A Majestade do Xingu
MOACYR SCLIAR
PUBLICADO EM 1997
O autor
Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), em 23 de março de 1937. Seus pais, José e
Sara, eram europeus que migraram para a América em busca de melhor sorte. Judeus, haviam
sido vítimas de perseguições em sua terra natal, e o Brasil se apresentava como nação
acolhedora, que de modo amistoso e promissor recebia os que a procuravam. É autor de uma
vasta obra que abrange conto, romance e ensaio.
Recebeu numerosos prêmios e teve textos traduzidos para doze idiomas.
Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, a televisão e o teatro.
Pela Companhia das Letras publicou A Orelha de Van Gogh (1988), coletânea de contos que
recebeu o prêmio Casa de Las Américas;
Sonhos Tropicais (1992), romance baseado na vida de Oswaldo Cruz;
Contos Reunidos (1995)
A Paixão Transformada, história da medicina na literatura (1996).
Personagens
Noel Nutels
• Médico. Famoso sanitarista. Especialista em malária e
trabalhou com os índios do Alto Xingu.
O narrador
• Protagonista sem nome, paciente da UTI
“ Você é o sol e eu um pequeno e desconhecido planeta
gravitando à distância ao redor de você,
Aquecendo-me um pouco com o calor de sua glória,
você é o meu orgulho”.
Noel Nutels
A PESSOA E A PERSONAGEM
A pessoa
Um reconhecido sanitarista e defensor dos índios; um debochado contador de piadas, que fez de sua casa um
quartel-general da cultura brasileira.
 O médico morreu com 59 anos, em 1973. Sua trajetória esbarra constantemente em acasos. O primeiro foi a
decisão de seu pai, Salomão, de trocar a Ucrânia pelo Brasil em 1912, quando sua mulher, Bertha, ainda estava
grávida. Salomão estava convicto de que seu destino era um país onde o chão estava “coberto de diamantes, era
só curvar e pegar”, como anotou em um diário.
 Bertha e o recém-nascido Noel ficaram mais nove anos na Europa sacolejada por confrontos. Judeus,
enfrentaram o movimento antissemita. Viram a Ucrânia, sua terra natal, ser destruída na Primeira Guerra
Mundial, e depois partilhada durante a Revolução Russa.
 Em 1936, Noel concluiu o ensino superior, especializando-se no estudo da tuberculose, uma das doenças que
mais vitimavam pobres no país. Mudou-se para o Rio, então capital federal, e descobriu que não poderia entrar
no serviço público: ainda não havia se naturalizado brasileiro.
 Nos anos 40, ele participou da Expedição Roncador-Xingu, ligada à Fundação Brasil Central, e embrenhou-se
junto ao Marechal Cândido Rondon numa marcha ao quase inexplorado Centro-Oeste. Era o médico de uma
missão que deveria levar cabos de topografia ao interior do país. Conheceu no caminho os irmãos sertanistas
Villas-Boâs — Leonardo, Cláudio e Orlando — e adotou a causa indígena.
 Noel morreu no dia 10 de fevereiro de 1973.
A personagem – um herói épico
A história pode ser classificada em dois gêneros: romance e epopeia.
Romance – Seu narrador-protagonista e decaído, fraco, passivo, inerte, um personagem
defeituoso e problemático, como exige essa categoria narrativa.
Epopeia – As narrativas giram em torno de um herói. Noel Nutels, famoso sanitarista. Trata-se de
um personagem histórico, que na obra adquire características com alto nível de heroicidade e
idealização.
Como se conheceram?
Noel Nutels e o narrador da Majestade do Xingu se
conheceram na viagem que trazia famílias judias que fugiam
da Rússia na época da Revolução Russa e chegaram no
Brasil, em 1921, através de uma viagem no Navio Madeira.
A família de Noel acaba ficando em Recife, enquanto a
família do nosso narrador vai até a cidade de São Paulo.
Família do Narrador
Seu pai era sapateiro na Rússia e vendedor de gravatas em São Paulo. Amputou um braço e mais
tarde, enfarto e pneumonia, levando-o a morte.
O narrador – primeiramente funcionário de Isaac. Mais tarde proprietário da loja A Majestade.
Paulina
Narrador
Em São Paulo, estudou no Colégio Anchieta
Sarita
Ezequiel
Comunista. Filha de pai rico. O pai financiava.
Através dela o narrador tem notícias de Noel.
Família de Noel Nutels
Noel: Formou-se em medicina e foi para o Rio de Janeiro em 1937. Nesse tempo escrevia na
revista Diretrizes, uma publicação de esquerda que contava com a participação de José Lins do
Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado.
Pensão:
Fernando Lobo
Ariano Suassuna
Capiba
Rubem Braga
Salomão Nutels
Noel Nutels
Bertha
Elisa
Por que saíram da Rússia?
Revolução Russa
Famílias de judeus - perseguição
PROGROM – Massacre organizado. Uma válvula de escape para as tensões do Império.
