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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS PARA A SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA DE SEMENTES DE JATOBÁ
(Hymenaea courbaril L.)
Marcelo Barcelo Gomes
Anderson Assis de Faria
Damiane Santos Cerqueira
Luarley Lima Bailão
RESUMO Este estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a superação da dormência de sementes de jatobá,
utilizando para isso, métodos de tratamentos químicos e físicos. Adotou-se delineamento em DIC, com quatro
repetições. Foram utilizados os tratamentos: testemunha, escarificação com ácido sulfúrico (H2SO4) 1,0 M por 15
min, escarificação com ácido sulfúrico (H2SO4) 1,0 M por 25 min, escarificação com ácido sulfúrico (H 2SO4) 1,0
M por 35 min, hidróxido de sódio (NaOH) 1,0 M por 20 min, hidróxido de sódio (NaOH) 1,0 M por 35 min,
hidróxido de sódio (NaOH) 1,0 M por 50 min, imersão em água por 12 horas com escarificação mecânica com
lixa, imersão em água por 24 horas com escarificação mecânica com lixa e escarificação mecânica com lixa.
Verificou-se, na avaliação da germinação, efeito positivo dos tratamentos de imersão em água por 12 horas com
escarificação mecânica com lixa e escarificação mecânica com lixa maior, já no tempo médio de germinação os
tratamentos: escarificação com ácido sulfúrico (H2SO4) 1,0 M por 15 min e imersão em água por 12 horas com
escarificação mecânica com lixa apresentaram maior eficiência. Os métodos de tratamento químico e físico de
superação de dormência de sementes de jatobá mostraram-se eficientes
Palavras-chave: ácido sulfúrico, água, escarificação, germinação, mudas
ABSTRACT This study was conducted to evaluate the break dormancy of seeds jatoba, using this, methods of
chemical and physical treatments. The adopted design was completely randomized with four replications.
Treatments were used: control, with sulfuric acid (H2SO4) 1.0 M for 15 min, with sulfuric acid (H2SO4) 1.0 M for
25 min, with sulfuric acid (H2SO4) for 35 1.0M min, sodium hydroxide (NaOH) 1.0 M for 20 min, sodium
hydroxide (NaOH) 1.0 M for 35 min, sodium hydroxide (NaOH) 1.0 M for 50 min soaking in water for 12 hours
with mechanical scarification with sandpaper, soak in water for 24 hours with chiseling and chiseling sanding with
sandpaper. There was, for germination, positive effect of Immersion in water for 12 hours with chiseling and
chiseling sanding with sandpaper largest since the time of germination treatments: with sulfuric acid (H2SO4) 1, 0
M for 15 min and immersion in water for 12 hours with mechanical scarification with sandpaper showed greater
efficiency. Methods of chemical and physical treatment of overcoming seed dormancy jatoba were effective.
Key words: sulfuric acid, water, scarification, germination, seedlings
1. INTRODUÇÃO
O jatobá (Hymenaea courbaril) é uma espécie
arbórea muito vistosa, pertencente à família
Leguminosae (Fabaceae), subfamília Caesalpinoideae.
É encontrada por toda América. No Brasil se estende
do Piauí até o norte do Paraná, desenvolve em florestas
semidecidua. O jatobá além da importância ecológica
apresenta potencial agronômico para utilização do
caule e dos frutos. Porém esta espécie está ameaçada de
extinção devido à exploração da sua madeira e o
desmatamento do seu ecossistema. Com um
crescimento vegetativo muito lento e sementes duras de
tegumento impermeável à água que dificultam e retarda
a germinação, este fato dificulta a reprodução da
espécie em sementeiras.
Em sementes de leguminosas tropicais a
impermeabilidade do tegumento à água é o
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mecanismo mais comum de dormência (Rolston,
1978), podendo atingir até 98% das duas sementes
(Cruz et al., 1997). Esse tipo de dormência pode ser
superada através da escarificação, termo que se refere a
qualquer tratamento que resulte na ruptura ou no
enfraquecimento do tegumento, permitindo a passagem
de água e dando início ao processo de germinação
(Mayer & Poljakoff-Mayer, 1989). As técnicas mais
utilizadas para superar a impermeabilidade à água nas
sementes de leguminosas são: tratamentos térmicos,
químicos (ácido sulfúrico ou álcool), elétricos ou
pressão, abrasão e armazenamento, proporcionando
alta porcentagem de germinação, em curto espaço de
tempo. No entanto, deve ser efetuada com muito
cuidado para evitar que a escarificação excessiva possa
causar danos ao tegumento e diminuir a germinação
(McDonald & Copeland, 1997). Os tratamentos para
quebra de dormência apresentam vantagens ou
desvantagens, de modo que cada um deles deve ser
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estudado, levando-se em conta, o custo, efetivo e sua
praticidade de execução (Eira et al., 1993).
