DA DÚVIDA À AUTONOMIA
DO COGITO
HAROLDO REIMER
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Cel. 8132 2158
Retomada
Genealogia do pensamento ocidental
 Contingência histórica e afinidade eletiva
entre ‘consciência crítica’ ocidental e filosofia
grega
 Ancestrais de elite: Platão e Aristóteles
 Suposta superação do mythos pelo logos
 Grandes contribuições dos pensadores
gregos: cidade ideal, forma de conhecimento,
paideia, etc.
 Recepções seletivas posteriores

Antiguidade e Idade Média (séc. IXV)
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
Cristianismo: ganhando espaços a partir da
periferia do Mediterrâneo => nova oferta de
sentido => nova ética
Séc. IV: religião oficial do império romano =>
“virada constantiniana” (+ Teodósio I – 380)
Patrística: textos sagrados judaico-cristãos
[Bíblia] => “mitologia verdadeira”
Neoplatonismo: recepções seletivas de Platão e
Aristóteles: Uno, hipóstases, alma, mundo sensível
das sombras, primazia do mundo ideal (Deus)
Afirmação do latim como língua oficial
Teólogos => Ideólogos do novo sistema filosófico
e religioso: Tertuliano, Justino, Agostinho
Idade Média
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Queda do império romano do Ocidente (476 d.C.)
Formação do sacro império romano germânico
(Europa central – séc. IX-XVIII)
Língua oficial predominante: latim
Grandes sínteses: Tomás de Aquino
Escolástica => Criação das universidades medievais
Direito canônico
Predominância absoluta da Igreja sobre a sociedade
civil (=> coroação dos imperadores pelo papa até
1530)
Subordinação do civil ao religioso [Igreja] =>
“cristandade”
Escolasticismo / Universidades
Universidade de Pádua (Itália) 1222
 Universidade de Nápoles 1224
 Universidade de Toulose (França) 1229)
 Universidade de Coimbra (1290)
 Universidade Complutense (1293)
 Universidade de Roma (1303)
 Universidade de Florença (1321)
 Universidade de Heidelberg / Alemanha
(1386)

Império romano: Roma (476) e
Bizâncio (1493)
Entorno do Mediterrâneo
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Avanço islâmico pelo norte
da África
Península ibérica
(parcialmente islâmica –
até1492)
Grandes pensadores:
Maimônides, Averrois
Influências
transmediterrâneas =>
Aristóteles em árabe
Intercâmbios nas cruzadas
no Oriente Próximo
Império mongol em
ascensão (=> caminho da
seda)
Renascença (séc. XV-XVII)
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


Rupturas em várias áreas do saber com a
AUTORIDADE por trás dos textos
Volta às raízes clássicas do Ocidente após milênio
de dominação da língua latina
Leitura dos textos filosóficos gregos clássicos na
língua original
Leitura dos textos bíblicos nas línguas originais
(hebraico, aramaico e grego)
Antecedentes desde século XIV => influência
árabe / sul península ibérica / Florença
Florescimento no século XV/XVI
Expoentes do Humanismo
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
Lorenzo Valla (1407-1457 / Itália)
Savonarola (1452-1489 / Itália)
Pico della Mirandola (1463-1494 / Florença)
Erasmo de Roterdã (1467-1536 / Holanda)
Thomas Morus (1478-1536 / Inglaterra
François Rabelais (1483-1543 / França)
Martim Lutero (1486-1546 / Alemanha)
João Calvino(1509-1564 / Suiça)
Desidério Erasmo, de Rotterdam
14671536)




Elogio da Loucura
Edição crítica do
Novum Testamentum –
1ª edição crítica na
língua original = grego
Subversão pelo
retorno à língua
clássica
“Protestante é pior do
que turco; pior do que
protestante é católico
crítico” (Panfleto no
Vaticano)
Martin Lutero (1486-1546)






