VI Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
20 a 24 de setembro de 2010
Elementos para uma interpretação do problema da identidade no Tratado da
Natureza Humana de David Hume.
Cristiano Moraes Junta
UFRGS/ Doutorando PPGFil
CAPES
Resumo: Discutimos a interpretação de Donald Baxter e John Perry sobre a
caracterização de Hume sobre o problema da identidade no Tratado da Natureza
Humana. O problema é interpretado a luz da distinção fregeana de sentido e referência.
Por fim concluímos que essa distinção concorre positivamente para esclarecer o
problema em Hume, embora não possa pretender resolvê-lo de todo.
Palavras-chave: Identidade, Sentido e Referência, Hume, Frege.
1. Introdução.
O tema da identidade aparece em especial em dois momentos do livro 1 do Tratado
da Natureza Humana. Trataremos, em especial, da questão como é colocada em apenas
em uma dessas passagens (T 1.4.2.26, p. 200) :
“Primeiramente, quanto ao princípio de individuação, podemos
observar que a visão de um objeto não é suficiente para nos transmitir a idéia
de identidade. Pois na proposição: um objeto é o mesmo que ele próprio, se a
idéia expressa pela palavra objeto não se distinguisse de modo algum da idéia
significada por ele próprio, nossas palavras na verdade não teriam sentido, e
a proposição não conteria um predicado e um sujeito, os quais, entretanto,
estão implicados na afirmação. Um objeto isolado transmite a idéia de
unidade, não a de identidade.”
Devemos considerar que Hume ajunta, logo em seguida a esse trecho que (T
1.4.2.27, p.200): “Por outro lado, uma multiplicidade de objetos, por mais semelhante
que eles sejam, jamais poderia transmitir tal idéia.” Tais considerações preparam o
terreno para aninhar a o problema da identidade (T 1.4.2.28, p.200):
Todas as citações dos textos humeanos seguem o estilo comumente adotado pelos estudos recente de
sua filosofia, a saber, T 1.4.2.21 deve ser lido como Tratado, livro 1, parte 4, seção 2 parágrafo 21- de
acordo com a edição Norton & Norton (Hume, 2000a), cuja tradução brasileira de Débora Danowski
(Hume, 2000b) coincide -, seguindo-se da paginação da edição clássica de Selby-Bigge/Nidditch (Hume,
1978), no caso p.200. Todas as traduções são extraídas da tradução brasileira supracitada.
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“Uma vez que tanto a pluralidade como a unidade são incompatíveis
com a relação de identidade, esta deve portanto, estar em algo distinto
daquelas. Mas para falar a verdade, à primeira vista isso parece inteiramente
impossível. Entre a unidade e a pluralidade, não pode haver meio-termo,
como não pode haver meio-termo entre a existência e a não-existência. Após
supomos que um objeto existe, devemos supor ou que um outro também
existe – nesse caso, temos a idéia de pluralidade -, ou que não existe – e,
nesse caso, o primeiro objeto permanece como uma unidade.”
O problema que Hume impõe nessa passagem tem sido tema de disputa na literatura
recente.
Em linhas gerais podemos dizer que o problema consiste na dificuldade de
encontrarmos um conteúdo para a idéia de identidade. Tal como o problema é colocado
nessa passagem esse problema do conteúdo aparece da seguinte maneira: se o
pensarmos que o conteúdo da idéia de identidade são as impressões de um objeto
isolado e imutável, então a identidade seria indistinguível da unidade, e, por outro lado,
se pensarmos como no conteúdo da idéia como as impressões de múltiplos objetos
semelhantes, então a identidade seria indistinguível da pluralidade. Porém unidade,
pluralidade e identidade nos parecem ser idéias bem diferentes. Então, o problema que
ficaríamos em mãos seria: como compreendemos a particularidade da idéia de
identidade se, a primeira vista, não podemos identificar um conteúdo para essa idéia que
a faça distinguível da pluralidade e da unidade?
