UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – UFU
INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG
LABORATÓRIO DE ENSINO DE GEOGRAFIA – LEGEO
FRANCO ANDREI BORGES
OS CIGANOS DE UBERLÂNDIA E A QUESTÃO DE SUAS CRIANÇAS
NA ESCOLA
UBERLÂNDIA-MG
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FRANCO ANDREI BORGES
OS CIGANOS DE UBERLÂNDIA E A QUESTÃO DE SUAS CRIANÇAS
NA ESCOLA
Trabalho apresentando à disciplina Trabalho Final de
Graduação 4 como requisito parcial para a aprovação
no
curso
de
Bacharelado
em
Geografia
da
Universidade Federal de Uberlândia.
Orientadora: Pofª. Drª. Adriany de Ávila Melo
Sampaio
UBERLÂNDIA-MG
2010
FRANCO ANDREI BORGES
OS CIGANOS DE UBERLÂNDIA E A QUESTÃO DE SUAS CRIANÇAS
NA ESCOLA
___________________________________________
Profª. Drª. Adriany de Ávila Melo Sampaio
Orientadora
___________________________________________
Profª. Ms. Roberta Afonso Vinhal Wagner
Examinadora – Doutoranda IG-UFU
__________________________________________
Profª. Ms. Rosana de Ávila Melo Silveira
Examinadora IFET – Urutaí-GO
___________________________________________
Prof. Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos
Geógrafo e Urbanista
Examinador I.G. - UFU
Data _____/_____/_____
Resultado_____________
Dedico este trabalho a minha Mãe, que sempre foi uma Geógrafa
nata e sempre me orientou nos caminhos de minha trajetória,
ensinando-me a decifrar o espaço em que estávamos inseridos e, em
sua persistência, conduzindo-nos sempre aos caminhos do saber.
A meu Pai (in memorian), que me levava em suas viagens de
caminhão, mostrando-me a imensidão e diversidade deste mundo.
A meu filho Heitor Andrei, que me ensina todos os dias.
E a todos os meus irmãos que comigo ainda caminham nesta vida.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela dádiva da vida e por fazer-me sentir, que amparado
por sua Graça, sou capaz de realizar meus sonhos.
Agradeço aos meus pais pela educação que recebi, pelo apoio e esforço incondicionais mesmo
diante das grandes dificuldades que superamos, bem como por acreditar que, um dia, todo
esforço seria recompensado.
À Profª. Drª. Adriany de Ávila Melo Sampaio, que me orientou neste trabalho e muito me
ajudou com seu empenho e incentivo, com a paciência na leitura e correções, por apoiar-me
neste caminho que escolhi.
A todos aqueles que, de alguma forma, ajudaram-me na proposta e condução do trabalho.
Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Eu só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei
[...]
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
(Almir Sater e Renato Teixeira), Tocando em Frente)
RESUMO
Esta proposta de trabalho encontra contexto no mundo das Comunidades Ciganas
estabelecidas na cidade de Uberlândia. Neste trabalho, pode-se perceber um pouco da
trajetória desse povo tão pouco conhecido, de suas histórias de origem e suas realidades
vivenciadas no mundo, da sua possível origem no norte da Índia à sua diáspora. Alguns
rumaram à Palestina, outros seguiram para Europa, e outros, para o Brasil. Neste caminho, a
cultura desse povo foi sendo contestada por seus costumes, sua língua, seus trajes. Por onde
passavam, os ciganos foram vitimas de preconceitos, assim como estigmatizados por povos
locais, sem que isso afetasse sua cultura. Assim, mantiveram-se e mantêm-se até hoje
resistentes em suas tradições, desde os primeiros Ciganos que chegaram ao Brasil vindos nos
grandes navios Portugueses. Suas tradições são repassadas verbalmente e cada membro
guarda consigo estas preciosidades. Os mais idosos são os “baús” em que se guardam essas
tradições. Muitas, por meio de suas histórias. Algumas questões são abordadas neste trabalho:
e a escola? Como estas crianças chegam? Como são tratadas? São homogeneizadas como os
demais alunos ou são diferenciados em seu contexto? A pesquisa mostrará que a Escola
Pública Regular não recebe ou trata de forma distinta os alunos que têm um modo cultural
diferente de vida. Todos são tratados igualmente e não há distinção de aluno. Outras questões
são pertinentes ao estudo: como o Ensino de Geografia pode ajudar estes alunos e suas
comunidades Ciganas que estão inseridas em um contexto maior, a cidade? Estas dentre
outras questões, são discutidas com objetivo de valorizar a Cultura Cigana.
Palavras Chave: Escolarização. Escola Regular. Ensino de Geografia.
ABSTRACT
The context of this work is the Gipsy Communities established in the city of Uberlandia-MG.
In this work, we can see a part of the history of that people so little known, their origin stories
and their realities in the world. And its possible origin in northern India until its Diaspora.
Some went to Palestine, others went to Europe, and others came to Brazil. In this way, the
people of that culture was challenged because their customs, their language, their clothes.
Wherever they went, the Gypsies were victims of prejudice, and they was stigmatized by local
people, without it affecting their culture. Thus, they remained and remain resistant until today
in their traditions, since the first Gypsies who came to Brazil in the large Portuguese ships.
Their traditions are orally passed, and each member can guard these treasures. The elderly
people are the “chests” that are kept in these traditions. Many of them are passed through their
stories. Some issues are addressed in this paper: and about school? How these children come
in? How are they cared? Are homogenized as other students or they are differentiated in their
context? The study shows that regular public schools don’t receive or treats differently those
students who have a different cultural way of life. Everyone is treated equally and there is no
distinction of the students. Other issues are relevant to the research: how the Teaching of
Geography can help these students and their communities which are part of a larger context,
the city? This question, among other issues, is discussed in order to enhance the Gypsy
culture.
Keywords: Schooling. Regular School. Geography Teaching.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................09
CAPÍTULO 1 – HISTÓRIA E ORIGEM.................................................................................17
1.1 Os Ciganos no Brasil................................................................................................20
1.2 Ciganos em Uberlândia.......................................................................................................24
CAPÍTULO 2 – A ESCOLARIZAÇÃO DOS CIGANOS.......................................................27
2.1 A Realidade Européia..........................................................................................................28
2.2 A realidade brasileira..........................................................................................................34
2.3 Pequena análise da realidade escolar cigana em Uberlândia-MG......................................37
CAPÍTULO 3 – POSSIBILIDADES E CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA ESCOLAR
PARA O POVO CIGANO........................................................................................................41
3.1 A Geografia escolar na Escola Comum...............................................................................41
3.2 Contribuições da Geografia para os Ciganos......................................................................45
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................49
REFERÊNCIAS........................................................................................................................52
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INTRODUÇÃO
Quando se fala dos Ciganos, em qualquer lugar que estejamos, haverá sempre um
estigma e preconceitos em relação a essas pessoas. Diz-se, por exemplo, que são pessoas
perigosas, são ladrões de cavalos e galinhas, que se deve tomar mais cuidado com as crianças,
pois os ciganos as roubam. Por onde costumam passar, sempre são tratados com desdém,
intolerância, são perseguidos e discriminados. O preconceito é produzido por todos, que têm
medo de se aproximar e conhecê-los, assim deixando de lado rótulos e qualificações negativas
(re)transmitidas ao longo do tempo.
Os Ciganos possuem uma cultura peculiar ao seu grupo étnico que é mantida por
meio da oralidade, repassada de geração a geração: suas danças, suas roupas coloridas, o jeito
de vestir das mulheres, principalmente – com grande quantidade de enfeites e cores, muitos
adornos que enfeitam o corpo, vestidos sempre longos, cabelos amarrados com lenços
coloridos com toda uma simbologia própria, além de uma grande quantidade de jóias de ouro,
em sua maioria.
Os Ciganos são identificados pelo pertencimento ao grupo, pelo local em que são
encontrados realizando suas tarefas cotidianas, por seus negócios sempre entre Ciganos. É o
que diz Pereira ([199?], p. 34): “[...] não se pode conhecer o Cigano isolado de seu contexto,
isto é, dos condicionamentos socioculturais de sua etnia. No entanto, as chaves da identidade
desse não se encontram no individuo, mas no grupo”.
Os Ciganos nômades são aqueles que armam acampamentos em tendas, geralmente
em locais já utilizados por eles há muito tempo, para os quais retornam de época em época.
Suas tendas são, na realidade as suas casas. Nelas, estão todos os utensílios dos quais
necessitam no dia-a-dia. Geralmente, há grande quantidade de animais domésticos próxima –
cachorros, principalmente, posto que estes ajudam na manutenção da segurança do
acampamento enquanto os homens estão comercializando seus produtos, que podem ser desde
relógios, panelas ou tachos em cobre. Tem-se a “catira”, denominação popular para a troca de
um produto por outro – seja de carros ou cavalos. Os ciganos realizam muitos negócios –
principalmente com pessoas que utilizam estes animais para fins diversos como, por exemplo,
pequenos fretes.
Quando se passa próximo a um acampamento Cigano, sempre nos chama os olhos a
quantidade de panelas de alumínio areadas, sempre muito brilhantes de tão limpas, que ficam
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expostas do lado de fora de suas tendas, de modo a encantar com seu brilho – como em uma
vitrine de comércio: o comprador entra para olhar as panelas expostas e acaba levando outros
produtos. Afirma-se que os Ciganos são excelentes vendedores.
Os Ciganos sempre fascinaram muitas pessoas que, na maioria das vezes, nunca
tiveram contato direto com os mesmos, mas que viam acampamentos Ciganos e ficavam
curiosos, tentando entender o modo de vidas destas pessoas, tão diferente, inclusive na
questão da língua cigana.
Segundo Borges (2010), seu pai, Manoel Horácio, era conhecido por amansar bois
para as juntas de carro de boi, meio de transporte utilizado na época de sua infância, quando
na fazenda de seu pai na região denominada “Córrego Feio” na época, área geograficamente
pertencente ao distrito de Chapada de Minas, município de Estrela do Sul.
Os Ciganos chegavam nessa região citada por Borges (2010), com as tropas de éguas,
mulas e cavalos, pediam permissão para armar acampamento – geralmente para pernoite,
outras vezes eram para passar algum tempo. Chegavam muito magros, com muitas crianças
sujas, mas mesmo assim com suas vaidades – roupas brilhantes, as mulheres com muitos
adornos.
A depoente relata que, enquanto os homens Ciganos conversavam com seu pai e tios,
as mulheres Ciganas iam logo ao encontro de sua mãe, Senhora Maria. Pediam “banha” para
cozinhar, sabão para lavar roupas, entre outros, tentavam vender alguns produtos como roupas
e enfeites, trocar algo do interesse de ambas as parte ou mesmo ofereciam a Quiromancia, a
leitura das mãos, posto que, naquela época, o dinheiro nas roças era muito raro. Borges (2010)
relata que muitos trabalhavam de sol a sol por um litro de banha; os homens tentavam
negociar seus cavalos ou outros produtos, tais como a sela e arreios em outros sítios na região.
Permaneciam na região por um tempo e, de um momento para outro, partiam para outra
localidade, ficando a amizade e a troca cultural, mesmo que de forma imperceptível.
Passaram-se muitos anos e muitas transformações importantes ocorreram, tais como os
avanços na saúde, na alimentação. Por outro lado, quando se passa próximo a um
acampamento Cigano, vê-se que, na realidade destes, o tempo pouco mudou. Os Ciganos
nômades ainda permanecem em sua diáspora pelo mundo, viajando de um lugar para outro
conforme sua necessidade utilizam fogareiro ou fogão de lenha para preparar seus alimentos,
ainda usam roupas muito coloridas e ainda comercializam seus produtos – relógios, carros,
utensílios domésticos, enxovais e, muitos ainda, cavalos.
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Esta proposta de pesquisa é fundada primeiramente em uma grande curiosidade do
autor em relação à cultura dos Ciganos. Saber sobre as relações destes com os não Ciganos,
seus modos de vida, suas formas de garantir o sustento de suas famílias, decisões que os
movem quanto a mudar ou não de cidade em determinadas épocas de suas vidas. Motiva este
estudo a vontade de saber muito sobre pessoas que são uma cultura à parte e que não se
misturam, exceto em ocasiões específicas. Ainda que fosse uma tarefa difícil, sondá-los seria
a melhor maneira de realizar este trabalho.
Decidiu-se, então, optar por estudar o contexto escolar dos filhos das comunidades
Ciganas em duas escolas da Rede Municipal de Uberlândia, uma no setor Norte e outra no
Setor Oeste desta cidade, que oferecem ensino desde a série introdutória até o nono ano,
antiga oitava série do Ensino Fundamental.
Nessas escolas – principalmente na escola do setor Oeste – há várias crianças Ciganas,
e o maior número destes alunos encontra-se nas séries iniciais. Soube-se, pela direção da
Escola, que, por motivos, raríssimos alunos Ciganos chegam ao nono ano. Alguns devido à
idade de maturidade para a Cultura Cigana – entre 12 e 13 anos – época em que se dão o
trabalho e o matrimônio.
Para a realização da pesquisa, com as devidas autorizações da Secretaria Municipal de
Educação, aplicou-se um questionário a professores de Geografia e outras disciplinas.
Realizou-se, junto ao Diretor e ao Supervisor pedagógico, uma entrevista informal, de forma a
ter-se um maior entendimento do universo a ser estudado, e com o objetivo maior de discutir
como o Ensino de Geografia poderia contribuir com estes alunos.
