerado em
termos de difusão lexical e tratado de forma diferente (Nina, 1991).
91
Quanto à semelhança entre estes resultados alcançados para o dialeto de
Bragança e os alcançados, por exemplo, por Bisol (1981), para o dialeto gaúcho, devese relativizá-la, ao menos quanto ao comportamento variável tomado a exame: no falar
de Bragança, como no falar de Salvador ( Silva 1989), subentende-se a variação
o::•::u, e::E::i das médias pretônicas; enquanto que no falar gaúcho, essa variação
apresenta-se como o::u, e::i32. A variante abaixada das vogais médias pretônicas, não
documentada no falar gaúcho (Bisol, 1981 e Battisti, 1993), é a segunda em freqüência
no falar da cidade Bragança, bem como no falar da capital do estado – Belém (Nina,
1991); como também, é a que predomina nos falares nordestinos de Salvador (Silva,
1989) e de João Pessoa (Pereira, 1997).
Sobre os pesos probabilísticos apresentados a partir dos dados de
Bragança, pode-se considerar algumas questões.
Quanto ao fator átona com parentes médio e baixo, o favorecimento da
variante baixa, na série de posteriores, e da média ou manutenção, na série de anteriores,
pediria a observação do conjunto de dados com esse fator isoladamente em cada série,
no sentido de se verificar mais de perto essa diferença de efeito. Tal verificação só será
possível noutro momento, em razão do tempo que irá exigir.
Chamam atenção também os poucos fatores para os quais se geraram
probabilidade próxima do índice de irrelevância: o fator átona permanente, para
[o] e [•]; o fator átona com parente alto, para [E]; e átona com parente médio e
baixo, para [E]. Esses valores sempre foram concomitantes, ao menos, a um caso de
favorecimento: no primeiro caso a átona permanente favoreceu o alteamento, [u]; no
segundo caso, a átona com parentes inclusive alto favoreceu o alteamento [i]; e no
terceiro, a átona com parente médio e baixo favoreceu a manutenção [e]. Esses poucos
índices de irrelevância ou neutralidade produzidos, sempre opostos a um efeito
favorecedor, lembra o comportamento da vogal contextual, tomada nesta análise como o
32
Bisol (1981) apontou a dominância da manutenção das vogais médias pretônicas no dialeto gaúcho,
fato confirmado por Callou, Leite & Moraes (1996) ao detectarem a não aplicação categórica do
abaixamento das médias pretônicas nesse mesmo dialeto. Foi este fato que levou Bisol (1981) a
interpretar a tendência de as pretônicas conservarem a altura média das tônicas a elas relacionadas,
como interceptação da regra de elevação. Nos falares em que se documenta a variação o::•::u, e::E::i,
tal interpretação talvez não se possa aplicar.
92
fator desencadeador da assimilação sobre a pretônica. Portanto, parece provocar uma
questão que não poderá ser respondida agora: até que ponto a relação da vogal média
pretônica com uma tônica primitiva pode ser considerada apenas fator interferente, e
não desencadeador, como o é a vogal contextual, nas regras em questão?
Passando-se, agora, a outro aspecto, vale a pena observar as freqüências
produzidas para os fatores da variável caráter átono da pretônica.
Parentes inc.
Alto
Parentes Médio
e Baixo
Parente Baixo
Parente Médio
Átona
Permanente
Total Absoluto
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
28%
3%
70%
43%
17%
39%
47%
49%
4%
63%
33%
4%
22%
67%
11%
27%
64%
10%
43%
5%
52%
79%
19%
2%
45%
22%
32%
44%
41%
16%
639/1781
632/1781
456/1781
1044/2306
936/2306
326/2306
Sobressai-se o grande universo de dados em que se conta a átona de
caráter permanente, 897 ocorrências de /o/ e 1240 de /e/, superando em muito até o
total imediatamente menor, o da átona relacionada à tônica baixa. Esse grande universo
de dados, que conta cerca de 32% de ocorrências de alteamento da posterior e 16% de
alteamento da anterior, produziu probabilidades favoráveis a essa variante, o
alteamento, nas duas séries da média pretônica. Da mesma forma, apresentou-se o efeito
do fator vogal pretônica com parentes inclusive alto: favoreceu o alteamento nas duas
séries de vogais, mas a partir de um universo de dados bem menor.
Por hipótese, como extensão da idéia que está no centro da questão
proposta linhas acima, a respeito do efeito da presente variável como semelhante ao
efeito da variável vogal contextual, poder-se-ia examinar, de forma isolada, os dados
relativos ao fator átona permanente, para neles observar a atuação dos outros fatores, em
especial, da vogal contígua ou contextual. O propósito seria verificar, nesses casos, se o
processo de assimilação da vogal contextual sobre a pretônica torna-se uma tendência
mais geral do que já se mostrou ser e, caso isso se confirmasse, propor que haja uma
93
ordem para a atuação de fatores nas regras de aplicação dessa ou daquela forma da
vogal média pretônica. Ou seja, hipoteticamente, a vogal média pretônica quando casual
sofreria o efeito da tônica subjacente ou, alternativamente, de outros fatores, dentre os
quais também a vogal contextual; quando a pretônica átona permanente sofreria o efeito
da vogal contextual ou, alternativamente, de outros fatores.
Em síntese, esse procedimento do exame das átonas permanentes
isoladas das átonas casuais pretenderia encontrar uma forma de investigação que mais
claramente definisse os contextos de regras categóricas e variáveis como se pode supor
que ocorram no comportamento das vogais médias pretônicas.
A conclusão que se pode tomar com menos incerteza aqui, é a de que o
eixo paradigmático, considerando-se a variável caráter átono da pretônica, pode ser tão
atuante quanto o sintagmático, na aplicação das regras variáveis que regem o
comportamento da pretônica. Entretanto, até aqui, o tratamento dado a essa variável
deixará mais perguntas que respostas. Estas, na verdade, serão motivo para continuação
dessa pesquisa.
94
Classe Morfológica
O exame da atuação dessa variável no comportamento da média
pretônica, é orientado pela hipótese de que certas classes de palavras, em função da
presença de determinados componentes morfológicos, propiciariam ou não a aplicação
de uma ou de outra das regras em questão.
Para medir através de fatores relativos às classes gramaticais, o efeito
que, porventura, o componente morfológico possa exercer no comportamento das
médias pretônicas, admitiu-se a seguinte classificação: verbos, substantivos, adjetivos,
pronomes, numerais, advérbios e conjunções. Entretanto, em razão da redução da
amostra utilizada33, o surgimento de knockouts levou à necessidade de amalgamar a
maioria desses fatores.
A partir disso, os fatores finalmente considerados foram: nomes, em que
se amalgamaram substantivos aos adjetivos; pronomes, em que se amalgamaram os
próprio pronomes aos numerais; advérbios, em que se amalgamaram os próprios
advérbios às conjunções; e verbos, que permaneceram sem amalgamação. Esse
reagrupamento manteve juntas classes que obedecem ao mesmo paradigma flexional, ou
que sejam consideradas invariáveis.
Para as rodadas da vogal média anterior, /e/, entretanto, o fator numeral
permaneceu isolado depois do apagamento do fator pronome, que apresentou apenas 6
ocorrências, todas dos itens si'øo, si'ø•ra nos quais foi categórica a realização do
alteamento. Deve-se atentar para tal fato ao observar a tabela que segue, onde, por razão
de simetria, alinhou-se esse resultado ao resultado referente a pronomes e numerais,
produzido para a série das posteriores.
33
Esse procedimento e as causas que levaram a ele já foram explicados a partir da página 40, no
subtópico 4.5.2.
TABELA 7
CLASSE MORFOLÓGICA
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
VERBOS
343/896
.577
331/896
.082
222/896
.341
503/1073
.326
415/1073
.362
155/1073
.312
NOMES
344/824
.541
281/824
.246
199/824
.213
459/1051
.338
490/1051
.506
102/1051
.155
3/7
.532
1/7
.207
3/7
.261
39/64
.346
7/64
.210
18/64
.443
3/54
.020
19/54
.802
32/54
.178
43/118
.265
24/118
.263
51/118
.472
ADVÉRBIOS
PRONOMES *
TOTAL
693/1781
632/1781
456/1781
1044/2306
936/2306
326/2306
* Para os resultados de /e/, esse fator corresponde à classe de numerais apenas.
95
96
A questão inicial quer saber como se apresenta o efeito da classe
morfológica sobre o comportamento das regras aqui examinadas.
