Sistema ONU de Proteção aos Direitos Humanos Luiza Nonato Maíra Ouriveis Murilo Thomaz Pedro Nicolau Rafael Messias Sistema ONU de Proteção aos Direitos Humanos http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ef/Einsatzgruppe.jpg Histórico • O sistema internacional de direitos humanos como conhecemos hoje, tem sua origem vinculada a criação da ONU. - Contexto: Fim da 2ª G.M e Guerra Fria Extermínio de um judeu, na Ucrânia http://en.wikipedia.org/wiki/File:EleanorRooseveltHumanRights.png • Carta das Nações Unidas - Considera os DH em diversos pontos. - Preâmbulo - Art 1º (3) - Art. 55º -Art. 56º • Preâmbulo: “Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e o valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas [...]” • Artigo 1º Os objetivos das Nações Unidas são: 3) “Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.” • Artigo 55º “Com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar, necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas promoverão: c) O respeito universal e efetivo dos direitos do homem, das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.” • Artigo 56.º “Para a realização dos objectivos enumerados no artigo 55, todos os membros da Organização se comprometem a agir em cooperação com esta, em conjunto ou separadamente.” • No entanto, esses instrumentos eram muito vagos e sem mecanismos obrigatórios. • Divergência entre países de menor expressão e as grandes potências • É criada, nesse contexto, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) • Necessidade de definir e codificar • É assinada a Declaração dos Direitos do Homem (1948) - Define os direitos pessoais, direitos judiciais, liberdades civis, direitos de subsistência, direitos econômicos, direitos sócio-culturais e direitos políticos. • Em 1966, são firmados o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. • Relutância por parte dos países a ratificar os pactos, que tinham caráter vinculativo. • Fim da fase abstencionista. • O próximo período, contudo, não pode ser classificado como Intervencionista, segundo Alves (1994). • Respeito ao Art. 2º (7), sobre a não ingerência. • Paralelamente, passam a valer são as Resoluções 1235 (1967), sobre Denúncia de violações em países específicos por meio de procedimento público, e 1503 (1970), sobre Denúncia de violações em países específicos com caráter confidencial. • O método confidencial caiu em desuso, sendo empregado apenas em situações sem grande repercussão internacional. • A partir da década de 80, com os grupos de trabalho na África do Sul, em Israel e no Chile. • Nesse contexto, “a ONU autoriza e estimula tal prestação de auxílio, condizente com o direito internacional humanitário estabelecido nas Convenções de Genebra desde 1949, sem configurar um “direito de ingerência”, mas para atender ao direito das vítimas à assistência internacional.” – (ALVES, 1994, p. 3) O Sistema ONU hoje • Perda de credibilidade da Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos: - Politização; - Seletividade. • 15 de março de 2006: criação do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, com base na Resolução 60.251 da Assembléia Geral; • Em 2011 (5 anos após sua criação), o CDH será submetido à uma análise em que será avaliado o desejo dos países-membros da ONU de elevá-lo à categoria de órgão principal. • Mecanismos de observância: Violações de direitos humanos em países ou territórios específicos country-mechanisms; Violações de direitos humanos em escala mundial mecanismos temáticos ou procedimentos especiais; Órgão subsidiário do Secretariado Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos Navanethem Pillay e Sérgio Vieira de Mello Conselho dos Direitos Humanos • 47 Estados membros, sob critério geográfico; Comitês (Treaty Bodies) • 8 comitês especializados; • apenas 4 possibilitam queixas individuais A comunicação de denúncias ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU Podem ser de 3 tipos: - Individuais; - de Estado para Estado; - de investigação A comunicação de uma denúncia de violação sistemática aos direitos humanos deve: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Não ter motivação política manifesta; Conter descrição factual, incluindo qual o direito que está sendo violado; Não ter linguagem abusiva; Ser submetida por vítima ou grupo que representa/defende