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A água doce era definida nos livros didáticos brasileiros dos anos 1960 como um líquido
incolor, inodoro, solvente universal, que descia as montanhas, corria em caudalosos rios,
passava por estações de tratamentos, seguia por tubulações e chegava às torneiras das casas
e das fábricas. No atual século XXI essa visão idílica mudou bastante. Falamos em
sustentabilidade, em deixar um mundo em condições de atender as necessidades das
gerações futuras no que tange aos recursos naturais - a água doce, o ar, a terra, e o clima. São
essas discussões que se fazem presente no grupo de estudos TEMA – Tecnologia e Meio
Ambiente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal
do Paraná. Enquanto grupo de alunos e professores, visamos encontrar meios para implantar
programas e ações, sejam eles em escolas, em comunidades ou em instituições, que venham
a contribuir para ampliar as ações no sentido de combater procedimentos destrutivos que
colaboram com a poluição dos rios, do ar, e do solo. Elegemos o tema da água doce e seus
diversos usos para elaborarmos esse artigo. Levantamos algumas questões para abrir a
discussão, tais como: É possível pensarmos em comportamentos sustentáveis quando usamos
a água doce para higiene pessoal, para a alimentação, para a indústria? Como podemos
economizar e usar a água doce mantendo os mananciais despoluídos, o solo íntegro, a
diversidade climática, e garantindo água doce limpa por gerações?
3DODYUDVFKDYH: Água doce; Sustentabilidade; Educação Ambiental; Gerações presentes e
futuras.
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Universidade Tecnológica Federal do Paraná. [email protected]
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]
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A visão por parte da humanidade quanto à interdependência entre tudo que existe fazse cada vez mais necessária, pois nas diferentes regiões do planeta encontram-se
ecossistemas com características próprias que dependem, para viver, da biodiversidade, do
relevo, do clima, da vegetação, das florestas, dos rios, lagos e aqüíferos, mares e geleiras. A
interdependência entre os ecossistemas e têm sofrido muitas interferências humanas as quais
estão provocando desequilíbrios nos ciclos vitais.
Precisamos reforçar temas de estudo como a interligação entre a sociedade-natureza,
a capacidade de suporte do planeta, o desenvolvimento socioeconômico associado à proteção
dos ecossistemas naturais, de forma especial, dos recursos hídricos para ampliarmos nossa
visão de vida coletiva no Planeta. Na natureza, a água doce, antes de ser considerada como
um bem econômico e finito, representa um elemento essencial à vida humana e fonte de vida
na Terra. O Relatório Brundtland "Nosso Futuro Comum" (1987), a Conferência Internacional
sobre a água e o meio ambiente (Dublin, 1992), o relatório Cuidando da Terra de 1991, e a
Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente
(1992), propuseram alterações no modo de percebermos a água e os ecossistemas.
A proteção e a melhora do meio ambiente, em especial da água doce, dependem dos
padrões de consumo e de produção das populações. Reduzir o esgotamento dos recursos
finitos, reduzir a poluição ambiental significa modificar os padrões insustentáveis de uso e
otimizar os desperdícios.
A Terra é uma só, mas o mundo não. Todos dependemos de uma biosfera para
sustentar nossas vidas. No entanto, cada comunidade, cada país luta pela sua
sobrevivência e prosperidade, dando pouca atenção ao impacto que tem sobre os
outros (RELATÓRIO1987, p.27)
A Organização das Nações Unidas (ONU), desde 1992, vem enfocando a problemática da
água relacionada à qualidade de vida na Terra. O Dia Mundial da Água, o dia 22 de março de cada
ano simboliza o direito humano à água, elemento indispensável para uma vida saudável e digna.
No ano de 2003, este dia teve como tema "Água para o futuro" objetivando uma maior
conscientização quanto à importância da água doce para a sustentabilidade das necessidades
humanas, preservação dos ecossistemas e desenvolvimento socioeconômico.
Além disso, no mesmo ano a ONU elaborou o documento "Declaração Universal dos
Direitos da Água"3,contendo 10 artigos, enfatizando a água como patrimônio do planeta e
condição essencial à vida na Terra. Também por iniciativa da ONU, a década de 2005-2015 foi
adotada como a Década Mundial da Água. No Brasil, para esse mesmo período, foi decretada
a Década Brasileira da Água. A água potável e o saneamento básico são indispensáveis para
3
Declaração Universal dos Direitos da Água.
