ouro, comércio e abastecimento
James William Goodwin Jr.
“A mineração foi a principal atividade econômica
durante o século XVIII. A atividade extrativa
deu forma à ocupação do território, fez surgir
um mercado consumidor para produtos
agrícolas, manufaturas, artesanato e artigos de
luxo. A mineração era a atividade nuclear, que
impulsionou o comércio, a lavoura e outras
atividades de produção.”
MARTINS, p. 23
A descoberta e exploração
das jazidas minerais exigiu
da Coroa a reorganização
do aparato colonizador.
Além da formação da
Capitania – das Minas do
Ouro e de São Paulo em
1709, das Minas Geraes em
1720 – e do aparato administrativo decorrente (governador, bispo, tropas etc.), o
ouro levou à criação de um
mecanismo de divisão das
lavras e seus lotes, as datas;
um sistema de cobrança de
Impostos; e um aparato fiscalizador, e também repressivo.
“A pequena extração realizada por indivíduos isolados, empregando basicamente a
bateia, o carumbê e umas poucas ferramentas, tinha ampla difusão e estava muitas
vezes associada à mineração ilegal – a garimpagem. Da faiscação e da garimpagem
participavam tanto homens livres como escravos, sendo que os cativos deviam a
seus senhores uma quantia semanal combinada – geralmente uma oitava – ,
podendo fazer uso livre do excedente que conseguissem apurar.”
MARTINS, p. 24
Garimpo atual na região de Diamantina, MG
“Já as lavras eram estabelecimentos fixos que dispunham
de algum aparelhamento,
reunindo vários trabalhadores
sob uma direção única e
trabalhando em conjunto. A
lavra correspondeu à época
de auge da mineração, quando
havia recursos e produção
abundante, que tornavam
possível a exploração em larga
escala e obras de vulto, como o
desvio de rios. Não era incomum
encontrar nas lavras número
considerável de trabalhadores
livres assalariados.”
MARTINS, p. 25
RUGENDAS, Villa Rica, 1835
Para controlar o fluxo da riqueza mineral, a circulação de ouro em pó foi proibida,
a partir de 1720. Foram implantadas casas de fundição em locais estratégicos,
onde o ouro era fundido em barras e lingotes, recebendo o selo oficial. A Coroa
retinha 20% do total – um quinto, que deu nome ao tributo.
A exploração de diamantes exigiu um outro mecanismo, tanto pela impossibilidade
de marcar as pedras, quanto pela facilidade de ocultá-las. A delimitação de uma
área sob regime especial – a Demarcarção Diamantina –, o regime de Contrato,
depois o sistema de monopólio: estratégias da Coroa para lutar contra o constante
contrabando dos diamantes.
RUGENDAS, Comboio de diamantes passa por Caeté, 1835
A constante preocupação da
Coroa em coibir os desvios e
contrabandos, debelar os
levantes e rebeliões, e ainda
garantir a boa administração
da Capitania - bem como os
limites dessas políticas - podem
ser exemplificados na tentativa
de controle dos caminhos e rotas
em Minas Gerais.
Os caminhos oficiais e suas
Variações, os descaminhos e suas
lendas, formam a base histórica
do recente produto turístico
denominado Estrada Real.
a) Agricultura: subsistência, redução do custo de
vida, economia para outros investimentos
necessários (escravos, equipamentos, etc.)
- região de difícil acesso torna mais interessante a
produção local;
- relação agricultura/mineração: uma sustenta e
permite a expansão da outra;
- início do século XVIII: mercado de terras –
doações, testamentos, legados; posse da terra, além
de status, confere fortuna e poder.
b) Pecuária: ocupação da região do Vale do S.
Francisco ainda antes da região mineradora (BA);
no Sul, expansão das áreas pastoris paulistas.