2. Algumas alternativas de interpretação: Donald Baxter
John Perry (2009), Don Garret (2009) e Lorne Falkenstein (2009) dedicaram-se a
discutir as conclusões de Donald Baxter (2008) sobre o problema da identidade na
filosofia de Hume. A posição foi exposta de maneira mais concisa em outro texto
(Baxter, 2000), que será a fonte da nossa discussão aqui, e pode ser sintetizada da
seguinte maneira: (a) o problema da identidade em Hume é firmemente diferente do
problema e Frege, (b) essa distinção fundamenta-se na distinção de um problema
semântico da identidade (Frege) e um problema da representação da identidade
(Hume).
Tal distinção é defendida nesse texto através de uma reconstrução do
Baxter2009a e 2009b, Garrett 2009, Perry 2009 e Falkenstein 2009.
Baxter, 2000, p. 187.
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problema da identidade em Hume, onde o ponto central é a caracterização, ou melhor, a
impossibilidade de uma, a partir da expressão “representar como se” (representing there
as) havendo identidade. Nesse sentido a conclusão essencial de Baxter será que não
podemos compreender a identidade na filosofia de Hume nem como uma identidade
entre objetos distintos, porém semelhantes, nem como de idéias que se referem a um só
e mesmo objeto (Baxter, 2000, p. 191).
Para compreender com precisão essa conclusão, é preciso observar qual sentido
Baxter atribui a essa impossibilidade de representar como sendo possivelmente idêntico
e como não sendo possivelmente idêntico. O objetivo de Baxter com essa caracterização
parece ser capturar o problema na faceta como havíamos discutido na seção anterior, ou
seja, a aparente ausência de um conteúdo para idéia de identidade. Assim sendo, a
discussão de Baxter ganha o seguinte sentido: não formamos idéia alguma sobre a coisa
que pensamos ser possivelmente idêntica ou quando pensamos ela como não
possivelmente idêntica. E, logo, tal afirmação tem a estranha propriedade de não ser
suscetível de ser falsificada ou verificada por qualquer coisa que pudéssemos colocar
no lugar de ser o objeto do nosso pensamento da possível identidade, ou não identidade.
Isto é assim, pois, jamais estaríamos certos sobre a concordância do conteúdo da idéia
de identidade com a coisa que lá poderíamos colocar para se fazer passar por ser o seu
conteúdo. Dito de outro modo, se não estamos certos sobre o conteúdo de uma idéia,
não podemos estar certos se alguma coisa concorda (ou se se quiser “encaixa”, “seja
apropriada à”, “esteja em conformidade com”) esse conteúdo, assim seria pois
careceríamos de um parâmetro par julgar tal “concordância”.
3. Algumas alternativas de interpretação: John Perry
John Perry (2009, p.413) discutindo tal questão interpôs contra Baxter que o
problema não só é semelhante tanto em Hume como em Frege como a solução de
ambos os filósofos, apesar de suas diferenças, eram também semelhantes.
Tal
“So in none of the alternatives do we represent there as being a situation free of clear absurdity, in
which there is perhaps identity and perhaps distinctness. So what do we represent there as being when
representing there as perhaps being and perhaps not being identity? Not one and the same thing, not two
distinct things, not things that are neither one and the same nor two and distinct, and not things that are
both. But there is no other alternative. This is Hume’s puzzle about identity.”
No original, (Perry, 2000, p. 413): “I will argue that Hume does provide an answer to the problem, so
long as we exempt the uncertainty problem from what I will call the ‘‘subject matter condition’’. In the
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problema é caracterizado, agora, como as condições de verdade de uma afirmação de
identidade em uma concepção da mente estruturada em papeis cognitivos (role-based
nature of cognition). Tal concepção é caracterizada por Perry como se Hume nos
oferecesse uma teoria da cognição baseada em papeis cognitivos, de forma que
pensaríamos os objetos como participando de certos “papeis” (roles) em nossa vidas
(Perry, 2009, p. 416).
Nessa concepção as impressões são chamas a cumprir papeis que seriam mais ou
menos estruturados, de acordo com isso a cognição dos objetos é vista como baseada
em certas regras complexas e localizadas. Perry detalha essa concepção a partir de um
exemplo, nele somos chamados a imaginar a situação de um observador que já observou
várias vezes aviões cruzarem o céu em um dia sem nuvens (que chamaremos de idéia
complexa i), este observador também vê que dois aviões distintos que se sucedem mais
ou menos nas mesmas trajetórias (chamemos isso idéia complexa i’ ). Certo dia ele
escuta um avião (A) voando dentro de uma nuvem (percepção p), fora da sua visão, e
após certo tempo vê A cruzando o céu do outro lado da nuvem (percepção p’).