O autor dividiu o trabalho ema em três capítulos, sendo o primeiro destes denominado
como - História e Origem. Este descreve sobre a história dos Ciganos, suas possíveis
origens, sua diáspora pelo mundo, seus conflitos étnicos com outros povos e lendas
relacionadas a estigmas sofridos.
A cultura Cigana é rodeada de grandes mistérios que os caracterizam ainda mais como
povos de qualidades distintas dos demais povos. Outros povos são distintos por peculiaridades
intrínsecas, mas os Ciganos estão enraizados em processos e lendas que os caracterizam,
justificando suas mudanças de um local para outro, sejam estas mudanças cíclicas ou apenas
para visitar parentes em outras localidades. O mistério de andar ou vagar com a liberdade de
ser Cigano por entre localidades diferentes é justificado por meio de lendas (Paramich).
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No capítulo será apresentada ainda a trajetória dos Ciganos no território brasileiro,
desde a entrada destes nas terras do Império Português, relatando-se um pouco do sofrimento
e de poucos momentos de alegria vividos pelas Comunidades Ciganas no Brasil – marcados
por perseguidores, bem como preconceitos e qualificação como uma subespécie humana. Vale
dizer, para os Ciganos, sobressair é a palavra de ordem, bem como manter fiel às suas crenças
e costumes, algo que será percebido nesse primeiro capítulo.
Finaliza-se este capítulo tematizando a vivência dos Ciganos na cidade de Uberlândia,
conhecendo-se um pouco de sua história local, suas atividades voltadas à sobrevivência, bem
como os contatos com os não Ciganos, denominados por eles como Gadjo.
O Segundo capítulo denominado como – A escolarização dos Ciganos. A proposta
deste capítulo é tentar esclarecer um pouco sobre a realidade educacional das crianças ciganas
na comunidade não Cigana, uma vez que ainda não há uma escola que seja voltada apenas a
essas crianças.
São levantadas questões sobre até que ano escolar elas costumam permanecer nas
escolas, se permanecem ou não na escola e o porquê de sua saída prematura, antes de se
completar a carga total dos ensinos Básico e Médio. É sabido através da Diretoria das Escolas
pesquisadas que a evasão escolar acontece entre os doze e treze anos de idade, justamente no
momento em que se preparam para os laços de matrimônio e viagens de trabalho com os pais.
No capítulo será ainda visualizada a realidade da comunidade européia no contexto
Cigano, os motivos que levaram esse povo a adotar medidas que viabilizassem a educação de
crianças Ciganas e a inserção de suas famílias no contexto social e econômico dos países do
bloco Europeu para comparar com a realidade brasileira que é bem distinta e está muito longe
do que se deu na Europa com políticas públicas totalmente diferentes. O contexto Cigano no
Brasil é outro – caracterizado pela homogeneização das culturas principalmente pelas
instituições escolares; a distinção cultural somente é lembrada em pequenos teatros realizados
principalmente em pré-escolas e nas datas específicas como dia do Índio, ou da princesa
Izabel com a “libertação dos escravos”. Os Ciganos têm seu dia comemorativo instituído em
2006 pelo Ministério da Cultura como o dia 26 de maio, meramente. Nas escolas públicas não
há comemoração no dia do Cigano; não se decretam feriados, não altera nada, sequer o dia do
Cigano é lembrado.
O terceiro e último capítulo – Possibilidades e Contribuições da Geografia Escolar
Para o Povo Cigano. Neste, mostra como o ensino de Geografia pode ajudar aos Ciganos,
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inserindo-os no contexto social, sem que, para isso, sejam eles homogeneizados no
processo educacional, social, político e econômico vigente.
Neste capitulo ainda será visualizado um pouco da realidade da sala de aula do
introdutório ao 5º Ano, com contribuições dos profissionais de Educação da Escola localizada
no setor Oeste, principalmente. Essa escola tem um número considerável de alunos Ciganos.
A direção da outra escola a que se refere o estudo disse que não haveria como ou não saberia
identificar esses alunos junto a outros alunos, fato que chama a atenção para o processo de
homogeneização. Observamos que não há na ficha de matrícula da escola um item para raça
ou etnia.
O povo Cigano é constituído tradicionalmente por uma união cultural que os
caracteriza de forma distinta dos demais povos, seja pela associação de todos os seus hábitos
ou por sua forma de conduzir a vida. Essas tradições são herdadas ao longo da história desse
povo; são estabelecidas e inscritas no dia a dia e por meio das gerações que se
intercomunicam. Os ciganos consideram-se excelentes comunicadores. E são, seja pela forma
como realizam seu comércio e suas transações financeiras, seja pela transmissão desta cultura
pela oralidade, o que também os caracteriza.
Muitos dos cidadãos nas comunidades Ciganas existentes não são pessoas analfabetas
– pelo contrário, sabem ler, escrever, fazem contas, têm acesso a telefones celulares, TVs de
diversos modelos, possuem equipamentos eletrônicos diversos, são portadores de Carteira de
Identidade, CPF e Título de Eleitor. Alguns são adeptos do Catolicismo, outros seguem linhas
evangélicas. São cidadãos brasileiros com um modo distinto de viver e realizar suas
manifestações culturais, fazendo parte de uma comunidade de pessoas que têm, na grande
maioria, uma alfabetização instrumental – sabem ler, escrever o suficiente para conduzirem-se
no universo da sobrevivência:
Elas têm uma história de oralidade como forma de conhecimento do mundo, não têm
uma história de conhecimento do mundo como nós temos. A nossa história é, principalmente,
de escrita e de leitura, e da delas de oralidade, a Oralidade liga-se às produções em imagens e
sons por muitos fios, mas principalmente pelo seu realismo e pela sua sucessividade no
tempo. (ALMEIDA, 1994).
Em uma leitura de Almeida (1998) pode-se perceber que o fator primordial da
Oralidade da Cultura Cigana é o tempo. Isto enfatiza suas características inerentes dessa
cultura por meio de trocas entre grupos, repercutindo suas danças e mistérios nas condições
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de vida em que estão inseridos, sejam Ciganos nômades com suas condições mais limitadas
ou grupos sedentários que já estão estabelecidos em uma estrutura que oferece um pouco mais
de conforto e até altera o modo de viver destes.
A coletividade do povo Cigano é marcada por sua união e o seu modo de comunicar
por meio da história, como afirma Claval (1995, p. 12): “os indivíduos e os grupos, são
marcados pela Educação que receberam: a cultura aparece, assim, como uma herança.” É essa
herança que os caracteriza como Povos Ciganos, mantendo costumes e condições que os
cercam há gerações.
Os Ciganos, apesar de estarem inseridos em um processo de produção oral da cultura,
são influenciados pelos processos eletrônicos que invadem as suas vidas via aparelhos como
as máquinas digitais, filmadoras, celulares com câmeras e a Internet. Muitas dessas mídias
mostram abertamente para a sociedade a intimidade do povo Cigano. Mas isto não enfraquece
a cultura Cigana, pois representa pouco do que realmente é vivido por eles no seu dia a dia.
As imagens podem mostrar cores, gestos e faces, todavia existe muito mais não captado por
estas.
Os sons da fala em uma sociedade global são orais, são signos inteiros, glóbulos
sonoros, que são utilizados para que se diga o que se vê, sente, ama, pensa, etc. São contínuos,
ininterruptos, seus silêncios são pausas altamente significantes e cessam por vontade do
falante ou do ouvinte. São produções do corpo todo, uma adaptação milenar de alguns órgãos
que têm outra função que não a da fala. Enfim um constrangimento consciente e natural de
garganta, pulmões, glote, dentes, língua, cavidade bucal e nasal, para que o corpo produza um
sentido lingüístico que se torna significativo ao final da ultima palavra, cuja elocução
presentifique-se como significado pleno de todos os sons ditos anteriormente, não como
somatória, mas como totalidade semântica (ALMEIDA, 1994).
Os Ciganos sempre foram povos globais, sempre interagiram com outros povos – seja
na condição de escravos, servos, parceiros, comerciantes ou professores – a fim de
aproveitarem oportunidades para manterem-se vivos frente às adversidades. Em sua origem, a
diáspora pelo mundo e o contato com outras culturas caracteriza os Ciganos como povos
globalizados, mas únicos em suas tradições. É única neles a linguagem corporal e os olhares
que dizem tudo. O povo cigano tem características únicas e são dotados de uma coletividade
milenar; mesmo não possuindo uma transmissão cultural escrita e sim por meio de uma
oralidade através de uma língua própria, o Romani, estes mantêm tradições seculares.
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Tradições que os mantêm unidos por sua cultura e todas as atividades empreendidas
pelo coletivo de seu grupo, utilizando não de escritas, mas de transmissões orais de seus
costumes que os caracterizam como Ciganos.
Ong (1998, p. 19) caracteriza a oralidade em dois processos: “Oralidade primária”, a
oralidade de uma cultura totalmente desprovida de qualquer conhecimento da escrita ou da
impressão. Esta é “primária” em oposição à “Oralidade Secundária” da atual cultura de alta
tecnologia, na qual uma nova oralidade é alimentada, pelo telefone, pelo rádio, pela televisão
ou por outros dispositivos eletrônicos cuja existência e funcionamento dependem da escrita e
da impressão. Partindo desta análise e sabendo terem eles uma alfabetização instrumental ou
um baixo nível escolar, percebe-se que os Ciganos estão inseridos no contexto de uma
oralidade secundária.
Na realidade as culturas orais produzem realizações verbais impressionantes e belas,
de alto valor artístico e humano, que já não são sequer possíveis quando a escrita se apodera
da psique. Contudo, sem a escrita, a consciência humana não pode atingir o ápice de suas
potencialidades, não é capaz de outras criações belas e impressionantes, neste sentido a
oralidade, precisa e está destinada a produzir à escrita (ONG, 1998).
Partindo deste princípio e seguindo a leitura de Ong (1998), pode se perceber que a
oralidade limita-se ao que foi produzido e reproduzido através dos tempos apenas a partir da
recordação do que é culturalmente adquirido. A partir do momento em que a escrita começa
fazer parte do processo de construção de saber cultural, perde-se muito da oralidade, pois a
escrita instiga a pensar e reescrever de forma distinta, colocando em risco o que já é
estabelecido como cultura.
Os indivíduos ciganos raramente chegam a cursar o Ensino Médio – o que seria um
bom nível escolar para a grande maioria destes. Entretanto, um menino com doze anos de
idade já é considerado um homem. A menina é considerada mulher (entre doze e treze) anos e
pronta para o casamento logo após a primeira menstruação. Assim, a permanência por um
maior de tempo em uma escola poderia gerar conflitos nas crianças ciganas – e um conflito
maior nos pais. A escrita constitui um modo dialético de se perceber a realidade e os
processos culturais Ciganos não se baseiam em escritas e sim na oralidade.
Segundo Ong (1998, p. 20), “quando uma História Oral contada e recontada, não está
sendo narrada, tudo que dela subsiste é seu potencial de ser narrada por certos seres
humanos”. Os meios de se contar uma história dependem muito mais de quem conta do que
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do próprio enredo, pois podem ser usados diversos meios para se chamar a atenção, tais
como os gestos, a entonação da voz entre timbres graves e agudos de modo a não dispersar os
ouvintes e ou para que os mesmos não percam o foco da lição.
É fundamental se destacarem as histórias do povo contadas por ele mesmo, não só por
refletirem essencialmente sua tradição, seus costumes, sua cosmovisão, mas também por
ditarem normas de comportamento para os que as ouvem: são os mais velhos passando o seu
verdadeiro ouro – os paramiches – aos mais jovens e as crianças, ao pé do ouvido, de boca em
boca, de geração em geração (PEREIRA, [199?] ).
O bem maior de todos os Ciganos é constituído por todos os seus indivíduos que os
caracterizam. Um Cigano não é Cigano sozinho: necessita de outro para compreender a si
mesmo. Os valores dos grupos residem também no respeito para com os mais idosos, uma vez
que estes representam verdadeiros “livros” para todos os Ciganos. Os anciãos, por meio de
suas histórias, os paramiches, ministram ensino sobre verdadeiros valores o Cigano deve ter
ou saber para compreender o mundo que o cerca.
Na sociedade atual, pouco se nota respeito para com os mais vividos. Algo nos
Ciganos muito belo é o respeito de todos para com todos: de uma criança, que representa
futuro, a um ancião, que constitui a história do grupo. Todos fazem parte da conversa na casa
Cigana. Mesmo as crianças participam ativamente de determinados assuntos, tais como os
negócios da família. No entanto há um momento em que as crianças não participam das
conversas, é o que se percebe na fala de Fonseca (1996): “o único tópico que as crianças são
permanente excluídas das conversas adultas é concernente ao sexo e reprodução”. Ainda em
conclusão da autora, longe dos pais, principalmente em fase adolescente, as crianças ciganas
trocam informações entre si.
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CAPÍTULO 1
HISTÓRIA E ORIGEM
A origem do povo Cigano é algo que não se pode determinar com exatidão, posto que
há muitas histórias e dados quanto à origem e ao pertencimento a raízes genealógicas desse
povo. Sempre há uma conotação de mistério e encanto quando se fala sobre os ciganos, o não
saber exatamente de onde vêem, seus modos e sua forma de pertencimento nos grupos e suas
estruturas hierarquizadas geram um prestígio exótico, poético misterioso e até romântico,
isto é uma forma de manter qualidades de uma cultura, mesmo que seja esta transmitida por
gerações, através da oralidade da cultura Cigana assim como do seu pertencimento ao grupo.
