Presidência da República
Secretaria de Imprensa
Discurso do Presidente da República
Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante
cerimônia de assinatura de atos
Chimoré-Bolívia, 22 de agosto de 2009
Excelentíssimo senhor Evo Morales, presidente da Bolívia,
Senhor Davi Choquehuanca, ministro das Relações Exteriores da
Bolívia,
Senhores ministros da comitiva brasileira, Celso Amorim, ministro das
Relações Exteriores e Franklin Martins da Secretaria de Comunicação
Social,
Embaixador Frederico Cézar de Araújo, embaixador do Brasil na Bolívia,
Senhoras e senhores membros do governo Boliviano e membros da
comitiva brasileira,
Senhor Feliciano Mamani, prefeito de Villa Tunari,
Senhoras e senhores de Villa Tunari,
Meus amigos e minhas amigas da Bolívia,
Estudantes,
meus
caros
companheiros,
dirigentes
nacionais
(incompreensível),
Meu querido companheiro Evo Morales,
Eu estou com um problema, porque Lúcio precisa traduzir o meu
discurso. Então vamos traduzir o discurso. Está esperando apenas eu ler para
traduzir.
Primeiro, Evo é uma alegria muito grande estar aqui em Villa Tunari
contigo. Eu, nessa viagem de carro que fizemos até aqui, eu pude ver nas ruas
a cara do povo boliviano e posso te dizer que a alegria e a esperança
estampada no rosto de cada homem, de cada mulher e de cada criança é o
mesmo que acontece no meu país.
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Afinal de contas, no século XX, o povo sul-americano não teve muitas
oportunidades de ter presidentes comprometidos com a maioria do povo. E
graças a Deus, no século XXI, começou a haver um contágio na América
Latina, e todos os países, sem distinção, um povo que a vida inteira lutou e
clamou por mais liberdade, conquistou em vários países o direito de eleger
presidentes que tivesse compromisso com a sua gente e, sobretudo os mais
pobres.
Quando eu olho para você Evo e olho para a fisionomia do povo
boliviano, eu olhava para Mandela e para a cara do povo da África do Sul. Eu
sei que você tem que ser presidente de todos os bolivianos, dos ricos, dos
pobres, dos índios, dos não índios. Mas a verdade é que a Bolívia é hoje o
maior símbolo no mundo de uma maioria que durante séculos foi oprimida e
que consegue eleger um dos seus presidentes da República.
Essa é uma coisa extraordinária Evo, porque tanto aqui na Bolívia, um
índio tem que provar que tem competência para governar, um sindicalista tem
que provar que tem competência para governar como no Brasil. Nós somos
desafiados todos os dias. Todo santo dia nós somos desafiados. Enfrentamos
os preconceitos, enfrentamos as iras dos poderosos que não se conformaram
em perder o poder e eles ficam muito irritados, porque eles sabem que aqui na
Bolívia, um índio, um sindicalista, um cocaleiro e no Brasil, um metalúrgico, um
sindicalista estão fazendo mais do que eles fizeram durante todo o século XX.
Por isso, eu não poderia Evo, deixar de estar aqui. Olhar na cara do teu
povo, olhar na cara dos meninos e das meninas, olhar na tua cara a alegria
estampada a todo o momento e ver a esperança que você representa para
esse povo. E governar com a alma limpa, sem ódio de ninguém, sem ódio dos
opositores, mas dialogando e os derrotando nas urnas como manda a
verdadeira democracia.
Por isso, Evo, eu sei que quando chegar ao Brasil, eu vou
(incompreensível) com minha mulher, porque ela está em São Paulo e ela vai
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dizer, trocaste um sábado comigo para ficar com Evo Morales. E eu vou dizer
eu não troquei um sábado com você para ficar um sábado com Evo. Eu troquei
um sábado com você, para ficar um sábado com milhares de Evos Morales que
estão aqui nesse estádio de futebol (incompreensível).
O que nós estamos fazendo hoje com os acordos assinados é dando
mais um passo extraordinário para a integração latino americana.
Durante muitos séculos, a Bolívia tinha pouca relação com o Brasil e o
Brasil pouca relação com a Bolívia. Todos nós imaginávamos que os ricos da
Europa e também os ricos do norte é que iriam resolver os nossos problemas e
ficávamos uns de costas para os outros: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai,
Bolívia, Peru, Venezuela, Equador, Colômbia. Ou seja, parecíamos um grupo
de amigos que não confiávamos em nós. E todos ficávamos esperando que os
Estados Unidos resolvesse o nosso problema, ou que a Europa resolvesse o
nosso problema.
O dado concreto é que agora nós temos uma geração de governantes
que acredita, que tem a convicção que a única solução para os nossos
problemas é a integração sul-americana, é a integração latino-americana e é o
estabelecimento das boas relações entre todos nós.
Não existe, companheiro Evo Morales, nenhuma possibilidade de um
país sozinho resolver os seus problemas. Não existe. Nem para o Brasil, nem
para a Bolívia, nem para a Venezuela, nem para a Argentina. Ou seja, ou nós
entendemos que precisamos nos ajudar, construir parcerias e trabalharmos
juntos, ou passaremos mais um século vendo o nosso povo pobre sem se
desenvolver e sem melhorar sua qualidade de vida.