A
pergunta será: o que nos faz pensar que as duas impressões que tenho (percepção p e p’)
de um avião são referências de um só e mesmo objeto? A resposta será (Perry, 2009,
p.416): “It will figure into your cognition only by playing a certain more or less
complex role, relative to the impressions and ideas, that figure directly into your
cognition.” De acordo com isso podemos dizer que a identificação de um objeto como
sendo o mesmo, apesar de certas distinções de impressão, deveria ser caracterizada pelo
fato que as impressões e as idéias têm certo papel cognitivo.
Com isso em mão estamos aptos a apresentar a conclusão principal de Perry sobre
essa discussão, a saber, dvemos encarar o problema da identidade em Hume a partir da
distinção entre condições de verdade de uma afirmação sobre o conteúdo material
second part, I’ll argue that Frege dealt with the same problem, and, as different as the concerns of the two
philosophers were, his solution is, in a recognizable sense, Humean.”
No original (Perry, 2009, p. 416): “Hume offers us a role based theory of cognition: we think about
objects as the occupants of certain roles in our lives, roles that become complex and nested.”
No original, (Perry, 2009, p. 416): “Or consider the airplane case. Suppose on some cloudless days you
did a lot of airplane observing and, by copying, assembled an inventory of ideas. You had the more or
less steadfast impression of a single plane flying a considerable distance through the sky, an impression
that overlapped with other successive impressions. From this experience you added a complex idea, call it
I, to your inventory. You have also had impressions of one plane flying a certain distance and then
turning away, while another plane appears from the distance and turns into roughly the path of the first
plane. Call this complex idea I’. You watch A, flying into the cloud: impression p. A bit later you see A
emerging from the cloud: impression p’. Your uncertainty structure consists the impressions p and p’,
together with the ideas I and I’.”
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(subject-matter, aqui colocado como algo mais que o mero “conteúdo” das idéias, mas
sim como a “referência” delas) de nossas idéias e os papeis cognitivos que elas
exercem. Assim o problema que Baxter aponta estaria apenas concernido com o
conteúdo material das afirmações de identidade, isto quer dizer para Perry, concernido
apenas com o problema da referência da afirmação de que “é possível representar como
sendo alguma coisa que pudesse, possivelmente, ser distinta de si mesma”. Perry recorre
aqui a distinção fregeana de sentido e referência (Frege, 1960).
Nesse contexto
estamos aptos a dize que a crítica de Perry à Baxter insisti sobre a distinção entre dois
problemas: (a) quais são as condições de verdade de certas sentenças dado seus papeis
cognitivos – ou seja, seu sentido – em relação com a referência dessas sentenças (o que
equivaleria a dizer, quais estado de coisas fazem que estas sentenças sejam verdadeiras,
ou não); e, (b) o que nossos pensamentos poderiam ser – ou seja, que sentidos teríamos
em certas sentenças - dado certos “conteúdos materiais”. A diferença dessas duas
formas, talvez, pudesse se resumir na simples consideração de que em (a) a direção de
“ajuste” da nossa investigação é do sentido para a referência (do papel cognitivo para o
conteúdo material da idéia), em (b) a direção de “ajuste” é a oposta, da referência para o
sentido (então, do conteúdo material para o papel cognitivo da idéia). Obviamente,
Perry realiza essa distinção no intuito de criticar o problema colocado por Baxter, pois,
localiza a questão colocada por Frege e por Hume como pertencente a (a) e a de Baxter
como pertencente a (b).
Então, podemos enunciar a questão crucial de John Perry da
seguinte maneira: o problema da identidade deve ser tratado como possibilidades de
conteúdos materiais, ou, como possibilidades de papeis cognitivos (rule-based)?