Para isso, observem-se os pesos relativos abaixo.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Verbos
.577
.082
.341
.326
.362
.312
Nomes
.541
.246
.213
.338
.506
.155
Advérbios
.532
.207
.261
.346
.210
.443
Pronomes
.020
.802
.178
.265
.263
.472
* Para os resultados de /e/, esse fator corresponde à classe de numerais apenas
A manutenção da posterior é favorecida pelos verbos, pelos nomes e
advérbios, sempre com boa probabilidade. O abaixamento da posterior é favorecido
pelos pronomes com grande probabilidade; enquanto o abaixamento da anterior é
favorecido pelos nomes com boa probabilidade. O alteamento da anterior é favorecido
pelos advérbios e pelos pronomes com probabilidade razoável.
Considerando-se agora os índices mais baixos, temos os verbos inibindo
o abaixamento da posterior com probabilidade próxima da não-aplicação; também
próximo da não-aplicação está o desfavorecimento dos pronomes sobre a manutenção
da posterior. Portanto, o que se percebe é que os casos próximos da não-aplicação são
bem raros – apenas dois, num conjunto bem maior de casos de desfavorecimento. Ao
lado disso, são poucos os casos próximos da irrelevância, produzidos quase todos pelo
efeito dos verbos sobre a variação da posterior; bem como, são poucos os casos de
favorecimento, dentre os quais se conta um único caso de alto índice de probabilidade,
no efeito dos pronomes sobre o abaixamento da posterior.
Na tabela abaixo em que estão isoladas as freqüências, percebe-se a
predominância de verbos e nomes, as classes ditas abertas do léxico da língua; e,
comparativamente, as menores quantidades de advébios e pronomes, as classes ditas
fechadas do léxico.
97
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Verbo
344/896
330/896
222/896
504/1072
414/1072
154/1072
Nome
346/828
283/828
199/828
459/1055
492/1055
104/1055
74/134
11/134
49/134
42/71
10/71
19/71
27/79
19/79
33/79
42/111
24/111
45/111
791/1937
643/1937
503/1937
1047/2309
940/2309
322/2309
Advérbio e
Conjunção
Pronome e
Numeral*
TOTAL
* Para os resultados de /e/, esse fator corresponde apenas à classe de numeral.
Pelas quantidades de ocorrências apresentadas a cada classe, pode-se
considerar confiáveis os resultados alcançados, principalmente para verbos e nomes.
Entretanto não se pode esperar que o corte simplesmente a partir das classes
morfológicas, da forma como se adotou aqui, dê conta do efeito do componente
morfológico sobre as regras variáveis que definem o comportamento das médias
pretônicas. Silva (1989), por exemplo, partiu de uma hipótese a respeito desse
componente que a levou a um corte diferente – ela examinou radicais prefixados e
sufixados que, conseqüentemente, levou a evidências a respeito de certas classes, mas
principalmente permitiu uma aproximação mais rigorosa ao problema.
Dentre as autoras já citadas, Pereira (1997) foi a única que examinou
classe de palavras, observando efeito irrelevante dessa variável na atuação das regras,
exceto em relação à realização de [ u ] e [ o ]. Nos resultados de Pereira, para o dialeto
de João Pessoa, a classe dos nomes favorece o alteamento e desfavorece a manutenção
da média posterior; a classe dos verbos, por sua vez, inibe o alteamento e favorece a
manutenção. Tais resultados são bastante diferentes dos encontrados aqui, para a
amostra de Bragança.
98
5.4 O CONTEXTO SOCIAL DA REGRA
Quando as primeiras aproximações aos dados foram realizadas, propôs-se
examinar neste estudo as variáveis sociais clássicas, geralmente introduzidas nas
análises sociolingüísticas: sexo, faixa etária, escolaridade e classe social, esta última
redefinida simplesmente como renda.
Entretanto, após as primeiras rodadas a maioria dessas variáveis sociais
foram desprezadas pelo programa de regra variável por serem estatisticamente
irrelevantes. Dentre elas, em todas as rodadas prévias, a variável escolaridade sempre
foi selecionada como relevante. No presente tópico, ao lado dessa variável
examinaremos os resultados da variável tipo de atividade que, diferentemente, não foi
considerada relevante pelo programa, mas que se manteve na análise por razão que será
explicada linhas adiante.
Escolaridade
A razão que sustenta a variável escolaridade, nessa análise, consiste na
hipótese que a considera um fator condicionador da atitude lingüística do falante, fato
que, por sua vez, deve ter forte influência nas escolhas entre as formas ditas de prestígio
e as estigmatizadas.
No português antigo, a preferência da pronúncia das pretônicas,
estabelecida pelos eruditos gramáticos, apontou muitas vezes para a variante média, e
assim fixou um padrão normalmente ensinado pela escola e divulgado como o dialeto
de prestígio. Traduz-se nessa realidade, por exemplo, o testemunho de Dom Jerônimo
contador de Argote (apud Silva Neto, 1986) quando se refere a “pessoas que falavam
bem”. Mais modernamente, Antônio Houaiss (apud Nina, 1991) refere-se a uma certa
regularidade morfológica, desencadeada por influência da escrita e, portanto, levada a
efeito na fala de pessoas iniciadas na língua padrão. Tal regularidade morfológica
99
define-se pela preferência pela manutenção no comportamento variável das vogais
médias pretônicas, oposta ao alteamento, considerado característico da fala popular.
Além dessa sugestão da literatura, o próprio contato com os dados fez
supor uma relação entre o nível de escolaridade do ou da informante com determinadas
variantes, levando a considerar seu efeito sobre a variação das pretônicas, uma das
principais hipóteses desse estudo sobre a variedade falada na cidade de Bragança.
TABELA 8
ESCOLARIDADE
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
Apli/total
P
BAIXA
140/410
.294
129/410
.232
141/410
.474
216/514
.288
198/514
.334
100/514
.378
FUNDAMENTAL
267/703
.298
256/703
.345
180/703
.357
350/864
.301
403/864
.424
111/864
.276
MÉDIA
286/668
.383
247/668
.418
135/668
.199
478/928
.409
335/928
.250
115/928
.340
TOTAL
693/1781
632/1781
456/1781
1044/2306
936/2306
326/2306
100
101
Inicialmente, tomem-se os pesos relativos produzidos para a variável
escolaridade.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Esc. Baixa
.294
.232
.474
.288
.334
.378
Esc. Fundam.
.298
.345
.357
.301
.424
.276
Esc. Média
.383
.418
.199
.409
.250
.340
A manutenção foi favorecida por escolaridade média com índices
próximos da faixa de irrelevância. O abaixamento da posterior também foi favorecido
por escolaridade média com índice razoável; e o abaixamento da anterior foi favorecido
por escolaridade fundamental, também com índice razoável. O alteamento da posterior,
por sua vez, foi favorecido por escolaridade baixa, esta que gerou para o alteamento da
anterior índice de irrelevância.
Desses resultados, dois aspectos sobressaem: em primeiro, pode-se
considerar que a manutenção foi relacionada ao fator escolaridade média, mas com
pequena probabilidade; em segundo, o alteamento foi relacionado ao fator escolaridade
baixa, mas só na série de posteriores e com pequena probabilidade. Tais resultados, ao
que parece, não podem confirmar a hipótese exposta no início desta seção e, tampouco,
poderão ser tomados como prova exatamente contrária, resultando num impasse.
Portanto, passemos às freqüências na busca de alguma outra informação.
Esc. Baixa
Esc.
Fundam.
Esc.
Média
TOTAL
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
34%
31%
34%
42%
39%
19%
38%
36%
26%
41%
47%
13%
43%
37%
20%
52%
36%
12%
693/1781
632/1781
456/1781
1044/2306
936/2306
326/2306
102
Em primeiro, os totais parciais de cada fator apontam que, na medida em
que aumenta o nível de escolaridade, aumenta o percentual de ocorrências da variante
média. Quanto à variante baixa, a distribuição percentual pelos fatores não se apresenta
unifome nas duas séries: para as posteriores, o percentual aumenta quanto maior o grau
de escolaridade, mantendo pequena a diferença entre os dois maiores valores, 36% e
37%; para as anteriores, o menor percentual de abaixamento relaciona-se à escolaridade
média, e o maior, à escolaridade fundamental. Quanto à variante alta, a distribuição
percentual volta a ser uniforme: quanto menor o grau de escolaridade, maior o
percentual de ocorrência do alteamento.
Observados desse modo, os valores acabam por apontar na direção do
que se supôs com a hipótese que relaciona escolaridade com o favorecimento de formas
mais próximas do padrão, opostas a formas tidas como não-padrão, neste caso, o
alteamento e, naquele, a manutenção.