Frente à necessidade da reposição vegetal
nativa ou recuperação de áreas desmatadas se tornou de
fundamental importância a recomposição florestal feita
de forma racional. Dentre os vários fatores a serem
estudados existem um em especial que atinge
diretamente a produção de mudas, que é o processo de
dormência das sementes.
Desta forma, por meio deste trabalho
objetiva-se superar a dormência de sementes de jatobá,
utilizando para isso, métodos de tratamentos químicos
e físicos.
As sementes de jatobá (Hymenaea courbaril
L.) foram coletadas sob a copa de árvores presentes na
área da Faculdade. Foi utilizado solo de barranco
também retirado da área da UNIVAR, peneirado, e
realizadas amostras para análise química e física
(Figura 2). Com base nos resultados da análise química
foi realizada a recomendação de elevação da saturação
por bases para 70%. As sementes foram semeadas em
sasos de polietileno preto (15 x 20 cm) com capacidade
para 17,7 dm³ de solo, na profundidade de dois
centímetros no dia 30/08/2012.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido em casa de
vegetação das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia
- UNIVAR, no município de Barra do Garças, Estado
de Mato Grosso, localizada nas coordenadas
geográficas: latitude 15° 53’ 26’’ S, longitude 52° 16’
44’’ W e altitude 344 m, sendo o clima da região
classificado, segundo Koppen como Aw.
O delineamento utilizado refere-se ao
inteiramente casualizado com dez tratamentos e quatro
repetições, sendo cada repetição constituída por sete
sementes, totalizando 280 sementes avaliadas. Foram
testados os tratamentos designados da seguinte forma:
T1 – testemunha, T2 - escarificação com ácido
sulfúrico (H2SO4) 1,0 M por 15 min, T3 - escarificação
com ácido sulfúrico (H2SO4) 1,0 M por 25 min, T4 escarificação com ácido sulfúrico (H2SO4) 1,0 M por
35 min, T5 - hidróxido de sódio (NaOH) 1,0 M por 20
min, T6 - hidróxido de sódio (NaOH) 1,0 M por 35
min, T7 - hidróxido de sódio (NaOH) 1,0 M por 50
min, T8 – imersão em água por 12 horas com
escarificação mecânica com lixa, T9 - imersão em água
por 24 horas com escarificação mecânica com lixa e
T10 – escarificação mecânica com lixa. Os testes foram
realizados no laboratório de Fisiologia Vegetal da
UNIVAR (Figura 1).
Figura 2 – Coleta de solo de barranco e separação de
partículas grosseiras por meio de peneira.
A irrigação foi realizada por meio de
aspersores colocados na área experimental e acionada
manualmente três vezes ao dia.
Os parâmetros avaliados foram: taxa de
germinação calculada de acordo com Labouriau &
Valadares (1976) - que foi o número de sementes
germinadas e emergidas, por meio da fórmula:
G = (n/A) x 100
Em que:
G = germinação;
n = número total de sementes germinadas;
A = número total de sementes colocadas para germinar.
E tempo médio de germinação – o tempo foi estimado
através da equação Tm = (G1T1+G2T2 + ...+
GnTn)/(G1+G2+ ..+Gn) onde: G1, G2, ... Gn = número
de plantas emergidas na primeira, segunda, ..., última
contagem e T 1, T2, T3 ... Tn = tempo em dias da
semeadura à primeira contagem, segunda, ..., última
contagem Edmond & Drapala (1958).
Os resultados obtidos foram submetidos à
análise de variância pelo teste “F”, e a comparação de
médias pelo teste de Duncam a 5% de probabilidade
por meio do programa estatístico ASSISTAT 7.6 beta
(SILVA e AZEVEDO, 2009).
Figura 1 – Realização da submissão das sementes aos
tratamentos em laboratório.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Houve efeito dos tratamentos sobre a taxa de
germinação das sementes de Jatobá. Sementes
submetidas aos tratamentos T8 e T10 apresentaram as
maiores taxas de germinação, enquanto que, o
tratamento T2 apresentou a menor taxa de germinação
(Tabela 1).
Tabela 1. Taxa de germinação (%) de sementes de
jatobá submetida a diferentes tratamentos
Tratamento
Taxa de Germinação (%)
T1
60,72 ab
T2
32,14 d
T3
50,00 bc
T4
35,72 cd
T5
64,29 ab
T6
67,86 ab
T7
75,00 ab
T8
85,71 a
T9
78,57 ab
T10
92,86 a
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na
coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Duncam ao nível de 5% de significância.
