PSICOLOGIA INSTITUCIONAL O exercício da psicologia como instituição INTRODUÇÃO Marlene Guirado Psicóloga, psicanalista e analista institucional. Professora Doutora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 1. PSICOLOGIA: INTENÇÃO E EXTENSÃO “Parece infindável a tarefa a que me propus: demonstrar a viabilidade de pensar a psicologia como instituição e daí derivar a idéia de que onde e como quer que se a exerça, estaremos de algum modo reafirmando esse seu caráter; estaremos produzindo e/ou reproduzindo uma prática, um conjunto de relações, que reconhecemos legítima e naturalmente ser psicologia.” – M. Guirado. Movimento de expansão da psicologia Instituições Não-sistematização teórico-prática 1. PSICOLOGIA: INTENÇÃO E EXTENSÃO Possibilitou “alargar os horizontes do pensamento e do fazer concreto, extrapolando os já distantes limites legais, e provocando os psicólogos a abandonar determinadas certezas cristalizadas em suas modalidades de atuação para abraçar desafios ainda muito tensos e informes.” Psicologia Institucional e Análise Institucional. 2. A PSICOLOGIA INSTITUCIONAL DE BLEGER: UMA INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA Termo cunhado por Bleger Psiquiatra e psicanalista de orientação inglesa Dialogo entre psicanálise e marxismo Princípios de sua Psicologia Institucional: Instituição como um todo Trabalho com grupos Relações interpessoais (Klein) Enquadre (clínico) Proposta de intervenção psicológica eminentemente psicanalítica 3. A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE: UMA INTERVENÇÃO POLÍTICA Psicólogo Proposta de natureza política: Liberação da palavra social Convocação à militância Crítica da própria proposta: Análise X Ação Direta Conceituações relevantes: Instituinte (produção dos sentidos e ações) X Instituído (cristalização do instituinte ≡ instituição) Organização (regida) X Instituição (rege) Burocracia – poder Decisão X Execução Produção da alienação 4. O EXERCÍCIO DA PSICOLOGIA COMO INSTITUIÇÃO Autores de influência: Lapassade Bleger Albuquerque Foucault Freud Maingueneau Institucional porque junto a instituições – distinções “Nossa proposta visa a dizer, não de uma área de atuação, mas de um certo dispositivo metodológico, de um certo modo de produzir psicologia.” 4.1. O CAMPO CONCEITUAL DESSA NOVA PROPOSTA Instituição como “conjunto de relações sociais que se repetem e, nessa repetição, legitima-se.” Reconhecimento de sua naturalidade e desconhecimento de sua relatividade Escola Agentes institucionais Objeto institucional – aquilo em nome do que a instituição se faz e cujo monopólio é por ela reivindicado Constituição da instituição – relação com a clientela Relação de poder/resistência no/pelo discurso 4.1. O CAMPO CONCEITUAL DESSA NOVA PROPOSTA Discurso Concepção foucaultiana Discurso como ato Situado no tempo e no espaço Dispositivo que define as regras da enunciação Palavra tomada como modo de enunciar Define um lugar na enunciação Condicionado ao campo discursivo que se tem Clínica psicanalítica Regramento material, físico e de conduta Pertencimento a uma comunidade discursiva Comunhão teórico-prática 4.1. O CAMPO CONCEITUAL DESSA NOVA PROPOSTA “Tudo isso se dá por um sutil enlaçamento dos efeitos das práticas de formação aos da própria repetição cotidiana dos atendimentos. Sutil, porque o reconhecimento que fazemos da teoria que aprendemos, como verdade sobre uma pessoa concreta que nos procura, é legitimação, naturalização muda do conhecimento constituído. E, tudo isso se passa à revelia de nossas consciências.” Ouve-se com as palavras que se tem – lugar na enunciação Queixa ou demanda? O outro sendo tomado em nossa rede de sentidos 4.1. O CAMPO CONCEITUAL DESSA NOVA PROPOSTA Desconhecimento constituinte de sentidos entre o dizer e o ouvir Suplantado pelo discurso-ato-dispositivo Participação (exposição) do paciente Condicionado aos jogos de poder-saber Relação de poder-resistência Questão do não-direcionamento “...o reconhecimento que fazemos da teoria que aprendemos, como verdade sobre uma pessoa concreta que nos procura, é legitimação, naturalização muda do conhecimento constituído.” O discurso do analista faz parte do discurso em análise 4.2. A PROPOSTA Estratégia de pensamento: Instituição – psicologia Discurso dispositivo-ato-instituição – produção e reprodução de verdades Objeto: as relações tal como percebidas e imaginadas, por aqueles que concretamente as fazem (prox. psicanálise) Relações significativas – parentais – base da subjetividade e da civilização Caráter imaginário fundando o psíquico Família como instituição Reedição singular e variável de acordo com os lugares ocupados em outras instituições Matriciamento institucional do sujeito psíquico 4.2. A PROPOSTA Aluno Reedita o lugar que ocupa em suas relações de forma singular Na particularidade do lugar de aluno Reposição de uma relação de poder e de um jogo de expectativas “Tudo, historicamente construído, tendendo ao reconhecimento da legitimidade de uma certa forma de se fazer o ensino e a aprendizagem.” Produção de um modo de explicar que quebre com algumas repetições 4.2. A PROPOSTA Transferência Atualização de padrões inconscientes de relações amorosas vividas no passado, e com outras pessoas, agora no presente Ajustes para operacionalização em outros contextos Reedição de lugares, que marcam o reconhecimento de si de sua posição Reedição que acontece em relações, instituídas em meio a mecanismos de produção da verdade Mudança na postura do psicólogo Consideração do lugar que ocupa como analista, das próprias expectativas, inseguranças, verdades... Teoria se antepõe a escuta/fala do psicólogo 4.2. A PROPOSTA Ao se levar em consideração o aspecto institucional é que se pode trabalhar, na sua singularidade, o sujeito que nos fala. Sujeito singularmente constituído nas relações de sua história passada e presente O foco é dado, então, à subjetividade que nessas relações se constitui 4.3. DIÁLOGOS COM A EXPERIÊNCIA E OUTROS DISCURSOS Lugar que ocupa numa dada instituição Se reconhece, é reconhecido e reconhece os outros Mudanças na perspectiva e postura do psicólogo Instaura uma mobilização, um movimento nas relações instituídas, nas repetições Não ter a si mesmo como agente de alteração da realidade Impediria que os próprios sujeitos respondam à realidade Função social do psicólogo entendida como uma ética – “responder ao perigo representado pelas repetições inaudíveis e discretas de procedimentos, de discursos, consagrados, naturalizados, legitimados.” 4.3. DIÁLOGOS COM A EXPERIÊNCIA E OUTROS DISCURSOS Assessor X técnico “Cortes que fazem pensar”: Ação dos pressupostos teóricos Lugar institucional Acompanhar: Ao invés de uma área de trabalho (destinada a assessores) ter a Psicologia Institucional como um método, como uma estratégia de pensamento As rotinas e suas distribuições Os conflitos e tensões As expectativas criadas nas relações e seus encaminhamentos A própria implicação nesse processo Efetivando o exercício da psicologia como instituição