3
manter a qualidade da vida humana, e as políticas públicas e programas ambientais são ações
de grande alcance que propiciam a conquista dessas condições.
Em 2005 foi discutido o Plano Nacional de Águas onde concluíram que apesar do Brasil
possuir 13,7% de água potável do planeta boa parte está degradada ou desprotegida. Este é o
momento de tornar seu uso racional propondo metas para elaboração do plano visando o uso
sustentável da água, a exemplo da captação e aproveitamento de água da chuva.
Alguns registros em jornais curitibanos, como a Gazeta do Povo, o Estado do Paraná
e o Diário Popular do ano de 2003, revelaram preocupação quanto à situação da água para o
futuro, abordando questões como a poluição, a devastação ambiental, o abastecimento
público, entre outros, por ocasião das datas comemorativas do dia da água, do rio e do meio
ambiente, embora não tenham mencionado os pressupostos da ONU para o ano internacional
da água doce.
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Nosso estudo consistiu sobretudo em pesquisas bibliográficas, em experiências com a
sociedade, e em discussões sobre as práticas cotidianas do uso da água nas atividades
profissionais dos participantes do grupo. Procuramos focar a questão da água doce no
segmento da indústria, no aspecto jurídico da questão, e no tratamento geral da água, e da
alimentação. Nosso objetivo foi mostrar que é bastante complexo pensar em sustentabilidade
para a água doce, no sentido de garantir a qualidade e a quantidade para as populações de
hoje e de amanhã do Planeta, uma vez que o desperdício e a escassez ainda são os
termômetros que regulam as formas de uso dela.
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A educação ambiental é uma forma de colaborar para a mudança de atitudes no
sentido de minimizar os impactos negativos e potencializar os positivos causados a partir da
disseminação e incorporação de princípios estabelecidos em nível global, nos documentos da
Organização das Nações Unidas (ONU), em nível nacional pela Lei de Recursos Hídricos, e em
nível local, na gestão compartilhada dos recursos hídricos em Curitiba.
Neste contexto, o Grupo de Estudos e Pesquisas TEMA -Tecnologia e Meio Ambiente
- da Universidade Tecnológica Federal do Paraná iniciou uma proposta de educação ambiental
no bairro Jardim Social, como uma forma de promover o diálogo entre uma instituição de
ensino e a Comunidade. Ainda nos encontramos na fase de levantamento junto aos
moradores. A elaboração conjunta de um plano de ação local será feito a partir do
levantamento e diagnóstico dos dados coletados em entrevistas com moradores, a fim de
sugerir ações para a redução dos problemas evidenciados e o desenvolvimento das
potencialidades locais.
4
Para termos acesso às pessoas, inicialmente contatamos os líderes dos moradores e a
diretoria que coordena as atividades dos escoteiros no Bosque Municipal Portugal, com sede
localizada às margens do córrego Tarumã, em uma das extremidades da área do bairro. Os
dirigentes do Grupo de Escoteiros São Judas Tadeu manifestaram interesse em participar
ativamente da proposta de ação local, mostrando-se aberto para parcerias. Eles já desenvolvem
um trabalho de mobilização com a comunidade do bairro para a despoluição do Córrego Tarumã,
integrante da Bacia do Atuba que corre no Bosque e no bairro do Jardim Social.
Somos idealistas, e esse idealismo inspira a nossa bbbvisão: a visão de um futuro
melhor, quando todos tenham acesso à água pura. Ajudem-nos a tornar isso uma
4
realidade (...)
As primeiras atividades ocorreram no sábado dia 16 de setembro de 2006, quando os
participantes do grupo TEMA e os escoteiros realizaram uma atividade interdisciplinar que reuniu
as áreas de arte, meio ambiente e educação. Dada essa arrancada, pretendemos desenvolver
outras atividades, como oficinas, palestras, entrevistas, para discutir com a comunidade as
dimensões e os aspectos do uso da água doce no Planeta expostos no texto a seguir.
A primeira ação de sensibilização para ações ambientais centrou-se na questão das
riquezas naturais que encontram-se próximas ao córrego Tarumã. Os escoteiros já fizeram
trabalhos sobre o lixo que corre nas águas do córrego.
A gestão sustentável da água depende da proteção ambiental e da solidariedade
humana transformada em ações de defesa, conservação, recuperação e uso racional da água
doce. Além disso, é fundamental a mobilização e participação da população na definição da
política de manejo integrado da água.