Ênfase no sentido literal do
texto => retorno ao original
Subversão do método da
alegoria
Princípio sola scriptura
[somente a escritura] = caixa
de Pandorra
Cada indivíduo é sujeito de
interpretação => muitos
sujeitos
Negativa do controle da
consciência pela Instituição
(Magistério)
Criação de ‘novas verdades’
=> consciência frente às
Escrituras
Verdade: mundo antigo e medievo
A verdade é estabelecida em função das
regras da LÓGICA
 Verdade é estabelecida em função da
AUTORIDADE que a detém
 A fidelidade é garantida pelo AUTOR que
está por detrás do texto ou documento
 Fidelidade guardada pela INTITUIÇÃO
(=> Igreja romana)

Mapa religioso Europa
Humanismo / Reforma / Filosofia
Moderna
QUAL É O
CRITÉRIO PARA
ESTABELECER A
VERDADE?
 Outra “afinidade
eletiva”
 => FILOSOFIA
DO CETICISMO
(redescoberta no
séc. XVI)

Mudança de paradigma




Thomas Kuhn (1922-1996)
Livro: “A estrutura das
revoluções científicas”
PARADIGMA: “é aquilo que
os membros de uma
comunidade partilham e,
inversamente, uma
comunidade científica
consiste em homens que
partilham um paradigma", e
define "o estudo dos
paradigmas como o que
prepara basicamente o
estudante para ser membro
da comunidade científica na
qual atuará mais tarde".
Ver K. Popper / M. Foucault
Ceticismo
Concepção filosófica e não série de dúvidas
relativas a crenças religiosas tradicionais
 Origem no pensamento grego na disputa
pelas possibilidades de conhecimento
 Duas escolas:
 “Acadêmico” => nenhuma forma de
conhecimento é possível
 “Pirrônico” => não há evidência adequada
ou suficiente para determinar se alguma
forma de conhecimento é possível =>
suspensão do juízo acerca de todas as
questões relativas ao conhecimento

Fontes do ceticismo acadêmico
“Zero socrático” => “sei que nada sei”
 escola de Platão => mundo das idéias
 Arcesilau (315-241 a.C.)
 Carnéades (213-129 a.C.)
 Cícero
 Diógenes Laércio
 Agostinho de Hippona

Ceticismo pirrônico






Pirro de Elis (360-274 a.C.)
Discípulo Tímon (315-225 a.C.)
Florescimento até séc. III
Sexto Empírico (aprox. 200 / Alexandria)
[Hipotiposes; Adversus mathematicus]
Colocar tudo em dúvida
Entre “algo que podemos conhecer” e “não
se pode conhecer nada” => suspensão do
juízo sobre questões controvertidas
Exemplo

“[...] para decidir a disputa que surgiu sobre o
critério, devemos ter um critério aceito por meio
do qual se possa julgar a disputa; e para ter um
critério aceito devemos decidir primeiro a
disputa sobre o critério. E quando o argumento
reduz-se desta forma a uma raciocínio circular,
encontrar um critério torna-se impraticável, uma
vez que não permitimos que eles [os filósofos
dogmáticos] adotem um critério por suposição,
enquanto que se oferecem para julgar o critério
por um outro critério nós os forçamos a um
regresso ad infinitum” (Sexto Empírico)
REFORMA / LUTERO
=> “Regra da fé” / “Aquilo que a
consciência é obrigada a aceitar
pela leitura das Escrituras” /
“persuasão interior”
 “[...] vi que as opiniões tomistas,
mesmo que aprovadas pelo Papa e
pelos concílios, continuam sendo
apenas opiniões e não se tornam
artigos de fé, mesmo que um anjo
dos céus decidisse o contrário.
Porque aquilo que é afirmado sem
a autoridade das Escrituras ou da
revelação comprovada pode ser
mantido como uma opinião, mas
não há obrigação de se acreditar
nisso” (Lutero)

