ANAIS
XV CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO POPULAR
XXIV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO POPULAR
II SEMINÁRIO INTERNACIONAL SINDICAL – 2º NÚCLEO DO CPERS SINDICATO
II SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA
“CONSTRUINDO CAMINHOS POSSÍVEIS PARA UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE”.
Santa Maria/RS, 27 a 30 de maio de 2015.
ISSN-1984-9397
APLICAÇÃO DA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO:
Uma proposta de análise do nível de seu emprego nas escolas de
Ensino Médio da periferia do município de Santa Maria-RS
Luciana Rodrigues Vieira 1
Rodrigo Gehrke Tonin 2
Resumo: O trabalho tem por escopo expor uma proposta de pesquisa a ser
desenvolvida tocante a obra Pedagogia do Oprimido do filósofo e pedagogo Paulo
Freire. Será relatado acerca do método criado pelo autor supra, partindo-se do
quadro atual da educação, em que é predominante o interesse das classes
hegemônicas (opressores) em desfavor das classes populares (oprimidos) e delineia
o caminho para se chegar a libertação e recuperação da humanidade dos oprimidos.
Outrossim, é articulada uma alternativa (posterior elaboração e aplicação de
questionário) para poder avaliar sobre a aplicabilidade da pedagogia em comento
no âmbito das escolas (de Ensino Médio) de comunidades da periferia de Santa
Maria - RS em que os professores serão questionados sobre a compreensão da
pedagogia do oprimido em sala de aula e como é visto na prática(práxis). Para
observação optou-se por escolas de ensino médio uma vez que é nesse contexto
que há concentração de jovens em transição para a fase adulta, período em que são
sedimentados os valores morais que irão nortear o decorrer de suas vidas e interferir
nas suas decisões. Foi eleita uma comunidade carente de Santa Maria-RS
justamente por ser um ambiente em que as diferenças sociais são acentuadas,
favorecendo a visualização da problemática que se pretende resolver.
Palavras-chave: Pedagogia; Opressor; Oprimido; Questionário; Escolas de Ensino
Médio;
Introdução
A educação se insere em um quadro político no qual os indivíduos em situação
de vulnerabilidade social estão submetidos e condicionados aos ditames das elites
dominantes e, dessa forma, ao tempo que reconhecem sua consciência oprimida,
preparada pelo opressor, observam o desejo de libertar-se dessa condicionante.
Bacharel em Direito e Acadêmica do Programa Especial de Graduação – Formação de Professores
para
a
Educação
Profissional;
Universidade
Federal
de
Santa
Maria;
e-mail:
[email protected]
2
Mestre em Engenharia Elétrica e Acadêmico do Programa Especial de Graduação – Formação de
Professores para a Educação Profissional; Universidade Federal de Santa Maria; e-mail:
[email protected]
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Santa Maria/RS, 27 a 30 de maio de 2015.
ISSN-1984-9397
Estando o indivíduo suscetível a diversas arbitrariedades chanceladas inclusive
no âmbito educacional, definem-se quem está incluído ou excluído da sua política de
acordo com o interesse das classes dominantes. Considerando a distinção do “ser
mais” do “ser menos” chega-se a um momento em que os oprimidos decidem lutar
contra quem os faz “menos” (FREIRE, 1987). Porém, a luta engendrada pelos
oprimidos só terá significado quando estes a travarem em condições que não se
tornem opressores dos opressores, e que o embate se dê com vistas à recuperação
da sua humanidade (FREIRE, 1987). Desta forma é imperiosa a conscientização de
que o cenário da desumanização é resultante de uma ordem injusta que promove a
violência dos opressores. A partir dessa visão acerca da condição dos opressores e
oprimidos, como é enxergado pelo corpo docente nas salas de aula, no âmbito das
escolas de ensino médio da periferia de Santa Maria-RS, a pedagogia do oprimido?
Como esta filosofia é empregada na prática? Assim, pretende-se com este trabalho
esboçar uma pesquisa futura em que, em um primeiro momento far-se-á uma
digressão sobre a pedagogia do oprimido, cunhada por Paulo Freire, destacando-se
seus principais pontos e, a seguir, será exposta a proposta da pesquisa pretendida.
