ENFISEMA SUBCUTÂNEO GENERALIZADO EM UM EQUINO APÓS FERIDA
AXILAR PERFURANTE
GENERALIZED SUBCUTANEOUS EMPHYSEMA AFTER AXILLARY PUNCTURE
WOUND IN A HORSE
Luciane Maria Laskoski 1; Roberto Bevilacqua Barroso da Silva2; Mariana Bueno Carvalho3;
Renata Gebara Sampaio Dória4; Marco Aurélio Molina Pires1; Silvio Henrique de Freitas5;
Marcelo Diniz dos Santos5; Lázaro Manoel de Camargo5.
Resumo:
O enfisema subcutâneo em equinos ocorre comumente após feridas perfurantes na região da
axila, a qual permite a entrada de ar para o subcutâneo durante a movimentação do animal.
Este relato descreve o atendimento de um equino com a doença em questão. O animal foi
encaminhado ao Hospital Veterinário da UNIC-Cuiabá com enfisema subcutâneo
generalizado, e uma ferida na região da axila. Os exames laboratoriais não acusaram
alterações importantes. Procedeu-se então antibioticoterapia, limpeza diária da ferida, e
restrição da movimentação do animal. Uma semana após houve redução completa do
enfisema subcutâneo, e a ferida cicatrizou após três semanas. Conclui-se que o enfisema após
ferida axilar apresenta bom prognóstico, se tratado corretamente.
Palavras –chaves: Equino, enfisema subcutâneo, ferida axilar
Abstract:
The subcutaneous emphysema occurs commonly in horses after puncture wounds in the
axillary region, which allows the air intake to the subcutaneous tissue during movement of the
animal. This report describes the treatment of a horse with the disease in question. The animal
was referred to the Veterinary Hospital of UNIC - Cuiabá with widespread subcutaneous
emphysema, and a wound in the axillary region. Laboratory tests did not show significant
changes. It was done antibiotic therapy, daily cleaning of the wound, and restriction of
movement of the animal. After a week there was complete reduction of subcutaneous
emphysema, and the wound healed after three weeks. We conclude that emphysema after
axillary wound shows a good prognosis if treated correctly.
Key – Words: horse, subcutaneos emphysema, axillary wound.
O enfisema é uma alteração que designa distúrbio tecidual com infiltração de ar, caso
seja tecido subcutâneo, ou ar pulmonar em excesso, como no enfisema pulmonar. É uma
condição muito rara e geralmente está relacionada com a introdução inadvertida de ar dentro
do tecido, como por meio de um pneumomediastino, gangrena gasosa e enterocolite
necrozante (LOPES, 2009).
O enfisema subcutâneo em eqüinos pode ser resultante de perfuração traqueal e
particularmente por feridas na pele da axila, as quais ocorrem com maior frequência
1
Médicos Veterinários, Msc., Professores da Faculdade de Medicina Veterinária – UNIC.
Médicos Veterinários, Aluno da Faculdade de Medicina Veterinária - UNIC.
3
Médica Veterinária, Especialista., Professora da Faculdade de Medicina Veterinária - UNIC
4
Médica Veterinária, Dra., Professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - FZEA,
Universidade de São Paulo – USP – Pirassununga.
5
Médico Veterinário, Dr., Professor da Faculdade de Medicina Veterinária - UNIC.
*
Autor para correspondência: Mariana Bueno Carvalho. Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária,
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Cuiabá, Av. Beira Rio, n. 3100, CEP: 78065-900 , Cuiabá,
MT. [email protected].
2
(DEWELL,1980; STEVENSON, 1995). O eqüino ao se movimentar promove a sucção de ar
para o tecido subcutâneo.
A desfiguração cosmética temporária é a principal característica da doença, mas outras
complicações mais sérias podem ocorrer, dependendo da região afetada, como aumento da
pressão intracraniana, obstrução das vias aéreas superiores devido a enfisema retrofaringeano,
etc.
O tratamento envolve a administração de antibióticos sistêmicos, o manejo da ferida,
profilaxia antitetânica e a restrição dos movimentos do animal ao máximo possível
(DEWELL, 1980). É fundamental, no entanto descartar a possibilidade de perfurações nos
pulmões e traquéia. O prognóstico da doença é bom uma vez que nunca se observou um caso
fatal (HANSE e ROBERTSON, 1992; LINDLEY, 1979; MARBLE et al., 1996).