CONTRA REFORMA


=> instituição, autoridade e
vida cristã simples
“podemos ser todos da
mesma opinião e estar em
conformidade com a Igreja,
se, quando esta define
como preto algo que aos
nossos olhos parece
branco, concordamos que é
preto” (Inácio de Loyola)
DISPUTA PELO CRITÉRIO
Reforma
Negação de toda a estrutura
que vinha determinando a
ortodoxia ocidental durante
séculos
 Afirmação de ‘nova verdade’ a
partir do critério do livre
exame das Escrituras =>
cristão não é cético =
“individualismo”
 => Novo dogmatismo: os
novos conteúdos da Reforma
protestante

Contra reforma

Haveria uma catástrofe
intelectual, moral e religiosa
ao se adotar o critério do
livre exame

Qualquer sujeito pode se
erigir como árbitro

=> uso do ceticismo para
mostrar relatividade de todas
as afirmações contrárias e
buscar a submissão à
autoridade => ‘fideísmo”
Consequências
Muitos usos do ceticismo
Ceticismo = redescoberta do séc. XVI
 Gradativa diferenciação entre ceticismo
da razão e ceticismo religioso
 Giordano Bruno (1548-1600)
 Michel Montaigne (1533-1598)
 Francisco Saches (1552-1632)
 Jean Pierre Camus (1584-1654)
 William Chillingworth (1602-1644)

Michel Montaigne

“Montaigne e seus seguidores forneceram
a melhor defesa contra a Reforma. Uma
vez que o cético completo não possui
pontos de vista positivos, ele não pode
possuir pontos de vista errôneos. E já que
o pirrônico aceita as leis e costumes de
sua comunidade, ele aceitará o
catolicismo” (Popkin, p.96)
Arsenal da contra reforma
“O arsenal pirrônico provou ser uma
excelente fonte de munição para devastar os
adversários, bem como de uma teoria
fideista que justificava a posição da Contrareforma francesa” (Popkin, p.124)
 “máquina de guerra” para levar os
adversários ao total desalento
 “O ataque começa com o problema do
critério levantado pela Reforma; como
podemos decidir qual é a regra da fé, a
medida pela qual a verdadeira fé pode ser
distinguida da fé falsa?” (Popkin, p.127)

“Se o critério da alternativa da verdadeira fé
é o apelo às Escrituras, então [segundo os
críticos da contra reforma] ninguém pode
decidir com base apenas nas Escrituras o
que elas querem dizer ou significam. Tudo o
que os reformadores podem oferecer são
opiniões duvidosas de Lutero, Calvino e
Zwinglio” (Popkin, p. 128)
 => Discussões políticas e eclesiásticas na
Europa central aceleraram debates sobre o
fundamento do conhecimento

Brasil ...
Domínio ibérico /
português
 Domínio católico
absoluto (1492)
 Escravidão em pleno
desenvolvimento
 Outros interessados
 Companhia da Indias
Ocidentais (1602)
 Tentativas de invasão na
Baía da Guanabara
 Domínio holandês no
nordeste (1630-1654)

Outros pensadores
Influências ceticismo e hermetismo =>
revolução científica
 Nicolau Copérnico (1473-1543)
 Francis Bacon (1561-1626)
 Galileu Galilei (1564-1662)
 Johanes Kepler (1571-1630)
 Blaise Pascal (1632-1664)

Reneé Descartes (1596-1650)
Princípios para a
direção do espírito
(1628-9)
 Discurso sobre o
método (1637)
 Meditações (1641)

Método da dúvida sistemática

“Não aceitar nada como verdadeiro que
não possa ser claramente reconhecido
como tal, isto é, evitar cuidadosamente a
precipitação e o preconceito nos juízos, e
não aceitar nada além do que se
apresente à minha mente de maneira tão
clara e distinta que não possa duvidar
disso”
Regras do método




verificar se existem evidências reais e
indubitáveis acerca do fenômeno ou da coisa
estudada
Analisar = dividir ao máximo as coisas, em
suas unidades mais simples e estudar essas
coisas mais simples
Sintetizar ou seja, agrupar novamente as
unidades estudadas em um todo verdadeiro
Enumerar todas as conclusões e princípios
utilizados, a fim de manter a ordem do
pensamento
Cogito ergo sum

