Estudos Linguísticos e Literários
Módulo I
Linguagem e sociedade
- Variação Linguística, gêneros discursivos e linguística textual.
Professora Sabine Mendes
[email protected]
Ficção da homogeneidade

-
Lyons (1981)
Ficção da homogeneidade versus noções
de sotaque e dialeto.
Sotaque – variação dialetal restrita à
pronúncia.
Estereótipos.
Encontro I – Variação linguística
Produção da UNB/Letras
 Níveis de variação da língua:
- Fonológico
- Morfo-sintático
- Vocabular

Nível fonológico
- Você identifica as variações fonológicas do
português falado no Rio de Janeiro em
relação ao português falado nas demais
regiões do país?
- Outros exemplos:
o l final de sílaba é pronunciado como
consoante pelos gaúchos, enquanto em quase
todo o restante do Brasil é vocalizado, ou seja,
pronunciado como um u; o r caipira;
o s chiado do carioca.
Estudo de Caso
Nível morfo-sintático
-
-
Analogia
Exemplo: conjugar verbos irregulares como
se fossem regulares: "manteu" em vez de
"manteve", "ansio" em vez de "anseio"; certos
segmentos sociais não realizam a
concordância entre sujeito e verbo, e isto
ocorre com mais freqüência se o sujeito está
posposto ao verbo. Há ainda variedade em
termos de regência: "eu lhe vi" ao invés de
"eu o vi".
O debate do pronome átono.
Nível vocabular
Palavras são empregadas em um sentido
específico de acordo com a localidade.
Exemplos: em Portugal diz-se "miúdo", ao
passo que no Brasil usa-se " moleque",
"garoto", "menino", "guri"; as gírias são,
tipicamente, um processo de variação
vocabular.
Tipos de variação linguística
Travaglia (1996) : dialetos e registros.
 Dialetos – dependem do emissor.
 Registros – dependem do uso (mensagem,
receptor, situação).

Exemplos de variação dialetal
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

a região onde nasceu (variação regional) - aipim, mandioca,
macaxeira (para designar a mesma raiz); tu e você (alternância do
pronome de tratamento e da forma verbal que o acompanha);
vogais pretônicas abertas em algumas regiões do Nordeste;
o s chiado carioca e o s sibilado mineiro;
o meio social em que foi criada e/ou em que vive; o nível de
escolaridade (no caso brasileiro, essas variações estão
normalmente inter-relacionadas (variação social) : substituição
do l por r (crube, pranta, prástico); eliminação do d no gerúndio
(correndo/correno); troca do a pelo o (saltar do ônibus/soltar do
ônibus);
a profissão que exerce (variação profissional): linguagem
médica (ter um infarto / fazer um infarto); jargão policial ( elemento /
pessoa; viatura / camburão);
a faixa etária (variação etária) : irado, sinistro (termos usados
pelos jovens para elogiar, com conotação positiva, e pelos mais
velhos, com conotação negativa).
Exemplos de variação dialetal
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
TEXTO DE GUIMARÃES ROSA (FALAR MINEIRO)
"E eu levava boa matalotagem, na capanga, e também o binóculo. Somente o trambolho
da espingarda pesava e empalhava. Mas cumpria com a lista, porque eu não podia deixar o
povo saber que eu entrava no mato, e lá passava o dia inteiro, só para ver uma mudinha de
cambuí a medrar da terra de-dentro de um buraco no tronco de uma camboatã; para
assistir à carga frontal das formigas-cabaças contra a pelugem farpada e eletrificada de
uma tatarana lança-chamas; para namorar o namoro dos guaxes, pousados nos ramos
compridos da aroeira (...)"
(João Guimarães Rosa, São Marcos, in: Sagarana)
TEXTO DE SIMÕES L. NETO (FALAR GAÚCHO)
"Vancê pare um bocadinho: componha seus arreios, que a cincha está muito pra virilha. E
vá pitando um cigarro, enquanto eu dou dois dedos de prosa àquele andante ... que me
parece que estou conhecendo ... e conheço mesmo! ... É o índio Reduzo, que foi posteiro
dos Costas, na estância do Ibicuí. "
(Simões Lopes Neto, Contos gauchescos e lendas do sul)
TEXTO DE JOSÉ LINS DO REGO ( FALAR NORDESTINO)
"Chegou a abolição e os negros do Santa Fé se foram para os outros engenhos. Ficara
somente com Seu Lula o boleeiro Macário, que tinha paixão pelo ofício. Até as negras da
cozinha ganharam o mundo. E o Santa Fé ficou sem os partidos no mato, com o negro
Deodato sem gosto para o eito, para a moagem que se aproximava. Só a muito custo
apareceram trabalhadores para os serviços do campo. Onde encontrar mestre de açúcar,
caldeireiros, purgador?"
(José Lins do Rego, Fogo Morto)
Exemplo de variação dialetal
"Os espetos e grelhas giratórias são
acionados por motor elétrico. A
carne em rotação evita a perda
do suco natural e grelha por igual. O
sistema giratório unta o churrasco
com
a
gordura
derretida
e acentua seu sabor. O controle
do ponto é fácil e eficiente."
Exemplo de variação dialetal
verbete GRELHA
a) pequena grade de ferro sobre a qual se assam ou torram alimentos.
b) antigo instrumento de suplício.
c) cavalo ordinário e magro ( em Pernambuco).
verbete ROTAÇÃO
a) ato ou efeito de rotar; movimento giratório; giro em voltas sucessivas em
torno de um eixo.
b) movimento executado pela terra em torno da linha dos pólos de
oeste para leste, em 23 horas, 56 minutos e 4 segundos, ou um dia.
verbete SUCO
a) líquido com propriedades nutritivas contido nas substâncias animais ou
vegetais; sumo.
b) qualquer líquido orgânico segregado por glândula ou mucosa: suco
gástrico.
c) essência, substância.
Exemplo de variação dialetal
verbete ACENTUAR
a) colocar acento nas sílabas de uma palavra.
b) tornar mais intenso, aumentar, realçar.
verbete PONTO
a)picada produzida por agulha em tecido.
b) sinal de pontuação.
c) manchazinha arredondada.
d) lugar de parada de ônibus.
e) registro de entrada e saída do trabalho.
f) parte de um assunto.
g) (culinária) ao ponto - diz-se de carne medianamente assada.
Exemplo de variação dialetal
Fala de um senhor que trabalha com Marketing Político:
"Olha, hoje em dia, uma campanha, qualquer que seja, sai muito cara e não se admite mais
nenhum esforço em qualquer organização do país ou do mundo que não use informática para
melhorar seu controle de custos, melhorar a divulgação de suas mensagens junto aos clientes,
melhorar a organização da campanha. Então a informática serve para tudo isso, é a
ferramenta moderna e que está penetrando em todas as empresas."