Para Teixeira (2008):
O que nos parece claro é que os Ciganos não são um grupo religioso ou uma
nacionalidade. Além do mais, preferiu-se não chamar os Ciganos de povo,
pois também esta expressão tem significados pouco precisos e muito
ambíguos. A dispersão e o nomadismo, que tiveram início há mais de dez
séculos, propiciou tantos contatos interétnicos e adaptações às condições
espaço-temporais, que aplicar qualquer termo para o conjunto das
comunidades ditas Ciganas é um tanto arriscado (TEIXEIRA, 2008, p. 6).
O dicionário Aurélio on-line, em definição do termo “Cigano”, qualifica a constituição
de um povo como segue:
Indivíduo de um povo nômade, provavelmente originário da Índia e
emigrado em grande parte para a Europa Central, de onde se disseminou,
povo esse que tem um código ético próprio e se dedica à música, vive de
artesanato, de ler a sorte, barganhar cavalos, etc. [Designam-se a si próprios
rom, quando originários dos Bálcãs, e manuche, quando da Europa central.]
[Sin.: boêmio, gitano; calom (bras.); judeu (MG); quico (MG e SP).]
Conforme se afirma no verbete, as obras literárias seguem o mesmo conceito, e
seguindo a obra de Simões (2007, p. 18), “o povo Cigano é identificado na história a partir do
ano de III a.C. Existem sinais que localizam sua origem no norte da Índia, mais exatamente na
região do Punjab, onde hoje se encontra o Paquistão”.
Se fizermos uma comparação dos povos localizados na Índia com a etnia Cigana,
teremos muitas semelhanças físicas – tais como a cor da pele, os traços do rosto, a semelhança
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dos trajes e vestimentas que requerem uma grande quantidade de brilho e cores, como se
percebe no dizer de Pereira [199?] abaixo.
Existem, no entanto, explicações cientificas
para a origem dos Ciganos, pois a par de estudos comparativos, sobre o
modo e vida, a capacidade espiritual (superstições de signos ocultos e
cabalísticos), trajes, ofícios ( ferreiros, músicos e adivinhos), caracteres
físicos dos Ciganos e de tribos nômades que há no noroeste da Índia, atual
Paquistão... estudos etnolinguisticos (séc XVIII) que comprovaram que o
romanê – língua dos Ciganos é aparentado com o sânscritos, língua da Índia
Antiga” (PEREIRA, [199?] , p. 35)
Seguindo essa mesma linha,
[...] a pesquisa pela análise dos grupos
sanguíneos, com a inclusão de elementos bioquímicos referentes a
hereditariedade, tem fornecido algumas pistas sobre a origem Cigana. Uma
das mais fortes é apontada tanto pela antropologia física como pela genética
de populações e identifica a Índia como seu local de origem (SIMÕES,
2007, p. 30).
Em relação à liberdade dos ciganos, existem algumas lendas. Em uma leitura de
Simões (2007) a liberdade tão característica dos ciganos se dá ao fato de que, quando Deus
criou o mundo, logo em seguida criou o homem branco e o homem negro, desta forma, Deus,
ficou tão satisfeito com o resultado que fez em seguida o homem Cigano, e deu a ele a
liberdade para andar livre pelo mundo.
Além das conotações romântica e poética a que a lenda nos remete, a lenda refere-se
também à diáspora do povo Cigano pelo mundo, a respeito do que não se pode afirmar com
exatidão o porquê. A partir século XII, saíram para o mundo em duas vertentes como cita
Simões (2007, p. 97): “o asiático (Ciganos da Palestina) e o Europeu (Ciganos da Pérsia e da
Armênia, daí foram por todo o continente europeu”.
Na história de vida do povo Cigano há muitas lacunas que são preenchidas com fatos,
lendas, histórias que justificam a origem deste, assim como engrandece e inspira
pertencimento.
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Muito Ciganos afirmam serem descendentes dos Egípcios em função de uma
história que é contada por muitos, como afirma Teixeira (2008, p. 5): “No Brasil os Ciganos
afirmam também que procedem do Egito: e contam a velha lenda de que, por terem recusado
hospedagem a Virgem Maria, quando ela fugia, peregrinam sobre a terra, dispersos, sem
pátria, por todos os tempos”.
Quando ouvimos essas lendas e contos, podemos ser levados a qualificá-los como
qualidade de coitados ou castigados por não terem um local para se fixarem. No entanto, em
contrapartida, em muitos lugares e espaços os Ciganos fixam raízes e se tornam sedentários,
mas ainda fazendo-se das andanças o seguimento da cultura.
Em Teixeira (2008) percebemos que muitas histórias podem ser contadas sobre a
verdadeira diáspora dos Ciganos pelo mundo – como a narrativa de que eles negaram auxilio
à mãe do Menino Jesus. E segundo o autor por esta condição de negação de auxilio à Virgem
Maria, receberam uma praga ou maldição que os fizesse andar de um ponto ao outro pelo
mundo sem estabelecerem raízes e se passarem de mendicantes para sua sobrevivência.
Os Ciganos eram sempre vistos como desprezíveis, conforme afirma Teixeira (2008,
p. 4): “desde o século XV a palavra “Cigano” é utilizado como insulto”. O termo aparece
registrado pela primeira vez em português e emerge em uma peça teatral com o título A farsa
das Ciganas, de Gil Vicente, que escreveu outras peças teatrais provavelmente em 1521.
Nessa obra, os ciganos são considerados originários da Grécia.
Em leitura de Simões (2007), percebe-se que muitas outras suposições, mesmo em
histórias, deixam uma incógnita a respeito da real origem. No entanto, é mais enfatizado o
subcontinente indiano. Em alguns lugares no Brasil por onde os Ciganos passavam, por não
entenderem muito a comunicação Cigana, os nativos chamavam-nos de turcos. Pelo fato de a
sua fala destes serem pouco entendidas, subentendia-se que eram oriundos também da
Turquia, ou Líbano, como muitos vendedores de porta em porta, os mascates caixeiros.
Os Ciganos do Ocidente podem ser divididos em três grandes grupos: o Grupo Rom,
com um maior contingente populacional e disperso por uma infinidade maior de países. Este
grupo é, por conseqüência, dividido em subgrupos que são: os Kalderash, que trabalham com
caldeiras, os Matchuara, os Lovara e os Tchurara, instalados na Europa Central e Bálcãs, a
atual Romênia. Segundo Moonen (2008), o fato de muitos Ciganos serem denominados
20
romenos ou mesmo fazerem referência à Romênia quando se fala dos ciganos encontra
razão no fato de que estes foram, por muito tempo, escravos naquele pais, sendo libertados
somente em meados do século XX. Por isso, receberam uma influência muito forte da cultura
romena. Sendo assim, a Romênia constituiu-se berço para muitos Ciganos.
Ainda em leitura de Moonen (2008) os Rom são os verdadeiros Ciganos, pois grupo
proclamou-se superior em nobreza e autenticidade em relação aos demais. O segundo grupo,
os Sinti, são mais numerosos em países como Alemanha, Itália e França, e falam a língua
Sintó. O terceiro grupo, os Calon, cuja língua é o Caló, teve maior presença na Espanha e
Portugal. Deste grupo são as famílias que primeiro vieram para o Brasil como imigrantes
Ciganos de forma não voluntária.
1.1 Os ciganos no Brasil
No Brasil, a maioria dos Ciganos é pertencente ao Grupo Rom ou ao grupo Calon.
Estes, podem ser diferenciados pelas suas profissões. Entre outros aspectos, os que muda, de
lugar para lugar, é a denominação dada pelos gadjos aos Ciganos: Turcos, Gintanos, Gipses.
O primeiro Cigano que chegou ao Brasil foi João Torres, que veio para cá não a
convite da coroa Portuguesa, para habitar uma terra nova e cheias de possibilidades: João
Torres foi deportado.
Não há dúvidas alguma de que os primeiros Ciganos que desembarcaram no
Brasil foram oriundos de Portugal, e que estes não vieram voluntariamente,
mas expulso daquele pais. Foi o que parece ter acontecido, por exemplo, já
em 1574, com um certo João Torres e sua mulher Angelina, que foram
presos apenas pelo fato de serem Ciganos. Inicialmente João foi condenado
às galés e Angelina deveria deixar o país dentro de dez dias, levando seus
filhos. (TEIXEIRA, 2008, p.15).
Ainda na leitura de Teixeira (2008), João Torres supostamente pagou suborno a
oficiais portugueses a fim de trazer consigo sua mulher e filhos.
21
Em relação aos ofícios dos Ciganos, estes são: consertadores de caldeiras, artistas de
circos, poetas, músicos, dançarinos, dentre outros. Sendo caracterizados pela diversão,
estavam presentes junto a reis e imperadores. (TEIXEIRA, 2008).
Ainda em Teixeira (2008), até o momento em que eram úteis, foram tratados com
algum valor. A partir do instante que perdem a função, foram marginalizados e tratados com
indiferença por todos. Os Ciganos do Brasil foram para cá enviados em grandes levas, já no
inicio do século XVIII. Não foram recebidos com bons olhos, sendo tratados como uma
subespécie humana, como ladrões, trapaceiros, sujos, dentre outras qualificações.
Não tiveram tranqüilidade para se deslocarem sem serem vigiados. Um dos
perseguidores mais ferrenhos dos ciganos foi a Igreja Católica. Como os Ciganos não tinham
uma fundamentação religiosa ou aceitação ao cristianismo, a igreja os via como hereges e
insubordinados à Coroa.
Padre Raphael Bluteau, autor do primeiro dicionário de Portugal,
repercute as preocupações que a Igreja tinha com o comportamento
considerado herege dos Ciganos, no início do século XVIII: no seu
dicionário segue a definição abaixo dos Ciganos: ‘Ciganos – Nome que o
vulgo dá a uns homens vagabundos e embusteiros, que se fingem naturais
do Egito e obrigados a peregrinar pelo mundo, sem assento nem
domicílio permanente, como descendentes dos que não quiseram
agasalhar o Divino Infante quando a Virgem Santíssima e São José
peregrinavam com ele pelo Egito’ (TEIXEIRA, 2008 p. 2).
Definições bizarras foram usadas para denegrir a imagem destas pessoas – o que é
pior – foram aceitas pela grande maioria da população, ainda prevalecendo até hoje, por
conivência ou ignorância.
Prevaleceu(e) o imaginário de que os Ciganos são povos
contrários ao cristianismo e contra Jesus, portanto inimigos da Igreja.
Outras formas de repúdio contra os Ciganos foram promovidas por regimes
autoritários durante a Segunda Guerra Mundial, em meados do século XX. Entretanto, nem
mesmo a Revolução Industrial conseguiu colocar os Ciganos no modo de produção capitalista
como força de trabalho ou sob o domínio da ideologia capitalista, pois estes sempre
permaneceram fieis a seus costumes e ao seu modo de vida. Teixeira (2008) aponta que a
Quiromancia ou a arte de ler a mãos a fim de prever o futuro, sempre praticada pelas
22
mulheres, foi e é uma arte dos Ciganos, mas também, uma forma de venda de serviços por
onde estes circulassem um meio de prover algum recurso para a família. Em relação a essa
arte, a igreja julgou e condenou os ciganos, qualificando-os como feiticeiros ou praticantes de
atos pagãos.
No entanto, os Ciganos mantinham e mantém os mistérios de sua cultura, que
afastavam as pessoas. Por outro lado, não se misturavam facilmente e não queriam
comprometer sua coexistência com os não Ciganos, pois dependia desta e deles. Assim,
apenas realizavam negócios.
Seguindo as referencias pesquisada, principalmente Teixeira (2008) e Moonen (2008),
Não há notas ou documentos que atestam uma nova vinda de Ciganos oriundos de Portugal
para o Brasil, entre 1574 a 1685, após a vinda do Cigano João Torres e sua família. Mas após
essa data, começa haver registros sobre deportação ou banimento dos Ciganos para as
colônias Portuguesas, para vários estados do Brasil e para Países da África como a Angola.
No Brasil, os estados que mais receberam estes cidadãos foi Maranhão e Ceará. (Teixeira,
2008).
Em 1686 há uma leva de Ciganos enviados para os estados do Maranhão e do Ceará
no sentido de mantê-los longe dos centros e portos brasileiros, no Rio de Janeiro e em
Salvador. Também havia o objetivo de deixá-los o mais longe possível das áreas de mineração
em Minas Gerais e Áreas de agricultura (TEIXEIRA, 2008).
Nos estados que estavam destinados a receber os Ciganos, muitas recomendações
eram impostas, tais como não deixar que retornassem a Portugal e nem que fizesse uso de sua
língua. O objetivo era fazer com que estes esquecessem seus costumes e sua cultura, afinal a
liberdade cigana – eram homens livres e sem pátria – gerava certos incômodos nas elites
portuguesas e na igreja. Os decretos feitos para o banimento de Ciganos eram emitidos por
atos de Estado em praça pública com data marcada e anunciados por oficiais agentes de
governo. Antes do embarque nos portos portugueses todos ficavam acorrentados em praça
pública aguardando o momento de embarque para seu destino (TEIXEIRA, 2008).