Tipo de atividade
No
decorrer
do
tratamento
dos
dados,
chamou
atenção
um
comportamento que não se podia definir claramente e que parecia aproximar o falar de
alguns informantes aos falares tipicamente rurais. A partir daí, foi-se construindo pouco
a pouco uma hipótese que verificasse a relação do problema em questão com alguma
influência da área rural, ainda que os informantes se caracterizassem como urbanos.
A suposição baseou-se principalmente na realidade de cada informante e
na realidade dessa comunidade: primeiro, as fichas preenchidas com dados sociais dos
informantes, apresentaram a informação sobre a profissão do pai ou da mãe, que por
vezes caracterizava-se como atividade ligada à terra – agricultor, coletor, caseiro em
sítio, etc; segundo, a cidade de Bragança se define sócio-economicamente como uma
comunidade urbana com fortes traços rurais, pela própria aproximação geográfica entre
cidade e campo que, de certa forma define a aptidão econômica e os traços sócioculturais dessa comunidade.
103
Daí supôr-se que, por influência geralmente dos pais, certos falantes
bragantinos urbanos, absorveriam traços lingüísticos caracteristicamente rurais.
Completou essa hipótese, a suspeita de que a variedade rural desse município afastar-seia, de alguma forma, quanto ao comportamento das médias pretônicas, da variedade
urbana.
A partir disso, definiu-se como variável o tipo de atividade com que
estivesse envolvido o falante, geralmente por relação paterna ou materna, distinguindose o tipo rural, como atividade relacionada à terra; e o tipo urbano, como atividade
tipicamente urbana, relacionada à educação, à administração pública, ao comércio, à
indústria, ou à prestação de serviços.
Deve-se ainda destacar que, na análise realizada pelo programa, esta
variável foi a única não selecionada como estatisticamente relevante, dentre as demais
até aqui examinadas. Entretanto ela foi mantida, por se acreditar haver alguma espécie
de efeito sobre a variação das pretônicas, desencadeado pela oposição rural /urbano.
A seguir, os resultados gerados para essa variável.
TABELA 9
TIPO DE ATIVIDADE
[o]
[•]
[u]
[e]
P
Apli/total
URBANA
561/1426
.354
521/1426
.311
344/1426
.336
873/1860
.368
736/1860
.303
251/1860
.329
RURAL
132/355
.313
111/355
.357
112/355
.330
171/446
.300
200/446
.364
75/446
.336
TOTAL
693/1781
456/1781
Apli/total
[i]
Apli/total
632/1781
Apli/total
[E]
1044/2306
Apli/total
936/2306
Apli/total
326/2306
104
105
Pelo tabela abaixo, verifica-se nos índices probabilísticos uma relativa
estabilidade: todos estão os índices encontram-se numa mesma faixa.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
Urbano
.338
.336
.326
.370
.301
.329
Rural
.328
.331
.341
.298
.366
.336
Ao que se pode observar, dentro dos parâmetros aqui estabelecidos, essa
faixa para a qual convergem todos os índices acima, é aquela considerada de
irrelevância. A isso é inevitável relacionar o fato de que no conjunto de variáveis
consideradas na análise principal34, tipo de atividade foi a única não selecionada como
estatisticamente relevante pelo TVARB.
Diante desses resultados, poder-se-ia concluir pela não-relevância da
variável tipo de atividade para as regras que definem o comportamento da média
pretônica. Entretanto, antes dessa conclusão, as freqüências merecem um exame.
[o]
[•]
[u]
[e]
[E]
[i]
URBANA
39%
37%
24%
47%
40%
13%
RURAL
37%
31%
32%
38%
45%
17%
TOTAL
693/1781
632/1781
456/1781
1044/2306
936/2306
326/2306
Pelo que as freqüências podem apontar, temos para a variável tipo de
atividade, o seguinte: quanto à manutenção, a atividade urbana concentrou as maiores
freqüências, principalmente na manutenção da anterior em que a freqüência desse fator
superou em muito a freqüência do tipo rural. Quanto ao abaixamento, na série das
posteriores, a atividade urbana concentrou a maior freqüência; enquanto na série das
anteriores, foi a atividade rural que mais concentrou freqüências. Quanto ao alteamento,
em ambas as séries foi a atividade rural que concentrou as maiores freqüências.
106
Em síntese, se puderem ser considerados válidos esses resultados a partir
das freqüências, sem nos referirmos a fatores favoráveis ou desfavoráveis, mas sim a
fatores diante dos quais essa ou aquela variante ocorreu em maior ou menor número,
poderemos afirmar que, na variedade da cidade de Bragança, toda vez que não há
influência rural, ocorrem mais casos de [e] e [o]; e toda vez que há influência rural,
ocorrem mais casos de [i] e [u], bem como, menos casos de [•] e mais casos de
[E].
34
Considere-se como análise principal esta, proporcionada pelos resultados das rodadas finais dos
programas de regra variável, opostas às rodadas experimentais comentadas à página 44 deste volume.
107
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dar como finalizado o presente estudo, neste ponto, implica impor um
limite que ainda não permitiu explorar todos os aspectos considerados importantes em
relação aos resultados estatísticos alcansados. Por isso, faz-se necessário nessas
considerações finais, antes de elencar os principais achados, apresentar as limitações do
trabalho.
Primeiramente, a amostra utilizada, que conta 1781 dados da média
posterior e 2306 da média anterior, mostrou-se insuficiente para gerar resultados para
determinados fatores, ou ao menos resultados mais confiáveis a partir de número
razoável de dados: é, por exemplo, o caso do fator /ià/ átono contíguo que, para a série
das posteriores, não gerou resultados por número insuficente de dados e que, para a
série das anteriores, apresentou um conjunto pequeno de 28 dados para um total de 777.
Em casos como esse, a amalgamação não foi realizada em função de o efeito do fator
em questão ser distinto do efeito daquele com que poderia ter sido amalgamado.
Quanto à utilização dos recursos que os programas do Pacote VARBRUL
dispõem, dois procedimentos importantes não se realizaram por limitação de tempo:
primeiro, não se realizou, através do CROSSTAB, o cruzamento dos resultados de
determinados fatores como, por exemplo, consoante da sílaba seguinte e tipo silábico,
este que, aliás, não foi mantido nas rodadas finais, mas para o qual uma rodada
específica poderia ter sido feita; segundo, não se realizou, através do TEXTSORT, a
contagem das ocorrências ou itens lexicais do arquivo de dados, mas procedeu-se a uma
simples arrumação através de ordenação alfabética e contagem manual, portanto, sendo
esta a forma como o corpus está apresentado em anexo.
Quanto aos objetivos fixados para este trabalho, a descrição do
comportamento variável das pretônicas ainda mereceria a discussão, mesmo que rápida,
dos resultados gerados para as variáveis sociais sexo, faixa etária e renda, retiradas das
rodadas finais, mas tratadas nas rodadas experimentais. Nesse sentido a verificação das
variáveis sociais, desde as originalmente estabelecidas, ainda precisaria ser retomada.
108
A última das limitações aqui apontadas, e que talvez mereça mais
atenção na oportunidade de se rever este trabalho, reside no fato de a análise ter se
concentrado principalmente nos aspectos quantitativos e, portanto, não haver estendido
as observações aos dados reais de forma mais detida. Essa etapa ainda deve ser
concluída, mas com a exigência de menos tempo do que já se gastou para a análise
quantitativa, que se tornou mais demorada por constituir-se, o próprio trabalho, em
iniciação da autora no domínio dos programas VARBRUL. Essa, aliás, é uma das
grandes tarefas dos pesquisadores, bolsistas e voluntários do projeto “O Atlas Geosociolingüístico do Pará”, dominar instrumentos e técnicas da pesquisa sociolingüística
e dialetológica, numa região do Brasil onde não há tradição de pesquisa nessas áreas.
A partir de agora, para finalizar essas considerações finais, passa-se a
destacar, sumariamente, os achados dessa pesquisa, que não se pretendem definitivos.
Portanto, sobre a variação das vogais médias pretônicas /e/ e /o/, em contexto
silábico CV e CVC de posição inicial ou medial de palavra, na variedade falada da área
urbana de Bragança – Pará, destacam-se estes achados:
1) A variação o::•::u e e::E::i das vogais médias pretônicas – tratada
em termos de manutenção ou fechamento, abaixamento e alteamento, é desencadeada
pelos contextos vocálicos imediatamente seguintes, independente da tonicidade, por
processo de assimilação.
2) Em posição antecedente, favorecem a manutenção da média, a
fricativa glotal, com probabilidade significante, e as sibilantes mas com probabilidade
tendente à irrelevância. O abaixamento da média é favorecido pelas alveodentais, pelas
palatais, como também pela fricativa glotal, neste último caso com índice de
probabilidade muito próximo da irrelevância. O maior índice de favorecimento
calculado é das labiais em relação ao alteamento, favorecido também pelas sibilantes e
pelas velares.
