UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
Das indisciplinas e incivilidades aos incidentes
violentos nas escolas – as percepções dos
atores sociais envolvidos na questão
MARIA INÊS FERREIRA DE MIRANDA
MARIA DAS GRAÇAS CARVALHO FERRIANI
2005
CONSTRUINDO E DELIMITANDO O OBJETO
DA PESQUISA
nossa trajetória profissional,
– busca de uma melhor assistência à saúde da
criança e do adolescente,
sociedade em constantes transformações,
crescimento da violência entre os jovens,
– na família,
– na escola
– e na rua.
OBJETIVOS
Conhecer as percepções dos atores sociais
(diretores, vice-diretores, coordenadores,
professores e alunos) acerca das manifestações
de violências e de indisciplinas existentes nas
escolas das Redes Estadual e Privada de Ensino
Médio do município de Ribeirão Preto.
Analisar as percepções dos atores sociais,
complementando as suas leituras acerca das
manifestações de violências e indisciplinas que
ocorrem no espaço escolar, com os dados
quantitativos encontrados.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
“Violência é uma palavra ícone da modernidade em
crise” (RIFIOTIS, 2000).
1.
Estado Nação e Violência;
2.
A violência na vida das crianças e dos
adolescentes;
3.
Violência nas escolas e suas faces
contextualizadas nas sociedades:
–
–
–
francesa;
americana;
brasileira.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA –
VIOLÊNCIA E ESCOLA
Debarbieux, (1997)
– relevantes mudanças, tanto no que é considerado
violência,
– como no pólo epistemológico utilizado para
realização das pesquisas sobre o assunto.
– Fases: - as análises recaíam sobre a violência do
sistema escolar, especialmente por parte dos
professores contra os alunos.
– Mais recentemente - a análise da violência entre
os alunos ou desses contra o patrimônio escolar
e em menor número de alunos contra professores
e professores contra os alunos.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA –
VIOLÊNCIA E ESCOLA
Sposito (2001) pesquisa sobre violência
escolar no Brasil, após 1980,
– Raros diagnósticos quantitativos em torno do
tema e a produção discente (dissertação e teses)
na pós-gradução em Educação.
– As principais modalidades:
ações contra o patrimônio
depredações, pichações
e formas de agressão interpessoal, sobretudo entre os
próprios alunos.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
VIOLÊNCIA/CONCEITO
Conceito:
Neste trabalho entendemos violência,
primeiramente como a intervenção física de
um indivíduo ou grupo contra a integridade
de outro(s) ou de grupo (s) e também contra
si mesmo ─ abrangendo desde os suicídios,
espancamentos, de vários tipos, roubos,
assaltos e homicídios, além das diversas
formas de agressão sexual.
Compreendemos, igualmente, todas as
formas de violência verbal, simbólica e
institucional além das incivilidades, aqui
entendidas como a quebra de normas
socialmente estabelecidas (ELIAS, 1996).
METODOLOGIA
Na abordagem compreensiva, trabalhamos
com a técnica de observação in loco das
escolas, através de um Roteiro de
Observação.
O Roteiro de Observação também permitiu
registrar informações sobre o
comportamento dos alunos, professores e
demais funcionários no ambiente escolar,
dentro e fora da sala de aula.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 12 atores sociais
METODOLOGIA
Campo de estudo
Escolas urbanas públicas e privadas da
rede de Ensino Médio do município de
Ribeirão Preto do Estado de São Paulo,
que somam 26.919 alunos matriculados,
Ribeirão Preto (INEP, 2002)
METODOLOGIA
Análise dos dados qualitativos
Utilizada a técnica de Análise de
Conteúdo, modalidade Análise Temática,
com base em Bardin (1977); Gomes
(1994).
A Análise Temática de um determinado
texto resume-se em descobrir os núcleos
de sentidos que fazem parte da
comunicação; estuda a tendência,
valores, opiniões, atitudes cuja presença
tem alguma representação para o objeto
definido (Bardin, 1977)
METODOLOGIA
Os dados qualitativos construídos foram
agrupados em três Núcleos Temáticos:
– 1 – Clima da escola;
– 2 – Das indisciplinas e incivilidades aos
incidentes violentos nas escolas;
– 3 – Drogas lícitas e ilícitas e vulnerabilidade às
violências.