a vítima; Não ser baseada unicamente em dados veiculados pela mídia; Não ser caso que já esteja sendo tratado por órgãos ou procedimentos especiais da ONU ou sistema regional de direitos humanos; 7. Só ser apresentado após exaustão dos recursos internos ou prova de que tais recursos não insuficientes. Pautas em discussão sobre o atual sistema de proteção dos Direitos Humanos - Respeito à soberania estatal; - Perspectivas de melhora do sistema com a criação do Conselho; -Coerência dos membros do Conselho dos Direitos Humanos: são exemplos na garantia tais direitos dentro de seu território? Estudos de Caso Caso I Os Direitos Humanos no BRASIL • Ditadura militar: maior preocupação com os DH durante a década de 70; • Comissão Justiça e Paz: 1968, com participação de intelectuais religiosos, protegia perseguidos políticos; • Programa nacional dos direitos humanos: 1996, no governo FHC. • Brasil assina diversos documentos da ONU de defesa dos DH em diversos aspectos. Relatório de 2010 da ONU • • - Pouco avanço desde o relatório de 2007; Relatórios recentes sobre: pessoas desaparecidas; ataques a defensores dos direitos humanos; execuções sumárias e tortura; discriminação contra minorias; trabalho escravo. Pontos em que houveram melhorias: - Violência contra a mulher pela Lei Maria da Penha; - Agressões conta homossexuais pelo Programa Brasil Livre da Homofobia; - Barateamento do tratamento de AIDS pela quebra da patente dos medicamentos; - Alimentação de jovens estudantes pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar. Pontos que devem ser melhorados: - Abuso de poder e uso de força excessiva; - Condições prisionais, assassinatos realizados por policiais, tortura; - Violência contra indígenas; - Desigualdades economias e sociais; - Desigualdades entre homens e mulheres e entre negros e brancos; - Discriminação contra deficientes físicos; - Limitações de programas como Bolsa Família; - Reforma agrária e violência rural; - Abuso sexual e violência contra crianças; - Número alarmante de mortes de mulheres devido a abortos ilegais. Recomendações da ONU • Superlotação: sentenças alternativas, regimes de prisão aberta e novos presídios; • Assassinatos por policiais: não classificar esses casos mais como atos de resistência ou resistência seguida de morte e sim como homicídios do Estado; • Equipar veículos blindados, como o Caveirão com sistema de áudio e vídeo (algo como uma caixa preta dos aviões) • Abolir o tempo de prescrição de crimes contra a vida; Abuso de poder e excesso de força • Policiais responsáveis pelo aumento do número de homicídios no país; • Situação rotineira: tortura sistemática em presídios; • Número de mortos pela PMRJ: maior que a soma de todas as polícias dos EUA; • Casos que ganharam atenção: - Massacre do Carandiru; - Chacina da Candelária; Caveirão: veículo blindado - Seqüestro do ônibus 174. utilizado pela PM do RJ em incursões nas favelas. Massacre do Carandiru • 02 de outubro de 1992; • Tropas sob comando do Coronel Ubiratan Guimarães para controlar rebelião no Complexo Penintenciário do Carandiru; • Tiros na cabeça e no tórax; • Morte de 111 detentos. Chacina da Candelária • 23 de julho de 1993; • Policiais atiraram contra setenta jovens que dormiam perto da Igreja da Candelária, no centro do RJ; • Seis menores e dois maiores morreram; • 3 possíveis motivações para o crime. Sandro Barbosa do Nascimento • 12 de junho de 2000; • Ônibus da linha 174 seqüestrado no RJ; • O seqüestrador foi morto por asfixia, pelos policiais, dentro do camburão. Denúncias na ONU contra o Brasil - Ataque a militantes do MST, que ocupavam propriedade da empresa Syngenta (Nov. de 2007); - ONG Terra de Direitos denuncia o despejo violento no Bairro Fazendinha, em Curitiba Sistema prisional(Nov. do ESde 2008); - Homofobia dentro do exército brasileiro devido a relacionamento de dois oficiais (Jun. 2008); Tortura em unidade de internação de menores no ES; • Unidade de Internação Socioeducativa de Cariacica; • Denúncia realizada em 2010 pelas ONGs Conectas e Justiça Global e pelo Conselho de Direitos Humanos do Espírito Santo; • Porretes para prática de tortura; •Situação presenciada em visita do coordenador da Pastoral do Menos padre Xavier e da juíza Patrícia Neves • Situação geral dos presídios capixabas viola os direitos humanos. Camburão usado como cela