O Pré-Modernismo
Foi um movimento literário, mas que não constitui
verdadeiramente um estilo, e sim uma transição entre as
tendências modernas europeias e o Modernismo, a se
desenrolar no Brasil com a Semana de Arte Moderna, em
1922.
Referências históricas
 Bahia - Guerra de Canudos
 Nordeste - Ciclo do Cangaço
 Ceará - milagres de Padre Cícero gerando clima de histeria fanáticoreligiosa
 Amazônia - Ciclo da Borracha
 Rio
de
Janeiro
Revolta
da
Chibata
(1910)
Revolta contra a vacina obrigatória (varíola) - Oswaldo Cruz.
 República do café-com-leite (grandes proprietários rurais)
 Vinda dos Imigrantes, notadamente os italianos
 Surto de urbanização de SP - greves gerais de operários (1917)
 Contrastes da realidade brasileira - Sudeste em prosperidade e Nordeste
na miséria
 Europa prepara-se para a 1ª Guerra Mundial - tempo de incertezas
Autores com estilos levemente
diferenciados,
uns com raízes nos movimentos anteriores,
outros rumando para mudanças drásticas.
Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro
Lobato,Graça Aranha e Augusto dos Anjos
foram autores que se preocuparam em mostrar
o Brasil que a população não conhecia em suas
obras.
Características
Linguagem simples e coloquial
Apesar de alguns conservadorismos, o caráter inovador de
algumas obras, que representa uma ruptura com o passado,
com o academicismo;
Lima Barreto ironiza tanto os escritores "importantes" que
utilizavam uma linguagem pomposa quanto os leitores que se
deixavam impressionar: "Quanto mais incompreensível é ela (a
linguagem), mais admirado é o escritor que a escreve, por
todos que não lhe entenderam o escrito" (Os bruzundangas).
Realidade Brasileira
A denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil
literário herdado do Romantismo e do Parnasianismo;
o Brasil não-oficial do sertão nordestino, dos caboclos
interioranos, dos subúrbios, é o grande tema do PréModernismo.
Regionalismo, montando-se um
vasto painel brasileiro:
O Norte e o Nordeste com Euclides da Cunha;
O vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro
Lobato;
O Espírito Santo com Graça Aranha;
O subúrbio carioca com Lima Barreto.
Os tipos humanos marginalizados:
o sertanejo nordestino,
o caipira,
os funcionários públicos,
os mulatos.
Texto jornalístico e científico
Uma ligação com fatos políticos, econômicos - sociais e
contemporâneos, diminuindo a distância entre a realidade e a
ficção.
Exemplos:
Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto (retrata o governo de
Floriano Peixoto e a Revolta da Armada),
Os Sertões, de Euclides da Cunha (um relato da Guerra de Canudos),
Cidades mortas, de Monteiro Lobato (mostra a passagem do café pelo vale
do Paraíba paulista), e
Canaã, de Graça Aranha (um documento sobre a imigração alemã no
Espírito Santo).
Como se observa, essa "descoberta do
Brasil"
É a principal herança desses autores para o
movimento modernista, iniciado em 1922.
O Pré-Modernismo é uma fase de
transição e, por isso, registra :
Um traço conservador
A permanência de características realistas/naturalistas, na
prosa, e a permanência de um poesia de caráter ainda
parnasiano ou simbolista.
Um traço renovador
Esse traço renovador — como ocorreu na música — revela-se
no interesse com que os novos escritores analisaram a
realidade brasileira de sua época: a literatura incorpora as
tensões sociais do período.
O regionalismo — nascido do
Romantismo —
Persiste nesse momento literário, mas com
características diversas daquelas que o animaram
durante o Romantismo.
Denúncia dos desequilíbrios nacionais
 Em Triste fim de Policarpo Quaresma,



romance mais importante de Lima Barreto,
o escritor denunciou a burocracia no processo político brasileiro,
o preconceito de cor e de classe e incorporou fatos ocorridos durante o
governo do Marechal Floriano.
 Em Os Sertões, Euclides da Cunha fez a narrativa quase
documental da Guerra de Canudos.