“Resolvi assumir que tudo o que penetrava em
minha mente não era mais verdadeiro do que as
ilusões de meus sonhos. Mas logo em seguida
percebi que embora eu quisesse assim considerar
todas as coisas como falsas, era absolutamente
essencial que o “eu” [cogito] deveria de alguma
forma existir, e observando que esta verdade
“Penso logo existo” [Cogito ergo sum], era tão
certa e segura que todas as mais extravagantes
suposições dos céticos seriam incapazes de abalála, cheguei à conclusão de que poderia aceitá-la
sem escrúpulos como o primeiro princípio da
filosofia que buscava” (Discurso sobre o método)
Percepções verdadeiras

“Certamente neste primeiro conhecimento
não há nada que me assegure de sua
verdade, exceto a percepção clara e distinta
do que afirmo, o que na realidade não seria
suficiente para assegurar-me de que o que
digo é verdadeiro se ocorresse que algo que
concebo de maneira tão clara e distinta
pudesse ser falso; e portanto me parece que
já posso estabelecer como regra geral que
todas as coisas que percebo de maneira tão
clara e distinta são verdadeiras” (Meditações,
III)
Consequências
O método da dúvida leva naturalmente
ao cogito e não à suspensão do juízo e
sobrenaturalmente à verdade [céticos
pirrônicos]
 O processo de duvidar nos compele a
reconhecer a consciência que temos de
nós mesmos
 Duvidar e pensar é existir
 O processo da dúvida levada ao extremo
acarreta a superação do ceticismo total

Recurso à metafísica

“Mas é certo que jamais tomaremos o
falso por verdadeiro se dermos nosso
assentimento às coisas que percebemos
com clareza e distinção. Porque uma vez
que Deus não é enganador, a faculdade do
conhecimento que Ele nos deu não pode
ser falaciosa, nem a faculdade da vontade,
desde que não as estendamos além
daquelas coisas que percebemos
claramente ...” (Princípios)
Deus [Metafísica] como fundamento

“Reconheço ser impossível que Ele jamais
possa me enganar; pois em toda fraude e
em todo engano existe alguma
imperfeição, e embora possa parecer que
a capacidade de enganar é um sinal de
sutileza ou poder, no entanto, o desejo de
enganar sem dúvida alguma indica a
malícia e a fraqueza, e portanto não pode
ser encontrado em Deus” (Meditações)
Reações ao método cartesiano




Tradicionais: método negava a base do
sistema tradicional => não mais a percepção
da Idéia em si, mas a construção
O método rejeitara o senso comum, a
experiência e a autoridade, eliminando as
possibilidades para um fundamento seguro
para o conhecimento
Se os dados sensoriais e o silogismo
(aristotélico) se tornavam duvidosos, o que
resta?
Empirismo inglês (Locke [1632-1704],
Hobbes [1588-1679])
Francis Bacon (1561–1626)








"saber é poder”
Novum Organum (Novo Órgão) => interesse pelo método da ciência
"órgão" = instrumento do pensamento
teoria dos ídolos: tornar o ser humano consciente das falsas noções
que não permitem o caminho para as verdades
ídolos da tribo => criados pela própria natureza humana, na
espécie humana, ou seja, a própria família humana ou "tribo"
ídolos da caverna => procedentes do indivíduo por si só e
impedido de conhecer a verdade devido aos defeitos e erros dos
órgãos de sentido, esses erros e defeitos são provenientes tanto da
própria natureza, quanto por sua educação ou hábitos;
ídolos do foro = ídolos do mercado => opiniões que o individuo
recebe através da linguagem e relação com outros indivíduos,
bloqueando o intelecto
ídolos do teatro = opiniões adquiridas pelos indivíduos através das
autoridades impondo pontos de vista transformados em leis
Baruch Spinoza (1632-1677)
Holandês judeu
 ‘Marrano’ =
descendente de
judeu ibérico
 Excomunhão : 1656
 Tratado Teológico
Político (ed: 1670)