para presos provisórios, em Vitória. Espaço que o preso possui para viver dentro do camburão. Container metálico utilizado como cela onde a temperatura alcança 50ºC. Condições do prédio do presídio de Novo Horizonte, ES: superlotação e falta de higiene. “O aparato de segurança e justiça criminal brasileiros mantiveram-se, mesmo após a Constituição de 1988, basicamente com as mesmas estruturas e práticas institucionais desenhadas pelo regime militar (...) Problemas como fragmentação, baixa coordenação, ausência de avaliação sistemática e criteriosa, pouca transparência e mecanismos de controle social deficientes, comprometem profundamente a eficiência dias forças policiais e criam um ambiente propício à arbitrariedade” ROQUE, Atila. Segurança, direitos e violência: uma outra polícia é possível? • Necessária uma reforma no sistema carcerário; • Na reunião da ONU em Genebra o representante do governo do Espírito Santo assumiu que a situação necessita de melhoria; • O governo do estado está construindo novos presídios: não será a solução; • A mudança se dará com o fim de práticas violentas, e respeito aos direitos; • A ONU não possui relatório sobre este caso em específico; Conclusão sobre a situação brasileira • Pouco comprometimento com a melhoria; • Recomendações da ONU com pouca efetividade; • Busca de níveis mínimos de violência, corrupção, e discriminação; • Sem quebra da soberania nacional. Caso II Prisão de Guantánamo Campo de Detenção da Baía de Guantánamo (CUBA) Histórico • 1903 - os Estados Unidos assinam com Cuba um contrato de arrendamento perpétuo de 116 km² de terra e água na baía de Guantánamo (ilha de Cuba). O propósito seria a mineração e operações navais. • 1942 - por ocasião do ataque japonês à base de Pearl Harbor, o presidente estadunidense Franklin D. Roosevelt assina um decreto que autoriza a prisão de estadunidenses de origem japonesa. • 2002 - o primeiro grupo de 20 combatentes capturados no Afeganistão é levado ao Campo X-Ray em Guantánamo. O presidente Bush os descreve como terroristas, eles não podem ser protegidos pela Convenção de Genebra. Após 2002: • Janeiro - prisioneiros afegãos e iraquianos, ligados a grupos terroristas ou suspeitos • 770 prisioneiros O Conflito • Denúncia feita pela Cruz Vermelha à ONU em 2004 • Os EUA não concedem a elas os direitos estabelecidos pela Convenção de Genebra, sob o argumento de que não seriam prisioneiros de guerra e, sim, combatentes inimigos, uma definição que não existe no mundo jurídico. • Além disso, eles também alegam: – Transporte violento – Alimentação forçada – Abuso sexual – Torturas diversas A investigação e relatório • 18 meses de investigação pela ONU • Investigações com parentes, vítimas, advogados e funcionários • Na época, o acesso para entrevistas privativas com os prisioneiros só era permitida à Cruz Vermelha • Segundo um dos 3 autores do relatório(2006), Manfred Nowak, a detenção por anos sem abertura de processo significa detenção arbitrária, e sendo assim os prisioneiros deveriam, depois de processados, ser levados a julgamento em um tribunal competente. • Muitos protestos Resolução parcial - 2006 • EUA alegaram que a ONU não verificou os fatos, analisando apenas algumas poucas alegações. • Em 2006, a Suprema Corte dos Estados Unidos da América considerou que o chamado "Artigo Comum n° 3" da Convenção de Genebra é aplicável, sim, aos detidos em Guantánamo. Essa provisão exige o tratamento humanitário a todos os prisioneiros, e proíbe seu julgamento por tribunais de execução. • Julgamentos foram suspensos por 120 dias para passar por uma revisão. • Dos 773 presos, 680 ainda continuam na base de Guantánamo Resolução definitiva - 2009 • Obama está disposto a seguir a Convenção de Genebra para presos de guerra. • Desde janeiro de 2009, Obama decretou o fechamento do centro de detenção de Guantánamo. • A ONU celebrou o fato de Obama estar disposto a dar atenção ao fato. Atualmente • • • • • Aproximadamente 200 detentos Ficam mais “livres” e confortáveis Ainda não podem dar entrevistas São mantidos no Campo Delta Obstáculos do Congresso EUA para transferência dos detentos para Illinois Caso III Flotilha de Gaza Antes do Incidente • Gaza sofre um bloqueio desde 2007 que é realizado por Israel e pelo Egito. • Partiu do Chipre seis navios com 10 mil toneladas