Processo ético para realização da
pesquisa
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo (EERP/USP) (ANEXO L).
Foi autorizada a execução pela Diretoria Regional de
Ensino/Ribeirão Preto e em conformidade com a permissão
da direção de cada escola selecionada (ANEXO M).
Em se tratando de uma população considerada vulnerável
pela Resolução 196 de 1996 do Conselho Nacional de
Saúde, cada pai e ou responsável pelo menor foi
devidamente informado e esclarecido sobre os objetivos da
pesquisa bem como sobre a importância e riscos da
participação de seu filho, por meio de um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO N).
RESULTADOS
NÚCLEO TEMÁTICO: CLIMA DA ESCOLA
Subtema Ambiente Social (Elo e
relações dos atores sociais) e
Subtema Ambiente Físico
(equipamentos físicos das escolas e
seu entorno).
RESULTADOS
Subtema Ambiente Social (Elo e relações dos atores sociais)
Ambiente Social que compõe o “clima da escola”, desde a
recepção até a condução ao responsável pela autorização da
pesquisa.
É no portão de acesso à escola que pôde ser apreendida a
existência ou não de manifestações de violências, incivilidades
e tudo que possa ser considerados como atenuantes ou
agravantes para essas manifestações.
Segundo Madeira, (1999, p. 53):
“Na discussão sobre a violência nas escolas, o lamentável é que
se perdeu mais uma vez a oportunidade de trazer à tona o que
seja o desdobramento mais nocivo desta ou de qualquer outra
síndrome desta natureza: sua ação direta e perversa sobre a
atividade pedagógica nas escolas públicas (que é afinal a
missão prioritária da escola).”
Subtema Ambiente Social (Elo e
relações dos atores sociais)
“O professor precisa urgentemente sentar e rever sua
prática pedagógica. Isso precisa acontecer.” (C.P.E –
Esc. 10)
“Mas é marcada também por uma falta de autoridade do
professor. Na minha avaliação é uma autoridade que ele
perdeu. Vem perdendo ao longo do tempo, porque
perdeu também a competência que ele demonstra na
sala de aula, na atividade que ele desenvolve.”(Prof. –
Esc.15)
“Claro que o diretor tem que mostrar....Não o seu poder.
Ele tem que ser líder.”(aluno – Esc. 12).
Subtema Ambiente Social (Elo e relações
dos atores sociais)
A democratização do ensino só acontecerá quando houver qualidade e
essa qualidade tem de ser alcançada em concomitância com a
incorporação das transformações das relações sociais, dentre elas a
família.
Em sua composição estrutural, encontramos um grande aumento de
lares monoparetais dirigidos por mulheres. Isso configura um novo
panorama em relação às condições de reprodução biológica da
sociedade e das estruturas dos lares que têm as responsabilidades
desses filhos.
Em alguns discursos, são depreendidos como essas novas
composições familiares afetam as relações escola/família e como isso
contribui para que as manifestações de violências e o clima de
indisciplina se acentuem. Alguns exemplos abaixo:
“Eu moro só com minha mãe, meu pai mora lá em Uberaba. Separou da minha
mãe. Por isso ela não pode vir nas reuniões.”(aluno – Esc 14)
NÚCLEO TEMÁTICO: DAS INDISCIPLINAS E
INCIVILIDADES AOS INCIDENTES VIOLENTOS
NAS ESCOLAS
SUBTEMAS:
1) PRÁTICAS DE INDISCIPLINA VINCULADA
AOS PROFESSORES/ADULTOS
2) A TENUIDADE DAS FRONTEIRAS ENTRE
VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA.
PRÁTICAS DE INDISCIPLINA VINCULADA AOS
PROFESSORES/ADULTOS
Indisciplinas percebidas, principalmente, como desrespeito ou
quebra de regras, de normas, como disfunção da ordem
estabelecida.