Existem, também na região metropolitana de Curitiba pessoas preocupadas com a
limpeza dos rios. No Paraná, iniciado em 1991, em Piraquara, e legalmente decretado em
1995, foi instituído o dia 24 de novembro de cada ano como o Dia do Rio. Essa decisão foi fruto
de um movimento de mobilização das comunidades dos municípios paranaenses para
combater a poluição e incentivar a conservação e recuperação dos rios.
A equidade ao acesso à água doce está em função direta da forma de uso dela. Por
isso, é preciso cultivar ações como a redução do desperdício, gerado por vazamentos nos
sistemas de captação e distribuição; a recuperação da mata ciliar com plantio de árvores; e a
redução da poluição causada principalmente por lançamento incorreto de esgotos e lixiviação
de agrotóxicos.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (PLANETAORGANICO, 2006),
atualmente o ser humano utiliza 54% da água doce acessível dos rios, lagos e aqüíferos,
existindo uma estimativa de que em 2025 esta demanda possa chegar a 90%, restando apenas
4
Apelo dos jovens participantes do 2º Fórum Mundial da água , realizado em Haia em 2000, que defendia o
acesso de qualquer pessoa a água segura e suficiente, a um custo compatível com manutenção de uma
vida produtiva e saudável.
5
10% para as outras espécies, considerando ainda, a previsão de aumento populacional de 6
para 8 bilhões de pessoas e o ritmo atual de utilização da mesma.
O relatório também destaca que metade dos rios do mundo está totalmente poluída
provocando assoreamento e redução do seu volume, e a sua exploração excessiva intensifica
as secas. Assim, cada vez mais questões relacionadas à necessidade de proteção e
recuperação dos ecossistemas naturais e à sustentabilidade socioambiental dos ambientes
urbanos requerem a participação das comunidades locais no planejamento e gestão dos
recursos hídricos. Equilibrar a demanda e o consumo de água é fundamental para mantermos
as condições biológicas de vida na Terra.
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4.1
ÁGUA DOCE PARA A INDÚSTRIA DO PAPEL
Para se fazer uma folha de papel reciclado artesanalmente é necessário o uso da
água. Em um tanque de 1.000 litros, ou seja, 1m³ de água consegue-se fazer 250 folhas de
papel reciclado, cada com dimensional de 65 cm x 45 cm. A água é utilizada em 2 processos
da fabricação: ao triturar o papel no liquidificador para conseguir a polpa, posteriormente a
polpa vai para o tanque com água, para ser retirado o papel.
No caso do papel artesanal com fibras naturais, as quais de fibra de bananeira e canade-açúcar, o consumo de água é ainda maior, pois é necessário o uso da água para lavar as
fibras depois de feito a polpa, para retirar produtos químicos que ajudam na separação da fibra.
Com a polpa no tanque de 1.000 litros de água retira-se 250 folhas com 65cmx45cm, é
necessário escorrer a água do papel que esta no quadro com uma esponja, esta água retirada
do papel pode ser utilizada no tanque, depois levar o quadro com o papel ao sol para secar e
puxar a folhas posteriormente. No total de consumo de água para o papel com fibra além de
1.000 litros de água do tanque 3 litros para ser lavada a fibra.
Para o consumo de água na fabricação do papel reciclado industrial, é analisado o
processo da fabrica Trombini em Curitiba, localizada as margens do Rio Barigui. Os dados
citados abaixo são apresentados em uma reportagem no Jornal Gazeta do Povo, edição do dia
16 de julho de 2006 pela jornalista Aniele Nascimento.
4.2
ÁGUA DOCE PARA A ALIMENTAÇÃO
As relações que envolvem o uso da água na alimentação humana são diversas: a
agricultura, a industrialização de alimentos e a elaboração da alimentação diária das pessoas
são as mais evidenciadas. "O consumo de água na agricultura chega a 70%. Em seguida estão
os usos industriais com 20% e, por fim, os usos domésticos que não ultrapassam 8%.
Somando-se este aspecto ao desperdício de água, à poluição dos mananciais e ao
crescimento desordenado dos grandes centros urbanos temos a equação que resulta nas
6
atuais crises de abastecimento" (CAUBET, 2000). Na alimentação doméstica, apesar de
apresentar um menor índice de consumo, comparado com as outras atividades que envolvem
os alimentos, também requer um repensar das práticas envolvidas. As relações dos homens
com a água nos processos de preparo dos alimentos diferem consideravelmente das mulheres.