Desenvolvimento
Precisamos reconhecer primeiro que a finalidade humanista constitui-se na
libertação individual dos oprimidos da ordem social injusta paralelamente com a
libertação dos opressores. Apenas o poder emergente dos oprimidos pode-os
libertar. Desta forma, impende tecer algumas considerações acerca da generosidade
perpetrada sobre os “esfarrapados” do mundo, ou seja, aquela realizada pelos
opressores. Quando há uma tentativa por parte do opressor em minimizar o grau de
seu poder frente à singeleza do oprimido, este a expressa através da “falsa
generosidade”, qual seja, aquela nutrida pelas migalhas, pelas sobras da sua
existência. Por isso, que a luta pela humanidade é uma batalha pela restauração da
generosidade verdadeira, aquela transcendente à hipocrisia, que busca não haver
mais miséria. “(...) as mãos, ao invés de pedirem esmolas, vão se fazendo cada vez
mais mãos humanas, que trabalhem e transformem o mundo” (FREIRE, 1987, p.
32). Quando se fala em luta, se refere a um ato de amor em contraposição ao
desamor emergente da violência dos opressores (FREIRE, 1987).
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Recorrente é o discurso por parte da classe dominante de que aquele que é
pobre é acomodado à sua condição. Pode-se dizer que quem não trabalha de forma
conjunta com o oprimido, insistindo no “paternalismo” levantado por Freire, é
corresponsável por sua condição de inerte. Sendo assim, a proposta de Paulo Freire
vem totalmente de encontro com essa visão, pois o autor milita em prol de estancar
o canal por onde perpassa a pobreza, a vulnerabilidade, a humilhação e a
passividade. Através da pedagogia da libertação será possível eliminar a opressão
que domina a sociedade. O indivíduo perceberá o entorno que envolve não apenas
o conteúdo transmitido em sala de aula, mas sobretudo a percepção dos aspectos
sociais e políticos que os norteiam (MADEIRA E AMORIN, 2014).
A pedagogia da libertação é aquela enraizada no método dialógico e
problematizador gravado por Freire. Portanto, destaca-se que não há aqui uma
pretensão de construção de uma pedagogia para o oprimido, em caráter especial,
mas sim, confeccionar-se uma pedagogia em comunhão de esforços com o
indivíduo nesta condição. Em um primeiro momento, o oprimido toma conhecimento
de sua realidade e busca a sua transformação por meio da práxis. Em segundo, o
modelo pedagógico do oprimido é desconstituído cedendo lugar a um método de
ensino que será aquele dos homens em processo de permanente libertação
(FREIRE, 1987). Sobretudo, para que isso aconteça, é imprescindível atentar para
um detalhe fundamental: a necessidade de aniquilar o opressor que reside no
interior do oprimido. E isto se dá através do comprometimento e ação do oprimido na
luta pela libertação. É preciso uma ação dialógica, construída conjuntamente, cuja
reflexão possa chegar à compreensão da realidade e que o oprimido abdique e
encare a cultura dominante, expulsando o opressor que habita nele próprio.
Voltando os olhos especificamente para o opressor, há que ser observado que este
também carece de libertação. Esta é a pedra angular da pedagogia do oprimido,
uma vez que este ao buscar sua humanização não tem o condão de somente auto
libertar-se mas, sobretudo, de quebrar os grilhões que prendem o opressor à
desumanização e violência que perpetraram. O opressor não tem o poder de
libertar-se. “Só o poder que nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente
forte para libertar a ambos” (FREIRE, 1987, p. 17).
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Em síntese, considera-se a práxis educacional libertadora como uma ação
cultural que impende de um diálogo que acontece somente entre iguais e diferentes
e não entre opostos, pois dessa forma só seria possível um pacto. “Em determinado
momento a classe dominada aceita um pacto com a dominante, mas passada a
situação que gerou a necessidade do pacto o conflito se reacende. É isso que a
dialética ensina” (FREIRE, 1985, p. 123-124). É impetuoso conceber que os homens
são “(...) seres em devir, inacabados, incompletos em uma realidade igualmente
inacabada” (LEÃO e PALAFOX, 2004, p. 30). A superação das categorias opressor
e oprimido deve perpassar por uma ação cultural para tanto e, ainda, conduzir
estrategicamente a uma luta contra o quadro opressor desumano, contra a elite
dominadora do poder. Sobretudo, pretende-se perscrutar com essa pesquisa em
que nível a pedagogia do oprimido é empregada nas salas de aula das comunidades
carentes e, conforme sua incidência, de que forma se materializa na prática.