 Em Urupês e Cidades mortas, Monteiro Lobato destaca a
decadência econômica dos vilarejos e da população cabocla
do Vale do Paraíba, durante a crise do café.
EUCLIDES DA CUNHA.
BIOGRAFIA
1866 - Nasce Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, município de
Cantagalo, Rio de Janeiro.
1869 - Morte da sua mãe.
1871 - Inicia os estudos em São Fidélis, no Rio de Janeiro.
1877 - Vai morar com os avós paternos, em Salvador, na Bahia.
1883 - Publica seus primeiros artigos no jornal estudantil O Democrata, do
Colégio Aquino, do Rio de Janeiro.
1885 - Cursa o primeiro ano de Engenharia na Escola Politécnica.
1886 - Transfere-se para a Escola Militar da Praia Vermelha.
EUCLIDES DA CUNHA.
BIOGRAFIA
1888 - Após um incidente com o Ministro da Guerra, dá baixa no Exército e
muda-se para São Paulo, onde começa a colaborar no jornal A província de
São Paulo.
1889 - Retorna à Escola Politécnica no Rio de Janeiro.
1890 - Casa-se com Ana Sólon Ribeiro.
1891- Diploma em Matemática e em Ciências Físicas e Naturais.
1894 - É enviado para cidade de Campanha, em Minas Gerais.
1896 - Desliga-se do Exército e passa a trabalhar na Superintendência de
Obras de São Paulo.
1897 - Volta a colaborar no jornal O Estado de São Paulo , antigo A
província de São Paulo, que o envia a Canudos para cobrir os
acontecimentos.
EUCLIDES DA CUNHA.
BIOGRAFIA
1899 - De volta de Canudos, escreve grande parte do livro Os Sertões em
São José do Rio Pardo, São Paulo.
1902- Em dezembro é publicada a primeira edição de Os Sertões.
1903 - Em julho, é publicada a segunda edição de Os Sertões.
É eleito para Academia Brasileira de Letras.
É nomeado membro do Instituto Histórico e Geográfico.
1904 - Ocupa o cargo de chefe da Comissão de Reconhecimento do Alto
Purus.
1905 - Passa todo o ano no Amazonas.
1906 - Trabalha como adido no gabinete do Barão de Rio.
EUCLIDES DA CUNHA.
BIOGRAFIA
1907 - Publica Contraste e Confrontos e Peru Versus Bolívia.
1909- Termina de escrever À Margem da História.
É nomeado para o cargo de professor de Lógica no Ginásio Nacional.
Morre em 15 de agosto, assassinado pelo amante da sua mulher.
Euclides da Cunha:
Repórter da Guerra
 Foi enviado especial do jornal O Estado de S. Paulo.
 Sua missão foi tornar pública a realidade brasileira, em Os Sertões, que
mostra a Guerra de Canudos de uma forma sem igual até hoje, porque viu
de perto a realidade da região e os esforços dos moradores do local para se
salvar dos ataques.
 Foi o primeiro escritor brasileiro a diagnosticar o subdesenvolvimento do
país, diagnosticando os 2 Brasis (litoral e sertão).
A composição de Os sertões
Proposta: explicar racionalmente a “grande tragédia nacional” que
observara. Pede ajuda à ciência da época. Estuda geografia, botânica,
antropologia, sociologia, etc. Fontes exclusivamente europeias,
impregnadas da perspectiva colonialista (Europa imperialista).
A obra é dividida em três partes:
1. A Terra,
onde descreve com uma riqueza às vezes até triste de detalhes
o sertão baiano.
2. O Homem,
onde descreve com o mesmo nível de riqueza o sertanejo.
3. A Luta,
onde a Guerra propriamente dita é retratada.
Visão de Os sertões
VISÃO DETERMINISTA
Determinismo geográfico:
Determinismo racial:
 O homem é produto do meio
natural.
 Os
cruzamentos
enfraquecem a espécie.
 O clima desempenha papel
preponderante na formação do
meio.
 O sertanejo é caso típico de
hibridismo racial (composto de
elementos de origem diversa).
 Existe a impossibilidade de se
constituir
uma
verdadeira
civilização em zonas tórridas
como o sertão.