Spinoza – obras

Tractatus de Deo et Homine Ejusque Felicitate
(escrito por volta de 1662, publicação póstuma
em 1852);
Tractatus de Intellectus Emendatione (escrito em
1662, primeira edição em 1677);
Renati des Cartes Principiorum Philosophiae Pars
I et II, More Geometrico Demonstratae, per
Benedictum de Spinoza (1663);
Ethica in Ordine Geometrico Demonstrata
(escrito em 1662-75, primeira edição em 1677);
Tractatus Theologico-Politicus (escrito em 166570, primeira edição em 1670);
Tractatus Politicus (incompleto, escrito a partir de
1665, primeira edição em 1677);
Apreciações
“Escritor obscurantista”
 “Arquijudeu blasfemo e completamente
ateu”
 “Monstro atroz”
 “Diabo néscio”
 “Saltimbanco cego”
 “Idiota obcecado”
 “Traste filosófico”
 “Fedelho miserável”

Tratado Teológico Político





1670
Crítica ao modo judaico de afirmação do
conhecimento e sua apropriação pelo estado
protestante holandês (=> superstição)
Ceticismo religioso => dúvida do
fundamento científico das afirmações
religiosas
Transferência do conhecimento de Deus
para o conhecimento racional (geometria e
matemática)
Reações ferrenhas
Antecedentes
Isaac de la Peyrère (1596-1676)
 Huguenote, de origem judaica, convertido
ao catolicismo
 Primeiro cético religioso
 Obras: Du rappel des juifs / Prae Adamitae
 Obras banidas no âmbito do reino
holandês

Marilena Chauí

Spinoza explica que existe no universo uma única substância. Essa substância única,
ela é de uma complexidade infinita, constituída de qualidades infinitas, que são ações
que produzem todas as coisas. Na tradição filosófica e na tradição religiosa, uma
substância infinita é Deus. Spinoza diz: é Deus. Só que, na tradição filosófica e na
tradição religiosa, Deus com Estado é transcendente, isto é, ele está fora, separado
do universo que ele criou ou que ele contempla. Na filosofia antiga, ele contemplava
... na filosofia judaica ou cristã, ele cria esse mundo por um ato contingente da sua
vontade, mas ele está fora e separado. Então ele governa o mundo, ele se revela, ele
pune, ele é monarca, ele é juiz, mas ele está fora. O Deus de Spinoza está
dentro, ele é imanente ao universo. Cada um de nós e todas as coisas são
expressões particulares, expressões singulares, expressões individuais
dessa única substância infinita. Ela age produzindo tudo isso sem se
separar dos seus efeitos. Ela é uma causa imanente. Essa causa imanente é que
garante a existência de cada um dos seres singulares. E as articulações e unidade de
todos eles na natureza é que forma a unidade complexa do universo, essa
causalidade imanente é a nervura que prende todas as partes da realidade. Então, a
causalidade imanente de Deus é um Deus que produz sem se separar das coisas por
ele produzidas, é a nervura da realidade.

