REESTRUTURAÇÃO DO LABORATÓRIO DE ACIONAMENTOS E
CONTROLE INTELIGENTE (LACI) PARA UM MINICURSO DE CLP
Peterson da Silva Cezar – [email protected]
Rafael Folador Rigamonte – [email protected]
Paulo José Mello Menegáz – [email protected]
Programa de Educação Tutorial – PET – http://pet.ele.ufes.br
Departamento de Engenharia Elétrica - Centro Tecnológico
Universidade Federal do Espirito Santo - UFES
Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras
29075-910 - Vitória – Espírito Santo
Resumo: Estudantes de engenharia necessitam vivenciar durante sua formação situações
práticas que farão parte do seu cotidiano profissional. É neste contexto em que se inserem as
atividades de laboratório, propiciando um aprendizado ativo, no qual o aluno aprende
fazendo, e uma oportunidade de aplicar a teoria em um cenário prático e real. Este artigo
relata o trabalho realizado pelos alunos do grupo PET-Elétrica (Programa de Educação
Tutorial da Engenharia Elétrica), os quais realizaram a reestruturação do laboratório de
acionamentos e controle inteligente da UFES e criaram o minicurso de CLP para
proporcionar aos alunos graduandos um ambiente prático com visão industrial. No referido
artigo, são abordados temas relativos à demanda encontrada para a realização do minicurso,
à metodologia utilizada na sua execução e as conclusões obtidas desse processo.
Palavras-chave: CLP, minicurso, conhecimento prático.
1.
INTRODUÇÃO
O CLP (Controlador Lógico Programável) é, segundo a norma IEC 61131-1, um
equipamento eletrônico digital, que utiliza uma memória programável para armazenar
internamente instruções e para executar funções específicas. Dentre essas funções é possível
citar: lógica, sequenciamento, temporização, contagem e operações aritméticas. O CLP ainda
controla, por meio de módulos de entradas e saídas, vários tipos de máquinas e processos
(FRANCHI e CAMARGO, 2008).
Este dispositivo foi criado pela empresa General Motors, em 1968, em razão das
dificuldades de se atualizar sistemas baseados em relés. A cada troca na linha de montagem, a
empresa necessitava modificar grande parte da fiação, relés e temporizadores, ou seja,
basicamente toda sua lógica de controle, o que era de grande complexidade e acarretava baixa
produtividade. Assim foi criado o CLP, um equipamento robusto quando comparado ao
computador e com lógica de programação semelhante à lógica a relé, à qual os trabalhadores
da fábrica já eram habituados. (KOPELVSKI, 2010).
Sabendo que os responsáveis pelos projetos de automação industrial são os
engenheiros habilitados nessa área, é crucial que estes saibam programar e configurar tais
dispositivos. Para isso, esses profissionais devem desenvolver suas habilidades na área a partir
do ensino oferecido pelas universidades.
O trabalho de Queiroz et al. (2013) constatou que o curso de graduação em Engenharia
Elétrica na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) carece de disciplinas práticas que
se assemelhem ao ambiente industrial. O trabalho desses autores mostrou que 70% dos alunos
egressos estavam parcialmente satisfeitos com o curso. Desses, quase a metade apontou a
necessidade de um ensino voltado para o mercado de trabalho. Uma forma de tentar suprir
essa necessidade foi através da reestruturação do Laboratório de Acionamentos e Controle
Inteligente (LACI) da própria universidade, visto que o mesmo era pouco utilizado pelos
alunos do curso de Engenharia Elétrica.
A partir dessa necessidade, surgiu o interesse em aumentar a utilização do laboratório.
Dessa maneira, como forma de auxiliar na formação acadêmica dos graduandos, foi elaborado
o minicurso de CLP, ministrado pelo Programa de Educação Tutorial da Engenharia Elétrica
(PET-Elétrica), com a finalidade de apresentar o controlador aos alunos, simular situações
práticas, introduzi-los à programação Ladder e oferecer uma formação complementar aos
discentes.
O objetivo do presente trabalho é apresentar como este minicurso foi desenvolvido,
assim como a avaliação dos alunos e as perspectivas de melhoria do mesmo.
2.
METODOLOGIA E DISCUSSÃO
O minicurso de CLP foi iniciado com a apresentação aos alunos de um breve histórico
do surgimento do CLP e as principais características, vantagens e facilidades que esse
dispositivo proporciona às aplicações industriais. Em seguida foi comentado sobre a norma
IEC 61131 e as suas oito seções que estabelecem padrões para os controladores e seus
periféricos.