de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. A ação, chamada de “Flotilha da Liberdade”, foi realizada pelas ONG Free Gaza e Insani Yardim Vakfi. • Um repórter da Al Jazera transmitiu imagens de ativistas mulçumanos cantando os versos: Khaibar, Khaibar, ó judeus! O exército de Maomé retornará. • De acordo com o exército de Israel, eles realizaram um contato para negociar com os ativistas (antes da intervenção). As autoridades israelenses informaram que verificariam a carga e, assim, esta seria entregue a Faixa de Gaza por terra (por autoridades israelenses e ativistas). • Por volta das 4h, a marinha de Israel se aproximou da flotilha por meio de navios, lanchas e helicópteros. O Incidente • Em 31 de maio de 2010, o navio Mavi Marmara foi interceptado (por volta das 4h30) em águas internacionais pela marinha israelense a 65 km da costa. • Resultados: 9 mortos (8 turcos e 1 turco-americano) Dezenas de feridos da embarcação Sete feridos das Forças de Defesa de Israel • Após o incidente, os barcos foram escoltados para Ashdod. • Prisão e confisco de câmeras fotográficas e filmadoras, telefones dos ativistas. • Divulgação de imagens e vídeos por parte de Israel e pelos ativistas • Versões: - Os ativistas atacaram primeiro com objetos, chegando a dominar soldados (Tzahal, Forças de Defesa de Israel). - Os israelenses chegaram atacando de “forma indiscriminada”, atirando “na cabeça dos passageiros” (Iara Lee). Reações Internacionais e Internas • Reações de condenação a Israel de vários países, da Liga Árabe, da ONU, Conselho de Direitos Humanos da ONU e da Autoridade Nacional Palestina. • No Brasil, o MRE condenou as ações, pediu o fim do bloqueio a Gaza e expressou grande preocupação em relação a Iara Lee. • Em Israel, houve manifestações contra e a favor. Manifestações contra a ação israelense - Estocolmo Manifestações a favor – estudantes em Israel ONU • 31/maio e 01/junho – O Secretário Geral condenou a ação violenta e pediu uma investigação para apurar os fatos. O CS pediu uma reunião de emergência. • 07/agosto – ONU monta o painel de investigação. • 09/agosto – Israel ameaça deixar o painel. Conselho de Direitos Humanos • 01 e 02/junho – Conselho decidiu montar uma missão de averiguação. • 23/julho – Componentes da missão são definidos e objetivos. • 10/agosto – Missão é montada e deve fornecer seu primeiro relatório na próxima reunião (setembro). • 23/agosto – Missão faz reuniões em Genebra e decide visitar a região. • 27/agosto – Conclusão da visita à Turquia. Hoje • A segunda Flotilha da Liberdade já está sendo organizada. Os organizadores estimam que haverá de 10 a 15 embarcações para furar o bloqueio à Faixa de Gaza. Jornalista, ativistas e figuras públicas devem estar presentes nessa nova empreitada. • Israel “afrouxou” o bloqueio à Gaza, liberando alguns itens que eram proibidos – como artigos eletrônicos. Há três categorias que ainda serão fortemente controladas pela autoridades israelenses (armas e munição; bens e itens de uso duplo; materiais de construção). “Na década de 70, me diziam que a paz não chegaria à Irlanda do Norte, tal como agora dizem que a paz não é possível entre Israel e Palestina (...), a resistência não violenta poderá trazer a paz a esta região atormentada pela guerra”. Mairead Maguire Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1976, pelas ações realizadas para a pacificação da Irlanda do Norte Considerações Finais - Convergência entre ética e política. - International Shaming - Observância como elemento de soft power. Bibliografia LAFER, Celso. A ONU e os direitos humanos. Estud. av., São Paulo, v. 9, n. 25, Dec. 1995 . BUERGENTHAL , Thomaz. The Evolving International Human Rights System. The American Journal of International Law, Vol. 100, No. 4 (Oct., 2006), pp. 78380 ALVES, José. A ONU e a proteção aos direitos humanos. Rev. Bras. Polít. 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Human Rights Council – http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/ Carta Capital – www.cartacapital.com.br Carta Maior – www.cartamaior.com.br Estado de São Paulo Online – www.estadao.com.br Expresso – http://aeiou.expresso.pt/ Folha Online – www.folhaonline.com.br Veja – www.veja.com.br Vídeos do ataque • http://www.youtube.com/watch?v=dLrX7fznVgI&featur e=fvw • http://www.youtube.com/watch?v=gYjkLUcbJWo&feat ure=player_embedded#