Fala de um médico explicando algumas doenças do coração:

"Tem gente que nasce com coração maior ou menor, com vários defeitos. Essas
são as cardiopatias congênitas, né, o coração pode nascer com inúmeros defeitos.
Agora, o tamanho do coração também tem a ver com outros problemas que não
são congênitos, como a insuficiência coronariana."

Fala de um advogado, explicando a linguagem que ele usa no Forum:
" As expressões são data venia, permissa venia, concessa venia. O senhor, para não
usar de aspereza com o juiz, o senhor bota data venia, que quer dizer "com o
devido respeito", bota antes data venia e aí fala o que quiser para o juiz. Os
sinônimos de data venia seriam permissa venia, concessa venia. Eu jamais repito
data venia no mesmo processo. Só data venia, data venia, fica enfadonho, né?"
Variações de registro – grau de
formalismo
no vocabulário:
"Quero te pedir um grande favor." (mais informal)
"Venho solicitar a V.S. a concessão de auxílio-doença." (mais formal)
 na sintaxe:
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
 (Oswald de Andrade - Poesias Reunidas)

Variações de registro – modalidade
de uso.



Oral e Escrita.
Algumas diferenças: na língua falada, há entre falante e ouvinte um
intercâmbio direto, o que não ocorre com a língua escrita, na qual a
comunicação se faz geralmente na ausência de um dos
participantes; na fala, as marcas de planejamento do texto não
aparecem, porque a produção e a execução se dão de forma
simultânea, por isto o texto oral é pontilhado de pausas,
interrupções, retomadas, correções, etc.; isto não se observa na
escrita, porque o texto se apresenta acabado, houve um tempo
para a sua elaboração. É bom lembrar ainda que não se deve
associar língua falada a informalidade, nem língua escrita a
formalidade, porque tanto em uma quanto em outra modalidade se
verificam diferentes graus de formalidade. Podem existir textos
muito formais na língua falada e textos completamente informais na
língua escrita.
Vídeo da UNIVESP.
Variação de registro – sintonia.
Deve ser entendida como o ajustamento que o falante realiza na estruturação de seus textos,
a partir de informações que tem sobre o seu interlocutor. Por exemplo:

ao falar com o filho ou deixar um bilhete para ele, a mãe usará um registro diferente
daquele que usaria com o seu chefe; isso se dá em função do diferente grau de intimidade
que mantém com cada um desses interlocutores;

outro tipo de variação pode ser originada em função dos conhecimentos que o falante
supõe que o seu ouvinte tem a respeito de um determinado assunto que será o objeto da
comunicação. Desta forma, um especialista em um tema falará de formas diferentes em
conversa com outro especialista ou em uma conferência, para pessoas que se interessam
por aquele assunto, mas ainda não o dominam;

diferenças serão observadas em função do grau de dignidade que o falante julga
apropriado ao seu interlocutor ou à ocasião, existindo aí uma ampla escala de registros,
que vai da blasfêmia ao eufemismo;

os registros usados por um jovem poderão ser diferentes se ele for falar com sua
namorada, com uma pessoa a quem for solicitar um emprego, com uma pessoa idosa; da
mesma forma, escreverá textos distintos em um bilhete para sua mãe ou em um
requerimento dirigido a alguém para solicitar alguma coisa.
Padrões
Dialeto-padrão.
 Pidgins e línguas crioulas – dialetos
altamente restritos a certas situações
sociais que podem alcançar o status de
padrão.
 Pidgin – contatos entre povos sem língua
em comum.

Bilinguismo, mudança de código e
diglossia.
Bilinguismos perfeitos - compostos e
coordenados (nível de “armazenamento”
estudado pela psicolinguística).
 Bilinguismo longe de perfeito – uma língua
é dominante e a outra subordinada.
 Diferenciação funcional para cada língua –
domínio da língua.
 Mudança de código – língua indonésia,
francês e inglês.

Processo de aprendizagem –
aquisição de segunda língua

-
-
Alvarez (2002)
Transferência.
Interferência.
Interlíngua.
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