3) Quanto à relação da pretônica com tônica de item lexical do mesmo
paradigma, tende à manutenção a pretônica /e/ relacionada à tônica média e à tônica
de altura variável entre média e baixa. Tende ao abaixamento a pretônica relacionada a
109
tônica de altura baixa, bem como a pretônica /o/ relacionada à tônica de altura variável
entre média e baixa. Tende ao alteamento a pretônica considerada átona permanente,
bem como aquela relacionada à tônica de altura variável incluindo alta; também tende
ao alteamento a pretônica /o/ relacionada à tônica média, e a pretônica
/e/ relacionada à tônica baixa.
4) Quanto às classes morfológicas, a categoria dos verbos favorece a
manutenção com índice próximo da faixa de irrelevância, e com índice significativo o
alteamento. Os nomes favorecem a manutenção, como desfavorecem o abaixamento e o
alteamento, sempre com índices próximos da faixa de irrelevância. Os advérbios, por
sua vez, favorecem o alteamento e desfavorecem, com índice próximo da faixa de
irrelevância, a manutenção. Finalmente, os pronomes favorecem o abaixamento com
alto índice.
5) Quanto ao fatores sociais, a distribuição dos índices de probabilidade
deixa ver, de certa forma, a confirmação da hipótese de que a escolaridade atua como
condicionador do comportamento variável das vogais médias pretônicas. O que temos é
a escolaridade baixa propiciando o alteamento, e desfavorecendo a manutenção e o
abaixamento. A escolaridade fundamental produzindo índices na faixa de irrelevância
para todas as variantes, exceto quando favorece o abaixamento da anterior. E a
escolaridade média produzindo índices favorecedores tanto para a manutenção quanto
para o abaixamento.
6) Por último, o tipo de atividade mostrou-se estatisticamente irrelevante:
seus fatores produziram probabilidades na faixa de irrelevância, próximas de .333, para
todas as variantes em questão.
Por fim, destaca-se a predominância das variantes médias no dialeto
estudado, em detrimento das baixas e altas, estas últimas que se apresentaram com
menos freqüência. Este quadro assemelha-se, em linhas gerais, às conclusões de Nina
(1991) sobre a variedade de Belém, e aos índícios apontados por Viera (1983) no seu
glossário sobre as variedades do Médio Amazônas e do Tapajós, compondo, junto a
110
esses trabalhos, mais um elementos para as razões que levaram Silva (1989, p. 75) a
supor que o Pará, em relação aos falares do norte, constitui-se numa ilha dialetal.
111
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114
ITENS LEXICAIS SUBMETIDOS À ANÁLISE
Os itens lexicais, abaixo, apresentam-se em transcrição grafemática, da mesma
forma como foram utilizados nos arquivos de dados – input dos programas
VARBRUL. Para essa transcrição, tomou-se como base a ortografia, modificada apenas
onde foi necessário eliminar ambigüidades, principalmente, nos contextos considerados
relevantes na análise. Nesses sentido, as alterações usadas para manter as informações
fonéticas foram:
y, w foram usados para indicar as semi-vogais em ditongos
ó, é foram usados para indicar as ocorrências das vogais médias abertas [•], [E]
awn, eyn foram usados para indicar formas nasais ditongadas
n, m travando sílaba indicam nasalidade da vogal do centro silábico
~ (til), usado sobre a vogal, indica nasalização por efeito de consoante nasal vizinha
‘ (apóstrofe), usado à esquerda da sílaba dita tônica, para indicar intensidade.
Outras alterações foram utilizadas, mas apenas para manter a informação
fonética relevante, como por exemplo, em co’léju, convé’ssa, dirres’peyto, que não
correspondem exatamente à ortografia; ou em palavras como amuli’ci, buà’nitu,
adivó’gadu, em que as alveodentais sempre devem ser interpretadas como palatalizadas
diante de vogal alta anterior. Deve-se ainda avisar que, geralmente, na ocorrência de
várias formas do mesmo substantivo, foi anotada a forma masculina singular, desde que
as outras não implicassem diferença na informação fonética relevante para a análise.
abando'narãw
abando'naru
abandõ'no
abór'ta
abór'tadu
abor'tey
abor'to
aborre'cew
aborre'ciãw
aburre'cidu
aburri'ci
aco'lhe
acó'móda
acomo'dey
acór'dada
acór'dadu
acór'dava
acor'dey
acoStu'mey
acu'la
acuS'tumu
acuStu'ma
acuStu'madu
acuStu'mey
adivó'gadu
adó'çassi
adó'ra
adó'rava
(2)
(2)
(2)
(3)
(4)
ado'tivu
ado'to
adólé'cença
adólé'cencya
adólé'centi
adórme'ci
afó'gava
afór'çandu
afu'gadu
aguni'adu
amoS'tro
amuli'ci
apaxõ'nadu
apóS'tandu
aposen'tandu
apró'vadu
apro'veytu
apró'xima
aprovey'tandu
aprovey'tey
aproxi'madu
aproxi'mey
apruvey'tey
apusen'tada
apusen'taduz
apusentadu'ria
associa'çãw
associa'çõyS
(3)
(2)
(2)
(3)
(2)
(2)
(9)
(3)
autori'dadi
awgu'dãw
awmu'ça
awtori'dadi
awtori'tariw
awtufa'lanti
awturi'dadi
awvo'rada
bo'bagim
bo'bera
bo'lo
bo'ta
bó'ta
bó'tadu
bó'tãmu
bó'tarãw
bó'taru
bo'to
bo'viànu
bór'déw
brafu'lia
buà'nitu
bu'cadu
bu'lhandu
bu'néca
bu'nita
bu'nitu
bu'ta
(2)
(3)
(3)
(5)
(2)
(3)
(8)
(2)
(5)
(10)
(8)
115
bu'tadu
bu'tandu
bu'tarãw
bu'taru
bu'tassi
bu'tava
bu'tavu
bu'tey
bu'to
católi'cismu
chó'rá
chó'radu
chó'randu
chó'rava
cho'rey
cho'ro
choro'ro
có'bra
có'brança
có'brandu
có'bravãw
co'luàna
có'la
có'laru
có'léga
có'légiw
có'léju
co'lhe
co'lheta
co'lheyta
co'lo
có'lóca
có'lócãwm
có'lõnha
có'lõnhu
cõ'manda
co'méça
có'méciw
co'méçu
