Nome:
Ética
Autonomia de Santa Cruz
divide a Bolívia
Nº:
Beto
Turma:
jun/08
Autonomia de Santa Cruz divide a Bolívia
ROBERTO CANDELORI / ESPECIAL PARA A FOLHA / 27 de maio de 2008.
Num enfrentamento que se intensificou após a posse de Evo Morales (2006), o
movimento autonomista do departamento (Estado) de Santa Cruz foi às urnas em 4 de maio
último para votar sobre o Estatuto de Autonomia. Esse estatuto prevê uma maior
independência do departamento de Santa Cruz em relação ao governo central de La Paz.
Entre as propostas de mudança, destacam-se o direito de arrecadar impostos, a criação de
uma polícia regional e a formação de uma Assembléia Legislativa, cujos membros serão
eleitos pelo voto popular
O resultado da consulta popular deu aos autonomistas 85,6% dos votos válidos, o
“não” obteve 80.380 votos, equivalentes a 14,4%. Num total de 936 mil eleitores, a
abstenção foi de 37,91%. Morales acusa os líderes do movimento de "dividir" o país e não
reconhece o resultado do pleito.
Porta-voz dos departamentos da chamada “meia lua” (junto com Tarija, Beni e
Pando) Santa Cruz, com uma população de cerca de 2,5 milhões de habitantes, responde
hoje por mais de 30% do PIB do país. Seu território possui 40% das terras cultiváveis e
suas exportações representam mais da metade do total do país. São números expressivos
que qualificam o Estado de Santa Cruz como o mais próspero da Bolívia, razão pela qual
reclama mais poder político.
Esse movimento, que muitos definem como “separatista”, expõe uma fratura social
que coloca em risco a unidade da Bolívia. De um lado, um país rico e próspero do
"Oriente" que engloba a província de Santa Cruz. Do outro, no "Ocidente" (La Paz, Oruro e
Potosi), um país pobre que concentra suas atividades produtivas na mineração e no cultivo
da folha de coca. Nessa região está concentrada a maior parte dos povos indígenas
(quéchuas e aimarás), cujo maior representante é o presidente aimará Evo Morales, o
primeiro indígena a comandar o país.
De acordo com a Corte Nacional Eleitoral (CNE), o referendo é ilegal, pois,
segundo a Constituição em vigor, as províncias não têm autoridade para convocá-lo. Por
essa razão, avalia-se que a convocação da consulta popular é uma forma de pressão sobre o
governo de La Paz. Sobretudo num momento em que o país se prepara para referendar a
nova Constituição, aprovada em dezembro de 2007.
Para os autonomistas, trata-se de um documento baseado no socialismo marxista, na
ampliação dos direitos indígenas, aprovado sem a presença da oposição e, portanto, sem
legitimidade. Na visão de Morales e dos membros do seu partido, o Movimento ao
Socialismo (MAS), a nova carta representa um marco histórico. Inaugura uma nova era na
trajetória do país, pois, ao determinar a inclusão social dos grupos indígenas, finalmente
materializa uma reparação histórica com aqueles que foram colocados à margem nos 500
anos de história da Bolívia, desde a chegada dos espanhóis.
G:\Editoração\Adm2008\Diversos\Vereda\A Bolívia contra a auonomia de Santa Cruz.doc
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A Bolívia contra a autonomia de Santa Cruz