Na abordagem do hardware, foi apresentada a estrutura interna básica, constituída de
fonte de alimentação, unidade central de processamento (contendo o processador e as
memórias do usuário e do sistema), módulo de comunicação com dispositivos externos e os
módulos de entrada e saída. Dessa forma, se todas as funções supracitadas estão integradas
em um único módulo, o CLP é dito compacto. Caso haja um módulo separado para cada
função, o CLP é dito modular. Na figura 1 é apresentada a estrutura básica do CLP.
Figura 1 - Estrutura básica do CLP.
Em seguida foi discutido sobre os tipos de módulos de entrada digital, que são: fonte
(sourcing) e dreno (sinking). Esta característica é importante para que o aluno saiba
dimensionar e ligar os dispositivos (sensores, chaves, botoeiras, dentre outros) às entradas do
CLP. A figura 2 mostra o esquema de ligação para entradas tipo fonte e dreno (WEG, s.d.a).
Figura 2 – Entradas digitais. A: Entrada digital tipo fonte. B: Entrada digital tipo dreno.
Da mesma forma, é importante saber o tipo do módulo de saída digital, pois este define
quais dispositivos poderão ser ligados à saída do CLP. Os tipos de módulos de saída são: a
transistor, a relé e a TRIAC. A figura 3 ilustra esses tipos de saída (FRANCHI e CAMARGO,
2008).
Figura 3: Tipos de módulos de saída. A: Saída a relé. B: Saída a transistor. C: Saída a
TRIAC.
O CLP utilizado no minicurso não possui entradas ou saídas analógicas. Apesar disso,
foram explicadas aos alunos as principais características que devem ser conhecidas a fim de
se trabalhar com esse recurso, além de possibilitar aos alunos uma visão mais prática e mais
próxima do que é utilizado nas indústrias.
Posteriormente foi apresentado o CLP que foi utilizado no curso, o TP02-20MR da
WEG, bem como a bancada didática, seus componentes e todos os procedimentos para
segurança dos alunos e dos equipamentos do laboratório. A figura 4 mostra a bancada
didática.
Figura 4 – Bancada didática da WEG.
A figura 5 mostra o CLP incorporado na bancada e, a seguir, são listadas suas
principais características (WEG, s.d.b):
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
12 pontos de entrada digitais em corrente contínua.
8 pontos de saída digitais a relé.
Memória de Programação de 1500 linhas (1,5k words).
Velocidade de processamento de instrução 1,38-1,63 μs.
Não expansível.
Porta serial para conexão de programador manual PU12, ou computador com
programa de edição PC12, ou a “interface” homem-máquina.
Figura 5 – CLP TP02-20MR da WEG.
Em seguida foi ensinado o princípio de funcionamento do CLP, conhecido como ciclo
de scan. Após a teoria geral sobre hardware, foi iniciada a introdução ao software, sendo este
o foco principal do curso, a programação em linguagem Ladder. Também foi feito um
comentário sobre todas as linguagens de programação existentes, definidas pela norma IEC
61131-3, que são: Diagrama de blocos, Ladder, Grafcet, Lista de instruções e Texto
estruturado.
O software de programação do TP02, o PC12 da WEG também foi apresentado. Logo
após iniciou-se o ensino das instruções de entrada e saída na linguagem Ladder, utilizando
exemplos triviais, como acender uma lâmpada enquanto um botão for pressionado. Dessa
maneira, os alunos puderam se familiarizar com a linguagem de programação.
Outro exemplo utilizado foi o de controle de nível em um tanque. Basicamente, uma
bomba era acionada sempre que duas válvulas de saída de líquido estivessem ligadas
simultaneamente ou quando o nível estivesse abaixo do especificado (indicado pelo sensor
S1). A figura 6 ilustra o sistema e a figura 7 mostra o Ladder desenvolvido para automatizar
tal sistema.
Figura 6 – Sistema de Bombeamento de água.
Figura 7 – Programa em Ladder.
Foram propostos aos alunos alguns exercícios com grau de dificuldade crescente para
que os mesmos exercitassem a utilização das instruções de entrada e saída.
Em seguida, foram apresentadas algumas instruções de controle de fluxo de programa.
