UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
REFLEXÕES SOBRE AS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
NECESSÁRIAS PARA A VIDA NA ATUALIDADE
Profa. Dra. Ednéia Albino Nunes Cerchiari
Agosto/2013
Momentos/Tópicos a
serem abordados:
1) As relações humanas
na contemporaneidade;
2) Vínculos: o indivíduo e
o mundo circundante;
3) Competências e
Habilidades e;
4) Competências e
habilidades necessárias
para a vida na
atualidade: Reflexões
Finais.
1) As relações humanas
na contemporaneidade.
O Caminho da Vida
“O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos
extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas
dos ódios... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e
morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos
e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido”.
(O último discurso, do filme O Grande Ditador – Charles Chaplin, 1889/1977)
Todo esse avanço tecnocientífico causa um impacto considerável e
ainda muito pouco mensurável na qualidade de vida e das relações do
homem.
As alterações ambientais e comportamentais observáveis, decorrentes
desse avanço, leva-nos a crer que um considerável e imensurável desnível se
estabelece entre a realidade social atual e a capacidade do ser humano em
gerir toda essa transformação que, na maioria das vezes, são expressas
através da violência, da drogadição e do abandono dos rituais e das tradições
familiares.
De acordo com o sociólogo polonês radicado na Inglaterra Zygmunt
Bauman; um dos intelectuais mais respeitados e produtivos da atualidade.
Os tempos são “líquidos” porque tudo muda muito rapidamente. Nada é
feito para durar, para ser “sólido”. Disso resultariam, entre outras questões, a
obsessão pelo corpo ideal, o culto às celebridades, o endividamento geral, a
paranóia por segurança e até a instabilidade dos relacionamentos amorosos.
É um mundo de incertezas. É cada um por si (BAUMAN, 2001).
Em um mundo “líquido”, em rápida mutação, “compromissos para a vida”
podem se revelar como sendo promessas que não podem ser cumpridas —
deixando de ser algo valioso para virar dificuldades (BAUMAN, 2001).
O legado do passado, afinal, é a restrição mais grave que a vida pode impor à
liberdade de escolha. Mas, por outro lado, como se pode lutar contra as
adversidades do destino sozinho, sem a ajuda de amigos fiéis e dedicados, sem um
companheiro de vida, pronto para compartilhar os altos e baixos? Em nenhum
relacionamento a relação é infalível. Mas a vida também não o é. (BAUMAN, 2001).
Para Bauman (2001) nossos ancestrais eram esperançosos: quando falavam
de "progresso", se referiam à perspectiva de cada dia ser melhor do que o
anterior. Nós estamos assustados: “progresso”, para nós, significa uma constante
ameaça de ser chutado para fora de um carro em aceleração. De não descer ou
embarcar a tempo. De não estar atualizado com a nova moda. De não abandonar
rapidamente o suficiente habilidades e hábitos ultrapassados e de falhar ao
desenvolver as novas habilidades e hábitos que os substituem. Além disso,
ocupamos um mundo pautado pelo “agora”, que promete satisfações imediatas e
ridiculariza todos os atrasos e esforços a longo prazo. Em um mundo composto de
“agoras”, de momentos e episódios breves, não há espaço para a preocupação
com “futuro”.
“As pessoas não
adoecem; são os vínculos
afetivos, o elo entre o eu
e o tu, a ligação dos
elementos familiares que
se tornam enfermos”
(Gomes, 1987).
“O corpo do ser humano
precisa de nove meses
para nascer; sua alma,
porém, necessita de
muitos anos para ser
construída” (Rossi, 2001).
2) Vínculo: o indivíduo e o
mundo circundante
É impossível pensarmos no ser humano como um ser não relacional, pois desde
que nascemos estamos nos relacionando, estamos em interação com o outro. Já na
vida intrauterina o ser humano se desenvolve a partir do vínculo que mantém com a
mãe e, após o nascimento, além da mãe, com os cuidadores próximos. É, portanto,
na relação com a mãe ou com aquele que desempenha esse papel, que o ser
humano se constrói como tal, que se humaniza.
Um vínculo supõe algo “entre-dois”. Portanto, a palavra “vínculo” se refere,
sempre, a uma vivência emocional que envolve duas pessoas interrelacionadas,
desencadeando emoções: amor, raiva e conhecimento. (BION, 1962/1991).
A qualidade das relações emocionais estabelecidas no núcleo familiar funciona
como fator de promoção da saúde ou de desenvolvimento de psicopatologias. Desta
forma, as relações emocionais saudáveis (vínculos seguros e organizados) são
fatores de proteção e o oposto disto (vínculos inseguros, frágeis, indiscriminados e
desorganizados) são indicadores e desencadeadores de sofrimento psíquico, de
fragilidade emocional, de predomínio de angústias primitivas, de intolerância às
frustrações e explosões de raiva.
3) Competências e Habilidades
Qual a diferença entre
competências
e
habilidades?
Você sabe lidar com
isso?
As competências/habilidades são inseparáveis da ação, mas exigem domínio
de conhecimentos.
Competências se constituem num conjunto de conhecimentos; Capacidade
decorrente de profundo conhecimento que alguém tem sobre um assunto.
Para Perrenoud (1999), não existe uma noção clara e partilhada das
competências. Mais do que definir, convém conceituar por diferentes ângulos.
Para ele uma competência permite mobilizar conhecimentos a fim de se enfrentar
uma determinada situação. A competência não é o uso estático de regrinhas
aprendidas, mas uma capacidade de lançar mão dos mais variados recursos, de
forma criativa e inovadora, no momento e do modo necessário. A competência
abarca, portanto, um conjunto de coisas.