A miscigenação induz os homens à
bestialidade e a toda espécie de
impulsos criminosos.
raciais
A TERRA – 1ª Parte
Predominância da visão cientificista e naturalista.
Leitura difícil = informação científica & estilo barroco.
Descrição do meio físico opressivo feita com detalhes: a vegetação pobre, o
chão calcinado, a imobilidade e a repetição da paisagem árida.
A linguagem é poderosamente retórica e transforma a natureza em elemento
dramático:
“Ajusta-se sobre os sertões o cautério das secas; esterilizam-se os ares
urentes, empedra-se o chão, gretado, recrestado; ruge o Nordeste nos
ermos; e, como um cilício dilacerador, a caatinga estende sobre a terra as
ramagens de espinhos...”
O HOMEM - 2ª Parte
Visão determinista = formação racial do sertanejo e os males da mestiçagem.
Mistura de raças = retrocesso:
“De sorte que o mestiço – traço de união entre as raças – é quase sempre
um desequilibrado (...) sem a energia física dos ascendentes selvagens, sem a
altitude intelectual dos ancestrais superiores.”
O HOMEM - 2ª Parte
Entretanto, contrastando com essa incapacidade do mestiço para a
civilização moderna, os sertanejos nordestinos seriam diferentes por ter há
muito se isolado no amplo interior do país. Abandonados há três séculos,
sem contatos maiores com o litoral desenvolvido, os sertanejos – ao
contrário do que ocorrera com os mestiços urbanos – não haviam sido
corrompidos.
Por isso, apesar de seu atraso mental, o sertanejo surge como um titã:
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos
mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro
lance de vista revela o contrário. (...) É desgracioso, desengonçado, torto.
Hércules-Quasímodo.”
O HOMEM - 2ª Parte
O isolamento do sertanejo o mantém preso a valores arcaicos como o
messianismo. A “tutela do sobrenatural” rege a vida cotidiana, e as
vicissitudes do meio intensificam a religiosidade e a consciência mágica do
mundo. Um mundo de profetas, de iluminados, de místicos que se tornam
líderes naturais, expressando os valores da comunidade.
Antônio Conselheiro = “A sua biografia compendia e resume a existência
da sociedade sertaneja”. O chefe dos fanáticos é um personagem-síntese:
figura bizarra para os padrões urbanos, com uma oratória impressionante.
Para Euclides, Canudos era apenas o produto previsível do fanatismo
religioso e do arcaísmo do pensamento sertanejo, que o Conselheiro
traduzia.
A LUTA – 3ª Parte
Percebe que o meio é o principal aliado do sertanejo: “As caatingas não o
escondem apenas, amparam-no”. Compreende a inutilidade dos métodos
clássicos de combate, usados pelo Exército, diante da mobilidade e da luta
não-convencional dos inimigos. Espanta-se diante da guerrilha sertaneja e
das sucessivas derrotas que ela impõe às tropas legais, superiormente
armadas.
Emociona-se ao ouvir as rezas e os cânticos que emergem do arraial
bombardeado, ao anoitecer, quando todo o Alto-Comando julgava Canudos
já sem resistência. A obra adquire então uma grandeza sombria e os últimos
momentos do confronto apresentam uma terrível dramaticidade. Com
dinamite, os soldados atacam os casebres ainda em pé, explodindo e
queimando seus moradores.
A interpretação da guerra
Tragédia de erros resultantes de uma profunda cegueira de ambos os lados.
Para os adeptos de Conselheiro, os soldados eram agentes do demônio e
deveriam ser destruídos. Para o Exército, os sertanejos eram jagunços
primitivos a serviço da causa monárquica e tinham de ser exterminados.
Na verdade, os guerrilheiros de Canudos eram uns pobres-diabos, filhos da
ignorância e das crendices de uma civilização parada no tempo há três
séculos. Precisavam de professores, não de tiros de canhão. Já as tropas do
governo, que representavam a civilização moderna do país, foram incapazes
de perceber a verdadeira natureza dos inimigos e trataram de destruí-los
com barbárie e horror.
A interpretação da guerra
Os sertões adquire, assim, um caráter de denúncia. Trata-se de um “grito de
aviso à consciência nacional”. Tal perspectiva é anunciada na nota
preliminar que abre o livro:
“Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na
significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo.”
