História dos Portugueses
no Mundo
(2012/2013)
Aula n. o 22
Os Portugueses no Extremo Oriente II
Japão
Os Portugueses no Japão
Ao portugueses chegaram ao Japão em 1543. Não se sabe ao certo quem terá
chegado primeiro, embora se saiba que os primeiros portugueses eram
particulares, ou seja, não chegaram ao Império Nipónico como representantes
da Coroa portuguesa.
Os portugueses descobriram que as relações comerciais entre a China e o
Japão tinham sido interrompidas e que a troca de prata japonesa por seda
chinesa era um negócio muito rentável, e que poderiam dominar este
comércio.
Iniciaram então a exploração de mais uma rede comercial asiática, que no
último quartel do século XVI se revelaria a mais lucrativa de todas as que
eram controladas pelos portugueses no «Estado da Índia».
A primeira referência ao Japão em textos portugueses encontra-se na Suma
Oriental de Tomé Pires, concluída em 1514. É uma notícia precoce, depois
desta informação, não há mais referência ao arquipélago até à sua
«descoberta» pelos portugueses 30 anos mais tarde.
Quando os portugueses chegaram ao Império Nipónico reinava uma guerra
que devastava o país e opunha diversos senhores feudais.
Território isolado e muito compartimentado, em que as forças da Natureza se
manifestam brutalmente com frequência, e condicionado por um clima
agreste e violento, o Japão é um país onde uma autoridade centralizadora tem
muitas dificuldades em se impor.
A autonomia regional desenvolvera-se cedo, pois a corte nipónica envolvera-se
desde o século IX numa luta surda pelo controlo da família imperial. No final
do século XII, o poder passou das mãos dos cortesãos para as dos guerreiros,
iniciando-se a época dos samurais.
Em meados do século XVI era possível que se desse uma reunificação política
do Império; para isso era necessário que um senhor feudal se conseguisse
sobrepor a todos os outros.
Os portugueses trouxeram consigo a espingarda, que foi rapidamente
reproduzida pelos japoneses e a sua produção industrializou-se em pouco
tempo. A espingarda foi um factor essencial para a unificação política do
Japão.
“Me afirmaram os japoneses que,
naquela cidade do Funcheo, que é a
metrópole deste reino havia mais de
mil espingardas. E fazendo eu disto
grande espanto por me parecer que
não era possível que esta cousa fosse
em tanta multiplicação, me disseram
alguns mercadores, homens nobres e
de respeito, e mo afirmaram com
muitas palavras, que em toda a ilha do
Japão havia mais de trezentas mil
espingardas. E por aqui se saberá que
esta é, e quanto inclinada por natureza
ao serviço militar na qual se deleita
mais que todas as outras nações que
agora se sabem”.
Fernão Mendes Pinto, Peregrinação
Xilogravura japonesa, séc. XVI
Em 1560, Oda Nobunaga iniciou a reunificação política do Japão. O seu
exército, equipado com espingardas, cedo ganhou vantagem sobre o dos seus
adversários. Quando as armas de fogo se generalizaram pelos os outros
exércitos já o movimento de unificação de Nobunaga encontrava-se demasiado
avançado.
Nobunaga morreu em 1582, antes de terminar a sua obra. O seu sucessor,
Toyotomi Hideyoshi (antigo general de Oda), concluiu a centralização.
As relações oficiais entre o Japão e Portugal estabeleceram-se através de S.
Francisco Xavier que fundou a primeira missão católica no País do Sol
Nascente, em 1549.
S. Francisco Xavier esteve no Japão durante dois anos e três meses, tendo
visitado a capital do Império.
Em 1550, as autoridades de Goa tornaram o comércio do Japão em monopólio
da Coroa através da viagem Goa – Malaca – China (Macau desde 1557) –
Japão.
Em 1551, era impresso pela primeira vez em Portugal (Coimbra) um
texto referente ao Japão: tratava-se de uma carta escrita por
S. Francisco Xavier em 1549, pouco depois do seu desembarque no País do Sol
Nascente.
Em 1555 seriam publicadas novas informações sobre a missão nipónica; as
cartas dos jesuítas conheceriam depois uma grande divulgação pela Europa
católica.
Em 1562 converteu-se o primeiro dáimio ao cristianismo. – Omura Sumitada.
Pouco depois o porto de Yokoseura, que tinha sido cedido aos portugueses, foi
arrasado pelos vassalos de Sumitada, agora chamado D. Bartolomeu, pois
opunham-se à sua conversão.
Em 1571, os portugueses estabeleceram-se em Nagasáqui, também no feudo
de Omura, e o comércio passou a ser canalizado para esse porto. A partir de
então, o comércio luso-nipónico não conheceu grandes alterações até á sua
interrupção, em 1640.
