VIOLÊNCIA ESCOLAR:
UM ESTUDO SOBRE
CONCEPÇÕES DE
EDUCADORES
Priscila Larocca – UEPG
Rosane dos Santos - UEPG
Pressupostos Iniciais
• A cognição docente é guiada por sistemas
de crenças, valores ou princípios que
influenciam a sua prática.
• O conhecimento das concepções que
guiam a ação docente é fundamental para
o desenvolvimento profissional dos
professores, uma vez que tais concepções
constituem pontos de partida significativos
para a reflexão crítica e a pesquisa da
prática educativa.
• A temática da violência escolar é
constantemente presenciada no discurso
da mídia, dos pais e dos professores.
• Violência = fenômeno social que se expressa dentro e
no entorno do espaço escolar, produzindo-se e
reproduzindo-se nas relações interpessoais e
contribuindo para que a escola seja um lugar de
fracasso.
• Complexidade do fenômeno da violência: envolve
fatores sociais, econômicos e políticos.
• Martins e Brandão (2005) = dificuldade de conceituar
violência; o conceito de violência aproxima-se da ideia
de agressão; a violência pode ser exercida de
maneiras diferentes: de modo material (com uso de
força) e de forma moral (como coação e intimidação).
• Sobre a violência escolar, as autoras identificam três formas de
ocorrência:
• a física: envolve contato físico e caracteriza-se por ações
como bater, prender e machucar;
• a psicológica: supõe humilhações, danos morais e
psicológicos nas relações interpessoais;
• a institucional: caracteriza-se mais pelas transgressões aos
direitos em atos praticados pela instituição escolar,
envolvendo, por exemplo, estatutos, regras e normas
opressores, programas, abuso do poder, arbitrariedade de
critérios, desrespeito às dificuldades individuais, entre outras.
• a maioria dos maus tratos a estudantes é de caráter psicológico,
sendo estes reconhecidos nas escolas numa variedade de
modos que levam a consequências altamente destrutivas.
Problematizações
• Como os educadores
concebem a violência
escolar?
• Quais origens e agentes
produtores de violência
identificam-se nessas
concepções?
• Quais as concepções dos
professores sobre como a
escola deve enfrentar o
problema em seu cotidiano?
Objetivos
• Conhecer as concepções dos educadores sobre a
violência escolar, suas origens e agentes
produtores;
• Identificar que concepções os educadores
possuem sobre como a escola deve enfrentar o
problema da violência escolar.
Metodologia
• Pesquisa Exploratória;
• Participantes: diretores, pedagogos e professores de 09
(nove) escolas públicas municipais de Ponta Grossa,
Paraná;
• Instrumentos de coleta de dados: questionários
distribuídos a 130 (cento e trinta sujeitos), dos quais 62
(sessenta e dois) retornaram e foram analisados;
• Abordagem: qualitativa, embora se tenham utilizados
procedimentos quantitativos para aferir a frequência das
respostas;
Concepção de violência escolar dos
participantes
• Concepções predominantes:
• violência como “agressão”: física, verbal, psicológica e moral.
(comuns descrições de ações como bater, ferir, empurrar, xingar,
ameaçar);
• Violência como “desrespeito”;
• Violência como “falta de limites e abuso de poder”.
• Tais dados demonstram as dificuldades das pessoas em conceituar
violência, dificuldade esta já apontada em pesquisas, bem como a
frequente aproximação, em sua concepção, com a ideia de
agressão. Camacho (2000) apud Paredes, Saul e Bianchi (2006)
esclarece que isto se dá por dois motivos: porque o entendimento
da violência muda nos períodos da existência humana; e porque
as pessoas a compreendem de acordo com seus valores e sua
ética.
Origens da violência escolar para os
participantes
• Origem Familiar: falta de atenção, limites e afeto, estrutura
familiar, situações vivenciadas em casa;
• Origem Social: a mídia e a sociedade (ausência de valores,
situação econômica, discriminação, exclusão, descaso
educacional;
• Martin et al (2004) - os professores atribuem a violência
fundamentalmente a fatores que estão fora do seu controle .
Agentes geradores para os participantes:
Alunos e suas famílias
• Os educadores demonstraram resistência em admitir que
também podem produzir ou gerar violência de diferentes
modos. Morais (1995) afirma que violências não são apenas
agressões físicas ou ao patrimônio dos cidadãos. As violências
sutis têm logrado passar indiscutidas, por faltar-lhes o impacto
da brutalidade, sendo que muitas vezes, granjeia espaço nas
relações entre os sujeitos da escola, principalmente na relação
educador/educando.
• Souza e Ristum (2005): As professoras e outras autoridades
escolares, por sua vez, dificilmente aparecem nos discursos
como agentes da violência escolar, embora fosse constatado o
uso de práticas que poderiam ser consideradas violentas, mas
que foram justificadas, pelos mesmos, como medidas educativas
e disciplinadoras.
Atitudes que a escola deve ter para o
enfrentamento da violência
• Os educadores concebem que a escola tem agido corretamente,
chamando os pais para conversar, buscando manter parceria
com as famílias e promover projetos de incentivo a paz,
encaminhar à coordenação pedagógica ou à direção ou buscar
auxilio de outras instancias como Conselho Tutelar.
• Aquino (1998, p.8-9) aponta para o ciclo vicioso de isenção de
responsabilidades e também para a exclusão do aluno do
ambiente escolar.
• Parte dos educadores optou por não responder a questão, o
que sinaliza para uma desorientação a respeito do
enfrentamento à violência, ou por representarem que este não
é sua responsabilidade, ou ainda, por desejarem omitir do
discurso qualquer menção à formas de punição e
disciplinamento, que poderiam ser mal vistas e levar a admitir
que, de alguma forma a violência se encontra presente na
escola.
Conclusões
• Os educadores concebem a violência escolar como agressão e
representam os alunos e suas famílias como responsáveis pela violência
escolar, tendência já apontada por Paredes, Saul e Bianchi (2006) que
advertem que tal culpabilização isenta a escola de responsabilidades na
produção da violência escolar.
• Existe um vácuo, ou um silêncio, no que diz respeito a reflexão dos
participantes sobre a participação dos professores na violência escolar e
também em relação aos mecanismos de violência simbólica que
perpetuam a desigualdade social, nos quais escola e professores são
agentes privilegiados.
• Necessidade de mais pesquisas para captar os mecanismos de violência
simbólica nas intrincadas relações interpessoais que se estabelecem no
cotidiano da escola;
• Necessidade de se colocar a violência escolar na pauta das
programações e debates nos processos de formação de professores,
seja em nível inicial, seja na formação permanente. Nesse sentido,
entende-se que a Psicologia, especialmente a Psicologia Social, traz
contribuições inestimáveis para fundamentar os debates nessa área na
formação de professores.
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REFERÊNCIAS
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