Cossacos bêbados batiam nos homens, violentavam as mulheres e queimavam casas
“O pogrom, doutor, era um massacre organizado, uma válvula de escape para as tensões do império. A
colheita fracassava? Pogrom. A Rússia era derrotada numa aventura guerreira? Pogrom. O tzar se sentia
ameaçado? Pogrom, pogrom, pogrom. Mesmo os que desaprovavam o pogrom – o civilizado conde Alexei
era um deles – nada faziam para evitá-lo. Muitos habitantes da aldeia aceitavam resignados a violência:
vinha de tanto tempo, aquilo, que já se constituía em fatalidade. Outros, porém, se revoltavam. Até quando
os judeus continuariam a ser massacrados? Não estava na hora de dar um basta à perseguição? Não existiria
no mundo um lugar em que a gente pudesse escapar daquele permanente terror?” (SCLIAR, 1997: 15)
A MÃO NEGRA – O destino
O navio que os trouxera ao Brasil chamava-se Madeira. Era um cargueiro adaptado para o
transporte de imigrantes. Estavam fugindo da Rússia. Vinham do sul da Rússia, da Bessarábia, na
fronteira com a Romênia. A região pertencia ao Império Tzarista. Os judeus não podiam sair dali
a não ser que fossem ricos. Mas eles não eram ricos. Moravam numa pequena aldeia, num
shtetl, de gente pobre: agricultores, artesãos, pequenos comerciantes.
Que fim tem a narrativa e seus personagens?
Ezequiel
• Cursou Ciências Sociais e entrou no movimento estudantil,
envolvendo-se na luta armada. Quando houve o Golpe de 64,
refugiou-se em um sítio. Mais tarde ganha uma Bolsa de Estudos
para a França, onde acaba seus estudos, casa, tem dois filhos e
não volta para o Brasil.
Paulina
• Esposa do narrador, decide ir para Israel, deixando o narrador
sozinho, mas escreve longas cartas contando sua experiência no
kibutz.
Noel Nutels
• Depois de trabalhar a serviço dos índios no Xingu e
lutar contra grileiros exploradores, adoece e em
1973 morre de câncer.
Narrador
• Depois de deixado pela sua esposa, vende a loja A
Majestade para um coreano, compra um
apartamento pequeno e contratou Josélia, uma
espécie de empregada que fazia “tudo”. Sonha que
vai ao Xingu, tem um pesadelo e acorda gemendo
quando a empregada o leva para o hospital.
“Era época da ditadura, visitar o Noel, que era uma figura tão
respeitada, principalmente na esquerda, poderia repercutir bem na
opinião pública, e ao abri os olhos e ver aqueles generais à sua volta,
olhou a todos, um a um. Um deles lhe perguntou como estava, e Noel
respondeu:
- Estou como o Brasil, na merda e cercado de generais.”
Essa referência aparece no início e fim do livro.
Hoje ele tem vontade de chorar e não consegue:
“Ou seja: eu quero chorar porque não posso chorar. O choro dentro do choro, a lágrima
dentro da lágrima, o mar dentro do mar”.
Outros personagens
Alguns personagens merecem destaque na obra:
 João Mortalha – foi enterrado vivo, depois ficou com esse apelido. Quer ficar rico explorando
terras indígenas. Quis contaminar os índios com a varíola e acabou sendo contaminado. Noel o
põe para correr do Xingu.
 Major Azevedo – a mulher do major Azevedo tem cabelo no cú que dá medo. Epifania.
 Iracema – caso amoroso do narrador. Irmã de João Mortalha.
 Isaac Babel – judeu que acompanha os soldados não para combater – era incompetente até na
montaria - , mas para testemunhar e relatar todos os feitos destes.
O médico
Relações Intertextuais
Lasar Segall – Navio dos Imigrantes
“Porque me ufano com meu país”, conde Afonso Celso
Poemas de Olavo Bilac
Relação com a história de Caim e Abel – bíblia
Padre José Anchieta
Hans Staden – Cronistas do descobrimento – canibalismo
Isaac Babel – A cavalaria vermelha
Lia: Lobato, Nietzsche, Proust e Ovídio
Fawcett e Atlântida
O manifesto comunista – Karl Marx
O capital – Lênin e Stalin
O flautista de Hamelin
Machado de Assis
Alguns recursos gramaticais e estruturais da obra
Repetição binaria e ternária:
“Lê Machado: eu lia Machado. Lê Buber: eu lia Buber. Lê, lê, lê. Eu lia, lia, lia. Claro: lendo, lendo,
lendo, não prestava atenção no que se passava ao meu redor.
Na dali konchit – Não me deixaram terminar. (frase dita por Isaac e repetida pelo narrador)
EPIFANIA – Major Azevedo em relação a sua mulher (pg. 147)
“O major acaba de passar por uma dolorosa epifania. Dava-se conta, de
que, a rigor, não conhecia sua mulher, a rigor, jamais tinha explorado o
território misterioso representado pelo corpo dela. Trepar, trepava, e com
prazer – mas era só. O conhecimento verdadeiro vinha agora, sob a forma
daquela visão dantesca”.
Vale a pena dar uma olhada:
A identidade cultural no romance A Majestade do Xingu
Dissertação de Mestrado – UFMG
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/ECAP74QJRR/a_identidade_cultural_no_romance_a_majestade_do_xingu.pdf?sequenc
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