A escarificação mecânica com lixa feita no
tegumento da semente pode ter favorecido a alta
germinação tanto do T8 quanto do T10, uma vez que o
processo ocorreu nos dois tratamentos. A hipótese de
diferenciação entre os tratamentos de escarificação é
que a região do hilo é a parte anatômica de inserção da
semente com a planta mãe e também a região natural
de trocas gasosas e de água da semente, a escarificação
neste local permite que a troca gasosa e de água seja
mais rápida, pois o embrião se encontra
anatomicamente próximo desta área, assim, o processo
de germinação torna-se mais rápido, impedindo o
desenvolvimento rápido de hifas fúngicas, enquanto
que, já nas outras duas regiões (lateral e oposta), esta
troca fica comprometida, pois a absorção de água é
mais lenta, pois, tem que atravessar os tecidos de
reserva da semente, tornando-as menos viáveis.
A escarificação por meio de solução básica
com hidróxido de sódio (NaOH) não diferenciou da
imersão das sementes por 24 h em água e da
testemunha logo, o uso de água pode ser mais
recomendável devido a facilidade da operação.
Os tratamentos com ácido sulfúrico 1,0 M
apresentaram baixa germinação, sendo a imersão das
sementes em ácido por 15 minutos o tratamento que
apresentou menor germinação (Tabela 1). O tegumento
endurecido das sementes exerce restrição mecânica à
embebição e à expansão celular e o uso deste método
auxilia no enfraquecimento do tegumento. Com uso do
ácido provavelmente o tegumento torna-se muito frágil
fazendo que com isso, ele possa em algumas sementes
até ser descartado no processo germinativo facilitando
ataque fúngico e diminuindo a taxa de germinação e
neste experimento foi observado hifas fúngicas nas
sementes não germinadas. os fungos e as bactérias
presentes no solo tanto podem impedir a conclusão da
germinação, como retardar o crescimento, ou deformar
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a plântula, ou mesmo levá-la à morte após a
germinação, como podem minimizar a dormência
tegumentar, degradando o tegumento das sementes
(FOWLER e BIANCHETTI, 2000).
Em estudos de superação de dormência em
diferentes espécies do gênero Hymenaea , Carpanezzi e
Marques (1991) e Rocha (1992) constataram a
efetividade do tratamento com ácido sulfúrico, obtendo
um grande aumento na germinação. Contudo,
Guimarães (1995) observou altas porcentagens de
sementes embebidas sem germinação e mortas com
ácido e retirada de pequenas porções do tegumento,
fato que foi constatado neste experimento.
Houve efeito dos tratamentos sobre o tempo
médio de germinação das sementes de Jatobá.
Sementes
submetidas
aos
tratamentos
com
escarificação com ácido sulfúrico (H2SO4) 1,0 M por
15 min e imersão em água com escarificação mecânica
por 12 horas apresentaram os menores tempo médio de
germinação, enquanto que, a testemunha apresentou o
maior tempo médio de germinação (Tabela 2).
Tabela 2. Tempo médio de germinação (dias) de
sementes de jatobá submetida a diferentes tratamentos
Tratamento
Tempo médio de
germinação (dias)
T1
41,65 a
T2
19,63 c
T3
29,43 ab
T4
35,98 ab
T5
34,28 ab
T6
33,27 ab
T7
35,71 ab
T8
19,65 c
T9
21,92 bc
T10
23,96 bc
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na
coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste
de Duncam ao nível de 5% de significância.
Apesar do tratamento de escarificação com
ácido sulfúrico (H2SO4) 1,0 M por 15 min apresentar
tempo médio de germinação baixo sua taxa de
germinação foi a menor entre os tratamentos. Isso pode
ser explicado pelo fato deste tratamento ter apresentado
muitas sementes mortas, atacadas por fungos,
corroborando com Guimarães (1995).
Já o tratamento de imersão em água por 12
horas com escarificação mecânica apresentou também
tempo médio de germinação baixo e alta taxa de
germinação. Isto demonstra que a imersão das
sementes em água por mais de 12 horas não é
necessária para a superação de dormência.
O maior tempo médio de germinação da
testemunha pode ser explicado pelo tegumento das
sementes encontrarem-se endurecidos restringindo à
embebição e à expansão celular.
4. CONCLUSÃO
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Os métodos de tratamento químico e físico de
superação de dormência de sementes de jatobá
mostraram-se eficientes.
Recomenda-se a utilização da imersão em
água por 12 horas de sementes de jatobá escarificadas
mecanicamente com lixa para a produção de mudas.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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