Gestão de recursos humanos em hospitais de pequeno
porte no Brasil: um retrato das dificuldades
Viviane Aparecida Alvares da Silva – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
João Victor Muniz Rocha – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Núbia Cristina da Silva – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Thiago Augusto Hernandes Rocha – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Allan Claudius Queiroz Barbosa – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
CONTENIDO
ANTECEDENTES
Os hospitais de pequeno porte (HPP) são importantes para desafogar a demanda por serviços especializados de
média complexidade; garantir a continuidade da assistência prestada entre os diferentes níveis de complexidade,
garantindo acesso a leitos de internação nas clínicas básicas: clínica médica, cirurgia geral, obstetrícia e pediatria
(LÓPEZ, 2004); e por garantir acesso aos serviços de saúde a população em localidades remotas (POSNETT,
1999).
Para que esses estabelecimentos possam prestar serviços de saúde a população é necessário dispor de recursos
humanos, além da adequação da estrutura física e da disponibilidade de materiais, insumos e equipamentos.
A necessidade de considerar a Gestão de Recursos Humanos (GRH) em saúde como um foco de atenção tem
ponderado o debate em saúde. A análise dos recursos humanos guarda uma importância singular na avaliação
dos estabelecimentos de saúde. A produção de serviços do setor caracteriza-se por ser trabalho-intensivo e pela
crescente especialização e diversificação da força de trabalho dos profissionais de saúde.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi verificar e descrever as práticas de GRH - ações de
treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho e o registro de indicadores de RH - e os
possíveis reflexos sobre a fixação dos profissionais e, consequentemente, sobre a qualidade da
assistência nos Hospitais de Pequeno Porte (HPP) do Brasil.
MÉTODOS
Para operacionalização do estudo, do tipo descritivo, foram avaliados, em 2014, todos os HPPs (até 50 leitos) do
país. De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) existiam em setembro de 2013,
3.524 estabelecimentos públicos e privados com até 50 leitos, sendo que 2.724 ofereciam leitos ao Sistema
Único de Saúde (SUS).
Região
Centro Oeste
Nordeste
Quantidade
488
1332
Norte
331
Sudeste
897
Sul
476
Brasil
3524
Observa-se concentração de hospitais de
pequeno porte nas regiões nordeste,
sudeste e sul. Nas demais regiões há um
padrão pulverizado de estabelecimentos,
segundo informações do CNES.
Gestão de recursos humanos em hospitais de pequeno
porte no Brasil: um retrato das dificuldades
Viviane Aparecida Alvares da Silva – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
João Victor Muniz Rocha – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Núbia Cristina da Silva – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Thiago Augusto Hernandes Rocha – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Allan Claudius Queiroz Barbosa – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
CONTENIDO
MÉTODOS
Dos 2.724 hospitais de pequeno porte
que oferecem leitos ao SUS, 2.455
participaram
deste
estudo.
A
distribuição dos estabelecimentos foi
organizada em faixas (entre 0 e 19
leitos, entre 20 e 29 leitos, entre 30 e
39 leitos, entre 40 e 49 leitos e 50
leitos ou mais) por região do Brasil.
Pela quantidade de hospitais com mais
de 50 leitos, percebe-se que nem todos
os hospitais têm as informações do
CNES atualizadas.
Total de leitos de cada HPP em faixas
Total de leitos de cada estabelecimento em faixas
N
Entre 0 e
19 leitos
Entre 20 e
29 leitos
Entre 30 e
39 leitos
Entre 40 e
49 leitos
50 leitos
ou mais
Centro Oeste 299
38,5%
31,1%
19,1%
6,7%
4,7%
Nordeste
Norte
1.045
238
33,9%
26,9%
27,8%
36,6%
20,6%
14,7%
11,8%
18,1%
5,9%
3,8%
504
21,2%
21,0%
29,6%
15,7%
12,5%
21,7%
29,3%
26,6%
27,5%
28,7%
22,9%
13,8%
12,9%
9,2%
7,4%
Sudeste
Sul
369
Brasil
2.455
Somente SUS
A coleta de dados foi realizada por meio de um censo. Foram identificadas ações de recursos
humanos em 2.396 hospitais de pequeno porte que ofereciam leitos ao SUS. Foram analisadas,
nessas unidades, a existência ou não das seguintes práticas de gestão de recursos humanos - ações de
treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho e o registro de indicadores de RH.
Foi observado também o indicador de rotatividade referente ao mês anterior a realização desse estudo em
cada hospital de pequeno porte.
RESULTADOS
Os resultados encontrados, em geral, indicam que no Brasil a adoção de práticas de GRH (ações de
treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho e o registro de indicadores de RH) por hospitais
de pequeno porte é extremamente baixa, evidenciando que a área de recursos humanos ainda é bastante
negligenciada pela gestão.
As regiões que apresentaram as maiores taxas de adoção de tais práticas são a Sudeste e a Sul, com
percentuais ainda incipientes, de 11,1% e 9,2% do total de unidades hospitalares, respectivamente. Nas
regiões Norte e Nordeste as taxas de adoção das práticas de RH são muito baixas, aumentando na maioria
das vezes conforme aumenta a quantidade de leitos. No Brasil apenas 1% dos hospitais com até 19 leitos
utilizam alguma prática, dentre as pesquisadas neste estudo, de recursos humanos.
