REVISÃO UNICAMP 2015
REDAÇÃO
A redação da Unicamp funciona de um jeito diferente. A prova de
redação consiste em dois textos de gêneros completamente distintos,
que não são divulgados antes. Cada texto vale 24 pontos, totalizando
48. Este ano, a redação também passou a valer mais na Unicamp, em
um total de 20% da nota final.
Critérios de correção
• Tipo de texto e interlocução: Avalia se o texto corresponde ao gênero
pedido, e se os interlocutores (ou seja, a quem você se dirige durante o
desenvolvimento do texto) estão sendo considerados.
• Propósito: Verifica se a tarefa solicitada na proposta é cumprida e se o
tema e as instruções de elaboração do texto são levados em conta.
• Leitura: O candidato deve saber estabelecer um contato entre o texto e a
coletânea fornecida na prova, através da qual a banca avaliará a leitura e a
interpretação de texto do candidato.
• Articulação escrita: Os dois textos devem apresentar uma escrita fluida,
coerente, e bem fundamentada. O candidato também deve mostrar que
sabe adequar a linguagem a cada um dos gêneros solicitados.
Gêneros que já foram cobrados
• 2014 - Relatório sobre oficina cultural em uma escola; Carta aberta de uma
associação de moradores, dirigida a autoridades, sobre problemas no
trânsito
• 2013 - Resumo de um texto sobre pessimismo; carta de um leitor aos
redatores de um jornal sobre alcoolismo
• 2012 - Comentário de um estudante num fórum de internet sobre a
profissão de cientista; manifesto de estudantes de uma escola sobre
monitoramento online; verbete explicando o conceito de computação em
nuvem
• 2011 - Estudante escreve um comentário numa publicação do site da MTV;
Líder de grêmio estudantil escrevendo um discurso de apresentação de
uma palestra ; Artigo jornalístico de opinião sobre catástrofes de chuvas
Orientações
Antes de elaborar o texto, convém ler com atenção o contexto criado pela
banca examinadora. É ele que determinará a situação comunicativa na qual
você deve se colocar.
enunciador (será uma pessoa ou um grupo)
destinatário (será alguém específico ou diluído)
objetivo (será expor, descrever, informar, convencer, instruir, sensibilizar,
etc?)
suporte (você usará para transmiti-lo sua voz, a tela do computador, um
livro, um jornal)
Após esclarecer bem esses itens, tente verificar o que sabe e o que pode
inferir da proposta a respeito do gênero textual solicitado. Para isso, use as
pistas da proposta (veja o contexto criado), lembre-se do seu repertório (os
textos parecidos que já viu) e, principalmente, use o bom senso. Não há um
único formato correto para um gênero textual, mas a banca avaliará se
aquilo que produziu realmente seria coerente para aquele propósito, se
poderia ser interpretado como um texto verdadeiro.
Orientações para identificar a estrutura interna do gênero
Exige título?
Como se dá a enunciação (usa-se 1, 2 ou 3.. pessoa?)
Apresenta interlocução explícita ou implícita? (fala-se diretamente com o
leitor?)
Estrutura-se em prosa, em verso ou em itens?
Qual o tipo predominante (descritivo, narrativo, dissertativo-expositivo,
dissertativo-argumentativo, injuntivo)
Como é o início (é preciso esclarecer a situação que o levou a escrever ou
isso não é comum neste gênero?)
Como é o desenvolvimento (que comandos a proposta exige que você
cumpra?)
Como é o encerramento?
Exige assinatura?
Importante:
Leia bem a coletânea e a use para cumprir a tarefa solicitada. Lembre-se de se
apropriar das informações de modo coerente e coeso, sem fazer cópias ou
colagens.
Texto 1
Exemplos de Redações Acima da Média
Exemplo de redação abaixo da média
Exemplos de redação acima da média
Exemplo de redação abaixo da média
Alguns gêneros que deve ser revistos:
* Notícia
* Abaixo-assinado
* Crônica
* Relato
* Conto
* Entrevista
* Texto instrucional
* Carta
Notícia
Combate à violência de gênero exige reconstrução de modelos
O primeiro dia do II Fórum sobre Violência contra a Mulher: Múltiplos Atores deu
destaque, nesta quinta-feira (27), aos questionamentos sobre o conceito tradicional de
masculinidade na sociedade contemporânea e à necessidade de desconstrução desse modelo como
instrumento essencial para o combate à violência de gênero.
Além das diferenças biológicas entre homens em mulheres, o que diferencia o feminino do
masculino é a condição de gênero, que compreende aprendizados, vivências e todo um histórico
sociocultural, explicou a socióloga Eva Alterman Blay, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
“A condição de gênero é algo que foi construído. Portanto, o que você constrói você pode
reconstruir, modificar. Do ponto de vista sociológico, temos que buscar meios de reconstruir essas
relações e mostrar como isso pode nos levar a uma convivência mais humana, mais pacífica, com
mais harmonia nas relações sociais de gênero”, apontou Eva Blay, que há cinco décadas milita na
causa feminista.