cõ'meçu
cõ'méçum
cõ'méciw
co'médya
co'mentãw
co'mérçu
có'mérciw
co'migu
co'nhécem
co'nhéci
cõ'nhéci
cõ'nheçu
co'noScu
có'ragem
có'ragi
có'raw
co'rre
có'rrendu
co'rreru
có'rréta
co'rrew
co'rri
(2)
(3)
(5)
(5)
(2)
(5)
(5)
(2)
(2)
(2)
(14)
(4)
(16)
(2)
(2)
(5)
(4)
(2)
(6)
(4)
(3)
(2)
(4)
(7)
(2)
(2)
co'rria
co'rrida
co'rridu
cobi'çadu
cóbra'doriS
cóchó'néti
cóla'çãw
cólé'gagi
cole'toris
cóló'ca
cóló'cada
cóló'cadu
cóló'cãmuS
cóló'caru
cóló'cassi
colo'co
cóló'quey
colo'ridas
cóloniza'çãw
comé'ça
cõmé'ça
cómé'çadu
cõmé'çadu
comé'çãmus
cõmé'çãmuz
comé'çandu
cõmé'çaru
cõmé'çava
cõmé'cemu
come'cey
cõme'cey
come'ço
cõme'ço
coméci'anti
comen'tandu
cõmen'tariw
comen'tava
cómérci'a
comérci'aw
cõmi'ssãw
comi'ssãw
como'diSmu
compro'missu
compró'vanti
compru'missu
cõmuàni'dadi
cõmuni'dadi
cõmuàni'taryaz
cõmuànica'çãw
comuni'cadu
comuni'táriwS
cõmunica'çãw
concó'rreàmu
concó'rrencya
concó'rrendu
conhe'ce
cõnhe'ce
cõnhé'ceàmuz
cõnhe'cessi
conhe'cew
cõnhe'cew
(2)
(9)
(3)
(4)
(3)
(4)
(2)
(2)
(7)
(6)
(2)
(4)
(4)
(3)
(2)
(3)
(2)
(2)
(10)
(2)
cõnhe'ci
cõnhe'cia
cõnhe'ciãw
cõnhe'cida
conhe'cidu
cõnhe'ci
conheci'mentu
conheci'mentuS
cõnhi'ci
conhi'cia
contró'la
contró'ladu
cópéra'tivaS
cór'ta
cór'tada
cór'tava
cor'tey
cor'to
cora'ção
córa'çãw
córdeà'nandu
córdeàna'dora
córdena'dora
cró'ché
cuà'me
cuà'mida
cuà'migu
cuàme'cey
cuàme'te
cuànhe'cew
cuànhe'ci
cu'bérta
cu'bri
cu'lhé
cu'lheta
cu'me
cu'meànu
cu'méça
cumé’çamu
cu'méciw
cu'méçu
cu'mendu
cu'mérciw
cu'mia
cu'mida
cu'midaS
cu'migu
cu'nhéci
cu'nheçu
cu'ziànha
cu'zinha
cuman'dandu
cumé'ça
cume'çãmu
cumé'çamus
cumé'çaru
cume'cey
cumé'cey
cume'ço
cumé'savu
cuméci'anti
(2)
(3)
(2)
(2)
(4)
(3)
(2)
(2)
(3)
(2)
(6)
(2)
(2)
(4)
(2)
(11)
(4)
(2)
(7)
(4)
(2)
(8)
(23)
(4)
(4)
(3)
(4)
(5)
(3)
(11)
(8)
(2)
116
cumi'dia
cumunica'çãw
cunhe'ce
cunhé'cendu
cunhe'se
cunhi'ceru
cunhi'ci
cunhi'cia
cunhi'cidu
cuS'tuàmu
cuS'tura
cuS'turu
cuStu'mada
cuStu'mava
cuStu'ra
cuStu'randu
cuStu'rassi
cuStu'rava
cuStu'rera
cuStu'rey
cuzià'nha
cuzi'nheru
deàmo'ro
décó'ra
décó'rava
deco'rre
demago'gia
démó'rava
demo'ro
depusi'tava
dévó'çãw
dévó'raru
dimu'li
direto'ria
diScó'téca
diScu'brindu
disocu'pada
disorgãniza'çãw
disposi'çãw
dizgoS'tey
dizórgãni'zaduS
dizvalori'zada
dó'brada
dó'centi
dó'méStica
dõ'méSticu
docu'mentu
documenta'çãw
dólé'cencya
dolo'ridu
dõmi'na
dõmini'caw
dor'mindu
dró'ga
dró'gadu
dró'gava
du'mingu
dumi'nó
dur'mi
dur'mindu
dur'miw
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(2)
(3)
(2)
(14)
(8)
(4)
eco'nõmica
eco'nomicu
ecolo'giSta
eleyto'raw
emo'çãw
emocyo'now
érõ'nawtica
ero'sãw
evolu'çãw
evolu'i
evolu'indu
expló'ra
favó'raviw
favore'ce
filoso'fia
flore'ce
fó'fóca
fo'mo-si
fo'quey
foli'adas
fór'ça
fór'ma
fór'mada
fór'madu
fór'maduS
fór'maàmu
fór'mandu
fór'maru
fór'massi
fór'mava
for'mey
for'mo
for'mow
fór'nalha
fór'néci
fór'sandu
fór'tãw
fórça'ria
fórma'çãw
fórma'tura
forne'ce
fórné'cendu
forne'cew
forneci'mentu
fótógra'fias
fur'nidu
globaliza'çãw
go'vernu
góS'ta
góS'tãmuS
góS'tandu
goS'tava
góS'tavu
goS'tey
goS'to
goS'tósa
góS'tósa
goS'tosu
góSta'ria
góSta'riãmuS
góSta'riãw
(2)
(3)
(2)
(2)
(15)
(5)
(6)
(2)
(3)
(5)
(2)
(2)
(2)
(5)
(9)
(5)
(4)
(2)
(5)
(10)
góver'na
gu'vernu
guvér'na
guvérna'do
ideolo'gia
ignó'rança
imbó'lada
imbó'lava
imórra'gia
impór'ta
impór'tadu
impór'tancya
impór'tanti
impórta'dora
impórta'ria
improvi'sadu
impu'ssivéw
incõ'menda
inco'móda
incõmen'do
incóS'tadu
indu'riànha
infór'ma
infór'mada
infór'mandu
infór'matica
infór'maw
infórma'çãw
ingnó'rança
ingnó'ranti
inrró'ladu
inrró'landu
intérróga'çãw
intró'sa
inu'cença
inu'centi
iscó'la
isco'lhe
isco'lhew
iSco'lhidu
iscó'rrendu
isco'teru
iscó'va
iscólari'dadi
iscólari'zada
iscroti'ey
iSfó'çada
iSfór'çava
isóla'mentu
isplóra'çãw
iSpó'candu
ispó'radicas
ispór'tadu
iSpórta'çãw
iSposi'çãw
iSposi'çõyz
iSpusi'çãw
iStu'pim
jó'ga
jó'gandu
jó'gassi
(3)
(2)
(2)
(7)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(6)
(2)
(2)
(10)
117
jó'gava
jó'gavu
jo'go
jo'guey
jóga'doriz
jór'naw
jórna'liSmu
lo'caw
ló'caw
ló'cays
lo'giSticu
ló'kaw
lócali'dadi
lócali'za
lócali'zaru
locu'çãw
maco'nhadu
macõ'nheru
maçona'ria
mélhó'ra
mélhó'rãmu
mélhó'randu
mélhó'raru
melho'ro
mércadu'ria
micró'fõni
mó'dérna
mó'déSta
mó'déStya
mo'leza
mó'lha
mo'mentu
mó'ra
mó'rãmuz
mó'randu
mó'rava
mó'ravamu
mó'ravu
mó'ravum
mó'reànu
mo'rey
mo'ro
mo'rre
mó'rrendu
mo'rreri
mo'rreru
mo'rrew
mo'rria
mo'to
moci'dadi
módérni'dadi
moderni'zarãw
modifi'co
mor'dew
mor'didu
móra'do
móra'doriz
moro'ada
mórtan'dadi
móS'trá
móS'trandu
(2)
(3)
(4)
(6)
(2)
(8)
(3)
(5)
(3)
(2)
(2)
(9)
(16)
(16)
(23)
(2)
(2)
(3)
(2)
(6)
(2)
(8)
(2)
(12)
(2)
(2)
(2)
(10)
(2)
moto'riSta
móvi'mentu
movi'mentus
movimen'ta
movimen'tada
movimen'tadaS
movimen'tadu
movimen'tandu
mu'dérna
mu'léqui
mu'queàyn
mu'rava
mu'rrendu
mu'tivu
muci'dadi
mulé'cagi
muqui'a
muqui'adu
muqui'ava
muvi'mentu
muvimen'tadu
namó'rá
namó'radu
namó'randu
namó'rari
namó'rava
nãwgovernamen'taw
negoci'ava
nó'çãw
nó'ta
no'tiça
no'to
no'turna
nó'véla
nó'vembru
nó'venta
nór'maw
notifi'cadu
nóvi'centu
novi'dadi
nu'ticya
ocó'rrendu
ócó'rrendu
oco'rridu
omosequissu'aw
opor'tunu
opurtuni'dadi
oytu'centuS
padroni'zadu
paroqui'aànu
paróqui'aw
paStó'raw
patro'cinhu
pédago'gia
pó'bleàma
pó'breàma
po'breza
po'de
po'deàmuz
pó'deàym
pó'deàmu
(4)
(11)
(2)
(3)
(4)
(3)
(9)
(2)
(3)
(3)
(3)