Comunidades inteiras foram deportadas para o Brasil, não importando se eram velhos,
mulheres ou crianças. Para a Metrópole, todos eram criminosos simplesmente por terem
nascidos Ciganos.
23
Eu, Dom João, pela graça de Deus, etc., faço saber a V. Mercê que me
aprouve banir para esta cidade vários Ciganos – homens, mulheres e
crianças - devido ao seu escandaloso procedimento neste reino. Tiveram
ordem de seguir em diversos navios destinados a esse porto, e, por lei
recente, o uso de sua língua habitual, ordeno a V. Mercê que cumpra esta
lei sob ameaça de penalidades, não permitindo que ensinem a dita língua
a seus filhos, de maneira que daqui por diante o seu uso desapareça
(KIDDER, 1980, p. 39 apud TEIXEIRA, 2008 p. 10).
Os Ciganos não eram bem vistos em lugar nenhum e, se estavam sendo banido para o
Brasil, algum motivo havia. Era isso o que todos pensavam. Mas estavam sendo enviados por
não se adequarem a formas impositivas feitas pela Coroa portuguesa, que os qualificava como
presunçosos, sem envolvimento com o trabalho servil e rotineiro. E isto poderia gerar certo
desconforto nas autoridades locais do Brasil colônia, pois não eram donos de engenhos,
escravos ou outro modo de produção e ainda gozavam de certa liberdade que poderia gerar
insatisfação entre os demais súditos da coroa. Não iriam querer que estas pessoas, de forma
alguma, pudessem interferir no modo de vida e dominação exercida pela metrópole
portuguesa, contra isso foram criadas algumas medidas de segurança.
Em Minas Gerais, no final do século XIX, praticamente todas as cidades possuíam os
Códigos de Posturas do Município, que têm como meta organizar os interesses sociais e trazer
um melhor cuidado para com o que pode ou não acontecer em vias públicas, bem como os
cuidados com horários. Isso é ainda um instrumento de condução moral do espaço urbano em
uso nos tempos atuais.
Em relação às medidas legais, foram criados artigos que proibiam a realização de
comércio com Ciganos. Teixeira (2008) cita que “o ultimo código de postura que tivemos
conhecimento é o de Dores de Boa Esperança (Atual Estrela do Sul), de 1895, quando é feita
atualização do código de 1872, que apresentava menções a Ciganos sendo a ultima referência
citada de código de posturas que citam Ciganos”.
Para Teixeira (2008), a partir do momento em que os Ciganos começam a fazer parte
do processo de formação das cidades mineiras, o controle de entrada e saída deste tornou-se
um problema público, de segurança e qualidade de vida das populações locais. Assim, normas
como os Códigos de Posturas foram efetivadas para que os ciganos não adentrassem aos
centros urbanos e que, quando por estes locais passassem com suas caravanas, fossem de
antemão advertidos a fim de que não praticassem crimes como o roubo de animais, assaltos a
24
comitivas, brigas, dentre outros delitos. Todavia, muitos destes crimes eram praticados por
não Ciganos e a culpa era sempre imputada aos Ciganos.
Desta forma, muitas caravanas Ciganas eram já avisadas por cidadãos e policiais até
mesmo antes de entrar no perímetro urbano. Ficavam então os Ciganos acampados à margem
das cidades. Mesmo assim, os Ciganos não se intimidavam e, mesmo naquela época, século
XIX, iam aos espaços públicos vender seus serviços e oferecer a leitura de mãos. Para os
homens Ciganos, mesmo sendo sitiado pela ordem policial, o espaço público que é o espaço
de oportunidades para negócios e conhecimento de possíveis ações contra eles mesmos por
partes dos agentes de segurança (TEIXEIRA, 2008).
O higienismo praticado no Rio de Janeiro e a abolição da escravatura de 1888 (muitos
Ciganos trabalhavam com comércio de negros) foram dois motivos da grande demanda de
Ciganos para o Estado de Minas Gerais entre os séculos XIX e XX, aumentando no Estado a
população destes à procura de oportunidades de melhoria de vida para os grupos aos quais
pertenciam (TEIXEIRA, 2008).
Desta forma houve uma demanda muito grande por novas frentes de possibilidades de
ganhos para Ciganos, seja através de seus habituais serviços, de caldeireiros, ferreiros,
comerciantes entre outros, pois a vastidão do território brasileiro era cheio de possibilidades
para todos.
1.2 Ciganos em Uberlândia
Os Ciganos são povos que, há muito tempo, passam por Uberlândia com suas
caravanas, suas famílias e os costumes inerentes à sua cultura, que permanecem ainda
resistentes mesmo diante da grande modernidade presente no dia a dia. Estes estão inseridos
na cidade de Uberlândia, participando da formação, do crescimento da cidade, de sua
construção por meio do comércio local, usando recursos de infra-estrutura, mesmo de forma
bem tímida, como é o caso da água. Compram produtos nos comércios – como os bens de
primeira necessidade – e também faz negócios como a venda de cavalos e a “catira” de carros
com compensação financeira de uma “volta”, que é um valor em dinheiro pelo produto de
melhor qualidade. Para Vaz (2003):
25
Nota-se então, que o cavalo sempre fez parte das atividades Ciganas,
mesmo antes de virem para Ipameri; e que nas barganhas eles geralmente
buscam o lucro. Na barganha dos animais, aceitar troca por outro animal ou
por objetos (como espingarda ou relógio) é fundamental. Para o barganhistaCigano a “volta”, seja em dinheiro ou objetos é importante, pois é nisto que
consiste seu lucro (VAZ, 2003, p. 59).
Muitos fatores determinam a chegada de Ciganos em Uberlândia: a estrutura,
comércio forte, o pólo industrial diversificado, com grandes indústrias aqui estabelecidas,
assim como as rodovias Estaduais e Federais que cortam a cidade, fazendo ligação com
diversos outros pontos do país. Todos esses fatores são atrativos de bons negócios para vários
os Ciganos. É uma cidade em que “corre muito dinheiro”.
Nota-se que há muitos acampamentos Ciganos estabelecidos na cidade, o que
demonstra que Uberlândia é uma cidade que acolhe bem a todos os que chegam aqui, afinal a
cidade é composta na sua grande maioria de migrantes, Ciganos ou não.
Mas em outros locais não há recepção como em Uberlândia, “[...] além disso, a cidade
(Uberlândia) não pratica uma política de hostilidade aos Ciganos, a exemplo do que ocorre
em várias localidades do interior de São Paulo, onde estes são constantemente perseguidos e
proibidos de erguerem as barracas” (FONSECA, 1996).
Assim em sua grande maioria, possuem Títulos de Eleitor e reivindicam melhorias
para sua comunidade. Os Ciganos de Uberlândia sempre tiveram bons contatos com lideres e
grupos políticos da cidade e sempre permitiram que os acampamentos Ciganos fossem
visitados em busca de apoio político.1
Os seus lares são constituídos por grandes tendas de lona, erguidas em áreas de lotes
vagos na cidade ou até mesmo em lotes pertencentes a eles ou a outros Ciganos. Alguns
bairros da cidade – como Nossa Senhora das Graças, Marta Helena, Custódio Pereira,
Umuarama, Mansour, Pampulha – chegam a apresentar como característica urbana
constituinte a presença desses cidadãos, pois são locais historicamente já habituados à
presença dos Ciganos em suas idas e vindas.
Os Ciganos nômades armam acampamentos com outras famílias que estão juntas em
viagem. No interior de suas tendas, os cômodos são separados por móveis que delimitam a
1
Informação fornecida por membros Ciganos em um acampamento Cigano do Setor Oeste da Cidade de
Uberlândia-MG.
26
divisão entre um cômodo e outro. A tenda, para os Ciganos, tem uma conotação muito
especial. São sempre armadas uma ao lado da outra e colocadas de forma a preservar a
privacidade da família, e gerar proteção para o grupo, de forma que nenhum estranho entre no
acampamento. A tenda representa abrigo para suas famílias: é o aconchego para receber
amigos, celebrar dias de festas ou tristeza.
Os Ciganos de Uberlândia não vivem exclusivamente em tendas armadas e terrenos:
há muitas famílias de Ciganos em Uberlândia que têm endereço fixo, tornaram-se sedentárias,
mas continuam a cultura Cigana, vivendo no conforto de uma casa como os não Ciganos,
mas fazendo suas confraternizações nas tendas.
Seus acampamentos são montados em pontos estratégicos. Geralmente o são onde se
sabe que podem contar com auxílio de não Ciganos, que, com gestos de solidariedade, os
ajudam com água potável e energia elétrica sendo pagos por esses recursos.
Em outro momento, ficam próximos a locais de grande movimento – como vias de
trânsito – e onde possam ter acesso a pastos para os cavalos, pois muitos Ciganos ainda
trabalham com cavalos. Nos negócios dos Ciganos, vendem seus produtos sempre
supervalorizados, iludindo os compradores com a necessidade da utilização do produto ou as
vantagens que o objeto poderá proporcionar ao cliente.
Em uma cidade do tamanho de Uberlândia, às vezes passa despercebida a magnitude
de um acampamento Cigano, um atrativo em relação à beleza e organização. Lembram
sempre os circos, com tendas exóticas e povos exóticos. Cabe dizer, devemos respeitá-los em
seu modo de vida, sem julgar, discriminar ou estigmatizar o que não conhecemos, algo muito
usual em nossa sociedade contemporânea, mesmo porque a cultura cigana antecede a cultura
que herdamos da colonização lusitana.
Mesmo com toda esta carga de história acumulada desde seus antecessores na Europa,
os componentes de acampamentos Ciganos em nossa região deveriam estar a nossa frente em
muitas áreas de conhecimento do nosso ponto de vista, seja literário, humano e até cientifico.
Mas, não é isso que se percebe no capitulo seguinte, mostra que os ciganos em seu contexto
Europeu e brasileiro contemporâneo, vivem, muitos ainda apenas com uma informação básica
Escolar, sabendo apenas as operações matemáticas básicas e ler e escreve, fugindo do
adestramento imposto por uma escola regular que reflete uma sociedade condicionada por
conceitos e preconceitos sociais.
27
CAPÍTULO 2
A ESCOLARIZAÇÃO DOS CIGANOS
Para conhecer os ciganos, é preciso manter contato, aproximar-se do saber de suas
histórias, de seu modo de vida presente e passado. É preciso conhecer também como tratam
da Educação que têm, e como educam seus filhos; saber como a Educação pode ser-lhes útil e
o valor que a ela é dado.
A Educação, para estes, é interessante apenas para que seus filhos, principalmente os
homens, aprendam noções de matemática para poderem fazer contas e lidar com dinheiro sem
que sejam enganados, vivendo do comércio e do lucro nos negócios. Saber ler, escrever e
realizar as operações matemáticas básicas sem ter que depender de outros para realizar tais
tarefas já é algo suficiente para uma vida toda.
Em Uberlândia, várias escolas têm alunos Ciganos matriculados. A pesquisa trabalhou
de forma qualitativa com dados de duas escolas da rede Municipal de Ensino – uma no setor
Oeste e outra no Setor Norte da cidade de Uberlândia-MG.
A idade adulta para o Cigano chega muito se comparada com a idade considerada
adulta na cultura dos não Ciganos. Com 12 anos um menino cigano já é adulto. Na cultura
cigana, os meninos ajudam os pais em comércios e/ou viagens para trabalho e as meninas
permanecem em casa, ajudando as mães em seus afazeres domésticos que são muito
valorizados por um pretenso marido e para uma futura sogra (sob o olhar de quem fica a
esposa recém-casada). Saber cuidar de uma casa ou da tenda representa, assim, um valor
agregado.
As meninas, por outro lado, não são levadas à escola com muito interesse, é necessário
que seja preservada sua integridade, seja física ou moral esta integridade se refere a um
possível envolvimento com meninos não ciganos em condições afetivas, visto que uma
menina Cigana atinge sua maioridade independente de sua idade enquanto ser humano em
uma sua comunidade. Como se pode perceber na fala da professora Literatura, SENHORA
A.2, sobre a condição das meninas e das demais crianças da Escola do Setor Oeste.
Quando chegamos ao acampamento para saber do paradeiro de algumas
crianças que faltava às aulas, falamos com uma senhora que era a
matriarca da família e era a pessoa que comandava ali, fomos muito bem
recebidas e ela quis logo saber quem eram as crianças que faltavam as
aulas, no outro quase todas as crianças foram para aula, inclusive algumas
2
Depoimento fornecido no dia nove de novembro de 2010 na Escola do Setor Oeste de Uberlândia - MG
28
que tinham saído há muito tempo, exceto uma menina que já estava em
seu ciclo menstrual, e não podia misturar com pessoas solteiras.
(SENHORA A, 2010).
Em outro momento, ela relata sobre uma conversa que teve com uma de suas alunas
Ciganas sobre a relação entre o ciclo menstrual e o tornar-se uma mulher. Segundo a
professora, partir daí a menina-mulher, não pode mais freqüentar ambientes onde haja
meninos, devendo sempre estar acompanhada de outra pessoa da família que não seja solteira,
afim de não “se contaminar” ou ser influenciada, posto que a menina agora mulher já esteja
preparada para constituir a sua família. Esse fato é um dos motivos da evasão escolar.