O psicólogo Alexandre Coimbra Amaral, terapeuta de família e de comunidades, abordou
em sua palestra a temática da “paternidade sólida”, que ele considera um movimento
contracultural que busca fugir das relações afetivas imediatistas, a partir de uma “revolução íntima”
do gênero masculino.
O II Fórum sobre Violência contra a Mulher: Múltiplos Atores continua nesta sexta-feira no
Centro de Convenções da Unicamp. O evento é uma realização do Fórum Pensamento Estratégico
(PENSES), um espaço acadêmico, vinculado ao Gabinete do Reitor, responsável por promover
discussões que contribuam para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da
sociedade em todos os seus aspectos.
CRÔNICA
CARTA DO LEITOR X CARTA AO LEITOR
Carta do leitor: geralmente argumentativa, circula em jornais e em revistas, já que
o leitor a envia para manifestar seu ponto de vista sobre matérias que leu;
Carta ao leitor: também chamada de editorial, artigo de opinião em que se discute
uma questão ou assunto, apresentando-se o ponto de vista do jornal, da empresa
jornalística ou do redator-chefe. Não vem assinado, diferentemente dos artigos de
opinião.
RELATO PESSOAL
DEFINIÇÃO: O relato constitui-se de um gênero base para outros, pois se trata de
um texto de caráter pessoal, escrito em 1ª pessoa e, normalmente, não possui um
interlocutor específico a não ser o próprio autor, como ocorre nos diários.
Entretanto, pode-se encontrar no cotidiano relatos que visam, na verdade, a
apresentar uma versão pessoal sobre um fato para outras pessoas.
São exemplos desse gênero os subgêneros depoimento, diário, blog.
De reclamação/de solicitação: procura, por meio da rememoração de alguns fatos,
reclamar direitos ou solicitar resoluções para problemas. O autor mostra o que está
errado e reclama/solicita a solução.
Convite: se for pedida, será uma carta em que o autor direciona um convite a um
leitor. Nesse caso, o texto deve ser convincente/persuasivo, já que os convites são
como cartões de propaganda/visita do autor.
E-mail: utilizar-se-á a mesma estrutura da carta, porém, com algumas diferenças.
Observe se há uma folha diferenciada. Seu e-mail deve apresentar assunto,
vocativo com saudação, texto, despedida.
NÃO SE DEVE ASSINAR TEXTO NENHUM, A MENOS QUE O COLOQUE NA
SITUAÇÃO DE UM PERSONAGEM ESPECÍFICO.
Debaixo da Ponte
Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém
eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio:
a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam
conta de luz e gás, porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam contra falta
d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham;
podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte
alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa.
Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, recebê-los, fazê-los
desfrutar comodidades internas da ponte.
À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia
onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não
dispõe de outro rancho. Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a
calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma
casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se
sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de
carne.
Nem todos os dias se pega uma posta de carne. Não basta procurá-la; é
preciso que ela exista, o que costuma acontecer dentro de certas limitações de
espaço e de lei. Aquela vinha até eles, debaixo da ponte, e não estavam sonhando,
sentiam a presença física da ponte, o amigo rindo diante deles, a posta bem
pegável, comível. Fora encontrada no vazadouro, supermercado para quem sabe
frequentá-lo, e aqueles três o sabiam, de longa e olfativa ciência.
Comê-la crua ou sem tempero não teria o mesmo gosto. Um de debaixo da
ponte saiu à caça de sal. E havia sal jogado a um canto de rua, dentro da lata.
Também o sal existe sob determinadas regras, mas pode tornar-se acessível
conforme as circunstâncias. E a lata foi trazida para debaixo da ponte.
Debaixo da ponte os três prepararam comida. Debaixo da ponte a comeram.
Não sendo operação diária, cada um saboreava duas vezes: a carne e a sensação de
raridade da carne. E iriam aproveitar o resto do dia dormindo (pois não há coisa
melhor, depois de um prazer, do que o prazer complementar do esquecimento),
quando começaram a sentir dores.
Dores que foram aumentando, mas podiam ser atribuídas ao espanto de
alguma parte do organismo de cada um, vendo-se alimentado sem que lhe
houvesse chegado notícia prévia de alimento. Dois morreram logo, o terceiro
agoniza no hospital. Dizem uns que morreram da carne, dizem outros que do sal,
pois era soda cáustica. Há duas vagas debaixo da ponte.
Carlos Drummond de Andrade
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