RUGENDAS, Campos às bordas do Rio das Velhas, 1835
Expansão das terras agrícolas acompanha região mineradora, mas
também vai além (ver MARTINS):
a) bacia do Médio São Francisco: margem direita, Comarca do
Serro Frio; Comarca do Rio das Velhas; margem esquerda,
Comarca de Paracatu – gado bovino, eqüino, couro e peles, carne e
peixes, sal, algodão; comércio com as minas e com a Bahia;
b) Médio Paraopeba: Rio Pará, Alto S. Francisco, planaltos de
Araxá e Patrocínio – gados, tb suíno, algodão; comércio com as
minas, São Paulo e Rio de Janeiro;
c) Comarca do Rio das Mortes: Sul de Minas, Caminho de São
Paulo – milho, feijão e arroz, fumo, gados, tb caprino, laticínios:
Caminho do Rio – idem, além de toucinho, açúcar e rapadura;
Minas, Rio e SP;
d) Minas: milho, feijão, arroz, mandioca, cana, algodão, açúcar,
aguardente; gado bovino e suíno;
e) Jequitinhonha: Comarca do Serro Frio – milho, mandioca, feijão,
fumo, cana e algodão, cachaça, rapadura e açúcar, tecidos, gado e
laticínios; Minas e Bahia;
Ocupação da quase totalidade do território mineiro; 2/3 da população
economicamente ativa envolvida com agropecuária e/ou
comércio.
A
E
B
D
C
Divisão regional da produção agropecuária de Minas Gerais Setecentista
(cf. MARTINS, sobre mapa da Província de Minas Gerais de 1868)
Comércio: rotas de tropeiros interligavam as regiões
agropastoris entre si, com os mercados urbanos, e
com outras áreas da colonização portuguesa; rotas
estabelecidas e frequentes;
- Vale do São Francisco: gado, escravos do NE;
- Rio de Janeiro: fazendas, gêneros alimentícios,
escravos africanos, azeite, bacalhau, trigo,
manufaturas, armas, pólvora, ferramentas, artigos
de luxo; porto oficial de exportação de ouro e
diamante;
- São Paulo: muares e gêneros alimentícios, vindos
até da fronteira Sul.
RUGENDAS, Caravana de mercadores chega ao Tijuco, 1835
RUGENDAS, Habitantes das Minas, 1835
Tropeiros “autônomos” convivem com grandes mercadores,
donos de “companhias” de tropas.
Núcleo urbano (freguesia, arraial, vila)
- mercado para compra de produtos
para abastecimento de acampamentos
e fazendas (gêneros alimentícios,
ferramentas, armas, etc.);
-ponto de confluência das rotas de
tropeiros e das regiões agropastoris
circunvizinhas (cf. MENESES, 2000).
“O certo é que, no final do período setecentista, os
mineiros já não tinham mais ‘sua melhor bodega
nos matos e rios’, como os paulistas que ocuparam
a região e os nativos dos primeiros anos do século.
Há uma rede comercial que lhes oferta uma maior
diversidade de produtos e há, sobretudo, uma
produção local que responde à demanda da
população. Se a fome era a companheira constante
da aventura paulista dos primeiros anos de
colonização, a subsistência foi garantida e
aperfeiçoada com o processo de sedentarização no
decorrer de todo o período da mineração.”
MENESES, 2000, p. 112
População crescente gera grande demanda por
abastecimento, produtos e serviços; gêneros
alimentícios, mas também alimentos
(quituteiras, por exemplo); escravos, mas
também jornaleiros; construções; etc.;
- companhias de comércio com ligações e
representantes em vários pontos da Capitania e
até além (cf. FURTADO)
- comércio intenso de obras de arte: confrarias
religiosas (ver próximas aulas).
73 vendas, 63 lojas e 2 farmácias; açougues, sapateiros, alfaiates, barbeiros e
ofícios manuais; comércio: população livre ou escrava, branca ou negra
DEBRET, Botica, 1827
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CHAVES, Cláudia Ma. Perfeitos negociantes: mercadores das Minas
setecentistas. São Paulo, Annablume. 1999. (Selo Universidade)
FURTADO, Junia. Homens de negócio: a interiorização da metrópole
e do comércio nas Minas setecentistas. São Paulo, Hucitec, 1999.
MARTINS, Marcos Lobato. Da Bateia à Enxada: Minas Gerais nos
Séculos XVIII e XIX. Diamantina, FAFIDIA/FEVALE, 2000.
MENESES, José Newton Coelho. O Continente Rústico:
abastecimento alimentar nas Minas Gerais Setecentistas.
Diamantina, Maria Fumaça Editora, 2000.
MENESES, José Newton Coelho. O gosto e a necessidade – em
torno da cozinha mineira do século XVIII. Caderno de Filosofia e
Ciências Humanas. Belo Horizonte, FAHL-UNICENTRO Newton
Paiva, ano VI, n.º 10, abril 1998, p. 18-3
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