(10)
(6)
(9)
(2)
(2)
(10)
(3)
(2)
(5)
(6)
(2)
(3)
(8)
po'der
po'dia
pó'gréssu
pó'leàmica
po'litica
po'liticu
po'rissu
pó'rrada
po'ssivew
pode'ria
pode'rosu
popu'lar
popula'çãw
pórta'ria
portu'gaw
portu'gueS
pórtu'gueys
portuni'dadi
posi'çãw
posi'çõys
possibili'dadi
pótenciali'dadi
prédo'mina
pró'bleàma
pro'bleàmaz
pró'céssu
pro'cura
pro'curu
pro'duS
pro'dutu
pró'géssu
pró'grãma
pró'gréssu
pró'jétus
pro'méssa
prõ'méssa
pro'metu
pró'móveàym
pro'móvi
pró'móvi
prõ'móvi
pró'pósitu
pró'póSta
pro'poStu
pró'va
proci'ssãw
procu'ra
procu'radu
procu'rãmuS
procu'randu
procu'rarum
procu'rassi
procu'rava
procu'rey
procu'ro
procura'ria
produ'çãw
produ'zi
produ'ziduz
profe'sso
profi'ssãw
(2)
(2)
(2)
(3)
(2)
(2)
(6)
(2)
(4)
(2)
(2)
(2)
(11)
(8)
(4)
(3)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(4)
(10)
(2)
(3)
(5)
(2)
(4)
(2)
(5)
(4)
(20)
(9)
118
profissonali'zadu
profissyo'naw
(3)
profissyonali'zanti
prógãma'çãw
progre'diw
prójé'tarãw
prõmó'çãw
promo'çõys
proprye'dadi
próspé'randu
proSti'tuta
proStitui'çãw
prótéS'tanti
prótéStan'tismu
provi'dencya
(2)
proxima'çãw
pru'curu
pruci'ssãw
(2)
prucu'ra
(3)
prufe'sso
(4)
prufi'ssãw
prumi'ti
pu'çãw
pu'de
(9)
pu'dé
(5)
pu'deàmu
pu'déssi
pu'déssimus
pu'dia
(13)
pu'liça
(2)
pu'licya
(2)
pu'litica
(5)
pu'liticu
(4)
pu'rissu
pu'ssívew
(3)
pude'ria
(3)
pude'roso
pufe'sso
(5)
pulici'aw
(4)
pulicia'mentu
puliti'cagim
pume'teru
purtu'gues
purtu'gueS
purtuni'dadi
(2)
putuni'dadi
qwatu'centuz
(2)
réco'nhéci
reco're
reconhe'ce
(2)
reconheci'mentu
récór'da
récórda'çãw
récu'nhéci
recunhe'ce
rédó'bra
refor'madu
réfór'mãmu
rénó'va
rénóva'çãw
répór'tagi
répró'vadu
reprodu'çãw
réStó'ranti
rétó'ma
revolu'çãw
ró'çadu
ró'da
ró'dada
ró'dagi
ró'dandu
ro'deyu
ró'ga
ró'gava
ró'landu
ro'manticu
ro'teru
ro'tiàna
ro'tina
rodo'via
ródó'via
rodovi'aria
rodovi'ariw
rótari'aànu
ru'liçu
ru'zariw
sintoni'zada
só'brassi
só'brava
so'bro
só'fa
so'fre
so'frew
so'fri
sõ'nha
sõ'nhava
so'nhey
sobre'vivi
sobrevi've
sobrevi'vença
sobrevi'via
sobri'tudo
sobri'vivu
sobrivi'vença
soce'dadi
soci'aw
soco'rre-la
socye'dadi
socyé'dadi
(2)
(3)
(2)
(3)
(2)
(4)
(2)
(3)
(2)
(3)
(2)
(3)
(2)
(7)
(3)
sofri'mentu
soli'tarya
sor'teru
su'briànhu
su'brinhu
su'ssegu
su'taqui
subran'celha
subrivi've
suce'dadi
sucié'dadi
sucya'dadi
sucye'dadi
sucyé'dadi
sufri'mentu
sussé'gadu
tó'ca
tõ'ma
to'mãmuz
to'mandu
to'mara
tõ'mati
tõ'mey
to'mo
tõ'mo
tó'taw
tõné'ladaS
tór'na
tór'nandu
tór'nava
tor'nera
tor'ney
tor'neyu
tornozo'lera
(3)
(3)
(2)
(5)
(2)
(4)
(4)
(2)
(4)
(2)
119
tranSfór'ma
transfór'mãmu
transfor'mo
transfórma'çõyz
transpór'tadu
transpór'tavu
tró'cadu
tró'cava
tró'cavu
tro'co
tro'quey
tuà'ma
tu'ma
(9)
tu'maru
tu'massi
tu'mava
tu'mavum
tu'mey
tu'mo
tur'ney
valo'riza
valori'zada
vérgo'nhôsu
vitóri'ósa
vó'ta
vó'tandu
(3)
(2)
vó'tantiz
vo'tey
vo'vo
vó'vó
vóca'çãw
vóta'çãw
vumi'ta
xéró'ca
xéró'cada
(5)
(2)
Ocorrências de /e/
uànivesi'dadi
abaSte'ce
abaSteci'mentu
aborre'sew
aborresi'ãw
acér'tava
aconce'lha
aconse'lharum
aconse'lho
aconte'ce
aconté'cendu
aconte'ceri
aconte'cew
aconte'cia
acontece'ria
aconteci'mentu
acre'dita
acredi'tar
acredi'tava
acredi'to
acri'ditu
adólé'senti
adórme'si
agrade'ce
agrade'ci
agradeci'mentu
alé'gravu
ale'gria
amãnhé'cendu
apare'ce
aparé'cendu
apare'cia
apare'se
apare'sew
apari'cia
ape'rreya
ape'sa
apé'sa
apé'za
aperri'adu
aperri'ãdu
apérri'adu
apré'senta
(4)
(3)
(3)
(2)
(2)
(5)
(5)
(3)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
apreci'a
aprésen'ta
aprésen'tava
aprésen'tey
aprésen'to
aprésenta'çãw
aprésenta'do
aprézen'to
apri'ciu
aque'se
arré'benti
arré'pendu
arrécada'çãw
arrépen'dida
arripindi'mentu
artesã'naw
até'rrandu
atravé'ssandu
atravéssa'do
atreve'ria
aveà'nida
ave'nidas
awfabétiza'sãw
awveàna'ria
awvena'ria
baté'lãw
be'be
be'bendu
be'beri
be'bew
be'bia
be'bidu
be'ju
be'lissimu
bebe'dera
bene'ficiw
bene'fiçu
benefi'centi
benefi'sia
benefisi'adu
bér'muda
beS'tera
bi'bida
(2)
(3)
(2)
(2)
(2)
(6)
bi'bidu
cuàme'te
cuànhe'cew
cuànhe'ci
cabé'çada
cansé'lãmu
canse'lo
carré'ga
carré'gada
carré'gandu
caté'draw
cate'quézi
ce'veja
cér'ca
cer'teza
cer'veja
ché'geàmu
che'ga
ché'ga
che'gada
ché'gadu
che'gãmu
che'gandu
che'garu
che'gassi
ché'gava
che'gavu
che'gey
che'go
ché'gueàmu
che'guey
cimi'téru
códeàna'do
cõmé'ça
cõmé'ceàmu
cõme'cey
cõmé'sandu
cõmé'sava
cõme'ço
coméci'anti
compare'ceram
compe'tindu
complé'ta
(3)
(2)
(2)
(6)
(2)
(6)
(5)
(3)
(2)
(4)
(5)
(5)
(2)
(4)
(2)
120
comple'to
confé'rença
congé'la:du
cõnhe'ce
cõnhé'ceàmuz
cõnhe'ce
cõnhe'ci
cõnhe'cia
cõnhe'cida
cõnheci'mentu
conhi'cia
conhi'ci
conse'gui
consé'gui
consér'ta
consi'gui
consi'guia
consi'guimu
consi'guimuS
consi'guindu
consi'guiru
consi'guissi
consi'guiw
considé'radu
considé'rava
considéra'çãw
conStér'nadu
convé'ça
conve'saàmu
convé'sãmuz
convé'sandu
convé'sar
conve'ce
conve'cey
conve'ço
convér'sandu
convér'seàmu
cópé'rassi
cópéra'çãw
cópéra'tivas
córdeà'nandu
consérva'do
cre'ce
cré'cendu
cre'cew
cre'cidu
cré'cendu
cre'ci
creci'mentu
cumé'ça
cumé'çaru
cume'cey
cume'ço
cumé'ça
cumé'çamus
cumé'çavu
cume'cey
cume'ço
cuméci'anti
cunhe'ce
cunhé'cendu
(2)
(2)
(2)
(9)
(3)
(2)
(5)
(3)
(2)
(6)
(3)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(2)
(2)
cunhi'ci
cunhi'cia
cunhi'cidu
cunvé'ssadu
cunvé'ssandu
cunvé'ssavu
cunvé'ssa
cunvér'sandu
cuveàni'ada
deàmi'ti
deàmo'ro
dansete'ria
dé'cendu