É também apreendida como manifestação em resposta à falta de
limites de alguns professores.
Devemos distinguir as pequenas violências ou pequenas
agressões do cotidiano que se repetem sem parar, as
transgressões de códigos de boas maneiras ou da ordem
estabelecida, das condutas criminosas ou delinqüentes Norbert
Elias (1996) .
Pequenas agressões podem ter respostas criminosas.
A observação participante foi fundamental para perceber que as
regras impostas pelos Regimentos Escolares não são nem
conhecidas pelos alunos.
Práticas estão se tornando regras. Como exemplo – os paredões.
PRÁTICAS DE INDISCIPLINA VINCULADA AOS
PROFESSORES/ADULTOS
“A sala fazer paredão é uma ato de
indisciplina coletivo, no caso. Acho que a
indisciplina vai muito por aí muito mais a
conseqüência do que o ato propriamente
dito.”(VD Esc. 2)
Talvez as sextas-feiras à noite, conforme
as estruturas sociais impostas, não seja
dia de aula.
SUBTEMA. A TENUIDADE DAS FRONTEIRAS
ENTRE VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA
Dependendo do contexto, o mesmo ato pode
ser considerado violência ou não.
Combater a indisciplina era mais fácil no
passado do que agora.
O número de alunos com comportamentos
indisciplinares é maior e independe do nível
socioeconômico a que ele pertença.
A indisciplina é percebida como atos que
lesionam as regras e também quando os
colegas, os professores, os funcionários,
qualquer membro da escola não são
respeitados.
SUBTEMA. A TENUIDADE DAS FRONTEIRAS
ENTRE VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA
Já a violência é percebida quando existem danos patrimoniais; brigas;
porte de armas dentro da escola e mais especificamente quando
ocorrem depredações do espaço escolar.
Existe uma forte apreensão de que os atos de indisciplinas levam à
atos de violências.
“Indisciplina seria rebeldia. Eu acho, na minha linha de pensar.
Culminando com a violência.” (C.P.E. Esc. 15).
“Seria indisciplina, falar, não entrar, não participar, ou não usar uniforme,
chegar sempre atrasado. E a violência seria os damos patrimoniais.
As Brigas dentro da escola. Indisciplina é uma coisa e violência é
outra. Porte de arma esse ano, teve, nós resolvemos com a direção,
eu não chamei a polícia.” (VD Esc.6)
SUBTEMA. A TENUIDADE DAS FRONTEIRAS
ENTRE VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA
Violência Simbólica/Institucional/ Bullying
comportamentos Bullying, presentes nas
vinculações hierárquicas, como se caracterizam as
relações sociais no espaço escolar
Nomearam de “presença negativa”
“A maioria é verbal, pouca é física, mas a violência verbal
machuca e machuca muito. A gente tem que tomar
cuidado. A verbal leva à física.”(C.P.E. esc.10)
crianças e adolescentes que sofrem a ação de
bullying continuamente têm o risco de diminuir ou
perder sua auto-estima, com efeito, em longo prazo
(SMITH; SHARP, 1994, p. 7).
SUBTEMA. A TENUIDADE DAS FRONTEIRAS
ENTRE VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA
Dificuldades depreendidas nos discursos:
multiplicidade de compreensões a respeito
do que se caracteriza violência.
evidencia a fragilidade das fronteiras entre
incivilidades e violências.
A violência se confunde, se interpenetra, se
inter-relaciona com a agressão de modo
geral, com a indisciplina e com os
comportamentos bullying, quando se
manifesta na esfera escolar.
DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS E
VULNERABILIDADE ÀS VIOLÊNCIAS
Subtema: Aumento do tráfico, consumo
e variedade de drogas (lícitas e ilícitas)
Subtema: Bairro/comunidade local e
vulenerabilidade dos jovens
Aumento do tráfico, consumo e
variedade de drogas (lícitas e ilícitas)
Aumento do tráfico, consumo e variedade de drogas (lícitas e ilícitas)
Destacam-se o tráfico de drogas e as gangues que são ligadas ao
tráfico.
