Mudança: Princípios de formação e
resolução de problemas.
Paul Watzlawick, John Weakland e
Richard Fisch
PERSISTÊNCIA E MUDANÇA
TEORIA DOS GRUPOS
Teoria dos Grupos
• De acordo com a teoria, um grupo tem quatro
propriedades.
• A - Compõe membros dotados de uma característica
comum, e a natureza real desses elementos é irrelevante.
Podem ser números, objetos, conceitos, eventos, etc.
Apenas é necessário que tenham um denominador comum
e o resultado de qualquer combinação entre os membros
do grupo resulte em um membro do grupo.
• Essa primeira propriedade permite mudanças dentro do
grupo, mas ao mesmo tempo, torna impossível a qualquer
membro ou combinação de membros colocar-se fora do
sistema.
Teoria dos Grupos
• B- Combinação entre os membros em
sequencia variável, sem que por isso o
resultado de tal combinação se altere.
Portanto, podemos dizer que há mutabilidade
no processo, porém invariância no resultado.
Teoria dos Grupos
• C- Um grupo contém um membro de
identidade tal que sua combinação com
qualquer outro membro tem por resultado
esse outro membro. Relativo ao nosso
objetivo, um membro de identidade pode agir
sem determinar nenhuma alteração.
Teoria dos Grupos
• D- Cada membro de um grupo tem o seu
recíproco oposto, de tal sorte que a
combinação de qualquer membro com o seu
oposto gera o membro de identidade. De mais
a mais, vemos que essa combinação produz
uma nítida mudança, mas por outro, esse
resultado constitui um membro do grupo,
estando assim, contido nele.
Teoria dos Grupos
• Essa teoria proporciona um arcabouço valioso
para refletirmos na interdependência existente
entre persistência e mudança, fato em que
podemos observar em muitos exemplos práticos
em que, quanto mais uma coisa muda tanto mais
inalterada permanece
• Porém, essa teoria não nos proporciona um
modelo para tipos de mudança que transcendem
um dado sistema. Nesse ponto, introduzimos a
Teoria dos Tipos Lógicos.
TEORIA DOS TIPOS LÓGICOS
Teoria dos Tipos Lógicos
• Essa teoria não diz respeito ao que se passa
dentro de uma classe, isto é, entre seus
membros. Ela nos proporciona um arcabouço
para considerar a relação existente entre
membro e classe e a metamorfose peculiar,
existente na natureza das mudanças de um
nível lógico para o nível imediatamente
superior.
Teoria dos Tipos Lógicos
• Existem dois postulados dessa teoria, importantes de
serem salientados:
1) Os níveis lógicos devem ser mantidos estritamente a
parte, a fim de prevenir paradoxo e confusão;
2) Passar de um nível ao nível imediatamente superior
(isto é, de membro para classe) acarreta uma mudança,
um salto, uma descontinuidade ou transformação –
numa palavra, mudança – da maior importância teórica
e prática, pois proporciona uma saída de um sistema.
Teoria dos Tipos Lógicos
• Tendo em vista essa distinção entre as duas
teorias, segue-se que há dois tipos diferentes
de mudança: uma que ocorre dentro de um
dado sistema, que por sua vez permanece
inalterado – chamada mudança de primeira
ordem –, e outra cuja ocorrência muda o
sistema – mudança de segunda ordem –.
Persistência e Mudança
• De um sistema que sofra toda sorte de
mudanças internas possíveis (não importa
quantas) sem efetuar uma mudança sistêmica
(isto é, de segunda ordem), diz-se que incidiu
num Jogo Sem Fim.
Jogo Sem Fim
• são exatamente o que o nome sugere: são
intermináveis, no sentido de não terem
prescrições acerca do próprio encerramento.
• O encerramento não faz parte do jogo, não
constitui um membro deste grupo; o
encerramento guarda para com o jogo uma
relação expressa pelo prefixo meta; é de um tipo
lógico diferente de qualquer movimento efetuado
no jogo.
• Exemplo: Pesadelo
Jogo dos 9 pontos
• “A analogia entre esta situação e muitas outras situações reais
é obvia. Todos já nos vimos em situação semelhante, e não
importa se nos esforçamos por achar a solução com calma e
com lógica ou, mais provavelmente, se acabamos correndo
freneticamente em círculos. Mas como já ficou dito, é só de
dentro do problema, na perspectiva de mudança de primeira
ordem, que a solução emerge como um surpreendente
lampejo de luz além do nosso controle. Na perspectiva de
mudança de segunda ordem, ela é uma simples mudança de
um conjunto de premissas para outro do mesmo tipo lógico.”