Estas por serem maioria na execução das tarefas domésticas e, evidentemente maiores
envolvidas na elaboração dos alimentos, se relacionam muito mais com a água e usufruem
mais de seus benefícios, que vão desde a lavagem dos alimentos e louças, até o preparo dos
alimentos e posteriormente a limpeza dos utensílios usados na alimentação. Os hábitos
praticados nessas atividades, quase sempre envolvem um grande consumo de água e pouca
preocupação com o desperdício. O simples ato de lavar uma fruta ou verdura, demanda numa
quantidade considerável de vários litros de água, num jato quase incontrolável da torneira.
4.3
QUESTÕES JURÍDICAS PARA A ÁGUA DOCE
Algumas iniciativas legais vêm sendo tomada no sentido de orientar as políticas
nacionais da água doce. Existem incentivos para se estudar e pesquisar tecnologias nacionais
para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais. Citamos, por exemplo, a lei 6.938,
de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, tendo por
objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, e a Lei 9.795,
27.04.99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, definindo em seus artigos 1º,
2º e 3º o que é, a quem se aplica e o que deve ser feito, respectivamente:
Art. 1º - Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constróem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.
Art. 2º - A educação ambiental é um componente essencial e permanente da
educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os
níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
Art. 3º - Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação
ambiental, incumbindo:
I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal,
definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover
a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da
sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;
Essas leis parecem ser desconhecidas para muitas autoridades, sobretudo porque
constatamos muitas agressões à Mata Atlântica Brasileira, à floresta Amazônica apresentadas
pela Rede Globo de Televisão no Jornal Nacional no período de 30/01 a 04/02/06.
7
Especificamente na data de 31/01/06, uma reportagem mostrou para que finalidade é
utilizada a madeira extraída da Amazônia, símbolo da dilapidação e da falta de respeito dos
profissionais brasileiros para com o meio ambiente. Segundo a reportagem "é um crime
cometido por brasileiros para brasileiros", pois 2/3 das árvores derrubadas fica no Brasil
mesmo. São Paulo consome 1 milhão de árvores por ano que é destinada para fazer andaimes
e forros de concreto na construção civil que na maior parte das vezes é usada apenas uma vez
e depois vira entulho. Esse desperdício seria facilmente evitado se as madeiras fossem
reutilizadas ou se para o mesmo fim fosse usado outro tipos de materiais, pois existe materiais
alternativos ao uso da madeira. Sabe-se que hoje para cada prédio de 15 andares com 4
apartamentos por andar erguido em São Paulo são necessários cortar 90 árvores na floresta.
A falta de preocupação que os profissionais têm em relação ao meio ambiente está em
relação direta com os cálculos econômicos e de viabilidade técnica, e não com a viabilidade
ambiental ou de sobrevivência das espécies e das gerações futuras. Consideramos que
mesmo dentro da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR – ainda precisamos
de mais horas para discutir ações de sensibilização ambiental, junto aos profissionais de
diferentes formações para buscar materiais alternativos para aplicar nos diversos ramos de
atividades visando não depredar o meio ambiente. O grupo TEMA, composto de profissionais
das mais diversas áreas de conhecimento, vem ao longo dos anos discutindo assuntos
pertinentes ao meio ambiente visando apontar soluções viáveis para um mundo mais
sustentável, no qual possamos conviver com a natureza, a ciência, e a tecnologia.
4.4
TRATAMENTO GERAL DA ÁGUA DOCE
Uma outra área de estudo importante para aumentarmos nossa sensibilidade sobre as
ações de sustentabilidade para a água doce é conhecermos um pouco do histórico das
políticas governamentais estaduais para o saneamento e o abastecimento de água para a
cidade de Curitiba.
A preocupação com a manutenção dos sistemas hídricos em Curitiba é bastante
antiga. Segundo a coletânea de legislação sobre os serviços de água e esgoto de Curitiba,
publicada pelo Departamento de Água e Esgotos – DAE, em 1936, a Lei nº 2.487 de 06 de abril
de 1927 dispunha sobre a desapropriação de imóveis situados em bacias de mananciais
destinados ao abastecimento público, proteção às nascentes contra contaminação ribeirinha e,
determinava a faixa de proteção com largura entre 15 e 40 m.