O clima de insegurança dentro de determinadas escolas tem como
agravante a presença do traficante.
Esse traficante, em muitos casos, é um aluno regularmente
matriculado
Todos sabem, desde a direção aos alunos, que ele está na escola
para traficar.
Isso já é relatado como “normal”. Tentativas de expulsão, através
de controle rigoroso das faltas são permanentemente realizadas
“Eu acho que infelizmente, o caminho das drogas aumentou muito a
violência nesses últimos anos.” (C.P.E.. Esc.15)
Bairro/ comunidade local e
vulnerabilidade dos jovens
Foi claramente depreendido nos discursos que quanto melhor
for a conservação do prédio escolar, melhor ficará o clima.
O Ambiente Físico, como ficou comprovado, exerce algum efeito
para o aumento das manifestações de violências.
Para o consumo de drogas, foi fortemente apreendido que o
ambiente físico, aqui no caso, a localização (bairro/comunidade)
também é percebido como favorecedor para as ocorrências de
consumo e tráfico de drogas dentro das escolas.
Em pesquisa realizada em Nüremberg, o único vínculo
significativo encontrado entre a violência dos alunos e a maneira
como eles viam seu bairro dizia respeito ao vandalismo:
– quanto mais positiva a avaliação dos alunos de seu bairro ou
comunidade, menos atos de vandalismo eram cometidos por eles no
ambiente escolar (FUNK apud DEBARBIEUX, 2002, p. 144).
Bairro/ comunidade local e
vulnerabilidade dos jovens
A localização da escola é desencadeante ou não,
para o consumo e tráfico de drogas no espaço
escolar.
A comunidade/vizinhança contribui, para tais
ocorrências.
“Ela é o meio. Então ela é o foco da droga, do tráfico
pesado.” (C.P.E. esc.2)
“No bairro onde eu moro .... drogas têm em todo lugar.
Violência em todo lugar. Gangues não tem, não chega a
ser uma gangue, mas tem.” (Aluno, esc. 10)
Considerações Finais
violências nas escolas é percebida como inerente ao
Clima de cada escola.
O Clima - aspecto físico/aspecto social,
aspecto social, evidencia que: - a não “importação”
de alunos de outros bairros e o elo que se
estabelece entre a família/escola, escola/aluno e
escola/comunidade são fundamentais para que se
estabeleça um clima de pertencimento, facilitando a
convivência e atingindo, assim, algum objetivo
educacional.
Considerações Finais
Enfoque ecológico demonstrou como o meio ambiente e
como as interações sociais podem se constituir em um
fator desencadeante ou não de violência.
Foi possível observar a presença de escolas seguras e
disciplinadas em bairros ou áreas violentas e vice-versa,
sugerindo que não existe determinismo e associações
diretas entre variáveis, o que deixa transparecer que
intervenções sejam possíveis.
Condição de gênero e não sob a condição
socioeconômica – meninos são mais violentos.
As práticas de indisciplinas - desrespeito ou quebra de
regras, de normas, como disfunção da ordem
estabelecida.
A indisciplina - manifestação, em resposta à falta de
limites de alguns professores.
A não-importância dos alunos, com relação às punições
impostas - a sensação de não-pertencimento social.
Considerações Finais
Presença de alunos que são bullies - “presença
negativa”,
A falta de perspectiva futura somada a vulnerabilidade
inerente aos jovens são fortes causadores de
manifestações de violências no espaço escolar. O
traficante, em muitos casos, é um aluno regularmente
matriculado.
Nas escolas públicas e privadas o consumo da droga
lícita, cigarro de papel, foi confirmado. Os professores
fumarem diante dos alunos foi mais encontrado nas
escolas privadas do que nas públicas.
O uso ou a venda de drogas ilícitas, no espaço escolar
ou em seu entorno, foi confirmado pelos alunos das
escolas tanto públicas como privadas.
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Das disciplinas as incivilidades aos incidentes violentos nas escolas