As árvores
Arnaldo Antunes
As árvores são fáceis de achar
aquarela do artista
aborígene Albert Namatjira
Ficam plantadas no chão
Mamam do sol pelas folhas
E pela terra
• Também bebem água
Cantam no vento
E recebem a chuva de
galhos abertos
Há as que dão
frutas
E as que dão
frutos
As de copa larga
E as que habitam esquilos
As árvores ficam
paradas
Uma a uma
enfileiradas
Na alameda
As que chovem
depois da chuva
As cabeludas, as
mais jovens mudas
Crescem pra cima
como as pessoas
Mas nunca se
deitam
O céu aceitam
Crescem como as
pessoas
Mas não são soltas
nos passo
São maiores, mas
Ocupam menos
espaço
Árvore da vida
Árvore querida
Perdão pelo
coração
Que eu desenhei
em você
Com o nome do
meu amor.
O poeta St. John Perse gostava de dizer que todo livro
nasce da morte de uma árvore.
Book, bouquin e Buch derivam de boscus, bosque, e
livro vem de líber, o tecido condutor da seiva das
árvores.
Poetas e prosadores utilizaram, a árvore como fonte
de inspiração. Pinhos e Magnólias eram celebrados por
Francis Ponge, o Baobá no imaginário de Antoine de St.
Exupéry e Roger Caillois, no tronco do Ipê de José de
Alencar ou no Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro
de Vasconcelos. E os versos que Drummond criou
pensando nas Mangueiras de sua infância e nas
Amendoeiras de sua idade adulta.
E não ficou só na literatura. A árvore encontrou campo
fértil na gravura e na pintura a partir do Renascimento.
Durer, Bruegel, Corot, Poussim, Cézanne e muitos
outros
Pulmões da Terra e abrigos seguros, sem as árvores as
paisagens murcham e o ar empobrece. Elas nos dão
além de brisa e vento, flores, frutas, êxtase, lenha e
matéria-prima para uma infinidade de coisas: casas,
móveis, papel, rolhas, embarcações, talheres, armas,
tamancos, instrumentos musicais, etc
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As árvores VIRGINIA MARQUES - I Encontro de Fotografia e