BIBLIOGRAFIA
1902 - Os Sertões
1907 - Contrastes e Confrontos
1907 - Peru versos Bolívia
1909 - À margem da história (póstumo)
1939 - Canudos (diário de uma expedição) (póstumo) — Reeditado em 1967, sob o
título Canudos e inéditos.
1960 – O rio Purus (póstumo)
1966 – Obra completa (póstumo)
1975 – Caderneta de campo (póstumo)
1976 – Um paraíso perdido (póstumo)
1992 – Canudos e outros temas (póstumo)
1997 – Correspondência de Euclides da Cunha (póstumo)
2000 – Diário de uma expedição (póstumo)
“Os sertões” foi publicado nos seguintes idiomas: alemão, chinês, francês, inglês,
dinamarquês, espanhol, holandês, italiano e sueco.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
1882 -1904 - Primeiras letras: Lobato estudante
José Bento Monteiro Lobato estreou no mundo das letras com pequenos
contos para os jornais estudantis dos colégios Kennedy e Paulista, que
frequentou em Taubaté, cidade do Vale do Paraíba.
No curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo,
dividiu-se entre suas principais paixões: escrever e desenhar. Colaborou em
publicações dos alunos, vencendo um concurso literário promovido em
1904 pelo Centro Acadêmico XI de Agosto.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
É uma das figuras excepcionais das letras brasileiras. Jornalista, contista,
criador de deliciosas histórias para crianças, suscitador de problemas,
ensaísta e homem de ação, encheu com seu nome um largo período da vida
nacional.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
1905 -1910 - Lobato volta ao Vale do Paraíba.
Diploma nas mãos, Lobato voltou a
Taubaté. Nomeado promotor público,
mudou-se para Areias, começou a traduzir
artigos do Weekly Times para O Estado de
S. Paulo. Fez ilustrações e caricaturas para
a revista carioca Fon-Fon! e colaborou no
jornal Gazeta de Notícias, também do Rio
de Janeiro, assim como na Tribuna de
Santos.
Monteiro Lobato casou-se com Maria
Pureza da Natividade, em 28 de março de
1908. Com ela teve quatro filhos, Marta
(1909), Edgar (1910), Guilherme (1912) e
Rute (1916).
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
1911 - 1917 - Lobato fazendeiro e jornalista.
Vista da Fazenda S. José do Buquira.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
A morte súbita do avô determinou uma reviravolta na vida de Monteiro
Lobato, que herdou a Fazenda do Buquira, para a qual se transferiu com a
família.
Mas não se afastou da literatura. Observando com interesse o mundo da
roça, logo escreveu artigo, para O Estado de S. Paulo, denunciando as
queimadas no Vale do Paraíba. Intitulado “Uma velha praga”, onde destaca
a ignorância do caboclo, criticando as queimadas e que a miséria tornava
incapaz o desenvolvimento da agricultura na região.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
Um mês depois, redigiu Urupês, no
mesmo jornal, criando o Jeca Tatu, seu
personagem-símbolo. Preguiçoso e adepto
da "lei do menor esforço", Jeca era
completamente diferente dos caipiras e
indígenas idealizados pelos romancistas
como, por exemplo, José de Alencar.
Esses dois artigos seriam reproduzidos em
diversos jornais, gerando polêmica de
norte a sul do país.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
1918 - 1925 - Lobato editor e autor infantil.
Com o dinheiro da venda da fazenda, Lobato
virou definitivamente um escritor-jornalista..
O editor
A revista prosperou e ele formou uma empresa
editorial que continuou aberta aos novatos.
Lançou, inclusive, obras de artistas
modernistas, como O homem e a morte, de
Menotti del Picchia, e Os Condenados, de
Oswald de Andrade.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
Autor infantil.
Escreveu, nesse período, sua primeira
história infantil, A menina do narizinho
arrebitado. Com capa e desenhos de
Voltolino, famoso ilustrador da época, o
livrinho, lançado no Natal de 1920, fez o
maior sucesso.