Em 1965 o Código Florestal, Lei 4.771, vem a retificar a largura da faixa de
preservação, considerando que a faixa passa a ser determinada pela largura do próprio corpo
hídrico. Cinco anos mais tarde, o Governo do Estado do Paraná, embalado pelo otimismo do
Plano Nacional de Saneamento – PLANASA, chegou a declarar que as ações realizadas pelo
DAE proporcionaram melhorias gerais no sistema de abastecimento de água. Tais melhorias
seriam suficientes para que a cidade de Curitiba tivesse água em abundância para o futuro.
8
As ações restringiram-se basicamente à construção de barragens, pois, já naquela
época os mananciais de abastecimento apresentavam déficit no volume de água doce, dando
claro entendimento de que a difícil extração de água na região não suportaria um crescimento
populacional acelerado que demandaria mais água.
O histórico problema de deficiência no abastecimento de água em Curitiba, e região
metropolitana é decorrente da posição geográfica desfavorável que a cidade está localizada.
Curitiba foi fundada em uma região de elevada altitude, em relação ao nível do mar, situada
próxima as nascentes dos rios, local onde não há grande volume de água para captação.
Aliado ao problema de baixa vazão de água disponível, a cidade e sua região sofreram grande
expansão demográfica nas últimas décadas do século XX e, a oferta de água não foi um fator
importante a ser considerado no planejamento urbano da cidade nem foi um ponto limitante
para um crescimento desordenado da Região Metropolitana de Curitiba - RMC. Vale ressaltar
que essas características não são exclusividade de Curitiba, pois situações iguais ou piores
são extensivas a várias outras capitais brasileiras.
Nos últimos anos, entre 2000 e em 2006, ocorreram dois períodos de prolongada
estiagem que provocaram o racionamento da água para abastecimento público para a
população de Curitiba e Região Metropolitana. Desde 1997 estava prevista a cobrança pela
captação da água na lei Federal 9.433/97 que dispõe sobre a Política Nacional de Recursos
Hídricos. A cobrança pelo uso de recursos hídricos nas bacias hidrográficas do Paraná pode
ser uma maneira de estimular o uso racional da água, e pode financiar obras de combate a
seca, como a construção de barragens para reservação de água in natura garantindo o
abastecimento em período críticos.
Além da cobrança, é preciso considerar que para aumentar a oferta de água, é preciso
que sejam trabalhadas, junto à população, e às autoridades municipais, estaduais e nacionais,
as questões que envolvem uso e ocupação do solo, preservação das nascentes, plantio e
manutenção da mata ciliar, controle das intervenções humanas, planejamento urbano,
zoneamento industrial, programas de despoluição de bacias hidrográficas e zoneamento
ecológico econômico. Todos essas ações, realizadas interdependentemente, colaboram para
melhorar a oferta da quantidade e a qualidade dos recursos hídricos, aumentando os
potenciais hídricos.
A administração integrada das bacias hidrográficas, considerando seus diferentes
tipos e prioridades de usos é o principal caminho a trilhar em busca da melhor gestão dos
recursos hídricos. Segundo o professor Otávio Fortes, a Região Metropolitana de Curitiba RMC sofrerá problemas com a escassez de água a partir do ano 2020. Atualmente menos de
1% da água doce disponível no planeta serve para consumo humano. O desafio é reduzir o
consumo de água/habitante/dia de 150 litros para 120 litros. De acordo com as informações
divulgadas no site www.uniagua.org.br, o mundo enfrentará dezenas de guerras nos próximos
20 anos por causa da escassez de água.
9
Mesmo diante de informações alarmantes, as populações urbana e rural, de modo
geral, não se dispõem a economizar água, a usar os recursos naturais de forma racional ou a
pensar no planeta como um sistema fechado onde todas as atividades de impacto adverso
refletem no globo como um todo. Se analisarmos as condições de vida dos terráqueos para
daqui poucos anos, observamos que cada vez mais será necessário se pensar de modo
sistêmico, não visando benefícios econômicos individuais, mas benefícios que garantam a
qualidade de vida também para os descendentes.
Apesar da aparente abundância da água doce no país, é preciso destacar que a água
está distribuída de forma irregular sendo mais abundante nas regiões norte e centro-oeste,
mais poluída na região sudeste e mais escassa na região nordeste.