de'ceru
de'ci
de'clinhu
de'dicu
de'fiànu
de'feytu
dé'móri
dé'pendi
dé'pendu
de'po
dé'poàmuS
de'poS
de'poyS
dé'pózitu
dé'rróba
dé'seànhu
de'ce
de'seja
de'seju
dé'centi
de'ci
de'So
de'sórdeàyn
dé'vendu
de'via
de'vidu
de'viu
dé'vótu
dé'zembru
de'zoytu
dé'zoytu
debu'tantiS
deca'indu
déca'indu
déca'iw
décépi'çãw
deci'di
décó'ra
deco'rre
dedi'ca
dedi'cada
dedi'candu
dedi'co
dedi'quey
défa'sageàym
defici'encya
defici'enti
délé'gadu
(2)
(2)
(3)
(7)
(15)
(16)
(2)
(3)
(2)
(3)
(5)
(7)
(7)
(3)
(2)
(2)
déléga'cia
demago'gia
demi'tiw
demo'ro
demonStra'çãw
dépa'ro
départa'mentu
dépen'de
dépen'dendu
dépen'denti
deposi'ta
depu'tadu
dépu'tadu
dérra'deru
dérró'ba
dérro'to
dérru'bo
dérru'ba
deS'tinu
dese'jo
desempe'nha
deci'di
desiS'tença
desiS'tiru
deStru'indu
détérmi'nadu
deve'ria
dévó'çãw
dévó'raru
dese'ja
desenvowvi'mentu
desiS'ti
desiS'tia
di'dicá
di'maS
di'mays
di'novu
di'pos
di'via
di'vidu
di'viu
di'zoytu
didi'quey
difé'rença
difé'renti
inté'rra
dir'munta
diré'çãw
dire'to
dirres'peytu
direto'ria
diS'casu
diS'cóbri
dis'pesa
diS'pesaz
diS'via
disaba'fandu
disapa'réci
disapare'cerãw
disca'ma
diScan'sa
(2)
(3)
(3)
(2)
(2)
(3)
(2)
(2)
(2)
(5)
(5)
(2)
(2)
(2)
(6)
(11)
(7)
(3)
(3)
121
diScan'sey
discar'tey
diScaracteri'zada
diSconfi'andu
diScu'brindu
discu'briw
diScu'pandu
diScur'pandu
disevolu'idu
disim'pregu
disimpe'nhava
disimpré'gadu
disimpré'gandu
disinpaci'enti
disinvovi'mentu
disinvow'vendu
disinvow'vew
diSle'chada
diSli'gadu
disocu'pada
dispa'chadu
dispa'charu
dispen'sadu
disper'diçu
diSpi'dindu
diSpré'zada
diSqwa'rada
diSti'naru
diStru'ida
diStru'indu
diSvan'tagin
diva'ga
divé'gencya
divé'ssãw
diver'sãw
diver'ti
diver'tia
diver'tidu
diver'tindu
divér'tiri
divérti'mentu
diveS'ti
divéSti'çãw
divir'ti
dizeà'nóvi
diz'mancha
dize'nóvi
dizé'sséti
dize'sseys
dizgoS'tey
dizim'pregu
dizimpré'gada
dizimpré'gadu
dizinten'deru
dizintéré'ssadu
dizinvow've
dizinvow'vew
diziz'peru
dizmay'ey
disórgaàni'zaduS
dizvalori'zada
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(4)
(2)
(2)
(2)
(2)
(12)
(2)
(2)
dólé'cencya
dré'gaw
élé'mentu
élé'vadu
eletre'cista
ene'gia
ener'gia
entré'ga
eredi'tariw
ece'sãw
especi'aw
esque'ce
exe'ce
exer'ciciw
fale'ce
fale'cew
falé'cendu
fe'chada
fe'lis
fe'Sa
fe'So
fe've
fé'vendu
fédé'raw
felici'dadi
fer've
fér'vendu
fer'vidu
feS'tiva
feSti'vaw
feStivi'dadi
feve'reru
fi'rida
forne'se
fórné'sendu
forne'cew
forneci'mentu
fraque'jo
fratér'naw
fre'guesiz
fré'qwença
fré'qwenta
fregui'zia
fréquen'tandu
fréqwen'ta
fréqwen'tada
fréqwen'tava
fréqwen'tavamuz
fréqwen'tey
funé'rarya
futé'bow
ge'lera
gé'radu
gé'raw
gé'renti
géla'dera
géra'çãw
géS'tanti
guvér'na
guvérna'do
ré'médiw
(3)
(2)
(4)
(3)
(3)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
récumpe'ro
ige'nheru
imedi'atu
impi'di
impré'gada
impré'gadu
impré'gadus
impré'saru
impreS'tey
imprésyo'nanti
indeàniza'çãw
indé'cencya
inde'cisa
inde'ressu
indeni'zarãw
indépen'denti
ineSpé'radu
infequi'sãw
infequici'ozu
infér'magi
infér'magin
infer'mera
injé'çãw
injé'çõyS
injé'tadu
ingi'nheru
inte'classi
inté'réssa
inte'ressi
inté'réssu
inté'réssu
intégra'çãw
intér'na
intér'nada
intér'tendu
intér'valu
intér'vençãw
intéré'ssa
intéré'ssadu
intéré'ssandu
intéré'ssanti
intéré'ssava
intere'sso
interi'o
intéri'or
intérnacyo'naw
intérróga'çãw
intérven'çãw
intré'ga
intré'gandu
intré'garu
intre'viSta
intreviS'tandu
intriSte'cew
inveS'ti
inveS'tissi
inxér'gassi
inxer'guey
isclare'ce
iScre've
iscré'vendu
(3)
(2)
(2)
(2)
(13)
(2)
(3)
(2)
122
iscurre'gey
ispé'ra
ispé'randu
iSpé'rava
ispé'ravun
ispe'rey
iSpeci'aw
iSpedi'enti
isperi'encya
iSpérta'lhãw
iSpesi'aw
isque'sew
iSque'si
isqui'si
isque'cidu
iStabeli'cidu
iStér'natu
iStereli'zadu
iStré'sada
ixpré'ssãw
gé'raw
géla'dera
late'rays
lé'garum
lé'gaw
lé'genda
le'gitimuS
lé'va
lé'vandu
lé'varu
lé'vava
lé'vavu
le'vey
le'vo
lecyo'na
lesyõ'na
lévan'ta
lévan'tandu
lévan'taru
lévan'tava
libé'raw
libér'dadi
meà'nó
meà'nóriz
mià'niànu
mange'zayz
maànhe'ce
maniféSta'çãw
marre'teru
mateà'matica
mate'matica
matéri'aw
matéri'az
mé'cãnica
mé'dõnhu
mé'lhó
mé'lhóra
me'mórya
me'nó
me'reçu
mé'renda
(2)
(3)
(2)
(2)
(4)
(5)
(4)
(8)
(3)
(5)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(4)
(2)
(3)
(15)
(2)
mé'Seàmu
me'xe
me'xew
mé'tadi
me'te
me'teru
me'tia
me'tidu
medi'cina
medita'çãw
mélhó'ra
mélhó'rãmu
mélhó'randu
mélhó'raru
melho'ro
mélhóra'ria
mér'cadu
mér'cadu
mer'ce
mércadu'ria
méren'dandu
méren'davu
mi'niànu
milhóra'ria
mimpre'guey
miné'raw
miSi'lhãw
módérni'dadi
neà'neà
né'góçu
nécé'ssariw
nécessi'dadi
necessi'tey
néga'tivaS
néga'tivu
négóci'a
negoci'ava
nér'vósa
necessi'dadi
necessi'tada
nicissi'dadi
nivéssi'dadi
obe'deçam
obede'ce
obije'tivu
obisé'va
obisér'va
obisér'vandu
ófé'rési
óféré'cendu
ofere'se
ome'nagi
omenagi'ada
omosequissu'aw
onéSti'dadi
ópé'ra
ópé'rada
ópe'ro
ópéra'çãw
órde'nadu
pacé'ladu
(3)
(3)
(4)
(6)
(2)
(5)
(9)
(2)
(6)
(13)
(2)
(6)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
paqué'rava
pare'ceru
pare'cew
parce'ria
pé'cadu
pé'daçu
pé'daçu
pé'déSti
pe'drera
pé'f~umi
pé'ga
pé'gandu
pé'garãw
pé'garra
pé'garu
pé'gava
pe'gey
pe'go
pe'guey
pe'nera
pe'queàna
pe'ranti
pe'riwdu
pe'ru
pe'rua
pe'ssoa
pé'sswaw
pé'zadu
peca'do
pece'be
péda'gógica
pédago'gia
pedi'atra
pégun'ta
péla'deru
peni'tencya
pér'deàmu
per'de
pér'demus
pér'dendu
per'dew
per'di
per'diamuz
per'didu