Centro Oeste
Nordeste
Norte
Sudeste
Sul
Brasil
Somente SUS
Entre 0 e 19
leitos
%
2,1%
0,3%
0,4%
1,8%
1,4%
1,0%
O HPP adota práticas de GRH
Total de leitos de cada estabelecimento em faixas
Entre 20 e 29 Entre 30 e 39 Entre 40 e 49 50 leitos
O HPP adota
leitos
leitos
leitos
ou mais práticas de GRH
%
%
%
%
%
N
2,5%
1,1%
0,4%
0,7%
6,7%
284
0,7%
0,4%
1,1%
0,8%
3,3%
1.001
1,3%
0,4%
1,3%
0,4%
3,8%
238
1,6%
3,6%
2,4%
1,8%
11,1%
504
1,6%
3,5%
1,4%
1,4%
9,2%
369
1,3%
1,6%
1,3%
1,0%
6,3%
2.396
Gestão de recursos humanos em hospitais de pequeno
porte no Brasil: um retrato das dificuldades
Viviane Aparecida Alvares da Silva – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
João Victor Muniz Rocha – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Núbia Cristina da Silva – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Thiago Augusto Hernandes Rocha – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
Allan Claudius Queiroz Barbosa – Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Ciências Econômicas - Brasil
CONTENIDO
RESULTADOS
Um dos indicadores utilizados para analisar a fixação dos profissionais foi o de rotatividade, que mostrou
maiores taxas de rotatividade nas regiões Centro-Oeste e Sul, o que significa que nelas há grande
variabilidade do conjunto de profissionais. Tal evidência sugere que nestas regiões existem dificuldades de
fixação do profissional, e, atrelado a isto, a descontinuidade da assistência que influencia na qualidade da
prestação de serviços de saúde ao impedir a formação de vínculo entre o profissional de saúde e o paciente, o
cuidado regular e a adesão ao tratamento.
Indicador de rotatividade do último mês
Centro Oeste
Nordeste
Norte
Sudeste
Sul
Brasil
Média
N
Média
N
Média
N
Média
N
Média
N
Média
N
Entre 0 e 19 Entre 20 e 29 Entre 30 e 39 Entre 40 e 49 50 leitos ou
leitos
leitos
leitos
leitos
mais
3,59%
2,47%
5,37%
1,40%
0,00%
7
7
5
1
1
2,55%
0,63%
0,00%
1,82%
2,18%
6
16
5
8
6
1,42%
2,11%
0,00%
1,45%
0,23%
3
7
1
4
1
2,25%
0,93%
1,08%
2,06%
1,70%
6
13
27
22
17
3,82%
0,51%
2,36%
2,59%
2,03%
3
5
14
9
5
2,79%
1,18%
1,71%
2,06%
1,74%
25
48
52
44
30
Todos
3,37%
21
1,29%
41
1,57%
16
1,52%
85
2,24%
36
1,80%
199
Somente SUS
CONCLUSÕES
Os achados deste estudo evidenciam a fragilidade da gestão de recursos humanos em saúde para hospitais de
pequeno porte no Brasil. Em todas as regiões foram encontrados hospitais que não realizam nenhuma das
práticas de GRH estudadas. Isto ilustra a negligência pelo campo de gestão de pessoas na saúde e chama a
atenção em função da incoerência com o modelo de funcionamento dos serviços de saúde, pautado
essencialmente pela utilização de mão de obra intensiva (SILVA et al., 2009).
Lerberghe (2002) destaca que, apesar do fato de diversos gestores em saúde apontarem os problemas ligados
à GRH como o principal gargalo a ser enfrentado na tentativa de melhorar seus sistemas de oferta de serviços
de saúde, há ainda um longo caminho para a superação dos desafios que se impõem à gestão.
Isso implica que os hospitais de pequeno porte devem realizar um grande esforço para alcançar níveis nos
quais a Gestão de Recursos Humanos de fato seja desenvolvida, sendo um consenso da literatura que ações
de treinamento, avaliação e desempenho afetam a qualidade dos serviços prestados e o grau de satisfação
dos usuários.
REFERÊNCIAS
LERBERGHE, W. V; ADAMS, O; FERRINHO, P. Human resources impact assessment. Bulletin of the World Health Organization, 80 (7), 2002.
LÓPEZ E. M. Uma revisão do papel dos hospitais de pequeno porte no SUS [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): ENSP/Fiocruz; 2004.
POSNETT, J. "The hospital of the future Is bigger better? Concentration in the provision of secondary care". British Medical Journal; 319:1063–5, 1999.
SILVA, N. C; RODRIGUES, R. B; ROCHA, T. A. H; RODRIGUES, J. M. Gestão De Recursos Humanos Em Saúde E Sua Necessária Interface Ao Mundo
Organizacional – Um Olhar Ampliado. XXXIII Encontro da ANPAD. São Paulo, 2009.
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