Para muitos os Ciganos, a Educação formal é indiferente, enquanto que muitos dos
pais não Ciganos que não tiveram acesso à escola lutam para que seus filhos estudem o
máximo possível afim de ter um futuro melhor que o deles. Para a maioria dos pais Ciganos,
na análise da trajetória de estudo destes no passado, em comparação com a trajetória de seus
filhos hoje, há pouco progresso, pois a escola agrega pouco ao modo de vida cigano.
2.1 A Realidade Européia
A escolarização de crianças Ciganas no continente europeu, analisadas principalmente
em Portugal e Espanha, não é tão distinta da realidade brasileira, pois, estas enfrentam
grandes dificuldades financeiras. Para inserirem-se de forma legal no mercado de trabalho,
dado o baixo nível de estudo e qualificação profissional, enfrentam situações de hostilidade,
tanto por parte das populações locais como por outros os Ciganos em disputas por territórios,
comércio ou moradia (LIÉGEOIS, 2001).
Na Europa, os Ciganos são considerados estranhos na realidade das populações locais.
Por isso, formas de preconceitos e marginalização são ainda meios de repúdio à cultura
Cigana na Europa. Os Ciganos se sentem pressionados, sejam por Políticas Públicas de
equiparação social ou projetos de habitação que lhes condicionem a uma vida com um pouco
mais de qualidade (LIÉGEOIS, 2001). Costa (2001) relata que:
Os barracos foram totalmente substituídos por blocos com as condições
mínimas necessárias a uma permanência digna. Contudo a degradação moral
e de costumes as que as pessoas se foram habituando e com os quais
parecem fazer gala em quererem coabitar, fazem deste bairro uma zona
muito pouco aconselhável e sobretudo nada propício ao perfeito
29
desenvolvimento cívico, cultural, moral e até mental dos jovens que na
sua grande maioria constituem a população estudantil desta escola (COSTA,
2001, p. 40).
A citação refere-se uma área popular situada na parte oriental da Cidade do Porto, em
Portugal, um conjunto populacional habitacional multiétnico composto de 5.000 habitantes,
sendo 3.500 destes Ciganos (SOUSA, 2001). Em Teixeira (2008), percebe-se que quando os
Ciganos, já estabelecidos nas periferias dos centros urbanos, como Rio de Janeiro no período
colonial, o melhor era deixá-los isolados em seus “guetos” que muitas vezes as ruas tinham
como nome “Rua dos Ciganos”, por si só afastava muitos do convívio com os Ciganos. Desta
forma as autoridades também evitavam muitos problemas isolando-os dos demais.
Aceitar a cultura Cigana talvez seja a parte mais difícil. Para Moscovici (1988):
Toda sociedade que classifica os homens e separa os grupos locais dos
grupos “estrangeiros” inclui um sistema de crenças, religiosas ou outras.
Suas representações obedecem a uma norma que dá a seus atos um sentido
ético. Esses atos não são cometidos por criminosos ou loucos, mas por
pessoas que sabem o que é permitido ou proibido, qual é a diferença entre o
bem e o mal (MOSCOVICI, 1988, p. 658-659).
Há muitos conflitos no âmbito escolar em Portugal, pois mesmo lá as crianças
Ciganas não são vistas com bons olhos e simpatia. Para Costa (2001), “A escola tal e qual a
conhecemos, desenvolve relações de conflitualidade e não de empatia com as crianças Ciganas.
São muitas vezes consideradas como intrusas, não são compreendidas na sua diferença”
(COSTA, 2001 p. 39).
No decorrer da história no continente Europeu a (não) aceitação dos ciganos era
devida às condições políticas e sociais do momento em cada Nação. Em alguns países, eram
hostilizados e em outros eram aceitos em função de alguma necessidade interna do país. Por
isso, sempre andavam em busca de locais em que eram aceitos. Na Europa, principalmente, os
Ciganos sempre desconfiaram de medidas que visam incluí-los em projetos, sejam escolas
para seus filhos, qualificação profissional ou outros. Costa (2001) afirma que:
A cultura Cigana é ágrafa, por isso, o saber é transmitido oralmente no
contexto família , ao contrário da instituição escolar, em que o saber assenta
fundamentalmente na transmissão escrita. Esta é uma das razões por que a
criança Cigana é muitas vezes considerada inadaptada e oferece resistências,
30
no contexto de escolarização, à aprendizagem autoritária de um saber
transmitido por uma pessoa estranha a familiar (COSTA, 2001, p. 40).
Se, na escola, muitas crianças Ciganas têm dificuldade para se adaptar, isso se deve a
uma ligação muito próxima com a família. Isso pode também ser visto em muitas crianças não
ciganas. Costa (2001) afirma que “a criança Cigana trabalha como membro de uma unidade
familiar/econômica, nunca se separando, por razão alguma, dos laços de afeto e dependência,
existentes entre todos os membros da família. O único chefe que reconhece é o seu pai ou
outro parente adulto” (COSTA, 2001, p. 43).
Esta questão interfere na autoridade que a escola tem como agente integrador e socioeducador junto dos alunos. Esta autoridade paterna e onipresente é uma forma dos grupos
Ciganos se manterem fiéis a seus princípios culturais restringindo a influência da Escola nos
filhos, na ausência dos pais.
Os Ciganos em Portugal estão ligados a antigos costumes de suas tradições;
dificilmente são vistos indivíduos Ciganos em trabalhos não Ciganos. Preferem os comércios
ambulantes, vendas de diversos objetos e serviços em feiras. Isso é passado de geração a
geração, se torna hereditário na sucessão da família. No entanto, tornam-se cada vez mais
escassos estes tipos de empreendimento em função da pouca aceitação junto às comunidades
(COSTA, 2001):
Mantêm-se ligados aos seus ofícios tradicionais ou variantes próximos deles,
razão pela qual se encontram a margem da inovação tecnológica. A venda
ambulante sua principal atividade, pode manter-se na medida em que
existam espaços povoados que lhe permitam. Os produtos são
transacionados à margem de qualquer controle de qualidade, sem impostos,
sem espaços comerciais fixos que exijam rendas ou aquisições de imóveis
(COSTA, 2001, p. 46).
A Escola é um fator limitador no contexto de vida para os Ciganos e sempre será vista
com desconfiança pelas famílias ciganas. No entanto, o espaço da informalidade cigana está
sendo reduzido nas comunidades não ciganas e, com isso seus tradicionais ofícios podem
estar correndo o risco de não mais serem mais aceitos ante modernidade dos serviços e
produtos de fácil acesso para todos. No contexto português, já se tem muitos casos de Ciganos
adentram aos vícios e crimes por revoltarem-se com suas situações e a impossibilidade de se
manterem financeiramente ante à escassez de seus tradicionais nichos econômicos (COSTA,
2001).
31
As sociedades modernas e industriais baseiam-se em horários pré-determinados.
Para quase tudo há uma rotina de vida para os povos globais. Em via contrária estão os
Ciganos, visto que dificilmente se enquadram em processos que os condicionem a horários.
Em sociedades como a Portuguesa, os Ciganos resistentes à adaptação cultural e social podem
correr riscos em relação a sua sobrevivência.
Nesse sentido, o governo português propôs alternativas, a fim de que estes Ciganos
não pereçam, enclausurados em seus modos de vida. As propostas foram firmadas na inserção
destes grupos, no enquadramento de horários e organização ante outras sociedades, de forma a
que eles não fiquem à margem dos processos de globalização.
A escola é ponto chave para que os Ciganos não utilizem apenas as noções básicas de
matemática e língua pátria para sobreviverem. Representa a condição para que uma nova
mudança possa ser direcionada sem que, para isso, haja dominação ou exposição dos Ciganos.
É preciso a aceitação por parte dos não Ciganos e a introdução de um multiculturalismo, já
existente devido à globalização (LIÉGEOIS, 2001). Para Costa (2001):
A escola monocultural gerou insucesso escolar nas crianças de etnia Cigana,
bem como conflitos e desenraizamentos. Para estas, a família é o elemento
nuclear de seu desenvolvimento. Por isso, os Ciganos desenvolveram uma
cultura de resistência, preservando, assim, a sua singularidade, em
contraponto de que a idéia de que a humanidade esta unida por uma
imaginação comum (COSTA, 2001, p. 47).
Na realidade a globalização gera uma falsa idéia de que todos são iguais e
pertencem ao mesmo processo de crescimento. Isso é verdade se imaginamos que, em
Uberlândia, se comemora o Halowen, uma festa do dia da bruxas característica de países do
hemisfério Norte, algo não cultural e sim importado e que pode oferecer risco a nossas
tradições locais. Os Ciganos vêem o mesmo, por isso resistem a tudo.
As propostas do Governo Português tentaram inserir os Ciganos por meio do
processo escolar:
Assim os conteúdos devem fazer abordagens e aprendizagens significativas,
não devendo ser discordantes das atividades familiares, mas incorporá-las,
assim como devem distribuir o êxito pelos alunos, no sentido de potenciar e
favorecer o processo de ensino/aprendizagem; devem utilizar de
metodologias de discussão dos problemas capacitantes para compressão
inter-grupos das suas representações, da gestão de seus conflitos, da
compreensão da diversidade, entre outros e que permitam construir saberes a
32
nível cognitivo, emocional, comportamental e afetivo de persuasão e
aceitação do outro (COSTA, 2001, p. 49).
Reformas devem ser feitas no contexto das sociedades, e estas devem estar preparadas
para a multiculturalidade, a socialização dos diversos povos entre si em um mesmo contexto.
Assim, Ciganos, populações locais vivendo harmoniosamente, dos diversos saberes, dos
diversos povos, visto que Portugal em seu processo colonial procurou a multiculturalidade
através dos empreendimentos coloniais e hoje devido ao fim de algumas de suas colônias,
através da independência, recebem muitos imigrantes legais e ilegais, incluindo os Ciganos
(LIÉGEOIS, 2001). Para Costa (2001):
O espaço sala-de-aula deve organizar-se de forma interativa e facilitadora da
comunicação intergrupos: utilizar imagens das diferentes culturas ou etnias.
Explicitando os valores de cada uma delas; construir competências
relacionais e comunicacionais, que façam apelo ao uso da palavra e à
capacidade da escuta (COSTA, 2001 p. 49).
A proposta de um projeto para uma multiculturalidade Português teve seu início em
1986 devido à grande quantidade de migrantes de ex-colônias que se tornaram independentes
presente em seu território, imigrantes diversos que se reuniam a outros presentes no país,
geralmente em cidades litorâneas. Muitos destes imigrantes que chegaram de barco, se
aventuravam no interior de Portugal, poderiam ser pegos pela política de imigração
(LIÉGEOIS, 2001).
A construção de uma escola que não fosse homogeneizada e que seguisse uma mesma
linha tradicional foi a saída para uma reforma que atendesse a toda uma demanda que não se
adequava às condições de igualdade da sociedade Portuguesa, visto que estes povos já
estavam inseridos no mercado de trabalho ou em subempregos que os natos não realizavam.
Inseriam-se nas áreas de prestação de serviços, prostituição, alimentação. Estavam ali e
precisavam ser inclusos (LIÉGEOIS, 2001).
Esta reforma teve seu princípio quando, em 1984, quando o parlamento
Europeu aprovou duas resoluções chamando a atenção para as difíceis
condições de existência das comunidades Ciganas. A primeira foi a resolução
de 16 de março de 1984 sobre a Educação das crianças cujos pais não tem
domicilio fixo, através da qual o Parlamento convidava a Comissão Européia
a colaborar com os Estados-Membros e a elaborar medidas que assegurem
um ensino adaptado para estas crianças. A segunda foi a resolução de 24 de
maio de 1984 sobra a situação dos Ciganos na Comunidade Européia,
através da qual o Parlamento recomendava que os Governos dos Estados-
33
Membros coordenasse as sua atitudes e solicitava à comissão que
elaborasse programas subvencionados por créditos comunitários, com vista a
melhorar a situação dos Ciganos sem, no entanto, destruir os seus valores
culturais (LIÉGEOIS, 2001, p. 7).
As propostas de aceitação da inclusão de grupos minoritários e políticas públicas de
acesso a programas sociais do Estado Português não se deram por reconhecimento político
das reais necessidades destes grupos, mas sim como condição para que o Estado Português
fizesse parte como Estado-Membro da Comunidade Européia. Nesse momento da história,
Portugal figurava como periferia da Comunidade Européia, necessitando fazer ajustes para
sua aceitação (LIÉGEOIS, 2001).
A partir deste ponto, criaram-se medidas que realmente visavam ao acolhimento deste
contingente que antes não era visto ou era ignorado pela grande maioria populacional. A
Reforma Curricular e a Lei de Bases do Sistema Educativo Português (1986) foi o primeiro
passo nesse sentido. Conforme aponta Cardoso (2001, p. 66), em seguida, em 1991, uma
subsecretária do Ministério da Educação Português, com uma primeira medida política de
inclusão, criou o “‘Entreculturas’ [que] foi a primeira medida política concreta com objetivos
expressamente interculturais (ME 63/91 de Março de 1991)”.
Havia também outras leis que viam a legalização dos imigrantes clandestinos no
intuito de inseri-los no contexto social, tirando-os da marginalidade, como é o caso da Lei dos
Imigrantes (Decreto Lei 94/93),
[...] teve em vista a identificação das situações de clandestinidade dos
imigrantes em Portugal e dar a possibilidade, dentro de prazos estritos e dos
parâmetros da lei, de se legalizarem. Em todo o caso, esta medida constituiu
um compromisso inicial do Estado que o levou a iniciativas subsequentes.