Seguiu-se com as instruções de temporização, apresentando-se os temporizadores com retardo
ao ligar (TON), com retardo ao desligar (TOF) e os temporizadores de pulso. Foram
propostos aos alunos quatro exercícios: “pisca-pisca”, no qual uma lâmpada deveria piscar a
cada 3 segundos; “semáforo”, em que era feito a automação de um único semáforo; “partida
sequencial”, que consistia em automatizar a partida e parada sequencial de quatro motores; e
“processo de mistura”, cujo objetivo era automatizar um processo de mistura de duas
substâncias dadas as devidas proporções, medidas por uma balança.
Também foram ensinadas as instruções de contagem, abordando os contadores
crescentes e decrescentes e depois foram propostos alguns exercícios.
Finalmente, foram abordadas as instruções matemáticas e de comparação, necessárias
quando se utiliza variáveis analógicas no processo. Porém, o CLP utilizado no curso não
possui cartão de entradas e saídas analógicas, limitando a abordagem dessas instruções.
Os exercícios propostos foram montados e testados utilizando as chaves da bancada
como entradas e as lâmpadas como saídas. Batista et al. (2012) desenvolveu um ambiente
virtual para simulação de processos utilizando um microcontrolador como interface entre o
CLP e o computador. Essa é uma meta futura para aprimorar o minicurso, todavia, será
utilizado um software de elaboração de sistemas supervisórios, visando fornecer aos alunos a
oportunidade de conhecer mais uma ferramenta de cunho industrial.
3.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O minicurso de CLP foi uma estratégia encontrada para tentar suprir a demanda de
disciplinas com cunho prático, com perspectiva industrial, na grade curricular da graduação
em Engenharia Elétrica da UFES. Iniciadas as atividades no primeiro semestre de 2014, foi
percebida grande aceitação pelo mesmo, o que ratificou a necessidade já exposta.
Diante do quadro favorável, vislumbrou-se a continuação do curso, por período mínimo
de um ano, no qual as turmas serão acompanhadas por meio de questionários, com a
finalidade avaliativa, para melhoria, tanto no minicurso, quanto na graduação e crescimento
individual dos participantes.
Espera-se que o projeto realizado possa, no futuro, contribuir para a melhora do cenário
atual do curso de Engenharia Elétrica da UFES e de possíveis outras universidades que
apresentam semelhante quadro.
4.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros:
FRANCHI, C.M.; CAMARGO, V.L.A. de. Controladores Lógicos Programáveis, Sistemas
Discretos. Editora Érica Ltda. São Paulo. 2008.
WEG - Equipamentos Elétricos. Automação de processos industriais. Módulo 3. s.d.a
_____. Manual de instalação e Programação. Controlador Programável TP02. s.d.b
Trabalhos em eventos
BATISTA, C.E.R., CARMO, M.J., OLIVEIRA, A.R., JUNIOR, L.O.A., Software
educacional de emulação de plantas de processos industriais discretos controladas por clp via
microcontrolador. XL Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia. 2012.
QUEIROZ, M.D., ALENCAR, E.S., LOUBACK, F.O., FERREIRA, A., MATTEDI, A.
Avaliação discente do curso de Engenharia Elétrica da UFES. XLI Congresso Brasileiro de
Educação em Engenharia. 2013.
Internet:
KOPELVSKI, M.M. Teoria de CLP. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.
São Paulo. 2010. Disponível em: <http://www.cefetsp.br/edu/maycon/arqs/ap_clp_rev00.pdf>
Acesso em: 15 jun. 2014.
RESTRUCTURING OF LABORATORY AND DRIVES INTELLIGENT
CONTROL (LACI) FOR A SHORT DURATION COURSE IN PLC
Abstract: During the engineering course, students need to experience practical situations that
will be part of their professional lives. In this context, laboratory activities are inserted as a
good alternative to provide such experiences and help students to learn how theory a
practices match in the real-world scenario. This article describes the work done by students
of the group PET-Elétrica (Tutorial Education Program of Electrical Engineering), which
have restructured the LACI (Drives and Intelligent Control Laboratory) laboratory at UFES
and created a short duration PLC course to provide undergraduate students with a practical
view of the industrial environment. This work covers the students demand for such a course,
the methodology applied and the conclusions drawn during the course execution.
Key-words: PLC, short duration course, practical knowledge.
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