Perry, 2009, p.420: “Frege opens ‘‘Uber Sinn und Bedeutung’’ by asking if identity is a relation
between names or objects, and giving as an illustration of the difficulty with which he is concerned, the
difference in significance between the trivial ‘‘a = a’’ and the informative ‘‘a = b’’.5 Although one can
scarcely accuse Frege of unclarity, quite attentive students who have worked through the essay a time or
two are often unable to say what his final answer is to his opening question. By the end of the essay, we
are told that, assuming a = b, the two sentences have the same Bedeutung, the truth value True, but but
express different propositions (Gedanken), due to the difference in sinn between a and b. So we have two
propositions, and one truth-value. Neither the names nor the objects have a place in either the
propositions or the truth value.”
Perry, 2009, p.420: “The important point is that Frege, like Hume, didn’t try to get at what was going
on in the case of informative judgements of identity in terms of a structure involving only the objects and
the relation of identity. A larger structure was needed, involving Sinne and the relation of codetermination as well. Just as Hume saw the need for two different perceptions, Frege saw the need for
two different Sinne, and the relation of co-determination between them, to account for the
informativeness of identity.”
No original (Perry, 2009, p. 419): “The question is, in building up these situations, should limit
ourselves to subject matter possibilities? Or should we allow ourselves role-based possibilities?”
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4. Entre Perry e Baxter.
Baxter (2009b) assume em sua réplica a Perry que “representar como” coloca o
problema da identidade na direção de ajuste de possíveis “conteúdos materiais.
Observemos que a argumentação de Baxter (2009b, p. 448) pretende interpretar que
para Hume as “condições de conteúdos materiais” (subject matter condition) fazem com
que possamos dar sentido à dúvida se a é igual a a. Esse procedimento tem o sentido
de fazer compreender como se o conteúdo do pensamento de a fosse dependente do
pensamento de a e do subseqüente pensamento de a. Tais duas “aparições” de a em
pensamentos são entendidos na distinção entre “present to mind” e “according to the
mind”. Então, podemos dizer que o “representar como” de Baxter na sentença “ser
possível representar como sendo alguma coisa que pudesse, possivelmente, ser distinta
de si mesma” são na verdade dois: em um representar-como “present to mind” e outro
onde a coisa é representada-como “according to the mind”. Agora relembremos que se
na seção introdutória desse estudo, dissemos que o problema da identidade tal como
aparecia no Tratado (T 1.4.2.26-28, p.200) parecia consistir em não estarmos em
posição de definir o conteúdo da idéia de identidade, por um lado limitada pela idéia de
unidade e por outro pela idéia de multiplicidade. Teremos que a interpretação de Baxter,
tendo em mente a dupla “representação-como” de um objeto referindo-se a “present to
mind” e outra à “according to the mind”, deseja capturar o sentido dessa “indistinção de
conteúdo” da idéia de causalidade. Sendo ela, um tipo de “meio-termo” entre essas
duas. Como observou Hume (T 1.4.2.29, p. 201). De acordo com isso a interpretação
de Baxter poderia ser lida aproximadamente como a seguinte: Hume afirma
Baxter (2009b, p. 448): “Take the case of something, a, that one is multiply acquainted with. The
distinction is meant to capture the distinction between (i) a both as present to mind and as it is according
to the mind (in other words, as intentional object), from (ii) a as present to mind but as it really is (in other
words, as intended object). The intentional object is the concern of Hume’s Difficulty. The point of the
distinction is to allow that a thought of a and a subsequent thought of a can both contribute a to the
content of thought, while not contributing to the content the identity of a insofar as it is thought of the
first time with a insofar as it is thought of the second time. Thus Hume can meet the subject matter
condition while making sense of wondering whether a is a.”
Hume, T 1.4.2.29, p. 201: “Eis aqui, portanto, uma idéia que é um meio-termo entre unidade e
pluralidade; ou, mais corretamente falando, é uma coisa ou outra, conforme a perspectiva pela qual a
consideramos. É a essa idéia que chamamos idéia de identidade. Falando de maneira apropriada, não
podemos dizer que um objeto é o mesmo que ele próprio, a menos que com isso queiramos dizer que um
objeto existente em um momento é o mesmo que ele próprio existente em outro momento. Dessa forma,
fazemos uma diferença entre a idéia significada pela palavra objeto e a significada por ele próprio, sem
nos estender até a pluralidade e, ao mesmo tempo, sem nos restringir a uma unidade estrita e absoluta.”