Além disso representou também um reforço ao reconhecimento da existência
das minorias imigrantes na sociedade Português e das suas estruturas de
pressão e de diálogo (CARDOSO, 2001, p. 66-67).
Mesmo diante de medidas que visavam à inclusão de minorias, ainda assim havia uma
barreira: a formação de professores para o ensino Intercultural.
Esperar se ia uma maior especificidade da Lei de Bases e, sobretudo, dos
documentos subsequentes que a regulamentaram, a cerca da formação
dos professores para uma sociedade em processo crescente de
globalização e diversificação (CARDOSO, 2001, p. 67).
34
Ante essa necessidade, a estrutura educacional de formação de Professores começou a
ter uma ênfase na formação de professores com uma destinação a um processo Intercultural.
A grade curricular de algumas instituições passaram a ter disciplinas com o intuito de
qualificar o profissional de intercultura, com ênfase em cidadania, formação pessoal e social,
isto em cursos de Graduação e Pós-graduação (CARDOSO, 2001).
A Educação Intercultural deve permitir que as minorias adquiram os
conhecimentos e as competências necessárias para participar na cultura
cívica nacional e para aderirem aos ideais democráticos, da igualdade, da
justiça e da liberdade (domínio público); por outro lado, deve permitir a
manutenção e afirmação, em liberdade, dos traços identitários mais
relevantes – língua, crenças, usos, costumes, tradições etc. – da cultura do
indivíduo (domínio Privado), que não colidam com a realização do domínio
público (CARDOSO, 2001, p. 73-74).
Com o intuito de inclusão de minorias em numa sociedade globalizada e excludente,
as propostas do governo Português se viram diante de uma caminhada lenta e contínua de
convivência e aceitação.
Há ainda muitas ações por parte de diversos organismos no território Português:
ONGs, entidades assistencialistas como o Secretariado Diocesano de Lisboa da Obra
Nacional Pastoral dos Ciganos. Estes têm por objetivo dar suporte às famílias, oferecendo
cursos de promoção social e econômica e creches para as crianças, a fim de que as mães
possam aprender um ofício. Além disso são oferecidos trabalhos em colheitas de tomates ou
trabalhos domésticas, além da formação profissional, centros de saúde e segurança social
(LIÉGEOIS, 2001).
2.2 A realidade brasileira
A realidade brasileira tem uma conotação diferente da Européia, visto que, lá, o
projeto de inclusão social e econômica das famílias de grupos discriminados como imigrantes
ilegais e, principalmente, de minorias étnicas como os Ciganos e viajantes, foram feitos como
forma de quesito obrigatório para que países como Portugal, no início da década de 1980,
fossem aceitos na Comunidade Européia. Para isso, o Estado Português teria que dispor de
35
diversos termos que melhorassem a vida destas pessoas, como já feito por países já
pertencentes à Comunidade Européia (LIÉGEOIS, 2001).
No Brasil, a questão dos Ciganos não recebeu um tratamento diferenciado em relação
aos demais grupos formadores da sociedade brasileira. Até para atender toda a demanda de
vagas para crianças que não são Ciganas faltam escolas em muitas regiões; para os Ciganos
não seria diferente.
Quando desejado por seus parentes, as comunidades Ciganas colocam seus filhos na
escola regular pública, oferecida a todos sem distinção.
Nas entrevistas realizadas nas escolas Municipais de Uberlândia, estas crianças
atingem desempenhos regulares; faltam excessivamente e poucas fazem as atividades levadas
para casa. Geralmente são indisciplinadas, desprendidas, e até suas brincadeiras são diferentes
das brincadeiras dos demais alunos. Os pais até que comparecem nas reuniões para os pais
dos alunos, mas há um grande índice de evasão escolar, pois muitos pais tiram os filhos da
escola para o trabalho, o casamento, viagens com eles, entre outros.
Na LDB, tem-se:
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; (LDB, 1996)
A respeito dos conteúdos curriculares do Ensino Fundamental e Médio, diz-se que
devem estes ter uma base comum. No item 4º do artigo 26, que fala do ensino de história, e
sobre a formação do povo brasileiro, a LDB/1996 diz: “§ 4º O ensino da História do Brasil
levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia”
As etnias,são unidades operativas do processo civilizatório, cada uma corresponde a
uma coletividade humana, exclusiva em relação as demais, unificada pelo convívio de seus
membros através de gerações e pela co-participação de todos eles na mesma comunidade de
língua e de cultura (etnias tupinambá, germânica, brasileira etc.), [...] etnia nacional quando
essas entidades se constituem em estados organizados politicamente para dominar um
territorio, e de macroetnias quando tais estados entram em expansão sobre populações
36
multiétnicas com a tendência a absorvê-las, mediante a transfiguração cultural. (RIBEIRO,
2000,P.24).
Tendo como base a leitura acima nota-se que a formação do povo brasileiro é alem
das três matrizes citadas, pois a partir do momento que o imperio português, começa a ter
várias culturas sob seu domínio e até mesmo os ciganos que são deportados para o Brasil
colônia em 1574, a agregação destas culturas dentro do contexto brasileiro atribui que a
cultura cigana também deva ser reconhecida como parte das matrizes de formação do povo
brasileiro.
Ainda em Ribeiro (2008), um complexo multiétnico unificado por uma dominação
imperial que se exerça sobre seus povos, com propensão a transfigurá-los culturalmente e a
fundi-los em uma entidade mais inclusiva, é uma macroetnia (macroetnia romana, incaica,
colonial-hispanica etc.), colônia portuguesa pode ser inserida neste contexto, devido a sua
grande abrangência de domínio colonial, na America do Sul, África, Ásia etc.
Para isso deve se ter uma discussão mais detalhada sobre as verdadeiras matrizes de
formação do povo brasileiro.
Para a ONU o conceito de minoria (Organização das Nações Unidas) é assim proposto
como “grupos distintos dentro da população do Estado, possuindo características étnicas,
religiosas ou lingüísticas estáveis, que diferem daquelas do resto da população; em princípio
numericamente inferiores ao resto da população; em uma posição de não dominância; vítima
de discriminação”.
Em uma perspectiva, tem-se:
No Brasil isto compreende os índios; os Ciganos; as comunidades negras
remanescentes de quilombos; comunidades descendentes de imigrantes;
membros de comunidades religiosas.Essa a primeira dificuldade. O censo
classifica população brasileira em brancos, negros, pardos, indígenas
(apenas recentemente), amarelos e outros. Indaga sobre a religião a que
pertencem, e o país de nascimento. Nada mais. A única minoria a ser
identificada como tal no Brasil são os índios. E os dados populacionais são
desencontrados. Os índios eram 251.422, em contagem de 1996, do IBGE.
Para a FUNAI, órgão oficial de assistência e proteção aos índios, os índios
são 325.652 (Direitos Humanos Net – 2010).
A Constituição Federal de 1988, assim propõe a partir de seu artigo 216 que segue:
“Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
37
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”.
A cultura Cigana é um patrimônio brasileiro expressado de forma distinta dos demais e
deveria ser valorizada, assim como a cultura dos Índios e Negros, afinal os ciganos fazem
parte do processo de formação do povo brasileiro. Sempre estiveram presentes na construção
da identidade nacional, assim como muitos imigrantes o fizeram.
Mas para isso, é necessário que as comunidades Ciganas se organizem como forma de
se mostrarem fortes ante os processos políticos existentes, reivindicar não somente condições
escolares para seus filhos, saúde e amparo aos idosos.
2.3 Pequena análise da realidade escolar cigana em Uberlândia-MG
Foi feita nas escolas a aplicação de questionários aos professores. Em visita às
residências das crianças e conversa com os pais, a realidade parece mudar um pouco em
relação aos questionários, pois alguns pais já se mostram desejosos de que os filhos se tornem
profissionais por meio do estudo. Em pergunta sobre qual profissional gostariam que seus
filhos fossem, não hesitam em dizer: advogado e médico. Cabe notar que são estas profissões
que elevam a auto-estima de uma família quando alcançam sucesso. No entanto, isso valeria
apenas para os meninos, pois as mulheres ainda continuam sob o olhar de uma cultura
intensamente machista que determinam o comportamento e a posição social que a mulher
ocupa no grupo e ou na sociedade, com um conceito que a mulher deve ocupar deve cuidar
dos filhos, da casa e do marido e no caso dos Ciganos, ainda sob a vigília da sogra.
Na Escola do Setor Oeste estão matriculados trinta alunos Ciganos, sendo maior a
concentração destes nas séries do introdutório ao sétimo ano, visto que os meninos, que
deveriam estar no oitavo ou nono ano, estão acompanhando os pais em trabalhos ou estão se
preparando para casar com as meninas também de mesma faixa etária e escolar.
Os questionários foram aplicados a dez professores, todos da escola do Setor Oeste e
professores Regentes (do introdutório ao quinto ano), pois na outra escola havia apenas uma
aluna matriculada.
A escola do Setor Oeste trabalha com programas que atendem as crianças que têm um
desenvolvimento abaixo do esperado ou que, quando chegam à escola, não conseguem
38
acompanhar o rendimento dos outros alunos. Para isso são utilizados programas como o
“Acelera Brasil” do Instituto Airton Senna, em que a criança faz um “intensivão” e é
equiparada aos alunos de mesma faixa etária e ano escolar.
Nos questionários, a quantidade de alunos Ciganos varia de sala para sala, em relação
ao desempenho. Analisando os vários pontos de vista. Como cita a Professora B, com apenas
uma aluna Cigana do quarto ano: “Seu desempenho é bom, ela procura entender o conteúdo e
quer sempre fazê-lo. Ela é ótima em matemática”. Em outra sala, que tem apenas outra
menina Cigana, a realidade é distinta: “A aluna não tem freqüência. Mais falta do que vem a
aula. Portanto, rendimento baixíssimo” (PROFESSORA B, 2010).
Assim como diversas famílias não Ciganas, que tem problemas semelhantes em
relação à questão do aprendizado dos filhos, é necessário tratar cada caso de forma diferente
um do outro. Nos exemplos dos questionários acima vê-se duas realidades diferentes dentro
do mesmo contexto educacional, diferenciadas apenas pelo ano escolar: a primeira aluna está
no quarto ano e a segunda está cursando o terceiro ano do Ensino Fundamental.
Na terceira pergunta sobre se são disciplinados os alunos Ciganos, se estes
esforçavam-se para aprender, se têm bons resultados e se fazem a lição para casa, 70%
respondeu que esses alunos não eram bons alunos, não faziam lições de casa, como resposta
da Professora B do quarto ano: “Ela tem dificuldades quanto a obedecer as regras, e executálas, fica contrariada quando é advertida. Costuma esquecer os materiais, é um tanto desleixada
com o seu visual e materiais escolares” (Professora B, 2010).
Os outros 30% dos professores observa os alunos Ciganos como comportados, dizem
no questionário que estes fazem as lições, procuram aprender o que é dito e participam das
aulas.
Em relação ao convívio com os outros Ciganos, 70% dos professores disseram que
todos tem um convívio muito bom com os outros colegas e que se relacionam muito bem.
30% dos entrevistados disse que os alunos não têm um convívio muito bom. Segue a resposta
de um deles nesse sentido, a Professora C, do quarto ano: “[...] é meio agressiva, diz o que o
pensa sempre, não importa com as conseqüências. Por ser criança, ela não controla bem seus
sentimentos, ora ama ora odeia” (Professora C, 2010).
Outra questão é sobre se o professor havia percebido alguma situação de preconceito
por parte dos alunos, professores, funcionários ou qualquer pessoa contra os alunos ciganos.
Novamente, 70% disse que nunca percebeu uma situação como esta. 30% disse que sim, e que
39
não permitia que o evento de preconceito prosseguisse. Em uma das falas do professor D,
ele diz: “Não. É sempre bem vinda por parte dos alunos, mas sei que tem professores que
preferem não ‘dá’ aulas para eles, pois na grande maioria eles são desorganizados e sem
interesses” (Professor D, 2010).
Perguntados se os pais não Ciganos os procuravam para tirar alguma dúvida sobre os
alunos Ciganos e se faziam algum comentário sobre os mesmos, a resposta dos professores foi
unânime em afirmar que nenhum pai de aluno não Cigano procurou o professor ou a escola
para saber de seu filho em relação a alunos Ciganos. Observando-se os alunos Ciganos
durante o recreio, percebe-se que todos são crianças como as outras; a única diferença é que
os não Ciganos têm brincadeiras com menos demonstração de força. As brincadeiras dos
Ciganos são de medir força, tais como o “braço de ferro” – é como se fossem adolescentes
mostrando-se uns para os outros.
Perguntado aos professores se a escola está preparada para recebê-los, as respostas são
variadas. Seguem algumas:
“ Acho que muitos professores fazem seu trabalho bem, independente de ser
ou não Ciganos os alunos.”
“ Não sei, no meu caso eu aproveito para trabalhar as diferenças culturais e
religiosas da turma.”
“Está. A escola procura atendê-los da melhor forma possível, mas a cultura
deles é diferente.”