Conhecê-lo é exercer o trabalho de pensamento na direção de conhecer
a estrutura do universo, do modo de realização.
Finalidade do estado: liberdade
=> pensamento livre e inteiramente
descomprometido => liberdade de consciência,
liberdade de crença
 “Mas suponhamos que essa liberdade pode ser
reprimida e os homens dominados a ponto de não se
atreverem a murmurar uma palavra que contrarie o
prescrito pelos poderes soberanos; mesmo assim,
nunca estes hão de conseguir que não se pense senão
o que eles querem: o que iria necessariamente
acontecer era os homens pensarem uma coisa e
dizerem outra; corrompendo-se, por conseguinte, a
fidelidade imprescindível num Estado e fomentandose a abominável adulação, a perfídia e, daí, os ardis e a
completa deterioração dos bons costumes” (Tratado
Teológico Político, p. 305)

Jusnaturalismo
Consequência da afirmação do indivíduo como
sujeito [e fonte originária] do pensamento
 Hugo Grotius [1583-1645 – jurista, teólogo,
filósofo] => separação entre direitos divinos e
humanos; direitos naturais são construídos por
acordos que brotam dos sujeitos em sociedade
=> inícios do direito internacional [tratados =>
final da guerra dos 30 anos]
 Hobbes [1588-1679]: preceito natural ou racional
que busca impedir a ruína de si e de outrem
 Locke [1632-1704] => liberalismo = política dos
homens livres / justificativa para escravidão
perpétua

Grotius - obras














De republica emendanda, 1601
Parallelon rerumpublicarum, 1602
De iure praedae (que inclui Mare liberum), 1604
De antiquitate reipublicae Batavicae, 1610
Ordinum pietas, 1613
Defensio fidei catholicae de satisfactione, 1617
De iure belli ac pacis, 1625
De veritate religionis Christianae, 1627
Inleydinge tot de Hollantsche rechtsgeleertheit, 1631
Via ad pacem ecclesiasticam, 1642
De imperio summarum potestatum circa sacra, 1647
De fato, 1648
Annales et historiae de rebus Belgicis, 1657
No Brasil, teve publicada a obra "O Direito da Guerra e da Paz"
(Unijuí, coleção "Clássicos do Direito Internacional", 2004)
Verdades autoevidentes

“Consideramos que estas verdades são
sagradas e inegáveis: que todos os
homens são criados iguais &
independantes [sic!], que dessa criação
igual derivam direito inerentes e
inalienáveis, entre os quais estão a
preservação da vida, a liberdade & a busca
da felicidade” (Thomas Jefferson – 1766,
apud Hunt, p.13))
Kant (1724-1804)
O ‘mundo externo’ só
pode ser percebido em
nossos termos (racionais)
e não em termos absolutos
 Prevalência da ‘razão pura’
 Ler por si mesmo e não
sob a autoridade de
outrem (seja igreja seja
academia)
 Imperativo categórico a
partir da consciência
racional => auto
determinação da vontade
(moral)

Kant: estruturas do conhecimento



SENSÍVEL: tempo e espaço
INTELECTIVO: quantidade, qualidade,
causalidade, necessidade
Conhecimento intelectivo => JUÍZOS:
◦ analíticos [explicativos / correspondência entre
sujeito e predicado / decomposição analítica do
sujeito] => "todos os corpos são extensos"
◦ sintéticos (a priori) [predicado acrescenta algo ao
sujeito não inerente a ele] => "todos os corpos
são pesados"

Imperativos categóricos: juízos
universalizáveis
Kant: O que é Iluminismo?
“Uma resposta à questão: “O que é Iluminismo?” (1784)

“Iluminismo [ou Ilustração] é a emergência
do homem a partir de sua imaturidade autoincorrida. Imaturidade é a inabilidade de usar
a compreensão sem ser guiado por outro.
Essa imaturidade é auto-provocada se sua
causa não é falta de entendimento, mas falta
de resolução e de coragem para usar o
entendimento sem ser guiado por outrem.
O slogan do iluminismo, é: sapere aude! Ter
coragem para usar seu próprio
entendimento.”
O que é iluminismo?