Todavia, passou a estar condicionado pela concorrência holandesa desde que
a Companhia das Índias Orientais se instalou em Java (1602) e começou a
asfixiar o Estado da Índia.
O aspecto fundamental das relações luso-nipónicas é, sem dúvida, a acção dos
missionários no arquipélago. A sua influência na cultura japonesa foi muito
importante, pois não se limitaram a divulgar o cristianismo, foram
também embaixadores, divulgadores das ciências desenvolvidas na
Europa e da cultura portuguesa, e foram até conselheiros dos Xóguns.
Enquanto o Império Nipónico esteve divido, os portugueses em geral e os
missionários em particular movimentaram-se com uma certa facilidade pelo
território. Quando eram mal recebidos por um dáimio, eram quase sempre
bem acolhidos pelo vizinho. Explorava-se, assim, a rivalidade que dividia os
nobres japoneses.
O sucesso da acção missionário levou à organização de uma embaixada
japonesa ao Papa. Partiu em Fevereiro de 1582 e era composta por
representantes dos senhores de Bungo, Omura e Arima.
Quando a embaixada regressou ao Japão, em 1590, a situação alterara-se
drasticamente. Em 1587, Hideyoshi decretara a expulsão dos religiosos
ocidentais. Os comerciantes continuariam a ser bem recebidos, desde que não
se fizessem acompanhar por missionários.
Hideyoshi desconhecia o real poder militar dos
portugueses no Oriente, assim como as suas verdadeiras
intenções, mas sabia que os espanhóis (de cujo rei os
portugueses agora eram súbditos) tinham ocupado as
Filipinas em 1571 e via que os cristãos possuíam valores
contrários à lógica da sociedade nipónica.
A guerra com a Coreia desviou as atenções de Hideyoshi,
o que permitiu que o número de conversões ao
cristianismo continuasse a crescer. Calcula-se que, em
1582 existiam cerca de 1500 cristãos e o dobro em 1596.
Nagasáqui também florescia, passando de 400 casas em
1579 para 5000 entre 1590 e para 15 000 no virar do
século.
Japonês Cristão, séc. XVI
Esta medida era a consequência natural dos factos até então decorridos: em
1587, já estava concluída a centralização do país. Terminara, pois, o período
das rivalidade – agora, ou se era a favor ou contra o poder central.
Nagasáqui
A chegada dos holandeses em 1600 e, pouco depois, dos ingleses prejudicou
ainda mais os portugueses.
Os homens dos Países Baixos eram concorrentes comerciais, não se faziam
acompanhar de missionários, professavam um cristianismo diferente e eram
inimigos dos súditos da dinastia filipina (inimigos dos espanhóis).
A nomeação de William Adams para conselheiro do Xógum, em substituição
de um jesuíta, no ano de 1613, foi mais um sinal de que as
perseguições contra os cristão, que vinham aumentando desde o início
de Seiscentos, tendiam a generalizar-se.
Em 1637, uma revolta de camponeses levou à morte milhares de cristãos: os
portugueses foram considerados os instigadores da revolta e em 1639
receberam ordem de expulsão definitiva.
Em 1640, os comerciantes de Macau enviaram uma missão pacificadora,
procurando solucionar o diferendo, mas os seus membros foram massacrados
em Nagasáqui.
Permutas culturais com o Japão
No léxico japonês perduram mais de quatro mil palavras de raiz portuguesa.
Aqui ficam alguns exemplos:
Palavra Japonesa
Bateren, patere
Bauchizumo
Esu
Iruman
Karisu
Katorikku
Krishitan
Kirisuto
Medai
Misa
Kapitan
Karamera
Marumeru
Pan
Sarada
Botan
Kappa
Meriyasu
Baranda
Karuta
Koppo
Shabon
Tabako
Palavra Portuguesa
Termos religiosos
Padre
Baptismo
Jesus
Irmão
Cálice
Católico
Cristão
Cristo
Medalha
Missa
Outros termos
Capitão
Caramelo
Marmelo
Pão
Salada
Botão
Capa
Meais
Varanda
Carta
Copo
Sabão
Tabaco
O contacto com o Japão introduziu na língua portuguesa palavras
como biombo e catana.
Arte Namban
Através da arte namban, em particular os biombos,
os japoneses retrataram com realismo os «bárbaros
do sul» (portugueses): os traços físicos, o pormenor
do vestuário, as atitudes e os objectos que
transportavam.
Festival da Espingarda
Em Tanegashima continua a
celebrar-se, todos os anos em Julho,
o «Festival da Espingarda»; entre a
profusão do cortejo histórico de
quimonos multicores e muito povo,
sobressaem os guerreiros com
espingardas
e
a
bandeira
portuguesa.
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