Objetiva-se expor e refletir a problemática que gira na órbita do tema, visto que,
embora muitos anos tenham se passado depois do escrito por Paulo Freire pode-se
vislumbrar hodiernamente esse contrassenso no âmbito da educação popular, e é o
panorama contemporâneo que se pretende esmiuçar. Busca-se mensurar em que
nível o método freireano é utilizado nas escolas de ensino médio de comunidades
carentes da periferia de Santa Maria-RS. Para a obtenção deste dado, será
necessário conhecer como se dão as dinâmicas operadas em sala de aula pelo
professor tocante ao tema, bem como o valor que este atribui a esta filosofia no
desempenho de seu trabalho.
Para a consecução da pesquisa será necessário a utilização do método de
abordagem dialético, uma vez que, a partir de análises sociológicas sobre um
contexto amplo que afirma as categorias oprimido e opressor e o que as envolvem,
analisa suas implicações sociedade brasileira. Será usada simultaneamente a
técnica de pesquisa bibliográfica acerca do assunto. Quanto ao método de
procedimento adotado será o monográfico, pois através da elaboração e aplicação
de um questionário direcionado aos professores das escolas de ensino médio da
periferia da cidade de Santa Maria-RS será possível investigar qual a perspectiva
dos docentes em atuação sobre a educação libertadora cunhada por Paulo Freire e
a sua práxis em sala de aula.
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Considerações finais
Muito embora tenham se passado décadas desde a publicação da obra
Pedagogia do Oprimido, é imprescindível discutir e debater sobre a filosofia freireana
que versa sobre a proposta da educação libertária, considerando que, as mazelas e
a disparidade sociais são uma progressiva. Porém, somente a partir da promoção
dessas reflexões e discussões poder-se-á contribuir com a verdadeira libertação das
classes oprimidas, no sentido de que a escola proporcione condições de construção
de uma novel pedagogia e, em consequência, os oprimidos possam também libertar
aqueles que os oprimem dessa condição.
Há de se destacar também o processo de transformação e compreensão do
mundo da produção/trabalho, umbilicalmente ligado ao modo de produção capitalista
e submissão às classes hegemônicas, uma vez que é este “mundo” que condiciona
as instituições sociais, incluindo a escola. A escola é o local onde se torna possível a
promoção do criticismo dos oprimidos na sua batalha permanente pela libertação
sócio-política e cultural estabelecida pela elite dominante.
A fim de pontualizar no município de Santa Maria-RS, especificamente nas
escolas (de ensino médio) de comunidades carentes da periferia de Santa Maria
(RS) social, geralmente é, gritante e, no nível do ensino médio, que é onde a
passagem da adolescência para a fase adulta se dá (período em que são
construídos valores que servirão de base para a vida adulta), à medida que se
impõe é investigar se o método salutar de Paulo Freire é ministrado e, em caso
positivo, de que forma é compreendido. Pensando nesta perspectiva de pesquisa,
conforme o resultado seja possível articular maneiras de empregar a pedagogia
freireana que baliza este estudo.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1970.
_______, Paulo, GADOTTI M & GUIMARÃES, S. Pedagogia: Diálogo e Conflito.
São Paulo: Cortez, 1985.
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LEÃO, Eliana, PALAFOX, Gabriel Humberto Munõz. Revista de Educação Popular in
Paulo Freire: Análise da relação opressor-oprimido na sua pedagogia da
libertação. Uberlândia, nº 3, 2004.
MADEIRA, Daniel Leão Hitzschky, AMORIM, Rosendo Freitas de. “Educação em
direitos: a pedagogia do oprimido e a atuação da defensoria pública como
instrumentos de fortalecimento da cidadania.” In: Direito, educação, ensino e
metodologia jurídicos: XXIII encontro nacional do COMPEDI. Disponível em:
<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=06458d2eeb45e7e8>. Acesso em:
18/04/2015.
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Luciana Rodrigues Vieira