O iluminismo é a saída do homem de um
estado de menoridade que deve ser imputado a
ele próprio. Menoridade é a incapacidade de
servir-se do próprio intelecto sem a guia de
outro. Imputável a si próprios é esta
menoridade se a causa dela não depende de
um defeito da inteligência, mas da falta de
decisão e da coragem de servir-se do
próprio intelecto sem ser guiado por outro.
Sapere aude!1 Tenha a coragem de servir-te
da tua própria inteligência! Este é o lema do
Iluminismo.
Síntese
Ceticismo => nova afinidade eletiva
filosófica para descontrução da tradição
medieval
 Renascença / Humanismo / Reforma =>
afirmação da individualidade (sujeito), mas
restrição ao campo dogmático da
tradição
 Racionalismo [=> cogito cartesiano] =>
superação do ceticismo pela faculdade
intelectiva

Síntese (cont.)
Da percepção metafísica à nervura do real
(Spinoza)
 Empirismo inglês: conhecimento se constrói por
processos sensoriais (sem negação da dimensão
transcendente)
 Kant e a construção do conhecimento por meio
da atividade reflexiva racional, sem recurso à
metafísica, originando juízos transformáveis em
imperativos categóricos universais
 Euforia do iluminismo: a saída da menoridade é
um ato de coragem => sapere aude! “Ousar saber”


Nascido na Alemanha, Immanuel Kant (1724-1804) oferece uma nova concepção à teoria do conhecimento, tentando superar a
polêmica causada entre o racionalismo e o empirismo.

Kant afirma que o ser humano pode ser feliz e organizar a sociedade usando a razão como ferramenta, e que não é Deus que
comanda a sociedade e sim a própria razão humana. Com isso, Kant nega que o ser humano conheça algo que seja totalmente
superior á matéria, assim como afirmam os empiristas, e nega ainda que seja necessária somente a experiência para que o ser humano
conheça a matéria, assim como os racionalistas.

Kant explica que tudo que conhecemos da matéria, é justamente o que a razão oferece á matéria, ou seja, as formas. Explica também
que não se pode conhecer a essência das coisas, pois o noumenon (coisa em si) não permite acesso ao conhecimento, porém podemos
conhecer os fenômenos que se tornam compreensíveis pelo fato de participarmos de sua construção.

Após anos de reflexão, Kant elabora teorias como a Critica da razão pura; Critica da razão pratica; e a Critica do juízo.

Na Critica da razão pura, Kant afirma que todo e qualquer conhecimento sobre a realidade sensível, nasce da experiência estruturada
pelo tempo e pelo espaço. As representações oferecidas pela sensibilidade são ordenadas pelas "categorias do entendimento" que
atuam como "moldura" das experiências. Essas características são a qualidade, quantidade, relação e modalidade. O conhecimento é
um resumo onde o intelecto oferece a forma e a experiência oferece o conteúdo, essa relação é determinada pela imaginação, que
Kant estabelece como faculdade criadora; Kant questiona ainda toda a metafísica, pois esta não pode ser uma experiência sensível,
portanto não pode ser conhecida através da razão.

Na Critica da razão pratica, Kant retoma com a metafísica, afirmando que a razão pratica trata da ação moral, pois os seres humanos
agem por sua própria vontade seja ela boa ou má, já a ética não pode cair em "ilusão". Portanto a moralidade prova que existe algo
que transcede o sensível, ou seja, prova a existência de Deus, formulando assim a metafísica da ética.

Em sua ultima teoria, a Critica do juízo, Kant estuda as noções de finalidade e beleza, que não podem ser explicadas pela experiência
mas que são inerentes ao ser humano. Essa intuição estética conclui a relação entre a imaginação e o entendimento, fazendo com que
a imaginação se torne sensível e a sensibilidade se torne racional.

As principais questões que Kant se preocupa são: "Como justificar filosoficamente a física?", e "Como justificar a moralidade?".

Portanto, Descartes valoriza a razão diante dos sentidos e da tradição, e Kant valoriza a forma do conhecimento, espontâneo da
razão, que é oferecida pela sensação.
Download

POR MEIO DA DÚVIDA À AUTONOMIA DO COGITO