Realmente, esta escola recebe a todos os que batem em sua porta. Deve-se reconhecer
que o Estado e o Município não têm estrutura para atender de forma diferente àqueles que são
diferentes, mas o empenho de muitos profissionais, como visto nesta escola do Setor Oeste, é
algo diferenciado. Cada aluno é tratado com respeito. Professores vão ao encontro de alunos
que estão faltando às aulas, procuram saber o porquê de não estarem indo, tarefa realizada
pela Professora A da disciplina de Literatura. A direção se empenha em manter estas crianças
junto do convívio escolar e todos participam de forma igualitária. O que falta são políticas
públicas que viabilizem projetos para atender culturas distintas, mesmo que em pequenos
grupos, pois referentes aos profissionais ainda há muitos professores que se dedicam ao ofício
e procuram exercê-lo com qualidade.
Na última questão foi solicitado ao professor para que opinasse de forma aberta no
sentido de identificar a cultura Cigana no contexto escolar. Eis uma resposta: “Como dou aula
40
no quarto ano não trabalho focado dentro da cultura Cigana nas disciplinas aplicadas, mas
trabalho a liberdade de pensamento, a valorização das raças, o respeito, o amor por qualquer
cidadão brasileiro ou não” (Professora B, 2010).
Em outra resposta relativa ainda sobre a ultima questão, a professora A diz:
Observei que os mesmos são unidos uns com os outros. Defendem os seus
direitos. Não se dedicam muito a estudar. Acham que vivem em um mundo
diferente do nosso. Não se ajeitam a nossa cultura. Freqüentam as aulas
apenas com o intuito de aprender a ler e escrever. As mulheres freqüentam as
aulas somente até os doze anos de idade, depois os pais as tiram da escola
para se casar. Se casam muito cedo, pois a mesma já está prometida desde
criança. Abandonam tudo, se casam, tem muitos filhos e nunca têm moradia
fixa (professora A, 2010).
Para Ribeiro (2000), relativo a cultura e etnia, ...uma coletividade que cultiva certas
tradições comuns integradoras, cujos membros se unificam pelo desenvolvimento de
lealdades grupais exclusivistas, como os ciganos ou os judeus.
É de muita importância a contribuição feita pela professora citada, mas na realidade é
isto mesmo, este comportamento é peculiar a cultura cigana estas crianças podem ser objetos
de curiosidade devido ao comportamento e suas atitudes e modos que ainda não foram
adestradas pela sociedade que dita as normas sociais, morais e comportamentais diante dos
demais, são modos estranhos para nós assim como devemos ter modos também estranhos para
os mesmos, pois nós já temos modos de conduta e ou adestramento que são pertinentes aos
locais que freqüentamos, entretanto para as crianças ciganas, elas seguem seu padrão cultural
e a escola é apenas um momento em suas vidas.
E para que este momento mesmo que dure apenas alguns anos é necessário que seja
lembrado ou que seja importante na vida destas crianças. E no capitulo seguinte, com o
Ensino de Geografia poderá em suas mais diversas formas e metodologias fazer com que
uma contribuição seja significativa em seus caminhos que serão com certeza muitos, pois o
andar faz parte da alma cigana e o espaço que se desenrolar a frente destes cidadãos não serão
espaços enigmáticos ou segregados, mas espaços geográficos abertos a todos que estão
preparados para decifrá-los.
41
CAPÍTULO 3
POSSIBILIDADES E CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA ESCOLAR PARA O
POVO CIGANO
3.1. A Geografia escolar na Escola Comum
A Geografia Escolar sempre foi motivo de preocupação para quem esteve ou
pretendeu se manter no poder. Nesse sentido, cabe dizer que, por meio dos processos
pedagógicos e de ensino de Geografia, possibilita-se ao estudante uma visão ampla de todo o
contexto, seja de uma sociedade ou de qualquer espaço habitável ou não, uma vez que essa
disciplina estuda os aspectos físicos, políticos, sociais, entre outros, possibilitando uma visão
critica e detalhada do espaço em análise.
Fazendo um panorama em algumas obras, mesmo que não cientificas, como é o caso
d“A Arte da da Guerra”, de Sun Tzu, sobre as grandes batalhas empreendidas pelos
imperadores chineses da época e seus oponentes, percebemos que estes utilizavam um fator
importante e muito restrito a poucos: além de conhecer, por meio de informantes, um pouco
do inimigo e sua táticas, conheciam o local em que se ocorreria a batalha. Isso era fator-chave
para sucesso ou derrota da guerra (SUN TZU, 2005)
Desta forma, eram informações preciosas a topografia do terreno da possível batalha,
com informações de localização dos combatentes, se haveria recursos e suprimentos para a
tropa, se o terreno ofereceria resistência maior para quem fosse hostilizado.
Uma importante referência, agora científica, mostra a gama de variedades e propostas:
“Geografia pode e é usada por muitos, principalmente para o levantamento de informações
que visam à manutenção do poder pelas grandes corporações políticas e suas ramificações nas
bases empresariais” (LACOSTE, 2005). Sobre tal obra, em sua primeira edição, de 1976, trata
Vesentini na apresentação da 10ª edição: “A presente edição brasileira deste livro, nas atuais
circunstâncias é devera e oportuna. Devido a certas vicissitudes, as idéias aqui expostas
acabaram não conhecendo no Brasil a circulação e os debates que elas merecem” (LACOSTE,
2005).
Neste momento o Brasil vivia ainda sob o Regime Militar, que oprimia e usava meios
como a censura para impedir obras literárias e manter a escuridão de sua opressão.
42
Neste momento, a Geografia no Brasil e o seu ensino desta disciplina viviam algo
muito alem da ditadura: a imposição de uma medida que marcaria o ensino de Geografia e
História, como segue:
Enquanto na universidade, na década de 70 do século XX, os debates se
acirravam em decorrência da busca de novos paradigmas teóricos no âmbito
do conhecimento em Geografia, a escola pública de primeiro e segundo
graus, hoje ensino fundamental e médio, enfrentava um problema
ocasionado pela Lei, 5.692/71: a criação de estudos sociais com a eliminação
gradativa da História e da Geografia da grade curricular (PONTUSCHKA,
PAGANELLI, CACETE, 2007, p. 59)
Sendo assim, Geografia tem um papel muito grande na formação dos cidadãos, pois
com sua síntese de conhecimentos, envolve desde a paisagem natural, com suas belezas
naturais, até a transformação desta natureza pelo homem, passando por diversos fins, como as
implicações de utilização desta paisagem, o porquê de usar esse espaço, como esse uso
afetaria o local onde as pessoas vivem, quais seriam os agentes envolvidos. A Geografia
possibilita ao professor e ao aluno a visão política do local onde se dão todas as ações feitas
com os mais diversos fins, por diversos agentes modificadores desta paisagem.
Nesse sentido, a Geografia com sua síntese de conhecimentos gera incômodos a
muitos, uma vez que engloba conteúdos bióticos, abióticos, físicos, químicos, naturais,
artificiais, sociais, políticos e, sobretudo humanos. Por isso, é uma disciplina que orienta e
conduz o modo de ver a transformação do vivido por todos, algo que deve ser tratado com
respeito ou eliminado.
Ainda nos anos 1970, uma nova mudança na Geografia mundial, com a discussão de
novos conceitos e metodologias, mudaria as discussões em torno do foco dos estudos,
passando-se para uma ciência que abrangeria mais os conceitos humanos, considerando os
valores inerentes a estes.
Com o fim do Regime Militar, a Educação brasileira sofreu muito em termos
continuação dos processos de formação escolar, pois a Educação entrou em crise e foi-se a
qualidade no ensino público brasileiro. A Geografia então se viu perdida em um turbilhão de
problemas e conceitos epistemológicos – afinal, a Geografia dos tempos do Regime Militar
ainda era uma Geografia de descrição e enumeração dos lugares; o homem era apenas uma
peça e a homogeneização fazia parte do processo em que todos eram tratados de forma igual.
Com o fator homem na Geografia, novos paradigmas começam a surgir:
43
A Geografia defronta-se, assim, com a tarefa de entender o Espaço
Geográfico num contexto bastante complexo. O avanço das técnicas, a maior
e mais acelerada circulação de mercadorias, homens e idéias distanciam os
homens do tempo da natureza e provocam certo “encolhimento” do espaço
de relação entre eles (CAVALCANTI, 1998, p. 16).
Estas eram as Geografias Criticas. No Brasil, os Geógrafos começam estudaram esta
linha, A discussão, neste momento, não era mais tratar todos de forma igual, mas sim tratar de
forma única os valores e a pessoa humana e as diferenças como diferenças
Alguns autores como Straforini, achava que a Geografia Critica nunca foi apresentada
de fato aos professores, que esta já foi criada e desde já colocada pronta e acabada para que os
professores já a ministrassem em seus conteúdos.
Na verdade a Geografia Critica foi apresentada para a grande maioria dos
professores através dos livros didáticos, pulando a mais importante etapa:
sua construção intelectual. Da mesma forma que os conteúdos chegavam aos
professores de maneira pronta e acabada na Geografia escolar tradicional, os
conteúdos sob a luz da Geografia Crítica também assumiam o mesmo papel
junto aos professores, ou seja, de essencialmente dinâmicos, na Espaço
Geográfico continuavam estáticos (STRAFORINI, 2006, p. 49-50).
Anteriormente, os professores não ensinavam o auto-reconhecimento do homem
dentro de seu próprio espaço. Com esses novos paradigmas, o conflito se tornou mais visível,
com a possibilidade de mudanças e novas linhas de pesquisas. Problemas que ficaram sem
discussão no decorrer do ensino de Geografia, tais como as grandes mazelas sociais da
população e as novas concepções sobre a cidade como meio de vida e habitat de muitos que
antes faziam parte das áreas rurais, as periferias urbanas, os excluídos, o reconhecimento de
uma variedade maior de raças e credos mesmo limite urbano e suas diferenças.
Para o Autor a Geografia Critica é construída todos os dias, seja em nossas casas,
quando saímos às ruas e socializamos com os demais, no trabalho, na escola como estudantes
e professores, como consumidores, geradores de renda e misérias, como poluidores do
sistema, quando concordamos ou fingimos não ver que o rolo compressor da injustiça ou dos
interesses de grupos privilegiados subjuguem os mais fracos.
Apesar das questões novas para uma sociedade que teve uma abertura de
possibilidades com o fim do Regime Militar, principalmente nas questões escolares, ainda
caminhou se pouco, como argumenta Cavalcanti (1998):
44
Embora haja um significativo desenvolvimento da pesquisa e da produção
científica sobre a Espaço Geográfico de ensino e no âmbito específico do
ensino de Geografia, é sabido que os avanços teóricos obtidos têm chegado
muito lentamente à Espaço Geográfico escolar, que permanece em boa parte
respaldada em concepções teóricas tradicionais, tanto do ensino quanto da
Geografia. Por outro lado, os professores têm insistido na procura de
respostas a questões relacionadas com as dificuldades de aprendizagem dos
alunos (CAVALCANTI, 1998, p.11).
A Geografia precisa ser analisada por instituições de ensino no sentido de avaliar a
qualidade do que é ensinado, pois nas escolas há diversos propostas pedagógicas, visto que há
fatores diversos como falta de professores, condições insalubres de ensino, falta de material
didático, móveis inadequados, indisposição de profissionais para um ensino de qualidade,
indisciplina escolar, Políticas Públicas direcionadas para a Educação de qualidade dentre
outros. Estes são fatores que fazem com que o ensino de Geografia e outras disciplinas se
torne um grande desafio para as instituições escolares, deixando-se de focar a qualidade do
que é ensinado.
A Geografia escolar ainda continua fragmentada, como se percebe:
A finalidade de ensinar Geografia para crianças e jovens deve ser justamente
de os ajudar a formar raciocínios e concepções mais articulados e
aprofundados a respeito do espaço. Trata-se de possibilitar aos alunos a
Espaço Geográfico de pensar os fatos e acontecimentos mediante várias
explicações, dependendo da conjugação destes determinantes, entre os quais
se encontram o espacial (CAVALCANTI, 1998, p. 24).
O Espaço Geográfico para muitos teóricos é chave para o ensinar Geografia; é onde
tudo acontece, onde as relações se estabelecem, onde o fragmentado se torna uno e as
máscaras da opressão e da segregação social se mostram. Através da Geografia pode-se
construir um espaço cidadão que respeite valores e modos distintos de vida.
45
3.2 Contribuições da Geografia para os Ciganos
São muitas as contribuições da Geografia para os Ciganos, como também da
comunidade de Ciganos para a Geografia. Os Ciganos nômades, por exemplo, sempre estão
em movimento através do Espaço Geográfico; migram constantemente, passando por diversas
cidades. Dependendo de suas rotas, passam por grandes, médios ou pequenos centros urbanos.
As rodovias que levam a estes locais são sempre estudadas antes de se empreitar uma viagem:
estruturam-se estrategicamente nestas cidades tendo em vista o comércio de seus produtos,
montam acampamentos em locais em que poderão usufruir de segurança para todos, mantêm
contatos com os moradores locais a fim de aproveitar o máximo sua estadia.