Dali nasceram outros episódios, tendo
sempre como personagens Dona Benta,
Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia, Visconde
de Sabugosa e, é claro, Emília, a boneca
mais esperta do planeta.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou
aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e
lendas do folclore nacional. E fez mais: misturou todos eles com elementos
da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema.
No Sítio do Pica-pau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto
o saci ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das maravilhas de
Alice.
Monteiro Lobato também fez questão de transmitir conhecimento e ideias
em livros que falam de história, geografia e matemática, tornando-se
pioneiro na literatura paradidática - aquela em que se aprende brincando.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
Crise e falência
Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que enfrentar uma série de
obstáculos. Primeiro, foi a Revolução dos Tenentes que, em julho de 1924,
paralisou as atividades da sua empresa durante dois meses, causando grande
prejuízo.
Seguiu-se uma inesperada seca, que decorreu em um corte no fornecimento
de energia. O maquinário gráfico só podia funcionar dois dias por semana.
E numa brusca mudança na política econômica, Arthur Bernardes
desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do
Brasil.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
1925 - 1927 - Lobato no Rio de Janeiro
Decretada a falência da Companhia
Gráfico-Editora Monteiro Lobato, o
escritor mudou-se com a família para o
Rio de Janeiro, onde permaneceu por
dois anos, até 1927.
Em 20 de março de 1926 enviou "O nosso dualismo", analisando com
distanciamento crítico o movimento modernista inaugurado com a Semana
de 22. O artigo foi refutado por Mário de Andrade com o texto "PostScriptum Pachola", no qual anunciava sua morte.
BIOGRAFIA - MONTEIRO LOBATO
1927 - 1931 - Lobato em Nova Iorque.
Durante quatro anos, acompanhou de perto as inovações tecnológicas da
nação mais desenvolvida do planeta e fez de tudo para, de lá, tentar
alavancar o progresso da sua terra.
Trabalhou para o estreitamento das relações comerciais entre as duas
economias.
Expediu longos e detalhados relatórios que apontavam caminhos e
apresentavam soluções para nossos problemas crônicos. Falou sobre
borracha, chiclete e ecologia. Não mediu esforços para transformar o Brasil
num país tão moderno e próspero como a América em que vivia.
Enfrentou sérios problemas ao escrever o livro “O Presidente Negro e o
Choque de Raças”, que narra a história de um homem negro que se
candidata à Presidência dos EUA, é duramente criticado.
MONTEIRO LOBATO
1931 - 1939 - A luta de Lobato por ferro e petróleo.
Personalidade de múltiplos interesses, Lobato
esteve presente nos momentos marcantes da
história do Brasil. Empenhou seu prestígio e
participou de campanhas para colocar o país
nos trilhos da modernidade. Por causa da
Revolução de 30, que exonerou funcionários
do governo Washington Luís, ele estava de
volta a São Paulo com grandes projetos na
cabeça. O que faltava para o Brasil dar o salto
para o futuro? Ferro, petróleo e estradas para
escoar os produtos. Esse era, para ele, o tripé
do progresso.
MONTEIRO LOBATO
1940 - 1944 - Lobato na mira da ditadura.
Mas as ideias e os empreendimentos de Lobato acabaram por ferir altos
interesses, especialmente de empresas estrangeiras. Como ele não tinha
medo de enfrentar adversários poderosos, acabaria na cadeia.
MONTEIRO LOBATO
Sua prisão foi decretada em março de 1941, pelo Tribunal de Segurança
Nacional (TSN). Mas nem assim Lobato se emendou. Prosseguiu a cruzada
pelo petróleo e ainda denunciou as torturas e maus-tratos praticados pela
polícia do Estado Novo.
A perseguição no entanto continuou. Se não podiam deixá-lo na cadeia,
cerceariam suas ideias.
MONTEIRO LOBATO
1945 - 1948 - Os últimos tempos de Lobato.
Lobato estava em liberdade, mas
enfrentava uma das fases mais difíceis de
sua vida. Perdeu Edgar, o filho mais velho,
presenciou o processo de liquidação das
companhias que fundou e, o que foi pior,
sofreu com a censura e atmosfera asfixiante
da ditadura de Getúlio Vargas.