O conceito de habilidade também varia de autor para autor. Em geral, as
habilidades são consideradas como algo menos amplo do que as competências.
Assim, a competência estaria constituída por várias habilidades.
Garcia (2002) identifica 09 tipos de competências e estas envolvem 30 tipos de
habilidades:
I. Competência na Absorção da Informação;
II. Competência na Transmissão da Informação e na Comunicação;
III. Competência no Acesso à Informação;
IV. Competência na Análise da Informação;
V. Competência Epistemológica, Ética e Estética;
VI. Competência na Compreensão;
VII. Competência no Relacionamento Interpessoal;
VIII. Competência no Plano Pessoal e;
IX. Competência no Gerenciamento de Longo Prazo da Vida.
Dentre esses nove tipos de competências quero explorar os tipos V; VII; VIII e
IX, pois os mesmos estão diretamente ligados a nossa reflexão de hoje.
Competência Epistemológica, Ética e Estética envolve as seguintes
habilidades:
1) Habilidade de diferenciar questões que envolvem o verdadeiro,
o bom (certo) e o belo e de discernir critérios adequadamente o
verdadeiro do falso, o bom (certo) do mau (errado) e o belo do feio;
2) Habilidade de aplicar esses critérios no dia-a-dia e de agir e
viver coerentemente com os seus princípios e;
3) Habilidade de, a despeito dos desincentivos, apreciar o
verdadeiro, o bom (certo) e o belo.
Competência
no
Relacionamento
Interpessoal
envolve às seguintes habilidades:
1)
Habilidade
de
se
relacionar bem com as pessoas;
2) Habilidade de negociar, de
administrar pressões e de
gerenciar conflitos;
3) Habilidade de controlar as
emoções, gerenciar tensões e
reduzir estresse.
Competência no Plano Pessoal envolve às seguintes habilidades:
1) Habilidade de decidir com base em princípios e de agir, no momento
oportuno, de acordo com as decisões tomadas;
2) Habilidade de solucionar problemas;
3) Habilidade de gerenciar mudanças.
Competência no Gerenciamento de Longo Prazo da Vida se refere às
seguintes habilidades:
1) Habilidade de planejar projetos de vida e as estratégias para alcançá-los;
2) Habilidade de administrar o tempo (distinguir o importante do urgente, e ambos
do não-importante e/ou não-urgente, e priorizar as atividades);
3) Habilidade de reconhecer os erros e de aprender com eles e, por último;
4) Habilidade de, quando convencido da justeza do curso de ação traçado,
persistir nele, mesmo na face de adversidades.
4)
Competências
e
habilidades
necessárias
para a vida na atualidade:
Reflexões finais
“A prioridade
absoluta tem de ser o
ser humano. Acima não
reconheço nenhuma
outra prioridade”.
(Saramago, 1995)
(continuação)
Ei! Olhe... Olhe a sua volta, quantos amigos...
Você já tornou alguém feliz hoje?
Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo?
Ei! Não corra. Para que tanta pressa? Corra apenas para dentro de você.
Sonhe! Mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga.
Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.
Chore! Lute! Faça aquilo que gosta, sinta o que há dentro de você.
Ei! Ouça... Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Suba... faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo,
Mas não esqueça daqueles que não conseguem subir a escada da vida.
Ei! Descubra! Descubra aquilo que há de bom dentro de você.
Procure acima de tudo ser gente, eu também vou tentar.
Ei! Você... não vá embora.
Eu preciso dizer-lhe que... te adoro, simplesmente porque você existe.
(Charles Chaplin, 1889/1977)
(continuação)
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que
se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de
afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Eclesiastes 3:1-8
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Jorge Zahar Editor. Rio de
Janeiro (2001). Título original: LiquidModerniiy. Tradução autorizada da edição inglesa publicada em
2000 por Polity Press,de Oxford, Inglaterra. Copyright (c) 2000, Zygmunt Bauman.
BION, Wilfred Ruprecht. O Aprender com a experiência. Rio de Janeiro: Imago, 1991. 144p.
GARCIA, Lenise Aparecida Martins Garcia. Competências e Habilidades: você sabe lidar com isso?
Educação e Ciência On-line, Brasília: Universidade de Brasília. Disponível em:
http://uvnt.universidadevirtual.br/ciencias/002.htm. Acesso em: 27 de julho de 2013.
GOMES, José Carlos Vítor. Manual de psicoterapia familiar. Petrópolis: Editora Vozes, 1987. 272p.
PERRENOUD, Philippe. (1999). Construir as Competências desde a Escola. Porto Alegre: Artmed
Editora.
ROSSI, Cláudio. A psicanálise e as novas formas de experiência humana determinadas pela
globalização. Rev. Bras. Psicanál., vol. 35 (3): 647-664, 2001.
ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. 164p.
__________. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. 94 p.
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2005. 312p.
WINNICOTT, Donald W. Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2000, 526p.
CHAPLIN, Charles. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/autor/charles_chaplin/biografia/.
Acesso em 25/07/2013.
http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/102755_VIVEMOS+TEMPOS+LIQUIDOS
Profa. Dra. Ednéia Albino Nunes Cerchiari.
Psicóloga. Psicanalista(IPA/SPMS). Doutora em Ciências Médicas/Saúde
Mental (FCM/UNICAMP). Professora Adjunta da Universidade Estadual
de Mato Grosso do Sul. Rodovia Dourados-Itahum, Km 12 – Cidade
Universitária Dourados, MS - CEP 79804-970, telefones: (67) 3902-2684/
3902-2683 - Fax(67) - 3902-2683 - email: [email protected].
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