FORMAÇÃO DE PROBLEMAS
1. O mesmo remédio em maior dose
2. As terríveis simplificações
3. A síndrome da Utopia
4. Paradoxos
1. O mesmo remédio em maior dose
• A mudança desejada se obtém em resultado
de aplicar o oposto daquilo que produziu o
desvio (de acordo com a propriedade “d” da
teoria dos grupos).Por exemplo quando o
inverno chega, são tomadas medidas de
aquecimento (frio vs aquecimento).
1. O mesmo remédio em maior dose
• Mas essa não é a história toda
• Exemplo: Alcoolismo
• “O mesmo remédio em maior dose” é sua
receita para a mudança, e esta “solução” é
que constitui o problema.
1. O mesmo remédio em maior dose
• Outros exemplos:
• Pessoa deprimida, insônia, problema
matrimonial
2. As terríveis simplificações
• Um modo errôneo de abordar problemas é
comportarmo-nos como se eles não
existissem.
• Para designar essa forma de negação, valemonos do termo “terríveis simplificações”
2. As terríveis simplificações
• A negação gera duas conseqüências:
1. O simples reconhecimento do problema é considerado
como manifestação de loucura ou malignidade;
2. O problema torna-se agravado pelos 'problemas'
originados por sua abordagem desastrada. Os
problemas humanos tendem a se intensificar quanto
mais tempo permaneçam não resolvidos. Assim,
qualquer simplificação pode tornar-se realmente
terrível em conseqüência de se somar ao problema
original, agravando-o.
2. As terríveis simplificações
• À luz da teoria dos grupos, uma simplificação
se enquadra no conceito de membro de
identidade (propriedade ‘c’). Quando sua
introdução num problema existente, mantém
a identidade deste último inalterada.
• Exemplos: segredo familiar e transtornos da
revolução industrial
3. A síndrome da Utopia
• Filosofia exatamente oposta às “terríveis
simplificações”, que vêem solução onde
nenhuma existe.
• Nesta abordagem, o problema existe e pode
ser solucionado de três formas:
3. A síndrome da Utopia
• Introjetiva: A utopia é possível, “eu é que não
consigo atingí-la”, minha culpa; EX 1 E 2 (PG. 62):
• “Antes viajar esperançoso do que chegar”; : Essa
forma de utopismo se torna problemática na vida
corriqueira quando alguém espera seriamente
que a ‘chegada’ ao objetivo – por oposição ao ato
de encarar a vida como sendo um processo – seja
completamente isenta de problemas. Ex. 3 (PG.
64)
• Projetiva: “sou puro e bom, a sociedade/os
outros é que me corrompem” Ex. 4 (PG. 64).
3. A síndrome da Utopia
• É a premissa de que as coisas deveriam ser de determinada
forma que constitui o problema e o que exige mudança, e
não o modo como as coisas são. Não fosse a premissa
utópica, a realidade da situação poderia ser bastante
suportável.
• A questão utópica é perigosa também no alinhamento
teórico do terapeuta, que pode acabar focando no
impossível e não nas mudanças possíveis. “Enquanto
buscamos o inacessível, tornamos impossível o realizável.”
• Exemplos: Neurótico/ ponta do Iceberg e Matrimônio
perfeito?
4. Paradoxos
• Em resumo, o que se entende por efeitos
comportamentais do paradoxo na
comunicação humana, é o peculiar impasse
suscitado quando mensagens estruturadas
precisamente como os paradoxos clássicos da
lógica formal são trocadas.
4. Paradoxos
• Bom exemplo desse tipo de mensagem é “Seja
natural”.
• Exemplo: Insônia
4. Paradoxos
• Em geral afirma-se que se o paradoxo parece
criar uma situação insustentável, o impasse
pode ser resolvido recorrendo-se ao fato de
que tal situação representa uma
impossibilidade lógica e, portanto, não tem
importância prática.
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
1. Mudanças de segunda ordem
2. A fina arte de reformular
3. A pratica da mudança
1. Mudança de segunda ordem
• Características das mudanças de segunda ordem:
A) a mudança é aplicada sobre a solução (que na verdade é a
base do problema);
B) é paradoxal, estranha, inesperada, ilógica;
C) foco no aqui e agora e em para que e não por que;
D) mudança de premissas (sair da armadilha produtora de
paradoxo).
1. Mudança de segunda ordem
• Não é preciso insight para mudar. Em terapia, o mito de
que buscar os porquês deva preceder a mudança é uma
solução contraproducente.
• Pergunta norteadora: “ O que se está fazendo aqui e agora
para perpetuar o problema, e o que se pode fazer aqui e
agora para produzir uma mudança?”