per'doi
per'doy
pér'dura
per'feytu
pér'gunta
per'guntas
pér'guntu
per'mita
pér'muta
pér'sébi
pér'tenci
pérgun'ta
pérgun'taru
pérgun'tava
pérgun'to
peri'ódicuS
pérmã'néceyn
(3)
(2)
(6)
(4)
(5)
(5)
(7)
(3)
(2)
(5)
(3)
(20)
(2)
(4)
(4)
(3)
(2)
(5)
(2)
(3)
(2)
(3)
123
pérmã'nenti
permãne'ce
pérmi'ssãw
permi'tia
perpequi'tivas
perse'bew
pérten'cia
pés'ca
pés'ca:da
péS'cada
péS'cado
pés'cadu
pés'cãmus
pés'cava
pés'cavãmus
pés'quisa
pes'quisa
pésca'do
pésca'ria
pese'be
pesqui'sa
pessu'a
péssu'aw
pessu'ays
péssu'a
pessu'aw
pi'di
pi'dia
pi'didu
pi'didus
pi'dindu
pi'dirãw
pi'diw
pi'queàna
pi'quenu
pi'rigu
pi'ru
piri'gósuz
piri'góza
piri'gozu
plãne'ja
plane'jadu
ple'nariw
preàma'turu
pre'cisa
pré'féri
pre'feytu
pre'firu
pré'para
pré'paru
pré'ssenti
pré'sérva
pre'cisa
pre'cisu
pré'tendu
pré'zenti
pré'zérva
preci'sandu
preci'sava
prédo'mina
préfé'rença
(5)
(2)
(2)
(2)
(3)
(4)
(2)
(8)
(5)
(4)
(3)
(5)
(2)
(2)
(4)
(2)
(8)
(4)
(5)
(8)
(2)
(3)
prefe'ria
prefe'riw
prefey'tura
prefi'ria
prégui'ada
preju'dica
préju'izu
prejudi'ca
préla'zia
prépa'ra
prépa'radu
prépa'randu
prépa'rava
prépa'rey
préS'ta
préS'tadu
préS'tava
présér'va
présérva'çãw
presi'denti
preci'zandu
preci'zava
préSta'çãw
préSta'çãw
précyo'nava
précyo'no
préten'dendu
préten'dew
préveStibu'la
presi'denti
pri'guiça
pri'cisa
pri'cisu
prici'pita
prici'sa
prici'sandu
prici'sey
profe'so
prójé'tarawn
prufe'sso
pude'ria
pufe'sora
pume'terum
qué'bra
qué'bradu
que're
qué'rendu
québra'dera
quéS'tãw
qui'ria
qui'riu
qué'bra
qué'reàmuz
que're
qué'rendu
que'ria
que'ridu
quéS'tãw
quéS'tõyS
queStyo'nava
qui'ria
(8)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(7)
(2)
(2)
(2)
(5)
(2)
(7)
(4)
(6)
(4)
(13)
qui'riun
ré'béwdi
ré'cadu
ré'cébi
ré'clãma
ré'clãmun
ré'córdu
ré'córri
ré'crãma
ré'cussu
ré'dó
ré'fórma
re'gida
re'gimi
ré'lévu
ré'médyu
re'menduz
ré'méssa
ré'naça
ré'passa
ré'penti
ré'póti
ré'cébi
ré'ssenti
re'ceyta
ré'sóvi
re'tirãw
re'tornu
ré'tratu
ré'venda
ré'vendi
re'viSta
re'viStaS
ré'za
ré'zandu
rece'be
récé'bendu
rece'bi
rece'bia
rece'bidu
reci'clagem
réclã'ma
réclã'maru
réco'nhéci
récó'péra
reco'rre
récom'pensa
reconhe'ce
recõnheci'mentu
recopé'ra
récór'da
récórda'çãw
recrea'çãw
récu'nhéci
récumpe'ro
recunhe'ce
récupéra'çãw
réda'çãw
rédó'bra
refigé'ranti
réfór'mãmu
(3)
(2)
(2)
(2)
(6)
(2)
(2)
(2)
(5)
(2)
(2)
(2)
(3)
124
regi'ãw
reintegra'çãw
regi'õyz
réla'çõys
réla'çãw
rélé'gadu
rélem'bra
rélem'brandu
religi'ãw
religi'ósa
religi'osu
reliji'ozu
remen'dari
remuné'rada
remuné'raduz
rénó'va
rénóva'çãw
répa'ssa
répa'ssey
répar'tidu
repe'ti
repe'tiw
répór'tagi
répré'senta
réprésen'ta
réprésen'tanti
réprésenta'çõys
réprésen'ta
répró'vadu
reprodu'çãw
réS'gata
res'peyta
res'peyti
res'peytu
rés'póSta
réS'póStas
rese'be
résé'ca
résé'vadu
resi'dença
resi'dencya
reso'vi
respey'tadu
réspon'de
réspon'ssaviw
résponsabili'dadi
résponsabili'zava
reti'ra
reti'rada
rétó'ma
rétra'sadu
réven'dendu
revolu'çãw
révów'tada
révow'tadu
rézérva'tóriw
rézga'tar
rezis'tradu
reziS'trassi
reziS'tro
résó'veàmuS
(5)
(3)
(5)
(2)
(2)
(2)
(2)
(6)
(2)
(2)
rezo'vi
resow've
resow'vew
resow'vi
resu'tadu
resu'vi
ri'curssus
ri'viStaS
riligi'ãw
seà'mãna
sià'nho
sià'nhóra
ce'bola
sé'ca
sé'cava
sé'çãw
se'co
se'dew
che'ga
che'gada
che'gãmuS
che'gandu
ché'gandu
che'garu
ché'garu
che'gava
ché'gava
che'gey
che'go
se'gui
se'guindu
se'gunda
se'mãna
sé'maàna
se'nado
se'nhoriS
sé'para
se'ria
se'rrera
sé'ssenta
sé'tembru
se'tenta
sé'tenta
se'tor
sé'venti
sé'véru
se'vi
se'viçu
sé'viçu
se'vindu
se'vyu
sécré'tariw
sécré'tarya
sécré'tariw
sécréta'ria
segu'rança
sélé'bravu
sena'dor
sépa'reàmu
sépa'rada
sepa'radu
(2)
(3)
(2)
(5)
(4)
(2)
(2)
(6)
(6)
(3)
(7)
(2)
(2)
(6)
(6)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(7)
(2)
(3)
(2)
(2)
(2)
sépa'radu
sépa'rãmuz
sépa'randu
sépa'raru
sépa'rey
sépa'ro
sépara'çãw
sepu'ta
sér'mãw
sér'tãw
sér'venti
ser'vi
sér'viçu
sér'vida
ser'vindu
ser'viçu
ser'viw
sértã'neja
séti'centu
seti'centuz
si'guida
si'guinti
si'gui
si'guindu
si'guiw
si'gunda
si'gundu
si'guru
si'menti
si'nho
si'nhóra
si'nhoris
sigu'rança
(2)
(2)
(2)
(3)
(2)
(3)
(2)
(2)
(4)
(3)
(11)
(11)
(6)
(5)
(2)
125
sigu'randu
simi'naru
sobri'tudu
subigé'renti
subiS'timu
subrivi've
suce'deru
supe'rey
supémér'cadu
supér'beyn
superdifé'renti
superesclare'sida
supéri'o
superinteli'genti
superlé'gaw
supérmér'cadu
superpe'queàna
suple'tivu
té'çadu
te'ceru
te'cidu
te'mia
te'nenti
te'ria
té'rreànu
te'rreru
té'sadu
te'cera
télé'foni
télé'grãma
télévi'sãw
televi'sãw
teme'rosu
témi'no
ter'ceru
tér'miàni
ter'mina
térmià'na
térmià'nasin
térmià'nandu
térmi'na
térmi'nadu
térmi'naw
térmi'ney
(2)
(2)
(9)
(3)
(2)
(5)
(3)
(2)
(2)
(4)
(4)
(5)
(2)
(2)
(3)
(3)
térmi'no
treà'menda
transfé'rença
tranSfe'ridu
tranSfi'ri
transfi'ridu
transfi'riw
travé'ssa
tré'zentas
trévé'ssada
trévé'ssandu
tubércu'losu
univé'saw
univérsi'dadi
universi'tariw
univési'dadi
univési'taria
univesi'tariw
univési'tariw
vé'ladu
vé'lhici
vé'lóriw
vé'rãw
vé'siculu
vélha'ria
vende'do
vér'dadi
vér'gõnha
ver'melha
vérã'neyu
vérda'dera
verea'doriS
vérgo'nhosu
veria'do
veStibu'la
véStibu'landus
vicidire'tora
vicipre'feytu
viS'ti
viS'tida
viS'tidu
viS'tindu
viS'tiw
xéró'cada
zé'lósa
(3)
(2)
(2)
(6)
(2)
(3)
(11)
(2)
(3)
(8)
(3)
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as vogais médias pretônicas no falar da cidade de bragança