No que diz respeito ao uso de água de aqüíferos, os estudiosos dizem que esta água
é de excelente qualidade e de simples tratamento, portanto, excetuando-se o custo de
perfuração de poços é uma água de baixo custo. No entanto, a exploração precoce destes
reservatórios de água subterrânea levam a um certo comodismo e nossa geração não se
preocupa em preservar e tratar a água dos mananciais de superfície. Assim além de maltratar o
meio ambiente, nós exploramos o que deveria servir para aqueles que virão depois. O conforto
do nosso padrão de vida está gerando degradação e escassez dos recursos hídricos entre
outros recursos naturais, comprometendo não o conforto mas, a nossa sobrevivência e das
gerações futuras.
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$iJXDSRGHDJLUVREUHRSHL[H
0DVRSHL[HQmRSRGHDJLUVHPDiJXD
(Lao Tse, UNESCO, 2001)
Água para o futuro e o futuro da água: uma mesma questão? $SULRUL, consideramos
que esta indagação pode nos indicar a necessidade de reconhecermos a interdependência
entre os diferentes aspectos das questões ambientais: ecológicos, econômicos, sociais,
culturais, tecnológicos, políticos e éticos, independente da situação geográfica e do estágio de
desenvolvimento dos países, visto que a água constituí uma condição essencial de existência
da vida na Terra. Alia-se também a possibilidade de (in)sustentabilidade do desenvolvimento
vivenciado atualmente, que tem influenciado a falta de equidade social no acesso à água.
Assim, ao longo destas últimas décadas, documentos e legislações ambientais vêm sendo
elaborados como instrumentos de redirecionamento das atividades humanas e suas
conseqüências. Instrumentos esses que objetivam construir modos de vida e estilos de
desenvolvimento mais equilibrados e eqüitativos, requerendo uma maior compreensão pelos
diferentes segmentos sociais no que se refere ao que deveríamos estar fazendo e não
10
estamos, bem como ao que não deveríamos estar fazendo e continuamos fazendo, colocando
em risco a continuidade da vida na Terra.
Uma outra reflexão relaciona-se com o sentido da palavra "futuro" nos aspectos
abordados, que aqui não está relacionado a um período de tempo em anos, séculos ou outro,
mas como forma de provocar um estranhamento quanto a dois pontos de vista diferenciados. O
primeiro: "água para o futuro", remete a uma concepção utilitarista, na qual, deve-se cuidar
para não faltar; enquanto o segundo: "o futuro da água", pressupõe que a água é um elemento
essencial do planeta e que existe por ela mesma. Entretanto, o que realmente fará a diferença
é o nosso compromisso nas escolhas e ações do dia a dia e o nosso poder de mobilização das
pessoas para a construção do mundo sustentável que desejamos.
Atualmente as campanhas políticas tomam como base de promessas questões como
saúde, educação, emprego, segurança e estabilidade econômica. Dentro em breve veremos
que tais campanhas abordarão fortemente temas ambientais e promessa políticas de que irão
promover o uso racional da água baseados em planejamentos ambientais estratégicos.
Esperamos que isso não se restrinja a promessas políticas, pois, é urgente que se tome
medidas radicais de preservação e racionalização, antes que não haja mais condições de vida.
Certamente a água é o assunto mais estratégico para nossa permanência no planeta.
5()(5Ç1&,$6
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Disponível em: <www.planalto.gov.br/legislação>. Acesso EM: 10 julho 2006.
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11
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POLÍTICA ESTADUAL DOS RECURSOS HÍDRICOS – Lei Estadual – Paraná n° 12.726/99;
Disponível em: <www.pr.gov.br/legislação>. Acesso em: 10 julho 2006.
POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL – Lei Federal n° 9.795/1999. Congresso
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POLÍTICA NACIONAL DOS RECURSOS HÍDRICOS – Lei Federal n° 9.433/1997. Congresso
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RELATÓRIO da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Our Common
Future Oxford University Press, 1987, p.27.
USO E DERIVAÇÃO DE ÁGUAS DE DOMÍNIO DO ESTADO DO PARANÁ – Portaria n° 20/96
SUDERHSA, Disponível em: <www.pr.gov.br/legislação>. Acesso em: 10 julho 2006.
ZONEAMENTO E OCUPAÇÃO DO SOLO – Lei Municipio de Curitiba n° 9.800/00, Disponível em:
<www.curitiba.gov.br/legislação>. Acesso em: 10 julho 2006.
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REFLEX®ES TEÓRICAS SOBRE SUSTENTABILIDADE ÁGUA DOCE