MONTEIRO LOBATO
Em maio de 1947 escreveu Zé Brasil. Nele,
o velho Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível,
que Lobato depois descobriu vítima da
miséria, vira um trabalhador rural sem terra.
Se antes o caipira lobatiano lutava contra
doenças endêmicas, agora tinha no
latifúndio e na distribuição injusta da
propriedade rural seu pior inimigo.
MONTEIRO LOBATO
Monteiro Lobato sofreu dois
espasmos cerebrais e, no dia 4 de
julho de 1948, virou “gás inteligente”
- o modo como costumava definir a
morte. Foi-se aos 66 anos de idade,
deixando imensa obra para crianças,
jovens e adultos, e o exemplo de
quem passou a existência sob a
marca do inconformismo.
MONTEIRO LOBATO
Era, de fato, um ser plural: escritor precursor do realismo fantástico, escritor
de cartas, escritor de obras infantis, ensaísta, crítico de arte e literatura,
pintor, jornalista, empresário, fazendeiro, advogado, sociólogo, tradutor,
diplomata, etc.
MONTEIRO LOBATO
A Realidade Brasileira...
Utilizando uma linguagem simples, expressa as tensões sociais, políticas e
econômicas daquela época.
Lutou através da imprensa e pessoalmente, pelo saneamento, pela
exploração do petróleo e o ferro, pela educação e saúde do país.
Aproxima-se das ideias do Partido Comunista Brasileiro.
Controvertido, ativo e participante, defende a modernização do Brasil nos
moldes capitalistas.
Faz uma crítica fecunda ao Brasil rural e pouco desenvolvido, como no Jeca
Tatu (estereótipo do caboclo abandonado pelas autoridades
governamentais) do livro Urupês.
MONTEIRO LOBATO
Nos seus primeiros livros: “Urupês”, “Cidades Mortas” e “Negrinha”.
Nessas publicações, é possível verificar o engajamento nacionalista
de Monteiro Lobato. As obras trazem contos com temáticas bastante
chocantes para a época como:
A violência contra os negros, imigrantes e mulheres,
O crescimento sem controle das cidades,
O trabalho infantil e a degradação da simplicidade do homem do campo.
MONTEIRO LOBATO
 Experimentalismos ortográficos;
 Coloquialismo e oralidade;
 Mescla linguagem culta com expressões oriundas da oralidade;
 O tema do preconceito racial;
Análise critica do subdesenvolvimento da região do vale do Paraíba no estado de
São Paulo;
Análise crítica dos problemas sociais, culturais e econômicos e dos problemas de
saúde pública;
 Escreveu contos humorísticos, de mistério, horror e morte, em ritmo de narrativa
de suspense policial, mesclado ao típico “causo” do meio rural;
BIOGRAFIA - LIMA BARRETO
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no
Rio de Janeiro em 1881 e aqui morreu em
01/11/1922.
De origem humilde, filho de um tipógrafo e
uma professora primária, ambos mestiços.
Afilhado do Visconde do Ouro Preto,
conseguiu estudar e ingressar aos 15 anos na
Escola Politécnica.
Era mulato, vítima de preconceitos, utilizava-se
de suas obras para denunciar a desigualdade
social da época, rompendo com o nacionalismo
até então constante em todos os autores prémodernistas.
Foi um grande crítico social.
CARACTERÍSTICAS
Lima Barreto foi o crítico mais agudo da época da República Velha no
Brasil, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem da
República, que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos
militares.
Foi severamente criticado pelos seus contemporâneos parnasianos por seu
estilo despojado, fluente e coloquial, que acabou influenciando
os escritores modernistas.
É
um
escritor
de
transição:
fiel
ao
modelo
do romance realista e naturalista do final do século XIX, procurou
entretanto desenvolvê-lo, resgatando as tradições cômicas, carnavalescas e
picarescas da cultura popular.
CARACTERÍSTICAS
Os personagens de Lima Barreto constituía, na sua maior parte, de mestiços,
gente simples, divertida e pitoresca, carteiros, funcionários de Guerra,
empregados no comércio, seresteiros, poetas e boêmios.