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explicitamente que a idéia de identidade nada mais é que uma passagem entre a duas
perspectivas pela qual observamos um objeto (ora unidade, ora como pluralidade),
então, estritamente falando, a idéia de identidade carece de um conteúdo específico.
Logo, a identidade reside em uma maneira pela qual representamos um objeto,
notadamente, essa maneira consiste em duas formas de representação desse objeto
(present to mind e accord to the mind) que tomadas em conjunto e sucessivamente faz
com que formemos uma idéia da identidade desse objeto, sem que essa idéia acrescente
o conteúdo do pensamento desse objeto, mas antes é apenas esse processo de dupla
representação-como desse objeto.
5. Conclusão.
A pergunta que lanço diante dessas considerações será então: sob que condições
a posição de Baxter é coerente? Minha resposta será: sob a distinção de três formas dos
objetos: (a) o objeto present to mind, (b) o objeto “present to mind but as it really is” e
(c) o objeto accord to the mind. Tal distinção é a forma que Baxter encontra para
realizar uma análise cuja direção de ajuste reside em possíveis objetos present to mind
que, no entanto, não poderão mais ser equivalentes ao que Frege chamava de referência,
pois este lugar é ocupado no vocabulário de Baxter como sendo os objetos “present to
mind but as it really is”. Nesse contexto ficamos em mãos com o estranho problema de
procurar um objeto presente à mente que, no entanto, não será um objeto presente à
mente como ele realmente é (present to mind but as it really is). Devo dizer que não
vejo que conceito humeano poderia ocupar tal posição, ou exercer tal cargo
“ontológico”. Por outro lado, a interpretação de Perry baseando-se em larga medida em
Frege (1960) parece aproximar-se mais da posição humeana onde podemos dizer que os
componentes primários da cognição (impressões e idéias) devem ser vistos como
estruturados em papeis cognitivos. No entanto, há que se precaver de cair na posição,
que considero errônea, de conceber a relação das idéias com as impressões na filosofia
de Hume como análogos com os conceitos fregeanos de sentido e referências. Pois, me
parece duvidoso afirmar que as idéias em Hume tenham qualquer “peso” semântico
maior que as impressões, isto, se não for exatamente o contrário. Por fim, observamos
que, tal como Baxter coloca, o problema da identidade na filosofia de Hume é realmente
um problema da teoria da representação, mas não como este autor o concebeu, mas sim
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fundada em uma dificuldade de definir os papeis cognitivos que conformariam em nós
esta noção que, de algum modo, devem portar também uma característica semântica.
7. Referências Bibliográficas.
Baxter, Donald. Hume’s Puzzle about identity. Philosophical Studies 98: pp. 187–201,
2000.
Baxter, Donald. Précis of Hume’s difficulty: Time and identity in the TREATISE.
Philosophical Studies 146: pp. 407-411, 2009a.
Baxter, Donald. Replies to Perry, Falkenstein, and Garrett. Philosophical Studies 146:
pp. 445-455, 2009b.
Baxter, Donald. Hume’s Difficult. New York: Routledge , 2008.
Falkenstein, Lorne. Hume and Baxter on identity over time. Philosophical Studies 146:
pp. 425-433, 2009.
Frege, Gottlob. On sense and reference. In ______ The Translation of Philosophical
Writing of Gottlob Frege. Oxford: Basil Blackwell, 1960.
Garrett, Don. Difficult times for Humean identity? Philosophical Studies 146: pp. 435443, 2009.
Hume, David. Treatise of Human Nature. Ed. Norton & Norton. Oxford: Oxford
University Press, 2000a.
Hume, David. Tratado da Natureza Humana. Trad. Débora Danowski. São Paulo:
Editora UNESP, 2000b.
Hume, David. Treatise of Human Nature. Ed. Selby-Bigge/Niddich. Oxford: Oxford
University Press, 1978.
Perry, John. Hume and Frege on identity. Philosophical Studies 146: pp. 413-429, 2009.
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