• Exemplos: Criança transtornada e Relações sexuais no
matrimonio
1. Mudança de segunda ordem
• Todos esses exemplos têm uma estrutura idêntica: um
evento A está para suceder, mas A é indesejável.
• O senso comum sugere que seja prevenido ou evitado por
meio de seu recíproco ou contrário, isto é, não-A (de
acordo com a propriedade grupal d).
• Disto resultaria uma ‘solução’ típica de mudanças de
primeira ordem.
1. Mudança de segunda ordem
• Enquanto buscar essa solução dentro dessa dicotomia de A
e não-A a pessoa será vitima de uma ilusão de alternativas,
não importando qual alternativo escolha.
• É precisamente essa ilusão cega de ter-se de fazer uma
escolha nessa dicotomia, de não haver outra solução, que
perpetua o problema.
2. A fina arte de reformular
• O que está envolvido nas reformulações?
1 Nossa experiência do mundo se baseia na categorização dos
objetos de nossa percepção em diversas classes. Elas são formadas
não só em função das propriedades físicas, mas especialmente em
termos do significado e valor que esses objetos tenham para nós.
2 Assim que um objeto seja conceitualizado como membro de
determinada classe, é extremamente difícil encará-lo como
pertencente a outra classe. Essa filiação é chamada de “realidade”.
3 O que torna a reformulação um instrumento eficaz de mudança é
que tão logo percebamos alguma filiação alternativa de classe, ou
várias, não é fácil voltar a prisão e à angústia de uma anterior
perspectiva de realidade. Exemplo: desafio dos 9 pontos
2. A fina arte de reformular
• Exemplo: História de Tom e o seu problema com a cerca
2. A fina arte de reformular
•
Reformular é mudar a perspectiva
conceitual e/ou emocional em relação
ao qual uma situação é experienciada
e colocá-la sob uma nova forma que se
harmonize com os 'fatos' da mesma
situação concreta, igualmente bem ou
até melhor, desse modo mudando-lhe
toda a significação.
•
Ela é utilizada como técnica de obter
mudanças de segunda ordem. Nesse
sentido, reformular é transferir a
ênfase dada afiliação de um objeto a
uma determinada classe para outra
classe (igualmente válida e compatível
com a forma de pensar e categorizar a
realidade do dono do problema).
2. A fina arte de reformular
• A introdução dessa última filiação começa a fazer parte da
conceitualização do problema. As classes são construções
mentais carregadas de sentido e significado. Percebemos o
mundo através dessas classes.
• Exemplo: Gagueira
2. A fina arte de reformular
• Ela tem que levar em conta os pontos de vista, as
expectativas, as razões, as premissas (em suma, o
arcabouço conceitual) daqueles cujos problemas devam ser
mudados.
• A reformulação pressupõe que o terapeuta aprenda a
linguagem do paciente, pois são as próprias resistências à
mudança o que melhor se pode utilizar para promovê-la.
3. A prática da mudança
• É feita em quatro etapas
1. clara definição do problema em termos concretos;
Tradução em termos concretos de um problema vagamente
enunciado permite a crucial separação entre problemas e
pseudoproblemas. A resolução bem sucedida da primeira
etapa revelará o problema em termos mais concretos
possíveis, e isto constitui precondição obvia na busca de
solução.
3. A prática da mudança
2. investigação das soluções já tentadas;
• Uma averiguação cuidadosa dessas soluções ensaiadas,
além de mostrar qual espécie de mudança não se deve
tentar, também revela aquilo que mantém a situação a ser
mudada e, portanto, onde se deve aplicar a mudança.
3. clara definição da mudança concreta a ser produzida;
• Um objetivo utópico pode se transformar na sua própria
patologia.
3. A prática da mudança
4 .formulação e implementação de plano para produzir mudança.
Isso é essencial em terapia, pois o terapeuta que aceita do paciente
um alvo utópico para terapia acaba tratando uma condição que ele
próprio ajudou a criar e que é, depois, mantida pela terapia.
• Neste tópico é importante relembrar:
- o alvo da mudança é a solução tentada
- a tática escolhida deve-se traduzir para a própria linguagem da
pessoa
- o paradoxo representa papel tão importante nas resoluções
quanto na formação de problemas.
3. A prática da mudança
IMPORTANTE: O mais importante calcanhar de Aquiles
dessas intervenções é a necessidade de motivar
eficazmente alguém a seguir as instruções. Assim uma
possível fonte de fracasso é a incapacidade de expor a
intervenção em “linguagem” que seja significativa para o
nosso cliente e que, desse modo, o predisponha a acatar e
observar as instruções.
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Mudança: Princípios de formação e resolução de problemas.