- Acreditava na renovação das ideias para o amadurecimento da
sociedade/povo, através de uma articulação compreensiva das contribuições
do velho, do novo e do novíssimo pensamento.- Para Lima Barreto, a
posição ética do escritor e a informação nova que ele pudesse trazer seriam
mais importantes que a sua inovação formal.
Também queria que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha
finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alternativas
renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam
pessoas e grupos. Para ele, o escritor tinha uma função social.
CARACTERÍSTICAS
Ao denunciar a tirania e a opressão das elites políticas de seu tempo,
colocou-se como um intelectual militante, que procurava representar o
modo de ver e de sentir a realidade do povo brasileiro.
Foi implacável na crítica ao mundo burguês, que se beneficiava das
péssimas condições de trabalho livre.
Achava que um mundo sem justiça e sem fraternidade deveria ser
desmascarado pela literatura.
CARACTERÍSTICAS
Linguagem
O estilo de pensar e de escrever contra o qual se insurgia o autor de Triste
fim de Policarpo Quaresma era simbolizado por um Coelho Neto ou um
Rui Barbosa: o da palavra a servir como anteparo entre os homens e as
coisas e os fatos.
Em Lima Barreto, ao contrário, as cenas de rua ou os encontros e
desencontros domésticos acham se narrados com animação tão simples e
discreta, que as frases jamais brilham por si mesmas, isoladas e insólitas
(como resultava da linguagem parnasiana), mas deixam transparecer
naturalmente a paisagem, os objetos e as figuras humanas.
BIBLIOGRAFIA
Grande parte de sua notável obra literária foi de cunho satírico e
humorístico, servindo de exemplo "Os Bruzundangas" e "Triste Fim de
Policarpo Quaresma".
Merecem também destaques seus romances “Recordações do Escrivão
Isaias Caminha”, “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”, “Numa e Ninfa” ,
"Clara dos Anjos” e “Cemitério dos vivos”.
ROMANCES
Vida e Morte de M J Gonzaga de Sá - pintura animada e crônica mordente
da sociedade carioca, esse livro constituí, com seu visível desalinhavo, a
mais curiosa síntese de documentário e ideologia que conheceu o romance
antes do Modernismo.
Numa e Ninfa - sátira política, tende à caricatura. O deputado Numa
Pompílio de Castro, fina flor da burguesia dominante jovem bacharel que
sobe graças à sua diplomacia, no fundo cínico é capaz de sacrificar a honra
pelo gozo dos privilégios.
Triste Fim
Quaresma.
de
Policarpo
O personagem do título é um fanático nacionalista
Termina por descobrir o quão obscura é a realidade do Brasil.
A obra é dividida em três momentos: no primeiro,
Policarpo Quaresma, funcionário público,passa os dias estudando sobre o
seu amado país, o Brasil.
Envia um requerimento sugerindo que a língua oficial do Brasil tornasse-se
o tupi guarani, língua nativa da região.
Teve o pedido negado e fora internado num manicômio.
No segundo momento,
Policarpo, com a ilusão de que todas as terras de seu amado Brasil fossem
férteis, aventura-se em comprar uma fazenda e plantar.
Ele o faz numa fazenda chamada Sossego.
A realidade mais uma vez lhe dá um tapa na cara, a terra não é tão fértil
como ele pensava e ainda não conseguiu lidar com as represálias dos
políticos da região.
No terceiro e último momento,
Policarpo retorna ao Rio de Janeiro.
Apóia o presidente marechal Floriano Peixoto
Participa como voluntário da Revolta da Armada.
Critica como os prisioneiros eram injustamente tratados.
Por isso, e preso e condenado ao fuzilamento por ordem do próprio
presidente.
BIOGRAFIA –
GRAÇA ARANHA
José Pereira da Graça Aranha nasceu no
dia 21 de junho de 1868, no Maranhão,
morre na cidade do Rio de Janeiro, no dia
26 de janeiro de 1931.
BIOGRAFIA - GRAÇA ARANHA
Entre 1900 e 1920, percorreu vários países europeus como diplomata, o que
lhe proporcionou o contato com os novos rumos que a arte estava seguindo,
afastando-o da Academia.