Em seus deslocamentos pela grande imensidão geográfica em território nacional, são
geralmente tratados com hostilidades pelos não Ciganos, que ainda reagem negativamente à
presença destes indivíduos. O espaço onde todos convivem é onde também as diferenças são
estabelecidas e postas em conflito para a formação dos novos valores.
somos pessoas normais, trabalhamos, temos nossas casas nesta rua, todas
nossas, gostamos de viajar, acordamos, enchemos a camionete e saímos,
não ficamos presos a trabalhos, ou a escola esperando as férias dos filhos
para fazer isso, fazemos nossas férias (Sr. Marcos, 2010).3
Várias camionetes novas nas garagens estavam dispostas, ele me disse que algumas
casas são deles outras são alugadas e todos que moram praticamente naquela rua são da
mesma família. As casas alugadas são mais difíceis de serem locadas ou feitos contratos de
locação, muitos proprietários não alugam para Ciganos, desta forma alguns aluguéis já são
pagos o ano todo, para não haver problemas.
No comércio do bairro onde se localizam os Ciganos, da Região Oeste de Uberlândia
em Minas Gerais, os comerciantes dizem que vendem para os Ciganos e que os mesmos
pagam certo. (SENHORA Márcia, 2010).4
Exceto as crianças deste grupo de Ciganos, raros são aqueles que não têm documentos
pessoais, em sua maioria, aqueles com idade de maioridade absoluta, todos possuem
3
Nome fictício de cidadão Cigano que fez o depoimento em Uberlândia-MG.
4
Comerciante do Setor Oeste da Cidade onde se localiza as residências dos Ciganos.
46
documentos de identificação, Titulo de Eleitor, CPF, enfim, são pessoas que se justificam,
como cidadãos brasileiros e os são.
Já teve vez de chegarmos cansados em cidades e irmos para o hotel,
depois de conferir toda a documentação e assinarmos as fichas de
hospedes, a recepcionista percebe que somos Ciganos e disse que não
poderia locar os quartos para Ciganos, ficamos chateados, somos certos
com nosso nome (Sr. MARCOS, 2010).
A partir depoimento acima percebe-se que os ciganos são discriminados em
estabelecimentos comerciais exatamente por serem Ciganos, mesmo em condições iguais às
de qualquer outro cidadão. Se não fossem cidadãos brasileiros, não poderiam ter contas em
agências bancárias, contrair financiamentos de veículos automotores, circular livremente pelo
território nacional, como segue na Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 5º XV: “é
livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”.
Diante disso, a Geografia pode trabalhar com os Ciganos a questão de cidadania e
reivindicação de direitos como cidadãos, pois os ciganos são brasileiros natos.
Da forma como estão inseridos em um contexto – seja este local, regional ou global –
são pertencentes a este espaço. São eles também que o produzem e o vêem sendo alterado por
diversos seguimentos da sociedade. Podem todos estes, então, requerer benefícios que os
dignifiquem como a qualquer outro cidadão brasileiro – seja, a segurança da polícia para com
seu patrimônio e sua família; a rede pública de escolas, onde, em muitos lugares, estas fazem
a inclusão das comunidades locais; a rede pública de saúde, e demais serviços públicos que
são oferecidos a todos os cidadãos natos, inclusive defensoria pública. Assim, têm direito aos
órgãos de defesa do consumidor, onde os interesses dos cidadãos que utilizam serviços ou
compras de produtos podem reclamar do atendimento, fazer denúncias de estabelecimentos
comerciais que são preconceituosos ou dêem preferência a determinados clientes.
O conceito a que o termo cidadania pode elucidar vai muito além, como afirma
Damiani (2006):
A noção de cidadania envolve o sentido que se tem do lugar e do espaço já
que se trata da materialização das relações de todas as ordens, próximas ou
distantes. Conhecer o espaço é conhecer a rede de relações a que se está
sujeito, do qual se é sujeito. Alienação do espaço e cidadania configuram um
antagonismo a considerar (DAMIANI, 2006, p. 50).
47
Sendo assim, o Ensino de Geografia pode trabalhar com as crianças Ciganas a noção
do Espaço Geográfico que utilizam, tais como o caminho de suas casas para a escola e vice
versa, as áreas de lazer e institucionais dos bairros em que estão inseridos, os lugares que mais
freqüentam, os comércios de bairros, as Unidades de Saúde e o direito de usufruir tudo isso,
dentre outros aspectos.
Pode-se trabalhar com as demais crianças o direito de todos ao usufruto do mesmo
espaço, a cidadania dentro e fora dos portões da escola, os direitos humanos, as diferenças
entre cidadãos, sejam estas em relação à raça, opção sexual, opção religiosa e demais
condições distintivas de todos os cidadãos. A princípio, pode-se trabalhar a questão espacial
escolar e sua influência na vida das comunidades próximas. Desta forma, trabalhar-se-ia a
questão da cidadania no contexto escolar, pois é para isso que a escola está no bairro: para
ensinar, seja por meio de exemplos e atitudes; para disponibilizar a todos um mesmo processo
educativo e um projeto formador de pessoas e valores humanos. Conforme aponta Damiani
(2006):
As instituições educacionais não podem se assemelhar a instituições
totais, que criam um mundo em separado, redefinindo os indivíduos
ligados a eles, para além de seus laços sociais. Ao contrário, devem se
misturar intrinsecamente com a sociedade civil (DAMIANI, 2006 p. 55).
Mas um pensamento sobre o espaço, que capte as virtualidades sociais,
não pode ser um pensamento reduzido a uma razão que se instala nos
fatos como irremediavelmente constituídos, definitivos (DAMIANI, 2006
p. 54).
As formas e as estruturas do espaço é uma constante mutável e também é uma forma
de trabalhar o uso do espaço por todos os agentes modificadores, sejam eles sociais, políticos,
morais e até econômicos. É nessa linha de transformação que se deve pensar a formação deste
espaço. Por meio do diálogo, das relações cotidianas, nos encontros com os demais cidadãos.
É preciso tratar as diferenças a partir da valorização e do respeito, reconhecendo-as como
formas distintas – seja de percepção, de cultura, entre outras, a fim de não tratar tudo de uma
forma única, homogênea e que não permita a mesclagem de pessoas. Segundo Damiani
(2006), “é a dialética que consegue captar a diversidade da vida humana, atingindo o
entendimento do sujeito e potencializando-o como tal”. Para Santos (2004), por sua vez:
48
A casa, o lugar de trabalho, os pontos de encontro, os caminhos que unem
entre si estes pontos são elementos passivos que condicionam a atividade dos
homens e comandam sua pratica social. A práxis, ingrediente fundamental da
transformação da natureza humana, é um dado sócio-econômico mas é
também tributária das imposições espaciais (SANTOS, 2004, p.171).
Em Santos (2004) e Damiani (2006) percebe-se que o Espaço Geográfico é feito de
diálogos, de relações sociais, que o simples o fato do convívio das pessoas gera esta
modificação no que se chama de lugar. O respeito por diferenças, sejam econômicas ou
sociais devem ser pautado no dia a dia, pois o espaço está sempre em mutação e são as ações
humanas que condicionam esse espaço a essas mudanças.
A ecologia trabalha com formas duráveis ou efêmeras, naturais e socais,
introduzidas pelo homem. As rugosidades são o espaço construído, o tempo
histórico que se transformou em paisagem, incorporado ao espaço. As
rugosidades nos oferecem, mesmo sem tradução imediata, restos de uma
divisão de trabalho internacional, manifestada localmente por combinações
particulares do capital, das técnicas e do trabalho utilizado (SANTOS, 2004,
p. 171).
A cidade dentro de suas “rugosidades”, áreas que recebem uma nova estrutura (por
exemplo, centros antigos de várias cidades que são replanejados e para os quais são
arquitetados novos usos), oferecem a todos condições de livre locomoção. Nessa realidade,
pretende-se que os Ciganos ocupem espaço na sociedade – seja em áreas novas ou áreas que
as rugosidades impostas pelo espaço dialético transformaram, pois, de certo, alguns de seus
produtos e serviços podem ser vendidos em tal contexto espacial.
Por meio de um resgate histórico e de uma interdisciplinaridade com matérias como a
História, pode-se trabalhar no contexto Escolar Geográfico com a ocupação do território
brasileiro através dos tempos, com a inserção do Cigano, documentada em literaturas,
possibilitando, assim, a análise de uma realidade antes não vivenciada, identificando também
os Ciganos como agentes formadores do Espaço Geográfico brasileiro ao longo da história do
Brasil e da reprodução do espaço pelo Capital.
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Geografia é uma disciplina que fascina as pessoas que a estudam e aos que são
estudados, pois, em sua síntese de formação, consegue envolver o objeto de estudo e todo o
seu perímetro de vivência, sua ligação com as redes que o cercam, observando as entrelinhas
de formação do espaço, visualizando os lugares em suas mais íntimas concepções sociais.
Sendo assim, para a Geografia, a observação é muito importante, pois permite perceber as
mudanças, mesmo que sejam estas sutis. Associar esse conhecimento à ciência é fundamental.
Por outro lado, o objeto de estudo de qualquer pesquisador dever ser tratado como a
parte mais importante de sua pesquisa. Se este for um ser humano ou grupos de pessoas, deve
este ser tratado com o devido respeito e ética na condução da pesquisa e divulgação dos
dados.
Trabalhar a questão dos Ciganos, seja na concepção social, espacial, territorial,
econômica, antropológica, política e até mesmo a questão educacional, não se não se esgota
em um só estudo. As comunidades Ciganas de qualquer região são pequenos tesouros que
precisam de atenção voltada a suas complexas relações com o meio social e espacial. Não
necessitam apenas de atenção ou pedem socorro: pelo contrário, são independes das relações
de trabalho oficiais, utilizam o comércio para atender sua necessidade. Quanto aos seus
tesouros, sua maior riqueza é a cultura.
A Escola Pública do município foi o local escolhido para a realização da pesquisa,
mas, em momento algum, se teve contato com as crianças Ciganas, a fim de preservar sua
integridade. O trabalho foi pautado no questionamento e suas relações com as crianças
Ciganas. Cabe dizer, a pesquisa com os professores foi muito importante, pois ninguém
melhor que eles conhece seus alunos. São eles que sabem realmente das necessidades destes,
de seu meio familiar e das dificuldades que enfrentam no dia a dia na escola, mesmo com
outros professores e com outros alunos.
Com os professores e juntamente com a direção escolar, o trabalho teve um
direcionamento a partir do qual a pesquisa ficou mais interessante, ante os depoimentos destes
que contavam a vida dos alunos e o amparo que tinham na sala de aula. Segundo os
professores entrevistados, as crianças eram acolhidas humanamente.
O trabalho teve também o processo empírico de observação. Nos intervalos de aulas,
podiam-se constatar as diferenças destas crianças em relação aos demais alunos – seja pela
maturidade das brincadeiras destes, pela forma como conversam ou pela atenção em observar
50
e perceberem que são observadas. A curiosidade destas crianças e a percepção do seu meio
é algo interessante de se notar. Quando um fator novo é inserido no contexto de suas relações,
logo é percebido não somente por um, mas por todos.
A escola tem um papel muito importante na realidade da vida cigana. É nela que
muitos aprendem um pouco para o resto de suas vidas; é onde as operações mínimas de
matemática os marcam como comerciantes; é onde as lições de português servem para que os
mesmos a lerem e escreverem na sociedade, servem também como base para o aprendizado e
relações interpessoais dos Ciganos enquanto crianças.
Alguns meninos ainda prosseguem seus estudos, mas poucos conseguem chegar ao
nono ano escolar. Depois disso, saem para seguir suas vidas juntamente com seus pais. As
meninas, muitas vezes, são traídas pelas crenças de seu meio. Muitas gostariam de ficar e
estudar, mas com o primeiro ciclo menstrual são obrigadas a abandonar a vida de estudante.
Segundo depoimentos de membros da comunidade Cigana, estas continuam a estudar em casa
com professores particulares. Porém, isto não foi comprovado nesta pesquisa.
Em uma análise do contexto escolar, estas crianças ciganas estão inseridas na realidade
dos demais alunos não ciganos, e todos são tratados de forma igual, homogeneizada, pelas
políticas pedagógicas de cada unidade escolar. É observado que toda a cultura – seja ela
cigana ou outra qualquer – não tem seu tratamento específico, e nem a escola tem uma
política pedagógica própria para com os diferentes.
Nota-se que os alunos Ciganos se mostram diferentes, como Ciganos, mesmos no
meio escolar onde todas as crianças gritam, correm de um lado para outro em suas
brincadeiras. Esta pesquisa considera que dificilmente se deixariam seduzir pelos encantos do
mundo não cigano: sua cultura fala mais forte, isso está formado em suas concepções
familiares, suas visões de mundo são totalmente diferentes da sociedade comum no contexto
brasileiro. Entretanto, a escola é um ponto comum para todos os Ciganos e não Ciganos afim
de se perceberem como diferentes, pois todos os são, não somente os ciganos e que a escola é
um lugar de se aprender a viver e conviver e também aprender com estas diferenças o
respeito por cada ser como único em suas concepções sejam elas, políticas, culturais, sociais,
religiosas e a forma de vive-las sejam em grupos, sozinho etc.
Neste trabalho obteve-se a oportunidade de trabalhar um pouco da situação das
crianças Ciganas e a sua relação com a escola com professores e diretores. Tentou-se
contribuir para a produção de uma melhor de inseri-los, de forma mais humana, no espaço
51
que é explicado pela Geografia. Muitas questões ainda podem ser trabalhadas na realidade
dos Ciganos, e propostas futuras podem ser estudadas junto à Geografia como meio de
contribuição com as comunidades Ciganas.
52
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