Assinar acordo de construção de estrada parece pouco, mas não é
possível fazer a integração se não tiver possibilidade de as pessoas se
locomoverem, de os produtos escoarem de uma cidade para outra. E nós
estamos fazendo um acordo, que vai encurtar a distância que hoje se faz em
12 horas, para fazer em apenas quatro horas quando a carreteira estiver
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pronta. Isso é um ganho extraordinário. Empresas irão querer se instalar na
Bolívia
e,
certamente,
a
Bolívia
começará
um
novo
processo
de
desenvolvimento.
Ontem no Brasil foi publicado um decreto de que o Brasil irá comprar os
produtos têxteis da Bolívia. Tarifa zero para importação de 21 milhões. São
exatamente as preferências perdidas nos Estados Unidos. E essa é uma
oportunidade extraordinária para a Bolívia desenvolver sua indústria e agregar
valor aos seus produtos.
Eu dizia ao companheiro Evo, até o final do ano nós temos que fazer
uma apresentação dos produtos bolivianos no Brasil, para que as pessoas
percebam que aqui as pessoas produzem produtos de qualidade, que não fica
devendo nada a nenhum país do mundo. E o que a Bolívia está querendo não
é privilégio. É apenas uma oportunidade de mostrar a capacidade de seu povo.
Meu querido Evo Morales, também estamos comprometidos em instalar
um centro de formação profissional aqui na Bolívia, para qualificar as meninas
e os meninos deste país. E um centro Evo, mais ou menos igual ao que eu
estudei quando eu tinha 14 anos de idade. Mas, sobretudo, qualificar a
juventude para que ela possa entrar no mercado de trabalho, ganhando um
melhor salário, e, portanto, tratando melhor da sua família.
No Paraguai, uma iniciativa dessas... nós já treinamos dez mil jovens em
técnicas industriais. Uma outra coisa importante, desde 2005 regularizamos no
Brasil a situação de mais de 50 mil bolivianos. Em julho, agora, sancionei a lei
de anistia que oferece os direitos de cidadania a todos os estrangeiros em
situação irregular.
E nós estamos fazendo diferentemente dos países ricos. Quando em
julho do ano passado a crise econômica se apresentou, os países ricos
começaram a culpar os imigrantes e começaram a criar leis para perseguir
imigrantes, latino americanos, brasileiros, africanos e a resposta que o Brasil
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deu foi ao invés de culpar os pobres imigrantes, nós demos anistia para eles,
porque a crise econômica é da responsabilidade dos ricos e não dos pobres.
Estou seguro companheiro Evo, de que a regularização dos brasileiros
na
Bolívia,
sobretudo
aqueles
concentrados
na
faixa
da
fronteira
(incompreensível) também serão tratados com carinho pelo governo boliviano.
Meu querido companheiro Evo Morales, sua eleição em dezembro de
2005, iniciou um profundo processo de transformação social. A Bolívia
começou a reverter uma realidade de exclusão social e de iniquidade
insustentável em pleno século XX, século XXI. São enormes os desafios pela
frente, mas é ainda maior o compromisso do povo boliviano com o diálogo e a
construção de uma nação plural e próspera. A revolução pacífica em curso na
Bolívia reforça a minha certeza de que devemos repudiar todo ato de força. É
essa a lição que aprendemos ao longo de duras décadas de luta para devolver
a liberdade e a paz na nossa região. Devemos condenar com veemência o
retrocesso político em Honduras e exigir o retorno imediato, incondicional do
presidente Zelaya às suas funções constitucionais.
Companheiro Evo, companheiros bolivianos. O Evo tem sido um
verdadeiro herói na luta pela integração sul-americana. E o Evo como todo bom
sindicalista, ele gosta de pensar antes de falar. Às vezes, fala menos do que
devia e eu acho que isso ao invés de prejudicar tem ajudado muito da
condução da paz na América do Sul.
Eu queria terminar dizendo ao Evo que dia 28 teremos uma reunião em
Bariloche, e é a grande oportunidade que nós temos de mostrar que a América
do Sul está construindo a democracia, a sua prosperidade e estamos
trabalhando para que a paz reine na América do Sul. Eu só quero Evo, te
deixar uma certeza. Eu tenho mais 1 ano e quatro meses de mandato, depois
de 8 anos na Presidência. Eu sei que nós não fizemos tudo que poderíamos
fazer, mas fizemos muito mais do que já havia sido feito. Eu tenho a convicção
de que qualquer que seja o brasileiro ou a brasileira que assuma o meu lugar,
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ele vai ter que entender que a Bolívia é o país que tem a maior fronteira com o
Brasil e que o Brasil não pode se desenvolver sozinho. É preciso que o Brasil
se desenvolva, mas junto com o Brasil desenvolvam-se também os países
vizinhos.
Quero te afirmar companheiro Evo, que eu acho que você começou uma
nova era, a Bolívia nunca mais voltará a ser a mesma, porque esse povo
descobriu que é possível avançar e agora que eles conquistaram dignidade
estão aprendendo o valor da liberdade. A Bolívia nunca mais retrocederá. Eu
tenho certeza que você começou a construção de uma grande nação no
continente sul-americano.
Muito obrigado Evo pelo carinho e muito obrigado aos hermanos
bolivianos.
($211B)
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