Em 1922 participou da Semana de Arte Moderna e em 1924, após a
conferência "O Espírito Moderno" desligou-se de vez da academia. Faleceu
no Rio de Janeiro a 26 de janeiro de 1931.
O obra mais significativa de Graça Aranha é Canaã. Ela retrata a vida em
uma colônia de imigrantes europeus no Espírito Santo. Seus dois
personagens principais, Milkau e Lentz têm modos diferentes de enxergar o
mundo.
O primeiro acha que a "terra prometida", ou seja, Canaã é o Brasil. Já o
segundo, inadaptado à realidade brasileira, é racista e preconceituoso, pois
acredita na supremacia da raça ariana sobre os mestiços, considerados por
ele fracos e indolentes.
BIBLIOGRAFIA - GRAÇA
ARANHA
Romance
- Canaã (1902);
- A Viagem Maravilhosa (1929).
Teatro
- Malazarte (1911).
Ensaios
- A Estética da Vida (1920).
Conferência
- Espírito Moderno (1925);
- Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, (1923);
- Futurismo. Manifesto de Marinetti e Seus Companheiros (1926);
- O Meu Próprio Romance (1931).
BIOGRAFIA - AUGUSTO
DOS ANJOS
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos
nasceu no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia
20 de abril de 1884. Aprendeu com seu pai,
bacharel, as primeiras letras.
Em 1903, matricula-se na Faculdade de
Direito do Recife, formando-se em 1907. Ali
teve contato com o trabalho "A Poesia
Científica", do professor Martins Junior.
Formado em direito, não advogou; vivia de
ensinar português.
AUGUSTO DOS ANJOS
CARACTERÍSTICAS
Entre as suas principais características, temos, além da linguagem científica e
extravagante, a temática do vazio da coisas [o nada] e a morte [finitude da vida] em
seus estágios mais degradados: a putrefação, a decomposição da matéria.
Simultaneamente, reflete em seus versos a profunda melancolia, a descrença e o
pessimismo frente ao ser e à sociedade, elaborando, assim, uma poesia de negação:
nega as falsas ideologias, a corrupção, os amores fúteis e as paixões transitórias:
“Melancolia! Estende-me a tua asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o prazer vier procurar-me
Dize a este monstro que eu fugi de casa!”
AUGUSTO DOS ANJOS
CARACTERÍSTICAS
 Influências realistas, naturalistas, expressionistas, impressionistas e simbolistas;
 Existencialismo e obsessão pelo tema da morte e da putrefação da carne;
 Vocabulário patológico e científico oriundo da química e da biologia;
 Pessimismo e morbidez;
O tema da degradação da matéria viva e da pós-morte;
 Ênfase no grotesco e no chocante;
 Locus horrendus e fantasmagoria;
 Preferência pela forma fixa de composição, principalmente, pelo soneto.
AUGUSTO DOS ANJOS
POESIAS
PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas Que o sangue podre das carnificinas
Come, e á vida em geral declara guerra,
Símbolo do expirar da vida, da podridão, da
putrefação, da decomposição, o verme aparece de
forma obsessiva na sua poesia.
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra.
O verme é aqui visto como o arqui-rival da vida, como o
símbolo da inevitabilidade da morte e da destruição de
todas as coisas. Ele representa a efemeridade dos entes,
a decadência de tudo o que é material.
AUGUSTO DOS ANJOS
POESIAS
VERSOS ÍNTIMOS
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
AUGUSTO DOS ANJOS
POESIAS
O DEUS-VERME
Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme - é o seu nome obscuro de batismo.
É por simbolizar o caráter infalível da morte que o
verme é retratado como divindade.
Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.
Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrôpicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...
Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!
Estando "Livre das roupas do antropomorfismo" e
sendo "Fator universal do transformismo", o verme
representa na poética augustiana a precariedade da
existência humana, representa o caráter passageiro e
efêmero desta existência.
Soneto (Ao meu primeiro filho nascido morto com 7 meses
incompletos. 2 fevereiro 1911.)
Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,
Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante,
A minha morfogênese ancestral?!
Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!...
Ah! Possas tu dormir, feto esquecido,
Panteísticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!
AUGUSTO DOS ANJOS
POESIAS
MORCEGO
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
Download

biografia - monteiro lobato