Um eqüino, fêmea, de 8 anos de idade foi encaminhada ao Hospital Veterinário da
UNIC com histórico de uma ferida ocasionada por um gancho de ferro na região axilar.
Realizou-se sutura do ferimento e aplicação de antibiótico e antiinflamatório. No dia seguinte
ao incidente, observou-se aumento de volume na região da axila esquerda com crepitação a
palpação, avançando para parte ventral do pescoço e membro torácico.
Ao exame físico, o animal apresentava ferida medindo 11cm na região da axila
esquerda (figura 1) e encontrava-se enfisematoso com crepitação evidente a palpação,
aumento de volume dos quatro membros, pescoço, cabeça (figura 2), dorso, garupa e
abdômen. A sutura foi retirada, e encontrou-se grande espaço morto no tecido subcutâneo.
O tratamento consistiu da administração de ceftiofur, cuidados com a ferida uma vez
ao dia, limpeza com iodo, introdução de nitrofurazona e açúcar cristal, e oclusão da ferida
com compressa embebidas em iodo tópico. As bordas da ferida foram aproximadas com fitas
de cetim, facilitando-se realizar o curativo todos os dias. Após uma semana, houve completa
ausência de enfisema subcutâneo, e a ferida cicatrizou após três semanas de curativo.
As causas mais comuns de enfisema subcutâneo são as perfurações da traquéia e
feridas na região da axila. No caso relatado ficou evidente a relação entre a relação da ferida e
a formação do enfisema. Conforme afirmou o autor Dewell (1980), a ferida axilar permite a
entrada de ar para o espaço subcutâneo e o movimento do membro provoca a sucção. Devido
a esta mecânica os cuidados com a ferida e a restrição dos movimentos do paciente foram
fundamentais para resolução do problema. Porém, a infecção por bactérias formadoras de gás
foi descartada pelo leucograma e ausência de sintomas sistêmicos. O uso das compressas e a
aproximação das bordas da ferida pelas fitas de cetim evitaram a entrada de ar através da
ferida, possibilitando o estimulo do açúcar na formação de tecido de granulação, que fez com
que a ferida fechasse de dentro para fora. A aplicação da água sob pressão, fez com que a
deformação cosmética causada pelo acumulo de ar no subcutâneo regredisse na primeira
semana.
Os sinais clínicos são evidentes, aumento de volume na região dos membros anteriores
com crepitação à palpação. Porém pode se estender nas direções do cabeça, toráx e membros
(DEWELL, 1980). Na maioria dos casos não ocorre alteração nos parâmetros fisiológicos, e o
animal se alimenta normalmente. No animal em questão, os sinais clínicos encontrados eram
evidentes, com aumento de volume e presença de crepitação a palpação, sem alteração dos
parâmetros fisiológicos, de acordo com Hanse e Robertson (1992). O prognóstico para os
casos de enfisema subcutâneo eqüino é favorável, desde que tomadas às medidas de suporte, e
a resolução deve ocorrer em quinze a trinta dias, como observado no caso relatado.
Conclui-se que, no tratamento, os cuidados com a ferida e a restrição dos movimentos
do paciente são de suma importância na eficácia do tratamento. Apesar de ter um prognóstico
favorável, o fenômeno pode se estender para o corpo todo e levar a complicações graves.
2
Figura 1: Ferida axilar de 11 cm no
animal acometido pelo enfisema
subcutâneo
Figura 2: Desfiguração da face causada
pelo enfisema subcutâneo generalizado
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LOPES, A. C. Tratado de Clínica Médica. 2.ed. Roca: São Paulo, 2009. v. III. Seção 11, p.
1936-1969.
DEWELL, C. G. Wounds and tissue emphysema. Mod. Vet. Pract., v. 61, n. 4, p.280, 1980.
STEVENSON, J. Lesão Sucking wounds of the limbs. Injury, v. 26, n. 3, p. 151- 53, 1995.
HANCE, S. R.; ROBERTSON, J. T. Subcutaneous emphysema from an axillary wound that
resulted in pneumothorax in a horse. JAVMA, v. 200, n. 8, p. 1107- 09,1992.
LINDLEY, W. H. Axillary wounds and tissue emphysema. Mod. Vet. Pract., v. 60,n. 1, p. 47,
1979.
MARBLE, S. L. et al.Enfisema subcutâneo em potro neonato Subcutaneous emphysema in a
neonatal foal. JAVMA, v. 208, n. 1, p. 97-9, 1996.
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